Em Família | Marista São Francisco

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1º Semestre • 2015 | 15ª edição

Corrente do bem

Em todo tempo, somos convidados a praticar atos de solidariedade e fazer parte dessa corrente do bem. Mas, será que ser solidário é algo que se aprende?

SOLIDARIEDADE

Unidade Propulsão, uma proposta Marista inovadora, acolhe jovens que fazem uso abusivo de álcool e outras drogas.

DIA A DIA

Já pensou em receber um intercambista em casa? Confira dicas e embarque nessa aventura cultural.



Combinação única de bons valores e excelência.

O Grupo Marista conta com milhares de pessoas que, diariamente, vivenciam e disseminam importantes valores humanos e cristãos com o compromisso de promover e defender os direitos das crianças e dos jovens. Faz parte do jeito Marista a busca constante por excelência. Na área da

educação, da escola à universidade, formamos pessoas e trazemos resultados comprovados. Em atividades nas áreas de saúde e comunicação, levamos sempre a melhor qualidade para públicos de diferentes condições e necessidades. Em todas essas áreas, a ação social está presente

BRASÍLIA Colégio Marista de Brasília - Ensino Fundamental SGAS 609 CONJ A - Bairro Asa Sul - Brasília-DF CEP 70200-690 | (61) 3442-9400

Superior Provincial Ir. Joaquim Sperandio Presidente do Grupo Marista Ir. Delcio Afonso Balestrin Superintendente Executivo do Grupo Marista Paulo Serino Diretor da Rede de Colégios Ir. Vanderlei Siqueira dos Santos Diretor de Marketing E COMUNICAÇÃO Stephan Younes

Rua Imaculada Conceição, 1155, Prado Velho Curitiba-PR | Prédio Administrativo PUCPR 8º andar - CEP: 80215-901 | Tel.: (41)3271-6500

www.colegiosmaristas.com.br

Colégio Marista de Brasília - Ensino Médio SGAS 615 CONJ C - Bairro Asa Sul - Brasília-DF CEP 70200-750 | (61) 3445-6900 Colégio Maristinha Pio XII - Educação Infantil e 1º Ano do Ensino Fundamental SGAS 609, Módulo C - Bairro Asa Sul - Brasília-DF CEP 70200-690 | (61) 3442-9400 SÃO PAULO Colégio Marista de Ribeirão Preto Rua Bernardino de Campos, 550 - Higienopólis Ribeirão Preto-SP - CEP 14015-130 | (16) 3977-1400 Colégio Marista Arquidiocesano Rua Domingos de Moraes, 2565 - Vila Mariana São Paulo-SP - CEP 04035-000 | (11) 5081-8444 Colégio Marista Nossa Senhora da Glória Rua Justo Azambuja, 267 - Cambuci - São Paulo-SP CEP 01518-000 | (11) 3207-5866 PARANÁ Colégio Marista Paranaense Rua Bispo Dom José, 2674 - Seminário - Curitiba-PR (41) 3016-2552 Colégio Marista Santa Maria Rua Prof. Joaquim de M. Barreto, 98 - São Lourenço Curitiba-PR CEP 82200-210 | (41) 3074-2500

15ª Edição | 1º Semestre 2015 Periodicidade Semestral

com iniciativas alinhadas ao posicionamento institucional, mas também atuamos diretamente, por meio de uma ampla rede de solidariedade. Bons valores e excelência. Nossa missão é proporcionar essa combinação única para a construção de um mundo melhor.

Colégio Marista de Cascavel Rua Paraná, 2680 - Centro - Cascavel-PR CEP 85812-011 | (45) 3036-6000 Colégio Marista de Londrina Rua Maringá, 78 - Jardim dos Bancários - Londrina-PR CEP 86060-000 | (43) 3374-3600 Colégio Marista de Maringá Rua São Marcelino Champagnat, 130 - Centro Maringá-PR - CEP 87010-430 | (44) 3220-4224 Colégio Marista Pio XII Rua Rodrigues Alves, 701 - Jardim Carvalho Ponta Grossa-PR - CEP 84015-440 | (42) 3224-0374 SANTA CATARINA Colégio Marista São Francisco Rua Marechal F. Peixoto, 550L - Chapecó- SC CEP 89801-500 | (49) 3322-3332 Colégio Marista de Criciúma Rua Antonio de Lucca, 334 - Criciúma-SC CEP 88811-503 | (48) 3437-9122 Colégio Marista São Luís Rua Mal. Deodoro da Fonseca, 520 - Centro Jaraguá do Sul-SC - CEP 89251-700 | (47) 3371-0313 Colégio Marista Frei Rogério Rua Frei Rogério, 596 - Joaçaba-SC - CEP 89600-000 (49) 3522-1144 GOIÂNIA Colégio Marista de Goiânia Avenida Oitenta e Cinco, 1440 - Santa Marista Goiânia-GO - CEP 74.160-010 | (62) 4009-5875

Revisão Lumos | Bureau de Traduções

EDIÇÃO Diretoria de Marketing e Comunicação do Grupo Marista Eduardo Correa e Vivian Lemos

Envie comentários, críticas e sugestões sobre a revista para o email conteudo@grupomarista.org.br

REDAÇÃO

PUBLICIDADE R. Amauri Lange Silvério, 270 Pilarzinho Curitiba-PR – CEP: 82120-000 Para anunciar, ligue: (41) 3271-4700 www.grupolumen.com.br

Jornalista responsável: Rulian Maftum / DRT Nº 4646 Supervisão: Maria Fernanda Rocha (Lumen Comunicação) Edição de arte: Julyana Werneck PROJETO GRÁFICO Estúdio Sem Dublê | semduble.com

Capa Fernando Pereira,

estudante do Colégio Marista Santa Maria, de Curitiba (PR), sua mãe Patrícia, Goivana Ohta, do 3º ano, e o monitor de alunos Luciano Silva.

FOTO DE CAPA Gilberto do Rosário © Todos os direitos reservados. Todas as opiniões são de responsabilidade dos respectivos autores.

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índice

capa

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Que fatores influenciam na prática da solidariedade? Afinal, ser solidário é algo que se aprende?

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dia a dia

entrevista

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A história do Instituto Marista nasce de um ato de solidariedade, o qual, até hoje, é um convite a sociedade para agir com compaixão.

