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EVF

www.revistaevf.com.br

Ano 1 | Edição 1 | Setembro 2014

FOTOGRAFIA

DE RUA Conheça a história dessa pRática e os grandes fotógrafos que dedicaram sua vida a ela

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*imagem ilustrativa. O inseto possui de 2 a 3 mm de comprimento.

o A l i v a o A c De s a n e P a em a d a c i p a m u

s e r a h l i m e d a d i v a do n a ç a l e e u m r a c á o t ã s ç e u l e o u s q a a m ç u n e é o d a i s a á m n u a t é u e e s A o . i s n o a n m o . sd a ç u e n s e A Leish o e d d a d m é o b ã ç m a a t n i m e s s i d a de cães e er t n o c a r a p z a c fi e n i e

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EVF Edição 1 Setembro 2014 Redação Editor: Bruno Schuveizer Repórter: Rodrigo Cruz Colaboradores Texto: Patricia Bernardes Projeto Gráfico Bruno Schuveizer Foto de capa Bruno Schuveizer EVF TV Direção e Produção: Rodrigo Cruz Publicidade Anuncie: publicidade@revistaevf.com.br Fale com a redação: redacao@revistaevf.com.br Seja um colaborador redacao@revistaevf.com.br

Bruno Schuveizer

Canais www.revistaevf.com.br


SALVE!

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eja bem-vindo(a) a um novo conceito em revista de fotografia. Seja bem-vindo(a) à nova publicação voltada exclusivamente para fotografia de rua e documental no Brasil! Com uma proposta ambiciosa em seu conteúdo – tanto visual quanto editorial – a EVF surgiu a partir da ideia de compartilhar conhecimentos de uma forma mais leve, descontraída até, mas sempre com credibilidade. Contará com reportagens, perfis, entrevistas, história e cultura. Uma publicação feita para fotógrafos profissionais e amadores que partilham de uma mesma paixão. Tanto Street como a fotografia documental são duas das categorias mais praticadas. A sensação de liberdade é provavelmente um dos principais motivos para isso, mas existem inúmeros outros e cada fotógrafo tem o seu. Esse tipo de prática tem a ver com estilo de vida, e os que experi-

mentam uma dose dificilmente não pedem mais. Nesta edição de estreia, produzimos uma reportagem especial com 18 páginas sobre a história da fotografia de rua e os fotógrafos que melhor a representaram ao longo dos anos. Um pouco mais à frente, você também confere perfis de dois grandes nomes da fotografia no Brasil. Armando Prado fala sobre como foi enfrentar a ditadura e conta a importância da fotografia autoral para a sua carreira. E Alécio Nunes conta porque escolheu a fotografia e comenta sobre sua paixão por viajar pelo mundo. Tem também uma reportagem muito interessante sobre uma das últimas aldeias indígenas em São Paulo, a Tekoa Pyau. Tem vídeo dessa matéria também! Para fechar esta edição, repleta de coisa bacana, teve muita correria e mortes na redação. Mas aqui está: a primeiríssima EVF! Boa leitura! Bruno Schuveizer Editor

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conteúdo

Eugène Atget: Hotel de Sens, rue de l’Hôtel de Ville, Paris, começo dos anos 1900.

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Sua foto

As melhores imagens postadas no Facebook, no Flickr e no Instagran utilizando #omundoéláfora

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As principais notícias, boatos, discussões e tendências

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As Crinças da tekoa

CAPA: Fotografando na rua

Reportagem sobre uma das únicas aldeias indígenas em São Paulo

Conheça a história da fotografia de rua e entenda a sua impotância documental

Perfil: Armando Prado

O grande fotógrafo brasileiro recebe a EVF e conta sobre vida e carreira

Peril: Alécio nunes

O fotógrafo aventureiro fala sobre a escolha pela fotografia e sobre viagens


Índia brinca na aldeia Tekoa Pyau, em São Paulo. Foto: Rodrigo Cruz.

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20 dicas Street

Melhores suas habilidades e surpreenda com belas fotos de rua

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Cartão de memória

Conheça mais sobre a foto “Morte de um miliciano legalista”, de Robert Capa

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Cultura: Livros e filmes

As leituras e filmes essenciais que abordam fotografia de rua ou documental

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Mutante

A cada edição algo diferente. Nesta de estreia, as regras de convivência na redação

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Crônica

Um diálogo sobre equipamento x cultura

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sua foto #omundoéláfora

Márcio Lavôr Sapiens

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omunidade indígena da Jiboia, na região de Normandia, extremo nordeste do estado de Roraima, fronteira com a Guyana Inglesa. Local de difícil acesso, onde índios realocados da Região Raposa Serra do Sol construíram sua nova forma de vida, que tenta se equilibrar entre as suas raízes culturais milenares e o novo estilo dos “brancos”. Alunos e professores indígenas se esforçam para preparar a nova geração de brasileiros para percorrer todo o caminho até a universidade. Superando precariedades e dificuldades que vão desde as distâncias extremas, até o simples fato de ter um ensino fundamental com valores míni-

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mos de preparo. Contando mais com a sua garra e vontade, que com os recursos físicos e estruturais. Nessa imagem o professor indígena e seus alunos retiram as carteiras da pequena e precária escola de reboco caído, para serem guardadas em outro local pelas proximidades. Uma tarefa diária, sempre após as aulas. Dados técnicos: Canon EOS Rebel T3i Objetiva: Sigma 10-20mm f/20 | 1/200s | ISO400 | Distância focal10mm


Glaucia Piantonio Centro

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oi feita no centro de São Paulo, próximo ao viaduto do chá durante uma saída fotográfica realizada pelo grupo Fotocultura. Estava acompanhando a cena, havia muitas pessoas em torno, então aproveitei para usar isso a meu favor, trabalhando então com enquadramento, fechei o diafragma para uma melhor exposição e fiz a foto. Claro que para chegar no resultado final recorri ao nosso tão amigo Lightroom, ajustei com filtro radial e vinheta, escurecendo as bordas.

Dados Técnicos: Canon Rebel T3 Objetiva: Canon 18-55mm f/10 1/200s ISO: 200 Distância focal: 55mm

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sua foto

EMANOEL CELESTINO SEM TÍTULO

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foto foi feita em Aguas Claras-DF pela manhã por volta das 8 horas. Nesse dia eu sai para fotografar como de costume, sem planos, sem saber para onde ir, guiado pelo acaso. Nesse ponto notei que a luz e a junção de postes e prédios estavam visualmente atraentes. Sentei no meio-fio, à alguma distância, e esperei o momento oportuno.

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Dados Técnicos: Canon 5D MKII Objetiva: EF70-300mm f/4.5-5.6 f/11 1/320s ISO 50 Distância focal: 210mm


sua foto

JUNIOR AMOJR ACHOOU!

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iz a foto durante uma saída fotográfica do Clube Atibaiense de Fotografia ao Elevado Costa e Silva, em São Paulo. A menina quando percebeu que eu ia fotografa-la se escondeu, e depois, meio curiosa e meio desconfiada, como se estivesse brincando de “esconde-esconde”, se posicionou na janela da forma como a fotografei.

Dados Técnicos Canon Rebel T3i Objetiva: Canon EF-S18-135mm f/10 1/200s ISO 200 Distância focal: 135mm

Faça parte desta seção! Se sua paixão também é fotografia de rua ou documental, basta postar suas fotos nas redes sociais utilizando a hashtag #omundoéláfora EVF_Setembro

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35 mm

NOTÍCIAS/ Notas/ discussões/ tendências Nesta edição - 74 páginas estreiantes - uma aldeia indígena - Dois grandes fotógrafos - Um CD praticamente frito - Alguns neorônios a menos

Tempo gasto pela redação

Frase de destaque

#Olhandoparaorelógio “Graaaaaaaaaaaaaande” #OuvindoArcticMonkeys - Saudação adotada pela redação. #OuvindoPinkFloyd #Pensandonoquecolocaraqui

Destaques

Polaroid se reinventa e faz lançamento mundial durante a PhotoImage Brasil

A famosa marca de câmeras instantâneas no passado se reinventa e apresentou a instantânea digital Polaroid Socialmatic pela primeira vez durante a 22° edição da PhotoImage Brasil, a maior feira de fotografia da América Latina, que aconteceu entre os dias 26 e 28 de agosto no Expo Center Norte, em São paulo. A câmera que lembra muito o logo do Instagram, imprime fotos na hora, como as máquinas antigas da marca, e também permite a postagem automática de imagens nas principais redes sociais como Facebook e Instagram, via Wi-Fi. A câmera oferece ainda aplicativos de edição diretamente na tela Touch de LED de 4.5”. O equipamento tem resolução de 14 MP

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na câmera frontal e 2 MP na câmera traseira. “A Polaroid reúne tradição com inovação ao oferecer câmeras fotográficas diferenciadas para seus clientes. Somos reconhecidos em todo o mundo como a marca que criou o compartilhamento instantâneo de imagens. Hoje, continuamos a inovar, ao possibilitar aos nossos clientes a captura e o compartilhamento instantâneo de vídeos e imagens no mundo digital”, comentou Scott Hardy, Presidente e CEO da Polaroid. EVF

Veja cobertura completa da PhotoImage Brasil 2014:


Paraty em Foco Um dos maiores festivais de fotografia do Brasil chega a sua décima edição com folego para inúmeras outras. Uma série de, workshops, palestras, discussões, portfólios, exposições, terão, como em todas as outras edições, espaço garantido no evento. E tudo isso numa das mais charmosas cidades do país, Paraty, no Rio de janeiro. Entre os workshops confirmados estão o de Marcio Scavone, Claudio Edinger, Evandro Teixeira, Luciano Candisani e o do Photographic Museum of Humanity, da Argentina. O festival acontece entre os dias 24 e 28 de setembro. EVF

Saiba mais:

Fotos: Divulgação

Linha X, da Fuji, ganha nova integrante

Olympus aposta em selfie A empresa anunciou o lançamento da OLYMPUS PEN E-OL7, câmera compacta com sensor Micro Four Third System e funções voltadas para selfies e conexão com smartphones. Entre os principais recursos, estão a abertura do monitor e tela e tela de toque para facilitar os autorretratos, possibilidade de controlar a câmera totalmente através do smartphone e uma série de filtros. EVF

CMOS II de 2/3 polegadas (12 megapixels sem filtro ótico low pass), um novo modo de simulação de filme: ‘Classic Chrome’ e seu processamento de imagem fica por conta do EXR Processor II. Outras adições incluem um novo anel de controle, novos seletores e botões de função para melhor controle e uma tela LCD inclinável de três polegadas com 920 mil pontos. O desempenho da bateria também foi aperfeiçoado e, de acordo com a Fuji, permite fotografar cerca de 470 fotos com uma única carga. Está disponível nas cores preta ou prata. EVF

A FUJIFILM lançou sua nova câmera digital compacta premium, a X30, e nós, da redação, já estamos loucos para colocar as mãos nela. Em sua terceira geração, a pequena apresenta o recém-desenvolvido Real Time Viewfinder — maior e mais rápido visor em comparação com outras câmeras digitais zoom compactas. O lançamento também é equipado com o sensor X-TransTM EVF_Setembro

