LiteraLivre Vl. 4 - nº 23 – Set./Out. de 2020
Ruan Mattos São Paulo/SP
Abismo O baile do colégio tinha muitas pessoas. Esses eventos sociais, na adolescência, trazem aos jovens tamanha admiração. É fato que a adolescência é uma grande mentira. O pátio estava enfeitado com bandeiras coloridas. No meio, havia uma extensa mesa com pano branco. Em cima da mesa, uma enorme tigela com frutas. Ao lado desta, bebidas das variadas formas. Refrigerante, sucos… Muitos aperitivos. A comida não era o principal da festa. A música altíssima anunciava o que, de fato, seria memorável: a dança. O rapaz chegou tímido. Não queria, na verdade, ir para aquela festa. Obrigações sociais são, realmente, os condutores da sociedade. A calça jeans e a camisa bem passada. Foi caminhando até a mesa. Pegou um pouco de suco de laranja. Aproximou-se dos colegas da classe. Conversavam sobre suas digníssimas acompanhantes. O jovem foi recebido com palmadas amigáveis nas costas. Depois, continuaram a conversa como se ele não existisse: – Como eu estava dizendo rapaziada… – disse o mais alto – a minha parceira é uma gata! Se hoje não sairmos daqui namorando, eu não saio… Os demais rapazes concordavam com “risadas sociais”. Não riam por acharem graça, mas, por terem de rir. Risadas breves e que logo se dispersam no ar. O tímido rapaz também riu, porém, sua risada foi mais breve e mais grave. Logo disfarçou essa falsa risada com um gole no suco. Ele não tinha par. À menina que pretendia convidar adoentou-se, de modo que não pode ir ao baile. Estava preocupado com o ano que viria. A faculdade lhe seria período penoso. Trabalharia à tarde e, de manhã, iria estudar. Absorto em seus muitos pensamentos. Mexeram-lhe o braço e disseram: – Qual sua parceira?! Está surdo? – Ah sim… Bom… – quase como um susto respondeu, – A minha parceira é aquela morena ali na frente. O jovem apontou para o meio de um grupo de meninas. Passava repentinamente a mão sobre a boca, a tapa-la. Queria esconder aquelas frases. – Aquela ali? – perguntou o mais alto apontando para mesma menina que ele.
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