Acolher um intercambista em casa é uma experiência enriquecedora. Confira dicas de uma boa convivência e conheça a história da família Javorski, que está recebendo o neo-zeolandês Jacob Pritchard.

essência

solidariedade

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O Irmão Alvanei Finamor relembra os primórdios do Instituto Marista e reforça a importância de se doar ao próximo nos dias atuais.

Conheça a Unidade Propulsão, uma proposta que contribui para que adolescentes que fazem uso abusivo de álcool e outras drogas ressignifiquem suas vidas.

como fazer

compartilhar

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diversão

olhar

curiosidade

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Veja de que forma a juventude Marista se organiza e defende suas ideias por meio das Comissões da Juventude.

Conhecer mais de perto a cultura indígena é se aproximar da nossa origem. Descubra roteiros em aldeias e reservas que, além de divertidos, são uma verdadeira aula de História.

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César Ribeiro, coordenador de Pastoral do Colégio Marista de Maringá (PR), traz uma reflexão sobre os fatores que influenciam as práticas de solidariedade e os novos posicionamentos Maristas sobre o tema.

Confira dicas de livros, filmes e aplicativos indicados pelos professores dos Colégios Maristas.

O sociólogo Eurico Cursino, da Universidade de Brasília, comenta sobre fatores que podem levar jovens a se envolver em lutas radicais, como as propostas pelo Estado Islâmico.

índice

seu colégio

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Confira as matérias elaboradas exclusivamente para o seu Colégio.

Pesquisa internacional traça panorama de solidariedade no mundo. Confira o ranking de países mais solidários.


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1ª impressão

or uma compreensão mais ampla da solidariedade apostólico é bicentenário nas suas realizações por muitos países do mundo. No Brasil, ele começou em 1897, em Minas Gerais. Em 2017, o Instituto Marista completa 200 anos. O Ir. Emile Turú, Superior Geral, comenta, na carta Montagne, a importância dessa missão: hoje, há tantos jovens que vivem sem a força, sem a luz e sem o conhecimento aprofundado de Jesus Cristo – conhecimento que leva ao consolo e à amizade de Jesus – que importa comprometermo-nos como apóstolos, catequistas e educadores. Diante de uma sociedade de pouca fé, sem o correto sentido da existência, não se pode ficar indiferente. São os novos e numerosos Montagnes de hoje, cuja realidade nos provoca e nos convida a sermos generosos. Montagne tem, hoje, milhares de rostos diferentes e vive em realidades que reclamam generosa compreensão e pronta ajuda. O Irmão Turú alarga o entendimento do desafio, na perspectiva a que o Papa Francisco se refere quando nos convida a sair de nós mesmos para as periferias existenciais, entrando em contato com a vida concreta dos muitos outros empobrecidos e expostos a tantos perigos. A solidariedade volta-se à promoção e à defesa dos direitos de crianças, adolescentes e jovens e à para a nova evangelização e inclusão social. A solidariedade pode e deve ser aprendida e desenvolvida; o seu itinerário abrange processos e práticas que visam à caridade em obras e ações de verdadeiro melhoramento da pessoa e do grupo desajustado e empobrecido. Visa-se, pois, a melhores níveis de interação e ao oportuno

comprometimento apostólico, dentro das suas circunstâncias e realidades. Ser solidário implica grande compaixão, mas, acima de tudo, o reconhecimento do outro como pessoa necessitada. Champagnat não foi visitar o jovem Montagne para julgá-lo. Foi ao encontro de alguém que tinha a sua identidade e a sua história. Por isso, os dois saíram modificados. Champagnat ensinou-lhe, na urgência do momento, as coisas de Deus e, do seu lado, entendeu que não há mais tempo para perder. O convite é feito a mim e a você, atual leitor desta edição da revista Em Família. Devemos cultivar um coração solidário na nossa vida pessoal, familiar, social e eclesial. Que significa, então, para cada um de nós, o contexto em que a solidariedade é citada como a grande virtude do nosso tempo? Por certo significa colocar-nos na posição de partida, como interpela o Papa Francisco. Cumpre entender bem o sentido da expressão periferias existenciais. Todos somos chamados a uma conversão pastoral e missionária, porque as coisas não podem ficar como estão (EG 25). A que tipo de conversão me sinto convidado? A resposta constitui o atendimento da nossa consciência e do nosso coração solidário e comprometido.

Ir. Vanderlei Siqueira dos Santos diretor-executivo da Rede Marista de Colégios

© Foto: João Borges

Em 1816, o Pe. Champagnat foi chamado para atender a um jovem carpinteiro de 17 anos, gravemente enfermo, em uma aldeia próxima a Le Bessat, no sul da França. Após ouvi-lo em confissão e prepará-lo para a morte, o padre regressou a La Valla, pensativo. O encontro com o jovem Montagne marcou profundamente a vida de Marcelino Champagnat; nesse acontecimento, percebeu o chamado interior da graça de Deus. Ele iria fundar um instituto dedicado à educação cristã de crianças, adolescentes e jovens, em especial das vilas e dos povoados pobres. Ele levaria a bom termo tal empreendimento. O entendimento de que essa missão era obra de Deus foi basilar para a sua perseverança no projeto da fundação de uma congregação de religiosos dedicados à educação cristã e ao ensino básico da França de então. Nenhuma dificuldade bloquearia o seu projeto. Esta edição da revista Em Família estuda, em particular, a solidariedade. Esse termo evoca as mais diferentes emoções, interpretações e questionamentos. O encontro de Champagnat com Montagne nos revela que a Instituição Marista nasceu de uma experiência de solidariedade em relação de óbvia e grave necessidade. Apresenta-nos alguns referenciais, como a atenção que cumpre dar à realidade e à situação dolorosa do outro, isto é, o nosso próximo. A convicção profunda desperta não apenas a compaixão e a indignação; mas o essencial é a ação para minorar o sofrimento e o estado de abandono dos empobrecidos, sem a luz do bom ensino e, especialmente, sem a luz espiritual da instrução religiosa e cristã. Esse curso e discurso

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dia a dia

© Foto: Fabio Melo

Um intercambista

em minha

casa

Acolher o intercambista como um filho e deixar claras as regras da casa são fundamentais para uma experiência bem sucedida. Ser uma família hospedeira é culturalmente enriquecedor Por Michele Bravos