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35 mm > discussão

Fotojornalismo

em cheque? São tempos difícies para profissionais da área

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com as mesmas imagens das agências em todos os veículos. Você acha que seria capaz de poder imaginar com clareza tudo o que está acontecendo nesse território de guerras incesantes, por exemplo? Poder sentir, minimamente que seja, um pouco do que é o terror do conflito e o quanto ele está impactando a vida das pessoas daquela região, somente mesmo

Paul Hansen/ Divulgação

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sta foto ao lado, de homens carregando duas crianças mortas na faixa de Gaza, foi a vencedora da edição de 2013 do prêmio World Press Photo, o mais importante prêmio de fotojornalismo do mundo. Recentemente, muito tem se discutido sobre o futuro do jornalismo como um todo. No meio da discussão também sempre surgem questões pertinentes acerca do futuro do fotojornalismo. Vivemos em um momento bastante conturbado onde as redações tem investido cada vez menos nesse tipo de profissional. No mês passado, o portal Terra demitiu 150 profissionais das suas redações, e acabou com o setor de fotografia. Mas afinal de contas, para onde vai o fotojornalismo? Escolhemos essa imagem para trazer uma pequena reflexão para você, caro leitor, para ilustrar melhor a função de um fotojornalista e a sua importância para o mercado de notícias. O advento dos celulares com potentes câmeras e a possibilidade de compartilhar com o mundo as imagens registradas ajudou a derrubar um pouco o interesse dos jornais por este tipo de profissional. Mas um dos pontos cruciais é que, com o crescente - e inconsciente - desinteresse por buscar informação nos grandes veiculos, o poder aquisitivo das redações também cai, e é muito mais barato comprar imagens de uma agência do que contratar um fotógrafo e fazê-lo sair todos os dias para registrar as notícias. Agora imagine você receber uma série de informações e fatos sobre os mais diversos assuntos, porém, sempre


35 mm > discussão

por meio de imagens. Independentemente da ferramenta que vai ser utilizada para poder captar momentos como esse, o que queremos por em discussão é o quanto é importante ter um profissional da imagem para registrar os fatos. Precisamos refletir e valorizar mais do que nunca fotos feitas por quem se dedicou por anos para trazer ao

seu leitor o melhor angulo, a melhor cena. O fotojornalismo bem feito, com critério e consciencia, continua sendo uma das mais importantes ferramentas de registro histórico e de denúncia das mais diversas situações. Rodrigo Cruz

Essa discussão continua nas redes sociais. Dê sua opinião:

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35 mm > Discussão

Sem chance Nas redes sociais, comportamento anti-herói não tem vez

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Reprodução

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rande parte dos maiores e mais memoráveis personagens do cinema são anti-heróis. Conhecidos por um senso de humor apurado, ironia, e inteligência, além de atitudes não convencionais - muitas vezes politicamente incorretas –, personagens assim agradam uns e desagradam outros. É importante lembrar, no entanto, que anti-heróis não são vilões, que sempre só querem o mau a qualquer custo. Bem, em uma hipotética situação, provavelmente quase nenhum desses anti-heróis, se fossem fotógrafos, sobreviveriam nas redes sociais, mesmo que fossem bons fotógrafos. O fato é que parece não haver espaço, na prática, para um comportamento mais ácido nessas redes. Um comentário sem um elogio é impensável! Pelo menos um curtir, o ‘like’ dá uma certa auto-estima. As redes sociais na internet, hoje, parecem ter se tornado um lugar onde tudo é bonito e todos são felizes. Ou, de vez em quando, um lugar pra organizar manifestações (mas ainda assim, em meio a quem realmente quer mudanças, é possível encontrar selfies de manifestantes felizes). Para se dar bem e mostrar simpatia, Robin Hood teria que curtir a foto do Tio Patinhas, que por sua vez tem muitos amigos, e, quem sabe, até comentar com um elogio sem fundamento. Se, por ventura, Robin Hood, sendo um fotógrafo experiente, resolvesse comentar que a foto ficaria melhor se ele tivesse escolhido outro enquadramento, logo seria rebatido com um “cada um tem seu ponto de vista”. É, sem chances, Robin. ‘Wow, essa ficou show!’. ‘Não, não ficou’, você pensa ao ler o comentário. Já te aconteceu antes? Comentários assim pipocam em fotos por aí. Na maioria das vezes, a foto em questão é uma foto ruim. Mas o fotógrafo em questão tem muitos amigos, que conseguiu espalhando comentários do mesmo nível. Claro, há muitas fotos realmente boas que aparecem na timeline e que merecem, sim, um comentário como esse, mas é preciso saber reconhecer e separar o que é


35 mm > discussão

Warner Bros Pictures/Divulgação

James Bond, já interpretado por diferentes atores, é um dos mais famosos anti-heróis do cinema. Comportamento ácido, típico do personagem, poderia representar desvantagem, caso quisesse espaço nas redes como fotógrafo.

Essa discussão continua nas redes sociais. Dê sua opinião:

bom do que é ruim. E, quando for ruim, não fingir que é bom só para agradar. Críticas são tão importantes quanto elogios, desde que sejam fundamentadas e que não tenham objetivo de ofender. Com tantos ‘fotógrafos’ com pouca ou nenhuma referência, a qualidade imagética de grupos de fotografia cai consideravelmente. E quando recebem um comentário que não elogia o trabalho, logo mudam o tom amistoso da conversa. Como toda regra tem sua exceção, é possível encontrar algumas pessoas com um perfil mais agressivo que conseguem espaço nas redes. Mas, ainda assim, um espaço bem menor do que o de quem é sempre amigável. Não que as pessoas não possam ser amigáveis, longe disso. Mas que seria muito mais proveitoso se o reconhecimento viesse pela qualidade do trabalho e não pelo bom-mocismo. Com certeza esses espaços de interação seriam muito mais interessantes se houvesse uma variedade de pensamentos, onde os trabalhos realmente bons se sobressaíssem. Nesse cenário, os anti-heróis parecem mesmo ser personagens só do cinema. Infelizmente. EVF EVF_Setembro

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35 mm > tendência

mirrorless As pequenas notáveis vieram mesmo para ficar

Menores e com qualidade semelhante a DSLRs, as mirroless tem conquistado cada vez mais mercado.

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Bruno Schuveizer

Divulgação

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ão há o que discutir, as câmeras mirrorless, sem espelho, vieram mesmo para ficar. No exterior, isso é mais perceptível, porém, em terras tupiniquins, um mercado mais conservador nesse sentido, as CSCs (Compact System Cameras), como também são conhecidas, ainda parecem não ter ‘vingado’. Em se tratando de fotografia de rua, o espaço que essas câmeras vêm conquistando fica ainda mais evidente: Lentes intercambiáveis, controle manual e sensor grande, tudo em um corpo pequeno, discreto e prático. Todas as grandes marcas já possuem ao menos um modelo mirrorless, sendo a Canon a última a apostar nesse mercado, com a EOS M. A Fujifilm, com sua linha X, uniu essa tendência a estética nostálgica e atingiu em cheio os apaixonados por street. Hoje, uma CSC ainda é considerada como segunda câmera por muitos, mas é iminente que, pelo menos quando o assunto for fotografia de rua, essas pequenas notáveis subam de patamar e se tornem a primeira opção de grande parte dos fotógrafos. O fotógrafo Neil Buchan-Grant, do Reino Unido, concedeu recentemente uma entrevista ao site especializado bestmirrorlesscamerareviews.com, na qual comenta sobre a mudança que fez de DSLRs Canon, passando por uma Leica M9 até chegar a Olympus OM-D, sua câmera atual. “Eu usava as DSLRs da Canon desde a D30 até a 5D Mk2. Eu tinha construído uma coleção de cerca de 13 lentes da Série L que encheram duas mochilas grandes. Era tudo monstruosamente pesado e eu sempre tinha que deixar algum kit para trás. Então eu comprei uma Olympus EP2 e comecei a usá-la com lentes Leica como uma opção mais leve para andar por aí. Foi então que vendi todo o sistema Canon e comprei uma Leica M9, mas como as câmeras Mirrorless e lentes melhoraram dia após dia, me vi usando cada vez menos a M9 e acabei por vendê-la.”, diz.


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COLETIVO

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AS CRIANCAS

DA TEKOA

Uma das únicas aldeias indígenas de São Paulo sofre com precariedade e descaso, mas vê em suas crianças a esperança de manter suas crenças e culturas vivas Texto: Patrícia Bernardes e Rodrigo Cruz Fotos: Rodrigo Cruz

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AS Crianças da Tekoa

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onvidados pela ONG TETO a participar de um mutirão para construção de casas na região do Pico do Jaraguá, em São Paulo, eu e o Rodrigo nos surpreedemos com a precariedade do local em plena região urbana paulista. O local, aldeia Tekoa Pyau, abriga uma colônia de índios de etnia guarani, porém a oferta de serviços básicos para os moradores como saneamento e infraestrutura, é inexistente. 22 EVF_Setembro

Com a participação nesse evento, resolvemos ampliar um pouco mais a visão e notamos que a área de construção daquelas residências se referia a apenas uma parte da aldeia. Do outro lado desse mesmo território, nos deparamos com outra parte do grupo indígena, que provavelmente depois daquela ação feita pela ONG TETO também iria se beneficiar com os serviços voluntários dos integrantes do projeto. Quando tomamos conhecimento do verdadeiro tamanho da aldeia, percebemos que o trabalho seria extenso. Cutuquei o Rodrigo e disse: “já vi que teremos muito trabalho. Olha só quantos índios ainda estão sem moradia”. Nesse momento, começamos idealizar uma forma de denunciar o desrespeito aos Direitos Humanos, causado pela displicência do Estado. Ao ver as crianças da tribo se refestelarem no chão de terra, com pés descalços e pouca roupa, demos início a esta matéria: apresentar para as demais pessoas, através de registro fotográfico, a situação de vida precária do local. O que mais chamou a atenção foi a maneira como a criançada brincava, a inocência infantil não tem etnia e está presente em todas elas: “A molecada se diverte e nem se preocupa com a sujeira espalhada por todo lado”, conta um morador da aldeia, pai de uma das crianças. Esse contato com os moradores da aldeia permitiu conhecermos algumas peculiaridades do grupo indígena. Uma delas é o fato de a aldeia ser formada por índios imigrados de várias regiões do país, o que altera o idioma/dialeto falado por eles. Cada grupo procura manter o idioma nativo dentro de sua casa, no entanto, se esforçam para aprender o português. Um fato curioso e que chamou muito a atenção foi a forma como as crianças interagem entre elas. Sem encontrar muita dificuldade, elas brincam umas com as outras e se comunicam plenamente. É interessante perceber como o ser humano tem facilidade em desenvolver formas de comunicação. As crianças não apresentam nenhuma resistência umas com as outras, simplesmente brincam e estabelecem laços de amizades comuns da idade. De maneira bem inocente, as crianças se aproximavam de nós, principalmente do Rodrigo,


AS Crianças da Tekoa

mesmo sem entender direito a intenção do trabalho ou mesmo para que serve uma camêra, que de certo era gigantesca aos olhos delas. Foi possível registrar a fantasia infantil sendo violada pelo descaso público. Rodrigo desenvolveu um acervo documental magnífico. “Foi prazeroso e ao mesmo tempo chocante trabalhar essa questão. Dificilmente paramos para pensar que ainda hoje existem pessoas aquém de uma vida digna”, me disse Rodrigo, enquanto descansávamos à sombra de uma árvore. A experiência seguiu tranquila, pois as crianças da aldeia são muito curiosas e espertas, fizeram poses e ofereceram imagens lindas. Certamente, esse trabalho voluntário rendeu muito mais do que podiamos esperar. Além de participar do projeto da ONG TETO, conseguimos criar um arquivo documental para expor as necessidades daquele povo.

