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Edna das Dores de Oliveira Coimbra

Edna das Dores de Oliveira Coimbra Rio de Janeiro/RJ

Siga os passos do Mestre!

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Deus, como eu posso fazer este povo aprender se não sobra tempo nem para comer. Não sabem ler, não sabem escrever, do amanhecer ao entardecer estão com as mãos na terra e o suor a lhes escorrer. Com o arado revolvendo a terra, eles precisam plantar arroz, feijão, mandioca e milho para que na mesa do empregador nada possa faltar. E quando retornam para casa com a enxada nos ombros, cur vados pelo cansaço eles não querem abraçar nem copular o que eles querem mesmo é uma esteira para descansar. Capina, enxada, mãos calosas e inflamadas, corpo exausto quase em colapso. Que vida desafortunada! Deus como eu posso fazer este povo aprender não somente a ler ou a escrever mas também a “transformar a realidade para nela inter vir.” Se eu conseguir esta realização, de igual modo terei cumprido o meu papel na vida desta gente humilde e de situação tão desigual. Gente sofrida, maltratada, esquecida, que precisa enfrentar a labuta no sol ou na chuva independente das suas lutas. Deus, como eu posso fazer este povo aprender que não basta apenas viver por viver, que é preciso conhecer seus direitos sociais

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para prevenir as demandas emergenciais. Eu sei que para estes, assim como era para os trezentos angicanos da vilela simples do nordeste, alunos do Professor, que era chamado de agitador o saber pode parecer inatingível. Todavia um homem com saber adquiri conhecimento e o conhecimento o leva a discernir comportamentos. Deus, como eu posso fazer este povo aprender a estender as mãos não apenas para agradecer a oportunidade de “catar as espigas que ficam caídas no chão” ou o que sobeja da casa do patrão. Mas especialmente por atingir a aprendizagem que pode ser compartilhada por estas mesmas mãos assim como muitas mãos de outrora, dos irmãos que foram alfabetizados e que se orgulharam das ”quarenta horas estudadas”. Que os meus igualmente sejam capazes de transformação e que percebam que suas mãos não trabalharão sozinhas junto com elas estarão palavras vivificadas “palavras verdadeiras, com que os homens transformam o mundo” e que trazem a liberdade tão desejada. Deus, como eu posso fazer este povo aprender a importância que há no verbo conhecer Porquanto o conhecimento trará a capacidade de ação e o que era oprimido agora tem autodeterminação. Então este povo entenderá, que aquele que aprende hoje, amanhã ensinará porque “os homens se educam em comunhão” e assim todos terão parte no quinhão. Deus, como eu posso fazer este povo aprender

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que não precisa ter vergonha de desejar ler. Às vezes exaurida fico a me perguntar, onde eu estou errando se não consigo a aprendizagem deste povo englobar? Então eu ouço uma resposta, que dá arrimo a minha lida Educadora, mantenha o foco dos princípios fundamentais ensinados. Agindo assim não haverá equívoco. Siga os passos do Mestre!

(em comemoração ao Centenário do Educador Paulo Freire).

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