Revista Inventa_03

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PUBLICAÇÃO IEME COMUNICAÇÃO distribuição dirigida e gratuita

Curitiba/PR

_NÚMERO 03

jul/ago/set 2009 _revistainventa.com.br




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EDITORIAL Há 20 anos, estreava Os Simpsons, caía o Muro de Berlim, comemorava-se 20 anos da chegada do homem à lua, Bush pai tomava posse nos Estados Unidos, Madonna lançava Like a Prayer. Era 1989. Por aqui, chorávamos a perda de dois grandes poetas brasileiros: o maluco beleza Raul Seixas e um dos maiores destaques da nossa culturaarte-literatura-paranaense, Paulo Leminski. Ainda era 1989. Vinte anos depois, cá estamos homenageando a arte de Leminski, celebrando os 40 anos da carreira de Rita Lee, divulgando a exposição comemorativa da arte de Zélio e antecipando o 60o aniversário do Snoppy. É 2009. E, para esta edição repleta de homenagens e comemorações, nada mais justo que convidar um dos maiores especialistas em capas de revistas do Brasil, Rico Lins, aqui, autorretratado. Boa leitura e até a próxima! Equipe Inventa

ILUSTRAÇÃO CAPA_ RICO LINS

EXPEDIENTE // INVENTA // EDIÇÃO PARANÁ // JULHO/AGOSTO/SETEMBRO 2009 // NÚMERO 03 // TIRAGEM 5.000 EXEMPLARES A revista Inventa é uma publicação de caráter informativo com circulação gratuita e dirigida. Todos os direitos reservados. EDITADA POR

IEME Comunicação_ iemecomunicacao.com.br IEME - Integração em Marketing, Comunicação e Vendas Ltda. - Rua Heitor Stockler de França, 356 – 1o andar – Centro Cívico – Curitiba PR // 41 3253-0553 - CNPJ 05664381/0001-27

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Os artigos assinados são de exclusiva responsabilidade dos autores e não refletem a opinião desta revista.

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COLABORADORES

ÍNDICE

8-12 14 16 18-19 20-25 26-27 28-29 30 32-35 36 37 38-40 41-42 _RÁPIDAS

_AS BRASILIANAS DO MESTIÇO

_SNOOPY FORA DA CASINHA

_NOSTÁLGICOS VINTE ANOS

Quando soubemos da presença da indiana Sharada Ramanathan em Santa Catarina, recorremos aos jornalistas catarinenses amigos de plantão. Prontamente, JUANA HINKE DOBROCHINSKI, carinhosamente chamada de Juana Dobro, aceitou participar desta edição. Afinal, o que seria mais um compromisso para aquela que divide sua rotina diária entre ser jornalista, professora de redação e espanhol, aluna do curso de letras e literatura, aprendiz de polonês e super mãe da Valentina (3 anos)? + ameninasemestrela.blogspot.com

_DEDO NO PULSO

_A HISTÓRIA E O DESTINO GRÁFICO DA POLÔNIA

_REPRODUTOR DE INFORMAÇÕES _15 MINUTOS COM RITA LEE

_ORIENTE-SE

BIA MORAES é, como ela mesma se define, prestadora de atenção profissional. Com 24 horas por dia de trabalho, neste ano Bia completa 20 anos de carreira. Adora viajar para conhecer pessoas e lugares, como fez para colaborar com esta edição da Inventa. Recém-saída da Folha de Londrina, Bia já foi colunista interina de Reinaldo Bessa na Gazeta do Povo e está sempre na busca de novidades. Uma dessas ideias é o bazar Escambo Fashion que, na companhia de mais três jornalistas, passou de brincadeira a negócio sério. Já na quarta edição, o Escambo Fashion promete agitar o mês de agosto na capital paranaense. + biamoraesblog.blogspot.com

_PESQUISA INFORMAL GARÇONS

_NO BRILHO DO SAPATEIRO

_ARTIGOS

_COLUNAS

Com um currículo de dar inveja, DANIELA ZANUNCINI é leader e life coach nas áreas de Liderança e Negócios, Carreira e Bem-Estar. Com a difícil tarefa de orientar profissionais de sucesso, a psicóloga atua no setor empresarial e pessoal e conta com uma carteira de clientes que inclui grandes agências de comunicação. Há 10 anos como diretora da Bem-Estar Desenvolvimento Humano, participa desta edição da Inventa trazendo informações sobre o coaching. + bemestarhumano.com.br

Além de estar com a família, resolver crimes virtuais é a coisa que WANDERSON CASTILHO mais gosta de fazer. Não à toa, esta é sua profissão. À frente da E-NetSecurity, empresa especializada em segurança da informação e investigação digital forense, o físico descobriu sua vocação durante o mestrado na USP. “Eu sempre ficava estudando até de madrugada, e como às vezes precisava de artigos que estavam em outros computadores, tive que aprender algumas técnicas intrusivas para poder estudar”. Com mais trabalho que Sherlock Holmes, Castilho investiga como crimes virtuais são cometidos, identifica o autor e coleta as informações de maneira que possam ser usadas em ações judiciais. + e-netsecurity.com.br

Apesar desta ser sua estreia oficial na Inventa, o designer gráfico, TÉO PITELLA, já colaborou - com suas sempre bem-vindas opinões nas edições anteriores. Nesta, entra como fotógrafo, atividade que, mesmo não sendo o seu ganha-pão, já lhe rendeu bons frutos, como exposições nacionais e internacionais. Fato curioso: durante seu trabalho para a Inventa, na entrevista com Rico Lins, Téo descobriu sua participação (com fotografia para o cartaz da peça Aperitivos) na exposição Brasil em Cartaz, ocorrida na França em 2005. Além da fotografia, outra grande paixão é o design urbano, a criação de identidade para espaços físicos. Sobre este tema, acaba de lançar um blog. + designurbano.wordpress.com

Ele entrou oficialmente no mercado de trabalho em 2000, mas já encantava com seus desenhos desde antes. José Alexandre Vargas de Faria, ou ZÉ ALEXANDRE ou, ainda, apenas Zé, fez gravura na Escola de Música e Belas Artes do Paraná e design na PUCPR. Já mexeu com tinta, nanquim, grafite e com clientes ligados a carros, sapatos e gastronomia. Versátil é a palavra com a qual se define em seu portfólio online, usada também por amigos e pelo mercado profissional. Versátil ou arteiro? Zé já teve seu próprio estúdio de design, trabalhou em agências de propaganda e atualmente é Diretor de Arte da Imaginarium Design. Mora em Florianópolis, tem um blog chamado Malaco Malaquias e, para a Inventa, ilustrou a matéria sobre propriedade intelectual, que você encontra nas páginas 28 e 29. + oarteiro.com

“O melhor desses 10 anos foi publicar a revista Zongo Comix. E o pior foi parar de publicá-la”. É o que BENETT fala sobre seu aniversário de carreira. Ele brinca que se soubesse como é ser cartunista, teria seguido a profissão de mergulhador ou pescador de lagostas gigantes. Mas é só da boca para fora. Sempre valorizando seu tempo livre, produziu a foto acima em um ensaio rápido na cozinha de sua casa. Com uma variedade de personagens autobiográficos, o cartunista entrou para o dia a dia dos curitibanos com charges sobre melancolia, loucura, relacionamentos e humor, muito humor. + blogdobenett.blog.uol.com.br


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CARTOON_Benett

PONTOS DE DISTRIBUIÇÃO_CURITIBA/PR

TODAS AS EDIÇÕES DA REVISTA INVENTA ESTÃO DISPONÍVEIS NA ÍNTEGRA NA INTERNET

_ revistainventa.com.br ASSINATURAS E EDIÇÕES ANTERIORES

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_ARAD - Rua Vicente Machado, 664 - Centro _CLUBE DE CRIAÇÃO DO PARANÁ (CCPR) - Rua Mateus Leme, 4700 - Parque São Lourenço _D-LAB - Rua Rio de Janeiro, 1271 - Água Verde _IEME COMUNICAÇÃO - Rua Heitor Stockler de França, 356 / 1º andar - Centro Cívico _JACOBINA - Rua Almirante Tamandaré, 1365 - Alto da XV _ORIGINAL BETO BATATA - Rua Professor Brandão, 678 - Alto da XV _PIOLA - Al. Dom Pedro II, 105 - Batel _PRESTINARIA - Rua Euclides da Cunha, 669C - Bigorrilho _REALEJO CULINÁRIA ACÚSTICA - Rua Cel. Dulcídio, 1860 - Água Verde _SANTILLANA LOUNGE BAR - Av. República Argentina, 1649 - Água Verde _TIENDA - Rua Fernando Simas, 27 - Praça Espanha - Batel


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RÁPIDAS

_CARTAS SUA OPINIÃO É SEMPRE MUITO BEM-VINDA _ inventa@iemecomunicacao.com.br “I just received the magazine in the mail - it looks beautiful - thanks so much for including us and sending the magazine!”

“Tive o prazer de conhecer a revista Inventa e aproveito a oportunidade para parabenizá-los pela criação.

“A toda equipe Inventa, meus parabéns. Inventar algo diferente no mercado e trazer reflexões como as que vocês têm trabalhado e proposto são ações muito bacanas e relevantes. Sucesso!”

Escrevo-lhes porque, após ler a edição de número 02, entrei no site da revista para baixar a edição anterior e, infelizmente, não consegui fazer o download, pois o arquivo está indisponível. O mesmo acontece com a número zero. Os links apontam somente para o arquivo da última edição”.

Bill Zeman - Designer

Angélica Fenley Belich Diretora - A Assessoria

“Acompanho a Inventa desde a número zero e me surpreendo a cada edição. Parabéns pela iniciativa e os ótimos conteúdos. Sou um dos organizadores do Mega Bazar Lúdica, evento cultural ligado à música, moda, artes e décor, que teve a quarta edição realizada nos dias 5 e 6 de junho, na Casa Vermelha, em Curitiba, e terá sua próxima edição em dezembro. Precisando de um colaborador lúdico, podem contar comigo, ok?” Em razão de espaço ou compreensão, seu e-mail pode ser resumido, editado ou não publicado.

Felipe Pedroso Comunicação, Marketing e Produção - Galeria Lúdica

“Recebi a edição 02 da revista Inventa. Gostaria de dizer que ficou ótima, de fácil leitura e muito bem diagramada. Parabéns por esse novo projeto!”.

Eduardo Pimentel Slaviero Diretor de Marketing - Fundação Cultural de Curitiba

“Tive acesso à Inventa na Prestinaria e fiquei bastante impressionada com a publicação. Adorei a entrevista com Elifas, assim como toda a seleção de conteúdo apresentada na edição. Parabéns!”

Maria Alice Ribeiro

“Obrigado por inventar a revista Inventa. Conteúdo relevante, interessante, projeto gráfico super bem elaborado e de ótimo gosto. Sucesso.”

Edson Paulo de Carvalho Jr Blue Mobi

Renato Bertolini

Renato, agradecemos o aviso sobre os problemas em nosso site. Durante alguns dias, no mês de junho, nosso site esteve bloqueado. Outros, como no qual você tentou baixar as edições, algumas páginas estiveram fora do ar. O motivo? “Invadiram” maliciosamente o www.revistainventa.com.br e tivemos que refazê-lo, encontrando, ainda, uma nova forma de aumentar a segurança no download das edições. Aproveitamos a oportunidade para esclarecer o inconveniente aos mais de 300 internautas que acessaram nossa página nessas datas. Os problemas no domínio foram solucionados por especialistas e esperamos que não voltem a se repetir.

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O que um quadradinho preto no seu monitor pode fazer pelo mundo? Muito!

Até o fechamento desta edição a campanha Black Pixel, lançada pelo Greenpeace, já economizou 221459 watts. A ideia é simples: como ajudar o meio ambiente sem modificar o seu estilo de vida, nem perder o conforto? Apagar um quadrinho de 50 x 50 pixels é uma boa pedida. Com base em uma pesquisa realizada pela Energy Star, um Black Pixel equivale a 0,057 watts/hora. O objetivo da campanha é ultrapassar 1 milhão de computadores com o Black Pixel instalado para que, quando bater o sino nas 24 horas posteriores, comemore-se a economia de 57 mil watts/hora. Toda essa energia vale para manter acessas 34.200 lâmpadas durante um dia inteiro. 34.200 lâmpadas apagadas. 17 Maracanãs, na potência máxima de seus refletores, apagados. Para participar, basta instalar o programa no seu computador. Um quadradinho preto aparecerá em sua tela e não vai atrapalhar de jeito algum. A qualquer momento, você pode optar por desligar o sistema. A única condição para participar é ter monitor de tubo ou plasma. (IH) + GREENPEACEBLACKPIXEL.ORG

“Nossos clube está recém-começando e gostamos da revista. Gostaríamos de receber os exemplares da revista Inventa para nosso acervo, mas não sabemos como.”

Gerardo Martínez CCCRS

Gerardo, as edições da Inventa estão disponíveis na íntegra para visualizar e baixar em nosso site: www.revistainventa.com.br. As edições impressas podem ser adquiridas gratuitamente nos pontos de distribuição parceiros em Curitiba. Já para quem está fora da capital paranaense, as edições podem ser encaminhadas por correio (mediante aprovação do valor de envio) e, neste caso, solicitadas através do e-mail inventa@iemecomunicacao.com.br.

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CONFIRMADO!!!! O Fórum de Marketing Curitiba 2009,

consolidado como o maior evento de marketing do sul do Brasil, já tem data (30 de novembro) e palestrantes confirmados. Desta vez, o ilustre convidado será Rudolph Giuliani, prefeito de Nova York na época dos atentados de 11 de setembro. Além de Giuliani, estão confirmados: Simon Clift, CMO (Chief Marketing Officer) da Unilever, João Camara e Miguel Remédio, da YDreams. (AA) ANOTE NA AGENDA: FÓRUM DE MARKETING CURITIBA 2009. DIA 30 DE NOVEMBRO. NO GRANDE AUDITÓRIO DO TEATRO POSITIVO. + FORUMDEMARKETING.COM.BR _RÁPIDAS


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Com a proposta de dialogar com a arte contemporânea, a 5ª Bienal VentoSul traz

variedade à capital paranaense. A mostra latinoamericana de artes visuais chega em agosto e, até dezembro, promete reunir artistas de diferentes regiões e estilos. Com o tema Água Grande: Os Mapas Alterados, a ideia é debater a água e os limites territoriais impostos pelas definições dos mapas. Um mundo imagético sem limites, sobreposto e desterritorializado. Partindo do conceito dos filósofos franceses Deleuze e Guattari, a VentoSul quer fazer pensar a respeito das imposições de locais e, principalmente, de como o território pode ser tão fluido quanto a água. Em paralelo, acontece, na Cinemateca, a Mostra VentoSul: Vídeos de Artistas, que apresenta filmes de até 15 minutos sobre o mesmo tema. Participam artistas da Alemanha, África do Sul, Argentina, Austrália, Brasil, Bolívia, Canadá, Chile, China, Colômbia, Cuba, Espanha, Estados Unidos, França, Guatemala, Índia, Japão, México, Noruega, Paraguai, Peru, Suécia, Uruguai e Venezuela. Com a curadoria de profissionais com reconhecimento, todos ligados a diferentes áreas das artes, a 5ª Bienal é organizada pelo Instituto Paranaense de Arte em conjunto com outras entidades. Recebem exposições e debates, 15 espaços culturais em Curitiba: da Praça Osório ao Centro de Criatividade de Curitiba, do Museu da Gravura às Estações Tubo. Se o objetivo é desorganizar o mapa-múndi, fluir para outros espaços, alterar os mapas e inventar lugares, antes mesmo de começar, a boa mistura tem tudo para fazer sucesso. (IH)

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BIBLIOTECAS CIDADÃS Em junho, o Governo do Paraná anunciou a compra de 182 mil livros. São 1.978 gêneros adquiridos. Sim, isso mesmo! E o destino deles já está definido: compor as Bibliotecas Cidadãs. Vinicius de Moraes, Fernando Pessoa, Carlos Drummond de Andrade, Jorge Amado, Gabriel García Márquez, Chico Buarque, Thomam Hamm, além de biografias de pessoas famosas e literatura infanto-juvenil, são algumas das aquisições. Com um investimento inicial de cerca de R$ 73 milhões, no total, serão construídas 235 bibliotecas, em 110 municípios. Cada uma delas será equipada com 2 mil livros e um telecentro, além de cinco computadores com acesso à internet, espaço cívico e recreação. Em junho deste ano, 68 já estavam funcionando no interior do estado, há 15 a serem inauguradas e 64 em construção. As principais regiões atendidas são aquelas com baixo índice de desenvolvimento humano - já que o projeto, que surgiu em 2004 por sugestão do ex-deputado estadual Rafael Greca, busca oferecer às regiões carentes a oportunidade de acesso a diversos gêneros da cultura e literatura nacional e internacional. Para a concretização, o Governo do Paraná conta com parceria da Secretaria do Estado da Cultura, Biblioteca Pública do Paraná, Secretaria de Obras Públicas, Secretaria Especial para Assuntos Estratégicos e prefeituras. (MH) + SAIBA MAIS: CULTURA.PR.GOV.BR