A Aldeia e suas dificuldades A Tekoa Pyau surgiu no inicio dos anos 2000, como um desmembramento da aldeia Tekoa Itu, sua vizinha. Fica localizada próximo ao Pico do Jaraguá e abriga atualmente cerca de 125 famílias de índios Guarani. Ao todo são cerca de 600 índios -- dos quais mais de 400 são crianças -que hoje vivem na pequena aldeia. Esse desmembramento aconteceu justamente por conta do espaço pequeno e pela crescente imigração de índios, vindos principalmente da reserva do Mnagueirinha, no Paraná. O Cacique e Pagé Guirá-Pepó, Vitor Fernandes (todos os índios da aldeia possuem um nome guarani e um nome comum à nossa cultura, escolhido por eles mesmos, para fins legais), mostra preocupação ao falar sobre a atual situação do local. “Essa é uma aldeia muito pequena e a EVF_Setembro

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Em vez de ficarem tímidas, como pensamos que ficariam, as crianças ficaram muito curiosas com a presença de uma câmera.

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Todas as crianças da aldeia recebem a educação guarani, mas também precisam frequentar escolas como qualquer outra criança.

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AS Crianças da Tekoa

população está crescendo, penso muito no futuro da adeia”, diz. A criação da Tekoa se deu à partir das ações realizadas pelo índio José Fernandes, um dos líderes do local. Foi ele quem organizou as terras ocupadas, bem como sua distribuição. Vitor comenta que o espaço é considerado sagrado por todos da aldeia. “Os mais velhos sempre falam sobre esse local, sobre ele ser sagrado, então continuamos aqui, pois acreditamos muito na voz das pessoas mais velhas. Como está inserida em uma grande metrópole, a aldeia apresenta uma série de características das grandes cidades, muitas vezes conflitando com as tradições e modo de vida de seus antepassados. “Minha infância foi totalmente diferente, eu nasci na mata mesmo e cresci lá com os meus pais. Então vendo essas crianças, essa nova geração, eu fico preocupado, porque aqui não tem como

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Foi prazeroso e ao mesmo tempo chocante trabalhar essa questao. Dificilmente paramos para pensar que ainda hoje existem pessoas aquem de uma vida digna


AS Crianças da Tekoa

Os índios recebem ajuda de ONGs que doam alimentos e roupas, além de brinquedos para as crianças

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mostrar como antigamente os guarani plantavam, os dias para fazer armadilha para os animais, tudo isso se perde... hoje a educação é totalmente diferente, mas tentamos manter a nossa religião, a nossa fala, fazer artesanato, por isso temos sempre que conversar com nossas crianças”, relata o cacique. Pedro Rocha, morador da aldeia desde o seu surgimento, comenta sobre as dificuldades enfrentadas. “ Viver aqui é muito complicado, uma

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aldeia pequena, que não oferece espaço suficiente para que possamos viver de modo tradicional, manter nossa tradição, nosso modo de ser guarani.” O guarani é língua mais falada atualmente pelos povos indígenas no Brasil. Os índios da Tekoa, internamente, se comunicam apenas por meio dessa língua. “O mais forte do guarani é a nossa língua e também o nosso modo de acreditar em Deus”, conta Pedro.


AS Crianças da Tekoa O trabalho da ONG TETO A TETO tem como principal atividade garantir, através de trabalhos voluntários, o mínimo de dignidade às pessoas excluídas da sociedade, por meio de construções de casas de madeira. Presente na América Latina e Caribe, a ONG já participou de vários trabalhos com esse fim. Em parceria com outras empresas, como a Sustentech, por exemplo, desenvolve trabalhos com reconhecimento sustentável. Essa prática, segundo os organizadores dos projetos, além de oferecer condições de inclusão social aos beneficiários também auxilia os voluntários a terem uma visão mais ampla de respeito ao cidadão e ao meio ambiente. “A sustentabilidade existe em função do ser humano, sem pensar e focar no pilar social nenhuma medida ambiental faz sentido. No fundo, tudo o que fazemos pelo meio ambiente, estamos fazendo pelo ser humano”, afirma João Marcello, presidente da Sustentech e apoiador da TETO.

Os índios sobrevivem com a ajuda de ONGs que doam alimentos e roupas e do artesanato. A aldeia segue enfrentando uma série de desafios impostos pela cidade grande, os índios se organizam e procuram enfrentar os problemas juntos, para garantir o futuro de seu povo e com a esperança de que suas crianças deem continuidade às suas tradições.

MAIS

EVF TV - Assista ao vídeo sobre a aldeia Tekoa Pyau:

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FOTO GRAFANDO

NA RUA Conheça a história da prática e os mais importantes fotógrafos que se renderam a essa que pode ser considerada uma das mais apaixonantes maneiras de documentar a condição humana

TEXTO: BRUNO SCHUVEIZER



Capa - Fotografando na Rua

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Fotografia de rua tem a ver com retratar a condição humana, em todas as suas formas, sem julgamento de credo, etnia ou classe social. Muitos fotógrafos descobrem essa área ainda nos primeiros contatos com uma câmera, enquanto saem para praticar o que aprenderam na teoria. E assim, quase que sem querer, acabam apaixonados. Fotografar na rua é contar histórias. Nunca a mesma história. Mas sempre uma história verdadeira. Desde quando Joseph Nicéphore Niépce criou a fotografia, em 1826, as histórias passaram a ganhar mais credibilidade. Os jornais e revistas, por exemplo, logo se aproveitariam desse novo recurso. A história da fotografia de rua se confunde com a história da fotografia em si. Afinal, a primeira fotografia feita pode facilmente ser considerada uma foto de rua.

Fotografia de rua, o termo A definição de fotografia de rua evoluiu ao longo do tempo. No começo do século XX, por exemplo, um fotógrafo de rua era alguém que faria uma foto sua por algum dinheiro e te enviaria uma cópia revelada depois. Essa definição permanece na

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mente de muitos ainda hoje, como revela o livro ‘Bystander: The history of street photography’, um dos mais completos sobre o tema: “Para muitas pessoas, um fotógrafo de rua é alguém no Times Square ou no Circo Piccadilly que fará uma foto sua por uma taxa e te enviará revelada depois (ou, desde de que esses ambulantes adotaram a Polaroid, te dariam a foto na mesma hora)”. No entanto, não vemos mais esse tipo de profissional, a não ser em pontos turísticos. Por isso, principalmente para quem se interessa por fotografia, entendemos hoje que um fotógrafo de rua é quem sai por aí em lugares públicos para retratar a vida nas ruas. Atualmente, existem inúmeras discussões no mundo inteiro acerca do que pode ou não ser considero como uma foto de rua. Como, por exemplo, se o fotógrafo fez a foto sem ser percebido, a não ser no momento do click ou logo após. Esse tipo de fotografia é conhecida como Candid (do inglês, numa tradução livre, sincero). Ou se para que seja considerada de rua, a foto tenha que mostrar necessariamente ao menos uma pessoa. Cada um tem sua suas opiniões a respeito, porém, de forma geral, não há definições ou regras para se fazer fotografia de rua.

Na página anterior: Willina Klein/ Divulgação

ua. Para alguns, essa palavra pode significar um simples caminho público ladeado de casas ou muros; para outros, no entanto, seu significado vai mais além: liberdade. É o que tem lá fora da caverna de Platão. A rua já foi assunto de escritores, pintores e fotógrafos. Seja a rua do lá vem um, a rua apinhada de gente, a rua pouco frequentada ou sempre deserta. Seja a rua que abrigou a história.


CAPA > Fotografando na rua Evolução técninca na fotografia de rua Com a tecnologia que temos à nossa disposição hoje em dia, podemos pensar em inúmeras possibilidades no campo da fotografia de rua. Equipamentos rápidos, pequenos, com altíssima resolução, com ISOs cada vez mais altos e sem ruído. Mas nem sempre foi assim. No final do século XIX e começo do século XX, as câmeras eram grandes, pesadas, lentas e com funções extremamente limitadas. Por conta disso, os primeiros fotógrafos de rua não podiam nem pensar em fotografar sem que fossem percebidos, pelo contrário, se quisessem que pessoas aparecessem na foto, elas teriam de posar. Também não podiam nem pensar em fotografar cenas em lugares mais escuros, pois a sensibilidade à luz desses equipamentos era muito baixa naquela época. O formato 35 mm (negativos de 24x36 mm) ,já usado nas películas cinematográficas, foi aplicado na fotografia em 1921 na câmara Debrie Sept, contruída por A. Debrie em 1921, na França, depois de tentativas anteriores realizadas em protótipos por vários fabricantes. Em 1925 surge a Leica A, também de 35mm, com objectiva f/1.9. A primeira câmera reflex SLR de 35mm foi provavelmente a russa Exakta Vest Pocket, desenvolvida em 1936. O melhoramentos introduzidos nas ópticas da objetivas e a produção em massa de câmeras SLRs, a partir das décadas de 50 e 60, com a entrada dos japoneses no mercado, com a Nikon em 1948, tornaram esse modelo o mais versátil e popular do mundo. Nos anos seguintes, as inovações em termos de câmaras fotográficas tiveram essencialmente a ver com a evolução das objectivas, em particular as zoom de focal variável, e com o avanço de funções automáticas e fotômetros incorporados. Além de ASAs (hoje ISO) mais elevados e também a maior facilidade para se fotografar em cores. A partir de 1996, as câmeras digitais começam

a ganhar cada vez mais popularidade e não demora para se imporem. Diversos modelos, com qualidade cada vez melhor, para atender as mais variadas necessidades, surgem a cada ano. Hoje temos as câmeras fullframe, inúmeras opções de objetivas, e também as mirrorless como umas das principais tendências para quem pratica fotode rua, além de sofwares de edição de imagens capazes de melhorar indiscutivelmente uma foto.