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Já pensou em adotar um filho estrangeiro? Calma, a gente explica. É comum e bastante incentivado por agências de intercâmbio que os adolescentes intercambistas se hospedem em casas de família para que a imersão na cultura do país para onde estão indo seja mais intensa e significativa. Abrir as portas de casa para um intercambista é como adotar um filho – mesmo que temporariamente. Para Celso Javorski, acolher o jovem Jacob Pritchard, 17 anos, da Nova Zelândia e que está estudando no Colégio Marista de Ribeirão Preto (SP), está sendo uma experiência enriquecedora. “É a primeira vez que estamos recebendo um intercambista e a troca cultural é muito rica. Temos dois filhos e um deles está fora do país, em intercâmbio também. Então, o Jacob, literalmente, está sendo tratado como um filho”. Para Guilherme Reischl, diretor comercial da Egali Intercâmbio, a consideração mais importante de um programa de intercâmbio em casa de família é que a família hospedeira acolha o estrangeiro como um membro da família. “O intercambista tem que usufruir da mesma estrutura de um filho. Ele tem que se sentir integrado, acolhido. As atividades diárias têm que ser realizadas com o intercambista. No começo,


isso pode significar sair da rotina – e a família precisa estar ciente disso –, mas, aos poucos, todos se adaptam”. Jacob afirma que um ponto positivo dessa experiência tem sido passar tempo com sua família brasileira. “Eles são pessoas muito legais, que fazem eu me sentir bem-vindo na casa deles”. Uma boa adaptação depende bastante de regras claras. Reischl lembra que toda casa tem normas que, naturalmente, são cumpridas pelos membros da família. O intercambista precisa ser inserido nesse contexto também. “Ele precisa saber o que pode fazer na cozinha, o que deve fazer com as roupas sujas – se ele irá lavá-las ou se alguém fará isso para ele –, se existe um horário para o banho, se o secador é de uso comum...”. O diretor comercial complementa que isso tudo deve ficar claro já no primeiro dia. “Assim que o intercambista chegar, dê as boas-vindas, faça ele se sentir em casa. Em seguida, de forma gentil, apresente as regras do lar”. Javorski conta que Jacob respeita inclusive as normas de comportamento – por exemplo, com relação a sair para festas e dar satisfação quanto a para onde está indo e com quem. “Tínhamos muita expectativa com relação a essa convivência. É também nossa responsabilidade zelar pela segurança dele”.

Integrando Integrar não quer dizer fazer as vontades do intercambista. Ele precisa conhecer e se adaptar aos costumes do país em que está. Uma boa forma de integrar o jovem à cultura e à nova família é na hora das refeições. “O momento das refeições é muito importante para a integração. Por isso, pelo menos algumas devem ser feitas com a família reunida”. Javorski afirma que os hábitos alimentares certamente são muito diferentes e isso sempre rende bastante conversa. Outra forma de integrar é convidar o intercambista para passear. “É importante que a família esteja prepara-

da para fazer 'programas de turista', mesmo na sua cidade natal. É preciso lembrar que o intercambista também está interessado em conhecer lugares típicos e diferentes dos que ele está habituado a ver”.

Comunicação Na casa da família Javorski, apenas a filha fala inglês. Então, foi preciso desenvolver formas de comunicação até Jacob estar mais fluente no português. “Às vezes, o Google tradutor nos ajuda. A gente acaba tendo que ser criativo”, diz Javorski. Reischl aponta que é ideal que pelo menos um membro da família compartilhe de um idioma em comum com o intercambista. “Caso contrário, a comunicação fica nula e pode gerar desconfortos, como prejudicar a compreensão das regras da casa. Uma família monoglota poderia ser um problema”. As barreiras de comunicação na casa de Javorski têm sido vencidas com bom humor. “Nós falamos português e inglês em casa. Eu imagino que deve ser um quebra-cabeça para eles entenderem o que eu falo, às vezes, mas nós rimos disso”, diz Jacob. O quesito “comunicação” também deve se estender para a família no exterior, pois isso gera maior confiança para o intercambista. “A família que está recebendo deve fazer contato com a família do outro país, mesmo que não falem a mesma língua. Por meio de uma conversa por chamada de voz e vídeo, as famílias podem se ver, sorrir uns para os outros e dar um ‘tchauzinho’. Isso já faz diferença”, afirma Reischl.

Atenção! Não existe idade limite para os membros de uma família receberem alguém. No entanto, recomenda-se que a pessoa que vai ser acolhida seja adolescente ou jovem. Segundo Guilherme Reischl, diretor comercial da Egali Intercâmbio, depois dos 25 anos, a pessoa já tem uma independência que poderia dificultar a interação. A família hospedeira deve avaliar isso.

dicas Seguindo essas dicas, a família hospedeira terá uma grande experiência de vida recebendo um intercambista. l Tenha certeza de que sua casa tem condições de receber mais um membro. Pode ser que ele tenha que dividir o quarto com os seus filhos, mas é importante que o intercambista tenha um espaço que ele sabe que é dele. l Conheça o intercambista antes de ele chegar à sua casa. Pode ser por e-mail, por chamada de voz e vídeo, etc. l Trate-o como um filho, tanto para as coisas legais, como passear em família, quanto para as regras. l Apresente as regras da casa. Elas precisam estar claras para o intercambista. l Pergunte o que ele gosta de fazer ou o que tem curiosidade em conhecer. Seja solícito, simpático, mas não extrapole, impondo a sua programação. l Tenha disposição para conviver com as diferenças – elas são enriquecedoras – e dialogue sempre!

Na foto: Maria Eduarda, Jacob, Anaisa e Celso Javorski.

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© Foto: Gilberto do Rosário

capa

Atitudes solidárias podem aparecer em diversos contextos. Mas elas são aprendidas ou as pessoas nascem assim? Por Michele Bravos