FÓRUM MUNDIAL DE MARKETING & VENDAS

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Como estabelecer estratégias de marketing em meio à crise mundial? Como criar e manter marcas poderosas, acelerar o desempenho da força de ven-

das das empresas? Esses questionamentos serão tratados por palestrantes de reconhecimento nacional e internacional, como Philip Kotler e Dan Ariely, no Fórum Mundial de Marketing & Vendas. O evento acontece nos dias 18 e 19 de agosto, em São Paulo. (AL) + INSCRIÇÕES E INFORMAÇÕES: (11) 4689 6666 / EVENTOS.BR@HSMGLOBAL.COM

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O ONLINE NO PAPEL Trazer para o papel as melhores imagens já publicadas na primeira revista online de artes, design e fotografia do Brasil é o chamariz do livro IdeaFixa Greatest Hits, publicado (em português, inglês e espanhol) pela Arte e Letra, de São Paulo. A revista IdeaFixa reuniu 86 artistas contemporâneos e resolveu dar uma versão impressa ao material que antes era apenas virtual. São trabalhos que compõem as 11 edições bimestrais da revista. “Já publicamos mais de 400 artistas na revista online. Como só poderíamos ter 200 páginas no livro, o processo de escolha foi doloroso e toda a composição do livro durou um ano. Optamos pela diversidade e pelas imagens que mais tocavam nosso coração”, conta Janara Lopes, colaboradora da Inventa_01, organizadora do livro e editora da revista eletrônica ao lado de Alicia Ayala.

imagem_divulgação

DE AGOSTO A DEZEMBRO, CURITIBA MOVE GEOGRAFIAS

Criada há três anos, a IdeaFixa possui seu lugar ao sol. Entre os parceiros, a MTV, que, desde junho, hospeda um blog da trupe em seu portal, e a Enox, que quando libera uma vaguinha nos pontos de mídia, inclui um artista da IdeaFixa. A revista eletrônica - e também o blog - é visita obrigatória para quem quer saber das últimas tendências e novidades em design e artes visuais. Com cinco projetos em andamento, a IdeaFixa é colaborativa e possui integrantes em diversas regiões do país. (IH) + IDEAFIXA.COM


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ESPERANÇA, MEDO, AVENTURA. DENTRO DE TODOS, UM MONSTRO

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RÁPIDAS

imagem_divulgação

É isso que o filme de Spike Jonze (adaptação de Quero Ser John

Malkovich) parece querer trazer à tona. Depois de conturbadas trocas de estúdio, anos de gaveta, e de já ter adaptações em ópera, ballet e animação, Onde Vivem os Monstros está (finalmente!) quase pronto para a estreia no dia 16 de outubro. Inspirado no conto homônimo de 1963, escrito por Maurice Sendak, a história do garoto Max é contada de forma fantástica, cheia de imaginação. Teimoso, Max faz cena quando a mãe convida seu novo namorado para uma visita e é castigado por isso. Durante o “exílio”, o menino, que brincava vestido de lobo, aventura-se por um mundo selvagem criado por ele mesmo, e acaba sendo coroado rei por criaturas enormes e peludas. O mundo imaginário de Max é tido como o melhor conto de Maurice Sendak, que, com recém-completos 81 anos, produz o filme ao lado de Tom Hanks. Há quem diga que Where The Wild Things Are (nome original) ficou famoso apenas pelas ilustrações de seu autor, que são capazes de dar vida a seres medonhos do imaginário infantil. Jonze, sem medo das críticas que seu inspirador sofreu, também abusa das muito belas imagens. Em outubro, o Brasil recebe não só o filme, como também a primeira edição do livro. A editora Cosac Naify anunciou a produção e pega na cola o lançamento no cinema. (IH) + ENQUANTO FILME E LIVRO NÃO CHEGAM, ACOMPANHE AS HISTÓRIAS DAS GRAVAÇÕES NO BLOG DO FILME: WELOVEYOUSO.COM

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imagem_Guadalupe Pressas

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ESPELHO DA ARTE Espelhos por todos os lados, por

entre os corredores reduzidos. Espelhos que convidam e instigam o visitante a uma reflexão de redescobrimento, tanto pessoal quanto da própria arte. Espelhos em fotografias, que procuram dar amplitude aos espaços estreitos da nossa percepção. Tudo isso no universo em preto e branco, apresentado sob o título Entre Prata e Areia pelas lentes da fotógrafa Guadalupe Presas, que também faz as fotos da Inventa desde sua primeira edição. A exposição fica aberta ao público de agosto a outubro, na Estreita Galeria de Fotografia, localizada na Rua Cons. Araújo, 315, em Curitiba. (MB)

Olá, eu sou o Pixel e em nome do Paraná-Online quero dizer muito obrigado, muito obrigado, muito obrigado, muito obrigado, muito obrigado, muito obrigado, muito obrigado, muito obrigado, muito obrigado, muito obrigado, muito obrigado, muito obrigado, muito obrigado, muito obrigado, muito obrigado, muito obrigado, muito obrigado, muito obrigado, muito obrigado, muito obrigado, muito obrigado, muito obrigado, muito obrigado, muito obrigado, muito obrigado, muito obrigado, muito obrigado, muito obrigado, muito obrigado, muito obrigado, e muito obrigado outras 999.968 vezes.

Paraná-Online, 11 anos de informação na internet e mais de 1 milhão de visitantes únicos por mês.

Quer ficar bem informado? Acesse: www.parana-online.com.br


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É BONITO SER FEIO O criador da mulher mais “linda” do mundo - capa da

Revista Mad de maio de 1954 - conquista olhares até o dia 14 de agosto em Nova York. Reunindo 150 trabalhos de Basil Wolverton, a Gladstone Gallery promove a exposição do artista que marcou com seu estilo tosco e bem-humorado. De ficção científica a desenhos bíblicos, as obras que compõem a exposição são do acervo pessoal de Glenn Bray, colecionador que se apaixonou por Wolverton através da “gata” que figurava a capa da Mad, já citada. (IH) + SE TIVER A CHANCE PELA BIG APPLE, CORRA PRA LÁ. SENÃO, ACESSE GLADSTONE.COM. O quê? Basil Wolverton. Quando? Até 14 de agosto. Onde? Gladstone Gallery, 515 West 24 Street | NY

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Os avanços da tecnologia surpreendem o mundo a cada dia, proporcionando maior comodidade e conhecimento. Enquanto você lê este texto, por exemplo, criadores estão implantando novas ferramentas na internet que vão fazer com que se admire e diga: “como é que eu não pensei nisso antes?”. Mas, e aí, você está utilizando esse meio adequadamente? A sua marca atinge essa gama de usuários do mundo digital? Se não, é melhor começar a pensar seriamente nisso e assim ganhar novos mercados e clientes. O Seminário Internacional de Comunicação e Marketing Digital é uma oportunidade. O evento acontece nos dias 1º e 02 de setembro e conta com a participação de palestrantes internacionais para debater as mudanças digitais no século XXI. (AL) + PROXXIMA.COM.BR

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BANKSY x BRISTOL MUSEUM

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A REVOLUÇÃO CHEGOU

Um policial de motins com a identificação “Police” alterada para “Peace” em sua farda, a estátua de um leão que devora o domador, a galinha e seus pintos vigiados por câmeras de circuito fechado, entre outras obras fantásticas do polêmico Banksy, estão expostas até 31 de agosto no museu Bristol’s City Museum & Art Gallery, cidade de Bristol, na Inglaterra. Intitulada Banksy x Bristol Museum, a exposição foi montada totalmente em segredo, incluindo toda a visão de futuro do artista, deslocando a arte de rua para uma exposição fechada e com um público definido. Uma das poucas pessoas que sabiam da exposição é Kate Brindley, diretora do museu, que disse com exclusividade ao site da BBC, no dia 12 de junho, que a escolha de Banksy é controversa e que outras cidades foram cogitadas para a exposição, como Los Angeles, Nova York e Londres, porém Banksy optou por sua terra natal para expor sua arte. Sorte deles! Na estrutura física, a mostra ocupa os dois andares do museu e conta com uma exposição de 100 peças do artista, com 70 inéditas. Entre elas, estão pinturas, grafite, instalações, espaços com animatronics (bonecos robotizados) e peças sensoriais. Conhecido por ser um artista com tons de ironia e sarcasmo, e por criar obras de cunho político-social, com aversão à autoridade e ao poder, a sensação principal que Banksy provoca em seu público é o riso, mas também outras como a concordância e a identidade em seus observadores. Ficou conhecido depois da exposição de uma figura inflável na Disneylândia, nos Estados Unidos, em tamanho real, de um detido da prisão de Guantánamo, e também por ter suas obras requisitadas entre as celebridades, como Angelina Jolie, Brad Pitt, Jude Law e Cristina Aguillera, vendendo cada obra por mais de 25 mil €. (JA) + PARA AQUELES QUE PUDEREM CONFERIR A EXPOSIÇÃO IN LOCO: A ENTRADA É GRATUITA E O MUSEU FICA ABERTO DAS 10H ÀS 17H. PARA AQUELES QUE NÃO PUDEREM, VALE A PENA FAZER UMA VISITA VIRTUAL NO BANKSY.CO.UK

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Para Eduardo Esteves, curador e responsável pela exposição no Mestiço, as brasilianas “são mulheres anônimas - nem feias e nem necessariamente perfeitas -, que o artista elegeu como modelo para seu trabalho”. E, não bastasse desnudar a mistura cultural do Brasil com a sensibilidade de suas pinturas, Zélio está atrás de mais um desafio: mostrar todos do país de todos. As pessoas normais, do dia a dia, da rua, do bar, do ônibus. Os brancos, negros, amarelos, os diversos tons de pardo. Talvez Zélio nunca tenha usado uma paleta de tinta tão vasta, ainda que em uníssono sua obra enseje sempre a alegria da vida brasileira. Mas, como o nome anuncia, a exposição também traz outros condimentos, como os trabalhos finalizados para a exposição, a obra Jaboticabeiras de Caratinga, e outras da série Crachás, por exemplo, que são geralmente internas, com as mais variadas situações onde há a necessidade de se utilizar um crachá. No total, 26 obras. O Mestiço mostra 18 por vez, permitindo um tom diferente a cada visita às brasilianas.

AS BRASILIANAS DO MESTIÇO por_Bruno Reis imagem_DIVULGAÇÃO

Uma brasiliana. Floripa, 94. Nem bonita, nem feia. Em evidência na moldura da criação do artista. O fundo verde e o rosto negro. A felicidade sai dos olhos, sai do sorriso, sai da maquiagem dos olhos, sai dos brincos. O tempero de simplicidade na vida da mulher negra, em uma das telas da série Brasilianas, do criador e admirador Zélio Alves Pinto, dá a pincelada inicial na mostra que está no restaurante Mestiço, em São Paulo, até o dia 23 de agosto. A exposição saiu como um desafio, em todos os sentidos. Provocado pela proprietária do restaurante a mostrar algumas das raridades de seu ateliê, Zélio encontrou uma unidade em materiais antigos, alguns até inacabados, juntou com algumas séries que já possuía e tascou o nome: Brasilianas e Outros Condimentos. Telas e litografias foram selecionadas. A série sobre as brasilianas, o artista já possuía há algum tempo, e esperou até agora para divulgar como uma forma de comemoração por conta dos 50 anos de arte que Zélio completa neste ano. E com direito ao lançamento de um livro agora no 2º semestre.

Brasiliana, por sinal, é, em definição dicionarizada, uma coleção de livros, materiais e manifestações sobre o Brasil. E nada como 50 anos de apreciador da beleza trivial da vida cotidiana para poder interpretar com precisão sensível a essência da vida brasileira. Zélio tem bagagem para tanto. Foi um dos poucos jornalistas do Pasquim. Além de ter fundado, lia e relia, produzia e editava, observava e, finalmente, admirava os textos daquele que deu moldura para os trabalhos de Henfil, Millôr Fernandes e seu irmão, Ziraldo. Também se aventurou em desafios editoriais, na criação de quatro livros de ficção, como O Homem Dentro do Poste, e do livro infantil A Descoberta da Cornuália. O mais importante da mostra, no entanto, é o sentimento de que fazemos parte dela. Da mesma maneira que estamos vendo pessoas comuns, nas paredes, elas nos estão vendo, nos corredores, nas mesas e cadeiras do restaurante. Não estamos muito longe dali. Somos filhos das brasilianas. Das letras de Zélio: “porque corre em nossas veias sangue árabe, africano, europeu e nativo, como resultado da feliz miscigenação que caracteriza nossa sociedade, costumo dizer a todos, com satisfação e orgulho, que somos brasileiros de coração e como consequência”.



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SNOOPY FORA DA CASINHA por_BRUNO REIS

Baixa os óculos de aviador sobre o gorro. O cachecol voa para trás com a força do vento que cresce e entusiasma. Snoopy está em cima de sua casinha

e já está pronto para voar. “Maldito seja você, Barão Vermelho”, diz, enquanto desvia das balas lançadas pelo inimigo invisível e que deixam marcas na madeira abaixo dos pés do beagle. As manobras criativas e eficientes deste arqui-inimigo do maior aviador militar de todos os tempos, no entanto, sempre garantiram a sobrevivência de Snoopy. No ano que vem, ele completa 60 anos e deve vir ao Brasil para contar a sua história. Quem garante é Jeannie, viúva de seu criador, Charlie M. Schulz (1922-2000). Como parte das comemorações do sexagenário das tirinhas “Peanuts”, de Charlie Brown e companhia, cópias dos trabalhos mais históricos devem ser expostas provavelmente em shoppings do país. E a história que Snoopy deve contar é realmente incrível, um sucesso estratosférico. Da primeira tira que Schulz desenhou no dia 02 de outubro de 1950 à última, pouco tempo antes de morrer em fevereiro de 2000, foram mais de 17 mil. Rodaram, ao todo, 2.600 jornais, em 75 países e 21 línguas, conquistando um público leitor de 355 milhões de pessoas. Schulz disse que a melhor ideia que já teve para as tiras de Charlie Brown foi ter tirado o Snoopy de dentro de sua casa de cachorro para colocá-lo no telhado. Foi lá que o cachorro ganhou fama e decolou, a ponto de ser mais reconhecido que seu próprio dono, tanto Charlie Brown quanto o próprio Schulz. Começou a andar sobre duas patas e foi quando revelou seus alteregos; o mais conhecido deles, o do aviador australiano Arthur “Roy” Brown, tido como o piloto que abateu o “ás dos ases”, o

Barão Vermelho. Mas Snoopy foi além do quadrado de suas tiras, do conforto de sua casinha e do conformismo. Foi muito crítico, como na tirinha em que lança Linus aos céus e diz ser o primeiro cachorro a lançar um humano. Uma paródia ao lançamento de Laika com o Sputnik 2. O sucesso era tamanho na época da corrida espacial, que o módulo lunar da Apollo 10, uma antes da conquista lunar, foi batizado de Snoopy, e o módulo de comando, de Charlie Brown. Uma tira original de Peanuts foi escondida para ser encontrada pelos astronautas somente quando eles já estivessem no espaço. Hoje, ela está exposta no Kennedy Space Center em Orlando, Flórida, Estados Unidos. Snoopy virou uma espécie de mascote não oficial do programa Apollo, que no dia 20 de julho levou finalmente o homem à lua. Neste ano, comemora-se 40 anos da chegada do homem à lua. Snoopy, que desde a morte de seu criador não aparece em versões inéditas (Schulz sempre foi o único a desenhá-lo), sobrevive como mascote oficial de segurança pessoal da NASA. O prêmio Silver Snoopy é concedido pelos astronautas às pessoas que se destacaram no aperfeiçoamento dos meios de segurança em voo e nas missões espaciais. Segundo uma explicação para a escolha do mascote encontrada na internet, “sua recusa em aceitar a derrota e seu jeito fora da casinha de pensar” garantiram a inclusão desse símbolo bem conhecido pelo público. Desconhecida a razão principal para a escolha, e sem a preocupação de saber o porquê, Snoopy já está de volta em sua tentativa de derrubar o maior dos derrubadores de aviões. “Maldito seja você, Barão Vermelho”.