O Primeiro! De acordo com o livro ‘Bystander: The history of street photography’, o primeiro livro de fotografia de rua foi ‘Street Life in London’, do fotógrafo John Thomson em parceria com o jornalista Adolphe Smith, publicado em 1881. Veja a edição em pdf:

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CAPA > Fotografando na rua Preto no Branco – sobre a preferência histórica pelo PB A imensa maioria dos fotógrafos que praticam fotografia de rua optam pelo preto e branco. Muitos deles seguindo o que os grandes nomes do passado fizeram. Mas é importante lembrar que os fotógrafos do passado não tinham a opção de fotografar em cores e, quando tinham, optavam pelo filme PB por ele ser mais barato. Muitos fotógrafos dizem que fotografar em cores é ver o mundo de uma forma diferente do que fotografar em preto e branco. O fotógrafo Joel Meyerowitz, em uma entrevista para o escritor e professor de história da fotografia Colin Westerbeck, comenta como passou a fotografar em cores. “A cor forçou a me comportar de um jeito diferente. Seu poder de descrição foi maior, mas também era mais devagar. Se meu assunto e eu estivéssemos em movimento, a imagem nem sempre ficava nítida, então eu tendi a fotografar mais distante que antes”, disse. Quando Meyerowitz começou a fotografar em cores, ele usava um filme de ISO incrivelmente baixo de 25. Ao contrário de quando fotografava em PB, com um filme X-tri film de ISO 1200 e podia fotografar rapidamente e constantemente em movimento. Por conta disso sentiu essa diferença. Se olharmos para suas fotos em cores e para as em preto e branco, perceberemos que o conteúdo tende a ser diferente. Em suas ima-

gens em PB, ele frequentemente trabalhava perto e com poucos assuntos no quadro. No entanto, em cores, ele se afastava para adicionar mais elementos e complexidade em suas fotos. Hoje, porém, podemos fotografar em RAW e decidir depois o que nos agrada mais. E essa escolha deve ser consciente, de acordo com o que queremos de fato mostrar, e não apenas para ‘salvar’ a foto.

Acima e ao lado, trabalho em preto e branco e colororido de Joel Meyerowitz.

Algumas charmosas rangefinders ao longo da hi Kodak35 1938

LEICA III 1933

LEICA A 1925

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HANSA CANON 1935

LEICA M3 1954


CAPA > Fotografando na rua O presente e o futuro da fotografia de rua É possível dizer que a fotografia de rua nunca viveu um momento tão favorável como o que estamos vivendo. Hoje podemos trocar experiências e compartilhar nosso trabalho com pessoas do mundo todo.

Diversas redes sociais sobre fotografia disputam um público que não para de crescer e permitem uma interação muito saudável à pratica de fotografar. O que os próximos anos aguardam não sabemos, o que sabemos com certeza é que a fotografia de rua, depois de 150 anos, continua conquistando pessoas. E cada vez mais.

istória da fotografia de rua NIKON F 1959

OLYMPUS OM-1 1972

CANON F-1 1971

LEICA M9 2009

PENTAX ME F 1981

FUJIFILM X100 2011

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Capa > Fotografando na Rua

Fotógrafos de rua que ficaram para a história

Foto Famosa:

Século XIX

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Do livro “Life Street in London”.

Eugène Atget ficou conhecido pela sua determinação em documentar as ruas parisienses. Ele começou a fotografar no final da década de 1880, uma época em que a fotografia experimentava uma expansão sem precedentes nos campos amadores e comerciais. Em 1897, Atget começou um projeto que duraEugène Atget ria por toda a sua vida: o Old (1857-1927) Paris collection, no qual ele documentava a arquitetura e cenas de rua de Paris antes de sua modernização. O trabalho de Atget foi reconhecido dois anos antes de sua morte, por volta de 1925, por Man Ray e Berenice Abbott, dois jovens fotógrafos americanos que trabalhavam em Paris na época. Mas Berenice publicou pela primeira vez o trabalho do fotógrafo nos Estados Unidos somente depois que ele morreu. Ela reuniu um arquivo considerável e publicou, em 1930, “Atget, Photo-

Na págin anterior: Joel Meyerowitz/ DIvulgação. Divulgação. John Thomson: Autorretrato/ Divulgação. John Thomson/ Divulgação. Eugène Atget: Fotógrafo desconhecido.

O escocês John Thomson começou fotografando as ruas de Londres – principalmente pessoas pobres que gastavam seu tempo nessas ruas – logo depois de voltar de sua viagem na qual fotografou o Extremo Oriente. Ao contrário do que a tecnologia permite hoje, naquela época Thomson não podia praticar John o tipo de fotografia invasiva, Thomson mas,sim, tinha que pedir para (1837-1921) que seus assuntos ficassem parados até que ele conseguisse ajustar seu equipamento, grande, pesado e devagar. Em parceria com o jornalista Adolphe Smith, o fotógrafo publicou dois livros de fotografia de rua durante sua carreira. Smith entrevistava as pessoas fotografadas por Thomson e, juntos, lançaram uma revista mensal chamada “Street Life in London” entre 1876 e 1877, que, compiladas, deram origem ao primeiro livro sobre fotografia de rua. O segundo, publicado em 1881 - quatro anos antes de George Eastman desenvolver o filme fotográfico – ganhou o nome de Street Incidents. Ambos os livros são muito respeitados por conta de seus comentários sociais sobre a vida dos pobres de Londres, e, hoje, são considerados raríssimos. A primeira edição de Street Incidents, por exemplo, está a venda na Philadelphia-based Bauman Rare Books por US$17.500. Já Street Life in London está disponível na íntegra em PDF na London School of Economics Digital Library.


CAPA > Fotografando na Rua grapher in Paris”. Ela também publicou, em 1964, “The World of Atget”, livro com estampas que ela fez a partir dos negativos do fotógrafo. Em 2002, foi publicado o livro “ Berenice Abbott e Eugene Atget”, de Clark Worswick. Foto Famosa:

meça, então, a colocá-las em grandes álbuns. Até o final de sua vida, eles somariam 135 volumes. Apaixonado por carros e aviões, o francês ficou famoso por suas fotos de automobilismo e de aeromodelos. Mas quando o assunto era fotografia de rua, Lartigue é lembrado pelas belas fotos de mulheres nas ruas parisienses. Foto Famosa:

Avenue du Bois de Boulogne, Paris (1911).

Eugéne Atget/ Divulgação. Jacques Henri Lartigue: Jeanloup Sieff/Divulgação. Jacques Hebri Lartigue/ Divulgação. André Kertesz:Arpad/ Divulgação.

Rag Picker (1899-1900).

Século XX Enquanto Atget continuava a fazer belas imagens no começo do novo século, novos nomes também já começavam a surgir. O francês Jacques Henri Lartigue é um deles. De família abastada, Lartigue começa a fotografar ainda criança com uma câmera de madeira, um presente de seu pai. Começa a registrar tudo Jacques Henri o que o diverte, desde brinLartigue cadeiras até as reuniões em (1894-1986) família. Revela suas primeiras imagens e fica encantado com o resultado, co-

Na mesma época, na Hungria, Andre Kertesz começa sua carreira como fotógrafo de rua. Autodidata, usava uma câmera pequena para retratar situações cotidianas e se torna um dos pioneiros nesse estilo, pois gostava de buscar sempre novas perspectivas de temas mais comuns. Suas primeiras publicações surAndre Kertesz giram em 1917, mas foi por (1894-1985) volta de 1925, trabalhando na (de novo ela) capital francesa, Paris, que realizaria uma das séries mais famosas do século: “Distrações”. As suas séries “Nadador” e “Banco de Jardim” também figuram na categoria de mais famosas do século. Participou de inúmeras exposições pelo mundo ao longo de sua carreria. EVF_Setembro

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Capa > Fotografando na Rua

Meudon, Paris (1928). A Rússia contou com um representante nesse contexto, Aleksandr Ródtchenko foi pintor, desenhista, fotógrafo e cineasta. O artista dizia sempre que “nosso dever é experimentar”, e foi com esse pensamento que começou a praticar fotografia, um suporte para suas outras obras. Uma de Aleksandr suas principais característiRódtchenko cas era fotografar seus as(1891-1956) suntos de baixo para cima, criando perspectivas interessantíssimas como na foto “Escada de Incêndio”. FOTO FAMOSA

Escada de incêndio, (1925).

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A fotografia de rua ganha destaque na América com Walker Evans, nos EUA, um dos mais influentes artistas do século XX. Com um estilo elegante, suas imagens inspiraram muitas gerações de fotógrafos. Seus principais assuntos eram as expressões de pessoas nas calçadas ou em cafés, anúncios Walker Evans de rua, quartos simples e (1903-1975) as principais ruas de cidades pequenas. Por 50 nos, de 1920 a 1970, o fotógrafo documentou a cena americana de uma forma que mesclava poesia e precisão técnica. FOTO FAMOSA

Parked Car, Small Town, Main Street, Ossining, Nova Iorque (1932). Amigo de André Kertesz, e influenciado por sua arte, Brassaï, pseudônimo de Gyulia Hálasz, foi outro artista que se destacou fotografando a França. Nasceu em Brasso, na Hungria (hoje o lugar pertence a Romênia e se chama Brassov), daí o pseudônimo: uma vontade de conservar Brassaï um pouco de seu país natal. (Gyulia Hálasz) Em 1924, foi com a família (1899-1984) para a França, e seu amor pela capital, cuja ruas gostava de caminhar à noi-

André Kertész/Stephen Bulger Gallery/ Divulgação. Walker Evans Archive, The Metropolitan Museum of Art/ Divulgação. Arnold Crane/ Dvulgação. Aleksandr Ródtchenko – V. Stepanova Archive – Moscow House of Photography Museum/ Divulgação.

FOTO FAMOSA:


CAPA > Fotografando na Rua te, o levou a sua obra de maior destaque: um extenso registro da vida noturna em Paris, onde bares e casas fechadas eram assuntos. Foram imagens de grande influência, e refletem o estereótipo “romântico” da cidade. Em 1933, Brassaï publicou seu primeiro livro, intitulado “Paris de Nuit”. Mais tarde, ele escreveu que a fotografia lhe permitiu aproveitar a noite de Paris e a beleza das ruas e jardins, na chuva e na névoa. FOTO FAMOSA

FOTO FAMOSA

El at Columbus Avenue and Broadway c. (1935-39).

Brassaï/ Divulgação. Berenice Abbott: Autorretrato/ Divulgação. Berenice Abbott/ Divulgação. Bill Brandt: Bill Jay/ Divulgação. Bill Brandt Divulgação.

Open Gutter, de “Paris by Night” (1933) Berenice Abbott, que descobriu o trabalho de Atget, foi uma grande fotógrafa de rua norte-americana, mais conhecida por suas fotografias em preto e branco das ruas e arquitetura de Nova Yorque durante a década de 1930. Usava uma câmera de grande formato e dedicava muita atenção para os detalhes, o que aprendeu com Berenice Atget. Inspirada pelo trabaAbbott lho realizado por Eugene At(1898 - 1991) get, Berenice Abbott fez algo semelhante ao que ele fez em Paris, ao retratar a evolução da cidade, só que em Nova Iorque. Daí nascia o seu trabalho mais conhecido, o “Changing New York”, de 1939, onde ela mostra a cidade velha dando lugar a modernidade.

