LiteraLivre Vl. 4 - nº 23 – Set./Out. de 2020
Roque Aloisio Weschenfelder Santa Rosa/RS
Jugo da Arte Era uma vez um poeta pintor com seus versos impressos com tinta numa tela. Não, não estou trazendo uma história de final feliz, começando com era uma vez. Trago olhos abertos para a cena da vida onde a criança é artista natural e o adulto escreve poesia que tenta publicar em livro, mas só ganhará parabéns dos amigos e ninguém adquire a obra. Arte e sorte, as duas com R terminando a primeira sílaba, são o momento. Tendo sorte, o artista ganha a mídia e o apreço do público. Sem a sorte, a arte vai à busca de um norte dado por algum interessado, seja diretor teatral, de editora, seja patrocinador de evento, de edição, seja promotor de festival, de feira, ou seja, um momento qualquer de promoção. Lá vem o cronista trazer à tona seu texto num site, lá vem o músico tocar em praça pública, o repentista trovar numa estação de rádio. Ali, logo adiante, tem um teatro de entidade em que se apresenta o grupo de uma escola, dirigido por professora voluntária, crente na força da melhora do mundo pela arte. Já é tempo de nascer o pintor do sete na calçada em frente à casa de um grande poeta do passado. Ainda resta a esperança de que sétima arte volte ao brilho de tempos passados. De repente, uma flor na lapela. Só pode ser um doente mental, ou um ator de teatro. Subitamente, um convite para um lançamento de livro, mas quem disse que fulano é escritor? A arte não prescinde de recursos. Para ela, chamada integrante da cultura, os governos destinam migalhas. É que não sabem que a arte cura com muito mais eficiência do que todos os remédios dados aos doentes, todos os gastos com tratamentos hospitalares. Faltam casas de espetáculos e sobram postos de saúde. Faltam incentivos para incluir no orçamento familiar a compra de livros, de quadros pintados, de entradas para teatro e cinema, de ingressos para
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