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nostálgicos vinte anos por_Isadora Hofstaetter

E como não poderia ser diferente, para uma homenagem leminskiana, é importante lembrar que tudo o que aqui está escrito já foi dito. Foi no mesmo ano que surgiu a World Wide Web que Paulo Leminski faleceu. O poeta não teve chance para imaginar onde iria nos levar a tecnologia que surgiu meses após sua morte. Hoje, 20 anos depois, o microblog Twitter, uma das mais novas formas de utilizar a rede de hiperlinks, divulga os famosos haikais (poemas de três versos, sendo o primeiro e o terceiro com cinco sílabas e o central com sete) do poeta. Porém, a lembrança restringe-se ao próprio perfil comandado por autor não identificado; fora ele, apenas uma citação. Duas décadas sem o poeta parecem ter sido demais para a fraca memória do povo brasileiro, com enfoque nos curitibanos. Enquanto autoridades e vizinhos reclamões calam a Pedreira, homônima ao artista, pode-se dizer que os 15 anos do tetra que marcou a vida dos brasileiros, talvez, os 50 anos de carreira de Roberto Carlos ou, ainda, os 40 anos da chegada à lua tenham sido motivos da falta de lembrança - diversos acontecimentos que calaram, taparam com a peneira, as homenagens que deveriam ter sido feitas a Paulo Leminski. As poucas palavras ditas para lembrar o poeta-compositor-redatortradutor-músico-professor-judoca curitibano passaram quase despercebidas pelo turbilhão de acontecimentos do ano que marca a morte de Michael Jackson. Porém, quando se mexe em empoeiradas esquinas da vida boêmia, encontram-se momentos e falas que permanecem. Ufa! Alguém lembra

de Leminski. Mara é uma dessas pessoas com memória viva. À frente do Kapelle - que já teve dois endereços, sendo o atual na Saldanha Marinho e conhecido por Kapelle II - desde 1976, Silmara Rocha serviu vodca para o poeta durante anos. “Um dia, ele entrou no Kapelle I. Eu havia acabado de chegar, na época andava de moto, e estava voltando do Kung Fu. No meio do bar ele grita: ‘Meu Deus! É a mulher dos meus sonhos: motoqueira, karateca e dona de night club’. A partir disso, viramos muito amigos”. Olhares, posições e poesias ainda frequentam as memórias da também descendente de poloneses. “Vodca quando ele estava bem. Qualquer coisa quando estava mal”. Ela demora um tempo para desatar a falar. Talvez insegurança, talvez pressa, talvez preguiça. “Já no fim da vida, sentado naquela escada, ele andava muito humilde. A fase prepotente já tinha passado e o Juninho, filho do Nereu Teixeira, disse que queria mostrar uns textos para o Leminski. Sabe o que ele respondeu? Trás logo, que o tempo está acabando. Se demorar, talvez não dê mais”. A escada do Kapelle II continua a mesma, como boa parte da decoração do bar, que também é a casa de Mara. Entre suspiros saudosos da época e do “cara da poesia”, a conversa fluiu entre diabetes, leis e gatos. Hoje com 58 anos, Mara conta que perdeu contato com o pessoal que marcou a boemia curitibana nos anos 80. “Alguns poucos que ainda vejo falam para eu fazer um ‘evento’ de reencontro. Mas não tenho muita vontade. (Fernando) Cardoso se foi, Leminski se foi, a Bia (de Luna) se foi. As pessoas entram aqui e dizem que os avós delas eram meus amigos. Sai fora!”.

Leminski se afastou por um tempo. Foi para São Paulo. “Não havia espaço para poetas. Ainda não há. Por isso ele saiu daqui. Leminski amava Curitiba e Curitiba ama uma homenagem póstuma. Houve pouca coisa para ele, mesmo, neste ano. Desde o fim do Perhappiness (ver box), apenas coisinhas pontuais. Já dei algumas entrevistas sobre ele, mas neste ano, realmente não lembro. Nem sabia que já faziam 20 anos...”. Segundo a dona do bar, o poeta não viveu a fama, apesar de ter despertado inveja e relações de amor e ódio. Leminski morreu jovem, aos 44 anos e, algum tempo antes, quase prevendo seu destino, disse em carta a amigo: “Não quero acabar como uma pessoa com hepatite etílica aos 44 anos”. No Kapelle de hoje, nenhuma foto, poesia, imagem. Porém, entrando um pouco mais na casa, no quarto de Mara, há uma foto onde, entre outros rostos, está o famoso bigode do poeta. “Tinha também um papel com uma poesia, mas levaram”. O papel registrava poesia feita para o Kapelle II, às 5 horas da manhã de um dia qualquer. Mesmo tendo sido “assaltada”, ela lembra bem do texto que hoje é facilmente encontrado nos arquivos:

madrugada bar aberto deve haver algum engano por perto Como muitos de seus haikais, a poesia cabe nos 140 caracteres do Twitter e diz o máximo com o mínimo. Contando com este, Leminski produziu algo em torno de sabe-deus-quantos poemas. Os últimos inéditos foram publicados no livro Ex-estranho, em 1996. Paulo também foi tradutor de marcos literários como Pergunte


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ao Pó, de John Fante e Giacomo Joyce, de James Joyce. Teve 44 textos musicados, entre poesias e parcerias que, segundo Estrela Ruiz Leminski, filha caçula do poeta com sua parceira na vida e na arte, Alice Ruiz, estarão em evento organizado no Itaú Cultural no dia 30 de setembro. Estrela adiantou que, além de exposições, bate-papos e oficinas, haverá duas noites de shows apenas com músicas que tenham a participação do poeta. “Para fazer a banda, chamei gente que toca tanto em Curitiba como em São Paulo. Entre os nomes estão: Natalia Mallo e Mariá Portugal (Trash pour 4), Estevan Sinkovitz, Anelis Assumpção, Eduardo Gomide (Música de Ruiz, Universo em Verso Livre, Sereno) e eu”. Se Curitiba demorou para homenagear, São Paulo o fez. Como já afirmaram algumas vezes em vários lugares, Fred Góes e Álvaro Marins, responsáveis pela organização do livro Os Melhores Poemas de Paulo Leminski, pontuar o trabalho de Leminski é como procurar o fio de Ariadne no labirinto habitado pelo Minotauro. Sua obra é vasta e está presente tanto em peças publicitárias veiculadas para a massa, como em filmes-cabeça. Uma das melhores seleções está no CD Leminski Multimídia, lançado em 2001. Vídeos, textos, fotos, trechos de músicas e, claro, o melhor da sua poesia: interpretada por ele mesmo, Alice Ruiz, Estrela e Áurea Leminski e Arnaldo Antunes. Para breve, a primogênita do poeta, a jornalista Áurea Leminski, anuncia a disponibilização de todo o acervo na internet, incluindo manuscritos, estudos, materiais originais, raros e não publicados. Os 20 anos sem Leminski também marcam 20 anos sem Raul Seixas. Poucos meses separam a data de morte de dois grandes poetas que o Brasil teve. Nada de memórias para o cachorro louco nem para o maluco beleza. Em 2009, nada de nostalgias boêmias e setentistas. Pena.

Talvez volte Desde 1989, ano da morte do poeta, a Fundação Cultural de Curitiba tratou de mexer os pauzinhos para homenagear Leminski. O primeiro evento organizado comemorava a inauguração da Pedreira Paulo Leminski, espaço cultural e de shows ao ar livre em Curitiba que hoje não recebe mais som algum. O nome do evento, Perhappiness: criação de Leminski que questiona o emocional. Perhaps + Happiness = talvez felicidade. “Durante os 17 anos que aconteceu, ele teve os mais variados formatos e tamanhos, o que sempre dependeu do orçamento disponível, mas nunca perdeu sua principal característica de ser um evento provocativo e inovador”, relembra Renata Mele, produtora da Fundação Cultural de Curitiba e curadora do evento durante três anos. Importante expressão cultural com foco literário, o Perhappiness foi o primeiro evento brasileiro dedicado à literatura e poesia. Mesmo sendo esse o chamariz, havia a união de formas de expressão: cinema, música, artes visuais, performances, intervenções urbanas, teatro. “O Perhappiness foi criado pela professora Cassiana Lacerda para homenagear o poeta Paulo Leminski e, para homenagear um artista multimídia como ele, só mesmo um evento tão rico e diversificado como o Perhappiness”, conta Renata. Segundo Renata, como nos dois últimos anos em que aconteceu (2006 e 2007), o Perhappiness voltará como módulo do Curitiba Literária, evento de incentivo à literatura que não foca em poeta ou escritor específico. Só não se sabe quando.


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ENTREVISTA


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DEDO NO PULSO _Rico Lins

por_ISADORA HOFSTAETTER fotos_TÉO PITELLA

O trabalho de Rico Lins é uma das veias pulsantes do design gráfico. E é, sem dúvida, a veia brasileira com maior representatividade na área, tanto aqui quanto no exterior. Com 30 anos de carreira e um portfólio que inclui capas para renomadas publicações internacionais como Time, Newsweek, BIG, além de revistas nacionais como Bravo, este carioca que habita em São Paulo é defensor não de um estilo, mas de processos de criação. Designer que fez sua primeira capa ainda aos 17 anos para o jornal Opinião, Rico Lins é formado pela ESDI – Escola Superior de Desenho Industrial – e tem ninguém menos que o jornalista Zuenir Ventura como orientador de seu projeto final de faculdade. Em 1982, começou a produzir capas para a revista alemã Kultur Revolution, que o adotou como designer oficial e já publicou mais de 50 capas suas. À frente do + Studio, localizado na capital paulista, Rico Lins desenvolve projetos em conjunto com uma equipe enxuta e jovem. Buscando qualidade de vida, hoje não possui mesa fixa e não precisa deslocar-se de carro para trabalhar; apenas descer as escadas da casa, com portas e janelas amarelas, que é, além de residência, escritório.


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INVENTA - A CAPA DE UMA REVISTA ATUA COMO ROSTO DA PUBLICAÇÃO. O QUE VOCÊ LEVA EM CONTA QUANDO CRIA? Rico Lins É necessário ter uma ligação, até por conta do conteúdo que a imagem carrega. Não dá para ter uma postura muito decorativa. Quem faz a capa tem papel importante no processo de informação. As capas requerem que você mergulhe no tema. É difícil conseguir fazer uma capa que não tem nada a ver... e o que vai diferenciar é a forma como o designer trata o tema da publicação. Aí, sim, entra a visão pessoal, mas que é calçada em cima de um conteúdo editorial. Têm alguns outros divisores de águas, por exemplo, qual é o público, já que o trabalho gráfico deve ser pensado para um público específico. A periodicidade também influencia. Outra coisa é tentar usar ao máximo a capa como espaço de opinião, possibilitar que a imagem passe a opinião do designer. Isso tudo, pra mim, é muito mais importante do que o estilo. Até porque, se me prendesse a um estilo único, não teria feito todas as capas da Kultur Revolution. A revista não é minha, é outra. Eu navego em diferentes formas de expressão, seja ilustração, seja foto, seja o que for, mas sempre varia muito de uma capa para outra. Minha contribuição sempre foi muito envolvida com a publicação e busco preservar uma opinião editorial ou trabalhar de tal forma que a imagem não funcione apenas como um suporte para o texto. Procuro fazer com que a imagem tenha uma autonomia e fale por si só. Têm capas, como as da Newsweek, que eu era chamado para apresentar uma ideia e aquela ideia, que originalmente pensava em apresentar em forma de ilustração, acabava virando uma foto. Assim, assinava a direção de arte da revista.

IVT - A QUESTÃO DA PERIODICIDADE INFLUENCIA NA PRODUÇÃO APENAS PELO PRAZO? RL Se você pega uma revista mensal, o prazo é maior. No caso da semanal, a pressão é bastante grande, já que são de dois a três dias pra fazer a capa. E isso significa não só realizar a capa, mas submeter as ideias, ter a aprovação do editor... tem idas e vindas. Quando você pega publicações como a Newsweek e a Time, a estrutura de produção é muito industrial, já que são revistas semanais para quatro mercados diferentes (americano, sul-americano, europeu e asiático) e que, às vezes, coincidem de terem a mesma capa, porém nem sempre. Têm capas que são feitas especificamente para o mercado asiático, por exemplo. Lembro de uma colagem que fiz com uns olhos para a Time e foi uma legião de advogados atrás de mim para saber sobre os direitos dos olhos. Eles acionam isso tudo na hora para averiguar se o olho do fulano de tal não permite reconhecimento, para evitar que alguém processe a revista... então, fazer uma capa dentro desses termos é realmente uma operação de guerra. Além disso, como essas revistas também não podem correr o risco de não ter uma capa pronta por semana, elas são encomendadas, normalmente, a duas ou três pessoas. No esquema da imprensa editorial semanal americana, tem revista que chega a ter uma produção de 30 capas por semana. IVT - COMO UMA CONCORRÊNCIA? RL Não é nem uma concorrência. Eles têm que se calçar e ver o que funciona melhor. E nem sempre as revistas correm com um tema só. Eles sempre têm um tema e outro sobressalente. Às vezes, ocorrem coisas inesperadas como o avião que cai, o crime, coisas que acontecem, que fazem o planejamento editorial mudar, como a morte de Michael Jackson.

O óbvio não vende revista, não chama atenção na banca, não é informação. ENTREVISTA_ Rico Lins


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IVT - E A DIVERSIDADE DE PÚBLICO? RL Tem gente que, se faço uma coisa, interpreta outra. E isso é bom porque é sinal que você fez a pessoa pensar, mesmo que não seja exatamente o que você havia colocado. Trabalhar muito com clichê também é positivo na medida em que há garantia de comunicação clara, mas deve haver o cuidado de aproveitar isso para poder trazer uma luz nova ao clichê, porque senão fica óbvio. E o óbvio não interessa a ninguém. O óbvio não vende revista, não chama atenção na banca, não é informação. É preciso deixar uma porta aberta para a reflexão do leitor. Se você dá tudo muito mastigado, como a publicidade normalmente faz, a pessoa automaticamente se sente excluída daquele processo. A gente precisa valorizar a inteligência do leitor, fazer o cara pensar um pouco. As capas não são respostas: são até mais perguntas do que realmente respostas. O tema tratado existe dentro de um contexto, uma história gráfica, e é realmente importante levar em consideração tudo isso. Ainda mais porque o design gráfico, e sobretudo o design gráfico para a mídia impressa, tem uma importância muito grande na formação de repertório. É necessário passar informações, as mais variadas possíveis, mesmo que condensadas em uma imagem só, sabendo que todos os tipos de público vão estar vendo aquilo. A capa pode comunicar tanto com um garoto ou com um adolescente, como ter uma informação que não passa para eles, mas passa para outra pessoa com outro tipo de repertório. São camadas de leitura da capa. Trabalhar com isso enriquece. Na publicidade isso é mais complicado, há um compromisso maior com a obviedade. IVT - HÁ LIBERDADE PARA CRIAR? RL Liberdade você cava, né? É necessário argumentar bem e, dependendo do editor ou do diretor de arte, isso flui super tranquilo. Tem uma questão da educação do olhar, a educação visual. É preciso saber ver. Muitas vezes, as pessoas veem a imagem, mas não veem o que está por trás dela e, aí, é necessário argumentar e contextualizar. Têm pessoas que já contextualizam com o olhar, deixando tudo mais fácil. Agora, têm outras que dão um trabalho danado. IVT - EXISTE ALGUMA CAPA QUE TENHA MARCADO MAIS? RL Vejo cada capa de um jeito diferente. Mas todas têm uma história para ser contada. Mais uma vez, isso depende muito do perfil do público, da forma. Às vezes, é uma história da produção: a solução da capa vem da relação de criação do momento que a capa está sendo feita. Às vezes, é uma relação feita com o tema, a forma como o designer absorve aquele tema. Têm outras em que o mais importante é o retorno do público, que é uma surpresa. Às vezes, as pessoas veem ou se relacionam com coisas que em princípio não eram as principais para você, mas que de repente aquilo chama a atenção para alguém. O mais legal é que essa coisa de importância independe da publicação. Qualquer capa pode marcar, tanto a capa da Newsweek quanto da Bravo, das revistas de moda ou da Inventa.