Bill Brandt (1904-1983)

Outro grande nome da fotografia documental no século XX é Bill Brandt. Considerado o fotógrafo inglês mais influente e admirado, suas fotos são consideradas um testemunho da sociedade britânica do entre-guerras, além de se consagrar como artista cujo imagens continuam enigmáticas pelo surrealismo e abstração.

FOTO FAMOSA

Window in Osborn Street (1931-35). EVF_Setembro

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CAPA > Fotografando na Rua pobres, simplesmente por sempre haver pessoas em lugares assim e uma vida social rica e interessante. Brincadeiras de crianças, conversas e cenas cotidianas eram seus assuntos preferidos, fotografava a qualquer hora e em qualquer lugar, revelando, através de suas lentes, cenas que envolviam graça, humor, drama e surpresa. FOTO FAMOSA:

Nova Iorque (1942).

Hyères, França (1932).

Helen Levitt (1913-2009)

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Voltando à América, durante a década de 1940 Helen Levitt fez inúmeras fotos nas ruas de Nova Yorque e também merece um lugar entre os mais importantes fotógrafos de rua do século. Ela não fotografava para contar uma história e não tinha a intensão de documentar a sociedade. Gostava de fotografar em bairros

Talvez um dos beijos mais famosos já fotografados foi registrado pelo francês Robert Doisneau em 1950 em frente ao prédio da prefeitura de Paris. Famoso por suas fotos de rua, é conhecido principalmente por seu estilo que revelava um choque conceitual em suas composições, Robert Doisneau o que, em muitos casos, re(1912-1994) sultou em imagens irônicas ou até mesmo cômicas. Era um apaixonado por fotografias de rua, registrando a vida social das pessoas que viviam em Paris e em seus arredores. Doisneau apresentou em mais de vinte livros uma visão encantadora da fragilidade humana e da vida como uma série de momentos calmos e incongruentes. Suas maiores influencias foram Eugène Atget, André Kertérz e Cariter Bresson.

Bresson: Ara Güler/ Divulgação. Henri Cartier Bresson/ Divulgação. Helen Levitt: Estate of Helen Levitt/ Laurence Miller Gallery, NY/ DIvulgação. Robert Doisneau: Autorretrato/ Divulgação.

O mais famoso fotógrafo de rua a se encantar pela marca de câmeras alemã Leica foi um francês. Com um trabalho criativo que iniciou no começo da década de 1930, Henri-Cartier Bresson é um dos mais originais, influentes e amados na história da fotografia. O conceito de ‘moHenri-Cartier mento decisivo’, introduzido Bresson por ele, permanece até hoje (1908-2004) no vocabulário de muitos. Através de suas lentes, o mundo conheceu seu olhar único e preciso. Considerado por muitos o pai do fotojornalismo, o artista viajou muito, fotografando diferentes regiões do planeta. Sempre com sua Leica. FOTO FAMOSA:


CAPA > Fotografando na Rua FOTO FAMOSA:

Robert Doisneau/ Divulgação. Harry Callahan: Nicholas Callaway/Divulgação. Harry Callaham/ Divulgação. Lisette Model: Autorretrato/ Divulgação. Lisette Model/ Divulgação.

Kiss by the Hotel de Ville, Paris (1950).

Harry Callahan (1912-1999)

Conhecido por ser um dos pioneiros da fotografia de rua moderna e também como um dos mais influentes do século XX, o americano Harry Callahan, autodidata e muito disciplinado, fotografava todas as manhãs e analisava os negativos a cada tarde, embora revelava apenas algumas imagens finais por ano.

Ela também tinha vindo de uma família abastada e estudou pintura antes de começar a fotografar. Com alguma instrução da esposa de Kertesz, Elizabeth, ela partiu para o sul da França para tentar sua mão em fotografia de rua. Desde o início ela procurou pessoas que poderiam sugerir a corLisette Model rupção da sociedade. suas fo1901-1983) tografias são bastante agressivas. Ela também começou uma série em que ela abaixou a câmera ao nível da calçada para registrar o emaranhado borrado de pés de passagem. As fotos passam um sentimento opressivo, claustrofóbico, como se fosse feito por alguém que tinha perdido o equilíbrio em pânico nas ruas e estava sendo pisoteado pela multidão. Em 1947, lecionou fotografia no San Francisco Institute of Fine Arts e, em 1951, foi convidada a dar aula na New School for Social Research, onde sua amiga de longa data, Berenice Abbott também era professora. Uma de suas alunas mais conhecidas foi Diane Arbus, que estudou com ela em 1957. FOTO FAMOSA:

FOTO FAMOSA:

Running Legs (1940-41). Detroit (1943). EVF_Setembro

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CAPA > Fotografando na Rua Louis Faurer levou a fotografia em uma direção ‘vale-tudo’ durante as décadas de 1940 e 50 com a produção de imagens das ruas de Nova Iorque. Seu estilo de improviso de fotografia de rua tem sido mais comumente associado com Robert Frank. Mas no moLouis Faurer mento em que os dois se co(1916-2001) nheceram em 1947, Faurer já vinha observando o lado sombrio da vida urbana americana por cerca de uma década. Grande parte de seus melhores trabalhos são por buscar o psicológico das pessoas. FOTO FAMOSA:

FOTO FAMOSA: Accident, Nova Iorque (1950).

Murder in Hell’s Kitchen. (n.d.).

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Aaron Siskind (1903 - 1991)

Mais um fotógrafo norte-americano. Depois de terminar a licenciatura em Literatura Inglesa, em 1926, começou a lecionar em várias escolas públicas de Nova Iorque. O seu interesse pela literatura levou-o a escrever poesia, sob forte influência de William Blake. A partir de 1930, ano em que recebeu a sua primeira

Weegee: Richard Sadler FRPS, courtesy of the National Media Museum. Weegee/Divulgação. Louis Faurer: Thomas Lafferty/ Divulgação. Louis Faurer/ Divulgação. Aaron Siskind: Neal Rantoul/ Divulgação.

Weegee nasceu na Ucrânia, mas se mudou com a familia para Nova Iorque em 1909. Amava Nova Iorque, e era amado por essa cidade também. Até então, o único fotógrafo amador que fotografaria uma cena de crime antes da polícia, ele capturou de acidentes de carro Weegee a execuções no submundo (Arthur Fellig) dos cortiços, encontrou sus(1899 - 1968) peitos de assassinato e os registrou em seus momentos mais vulneráveis – ou, como ele mesmo dizia, em seus momentos mais humanos. Para todos os lugares onde ia, fotografava pessoas dormindo: bêbados em bancos de praças, famílias inteiras em escadas de incêndio, homens e mulheres no cinema... No entanto, parecia buscar também o lado bonito, gostava de registrar casais se beijando na praia de Coney Island. Publicou livros de fotografia, mas também trabalhou no cinema, inicialmente fazendo seu próprio curta, e, depois, colaborando com diretores de cinema consagrados como Jack Donohue e Stanley Kubrick.


CAPA > Fotografando na Rua máquina fotográfica, e durante os anos que se seguiram, dedicou-se a fotografar a arquitetura nova iorquina, explorando símbolos e ideias que viriam a tornar-se em preocupações formais na sua visão poético-fotográfica. Aaron Siskind é, por muitos, considerado o pai da fotografia moderna. O seu trabalho libertou a fotografia das preocupações com a mera representação e documentação, transportando-a para o domínio da metáfora poética. FOTO FAMOSA:

rebuscamentos. Criou um novo estilo. Ele se repaginou, mas continuou o mesmo grande artista. Os temas não surpreenderam: lanchonetes de metal e plástico, jukeboxes, longas e infindáveis estradas, saloons, motéis, motocicletas, máquinas para quase tudo, casas de papelão. Mas, o diferencial era que ninguém tinha pensado nisso como a base de uma iconografia coerente. FOTO FAMOSA:

Aaron Siskind/ Divulgação. Robert Frank: Jerry de Wilde/ Divulgação. Robert Frank/ Divulgação. William Klein: Romanceor/Divulgação.

Do livro “The Americans” (1959).

St. Louis 9 (1953).

Robert Frank nasceu em Zurique, na Suíça, e se mudou para os EUA em 1947. Seu trabalho desenvolvido na Europa era quase luxuoso, graficamente muito rico, terno e até poético. No entanto, sua reação foi de espanto ao se deparar com as contradições da cultura Robert Frank americana, com suas dis(1924) paridades inacreditáveis, ao mesmo tempo romântica, pragmática, mercantilista, generosa e fria. Suas fotos passaram a ser secas, enxutas, sem

É fotógrafo, diretor de cinema e pintor norte-americano de origem húngara, que, no entanto, desenvolveu quase toda a sua carreira em Paris, onde vive. É conhecido como ‘Bad Boy’. A carreira artística de Klein começou em Paris em 1948 onde recebeu formação em William Klein pintura. Descobriu a sua pai(1928) xão pela fotografia no princípio dos anos 1950, tendo inicialmente experimentado a fotografia como meio de expressão abstrata, para logo depois ficar fascinado com as capacidades fotográficas de reproduzir o mundo real. As imagens de Klein caracterizam-se pelo apurado uso das distâncias focais das objectivas foEVF_Setembro

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tográficas em relação ao tema, pela iluminação pouco convencional e por motivos desfocados pelo movimento. FOTO FAMOSA:

Broadway and 103rd Street Nova iorque (1954-55)

Roy DeCarava foi um fotógrafo americano que criou algumas das mais icônicas imagens do Movimento dos Direitos Civis e músicos de jazz durante suas apresentações. Foi o primeiro fotógrafo negro a ganhar uma bolsa da Fundação Guggenheim. Em 2006, foi agraRoy DeCarava ciado com a Medalha Na(1919-2009) cional de Artes da National Endowment for the Arts, o maior prêmio dado aos artistas pelo Governo dos Estados Unidos. FOTO FAMOSA:

Man with portfolio (1959).

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Com menos de uma década dedicada à fotografia, Diane Arbus efetuou uma profunda reconsideração das intenções do meio. Seu trabalho se afastou das preocupações centrais da geração anterior. Ela valorizava o psicológico acima da precisão formal, o permanente Diane Arbus acima do efêmero, e cora(1923-1971) gem acima de sutileza. Estas intuições foram perseguidas com inteligência e dedicação. Com raras exceções, Arbus fez fotos só de pessoas. Ela estava interessada neles não pelos seus estilos de vida ou tipos físicos, mas sim porque, para ela, cada um tinha mistérios únicos. Ficou conhecida pelas suas fotografias quadradas de pessoas comuns ou marginalizadas. Certa vez, revelou, no entanto, que tinha medo de que fosse conhecida simplesmente como “a fotógrafa de aberrações”. FOTO FAMOSA:

Child with a toy hand grenade in Central Park, Nova Iorque (1962).

Willian Klein/ Divulgação. Roy DeCarava: Abe Aronow/ Divulgação. Roy DeCarava/ Divulgação. Diane Arbus: Allan Arbus/The Estate of Diane Arbus, LLC/ Divulgação. Diane Arbus/ Divulgação.

