itapoá 30 anos | João José Silvino
Entre vias e maquinários Ana Beatriz Machado Pereira da Costa
As histórias contidas na memória de João José Silvino (75), mais conhecido como Benga, do Pontal do Norte, dariam um livro. Em entrevista à revista Giropop, ele, que foi um dos nove vereadores eleitos na pioneira gestão de Itapoá, lembra sua história e os anos de muito trabalho.
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o município de Araquari (SC), o casal Benta Cristina da Trindade e José Silvino Borges (já falecidos) teve treze filhos – dentre eles, João José Silvino, o Benga, apelido que herdou de seu pai. Aos 9 anos de idade, Benga e sua família passaram a viver na comunidade do Saí Mirim, quando a mesma ainda pertencia ao município de São Francisco do Sul (SC). “Meu pai gostava muito de pescaria e nós trabalhávamos na roça, plantando, colhendo e trazendo banana, mandioca, entre outros alimentos, do Saí Mirim a Itapema do Norte”, recorda. Conforme Benga, o transporte da época era o cargueiro – um cavalo com uma cangaia, carregando dois balaios, e o trajeto a Itapema do Norte era feito através de um picadão. Em seguida, a família passou a plantar, cortar e vender palmito nativo para a região da Vila da Glória. “Éramos treze irmãos, trabalhávamos na roça e tivemos uma infância muito simples. Nossa casa era feita de pau, coberta de palha e o chão de areia. Lembro-me de, muitas vezes, usar a vela do barco como cobertor de dormir”, recorda Benga. Em meados dos anos 60, a base era a troca, ou seja, a família não vendia seus alimentos, mas trocava com comerciantes. Há 56 anos, Benga casou-se com Lurdes Speck Silvino (73), com quem teve dez filhos (do mais velho ao mais novo): Marilda, Mariza, Marlete, Mário, Marlene, Marildo, Márcio, Márcia, Marcos e Marcelo (este último, já falecido). Deixando a comunidade do Saí Mirim, a família morou na região da Jaca, da Figueira do Pontal e, em seguida, no Pontal do Norte – onde se estabeleceu e vive há mais de quarenta anos. Na cidade de Itapoá, Benga trabalhou com extração de madeira e realizou muitos serviços particulares na área da construção civil, tendo trabalhado durante doze anos com reforma e construção no condomínio Bamerindus. “Eu mexia com coisa bruta, coisa do mato, aprendi tudo sozinho. Sempre acreditei que quem tem força de vontade para fazer as coisas, aprende”, diz. Certa vez, deixou tudo e foi viver em Joinville (SC), por ‘bobiça’, como ele mes22 | Abril 2019 | Revista Giropop
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mo diz, mas não aguentou ficar longe da cidade que amava. Retornando, abriu um boteco na Figueira do Pontal e, tempos depois, comprou um caminhão usado, que utilizava para trabalhar com aterro e ajudar a população. “Sempre fui pobre, mas sempre tive bom coração, gosto de ajudar as pessoas. Com meu caminhão velho, transportei muita gente da Figueira e do Pontal até o posto de saúde, situado onde é hoje a Colônia de Pescadores, em Itapema do Norte”, recorda.
buracos, fazendo bueiros, as primeiras coletas de lixo do município, abrindo vias, fazendo assentamentos para famílias desabrigadas e afins. Em suas palavras: “Fui vereador de Itapoá, não apenas de meu bairro. Durante os três anos de mandato (1990-1992), estive constantemente nas ruas e puxei muita terra à base da pá”. Na segunda eleição em Itapoá, atuou como primeiro suplente. e, ainda, assumiu a Secretaria de Obras por quase três anos. Enquanto Secretário de Obras da Prefeitura Municipal de Itapoá, ajudou a criar a estrada para a Reserva Volta Velha, criou um canal para resolver o problema de enchentes e inundações frequentes na época, auxiliou na construção da ACOPOF (Associação Comunitária do Pontal do Norte e Figueira do Pontal), a conseguir postes de luz para a Escola Municipal Euclides Emídio da Silva, na Barra do Saí, entre outros. Para Benga, política tem de ser feita nas ruas, não em salas ou gabinetes. “Sinto orgulho ao dizer que, mesmo analfabeto, ajudei muitos munícipes de Itapoá. Sempre prezei pelo diálogo e pela política da boa vizinhança, acho que isso é essencial para um bom trabalho”, afirma. Hoje, aos 75 anos de idade, João José Silvino, o Benga, ainda trabalha no ramo da construção civil, tem disposição de sobra, bom humor e uma memória invejável: “Tive uma vida pobre, mas feliz, pois nunca tive preguiça ou má vontade para ajudar as pessoas ou trabalhar. Trabalhar dignifica o homem. Sinto que a cada dia de trabalho ganho um mês de vida”.
Nas ruas Benga participou ativamente do processo de emancipação política de Itapoá, que aconteceu, de fato, em 26 de abril de 1989. “Foram anos de muita luta e incontáveis idas a Florianópolis (SC), com o objetivo de que nosso município se tornasse independente”, lembra. A convite do então candidato a prefeito Ademar Ribas do Valle, Benga se candidatou a vereador pelo PDS, sendo eleito com 114 votos. Na política, muitos eram os medos de João José Silvino, o Benga: “Em toda a minha vida, frequentei a escola apenas por um dia. Só tive a oportunidade de aprender a ler e a escrever depois da vida adulta. Mas sempre fui muito bom em fazer contas, em me comunicar com as pessoas e, também, sempre tive boa vontade para trabalhar e ajudar o próximo”. Enquanto vereador da primeira gestão de Itapoá, Benga – com anos de expertise em terraplanagem e construção civil – trabalhava até mesmo aos finais de semana com o maquinário, cobrindo