IVT - E COMO É SEU PROCESSO DE CRIAÇÃO? RL Não tenho um método no sentido linear. O processo de criação para mim é conseguir entrar no tema e encontrar um caminho de diálogo com ele de alguma forma. Quando você encontra isso, e que às vezes não vem imediatamente, é possível definir o conceito de capa. Primeiro é preciso ter claro o conceito. Depois você faz. Normalmente fazer é mais fácil do que pensar, então costumo pensar bastante antes para ter algumas soluções e ideias e ver qual delas se sustenta melhor. IVT - A EXPOSIÇÃO “UMA GRÁFICA DE FRONTEIRA”, QUE ACABA DE SER ENCERRADA NO INSTITUTO TOMIE OHTAKE, FOI UMA CELEBRAÇÃO DA SUA CARREIRA? RL Para mim, foi uma possibilidade de reflexão em cima do trabalho, de poder conviver em um espaço definido, várias coisas que foram produzidas. Alguns trabalhos foram feitos com distância muito grande de tempo, mais de 20 anos de diferença. Foi a possibilidade de ver como esses trabalhos antigos e os atuais conseguem dialogar, e mais, poder perceber como o público interage com isso. Muitas vezes você não tem o feedback do público, ele pode vir filtrado, algum amigo fala, o editor fala ou você reflete e pensa alguma coisa, mas as pessoas não têm muito o hábito, a não ser que a pessoa seja da área, aí fica comentando a capa de uma revista ou de um livro. Para mim, foi uma certa celebração, sim, no sentido de confirmar um compromisso criativo. A intenção é levar esta exposição para outras capitais, inclusive Curitiba. IVT - VOCÊ SENTE FALTA DO RETORNO DO PÚBLICO? RL É sempre bom. Fiz uma capa para a revista BIG, uma revista europeia, e essa capa era uma edição brasileira. Eu tinha que falar sobre o Brasil. Eu não queria falar do Brasil para inglês ver, queria ter uma visão do Brasil mais sintética, com elemento de sensualidade, de cor, de natureza, alguns atributos brasileiros sem cair no clichê. Então, eu acabei usando a imagem de figo cortado. Essa imagem sintetiza tanto a coisa da cor, quanto a coisa da natureza, da sensualidade... é meio erótica, é uma imagem que condensa várias coisas. Ao mesmo tempo que essa capa foi super bem recebida em vários lugares de artes, teve donos de bancas de jornal que não a colocaram exposta porque consideraram a capa pornográfica! Então como é que você vai saber? Ter a informação do público para mim é o máximo porque eu penso “poxa, a pessoa viu ali dentro o que ela está a fim de ver”.

IVT - CONNEXIONS>CONEXÕES É A PRÓXIMA EMPREITADA? RL Essa exposição é uma contrapartida da Brasil em Cartaz - exposição que eu fui convidado a montar em 2005, no ano do Brasil na França, em uma cidade chamada Chaumont, onde eles têm uma das maiores coleções gráficas, sobretudo cartazes. A exposição deles deve ter uns 40 mil cartazes. Eu fui convidado para levar uma exposição de cartazes brasileiros para lá. O cartaz brasileiro é “o primo pobre” do mundo gráfico brasileiro. São muito híbridos e é exatamente esta a característica que faz com que sejam interessantes. Eu organizei essa exposição lá, e agora eles queriam que alguma coisa acontecesse aqui no Brasil. Neste ano que é o ano da França no Brasil, estou fazendo a curadoria com a ajuda da Christelle Kirchstetter - que foi quem dirigiu o Polo de Grafismo de Chaumont. Vão ter dois eventos: um no Instituo Tomie Ohtake, que vai ser uma exposição dos cartazes da coleção histórica de Chaumont. Nesta exposição têm questões de controle de clima, de segurança, até porque cartazes raros fazem parte, um Toulese-Lautrec, enfim, cartazes desde o século XIX até os contemporâneos. Há o outro lado do evento que acontecerá no SESC Pompéia, que utiliza um pouco da atitude e atuação de Chaumont, que é a criação de residências para designers e trabalhos do dia a dia do design gráfico. Uma coisa mais voltada ao acompanhamento, desenvolvimento do design. Aí, a gente resolveu fazer alguma coisa que fosse um pouco “o dedo no pulso” do que está acontecendo agora. Nós selecionamos dez franceses e dez brasileiros, grupos ou individuais, para estabelecer durante dois meses esse diálogo criativo. Cada um vai ter espaço na exposição, vai ter também workshop, seminário, conferência e outras coisas acontecendo.

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IVT - E COMO FOI A ESCOLHA DOS PARTICIPANTES? RL Eu queria primeiro buscar trabalhos que tivessem uma característica de certa forma autoral, que não fosse uma simples resposta a uma demanda de mercado, mas que fosse possível entender um pouco como conseguir articular uma ideia autoral e, ao mesmo tempo, ter mercado. Uma outra etapa da seleção era envolver pessoas que estão trabalhando na área, mas não são necessariamente consagradas, que tenham um trabalho desenvolvido, mas que não tenham nenhum medalhão. Eu acho isso legal, pegar essa moçada para mostrar o que é que está acontecendo. Na escolha brasileira, eu também fiz questão de abrir um pouco o leque, então tem gente de vários lugares, tem São Paulo e Rio, mas tem também Porto Alegre, Recife. Outra coisa era variedade: tem gente que trabalha com o impresso, com intervenção urbana, com mídia eletrônica, e outras coisas. A ideia é colocar todos esses designers para e ver o que acontece. O design é que faz isso, de misturar tudo. A arquitetura faz um pouco, a literatura faz também, mas faltam as artes visuais.

O design é cultura, não é só mercado ou tecnologia.

IVT - COMO É O MERCADO EXTERIOR, EM COMPARAÇÃO COM O BRASIL? RL Eu acho que não dá para dizer que o Brasil é a bola da vez, mas o país está ocupando um espaço muito interessante. O grande problema está no fato de como a gente se reconhece. “Ah, o trabalho brasileiro é internacional”. Existe essa preocupação de fazer parte do que está lá fora quando, na verdade, a gente faz parte até o osso do que está lá fora. Nós somos um país colonizado, um país que é uma mistura de informações, um saco de gatos. O Brasil sempre foi global. O compromisso maior é no sentido de tentar trabalhar, valorizar e perceber a nossa forma particular de resolver a questão da identidade cultural que é múltipla, que é confusa, toda fragmentada. Mas é exatamente isso que eu acho que dá força para o trabalho criativo brasileiro. É um olhar fresco do ponto de vista do trabalho criativo. E o design, em todas as áreas (gráfico, produto, moda ...), tem conseguido qualidade sem que necessariamente ela seja comparada com a qualidade lá de fora. Estamos sendo mais proprietários de alguns atributos, reconhecendo qualidades nossas. Tem também a questão da história gráfica brasileira. Houve um momento em que teve muita defasagem tecnológica e de repente isso teve uma aproximação grande. Mas a linguagem gráfica é cultural. O design é cultura, não é só mercado ou tecnologia. Aí as informações passam a ter um valor muito grande.

IVT - ESSA IDENTIDADE BRASILEIRA ESTÁ PRESENTE EM SEU TRABALHO. RL É, e nos processos também. Acho que nós temos essas referências, não só essas da cultura de massa brasileira, mas a cultura de massa em geral. Existe uma coisa interessante que é uma transgressão: quando você usa uma referência de um determinado contexto para falar de outro contexto. Áreas de atrito são sempre interessantes do ponto de vista criativo. De repente usar com a Carmen Miranda alguma coisa que não tem nada a ver com a Carmen Miranda. E isso é um olhar brasileiro. O Brasil faz essas misturas, sempre fez e sempre vai fazer isso bem feito. A característica de identidade, para mim, se resolve mais no processo do trabalho do que nos elementos usados para compor este trabalho ou no resultado final dele. Por exemplo, essa coisa de reutilização de material, de reciclagem, de usar papel para embrulhar comida: são apropriações que nós (brasileiros) fazemos. IVT - HÁ ALGUM TEMPO, UMA FRASE SUA FICOU CONHECIDA: “A PERFEIÇÃO É PÉSSIMA”. ELA CONTINUA SENDO PÉSSIMA? RL Há esse compromisso com a perfeição sem questionar isso. Primeiro porque se você vai buscar a perfeição, você vai morrer louco, não dá. Segundo porque não adianta acreditar nessa perfeição, pois ela não existe. A perfeição é fria e o incompleto é muito melhor que o completo porque o incompleto é includente. Quando a coisa não está completa, a pessoa tem um espaço para entrar nela. É tão fechado que o cara diz não tenho nada a ver com isso”. Ninguém mexe nas coisas perfeitas. O perfeito é péssimo porque ele corta uma possibilidade de comunicação, que é chamar a pessoa para a conversa. É importante sempre preservar um espaço, que é o espaço para o acaso, para o que dá errado, para uma interpretação que não é a sua. Ter um espaço aberto no sentido de incluir o olhar do outro para que ele complete esse olhar. Nesse sentido, a perfeição continua sendo péssima (risos).

ENTREVISTA_ Rico Lins


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IVT - SEU TRABALHO É REFERÊNCIA. QUEM SÃO SUAS REFERÊNCIAS? RL Tenho várias. Mas, cada vez mais, a referência sou eu. A forma como vejo o design, usar um trabalho de um soviético do começo do século passado e ao mesmo tempo uma tipografia experimental feita por um cara de não-sei-onde e colocar essas duas coisas para conversar. Existe influência das duas, certo? Isso é muito característico. Agora, as coisas que mais gosto, visualmente, são os trabalhos mais autorais e não executivos. Eu também sou muito curioso, então, estou sempre tentando pegar coisas de outros lugares. Existem influências simultâneas. Desde misturar o pop americano com o construtivismo russo, com a literatura de cordel. É difícil saber realmente o que me influencia, depende de cada projeto. Eu tento deixar essas influências o mais explícito possível. Se estou fazendo um trabalho que se refere a determinado momento da história ou determinada situação, procuro deixar bem explícito que é aquela influência, que é aquilo lá que está na roda. Não tento ficar disfarçando e fazendo um sub-polonês ou um pseudo japonês, entendeu? IVT - PARA VOCÊ, QUEM SÃO OS EXPOENTES DA NOVA GERAÇÃO DO DESIGN GRÁFICO BRASILEIRO? RL O mercado de design cresceu muito ultimamente. Tem muitas escolas produzindo designers, não só no Brasil. Isso veio na carona do Desktop Publisher, na carona das mídias digitais, com o uso diferenciado das ferramentas. Mas a maior parte das escolas ainda está concentrada em ensinar software, são poucas as que ensinam a pensar. Os trabalhos mais interessantes são os voltados para o mercado de cultura, até porque há uma maior flexibilidade de compartilhar um repertório do que quando a coisa é muito voltada para uma ação de marketing, onde há uma limitação. O que é errado, né? Não é porque você está fazendo uma coisa voltada para o mercado, para vendas, que tem que fazer uma coisa mais fácil, entendeu? Acho que, pelo contrário, têm trabalhos que conseguem marcar exatamente porque são inesperados. E eu acho essa surpresa fundamental!

Tenho visto muita moçada trabalhando com street art e trabalho gráfico. Existe também uma atenção cada vez maior para uma reflexão, um espaço de crítica de design que não existia antes. Do ponto de vista do mercado editorial, tem muita coisa boa acontecendo com livros. Na linha de cartazes, não temos tantas pessoas trabalhando, mas pelo fato de conseguir imprimir um cartaz digitalmente, não mais no offset, e ser possível fazer pequenas tiragens, abriu uma brecha e também influenciou para que o cartaz fosse visto como mídia. Por outro lado, no trabalho editorial para revistas, sinto limitações. As revistas acabam tendo que brigar muito em banca e, muitas vezes, as capas estão na base da obviedade. É difícil hoje encontrar capas que você diz “puta, que capa”! Essa coisa de misturar um pouco as mídias: o cara faz um design para exposição, trabalho impresso, ele também é VJ e está trabalhando com tipografia em roupa. Esse tipo de mistura de expressões é uma coisa que está cada vez mais presente. E essa moçada que falamos que vem para o Connexions>Conexões tem essa característica, moçada nova com 20, 30 anos no máximo. No Rio, se não me engano, tem um grupo chamado Cubículo Bacana e outro chamado Arterial que são bem legais. Em São Paulo tem o Bijari, um coletivo com uns dez caras trabalhando com arquitetura, interação urbana, gráfico, muito interessante. Do ponto de vista editorial tem a Elaine Ramos da Cosac Naify, que é uma pessoa que vai fazer parte da exposição Connexions>Conexões. E não só ela, mas toda a atitude da Cosac é super louvável porque você tem capas - o reposicionamento do livro, não só como conteúdo, mas como produto. Você compra porque é bonito, é legal e você quer ter aquele negócio. O livro passou a ser um produto mais experimental. Tem um trabalho interessante também sendo feito com tipografia digital, que são mais imagéticas. As pessoas conseguem fazer sua própria fonte, então, passa a ter uma coisa mais autoral. Bom, de tendência, acho que é por isso aí. Tem muita gente, mas de qualidade são poucos, o mercado é bem restrito.

Áreas de atrito são sempre interessantes do ponto de vista criativo.

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A HISTÓRIA E O DESTINO GRÁFICO DA POLÔNIA

por_BRUNO REIS imagens_DIVULGAÇÃO MoMA

O Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA) apresenta até o fim do ano uma

mostra sobre o tema. Polish Posters 1945-89 é uma seleção de 24 cartazes poloneses do período da Guerra Fria, exatamente o período em que as artes gráficas na Polônia floresceram, apesar do rígido controle do Estado. E foram os perigos da censura que acabaram garantindo a maturidade de uma tradição secular de produção gráfica, que começara em 1890 sob forte influência do francês Toulouse-Lautrec e seus cartazes para os bordéis de Montmartre. Depois, o norte para os artistas gráficos poloneses viria dos cartazes de viagem que a Art Nouveau, na década de 30, tornou comum nas ruas de Paris. E foi sob essa forte influência externa que seguiu a arte polonesa de fazer cartazes, até que após a Segunda Guerra firmou-se uma espécie de contrato não oficial com o governo comunista. Os artistas abraçariam o rígido realismo social soviético, mostrando imagens em tons de cinza e vermelho de mulheres carregando espátulas de cimento e homens com marretas, quebrando pedras e reconstruindo um país arrasado. Em troca, poderiam trabalhar com a liberdade que os eventos culturais proporcionavam. Aí sim, quase

sempre, fazendo alusão às severas condições de vida do regime. Sobre todo esse começo, um dos grandes artistas da Escola Polonesa de Cartazes, o pioneiro Henryk Tomaszewski, comentou certa vez: “a política é como o clima, você tem que viver com ela”.

passar aos trabalhadores na data, o artista mostrou que ainda havia muito a ser feito. Tomaszewski também produziu muito para o famoso Polski Cyrk (circo polonês): trabalhos que combinavam uma colagem abstrata e uma tipografia expressiva.

Foi essa convivência que coloriu a apática Polônia para o mundo das artes, com uma sofisticada arte gráfica que reunia um humor surreal e livre de qualquer simbolismo ideológico. O isolamento do regime comunista permitiu o desenvolvimento de uma forte identidade polonesa nos cartazes. Tomaszewski, por exemplo, em vez de mostrar as cenas dos filmes para os quais desenhava, preferiu apenas sugerir o tom que eles passavam, lançando mão das próprias técnicas dos cineastas para tanto, como a montagem, as perspectivas dramáticas e os cortes bizarros nos objetos. Seu cartaz para o filme britânico Odd Man Out era uma mera ilustração simbólica da narrativa. Na ocasião do Dia do Trabalhador, em outra obra, ele decidiu mostrar apenas meio trator, na borda do papel, alguns galhos de árvores e um pedaço da bandeira polonesa. Ao contrário da euforia que a propaganda do regime comunista tentava

Na época, o governo comunista polonês controlava a entrada de todo material artístico no país. Os filmes eram todos distribuídos pela agência estatal Central Wynajma Filmow, que foi o primeiro patrão de Henryk Tomaszewski. Todos os grandes nomes da Escola Polonesa de Cartazes passaram por ela. Jan Lenica, Franciszek Starowieski, Jan Mlodozeniec, Waldemar Swierzy e Roman Cieslewicz. Todos presentes com obras na exposição do MoMA, resumindo bem a consciência social do período comunista. Destaca-se que cada um acabou seguindo uma linha própria, ainda que sempre dentro da estética polonesa. Swierzy, por exemplo, foi o mestre dos pontos de cor e das ousadas paletas de cores. Muito próximo à poética da arte pop. Já Mlodozeniec aderiu ao primitivismo, voltando às origens das linhas e formas simples, que saíam quase infantis nos cartazes.


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A BANCA DOS (CARTAZES) POLONESES Edinelson César Domahovski é um polonês de quarta geração. Foram seus bisavós que vieram ao Brasil e foi seu pai quem começou a vender cartazes poloneses na banca de revistas da família, na Rua XV de Novembro, em Curitiba. Na época, Ed (como se apresenta aos clientes) morava na Polônia e acabou se encontrando com os cartazes poloneses “quase que” por acaso. Rodando ruas, lojas e cafés de Cracóvia, Ed se deparou com a força emotiva daquelas figuras nas paredes. Cartazes que em alguns casos estavam mais baratos que uma xícara de café com leite. “O país ainda estava se abrindo para o resto do mundo, estava tudo muito barato, não havia noção de preço”, lembra.

