LiteraLivre Vl. 4 - nº 23 – Set./Out. de 2020
FERNANDES, Fernando Roque Porto Velho/RO
Evas, vadios e moleques… Bêbados, malandros, artistas e rauls… Belém do Pará, Ver-o-Peso, Quarta-feira, Verão de 2017. Trímmm… O copo caiu da mesa, quebrou... Pessoas gritam, dizem êh êh êh… Já passou das 18 horas. O sol se põe e o sinal já deu alerta. Gritam evas, vadios e moleques… Gritam bêbados, malandros, artistas e rauls… Grita a boemia, o Vero-Peso, o Porto de Belém, a Baía do Guajará… Só que não de desespero, mas como um sinal de que a noite está apenas começando. O velhinho chega, oferece pintas, bordas e jornais, lantejoulas, cornetas de carnavais. Diz que muitos deles já viveu. Pelo menos 70 em seus 77 anos… Diz que nunca um cigarro tragou, mas é só balela de vendedor. Me oferece uma caneta e toca meu coração. A oportunidade perfeita pra me fazer poeta em meio ao caos. Barganho preços como aprendiz de camelô: - Duas por cinco? Aí sim, doutor, negócio fechado! Vaise embora num repente, da mesma
forma que chegou. Pago a conta, mas
apenas para me sentir em dias. Logo peço mais, muito mais… Porque sei que dessas coisas tem à noite… A essa altura em Belém, no Ver-o-Peso, a situação está se armando… O copo caiu e quebrou, sinal das 18 horas… Gritam evas, vadios e moleques… Gritam bêbados, malandros, artistas e rauls dizendo: ˗ É hora de todos nós! A loirinha que veio do Rio Grande do Sul já se foi deste recinto. O coroa que se engraçou da moreninha se deu conta de que era melhor convidar pro reservado e o bêbado bamburrado, já sem dinheiro, se esvaiu do bar da esquina. Enquanto isso todos nós permanecemos aqui. Somos evas, vadios, moleques, bêbados, malandros, artistas e rauls subindo ao palco... A noite é nossa! Agora é nossa vez! O sol se pôs no Mercado de Ferro... O vento, ainda forte, bate contra o cais... Mas isso não importa, a noite é nossa!
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