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Solidariedade se aprende? Falar de solidariedade no Brasil atual é um desafio, diante de tantos fatos de corrupção, de violência gratuita, de discriminação. Mas, para Viviane Silva, assessora da Rede Marista de Solidariedade (RMS), o desafio não é impossível. "Há um provérbio popular que explica bem o ensino da solidariedade: se a palavra convence, o exemplo arrasta. Portanto, é preciso bons pais, bons educadores, bons exemplos inspiradores do que é viver em sociedade". Ela complementa que é importante transmitir a ideia de "eu preciso do outro para viver". Dessa forma, tem-se uma melhor compreensão de senso de justiça e solidariedade. Entendendo a solidariedade como uma virtude, a pedagoga Luciene Tognetta, doutora em Psicologia Escolar pela Universidade de São Paulo (USP) e Universidade de Genebra, acredita que ela precisa ser vivida para ser assimilada. “Eu entendo virtude como uma disposição para fazer o bem, como afirma Comte-Sponville, e o bem não é para se contemplar, é para ser feito. Em momentos de crise, por exemplo, podemos indagar crianças e adolescentes sobre os sentimentos do outro. Só assim eles podem construir instrumentos psicológicos que os tornam capazes de solidarizar”. Na família de Fernando Pereira, 17 anos, aluno da 2ª série do Ensino Médio do Colégio Marista Santa Maria, de Curitiba (PR), as práticas solidárias estão presentes nas pequenas atitudes, como conta sua mãe, Patrícia Pereira. “Uma atitude solidária pode ser dar ouvidos a alguém que está precisando desabafar. Pode ser ajudar alguém a empurrar um carro na rua – coisa que eu já fiz, inclusive. É importante que a família dê esse exemplo e incentivo aos filhos”. Patrícia ainda afirma a importância de as ideias da família estarem alinhadas com as ideias do colégio. “Quando estava buscando uma escola para o Fernando, eu priorizei os valores que a instituição passaria, pois é isso que será lembrado para sempre”. Luciene lembra que a solidariedade é um valor que precisa ser buscado como outros valores morais. "Não nascemos solidários, mas nos tornamos solidários quando conseguimos reconhecer nossas próprias dores, quando temos a experiência de compartilhar as dores dos outros. Pessoas solidárias o são porque desejam ser”, diz. Fernando conta que vive essa constante busca para ser uma pessoa solidária e que tem aprendido a valorizar o que realmente importa. “Desde que comecei a participar da Pastoral da Juventude Marista (PJM), eu me tornei uma pessoa diferente. Sou mais calmo e me preocupo mais com a minha família e meus amigos. Na PJM, não aprendemos só a ser solidários, mas a ser pessoas melhores para o mundo, aprendemos a respeitar mais as diferenças, a dispor do nosso tempo para o outro – como nas missões Maristas – e a ter autonomia”. A pedagoga destaca que a solidariedade se faz presente já na infância. “Do ponto de vista psicológico, a solidariedade é uma das primeiras virtudes que as crianças apresentam e o fazem espontaneamente porque independe de uma construção cognitiva mais evoluída. Depende, na verdade, da sensibilidade com o outro, coisa que criança desenvolve desde bem cedo pela empatia”.

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© Fotos: João Borges

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Curiosidade

Patrícia complementa, expondo que, por vezes, percebe que os adultos não são solidários por medo: “Eles têm medo de ajudar um estranho e ele ser um ladrão, por exemplo. Mas acredito que o medo está relacionado à ausência de fé e as pessoas precisam crer mais, pois penso que, naturalmente, o ser humano é, sim, solidário”.

Ressignificando Por muito tempo, a ideia de assistencialismo, de dependência, esteve associada à solidariedade.

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No livro “O Ensaio sobre a Dádiva”, do sociólogo Marcel Mauss, o autor conta a história do Rei Artur e sua Távola Redonda para concluir seus pensamentos sobre os conceitos de dar, receber e retribuir – presentes ao longo do material: “Sobre a história do Rei Artur e a Távola Redonda. Disse o carpinteiro a Artur: ‘Far-te-ei uma mesa muito bela, onde poderão sentar-se seiscentos e mais, e andar em volta, e de onde ninguém será excluído... Nenhum cavaleiro poderá travar combate, pois ali o de maior destaque estará no mesmo nível que o de menor destaque’. Não mais houve lugar de honra e, por conseguinte, não mais houve querelas. “Os povos podem enriquecer, mas só serão felizes quando souberem sentar-se, tal como cavaleiros, à volta da riqueza comum. É inútil ir procurar longe o bem e a felicidade, pois ele está ali, na paz imposta, no trabalho bem ritmado, comum e solitário alternativamente, na riqueza acumulada e depois redistribuída no respeito mútuo e na generosidade recíproca que a educação ensina”.

Entre os povos ditos primitivos já se faziam presentes atos de dar, receber e retribuir como formas necessárias para uma vida em comunidade, mesmo que, muito atreladas a relações de poder. De acordo com o que explica o sociólogo Marcel Mauss, em seu livro “O Ensaio Sobre a Dádiva”, para que um rei pudesse continuar sendo superior, ele precisava ofertar aos pobres, colocando-os em uma

posição de inferioridade. Mas, recusar não era possível, pois esse ato era o mesmo que dizer que se tinha medo de retribuir. “Ao aceitar uma dádiva, aceita-se um desafio e ele pode ser aceito porque se tem a certeza de retribuir, de provar que não se é desigual”, expõe o autor. Diante disso, existe a necessidade de ressignificar conceitos. Viviane afirma que é preciso um ou-


tro modelo de sociedade, colocando a solidariedade na contramão da visão assistencialista que marcou a história. "Necessitamos de uma sociedade em que o direito seja garantido para todos, sem exceção, onde nenhum tipo de privilégio é aceito, já que fere o princípio comum de justiça. Nesse sentido, o que se discute é uma sociedade onde se aprende, desde criança, a não levar vantagem, nem dar o jeitinho brasileiro, mas que há regras e responsabilidades a serem cumpridas. Essa é uma nova forma de entender solidariedade. Essa posição coloca em relevo a defesa de direitos humanos e a justiça social que precisam ser assumidos por todos".

Relações solidárias hoje Os caminhos da solidariedade são uma trama entre a existência de cada indivíduo e as relações em que se encontram. É preciso se perceber além de si para ser solidário. “Gosto de uma expressão de uma escritora de livros infantis, Adriana Falcão: ‘Solidariedade é quando a gente se empresta pro outro’”, diz Luciene. Fernando relata que uma das experiências mais marcantes que teve na vida foi ter participado da Missão Solidária Marista 2015, em Pouso Redondo (SC), cuja premissa era justamente o contato com o próximo. “Nós ficamos hospedados na casa de pessoas que nem conhecíamos, fazíamos visitas a famílias mais vulneráveis e estávamos o tempo todo em contato com a população durante as atividades. Para mim, isso foi exercer a solidariedade na prática”. Para Patrícia, pensar em solidariedade é pensar em “dispor o seu tempo para o outro”. “Se nos perguntarmos qual o contrário de solidariedade eu diria ‘individualidade’. Acho que, assim, esse conceito fica mais claro”, diz.