CIRCO Há três anos, o Instituto Tomie Ohtake (São Paulo) reuniu cartazes poloneses para uma mostra especial com um só tema: circo. E todas as obras vieram de uma pessoa só, um polonês com sotaque argentino e ginga brasileira. Andrés Bukowinski nasceu Andrzej, durante a ocupação alemã em Varsóvia. Em 1940, quando a Polônia sofria com o racionamento de alimentos e com a ocupação nazista, Andrzej fugiu com o pai para a Inglaterra. Aos nove anos chegou à Argentina, onde começou a forjar seu sotaque castelhano, que, aliás, nunca perdeu. Foi lá que começou também a decupar, nas horas vagas, em plano sequência, sua juventude cinematográfica. A imagem e a ação tornaram-se inseparáveis de Andrés desde então. Anos mais tarde, já um consagrado diretor de filmes comerciais e proprietário da Abba Filmes, em São Paulo, Andrés respondeu a um cliente o porquê dos cartazes poloneses nas paredes da produtora: “é que a gente muitas vezes tem que fazer papel de palhaço para aprovar os filmes”, disse. O cliente nunca mais voltou, mas, ainda assim, Andrés continuou sua brincadeira com os cartazes poloneses de cinema e tornou-se um dos maiores colecionadores desse tipo de cartaz do mundo. “Achei aquilo tudo muito representativo”, comenta, “não só por ser uma das formas mais efetivas de comunicação em um estado repressor, mas também porque o circo é a origem do show business, é a origem do nosso negócio”, referindo-se à produtora que montou logo quando chegou ao Brasil. Conseguiu grande parte das obras que tem em seu primeiro retorno à Polônia, em 1991, depois da queda do regime comunista. “Na época, encontrei muitos

cartazes a preço de banana, o pessoal não dava valor a isso tudo”, conta, referindo-se à perda do reconhecimento que os cartazes haviam conquistado ao longo do ano. Essa perda veio com a queda do regime comunista no país, justamente o que havia permitido sua singularidade. Na década de 70, uma segunda geração de artistas surgiu, sob a tutela dos famosos mestres pioneiros citados anteriormente. Mais interessados no não conformismo, na sensibilidade aos novos acontecimentos e na mordaz interpretação poética da realidade, eles ilustraram os movimentos sociais que estavam surgindo. O auge e o fim do forte pioneirismo polaco nas artes gráficas foram escritos em vermelho, sob um fundo branco. As letras vermelhas diziam Solidarno e representavam o início do processo de abertura do país, com a criação do primeiro movimento sindical não comunista. Surgia o movimento Solidariedade. Com a economia de mercado e a liberdade de expressão que seguiram, a queda do regime aliado a Moscou, os artistas de cartazes poloneses, que apesar de tudo eram mantidos e patrocinados pelas atribuições culturais do Estado, descobriram um mundo difícil de se viver. Eles acabaram vendo que esse tipo de arte não faz dinheiro, e que desenhar para vender uma escova de dentes é diferente de criar e desenhar as expressões artísticas de, digamos, um filme ou uma apresentação de circo. O deslumbramento pela nova cultura do oeste, aberta agora à população, ofuscou o brilho polonês e deixou os cartazes “a preço de banana”.

Encantado com a estética daqueles cartazes, Ed comprou alguns para deixar em sua casa no Brasil. Enviou tudo por correio. Seu pai recebeu os tubos com o material e, quando viu as formas impressionantes e o talento da terra dos antepassados, gostou e resolveu colocá-los em sua banquinha como decoração. A pressão dos clientes foi tanta que, em pouco tempo, vendeu os que tinha. E, desde 1992, antes mesmo de Ed voltar às terras brasileiras, a banca de revistas da família Domahovski, aquela que fica bem em frente ao bondinho, comercializa cartazes poloneses. Abastecida sempre por algum amigo, amigo de amigo, ou pelo mais conhecido jornalista polaco de Curitiba, Ulisses Iarochinski, como foi o caso da última leva, a banca expõe algumas das obras à venda na vitrine. Mas, para quem busca alguma específica, toda a coleção está no celular de Ed, que pode trazer no dia seguinte o cartaz que o cliente desejar. “Outro dia vieram dois padres do Rio de Janeiro e me pediram para trazer alguns cartazes para verem”, conta. “Ficaram comovidos: levaram oito”. Há quase dez anos, a força da arte polaca das obras que Ed possui rendeu uma exposição na Secretaria de Estado e Cultura do Paraná. E o que têm de tão especial os cartazes poloneses? “É um resumo da cultura do país, do jeito polonês de fazer cultura e de ver a cultura”, diz Ed, “é a emoção polonesa”. Emoção que o polonês de quarta geração procura agora divulgar e partilhar com os clientes que se perdem nos rabiscos intuitivos dos cartazes enquanto esperam por um cigarro solto ou pelo jornal do dia, os produtos que Ed mais vende na banca.


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Reprodutor de informações

“Se está na internet, é de domínio público e posso copiar sem pedir autorização a ninguém!” é uma das frases frequen-

temente escutadas pela advogada especialista em Propriedade Intelectual, Giorgia Pacheco. Aos desavisados, fica o esclarecimento: essa atitude normalmente resulta em sérios aborrecimentos e consequências na esfera civil e criminal. São casos comuns de violação da lei que acontecem por mero desconhecimento dos direitos da propriedade intelectual na internet. Só neste ano, a justiça alemã condenou a empresa de serviços de hospedagem, Rapidshare, em multa de R$ 66 milhões, em relação ao armazenamento de músicas protegidas por direito autoral. O gigante Google também foi processado pela empresa norte-americana desenvolvedora de software para comércio, Android Data Corp, por infringir a lei de proteção de marcas, nomeando seu novo sistema operativo de telecomunicações móveis como Android. A queixa foi registrada no Tribunal de Chicago, e a empresa denunciante pede indenização de US$ 100 milhões pelos danos causados. Quem também foi multada no valor de US$ 200 milhões por quebra de patente referente à empresa i4i foi a Microsoft. O processo diz respeito a um

por_AMANDA LAYNES ilustração_ZÉ ALEXANDRE

sistema de documentos, utilizado em programas do Word 2003 e 2007. A Microsoft está recorrendo do veredicto. Ao postar textos, fotografias, vídeos de outras mídias sem mencionar os produtores oficiais daquela informação, a pessoa está infringindo a Lei nº 9.610/98, que rege a propriedade intelectual. Nela, qualquer reprodução, imitação, distribuição, retransmissão ou publicação ilícita de materiais artísticos, literários e científicos, fotografias, pinturas ou vídeos é considerada crime, independente dos meios utilizados para violação. Desta forma, o crime de plágio pode acontecer tanto em livros, ou parte deles, editados, impressos em papel, como nos conteúdos disponibilizados na internet. A coordenadora de propriedade intelectual da Agência de Inovação da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Edmeire Cristina Pereira, esclarece que a alteração de pequenas partes do conteúdo também é caracterizada como crime de violação de direito do autor, bem como apropriação da estrutura ideológica e encadeamento de ideias, configurando o plágio. “Se tratar-se de casos de textos em que se envolvam paráfrases, deve-se obrigatoriamen-


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te citar as fontes bibliográficas”. Do contrário, o crime pode resultar em punições como busca e apreensão de produtos resultantes da ação, detenção de três meses a um ano, multa e indenizações, que buscam a reparação e o ressarcimento financeiro dos danos causados às vítimas. “Hoje, com a internet, existem mecanismos para a identificação dos acessos feitos a conteúdos protegidos por propriedade intelectual, e os indivíduos que praticam tais crimes podem ser identificados com o rastreamento do endereço de IP (Internet Protocol)”, esclarece a advogada Giorgia Pacheco. A especialista ainda lembra que, caso o mentor de um blog receba uma notificação que denuncie irregularidade no seu espaço virtual, ele deve de imediato prestar esclarecimentos ao autor oficial. “Após apurada a denúncia, é interessante comunicar ao notificante das providências tomadas, inclusive informar da exclusão do conteúdo, se for o caso. Essas medidas devem ser ágeis e são extremamente recomendadas para evitar uma corresponsabilidade do mentor em relação ao ato praticado pelo autor”, recomenda. O criador e produtor de conteúdos intelectuais que perceber ter sido plageado deve buscar provas materiais e, logo, consultar um profissional especializado, que poderá avaliar a situação e decidir qual o melhor caminho a ser tomado, podendo envolver medidas judiciais. Neste caso, as provas virtuais são importantes e aceitas pela justiça brasileira. Os e-mails são tidos como

documentos e já há vários registros de ações que utilizaram vídeos do YouTube ou testemunhos em sites de relacionamento como provas. Em Curitiba, por exemplo, existe o Cartório Volpi – 7º Tabelião, que trabalha para registrar as denúncias das pessoas que se sentirem moralmente atingidas por alguma ação da internet. Elas devem ir até o cartório e abrir a página virtual em frente ao relator, que vai gravar aqueles dados em uma ata e registrar em um livro de escritura. Com este documento em mãos, o denunciante vai à delegacia e registra queixa contra o difamador ou usurpador de informações. O preço é cobrado por página e varia conforme o documento. Mas, como tentativa de prevenção dessas ações, alguns órgãos nacionais garantem os direitos dos autores após registro dos conteúdos intelectuais. No Brasil, as entidades oficiais como a Biblioteca Nacional, Escola de Música, Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro, e o Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia são algumas das que trabalham para proteger os conteúdos oriundos do intelecto.

Proteja-se por_MARÍLIA BOBATO

Já para os criativos de plantão, é bom lembrar que as ações individuais publicitárias não são garantidas pela mesma Lei de Propriedade Intelectual. Por isso, torna-se de extrema importância o registro de depósito, pois a cópia de trabalhos pode acontecer após a participação da agência em processos de seleção de fornecedores de trabalhos de comunicação e na exposição de trabalhos a organizações públicas e privadas, não tendo como garantir o controle do uso das informações apresentadas por outros profissionais. A lei que trata dos direitos autorais diz que cabe ao organizador dos conteúdos, os direitos patrimoniais sobre a obra coletiva. Neste caso, as agências de publicidade são as organizadoras da obra publicitária, tendo, portanto, total direito sobre os anúncios que foram criados em sua estrutura. Assim, o criador da campanha só pode utilizá-la com a autorização da agência. O consultor da Associação Brasileira de Propaganda (ABP) e diretor de Assuntos Legais do Conselho de Autorregulamentação Publicitária (Conar), João Luiz Faria Netto, explica que a publicidade conta com um sistema privado de proteção, com o depósito na ABP do que se deseja proteger. Ele é aberto apenas às agências de propaganda certificadas no Conselho Executivo de Normas Padrão (Cenpi), e não ao criador individual. Faria Netto salienta que o registro não protege a ideia, mas sim o material publicado. “O depósito é importante para que se possa garantir a autoria de campanhas e conceitos publicitários, das obras, das peças, protegendo, além de tudo, os investimentos feitos pela agência depositante para a concretização do trabalho”. Não há limite de peças a serem depositadas. E, em se tratando de slogans e marcas, as agências de publicidade podem fazer registro de expressão de propaganda como “marca” no Instituto Nacional da Propriedade Industrial ou como “obras intelectuais” na Fundação da Biblioteca Nacional, que possuem uma seção para o registro oficial das mesmas. O Registro de Depósito deve ser feito via internet no site da ABP, e o material gravado em CDs e DVDs. Em seguida, precisa ser enviado à associação em envelope lacrado, que ficará guardado em cofre durante seis meses. Durante esse tempo, se aparecer outra empresa utilizando elementos da campanha registrada, a agência deve acionar a entidade/ ABP, que envia o material ao Conar ou ao Judiciário para que sejam tomadas as medidas legais adequadas. O custo do depósito é de R$ 200. Vale lembrar que, caso o criador da campanha abra outra agência publicitária, não tem direito patrimonial sobre a obra da qual participou na agência que o contratava.

Tecnologia ajuda o direito autoral No fogo cruzado entre os detentores de direitos autorais e os criadores de conteúdo, o youtube busca aprimorar ferramentas para detectar vídeos ilegais. Para isso, tem aprimorado o Content ID, uma ferramenta já existente no Google Video. Com ela é possível identificar um vídeo que infringe direitos autorais cruzando imagens e permitir que o detentor dos direitos escolha se deseja bloquear, liberar o conteúdo ou ainda oferecer um modelo de receita compartilhada com o autor do vídeo. Outro sistema implantado pelo youtube é o bloqueio de autores de vídeos que infringem direitos autorais, que funciona em três passos, envolvendo um alerta ao infrator e, se não funcionar, a conta dele é bloqueada no youtube. Mais radical, o sistema aberto Creative Commons acredita que o jeito é modificar a legislação do direito autoral, ajustando-a aos avanços tecnológicos. A empresa busca impedir os abusos nas reproduções artísticas ou de uma obra intelectual, na internet. Mas, há quem diga que a empresa defende a “Cultura Livre” na internet, em que todas as pessoas poderiam reproduzir textos e vídeos livremente, não tendo a obrigatoriedade de pagar os impostos do direito autoral. E isso, com financiamento de grandes empresas, que seriam beneficiadas com o enfraquecimento da Lei de Direito Autoral.


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15 MINUTOS

RITA LEE

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por_ MARÍLIA BOBATO foto_GUADALUPE PRESAS

Mais um show no Teatro Guaíra, em Curitiba. Rita Lee chegou às escuras.

O que poucos sabem é que horas antes da apresentação um transformador do teatro simplesmente pifou. Após darem um jeitinho, a luz reapareceu. O show começa na hora marcada como se nada tivesse acontecido. Rita relembra sucessos e também fAz uma releitura de “I want to hold your hand”, dos Beatles, na sua versão nordestina que retrata a história entre uma cabra e um bode. Apresenta também músicas novas, uma delas dedicada ao “negão” Obama (sim, Barack Obama). Outra titulada “Insônia”: seriam sinais dos tempos? Não se sabe, mas ela confessou que, recentemente, foi operada de hérnia de disco. Isso pouco importa, afinal Rita se autodenomina uma “dinossaura sapiens” e conhecimento não lhe falta. Discorre bem até sobre novelas. Para ela, o Raj deveria ficar com a Norminha. Are baba, Rita!

INVENTA - ALÉM DE COMPOR E CANTAR, VOCÊ ESCREVEU LIVROS, APRESENTOU PROGRAMAS DE TV E RÁDIO, FEZ NOVELAS E ATÉ INTERPRETOU RAUL SEIXAS NO CINEMA. FALTA ALGUMA COISA? Rita Lee Ser abduzida por um disco voador. IVT - TÃO POLÊMICA. VOCÊ JÁ PENSOU EM SE CANDITAR À POLÍTICA? R Deusmelivreguarde! A única causa da qual sempre carreguei bandeira é a defesa dos direitos dos animais. Mesmo assim, faço longe dos holofotes. Acho um saco quando o artista carrega sua plataforma política/idealista por onde vai. IVT - PODEMOS DEFINIR COMO FUNCIONA O PROCESSO CRIATIVO DE RITA LEE? R A inspiração vem da alma e o santo não tem hora marcada para “baixar”, basta ficar atenta. Eu sempre fui inspirada pelas vidas que me cercam, a minha e a dos outros. IVT - PARA VOCÊ, O QUE SERIA SER NORMAL EM CURITIBA? R Ser normal em Curitiba, só mesmo uma paulista que vive no caos de São Paulo pode entender o que é. É casar na igreja de véu e grinalda, passar a lua de mel em Foz do Iguaçu, ter um casal de filhos lindos e ser feliz para o resto da vida. IVT - CURITIBA TEM ALGO QUE TE AGRADE? R Gente bonita e educada que me dá carinho e respeito. Eu aprecio isso. O curitibano é mais contido, talvez mais exigente, mas nem por isso menos festeiro. Adoro o teatro de arame (leia-se Ópera de Arame), mas nem sempre tenho tempo para ir até lá e ficar meditabundando.

