LiteraLivre Vl. 4 - nº 23 – Set./Out. de 2020
Alberto Arecchi Pavia – Itália
Metamorfose
Um dia, ao acordar, cada cor tinha-se transformado em sua complementar. O céu estava rosa e amarelo, as pessoas tinham a pele cianótica, a grama tinha virado vermelha. Dois ratos olhavam-se assustados ao ver a pele quase fluorescente um do outro. Eles pareciam desenhados em néon. Uma abelha listrada em branco e roxo ia voando como louca. A água do arrozal refletia a cor amarela do céu. Uma rã vermelha olhou para um mosquito, branco como a neve. Reagiu instintivamente, estendeu sua língua e pegou. O sabor era bom, como o de um bom mosquito. O batráquio então soube que poderia manter um olho para as pequenas criaturas brancas esvoaçantes... Mesmo a rã, porém, que ficava vermelha, também apareceu como uma boa presa para o corvo branco, que passou a devorá-la. Nádia acordou com um susto. Havia pintado seu quarto de cor-de-rosa e agora aparecia esverdeado, lívido, na luz da manhã. Esfregou-se os olhos, mas o efeito não mudou. Ela foi até a cozinha para fazer café e descobriu que todas as plantas ficavam vermelhas. O pote do café era opaco, quase preto, enquanto o pó de café aparecia azulado. O gato de casa saltava de um móvel a outro em um ambiente estranho, como uma nave espacial. Até ele reconhecer seu cheiro em um canto do tapete. Então se acalmou. As águas do rio começaram a mudar sua cor. Depois de tantas décadas de assédio, roubo de água e sujeira de todos os tipos em suas águas, ele decidiu se vingar, com a escolha de sua cor. Um filete um pouco mais brincalhão escolheu tornar-se amarelo, depois rosa, depois vermelho, enquanto outros optaram pela variedade dos verdes. As tranças de água foram como um arco-íris colorido, ou como esses fios de algodão, mexidos de todas as cores, a partir dos quais você pode escolher os tópicos para remendar.
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