2 minute read

Mayara Lopes da Costa

Mayara Lopes da Costa Santos/SP

Das Coisas Loucas do Mundo

Advertisement

Por toda a vida sentiram pena de mim, mas não o suficiente para não me deixarem de lado. Sentiram pena porque sou sozinha, mas, nem assim me convidaram. Sentiram pena porque esqueci meu nome, mas, nem assim os sábios lembraram. Sentiram-se mal porque me perdi, mas, nem assim me encontraram. Incomodaram-se, os que são, porque fiz parte das coisas loucas e insanas deste mundo, das que ninguém jamais compreendeu... Também, nunca tentaram!

Por toda vida também tiveram razão, sem saber que nada para mim era novidade. Acreditaram que foram as causas de fúria, temor e frustração desta deprimida. Mas, nenhum deles atingiu esse mérito. Porque esse mérito é meu! Entreguem, então, a medalha a quem sempre a mereceu: a dona de todas as feridas e a razão das despedidas, fui eu mesma, esta improvável, minha grande inimiga.

Pelo visto, sou uma ótima atriz, porque se convenceram mesmo de que fui feliz. De que eu me basto. De que não preciso de mais ninguém ou mais nada. De que sou aquela de mente e condutas exageradas. Acho que fiz um ótimo trabalho, pois, acreditaram que eu era um ser de outro planeta, capaz de escalar montanhas de olhos vendados e de deixar os inimigos respirando poeira. Ou, simplesmente, em nada acreditaram. Só esqueceram. Não se importaram. Pobrezinhos, estes nada pensaram, são muito ocupados!

Se clamam tanto por um novo mundo, por que se afligem com quem julgam ter surgido de outro? Por que se sentem afrontados com o novo? Como um mundo pode realmente mudar, se todos são daqui e permanecem iguais? Se suas ideias nunca irão se chocar? Precisamos daqueles que não são, das coisas

177

loucas que surpreendem, e das que sempre insistem em duvidar...

Talvez seja muita pretensão, mas, eu gostaria muito que um dia alguém me olhasse. Porém, que não me olhasse com pressa, nem de maneira superficial, como é de praxe. Mas, que realmente olhasse! A verdade é que todo dia deixo meu olhar perdido recair sobre algo ou alguém. Eu queria que me enxergassem... eu queria ser vista, transparente, nua! Mas, ainda assim não acho que mereça toda essa particularidade. Ainda assim, tão crua... Sei que parece pretensioso escolher a forma como deveriam me olhar. Desculpem toda essa minha pretensão, e se eu gostaria que me olhassem só um pouquinho devagar, com apenas um pouquinho mais de calma... Se esse desejo louco tem consumido por inteiro a minha alma!

Flagro-me conjecturando o dia que algum olhar se deitará sobre mim e se aprofundará nas partículas dos meus medos, dos meus sonhos, dos meus erros, nos falsetes das minhas angústias e nas melodias dos meus desejos, se tateará no escuro em busca das ideias que me alucinam, se algum ser alguma vez decifrará as vozes que me iluminam... E ainda que nem assim me enxerguem, não tem problema, porque é só um desabafo, não uma imposição. Mas, quem me dera! Ainda que eu, a invisível, desapareça, minimamente anseio, que algum dia compreendam esta coisa louca, e a sua frieza, esta coisa insana, e a sua visão! Contudo, dizem que a forma como fazemos as pessoas se sentirem é um reflexo do que nós somos, e não do que elas são. Eu sei que eu fiz as pessoas se sentirem especiais por onde andei e é isso que eu carrego dentro de mim. Elas, não...

@itismayara