IVT - “NÃO SOU SAUDOSISTA. ODEIO REVIVALS. NÃO ACHO QUE NADA DO MEU TEMPO ERA MELHOR’’, FOI SUA AFIRMAÇÃO RECENTE - CONTRADIZENDO AS SAUDADES DE ELIS E OUTRAS SAUDADES DE “QUERO SER NORMAL EM CURITIBA”. VOCÊ REALMENTE NÃO SENTE SAUDADES DE NINGUÉM OU DE NADA? R Não sou nada saudosista, salvo as lembranças que tenho da casa de meus pais. Sem dúvida eu fico com o presente, apesar de que é bem difícil você se manter no presente 24 horas seguidas. A gente acaba resvalando no passado ou no futuro. Os tempos são outros, não há que ficar comparando ou cobrando... Tá tudo certo do jeito que está, até o errado está certo. IVT - OUTRA AFIRMAÇÃO RECENTE FOI QUE GILBERTO GIL E CAETANO VELOSO, ASSIM COMO VOCÊ MESMA, SÃO “GENIAIS”. QUEM MAIS É GENIAL? R Meus fãs! IVT - E QUEM NÃO É, NUNCA SERÁ? R Não vou dar nome aos bois. Ou seriam as vacas? IVT - OUTRA AFIRMAÇÃO... SE “CADA GERAÇÃO TEM O ROCK QUE MERECE”, COMO ESTAMOS NO SÉCULO 21? R Confesso que estou por fora das modernidades musicais. Só quando sai o terceiro trabalho de alguém é que vou escutar. Por mais clonado que hoje seja, acredito que volta e meia alguma ovelha negra há de aparecer para dar uns balidos diferentes pelo planeta, como Amy Winehouse lá fora e Mallu Magalhães aqui. Tem muita moçada boa que ainda não teve chance de mostrar seu trabalho, e agora com a net tudo fica mais fácil para eles que não precisam depender da má vontade das gravadoras. IVT - O QUE MAIS VOCÊ OUVE? R Em casa só ouço música instrumental, seja ela clássica ou eletrônica. Ando muito cansada da palavra cantada ou falada, dos discursinhos dos artistas, inclusive do meu. (risos) IVT - E O QUE VOCÊ LÊ? E VÊ? R Leio pra caramba, vários livros ao mesmo tempo. Bom... cinema é uma paixão mais antiga até do que a música, difícil é escolher apenas um “melhor” filme. Eles mudam conforme o humor... IVT - RITA LEE É UMA MULHER À MODA ANTIGA? R Uma vez me disseram que sou uma espécie de Emília do Sitio do Pica-pau Amarelo, passando de geração em geração. Gostei disso. Mas me sinto mesmo uma mistura de Dercy Gonçalves com Vovó Donalda. IVT - E TRABALHAR COM MARIDO E FILHO? R Olha, dentro e fora do palco é só alegria. O importante mesmo é que o salário da família aumentou, além dos meus Robertos serem músicos excelentes que me deixam segura. O mais difícil em família é reunir todos numa única ocasião, seja Natal, aniversário, Dia das Mães. Cada um debanda para um lado, fazer o quê?



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ORIENTE-SE por_JUANA DOBRO ilustração_ D-LAB

QUE O OCIDENTE E O ORIENTE SEMPRE ESTIVERAM MUITO LIGADOS, NÃO É NENHUMA SURPRESA. ENTRETANTO, SE VIRMOS COM UM DIRECIONAMENTO CLÍNICO, NOS ÚLTIMOS 200 ANOS É QUE ESSA RELAÇÃO SE TORNOU MAIS PRÓXIMA, E SOMENTE APÓS A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL FOI SE TORNANDO ÍNTIMA, A PONTO DE CONVERGIREM EM CULTURAS MUITO SIMBIÓTICAS. Exemplos não faltam. Nos quadrinhos, temos a influência pungente de Walt Disney sobre a obra de Ozamu Tezuka, por meio da cultura dos “olhos grandes”. Na música, enquanto os Ventures e muitos astros da MPB (Os Incríves e Jorge Ben) ajudavam a lapidar o gosto dos nipônicos pela música pop ocidental, os Beatles e os Rolling Stones - bem como outros muitos - recebiam a influência da Índia, tanto em sua musicalidade (vide My Sweet Lord, de George Harrison, e a cítara em Paint It Black, dos Rolling Stones) quanto em seu modo de vida. E o Brasil não ficou longe desse boom, já que o secular clássico hindu, Bhagavad Gîtâ, tornou-se Gîtâ pelas mãos de Raul Seixas e Paulo Coelho. No cinema, contudo, intensas trocas ocorreram. Podemos citar a forma como Akira Kurosawa passou a adaptar histórias Shakespeareanas para o Japão feudal: Trono Manchado de Sangue para Macbeth, e Ran para Rei Lear, por sua vez, recontado para o público ocidental no cinema de faroeste: Os 7 Samurais, que pelas mãos de John Sturges e William Roberts tornou-se 7 Homens e Um Destino, e Yojimbo, que, na Itália, pelas mãos de Sergio Leone e Luciano Vincenzoni, transformou-se em Por Um Punhado de Dólares. Da China, podemos citar a precisão dos antigos filmes de Jimmy Wang Yu, Hark Tsui e John Woo, facilmente comparáveis a Sam Peckinpah, em termos de ação e de movimentos de câmera; ou talvez a profundidade dos filmes de Ang Lee e Zhang Yimou, que podem figurar entre

seus parceiros do cinema europeu. Quanto à Índia, apesar de não termos acesso à produção Bollywoodiana, muito nos foi retratado por meio de filmes que a TV sempre reprisou. Se, por um lado, víamos a ideia de liberdade retratada em Mogly, O Menino Lobo, por outro, nos constipávamos com o enfadonho, prolixo e insuportável Passagem Para a Índia, de David Lean. Contudo, nossa melhor imagem ainda é a do maravilhoso Convidado Trapalhão (The Party), filme de Blake Edwards, no qual Peter Seller vivia Hrundi V. Bakshi, um desastrado ator indiano convidado por engano à festa de um magnata do cinema de Hollywood e que, apesar de já ter pra lá de uns 40 anos, continua atual. Bollywood ganha destaque cada vez maior no ocidente. É a maior indústria cinematográfica do planeta. Também pudera, para atender cerca de 1,2 bilhão de pessoas, haja indústria de entretenimento. Sua produção mais recente, Quem Quer Ser Um Milionário?, caiu nas graças do ocidente e serviu como um novo marco do cinema oriental; vale lembrar que não seria nenhum exagero este filme figurar em nossas prateleiras ao lado do famigerado Cidade de Deus. Mesmo com direção de um inglês, o filme revela a Índia. Ademais, após tanto trabalho ao logo de milhares de anos, a Índia merece ser reconhecida por seu trabalho cultural. Ah sim! Esqueçam da novela pândega e vão assistir a bons filmes do oriente. Além dos filmes indianos, há profissionais da Índia competindo com um cinema de qualidade até mesmo nos estrelados estúdios de Hollywood, nos Estados Unidos. O diretor indiano M. Night Shyamalan deixou público e críticos de queixos caídos com seu O Sexto Sentido, suspense que chegou a ser indicado ao Oscar em seis categorias, inclusive a de melhor filme. Logo de cara, Shyamalan se tor-


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CURIOSIDADES

nou um cult no meio dos cinéfilos. Entre seus filmes estão Sinais, Corpo Fechado, A Vila e A Dama Na Água - verdadeiras bombas para alguns, pérolas cinematográficas para outros. Seu novo filme, Fim Dos Tempos, não é diferente e o estilo de filmagem diferenciado do indiano é visível do início ao fim da nova produção. Os filmes da Trilogia de Apu, do diretor indiano Satyajit Ray - A Canção da Estrada (1955), O Invencível (1957) e O Mundo de Apu (1959) - dialogam com o neorealismo italiano, apresentando a Índia para além das paisagens. Belos e tocantes. Desse modo, na trilogia de Apu, tem-se o herói, herdado do melodrama, que precisa triunfar sobre as dificuldades impostas pelo abismo social que se apresenta. Não ter assistido ao cinema ético do indiano Satyajit Ray, como diz Akira Kurosawa, “significa existir no mundo sem ver o sol ou a lua”.

_Sharada Ramanathan

Para informar um pouco mais, na Índia, convivem tanto as produções comerciais de Bollywood (faladas em hindi, língua majoritária no país), de Kollywood (segunda maior indústria, faladas em tamil) e de Tollywood (em telegu e em bengali), quanto expressões mais pessoais, em geral subvencionadas pelo governo, egressas da elite cultural, intelectual e financeira bengali. Enquanto de um lado segue-se a fórmula de filmes de longa duração que, melodramáticos e sentimentais, misturam diversos gêneros (ação, comédia, romance, suspense) em tramas banais recheadas por números de dança e de música, de outro lado há a influência marcante do cinema ocidental, seja Eisenstein (especialmente em Ritwik Gathak), neorealismo (a exibição de Ladrões de Bicicleta em Calcutá, em 1952, fundamental para a realização de A Canção da Estrada), Jean Renoir (que, ao filmar O Rio Sagrado, tem Satyajit Ray na assistência de direção) ou as obras americanas de John Ford e de Orson Welles.

QUEM CONFIRMA BEM ISSO TUDO É A INDIANA SHARADA RAMANATHAN, DIRETORA DAS EMPRESAS MS MEDIA E GOLDEN SQUARE FILMS E ASSESSORA ESPECIAL EM ECONOMIA CRIATIVA PARA A ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU). EM JUNHO, A CINEASTA ESTEVE NO BRASIL MINISTRANDO PALESTRAS SOBRE EMPREENDIMENTO E CULTURA E, DURANTE A VISITA, COMPARTILHOU UM POUCO DE SEUS CONHECIMENTOS E INTERESSES COM A INVENTA.

ÍNDIA PRECISAM FAZER MAIS TROCAS. “ESSES PAÍSES TÊM UM VASTO POTENCIAL CRIATIVO LUCRATIVO PARA SER EXPLORADO”, JUSTIFICA. E NÃO É QUE ELA GOSTOU DA NOVELA! SUA TRADUTORA, COMPANHEIRA DE TRABALHO NA ONU E AMIGA, ANA CARLA FONSECA REIS, CONTA QUE SHARADA SORRIU COM O QUE VIU E FICOU MUITO EMPOLGADA. PARA ELA, A NOVELA PODE TRAZER UMA LIGAÇÃO MAIS FORTE ENTRE OS PAÍSES. SERÁ?

SHARADA TRABALHA COM FILMES NACIONAIS, CORPORATIVOS, PUBLICITÁRIOS, COMERCIAIS E TODOS ESSES SETORES AUDIOVISUAIS. “O SETOR PRIVADO SERVE PARA GANHAR DINHEIRO, MAS EU TAMBÉM NECESSITO EXPLORAR MEU LADO CRIATIVO, DE INSPIRAÇÃO, PRODUÇÕES INDEPENDENTES”, EXPLICA. “QUEM IRÁ LANÇAR MEUS FILMES? EU TENTO CONTRABALANCEAR AS DUAS COISAS”. APAIXONADA PELO BRASIL, ACREDITA QUE OS FILMES INDIANOS PODERIAM CIRCULAR MELHOR POR AQUI. ACREDITA, AINDA, QUE PAÍSES COMO BRASIL, CHINA, ÁFRICA E

ENFIM, A DIRETORA INDIANA JÁ ESTEVE NO BRASIL EM OUTRAS CIRCUNSTÂNCIAS, EM ALGUNS CONGRESSOS E ENCONTROS. DE QUALQUER FORMA, SUA VINDA AO PAÍS É MUITO SINGULAR PORQUE ELA ACREDITA QUE AQUI EXISTEM NOVOS MERCADOS E UM POTENCIAL CRIATIVO MUITO GRANDE EM ASCENSÃO. “ESPERO QUE QUANDO VOLTAR PARA A ÍNDIA EU POSSA LEVAR POSSIBILIDADES FUTURAS E CONCRETAS DE TRABALHOS DE PARCERIAS ENTRE OS DOIS PAÍSES”.


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indianos. Já havia indianos trabalhando com cinema na Europa e nos Estados Unidos. Inclusive, o filme que dirigi foi premiado em Los Angeles. Além disso, temos uma série de festivais tradicionais, e outros nem tanto, que vêm difundindo o cinema no mundo todo. E acima de tudo, a internet, que vem abrindo uma nova variedade de canais para uma nova humanidade. O próprio autor da música do filme Quem Quer Ser Um Milionário? talvez não tivesse ganhado um prêmio equivalente no mercado indiano, porque eles valorizam uma cultura diferente, e a concorrência nesse sentido, na Índia, é uma coisa impressionante.

Revelando a Sharada INVENTA - QUAL A LIGAÇÃO ENTRE A ECONOMIA E A PRODUÇÃO DE FILMES? COMO A CULTURA ACOMPANHA O DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO DO PAÍS? Sharada Eu não sei se vocês sabem, mas o audiovisual na Índia já tem quase 100 anos. Devido também a essa história e a um crescimento na economia nos últimos anos, a Índia se tornou um polo de tecnologia em filmes comerciais e publicitários. O importante é que, ao passo em que essa economia cresce, é crucial que o conteúdo e as ideias também cresçam. Uma coisa acaba sustentando a outra. Para que a economia cresça, as ideias e os conteúdos têm que se aprimorar. É por isso que a cultura e a economia devem caminhar juntas. É o potencial de mercado do país que acelera a sua capacidade de produção. Isso não diz respeito apenas ao audiovisual. A Índia, o Brasil e a África do Sul devem fortalecer a aliança que vêm criando devido a suas fortes culturas e ao crescimento de mercado. IVT - O OSCAR MOSTROU O CINEMA INDIANO PARA O MUNDO. ENTRETANTO, É IMPORTANTE SALIENTAR QUE A PARTIR DE 1999 OS GRANDES ESTÚDIOS AMERICANOS E ALGUMAS COMPANHIAS EUROPEIAS JÁ TINHAM DADO PARTIDA VISANDO A CONQUISTA DESTE MERCADO. O QUE MUDOU NA PRODUÇÃO CINEMATOGRÁFICA DA ÍNDIA COM ESSE RECONHECIMENTO? S Boa pergunta. O mercado cinematográfico da Índia é realmente muito grande. É um mercado de várias centenas de milhões de dólares. E, com certeza, Quem Quer Ser Um Milionário? conseguiu atrair maior curiosidade sobre o mercado indiano. Mas há dois tipos de filmes produzidos: os do mercado indiano e os de um mercado internacional que apelam para conteúdos indianos, apenas usam o espaço e os atores

IVT - QUEM QUER SER UM MILIONÁRIO? PODE SER CONSIDERADO UMA PORTA DE ENTRADA PARA OUTROS FILMES INDIANOS NOS MERCADOS ESTRANGEIROS, COMO O BRASIL? S O diretor não é indiano, porém o restante da equipe (cinegrafistas, roteirista, operador de som etc) é. Por este lado, pode ser considerada uma porta de entrada. Mas meu trabalho é muito anti-bollywood, é mais independente, alternativo. Não obstante, sou uma das únicas cineastas do país a defender lá dentro o filme vencedor do Oscar. Exatamente pelo fato de que, mesmo com um diretor inglês, o time é todo de indianos e a própria ambientação também. Isso traz um benefício de exposição muito bom. Para complementar, com uma visão de outro ângulo, Elizabeth foi dirigido por um diretor indiano, há uns 10 anos ou mais. Apesar disso, não deixou de ser um filme contemporâneo e retratou uma história absolutamente inglesa. Então, essa questão é sempre uma moeda de duas faces. O Sexto Sentido e o Fim Dos Tempos se encaixam nesse mesmo contexto. IVT - EXISTEM DIFERENTES LINHAS DE CINEMA NA ÍNDIA. HOJE, O MUNDO CONHECEU BOLLYWOOD. E AS OUTRAS INDÚSTRIAS? S Há cinco grandes linhas de indústrias audiovisuais na Índia. Bollywood é uma delas, de uma região. A minha cidade representa Kollywood. Ainda há outras três, cada uma com características bem peculiares. Tenho colegas de Bollywood que ficam inquietos por eu falar bem do filme de Danny Boyle, por ser de outra vertente. Bollywood, Kollywood, Tollywood, Sallywood, Shollywood (...). IVT - O FILME INDIANO DHOOM:2, DO DIRETOR SANJAY GADHVI, FOI FILMADO AQUI NO BRASIL, NO RIO DE JANEIRO. ESSE SERIA UM EXEMPLO DE UM NOVO CAMINHO, UMA EXPERIÊNCIA ENTRE OS DOIS PAÍSES? S Foi um filme produzido na Índia e filmado no Brasil, então não tem muita _ORIENTE-SE