CAPA > Fotografando na Rua


CAPA > Fotografando na Rua

Garry Winogrand/ Divulgação. Lee Friedlander: Auto-retrato/ Divulgação. Lee Friendlander// Divulgação. Ray K. Metzker: Fotógrafo desconhecido, Laurence Miller Gallery/New York.

O fotógrafo americano ficou conhecido por ser um dos principais retratistas da vida nos Estados Unidos no inicio dos anos 60. Boa parte de suas fotos retrataram problemas sociais do seu tempo e também o papel da mídia como formadora de opinião. Dentre trabaGarry Winogrand lhos que também se destacaram, está o seu primeiro 1928-1984 livro, The Animals, de 1969, com fotografias feitas em zoológicos, uma coleção de imagens que busca observar as conexões entre os seres humanos e os animais. FOTO FAMOSA:

Center College of Design, em Pasadena e, em 1956, se mudou para Nova Iorque para fotografar músicos de jass para capas de disco. Suas primeiras imagens de rua foram influenciadas por Eugène Atget, Robert Frank e Wlaker Evans. Em 1960, ganhou uma bolsa da Fundação Guggenheim para focar em sua arte, ganhou por mais duas vezes a bolsa, em 1962 e 1977. FOTO FAMOSA:

Nova Iorque (1963)

Los Angeles (1964).

Outro fotógrafo americano de destaque foi Lee Friedlander. Nas décadas de 60 e 70, trabalhando com câmeras Leica de 35 mm, desenvolveu um arquivo visual que explorava paisagens sociais, como reflexos em vitrines de lojas, além de posters e elementos enconLee Friedlander trados unicamente nas ruas. (1934) Estudou fototografia na Art

Também americano, Ray K. Metzer foi um fotógrafo com uma longa carreira e se distinguiu pela qualidade de suas fotos de cidades e paisagens. A grande maioria de suas imagens de rua exibem o conceito do ‘Momento Decisivo’, que, como apontamos, foi introduzido Ray K. Metzker por Bresson. (1931) Logo no começo de sua carreira, seu trabalho foi marcado por uma intensidade fora do comum. Composições complexas, múltiplas exposições, sobreposição de negativos, solarização, entre outros recursos que eram uma constante em seu vocabulário. Foi estudante de Harry Callahan e de Aaron Siskind no Institute of Design in Chicago. E lecionou por muitos em importantes universidades dos Estados Unidos e no México. EVF_Setembro

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CAPA > Fotografando na Rua

Composites: Philadelphia (Apertures) (1965).

A fotografia de rua ganha cor, literalmente, com o americano Joel Meyerowitz em 1962. Foi nesse ano que o fotógrafo iniciou seus trabalhos em cores e foi um dos primeiros a advogar pelo uso da cor enquanto havia muita resistência à ideia de que fotografias asJoel Meyerowitz sim também devessem ser (1938) consideradas arte. Inspirado principalmente por Robert Frank, Cartier Bresson e Eugène Atget, Meyerowitz pediu demissão de seu trabalho como diretor de arte em uma agência de publicidade e saiu às ruas de Nova Iorque munido de uma câmera 35mm e filmes preto e branco. Depois de um tempo alternando entre cor e PB, em 1972 ele adotou definitivamente a cor em suas fotos. Seu trabalho já apareceu em mais de 350 exibições em museus e galerias ao redor do mundo. É também autor de 17 livros, sendo que sua primeira publicação, Cape Light, é considerada um trabalho clássico de fotos em cores e vendeu mais de 100 mil cópias.

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FOTO FAMOSA

Nova Iorque (1976)

William Eggleston (1939)

Outro que se rendeu à fotografia em cores foi William Eggleston. Desde seus primeiros trabalhos, foi influenciado por Robert Frank e pelo conceito de ‘Momento Decisivo’, de Bresson. Embora, assim como Meyerowitz, tenha começado a fotografar em PB, em 1965 se aventurou nas imagens coloridas e não largou mais.

FOTO FAMOSA:

Miami (década de 1980)

Ray K. Metzker/ Divulgação. Joel Meyerowitz/ Divulgação. William Eggleston: Maude Schuyler Clay/ DIvulgação.. Willian Eggleston/ Divulgação.

FOTO FAMOSA:


CAPA > Fotografando na Rua

Alex Webb: Autorretrato/ Divulgação. Alex Webb/ DIvulgação. Philip-Lorca diCorcia: Linlee Allen/ Divulgação. Philip-Lorca diCorcia/ Divulgação. Vivian Maier: Autorretrato/ Divulgação.

Nascido em São Francisco, na California, Webb estudou história e literatura na Universidade de Harvard e fotografia no Carpenter Center for Visual Arts. Desde 1975, participou de inúmeras exposições pelo mundo e seu trabalho integra diversas instituições de arte e Alex Webb fotografia. Também ganhou (1952) vários e importantes prêmios durante sua carreira. Fotografou para revistas como GEO, Time, New Your Times Magazine e National Goegraphic. Faz parte da aclamada agência Magnum Photos. Também prefere fotografar em cores. FOTO FAMOSA:

cional do cinema e da publicidade, que cria um vínculo poderoso entre realidade, fantasia e desejo. No começo da sua carreria, na década de 70, ele costumava posicionar amigos e familiares de forma com que o leitor pensasse que a foto teria sido espontânea. Mas construiu seu nome fotografando pessoas aleatórias em espaços urbanos ao redor do mundo. FOTO FAMOSA:

Texas (1990).

Vivian Maier

Port au Prince (1987).

Philip-Lorca diCorcia (1951)

DiCorcia alterna de clicks informais a fotos icônicas com composições cuidadosamente pensadas. Dessa forma, o fotógrafo amercicano procura distanciar fatos diários da banalidade, utilizando se da emoção em cenas da vida real. Seu trabalho pode ser facilmente descrito como fotografia documental misturado com o mundo fic-

A obra de Vivian Mayer foi descoberta por acaso em 2009. E logo se tornou um dos maiores tesouros fotográficos do século passado. São cerca de 100 mil imagens feitas pela norte-americana, que, durante toda (1926-2009) sua vida, tirou sustento de sua profissão como babá. “Trata-se de uma das fotógrafas de rua mais argutas dos Estados Unidos”, escreveu David W. Dunlap em um artigo no The New York Times. Conheça o trabalho de Vivian Maier:

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AS COISAS COMO ELAS Sテグ Armando Prado, renomado fotテウgrafo brasileiro, conta os detalhes de sua vida e de como venceu na profissテ」o

tEXTO E FOTO: Bruno Schuveizer


perfil: Armando prado

“A

contemplação das coisas como elas são, sem substituição ou impostura, sem erro ou confusão, é em si mesma uma coisa mais nobre do que uma colheita inteira de invenção”, a frase, dita pelo filósofo inglês Francis Bacon, resumiu não só uma recente exposição de Armando Prado, mas também a sua maneira de enxergar e de registrar.

São 11 horas da manhã de um sábado frio de sol, e Armando está parado, sozinho, em frente à galeria Fauna, no bairro Jardim Paulista, em São Paulo. Muito bem vestido, olha desconfiado e, quando me aproximo, pergunta já com um sorriso no rosto: “É você, quem fará a entrevista?” Sim, respondo, já mais tranquilo com a gentil recepção. Esperamos alguns minutos até que sua filha, dona da Galeria, chegasse para abrir o espaço. Ele aproveita para mostrar, empolgado, uma resenha sobre a exposição em uma revista. Armando, desde quando começou na fotografia, tem uma ligação muito forte com revistas, já trabalhou para várias publicações importantes, já viu muitas fotos suas publicadas, mas, desta vez, parece demonstrar um orgulho maior ao apontar uma das fotos na revista.“A crítica elegeu essa exposição como uma das cincos mais bem avaliadas atualmente. Esta aqui é uma das fotos minhas que estão expostas hoje.” Sua filha chega e entramos. Ele conta que quando tinha 18 anos, no ápice da ditadura militar, por falta de opção na época, entrou para a faculdade de economia. Mas ao assistir ao filme Blow-Up, de 1966, do diretor italiano Michelangelo Antonioni (1972-2007) e baseado nos contos do escritor argentino Julio Cortázar (1914-1984), decidiu o que faria da vida: seria fotógrafo. “No filme, o cara é um profissional liberal como fotógrafo, trabalha para várias revistas, vários jornais, fazendo reportagens, faz fotos de moda, publicidade, tem um estúdio, namora com boas mulheres, toma bons vinhos... Tudo o que

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Armando já viajou para vários países e tem um vasto portfólio de fotografias de rua. Foto feita em Tokyo, em 1986. eu queria! (risos)”. Começou a fazer trabalhos freelances como fotógrafo para a revista Música. Armando revela que também é músico e toca guitarra e violão desde os 12 anos de idade e também canta, já teve banda, mas brinca que hoje está em carreira solo. Conta que nessa época, já com uns 20 anos, viu um anúncio em um jornal sobre uma vaga de repórter fotográfico para os jornais O Estado de S. Paulo e Jornal da Tarde, se inscreveu e foi fazer a entrevista com o editor de fotografia. Lembra que seguiu a dica de um amigo para levar não só fotos individuais no portfólio, mas também levar a folha de contatos (folha com fotogramas


perfil: Armando prado

Fotos: Armando Prado

Roma, 1980.

de um filme completo). O editor gostou do que viu e pediu para que Armando já começasse no dia seguinte. “Entrei lá logo após a morte de Vladimir Herzog, era uma época muito difícil, eu chegava na redação e perguntava pelos colegas e ficava sabendo que tinham sido presos, torturados. Às vezes, na redação, via os caras do DOI CODI, eu os identificava porque eles usavam botas com bico de aço pra chutar os caras”, lembra. O fotógrafo acende um cigarro e conta que paralelamente ao trabalho preto e branco para os dois jornais, em 1977, comprou uma Polaroid SX-70 e começou um trabalho autoral, encantado

com a possibilidade de poder ver na hora as fotos reveladas. Fotografava de forma quase diarística, contando sua vida, suas angústias e alegrias. Uma forma de se satisfazer. Levou essa câmera à tira-colo até 2008 -- quando o filme para Polaroid foi descontinuado. Ao todo foram cerca de duas mil fotos Polaroid, e após 6 meses de edição, 12 dessas imagens foram selecionadas e ganharam ampliações de 110 x 110 cm para a exposição. Em 1980, com a greve dos jornalistas, e como muitos profissionais estavam sendo mandados embora dos jornais, Armando resolveu sair do Estadão. Começou a trabalhar para uma revista chamada Tênis Esporte, para a qual cobriu granEVF_Setembro

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Fotos: Armando Prado


perfil: Armando prado

des torneios de tênis em vários países. Assumiu os cargos de editor de fotografia e fotógrafo. Ficou lá por três anos, até quando a publicação acabou. Em seguida, começou a fazer freelances para revistas como Veja, Isto É, entre outras. Foi nessa época que descobriu o mercado da fotografia de moda. “Eu comecei a sacar que na Abril havia as fotografias de moda, que pagavam mais”. Ficou 20 anos fazendo fotografia de moda e publicidade, montou estúdio e fez alguns trabalhos de grande importância. Acende outro cigarro. Esse dinheiro a mais foi importante, criou quatro filhos com a fotografia. Em meio às lembranças profissionais, Prado revela um trabalho autoral inédito, que ainda está na “incubadora”, como diz, chamado “São Paulo Cor 77-80”, fotografado em cor e com filme transparência na época em que estava no Estadão. “Esse trabalho tem um caráter documental e histórico, mostra importantes momentos como o surgimento dos primeiros pastores no Brasil e a americanização da nossa sociedade”, diz, “pretendo mostrar esse projeto em um espaço institucional junto aos sons da época”, completa. Trabalhos autorais, ao longo de sua vida, foram fundamentais, afirma Armando. “Eu tive essa percepção, que alguns colegas não tiveram, de ter feito isso, se não eu estaria fodido (risos), não teria vivido até hoje”. Seu último trabalho comercial foi feito entre 2006 e 2007, que foi a propaganda visual do filme ‘Meu nome não é Johny’. Enquanto falava sobre isso, acendeu outro cigarro. Depois, diz, começou a dar aula de fotojornalismo e história da fotografia na Metodista, na Anhembi Morumbi, e como professor convidado da pós-graduação em fotografia da FAAP.