As atuais formas de comunicação, sobretudo as que se efetivam em redes, podem incentivar a construção de comunidades e, consequentemente, a prática da solidariedade, pois partem dos princípios de reconhecimento e aceitação do outro como membro da rede, bem como do desenvolvimento de respeito mútuo e de interesse pelo próximo.

dos princípios de reconhecimento e aceitação do outro como membro da rede, bem como do desenvolvimento de respeito mútuo e de interesse pelo próximo”. Viviane complementa: "Podemos entender que a solidariedade está nessas relações com o outro que nos completa, que nos constitui. O contrário disso nos desumaniza, segrega e isola. Por gerar um comportamento coletivo de corresponsabilidade, é um dos principais valores que temos". Para Danielle, a possibilidade de constituição de comunidades nesses espaços virtuais intensifica as práticas solidárias. Ela frisa que o ponto mais importante nesse contexto é o conteúdo gerado pelos membros das redes. “As tecnologias e as redes sociais não promovem solidariedade por si só, mas pelo referencial de valores que os membros dessa comunidade possuem e que se revelam nas suas relações.

Danielle Pamplona Professora da Universidade de Brasília (UnB)

O estabelecimento dessas relações de responsabilidade recíproca está diretamente ligado à comunicação, possibilitando a interação e a colaboração. Traçando um pensamento para o contexto atual, em que o mundo virtual está muito presente, a professora Danielle Pamplona, da Universidade de Brasília (UnB), afirma que “as atuais formas de comunicação, sobretudo as que se efetivam em redes, podem incentivar a construção de comunidades e, consequentemente, a prática da solidariedade, pois partem

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capa

O campo fértil para a solidariedade é regado por valores de amor ao próximo, respeito às diferenças, justiça e ética. Cabe, portanto, aos membros dessas redes incentivar práticas que levem à formação de indivíduos comprometidos com o outro, que priorizem a dimensão humana, a valorização do outro e o fortalecimento dos laços solidários”.

Solidariedade x classes sociais Tendo esse conceito como norte, a solidariedade pode se fazer presente inclusive em ambientes menos favorecidos. "Ainda que o meio seja desfavorável, as dificuldades vividas podem ser superadas. Aliás, é de ambientes vulneráveis que surgem bons exemplos de partilha e solidariedade", diz Luciene. Viviane vivencia isso na prática por meio da RMS, que atua na criação de uma nova mentalidade nos contextos em que está presente. "Não fazemos atos pontuais de generosidade

Não nascemos solidários, mas nos tornamos solidários quando conseguimos reconhecer nossas próprias dores, quando temos a experiência de compartilhar as dores dos outros. Pessoas solidárias o são porque desejam ser. Luciene Tognetta Pedagoga e doutora em Psicologia Escolar pela Universidade de São Paulo (USP) e Universidade de Genebra

nos locais vulneráveis em que estamos, mas temos a solidariedade como valor e comprometimento em defesa da vida em todas suas formas, contribuindo assim para a superação da pobreza e da desigualdade, e pela defesa e promoção dos direitos das crianças e jovens". Conheça o Projeto Propulsão, na editoria Solidariedade desta edição, e saiba como a solidariedade é desenvolvida com

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jovens em situação de vulnerabilidade social.

Por que se faz o bem? Para alguns, ser solidário e fazer o bem são sinônimos. Já, para Viviane, entendendo solidariedade como uma oposição ao individualismo, ela considera que ser solidário é mais que fazer o bem. "A solidariedade supera a busca individual, levando-nos a uma busca

coletiva para encontrarmos soluções para problemas comuns". No fim, praticar a solidariedade e fazer o bem têm como finalidade promover algo de bom, em que todos, tanto quem ajudou, quanto quem foi ajudado, saem ganhando. Luciene afirma que esse jogo de interesse existe – mesmo que no âmbito psicológico – uma vez que “o desejo de ser reconhecido como alguém do bem é o que leva


© Fotos: João Borges

© Foto: Gilberto do Rosário

Fernando Pereira, 17 anos, aluno da 2ª série do Ensino Médio do Colégio Marista Santa Maria, de Curitiba (PR), e sua mãe Patrícia Pereira.

Da comunidade para a comunidade A origem atrelada a espaços populares motivou um grupo de pesquisadores a criar o Observatório de Favelas, “uma organização social de pesquisa, consultoria e ação pública dedicada à produção do conhecimento e de proposições políticas sobre as favelas e fenômenos urbanos”, como a própria organização se define. O Observatório existe desde 2001 e conta com atividades em diversas áreas de atuação: educação, políticas urbanas, comunicação, cultura, direitos humanos. Por meio das ações realizadas, a comunidade é instigada a se conhecer, a se desenvolver pessoalmente e a voltar o seu olhar e atenção para o meio em que estão, assim como para as pessoas ao seu redor. Para mais informações, acesse o site através do link: observatoriodefavelas.org.br

uma pessoa a agir bem. Queremos nos ver como solidários e detestamos nos ver como egoístas”. Fernando conclui que, independente do que move as pessoas a fazerem o bem, ser solidário contagia quem está ao redor e isso gera um efeito de causa e consequência positivo. “Quando você quer ser mais solidário e faz isso, você está servindo de exemplo para as pessoas e, consequentemente, influencia a todos”.

A solidariedade supera a busca individual, levando-nos a uma busca coletiva para encontrarmos soluções para problemas comuns. Viviane Silva Assessora da Rede Marista de Solidariedade (RMS)

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© Fotos: Acervo do Colégio

entrevista

Todos podem ser solidários O despertar da solidariedade é possível e depende de um compilado de fatores externos e pessoais. Apostas do Grupo Marista nessa área visam promover uma consciência crítica sobre o tema Por Michele Bravos

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A expressão da solidariedade se dá de formas distintas em cada meio e para cada pessoa. Para refletir sobre o assunto e apresentar de que forma o Grupo Marista pretende potencializar o despertar dessa prática nos Colégios, César Augusto Ribeiro é o entrevis-

Sem ignorar o fato de que a solidariedade pode ser ensinada e aprendida, na sua opinião, há pessoas que simplesmente nascem solidárias?

É uma questão difícil. Do ponto de vista biológico, há instintos de preservação que podem ser vistos como solidários – como, por exemplo, uma mulher que acolhe e cuida de uma criança em situação de risco de vida. Porém, entendendo a solidariedade como algo mais dinâmico, que ganha níveis e significados distintos ao longo do tempo e na diversidade de culturas, é difícil concluir que alguém já nasça solidário. É preferível afirmar que todos nascem com a possibilidade de desenvolver esse valor.

