Revista Helena

Page 71

71

REVISTA HELENA

Planalto

Paranaense por

BENTO MUNHOZ DA ROCHA NETTO

O planalto paranaense, com suas

condições características de clima e topografia, é uma surpresa pelo contraste que forma na paisagem convencional do Brasil. Sua beleza cativou Saint Hilaire que exclamou diante dos Campos Gerais, cuja descrição poderia ser repetida hoje: “C’est Le paradis Du Brésil”. E em 1872, o inglês Thomas Bigg-Wither viveu a surpresa dos nossos planaltos, vindo de Antonina, em pleno inverno, e os considerou como a “new world”, brancos de geada, em seu pouso da Graciosa, em constraste gritante com o calor do litoral. Disse ele: “the Day before we had been in the land of Orange and palm trees, bananas and coffee, now we are surrounded by gigantic pines, such as one imagines would grow only in the latitude of the Baltic…were beginning to form quite a different opinion of Brazil from that which we had held in Rio de Janeiro…Certainly, life had seldom felt more pleasant than on this our first day in the Highlands of Paraná. Em agosto de 1952, justamente oitenta anos depois de Bigg-Wither, recebo, como Governador do Paraná, no Aeroporto de Afonso Pena, em seguimento do programa organizado pelo Itamarati, a Karl Gruber, Ministro do Exterior da Áustria, em visita ao Brasil. O chanceler que, como Bigg-Wither vinha do Rio, seu primeiro contacto com nosso país, ao descortinar a paisagem que circunda Curitiba, teve esta expressão: “Mas isso é a Europa Central!”. Essa diversificação que Bigg-Wither e K. Gruber observaram, nós a vivemos de maneira permanente.

DEBRET, Jean-Baptista. Palmeira (Freguesia dos Buracos) 1827. Aquarela. 14 x 22,5cm

O contraste do meio paranaense tradicional do planalto, com as características gerais e mais significativas do ambiente brasileiro em sua visão global, trouxe ao paranaense a consciência de sua diversidade e, portanto, de sua afirmação dentro dos quados da nacionalidade. A imigração européia, não latina, do século XIX, deveria ter acentuado ainda mais essa consciência. Muito da introspecção paranaense deve originarse do clima e da contribuição cultural de povos que o próprio clima atraiu. Quem conhece nosso litoral quente e sobretudo o Nordeste brasileiro, de temperatura constante de janeiro a dezembro, pode bem aquilatar a influência do clima no comportamento e na psicologia das gentes. As cidades do Nordeste, à noite, vivem numa festa interminável. A convivência é intensa e universal. Todas as casas iluminadas, de portas e janelas abertas, e nos bairros antigos ou mais


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.