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ligação. Ele teve uma bilheteria mais ou menos na Índia, porém serve como um exemplo. Um começo, quem sabe. IVT - A ÍNDIA NÃO TEM SÓ A MAIOR PRODUÇÃO, MAS A MAIOR BILHETERIA DO MUNDO. ESSA BILHETERIA É VOLTADA AOS FILMES INDIANOS? S Os grandes créditos são para os filmes indianos, sim, e não para os americanos e de outros lugares, como acontece no Brasil. O filme vencedor do Oscar, por exemplo, teve uma bilheteria pequena na Índia. Talvez porque eles já estejam acostumados com essa temática, outros filmes foram produzidos de forma parecida. IVT - A ÍNDIA PRODUZ MAIS DE MIL FILMES POR ANO. NO ANO PASSADO, 2008, O BRASIL PRODUZIU CERCA DE 80. A QUE SE DEVE ESSA DIFERENÇA TÃO GRANDE? S Primeiramente à grande população da Índia, com mais de 1 bilhão e 150 milhões de pessoas. Além disso, o país tem uma estruturação de mercado que no Brasil as pessoas não têm, em termos de distribuição. As pessoas colocam todas as fichas na produção e pouquíssimas na distribuição. Isso faz com que a demanda não seja atingida. Na Índia, existe uma cadeia muito mais equilibrada. O que é produzido é assistido. O indiano adora os filmes feitos no seu país. Aqui percebi que ainda existe uma dificuldade nessa aceitação. IVT - O PRÓPRIO ATOR NACIONAL, NA ÍNDIA, TEM GRANDE DESTAQUE, MUITAS VEZES VISTO COMO “DEUS” PELO PÚBLICO. COMO É ESSA RELAÇÃO? S Acredito que essa relação exista em todos os países. Mesmo no cinema americano, nas novelas, mas tem uma relação bacana na Índia, porque nós produzimos mais de mil filmes. Além desses, ainda existem os incompletos e os censurados, praticamente o dobro desse número que já é gigantesco. Nisso tem um aspecto importante, que é a conexão desses filmes com a vida das pessoas. Eles criam uma intimidade muito realista com os atores. Consequentemente, acabam se tornando ícones para o público. IVT - DE QUE FORMA A ÍNDIA E O BRASIL PODERIAM UNIR CULTURALMENTE ESSE POTENCIAL CRIATIVO TÃO EVIDENTE NOS DOIS PAÍSES? S Acredito que há, na Índia, um mercado muito bom de troca de ideias e de criatividade a ser explorado pelo mundo. E tem uma curiosidade muito latente de um país para o outro. A novela sobre o país, por exemplo, no Brasil, abriu uma espécie de “caixa de pandora”. Ela não retrata a realidade, mas é inspirada em novelas indianas. E

novelas sempre trazem fantasia. A Índia fala 22 línguas e mais de 200 dialetos; todos os lugares possuem uma diferença cultural muito grande. Desta forma, a novela vai acabar mostrando um costume específico de uma parte do país, muito bem inspirada, inclusive. Mas deve deixar claro que essa é uma visão particular e não real. IVT - COMO ALIAR, DENTRO DO MERCADO, CRIATIVIDADE E RECONHECIMENTO FINANCEIRO? S Para ser criativo e ganhar dinheiro, é necessário um certo “conforto cultural”. Você deve se apaixonar pelo que faz e se sentir à vontade em relação ao seu trabalho. Se quem está fazendo não gostar do que está desenvolvendo, ninguém mais vai gostar. Uma questão também fundamental é saber compreender a audiência. Não focar seu trabalho apenas para si próprio ou para quem produz. Tem ainda o fator do comprometimento e do saber trabalhar em grupo. Eu trabalho, diariamente, com mais de 100 pessoas, mesmo em um comercial. Devo saber aproveitar toda essa equipe. Isso me traz um retorno ideal. A primeira ideia ao se produzir algo é entender as pessoas, a sua audiência. Isso formará elementos que irão traçar alguns caminhos do filme. O que vai preencher o restante é o instinto criativo da pessoa. É esse instinto que fará a diferença no final. Alinhando o interesse do produtor e do diretor com o interesse do público. IVT - COMO UMA ATIVISTA CULTURAL QUE DEFENDE A DIVERSIDADE VÊ A CULTURA BRASILEIRA CINEMATOGRÁFICA? S Eu não vi muitos filmes brasileiros, vi alguns. Gostaria de ver muito mais, até por contas dessas possibilidades de trabalhar junto com o país. Vou passar uns meses aqui e pretendo conhecer mais coisas (risos). Não só os comerciais, mas as produções independentes. Acredito que existam traços muito comuns entre o meu país e o Brasil, e esses traços podem trazer parcerias incríveis. Temos em comum a paixão pela vida, a alegria, o respeito à criatividade e a diversidade cultural. Desta forma, podemos vir a criar coproduções com maior facilidade do que ocorreria entre a Índia e os Estados Unidos, por exemplo.

_ DIRETOR INDIANO DE 11 ANOS QUER FILMAR COM ROBERTO BENIGNI. O MENINO, KISHAN SHRIKANTH, DEPOIS DE OBSERVAR CRIANÇAS VENDENDO JORNAL NO SEMÁFORO, ESCREVEU UM CONTO SOBRE UM ÓRFÃO QUE QUERIA IR PARA A ESCOLA. ESTA HISTÓRIA FOI ADAPTADA E SERVIU DE ROTEIRO PARA UM FILME QUE ELE MESMO DIRIGIU: CARE OF FOOTPATH. O FILME CUSTOU CERCA DE 1 MILHÃO DE EUROS E CONCORREU NO GIFFONI FILM FESTIVAL. _ A PRODUTORA BRASILEIRA ANA CRISTINA COSTA E SILVA, DA DHARMA FILMES, DE BRASÍLIA, VIVENCIOU ESSE CHOQUE DE CULTURA E DE FORMATO DE NEGÓCIOS AO REALIZAR A COPRODUÇÃO BRASIL-ÍNDIA DE UM LONGA-METRAGEM. O FILME SE CHAMA TAMARINDO, E É DO DIRETOR E ROTEIRISTA INDIANO INDRANIL CHAKRAVARTY. _ ANA CARLA FONSECA REIS, CITADA NA MATÉRIA, LANÇOU RECENTEMENTE A ANTOLOGIA DIGITAL ECONOMIA CRIATIVA COMO ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO - UMA VISÃO DOS PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO. COEDIÇÃO DE GARIMPO DE SOLUÇÕES E ITAÚ CULTURAL. O OBJETIVO DO TRABALHO É ANIMAR O DEBATE ACERCA DO QUE É ECONOMIA CRIATIVA, SE CONSTITUI OU NÃO UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO POSSÍVEL E, EM CASO POSITIVO, O QUE DEVE SER FEITO PARA QUE ESSE POTENCIAL SE CONCRETIZE. PARA INCREMENTAR O ACESSO A ESSA DISCUSSÃO, O LIVRO DIGITAL ESTÁ DISPONÍVEL PARA DOWNLOAD GRATUITO, EM PORTUGUÊS, ESPANHOL E INGLÊS, NOS SITES GARIMPODESOLUCOES.COM.BR E ITAUCULTURAL.ORG.BR. O LIVRO CONTA COM UM CAPÍTULO ESCRITO PELA ENTREVISTADA SHARADA RAMANATHAN.


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PESQUISA INFORMAL

_garçons

QUAL A MELHOR PROPAGANDA PRA VOCÊ? ___________________1

Gosto muito daquela da cerveja: se os homens fossem sinceros. Acho bacana porque o cara liga pra esposa e fala: “Ah amor, eu tô aqui no bar com a galera”. Geralmente isso não acontece. Os homens não falam com sinceridade”. Daniele Lourival da Silva, 25 anos, Original Beto Batata

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Aquela com o Marcos Palmeira que eles estão numa rodinha de samba tocando e, de repente, chega uma mulher e fala: por que eles estão tão felizes se o mundo está numa crise econômica? Depois, um cara fala “tristeza” e todo mundo canta “por favor, vá embora”. Chama atenção pelo jeito que eles fazem... É assim que é a vida: por mais que tenham problemas fora, tem que tentar melhorar sempre, todo dia”. Keihlen M. Santos, 18 anos, Original Beto Batata

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Atual é aquela propaganda da Volkswagen, do carro TIHUÃ, que tem um menininho com um carrinho de brinquedo e vai mostrando a performance do carro... e ele vai fazendo com o brinquedo como seria. Esta propaganda me chamou a atenção: primeiro porque gostei do carro e achei bem interessante, depois por causa da criatividade do menino fazendo aquilo com o carrinho e mostrando um carro de verdade, atuando no campo”.

Fabiane do Nascimento, 24 anos, Jacobina

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Jean Rodrigo 27 anos, Santillana Lounge Bar

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Aquela da “Care Free”, que mulher que não usa sempre vira abóbora. Gosto também da mulher que chega, está todo mundo numa roda de samba, e a mulher fala: ‘nós estamos em crise mundial...’ é da Havaianas, que ele toca com uma Havaianas, sabe?”. Alexandre Jorge Corrêa, 30 anos, Santillana Lounge Bar

___________________3 Tem aquelas da Parmalat com bichinhos de pelúcia, da vaquinha... lembro e faz tempo hein! Tinha os desenhos e, depois, você ganhava os ursinhos. Eu era pequena e até hoje ainda tenho alguns bichinhos da Parmalat”.

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Da Brahma, que tem o tema: se você não sabe beber com moderação, tome juízo, com o jogador Cafu. Acho que marcou pela conscientização, como eles abordam... e a gente está nesse meio, da galera beber. O fato de ser consumo consciente”. Flávia Mattos, 24 anos, Realejo Culinária Acústica

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* Entrevistas cedidas para Jéssica Amaral e Mariana Hillbrecht _PESQUISA INFORMAL


foto_Bruno Reis

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NO BRILHO DO SAPATEIRO por_ BRUNO REIS

Ele se chama Osmar Teodoro e se apresenta como lustrador de calçados. Profissão que consta no cartão de

visitas que me entregou, num breve intervalo entre um cliente e outro. São 26 anos de atuação. Com o dinheiro dos sapatos, R$4,00 o par, comprou seus três imóveis, abriu o salão de beleza da esposa e está pagando a construção da futura casa que já está pronta na cabeça. Além disso, participa de conferências da Bayer, sempre com os serviços de engraxate. Parar de lustrar calçados? “Só no dia que eu for milionário, porque, aí, eu tenho que viver de administrar meu dinheiro”, conta. Ao todo, sete irmãos na família Teodoro. Família que morava em Guaíra, quando a falência da empresa dos pais obrigou os pequenos a ganhar, de alguma forma, dinheiro para ajudar com as dívidas. Osmar foi às ruas engraxar sapatos. Aprendeu o ofício rapidamente, só observando, e logo viu que não lhe faltaria serviço nunca. Aliás, nunca faltou. “É um negócio certo, todo mundo sempre engraxa os sapatos”, diz Osmar. “Dizem que a profissão está acabando, mas só não tem serviço quem não quer”. Depois da entrevista, ele ainda passaria em sapatarias para ver se havia sapatos a lustrar. Às vezes tem, às vezes não. “Mas não pode deixar de correr atrás”. De Guaíra, a família se mudou para Foz do Iguaçu. Osmar continuou engraxando calçados mesmo quando conseguiu trabalho em uma lanchonete. Virou gerente, mas pouco depois da promoção, mudou-se para Curitiba. Fuçando, chegou ao lugar que realmente lhe interessava: a Praça Osório, das palmeiras e do chafariz, do bar Stuart e do relógio que marca a hora oficial - a praça da Boca do Brilho, onde

trabalhavam os engraxates autônomos cadastrados pela prefeitura e onde Osmar Teodoro sonhava trabalhar enquanto, do lado de fora, atendia alguns Cavalheiros da Boca Maldita com sua caixinha de madeira. Determinado, logo foi cadastrado por um serviço da prefeitura, para dar aulas e passar seu conhecimento a outros jovens engraxates. Foi o primeiro passo para conseguir a cadeira na Boca do Brilho, onde, desde 1992, pode ser encontrado diariamente. Lá, aprendeu que a graxa só suja se o trabalho não é bem feito. Viu o brilho da profissão que escolhera e, sob os conselhos de um cliente, começou a se vestir melhor. “Por que eu não poderia usar um calçado mais bonito, uma camisa, e me arrumar um pouco mais?”, pensou. Gastou, como ele mesmo afirma, um bom dinheiro na sua imagem pessoal e, em menos de dois meses, já ganhava quatro vezes mais. “O cliente dá valor. E eu me sinto muito melhor também”. Enquanto engraxa os sapatos de um cliente e conta suas histórias, Osmar exibe perícia e paixão. E me pergunto: por que é que ele gosta de lustrar? “É o processo todo, o pano indo e vindo, a escova e o pincel que vão massageando o pé do cliente até que o brilho no final completa”. Animado, pede para fotografar um sapato fosco, ao lado de um recém-saído de suas mãos. O brilho está lá, nos olhos de Osmar, satisfeito com o resultado; a mesma luz que o impressionou enquanto criança e que ainda o realiza tanto tempo depois. Osmar continua, animado, contando dos detalhes que o diferenciaram na profissão. “Se o cliente fica satisfeito, é mais importante ainda, por isso é importante o papo e a conversa”.

As chamadas lições de branding que aprendeu na rua, para valorizar seu serviço, levaram-no a uma grande empresa de produtos de beleza. Exatamente para o departamento de marketing. Podia trabalhar apenas à noite, já que não deixaria os clientes fixos da Boca do Brilho. E assim foi durante alguns anos, elaborando em reuniões estratégias para a venda do lustre da beleza na alta sociedade de Curitiba. E a história não para por aí. Osmar fez um curso de confeitaria. Sua esposa já tinha um de panificação, então, abriu, com ela, uma confeitaria na cidade. Cresceram. Depois, abriram, em Campo Largo, uma fábrica de doces, bolos e o que mais lhe viessem à cabeça. Sem parar de lustrar. Tudo o que fez sempre foi paralelo à profissão de lustrador e, toda vez que percebeu que estava próximo a abandonar o brilho dos calçados, deu pra trás. Até que resolveu não correr o risco de mudar de profissão. Vendeu tudo que tinha e investiu em imóveis. “Já são três e estou loteando um deles”, orgulha-se. A criatividade e a inovação que achou na simplicidade do ofício lhe renderam, recentemente, um contrato com a Bayer. “Com direito à exclusividade”, destaca. Chamado sempre para conferências, ele recebe algumas aulas sobre o assunto dos eventos e ajuda a divulgá-los. Nos eventos, lustra os sapatos dos participantes. Depois, oferece uma espécie de feedback aos organizadores. Em meio a tanta paixão pela profissão e tantas teorias e conhecimentos de marketing de serviços, Osmar Teodoro revela que gosta mesmo é de lustrar bota de fazendeiro. “Tem umas que vão até o joelho! Você não imagina o brilho que aquilo lá fica depois”. _NO BRILHO DO SAPATEIRO


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_Bia Moraes

_Diego The Kid

ARTIGOS

BEYOND IPANEMA Nos EUA não se mistura trabalho com amizade. OK, New York não é os

EUA. É a metrópole mais misturada do planeta, parece descolada do resto dos Estados Unidos homogeneizado e pasteurizado, mas não deixa de ser a América. Por isso foi tão surpreendente a estreia do filme Beyond Ipanema no festival de cinema brasileiro do MoMa. Emoção. Risos. Palmas. Público quente, reagindo com emoção. As pessoas batiam palmas, riam, faziam “oohhhs” e “hahás” em “cena aberta”. O final foi uma verdadeira consagração (tinha uma surpresa, daqui a pouco conto). Ah, claro, a plateia estava cheia de amigos brasileiros do Guto Barra e do Béco Dranoff (diretores do filme), diriam os mais azedos. Natural, portanto, que essa brasileirada tenha reagido assim. Calma lá. Em um auditório de cinema lotado não havia 420 “amigos brasileiros”. Ou amigos americanos somente. Fui das primeiras a entrar na sala e prestei muita atenção - porque sou prestadora de atenção profissional. Tinha muito americano na plateia. Nova-iorquinos aos montes - a gente aprende a reconhecer. Escolheram aquele filme, naquela sexta-feira, 17 de julho, provavelmente porque o nome e o cartaz com a imensa logo chamaram atenção. “Beyond Ipanema”, um cacho de bananas dentro de um círculo preto, hein? Ah, é um vinil estilizado... “Brazilian waves in global music”, wow, é um documentário? Vamos lá. Portanto, lá estavam os norte-americanos, animadíssimos. (Impossível alguém estar tão emocionado quanto Guto e Béco. Já no meu caso... como medir o tamanho da brazilian wave que derreteu meu

coração enquanto o filme ia passando? Imagine uma professora que deu aulas pra um aluninho promissor... e depois teve notícias dele de longe, porém não mais a chance de vê-lo crescer e se transformar num adulto formado. Até o dia de encontrar essa pessoa crescida. Pois ali eu estava, presenciando no que se transformou o projeto Beyond Ipanema, que era um bebê recém-nascido na cabeça do Guto quando embarquei nele, quando, juntos, fomos gravar dezenas de entrevistas aqui em NY, depois no Rio, e em São Paulo, entre 2004/2005. Desde então, acompanhei a evolução de longe. Então, aquela criança virou uma pessoa completa. O projeto cresceu, amadureceu e ficou redondinho. Chorei muito.... de emoção). Ali, naquele “screening” para uma plateia tão misturada quanto a própria NYC, ficou clara a vocação de Beyond Ipanema. A gente sabe que a função do documentário é informar e jogar luz sobre fatos pouco conhecidos - ou mostrá-los de forma a ganhar nova dimensão e leitura. Beyond Ipanema, porém, “goes beyond” - desculpem o trocadilho - sim, ele vai além. Mais do que levar informação sobre a evolução da música brasileira desde Carmem Miranda até hoje; revisitar trechos da história; mostrar a enorme influência que a música brasileira, em diferentes etapas, sempre exerceu sobre a América; e revelar o fascínio que nossa cultura gera sobre pessoas acostumadas a rotular e compar-

timentar comportamentos, estilos e jeitos de ser; Beyond Ipanema toca o coração de quem o assiste. Ninguém precisa falar o óbvio - que fazemos boa música e que nossa cultura é misturada, quente e espontânea. O que o filme faz é costurar fatos, entrevistas, canções e histórias de um jeito tão brasileiro e inteligente, como é a nossa música. Ele causa o mesmo efeito. Apaixona, encanta, faz rir, levantar da cadeira, mexer os quadris. Para o resto do mundo, vai dar vontade de saber mais e conhecer mais sobre nossa música e nosso jeito de levar a vida. Para nós brasileiros... dá, sim, orgulho de ser do Brasil. De ter tudo aquilo no sangue - mesmo para quem, como eu, tem olho azul e pele branca. A mistura está no sangue. Não sou assim tão diferente do baiano gingado, do carioca bossa nova, dos índios, negros, mulatos e imigrantes espalhados por todo o país. Ah, sim, a surpresa final? Uma bateria de escola de samba, ao vivo, dentro do cinema. Afinadíssimo, o grupo é formado por jovens de uma escola da periferia do Bronx. Sim, eles são americanos e fazem um baticum dos bons. Quer saber mais sobre essa história? Tem que assistir ao filme…


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_Wanderson Castilho

O mesmo clique que afaga é o que apedreja suas fragilidades e colocar tudo a perder. A interatividade permite que consumidores engajados influenciem positivamente sua rede de contatos. Por outro lado, reúne consumidores insatisfeitos para falar mal. A reclamação que era feita boca a boca evoluiu para o espaço virtual. O consumidor ganhou força e passou a contar com um meio de comunicação imediato, de grande abrangência e com a capacidade de registrar queixas por tempo indeterminado. Recentemente, viralizou na internet uma dublagem em forma de paródia, de uma campanha publicitária de uma montadora de motocicletas, que debocha da qualidade das motos e da falta de pressa da fábrica em resolver os problemas. O vídeo teve aproximadamente 2 milhões de acessos. O fabricante tentou, sem sucesso, coibir a proliferação do vídeo. Porém, a internet tem o poder da perenidade, e o conteúdo está na mão de cada um dos internautas. Os crimes contra a honra crescem vertiginosamente no ambiente virtual e são exponencialmente maiores se comparados com outro meio de comunicação de massa. A perversidade digital é um fenômeno social que extrapola qualquer ética.

