LiteraLivre nº 2
– Tu é Mampi. O
rímel
preto,
de
segunda
mão,
misturou-se
às
lágrimas
desgovernadas, deixando a cara melecada. Fungou baixinho, virou de costas e fingiu que esfregava as panelas com requinte na pia sem panela nenhuma. Fazia tempos que o filho cibernético não lhe causava emoção tão boa, daquelas de amassamento no peito. Se pudesse, colocava-o de volta dentro da sua barriga. Assim como o rio Mampituba segue o seu curso para o mar, um dia Bento voltaria − refeito em suas margens, inteiro no seu delta − e desaguaria no estuário de águas formado pelos braços da mãe. Limpou o ranho do nariz com o dorso da mão, olhou de soslaio para a porta da área de serviços; podia jurar ter visto Mampi, em toda a sua Mampice, piscar sorridente os olhos de mel.
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