A solidariedade está na essência Marista. Por que investir no desenvolvimento de um ser humano mais solidário?

A educação Marista se pauta em vários princípios que apontam para a solidariedade como uma das virtudes de nosso tempo: a formação integral, o desenvolvimento da alteridade e da paz, o protagonismo das infâncias e juventudes, a cidadania planetária e outros que emanam da ética cristã.

Entendendo a solidariedade como algo mais dinâmico, que ganha níveis e significados distintos ao longo do tempo e na diversidade de culturas, é difícil concluir que alguém já nasça solidário.

tado desta edição da Em Família. Ribeiro tem uma longa caminhada no Grupo Marista, já tendo colaborado diretamente com a Rede de Solidariedade Marista. Atualmente, ele é coordenador de Pastoral do Colégio Marista de Maringá (PR).

Quais as apostas para este ano nas unidades pastorais dos Colégios?

A missão Marista no mundo é a educação de crianças e jovens, com um grande foco na defesa e na promoção da vida. Já há algum tempo, as Diretrizes da Ação Evangelizadora do Grupo Marista apontam para a solidariedade socioambiental como um elemento inculturador do Evangelho. A Rede Marista de Solidariedade avançou muito e tem um belíssimo trabalho no campo da defesa e da promoção dos direitos das infâncias e juventudes em situação de vulnerabilidade, pois amplia a ação social em rede, participa de espaços de construção e controle social das políticas públicas e motiva o Grupo Marista a avançar na educação para a solidariedade. Em sintonia com essa caminhada, em 2015, a Pastoral da Rede de Colégios assumiu a promoção e a defesa das infâncias e juventudes como um de seus eixos de análise e estruturação. O objetivo desse eixo é consolidar o posicionamento da comunidade educativa frente à defesa e à promoção dos direitos das infâncias e juventudes em sintonia com os direcionamentos da Rede Marista de Solidariedade (boas práticas de gestão, projetos de solidariedade, mobilização e comunicação) para que a vivência da fraternidade e da caridade cristã abra caminhos e estabeleça pontes para uma cidadania solidária. A aposta está em programas, projetos e ações estratégicos e inovadores que colaborem para que os diversos interlocutores – alunos, famílias, educadores, colaboradores, parceiros – desenvolvam a consciência crítica, ampliem seu olhar sobre a solidariedade, atribuam novos sentidos e colaborem para a transformação positiva do mundo.

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entrevista Para algumas pessoas, solidarizar-se com o outro, colaborar para essa transformação positiva é um verdadeiro exercício. Por que, às vezes, pode parecer difícil se doar ao próximo?

Não é fácil controlar os instintos egoístas e a tendência à acomodação. Nesse sentido, é difícil superar paradigmas anacrônicos, estruturas obsoletas e preconceitos em favor do bem comum. Dá trabalho sair de si, estimular a consciência crítica, reconhecer incoerências pessoais, desenvolver a alteridade, buscar coletivamente soluções assertivas com foco no grupo. Porém, a maior parte dos que começaram a desenvolver sua dimensão solidária encontrou um caminho de realização, ampliou o sentido de sua existência e tornou sua vida mais dinâmica.

Dá trabalho sair de si, estimular a consciência crítica, reconhecer incoerências pessoais, desenvolver a alteridade, buscar coletivamente soluções assertivas com foco no grupo.

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Ser solidário e fazer o bem são a mesma coisa?

Há diferentes níveis de solidariedade. De maneira simplificada, poderíamos destacar três. O primeiro é o assistencialismo. Muitas pessoas se comovem com o sofrimento alheio e se dispõem a ajudar, mas não necessariamente colaboram para que as raízes do sofrimento sejam superadas. O segundo é a fraternidade. Há pessoas que se dispõem a superar preconceitos e conviver com quem sofre. Aprendem que a solidariedade é um “caminho de mão dupla”, de interlocução que promove o crescimento de todos os envolvidos. O terceiro é a defesa e a promoção dos direitos e a emancipação dos sujeitos. Quem está nesse nível assume direta e indiretamente o acompanhamento das políticas públicas que incidem na vida de todos e o apoio às iniciativas que buscam superar as causas da vulnerabilidade social e econômica. Pensando assim, podemos afirmar que ser solidário e fazer o bem podem ser sinônimos, mas têm formas e impactos distintos. César Augusto Ribeiro, coordenador de Pastoral do Colégio Marista de Maringá (PR).


índice

Por Janaína Mônego

destaque

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Conheça o projeto que convida os alunos a interpretar os personagens dos livros que leem durante as aulas.

com a palavra

ed. infantil

ens. fundamental

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O que pensa a Direção-Geral.

Conheça o projeto Retalho em Retalho que trabalha com as crianças a percepção das diferenças.

Saiba mais do projeto que promove debate sobre sexualidade e relações humanas.

ens. médio

diz aí

caleidoscópio

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Colégio oferece plantões pedagógicos para auxiliar os alunos na preparação para o vestibular.

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Por que as pessoas são diferentes umas das outras? Saiba o que pensam os alunos e o educador.

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você sabia?

gente nossa

ser melhor

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A convivência com alguém de outro país é uma experiência muito enriquecedora. Saiba o que aprenderam e ensinaram as alunas intercambistas Anna Brynhildur e Leire Irigoyen.

Ex-aluno Marista atua como cirurgião da Equipe de Transplante de Fígado do Hospital Israelita Albert Einstein.

Relembre alguns acontecimentos do Colégio.

Conheça algumas ações da Pastoral.


com a palavra

Uma história

a construir

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(como revisões, aulões, avaliações em larga escala, simulados), bem como a partir do desenvolvimento de diversos projetos pedagógicos complementares que qualificam ainda mais a proposta Marista. Passaremos a apreciar, nas próximas páginas, algumas vivências do nosso cotidiano escolar, como é o caso do projeto De Retalho em Retalho, e as discussões sobre sexualidade e inclusão social e acadêmica – assuntos relevantes e sempre atuais. Alguns fatos e registros também fazem parte da memória de nosso Colégio e aparecem como retrospectiva. A vivência e partilha de vida de alunos intercambistas presentes em nosso Colégio são descritas em algumas linhas e depoimentos como este: “Aqui eu já tenho as minhas amigas e fui muito bem acolhida”. São depoimentos que comprovam que os nossos valores da acolhida, compreensão e aceitação fazem parte de nossa vivencia diária. Valores estes que se estendem para toda a vida, como é o caso do depoimento do ex-aluno Marista Luiz Gustavo Guedes Dias, que atualmente é cirurgião da Equipe de Transplante de Fígado do Hospital Israelita Albert Einstein: “A formação Marista sempre foi além dos ensinamentos de sala de aula. O desenvolvimento e o crescimento moral sempre foram pilares desta formação”. Finalizo esta abertura nominando a celebração de 10 anos da Pastoral Juvenil Marista – PJM – que é uma pro-

Colégio Marista São Francisco

posta educativo-evangelizadora que almeja, por meio da escuta e participação dos jovens, capacitá-los para encontrar respostas autênticas aos anseios e necessidades fundamentais da juventude e da evangelização. Desejo a todos uma ótima leitura.