Outro caso Uma falsa home page de uma instituição financeira, hospedada num provedor gratuito dos Estados Unidos, informava com detalhes como a instituição estava lesando seus clientes com taxas exorbitantes e aplicações fraudulentas. Cartazes anônimos espalhados pela cidade reforçavam as informações de fraude para mais de 50 mil clientes, além do endereço na internet. Rastros deixados na home page levaram até o autor do crime. Os acusados foram indiciados pelo crime de calúnia e difamação.

_Diego The Kid

A mesma internet que ajuda a potencializar a fidelização de uma marca ou produto é a que pode expor

Para coibir ações dessa natureza é necessário atuar em três frentes: - identificar o autor do crime virtual com a ajuda de um perito forense que reunirá as provas para serem usadas em juízo; - contratar um advogado, especialista em direito digital, para entrar com ação; - contra-atacar utilizando as técnicas de marketing e propaganda. Um exemplo de sucesso que aplicou esta estratégia é a Eletronic Arts. A desenvolvedora de games viu uma falha em um de seus games (o simulador de golfe Tiger Woods PGA Tour 08) ser explorada em um vídeo de um consumidor. Nele, o atleta que estrela o game, Tiger Woods (ou, melhor, uma representação virtual dele no jogo), é capaz de fazer uma jogada por cima da água, como se fosse capaz de andar sobre ela,

defeito que o jogador criativamente chamou de “Jesus Shot” (“Jogada de Jesus”), em uma referência à famosa passagem bíblica em que Jesus caminha sobre a água. A Eletronic Arts contra-atacou com um vídeo exclusivo para internet estrelado pelo próprio Tiger Woods. A peça mostra exatamente o golfista andando por cima da água e fazendo uma tacada, sem apelar para computação gráfica. Era como se explicasse que aquilo não era exatamente um defeito real, mas apenas “que ele era bom jogador assim mesmo”. A consequência foi que o vídeo bem-humorado teve quatro vezes mais visualizações que o publicado pelo consumidor.


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_Daniela Zanuncini

COACHING: A ESTRATÉGIA DOS LÍDERES A solidão da liderança vem ganhando cada vez mais adeptos. Não há espaço, tempo ou com quem discutir seus resul-

_Diego The Kid

ARTIGOS

tados e, principalmente, o processo decisório utilizado para obtê-los. Paralelo, uma necessidade cresce no mercado: o profissional especializado em seu setor sai da atividade operacional e passa a liderar pessoas em sua área. Liderar com excelência se tornou obrigação. Mas, como fazê-la se não houve preparação estratégica em gestão de pessoas? Desenvolver suas habilidades como líder, adquirir conhecimentos sobre comportamento humano, discutir seu processo de tomada de decisão, analisar sua liderança, pontos fortes e fracos é tarefa para já. E é aí que uma estratégia tem sido apoio para o desenvolvimento de lideranças sustentáveis nas empresas: Coaching. O termo, inicialmente usado para representar o ato de treinar o jogador e seu time para obter performance eficiente, invadiu empresas e escritórios. Enquanto na prática esportiva o técnico conduz o desempenho físico e a performance do jogador em campo para atingir melhores resultados individuais e, consequentemente, melhores resultados da equipe, no mundo corporativo não é muito diferente. Estabelece-se um processo de orientação e assessoramento ao desenvolvimento pessoal e profissional do indivíduo, fundamentado em acompanhamento e facilitação aos esforços pessoais do líder na obtenção dos meios que lhe permitam realizar os objetivos organizacionais. “Os resultados são incrivelmente visíveis”, afirma a diretora de uma empresa de comunicação que há um ano está em processo de Coaching. “Não apenas na minha liderança para/com os colaboradores, mas também nos resultados financeiros da empresa”, completa a profissional. Estudos comprovam a eficácia e o crescimento do mercado de Coaching que, segundo a revista Forbes, movimenta mais de U$10 bilhões no mundo. Na mesma edição, outro dado surpreendente: das 500 maiores empresas, 85% utilizam processo de Coaching. Uma pesquisa realizada pela Revista Fortune 500, com 100 executivos, mostra que o ROI (Retorno Sobre Investimento) é de 529%. Executivos que passaram pelo processo de Coaching classificaram o retorno quantitativo em mais de cinco vezes o investimento, ou seja, estimaram U$120 mil de valor para um processo que tenha custado U$20 mil (60% dos executivos neste estudo tinham posições de vice-presidência e 30% tinha remuneração acima dos U$200 mil).

Mas como o Coaching contribui para resultados sólidos e gestões eficazes? Através do treinamento, da capacitação e do acompanhamento. Constitui-se em um compromisso mútuo entre o facilitador (coach) e o gerente/ coordenador/ gestor quanto às metas, ações, recursos e condições que possibilitem a realização de seus projetos, através da potencialização de talentos e competências, da ampliação de limites, do desenvolvimento de aspectos restritivos, visando o desenvolvimento pessoal e profissional e o alcance dos resultados pretendidos. Cabe ao coach estabelecer uma relação de compromisso e confiança com o líder, de maneira a possibilitar a identificação e análise conjunta dos aspectos relevantes de sua trajetória de vida pessoal e profissional, as características de perfil e potencial que favoreçam ou dificultem o alcance de suas metas. Vale reconhecer que, além do Coaching, existem inúmeros outros treinamentos. A diferença é que, mesmo que o treinamento tenha elevada qualidade, seus resultados podem ficar comprometidos no longo prazo na ausência de um programa de Coaching. Um estudo feito pela Xerox apontou a perda de 87% das habilidades aprendidas em treinamento sem o acompanhamento efetivo. Outro estudo, publicado no Public Personel Management Journal, apresenta que os executivos que participaram de um treinamento gerencial aumentaram em 22,4% sua produtividade e aqueles que tiveram Coaching após esse mesmo treinamento aumentaram sua produtividade em 88%. Estudos como esses aliados a resultados satisfatórios e concretos fazem com que, cada vez mais, o Coaching se torne ferramenta estratégica para a construção e o desenvolvimento de líderes.


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COLUNA

_João Paulo Bertol

Redator publicitário que abandonou sua carreira e vida em Curitiba para se dedicar à 7a arte. Atualmente, vive em Vancouver (Canadá).

3D, o cinema quatro-olhoS

Coloque os seus óculos e prepare-se. Você não vai acreditar no que seus olhos veem. E nem deve. Eu ainda me lembro de uma moda que invadiu os anos 90 e fez todo mundo enfiar

o nariz em uma folha de papel e lentamente movê-la para longe do seu rosto. Testa franzida, olhos concentrados e de repente uma paisagem com dinossauros pulava do papel colorido como se fosse uma obra abstrata feita por um computador. Eu me lembro também do sorriso de satisfação nos rostos quando a pessoa via o desenho em 3D, e isso realmente me marcou. O personagem Kevin Smith, de “Barrados no Shopping” - outra daquelas reinvenções de títulos que alguns filmes ganham ao chegar ao Brasil e que aniquilam o original - passa o filme todo parado em frente a uma dessas pinturas tentando ver alguma coisa, enquanto todo mundo passa por ele dizendo: “Ah, é um barco”. Para todas essas pessoas, frustradas com suas experiências com 3D, e para aqueles que desfrutaram o sabor de uma doce ilusão ótica, boas notícias: o 3D invadiu Hollywood. No final do mês passado, a Disney terminou de filmar o seu mais ambicioso projeto em 3D aqui em Vancouver: Tron 2.0. A continuação do grande sucesso dos anos 80, que conta de novo com Jeff Bridges, vai tentar ser tão marcante quanto o original e seus gráficos - apesar de que aparentemente ninguém com menos de 30 sabe o que Tron foi, e comparar os efeitos com o seu sucessor Matrix faz os pouco mais de 15 anos de diferença entre os dois parecerem 50. Mas a Disney não foi a única a aderir ao formato. The Hole, o novo filme a la Jumanji do diretor de

Gremlins, Joe Dante, se une a uma longa lista de novos títulos como Ice Age 3, o incrível Up, G-Force, Coraline e o projeto mais ambicioso de todos, Avatar, de James Cameron, que promete ação pulando na frente da sua cara. James Cameron tem apostado pesado na nova tecnologia que aperfeiçoou o 3D. O novo Tron, por exemplo, tem toda a tecnologia 3D montada e monitorada por sua empresa, a Pace. Afinal, ela promete um toque a mais aos já complexos filmes de ação, e em tempos de recessão todas as armas são necessárias para atrair as pessoas aos cinemas. A melhoria do formato é uma das principais chaves para a renascença do 3D, que já esteve na moda um tempo atrás, inclusive com um dos Sexta-Feira 13 ou A Hora do Pesadelo (não lembro agora). Mas os óculos verdes e vermelhos eram por demais ridículos e todo o gestual envolvido no tirar e colocar os óculos em partes específicas do filme fazia a coisa toda um pouco menos interessante. Sem falar na dor de cabeça e tontura que a exposição prolongada a essa brincadeira com o seu cérebro pode causar. Os novos óculos são transparentes e, no caso de Up, iguais aos do velhinho personagem principal. Outra diferença é que agora o filme é inteiro em 3D e, devido a estudos, se sabe e se dosa a quantidade de coisas pulando para fora da tela que uma pessoa “normal” aguenta sem precisar de uma Aspirina ao final do filme.

_Diego The Kid

jpebertol@gmail.com

Eu estava fazendo um curso por aqui e tive a oportunidade de ter uma palestra com um dos responsáveis pela captação em 3D no set do Tron. Ele explicou o processo, que é mais ou menos assim: duas câmeras são atreladas a uma distância que visa imitar a distância interocular. O ponto onde o foco dessas duas câmeras se encontram transforma-se no parâmetro principal do efeito. A partir dali tudo o que estiver na frente dele vai pular para fora da tela, e o que estiver atrás vai criar a impressão de profundidade. As câmeras funcionam coordenadas e podem ser montadas lado a lado ou ainda colocadas em uma formação de 90o, e a câmera de baixo é colocada atrás de um espelho falso. A imagem captada pelas duas câmeras é impressa no filme ao mesmo tempo. Por isso, quando você tira os óculos, vê tudo dobrado. Afinal, são eles que fundem as duas imagens e criam a ilusão de uma tripla dimensionalidade. Algumas pessoas acreditam que o 3D é um passo natural da eterna briga do cinema com a televisão. Primeiro foram os formatos, depois o tamanho, a definição, e a TV sempre alcançando novos meios de manter você pregado no sofá. O cinema vem tentando uma resposta, mais explosões, Imax, e agora, para ter certeza que você vai estar lá, pipoca na mão e olho grudado na tela: os novos filmes prometem trazer a ação literalmente até o seu colo. Ou seja, é uma brincadeira boba, um algo mais que não vai mudar a história do cinema e nem o jeito com que nos identificamos com filmes, histórias, personagens. É só um brinquedo novo no parque de diversões que é o cinema de Hollywood, mas um brinquedo daqueles que faz valer a pena esperar na fila.


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COLUNA

_Julio Sampaio

Diretor da Resultado Consultoria e vice-presidente da ADVB-PR, autor do livro O Espírito do Dinheiro e mestre em Organizações e Desenvolvimento.

DEIXAR A PORTA ABERTA

ilustração_Diego The Kid

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Como advogada, Rachel estava sendo transferida do escritório onde trabalha do Rio de Janeiro para São Paulo. Era uma espécie de promoção e apesar

de não fazer parte de seus planos, Rachel desejava agarrar esta oportunidade. Era preciso, no entanto, que fosse de imediato. Não haveria tempo para muitas preparações. A escolha do novo apartamento precisaria acontecer em uma única ida a São Paulo. Apesar da verba recebida para custeio da mudança, se não agisse rápido, teria custos dobrados de moradia. A tarefa não seria fácil, principalmente porque Rachel procurava algo difícil pelo valor que se propunha a pagar. No Rio, morava no Leblon em um bom flat e por um valor abaixo de mercado. Como manter este mesmo padrão em São Paulo? Dois dias e após dezenas de visitas a imóveis pré-selecionados foram suficientes para confirmar que seria difícil. Um único imóvel se aproximava do que parecia factível, mas era disputado por outros candidatos. Uma conversa casual fez com que a corretora mencionasse o nome da proprietária, uma investidora também carioca. A coincidência se deu pelo fato de ser o mesmo nome da proprietária de um imóvel que Rachel tinha sido já inquilina e com quem não tinha contato há anos. Coincidência ainda maior era que se tratava da mesma pessoa. Um rápido telefonema fez com que as condições fossem acertadas, dentro do que Rachel desejava, com ocupação imediata, mesmo enquanto tratava-se da documentação do contrato. A proprietária ficara feliz em voltar a ter Rachel em um dos seus imóveis. Charles tinha pouco menos de 50 anos. Era considerado um bom homem e um bom profissional. Passou por um final de casamento conturbado após 25 anos de união. As brigas chegaram à justiça. Carlos teve uma parte de seus rendimentos mensais destinados à pensão da mulher e dos filhos, além da divisão de algum patrimônio que, segundo ele, foi conquistado pelo seu esforço e não da mulher. Relatava cada etapa do processo aos colegas de trabalho, referindo-se à mulher com o adjetivo de “purgante”. Os próprios colegas testemunharam uma segunda situação de conflito com Charles. Desta vez, contra a empresa, um jornal em que Charles trabalhara por quase 20 anos. Numa discussão com seu chefe, quase chegou às vias de fato, sendo retirado à força até a saída. Sentindo-se injustiçado, Charles moveu um processo trabalhista contra o seu antigo patrão, o que o fez afastar-se do convívio de amigos e colegas de trabalho de tanto tempo e de perder as boas referências que poderia ter após anos de dedicação à empresa.

Estas duas histórias do cotidiano são mais frequentes do que parecem. Em comum, a tendência que algumas pessoas têm para deixar a porta aberta ao final de suas relações ou, ao contrário, a de sair sempre batendo a porta. Estes, sem perceber, vão repetindo a mesma história, ao final de um namoro, de um casamento, na saída do emprego, ou após uma simples transação de compra ou venda. O mesmo vale para empresas e prestadores de serviços, cuja relação com os seus clientes costuma, com frequência, terminar na Defesa do Consumidor ou no Juizado de Pequenas Causas. Relacionamentos pessoais e comerciais podem ter um ciclo de começo, meio e fim, como tudo. No entanto, uma regrinha simples faz toda a diferença nos resultados no longo prazo e que pode representar novos negócios: não se esquecer de deixar sempre a porta aberta.




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