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oi nessa época que começou a investir também na venda de seus trabalhos artísticos, em galerias e pelo site fotospost.com.br. Mas Armando deixa claro que a vida não ficou mais fácil nesse ramo. “Você depende da crítica positiva, tem que ser super atuante, aparecer nas festas, conhecer os colecionadores, é um trabalho muito desgastante também”. “Agora eu quero resgatar esse trabalho meu,

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Tive a sacada de fazer trabalhos autorais. senão, não teria vivido até hoje.”


Perfil: Armando Prado

Foto: Armando Prado

“Onibus Executivo”. Cena fotografada em São Paulo, em 1978.

que desenvolvi ao longo da minha carreira e que ainda não vieram à tona”. Armando me convida a ver cada imagem exposta. Pergunto se as fotos estão organizadas por ordem cronológica e ele me explica que sim, mas que estão assim por acaso. Ele conta que para a edição, ele selecionou primeiramente 100 fotos, e que pretendia expor todas, mas não o fez porque precisaria mudar todo esquema de iluminação da galeria. Então, dessas ele selecionou 12 e montou uma maquete simulando a exposição para ver como elas ficariam melhores organizadas no espaço da galeria. “Eu peguei uma câmera GoPro pequena e fiz um passeio filman-

do a maquete para ter a sensação de como seria estar na exposição aos olhos de um visitante. Então falei: é isso”. Cada foto tem uma história muito particular e conta um momento único na vida do fotógrafo. Ao terminar de percorrermos a galeria, nos deparamos com a Polaroid usada e com o texto publicitário utilizado em seu lançamento, em 1977. Assim como na cena final de Blow-Up, na qual o fotógrafo protagonista deve lançar uma bola de tênis imaginária, Armando Prado também teve de lançá-la. E o fez com maestria.

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Quando a paixão fala mais alto Alécio Nunes largou a estabilidade da carreira em um banco para se tornar fotógrafo. 30 anos depois, ele afirma: “Eu sou um homem realizado!” Texto e foto: Bruno Schuveizer 58 EVF_Setembro


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Alécio Nunes

sso não dá mais pra mim!” Com essas palavras Alécio Nunes, 51, tomou a decisão mais importante de sua carreira. Era o inicio da década de 80 e ele ainda tinha apenas 20 anos, mas já com personalidade de gente grande. Trabalhava em um banco, com um futuro estável garantido, sonho de muitos, ainda mais naquela época, mas não queria ficar preso em um escritório cumprindo metas. Queria liberdade. Apaixonado por fotografia, já havia feito o curso no SENAC para se especializar e se jogou de vez nesse novo mundo. Aprendeu publicidade, moda, vitrinísmo e fotojornalismo. Conseguiu estágio com alguns grandes fotógrafos, fez bons contatos e, em pouco tempo, já estava inserido no meio. Foram cerca de seis meses de estágio com fotógrafos de publicidade, passou por moda, e em seguida foi trabalhar com fotojornalismo. Em três anos, fez trabalhos para grandes veículos como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo e Diário de S. Paulo. “O estágio é muito importante, principalmente para o fotógrafo se descobrir, descobrir qual área mais o atrai”, conta. Conseguiu um trabalho fixo em uma revista especializada em artes marciais, então chamada de Combate Esportes. “Eu já entendia desse meio, das artes marciais, e assim conseguia com mais

facilidade identificar o melhor momento para o click”, diz. “E, naquela época, o click tinha que ser certeiro, porque eu trabalhava em cromos 6x6 ou 6x7, com uma Hasselblad ou uma Mamyia, e era muito difícil congelar o momento, tinha apenas 10 fotos, não é como hoje, com o digital”, completa. Nos dois anos em que ficou na revista, fez 12 capas. Já com conhecimento de mercado e considerável bagagem, resolveu montar seu primeiro estúdio de fotografia. Mas essa nova empreitada era cara e incerta, por isso decidiu antes fazer um ‘laboratório’, a fim de mais aprendizado e experiência. Alugava um estúdio para fotografia de moda. Alécio demonstra certo orgulho em dizer que ele foi o primeiro a fotografar profissionalmente a modelo Ana Paula Arósio. Freqeuntava também o ‘Cine Foto Clube Bandeirantes’, muito conhecido entre os fotógrafos da época. “Os fotógrafos do clube se reuniam e debatiam sobre as fotos de cada um. O que se buscou com tal fotografia, o que tinha de errado, o que surpreendia... Isso não existe mais hoje, mas era muito legal, aprendi muito lá”, fala enquanto esboça um sorriso nostálgico. Ao todo, Alécio teve três estúdios depois disso.

Capa do primeiro disco de Frank Aguiar, feita por Alécio em 1992. Ele fotografou inúmeros outros artistas de vários gêneros musicais para as capas de seus discos.

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No começo da década de 90, achou que podia explorar novos caminhos. A proposta? Composição de capas de discos, um mercado pouquíssimo explorado. Na época, apenas dois fotógrafos faziam isso no Brasil. Alécio foi assistente de um deles por cerca de dois anos. Um “argentino ou uruguaio” chamado Ramón muito talentoso que dominava como poucos a arte da composição e da iluminação. “A sua agenda era muito apertada, ele não conseguia, por exemplo, fazer trabalhos para uma dupla sertaneja lá de Matão, no interior de São paulo, ele não tinha essa disponibilidade, eu tinha”. Nesse período viajou bastante, e pode ter sido aqui que um outro sonho seu começou a ganhar forma: viajar o mundo em busca de belas

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Todos me diziam pra eu tentar, aquele velho ‘vai que dá’. Então eu fui.”

Alécio Nunes

perfil: Alécio nunes


Arquivo Pessoal

perfil: Alécio nunes

imagens. Alécio, de certa forma, tinha proximidade com ecoturismo, já praticava montanhismo e também se graduou em turismo. Era sempre convidado a guiar grupos para uma agencia do ramo. Ficou uns 10 anos exercendo as duas profissões. Quando a agencia quebrou, ele foi forçado a entrar de vez nesse mercado. “No começo, eu pensava: Não, não vou entrar, é muita pauleira... mas todos me diziam pra tentar, aquele velho ‘vai, que dá’, e fui, montei minha agência, a Namaste. Mas no primeiro ano, eu novamente fiz um laboratório, precisava ter certeza de que daria certo e de que aquilo era o que eu queria”. Começou, aos poucos, a se dedicar totalmente

a esse novo desafio. “Trocar de profissão, encarar uma nova jornada, isso, no começo, foi super difícil...”. Ele lembra que ainda recebia propostas para fazer capas de discos, o que o ajudava a complementar a renda. A agência em poucos minutos se tornava um estúdio para a realização desses trabalhos pontuais, e, em seguida, voltava a virar agência de novo. Todas as imagens de divulgação da Namaste são feitas pelo Alécio. Ele soube unir muito bem as suas duas paixões. Mas é responsável e dedicado, explica que quando outras pessoas estão envolvidas, a sua principal missão é garantir o conforto e segurança de todos, o que acaba o deixando sem tempo pra fotografar em suas EVF_Setembro

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Alécio Nunes/ Arquivo Namaste

perfil: Alécio nunes

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Perfil: Alécio nunes

Alécio Nunes

Conheça mais sobre a Namaste Ecoturismo:

expedições. Mas ele conta que sempre há exceções. “No último fim de semana, por exemplo, nós observamos um por do sol lindo, e todo mundo pegou sua câmera e começou a fotografar no automático. Então falei: Gente, vamos colocar no manual e trabalhar mais essas fotos! Então comecei a ensinar o básico para eles e aquele momento acabou virando também uma aula de fotografia, todos gostaram!”. A Namaste já tem 17 anos e faz cerca de três viagens por mês para os mais diferentes e bonitos lugares do Brasil e do mundo. Alécio coleciona fotos exuberantes de todos esses lugares e é categórico: “Hoje eu sou um homem realizado, mais que isso, sou extremamente feliz com as minhas escolhas”. EVF_Setembro

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20 dicas

Grandes centros urbanos 01

Paciência Fotografia de rua não tem a ver com tirar 326 fotos em duas horas. Paciência para capturar a melhor imagem é fundamental. Evite fotografar tudo o que vê, com o tempo você vai treinando o seu olhar para registrar apenas aquilo que realmente é interessante.

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Atenção É preciso estar atento a tudo o que acontece a sua volta, pois, numa fração de segundo, você pode se deparar com uma ótima cena. Por isso, mais uma vez, em vez de fotografar tudo o que vê, fique atento, não perca uma boa foto enquanto fotografa algo sem interesse.

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Não olhe nos olhos Ao fotografar pessoas, uma boa dica é nunca olhá-las nos olhos, isso faz com que elas fiquem na dúvida se você realmente as fotografou ou se só clicou a paisagem. Diminui as chances de pedirem para apagar a foto.

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Exposição Experimentar diferentes exposições também pode render fotos interessantes. Subexpor algumas fotos, por exemplo, pode revelar um clima mais dramático, enquanto superexpor pode dar ao click uma aparência mais leve e tranquila.


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Enquadramento Em todas as áreas da fotografia um bom enquadramento é fundamental, e em Street não é diferente. Por mais interessante que a cena seja, sem um enquadramento bem feito ela poderá perder toda a chance de chamar a atenção.

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Olhar Olhares sempre conseguem transmitir uma série de emoções e sentimentos, além da essência de cada pessoa fotografada. Fotos que exploram isso de maneira bem feita, sempre chamam atenção do observador.

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Caminhe Além de fazer bem para o corpo e mente, caminhar é uma boa maneira de conseguir boas fotos de rua. Assim você se deparará com diferentes situações em diferentes lugares.

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Fique parado Em contrapartida, escolher um lugar para esperar também pode ser uma boa ideia. Quando achar um plano de fundo legal, vale a pena esperar por personagens que completem a cena.