Fazer educação de qualidade e excelência para toda a vida com fundamento nos valores cristãos, éticos e morais foi e continua sendo hoje o sonho vivo do Pe. Marcelino Champagnat, que se traduz na vivência das diferentes virtudes de nossos educadores atuais.

Renato Angelino Darui Diretor-Geral

© Foto: Lucas Daga

Em nome da comunidade educativa do Colégio Marista São Francisco, que há 56 anos promove educação de qualidade em Chapecó/SC, saúdo os leitores desta edição da revista Em Família. O Instituto Marista abriu recentemente o triênio em preparação ao seu Bicentenário de Fundação (1817– 2017) e o Ir. Joaquim Sperandio, atual superior provincial do Grupo Marista, nos recorda que “Nós, Maristas, não temos apenas uma história gloriosa para recordar e narrar, mas uma grande história a construir”, onde a participação e o envolvimento de todos nós serão os alicerces do que há de ser construído além desses 200 anos de história. Fazer educação de qualidade e excelência para toda a vida com fundamento nos valores cristãos, éticos e morais foi e continua sendo hoje o sonho vivo do Pe. Marcelino Champagnat, que se traduz na vivência das diferentes virtudes de nossos educadores atuais. Virtudes e valores como o espírito de família, a justiça, a compreensão, o caráter, a polidez e o poder-serviço, essenciais para a construção de um cidadão novo, renovado. O processo de qualificação pedagógica e administrativa tem se intensificado nesses últimos anos em toda a Rede de Colégios do Grupo Marista – e particularmente neste Colégio – com o olhar atento à formação dos docentes, ao ajuste das grades curriculares, ao aumento significativo de horas e atividades pedagógicas



ed. infantil

De retalho em retalho Somos diferentes! Nas características físicas, nos gostos, no modo de nos vestir, no modo de pensar – são estas as diferenças que literalmente "fazem a diferença”. Imagine se todos fôssemos exatamente iguais. Que sem graça seria. As diferenças também se constroem ao logo do tempo e é possível observar que mudamos a cada dia, desde pequenos até os dias atuais. Nossa fisionomia mudou, amadurecemos com o tempo, construímos nossa própria personalidade e continuamos mudando a cada dia. De Retalho em Retalho, conta-se uma História é o nome do projeto desenvolvido com as turmas do Infantil 5, do curso de Educação Infantil que iniciou nos primeiros dias de aula.

A intenção foi de promover a interatividade entre os alunos e estimular relações afetivas e de respeito na turma. Aceitar as diferenças dos colegas foi o primeiro objetivo. “O projeto aconteceu logo no início do ano letivo, período adaptativo e de socialização onde evidenciam-se muitas divergências e conflitos. Trabalhamos no sentido de aproximá-los, uni-los estimulando a construção da identidade da turma como grupo. Motivamos a brincar juntos. As crianças receberam isso bem e passaram a compreender melhor outras características que fazem parte da condição humana como o mais baixinho, o que usa óculos, até utilizamos um livrinho que abordava a mão, ou seja, ne-

© Fotos: Elaine Cezaro

A percepção das diferenças por meio de histórias de vida

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Colégio Marista São Francisco


nhum dedinho é igual ao outro logo, nós não somos iguais.”, comentou a professora Andréia Cristina Cúnico Ceccon. O objetivo do projeto vai além das percepções de diferenças físicas e busca ainda perceber as diferenças existentes na sociedade como fundamentais para a formação de identidade, respeitando todas as pessoas. Neste contexto, mobiliza-se a atenção para o relacionamento como o outro de forma empática, solidária e cooperativa. Para o desenvolvimento desta prática foram usadas diferentes linguagens e recursos como histórias infantis, músicas, obras de artes entre outros. Segundo a professora Andréia, a participação da família no desenvolvimento do projeto e na mediação reflexiva com as crianças foi fundamental. “Envolvemos a família também. Trabalhamos com uma história que contava que a avó participava da história de vida do neto costurando uma colcha de retalhos e cada retalho que ela costurava era parte da história dele, um momento vivido evidenciando a sensibilidade e a emoção. Por exemplo, esse trecho: 'esse retalho é do vestido da sua mãe que fiz para o aniversário. Esse outro, costurei a sua calça'. Essa história convida a uma reflexão importante sobre as relações e as experiências de vida das pessoas em diferentes momentos. Foi interessante observar como as crianças analisaram os sentimentos expressos pela avó, como na parte da história em que a avó começou a chorar e falou

ao menino que um dia ele entenderia este sentimento ou de alegria, ou de tristeza. Um dia, o menino recebeu a colcha feita pela avó e ele começou a chorar pois entendeu todos aqueles sentimentos em cada retalho”, explica a professora. Andréia conta que a partir desta história, uma avó de um aluno de cada turma foi convidada a compartilhar com eles algo que seu neto ou neta gosta de fazer, comer, ou mesmo construir. "Foi muito legal e importante a participação da família na Escola, numa partilha que valida os objetivos de ambas na formação humanizadora e de valores das crianças", explica.

Os mesmos, mas diferentes Neste processo, os alunos puderam perceber as diferenças que o tempo lhes proporcionou por meio de uma colcha de retalhos. “Pedimos para eles fazerem colagens com fotos de um, dois, três, quatro e cinco anos, em cima de um retalho. Juntamos tudo e construímos a colcha do Infantil 5. Ficou uma colcha gigante e conseguimos mostrar que eles são os mesmos, mas que cresceram: quando bebês, eram de um jeito; agora são diferentes. Tudo isso serviu para auxiliá-los na compreensão das mudanças que vivenciamos através dos anos”, explica. Teatro, música e histórias, fizeram parte da realização do projeto que foi um sucesso. “Eles receberam muito bem o projeto e passaram a vivenciar relações de maior proximi-

dade uns com os outros ao longo do ano. Ficou evidente o quanto gostaram da experiência e como ela contribui para unir ainda mais as turmas e aproximar a família ainda mais da escola”, finaliza.