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Fotos: Bruno Schuveizer

Contraste Em fotografia de rua, o contraste é muito importante para atrair mais atenção para a foto. Procure cenas contrastantes e treine o olhar. O resultado é bom tanto para fotos em cores como, principalmente, em P&B.

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Linhas Quando linhas fazem parte da composição, a foto ganha um aspecto mais chamativo e um diferencial que pode indicar desde movimento até completa estabilidade na cena. Faixas de pedestres, por exemplo, sempre ficam interessantes na imagens.

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20 dicas > grandes centros urbanos

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Arquitetura Em grandes centros urbanos, a arquitetura do local sempre pode ser bem aproveitada para fazer fotos realmente boas. Construções antigas, ou mesmo prédios modernos podem ajudar a compor a foto e torná-la mais interessante.

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Sombras Quando facilmente reconhecidas e se bem utilizadas, as sombras podem ser um assunto muito interessante. Sombras de pessoas com guarda-chuvas e ciclistas, por exemplo, são fantásticas.

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Agilidade Essencial para registrar o momento exato, ter agilidade faz toda a diferença na fotografia de rua. É preciso ser rápido para não perder o click. Um segundo pode ser o suficiente entre uma foto magnifica e uma comum.


dicas > grandes centros urbanos

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Cuidado com o equipamento Infelizmente, sair por ai com uma câmera cara na mão não é seguro, principalmente em grandes centros urbanos. Por isso, todo cuidado é pouco. Evite pendurar a câmera no pescoço, por exemplo, e procure usar roupas discretas que camuflem o equipamento. Fique sempre atento.

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leve pouco equipamento Quando sair para fotografar na rua, evite levar mais do que realmente precisa. Para muitos fotógrafos, apenas uma câmera e uma lente são suficientes para conseguir fotos impressionantes. Assim você não se cansa muito e não chama atenção de ladrões.

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Seja discreto Ao ser discreto você pode conseguir clicks muito mais interessantes, pois assim você garante mais naturalidade e espontaneidade às suas imagens. Evite roupas chamativas e deixar a câmera facilmente visível.

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Fotografe em P&B Clássica e elegante, a fotografia de rua em P&B é sempre a primeira opção para muita gente. Ao optar por preto e branco, você destaca as formas e contornos na cena, além de dar mais dramaticidade à foto.

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fotografe em cor Muitos fotógrafos só fotografam em P&B, mas fotos de rua também podem ficar muito interessantes se feitas em cores. Em alguns casos, isso é ainda mais recomendável do que optar pelo preto e branco. Quando as cores na cena são importantes para a composição, não pense duas vezes.

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Fotos: Bruno Schuveizer

Aproxime-se Fotografar com uma teleobjetiva nunca é mesma coisa do que chegar perto do assunto para clicar. Lentes prime normais e grande-angulares são historicamente as preferidas para Street, com elas é possível criar composições mais abrangentes e interessantes.

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Pratique A última dica é também a mais importante. Para alcançar resultados realmente surpreendentes é fundamental praticar o máximo possível para treinar o olhar e descobrir o seu próprio estilo. EVF_Setembro

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Cartão de memória A cada edição uma foto que ficou para a história

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foto acima é uma das mais representativas -- e talvez a mais importante imagem -- do fotógrafo Robert Capa. Capa, que adquiriu experiência ainda jovem durante a Guerra Civil Espanhola, ficou mundialmente famoso e foi considerado pela revista britânica Picture Post o “maior fotógrafo de guerra do mundo”, com apenas 25 anos,. A imagem, que não escapou de polêmicas sobre sua veracidade, já rodou o mundo e é icônica, justamente por retratar o horror da guerra. Podemos observar alguns elementos que chamam a

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atenção e a tornam tão impactante, como: - a posição em que o corpo vai cair após ser alvejado por uma bala; - a mão que solta o rifle depois do impacto do tiro; - a frieza de Capa para fazer o registro diante de uma situação bastante trágica. Imagens assim, que conseguem comprovar o terror que é uma guerra e que, mais do que tudo, ajudaram o fotojornalismo a se tornar tão importante no mercado das notícias. Rodrigo Cruz

Robert Capa/Divulgação

Morte de um miliciano legalista - Robert Capa. Cerro Muriano, 5 de Setembro de 1936.


Cultura

Livros, músicas e filmes LIVRO - Challenging Your Dreams Brasil Por Terra

DOCUMENTÁRIO Evorybory Street

Depois da volta ao mundo, Grace e Robert logo começaram a sonhar com a próxima aventura. Com tanto para ser descoberto aqui no Brasil, foi apenas uma questão de tempo até voltarem à estrada. Durante doze meses incríveis, mais uma vez viajando e vivendo em seu Land Rover, eles exploraram cada canto deste imenso país. Fora da rota comum e indo além, estavam determinados a descobrir o verdadeiro Brasil. Muito mais do que uma maravilhosa jornada, esta história despertará em você a vontade de sair e descobrir tudo por si mesmo.

O documentário retrata a vida e o trabalho dos mais icônicos fotógrafos de Nova Iorque e como essa incomparável cidade os inspirou por décadas. “Everybory Street” faz um tributo ao espirito da fotografia de rua por meio de uma exploração cinematográfica de Nova Iorque e captura a velocidade e a singular perseverança dos artistas, além de mostrar os riscos que eles enfrentaram ao realizar seus trabalhos nessa grande metrópole.

Dados Técnicos Editora Aleph 1ª Edição: 2013 Formato: 27 x 24 Número de páginas: 300 Acabamento: Capa Dura ISBN: 978-85-907194-0-3 Idioma: Português

Fotógrafos participantes Bruce Davidson, Elliott Erwitt, Jill Freedman, Bruce Gilden, Joel Meyerowitz, Rebecca Lepkoff, Mary Ellen Mark, Jeff Mermelstein, Clayton Patterson, Ricky Powell, Jamel Shabazz, Martha Cooper e Boogie.

Divulgação. Arquivo pessoal

Estou ouvindo...

Bianca Fernandes

22 anos Estudante de fotografia “Adoro fotografar detalhes, cenas urbanas e pessoas.”

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Sun - Two Door Cinema Club Safe and Sound - Capital Cities Mais Ninguém - Banda do Mar Take a Walk - Passion Pit Snap Out of It - Arctic Monkeys

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Crônica

Diários de um fotógrafo anônimo

usei o Keith como câmera, e

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odemos dizer que existem dois tipos de pessoas, as que gostam de música e as que não gostam muito. Quando um fotógrafo me diz que não gosta muito, devo admitir que fico ‘com um pé atrás’. Dia desses mostrei uma foto que fiz no centro velho de São Paulo a um amigo. Ele tem se interessado muito por fotografia e vendo fotos do Bresson, resolveu que a fotografia de rua seria o que ele faria. De família privilegiada, não teve grandes dificuldades para comprar logo de cara uma Leica M9. Ao ver a foto, me fez uma pergunta que, confesso, me deixou um pouco decepcionado... – Qual câmera você usou pra fazer essa foto? – Disse ele. – Gostou? Que bom! – Respondi. – Sim, tenho acompanhado seu trabalho. Muito Bom! Mas, conta aí, qual câmera você usou? – Por que você quer saber? – Ah, curiosidade... – Você ficou curioso em saber quais pinceis Portinari usou pra pintar Guerra e Paz? – Não... – Por que essa curiosidade em saber qual câmera eu usei, então? – Ah, é que sabe, minha câmera é tão complicada... Estou pensando em mudar de equipamento. – Entendo... mas, olha, você sabe que Bresson usava uma Leica pra fotografar as ruas de Paris,

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certo? – Sim... – E você tem uma Leica, certo? – Sim... – E você considera as suas fotos tão boas quanto as que Bresson fez? – Não... – Bresson ficou conhecido como um dos maiores fotógrafos por que usava uma Leica ou por causa das fotos que fazia? Já imaginou como seriam os comentários? “Não temos dúvida que Bresson seria um fotógrafo medíocre sem sua Leica!” ou “Que Bresson, o da Leica? Ah, por que não disse antes...” ou ainda:”‘Adoro as fotos da Leica, que usava o Bresson pra fazer belas imagens das ruas parisienses...” – Bom... – Percebe agora? Não importa qual pincel Portinari usava, ou se Bresson não saía pra fotografar sem sua Leica, os dois criavam sua arte com suas experiências, cultura, referências, não só pelo equipamento que usavam... – Mas uma câmera faz diferença em um trabalho. Essa você tem que admitir. – Admito. – Então? – O que quero dizer é que Keith Richards pode tocar com uma Golden, e eu, com uma Gibson. Quem tocará melhor? O criador do riff – genial –


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entende? de Satisfaction, claro! Mas se ele tocar com uma Gibson, aí fica melhor ainda! – Quando comprei minha Leica M9, me imaginava fotografando São Paulo e criando verdadeiras fotografias de rua! – É o que todos nós imaginamos, acredite... – Mas vi que minhas fotos não conseguem nem muitos ‘likes’ no facebook... – Pude reparar isso também... – E então vejo algumas fotos e fico com vontade de fazer parecido. Não igual, mas parecido, entende? – Claro... isso podemos chamar de referências. Quanto mais referências, ou seja, quanto mais fotógrafos você conhecer e dedicar um tempo a conhecer seus trabalhos, mais interessantes sua fotos se tornarão. – Já me disseram isso... Mas acredito que posso fazer minha própria arte! Não acho que isso seja tão importante... E aliás, o que Keith Richards tem a ver com fotografia? – Richards? Diretamente, nada... Mas indiretamente, tudo. – Como assim? Não entendo você. – Você diz que gosta de arte, que queria criar como um artista. Como acha que um artista se desenvolve? – Ah, sei lá! Vocação, talvez... Acho que também tem a ver com paixão, e sou apaixonado por

fotografia! – Essas, sem dúvida, entram na lista, mas um artista não se limita a tão pouco... o artista precisa de mais: precisa, acima de tudo, de arte! E que não seja só a arte que ele faz... – Está dizendo que ouvir música pode me ajudar a fazer fotos melhores? – Sim, e bem melhores. – O quê? – Estou dizendo que você pode crescer muito absorvendo arte, em suas várias formas. – Não vejo muito sentido nisso. – Aposto que não. – Você está parecendo irônico... – Às vezes me dizem isso, mas não acho... – É, parece... – Bom, respondendo à usa pergunta inicial, para criar essa foto usei tudo isso que citei aí em cima e mais umas tantas outras referências, desde Portinari, Monet, passando por Hermam Melville, Dostoiéviski, Machado de Assis, Jack Kerouac, Cartier-Bresson, Kevin Carter, Robert Capa, Morrisey, Keith Richards, Keith Moon, Bowie... Isso só pra citar 3 campos da arte! – Está dizendo que essa foto tem tudo isso? – Sim, estou. Ah, e só pra constar: minha câmera é, tecnicamente falando, bem inferior à sua e custou umas dez vezes menos... EVF_Setembro

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Mutante

A cada edição algo diferente

Reprodução

E na edição de estréia da EVF, nada mais adequado do que estabelecer as ‘Regras de Convivência’ na redação.

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A evf#2 sai em Novembro 74 EVF_Setembro


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