Eles receberam muito bem o projeto e passaram a vivenciar relações de maior proximidade uns com os outros ao longo do ano. Andréia Cristina Cúnico Ceccon Professora

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© Fotos: Elaine Cezaro

Sexualidade e

relações humanas A construção da maturidade

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Trabalhar o tema sexualidade não é uma tarefa tão simples. No entanto, o assunto precisa ser abordado com crianças e adolescentes, principalmente no que diz respeito a orientação, já que todos estamos suscetíveis a influências externas e nem sempre claras ou coerentes. Orientar os alunos sobre a importância de cuidar do seu corpo, preservando a sua identidade física e emocional, é um dos objetivos do projeto Sexualidade e relações humanas, desenvolvido pelo Colégio Marista São Francisco. A professora de Biologia Juliane Maria Rosa explica que falar de sexualidade vai muito além do que a ideia de que ela está relacionada apenas com ato sexual. “A escola age como um intermediador. Ela faz um intercâmbio entre os conhecimentos que o nosso jovem traz, decorrente das suas experiências familiares e com outros meios onde transita e juntos, buscamos trabalhar a organização destes em diálogo com a ciência. Discussões conceituais sobre aspectos fisiológicos e sua relação com zonas erógenas

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do corpo, anatomia, sistemas reprodutores e órgãos sexuais são pauta do projeto. Precisamos intercalar todo o conceito de família, os próprios conceitos de gênero e fazer com que esse jovem construa necessariamente um pensamento em que consiga diferenciar as situações e refletir sobre suas experiências”, explica. O papel da escola por meio desse projeto é também o de auxiliar a família nesse processo de orientação dos adolescentes sobre a sexualidade. Entre eles, o fato de sentir-se bem, comunicar-se bem, ter boas relações de amizade com as pessoas, praticar esportes, alimentar-se de forma saudável e ter uma boa qualidade de vida – tudo isto faz parte da sexualidade. É no sétimo e no oitavo ano que os alunos iniciam os estudos sobre o desenvolvimento humano, especificamente órgãos reprodutores masculino e feminino, o que abre espaço para discussões sobre a sexualidade. “Geralmente, os alunos recebem o tema com uma certa euforia, pois quando colocamos o assunto em pauta o que


se lembra é a questão da genitália, o aparelho reprodutor. O professor tem o papel de instigar e colocar em evidência os conceitos de maturidade, ou seja, que a sexualidade não é apenas fisiologia e anatomia, ela é também maturidade”, comenta Juliane. A diretora educacional Marcia Maria Rosa comenta que o projeto iniciou ainda no ano passado, mas que neste ano será ampliado com novas ações sistematizadas. “Entendemos que é fundamental apoiar os alunos. Trabalhamos com o princípio de educação integral, portanto é fundamental atuar na construção da identidade pessoal do alunos, na compreensão das relações consigo, com o outro e com o meio”, comenta.

mas distintas de relacionamentos e a construção da identidade de gênero. “É importante desmistificar que sexualidade tem relação apenas com sexo. A nós interessa orientar esse processo de forma atenta. Entendemos que essas discussões e esses momentos de estudo e aprendizagem qualificam as relações e

a construção da identidade das crianças e jovens", salienta Marcia. Para este ano, novos ciclos de estudos e atividades serão realizados sobre o tema, com pais e alunos e em parceria com profissionais da área da saúde, que serão apoiadores diretos do projeto.

O debate com os pais e alunos Essencial é trazer os pais para a discussão desse tema. É por isso que o Colégio Marista São Francisco proporcionou um momento especial onde o tema foi abordado por Rosangela Binotto, doutora em Gerontologia Biomédica. “Além de trabalhar o assunto inicialmente com os professores, sobre a questão da saúde e bem-estar do professor (pois entendemos a importância do cuidado também com estes profissionais), a Rosangela trabalhou com os pais. Ela trabalhou a relação da organização biológica e das respostas que o nosso corpo dá em detrimento dos estímulos emocionais e orgânicos, aliados a questões de alimentação e rotina. Também abordou questões do desenvolvimento humano, da sexualidade e, principalmente, trazendo o aspecto do adolescer do aluno em uma observação de como a biologia reconhece esse processo e de como ela deve ser gerida dentro do contexto das relações”, explica a diretora Marcia. Os pais tiveram a oportunidade de participar das discussões sobre gênero, considerando a dinâmica que se tem em evidência hoje, das for-

Geralmente, os alunos recebem o tema com uma certa euforia, pois quando colocamos o assunto em pauta o que se lembra é a questão da genitália, o aparelho reprodutor. O professor tem o papel de instigar e colocar em evidência os conceitos de maturidade, ou seja, que a sexualidade não é apenas fisiologia e anatomia, ela é também maturidade. Juliane Maria Rosa Professora de Biologia

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© Foto: Elaine Cezaro

Plantões Pedagógicos auxiliam alunos na preparação para o vestibular O reflexo são os ótimos resultados no vestibular

De olho no futuro Desde pequenos, somos instigados a sonhar com a profissão do futuro. Lembra, na sua infância, quando por inúmeras vezes respondeu a pergunta – e você, o que quer ser quando crescer? Essa ideia do que seremos, qual profissão irá nos realizar é uma grande responsabilidade e se fortalece no Ensino Médio, onde é chegada a hora de nos prepararmos para o vestibular. A preparação é um dos fatores importantes e a porta de entrada para o nosso futuro profissional promissor. Neste sentido, o Colégio Marista São Francisco está comprometido com os alunos do Ensino Médio na preparação para o vestibular, o que tem trazido ótimos resultados. Além das aulas curriculares que acontecem toda manhã, os alunos da 1ª e 2ª séries contam com aulas em uma tarde. Já os da 3ª série contam com duas tardes de aula. Os plantões pedagógicos são uma oportunidade importante e traduzem-se como um dos diferenciais nesse processo formativo. São momentos extraclasse onde o aluno pode sanar suas dúvidas e ampliar seus conhecimento em relação aos conceitos e conteúdos estudados nas aulas curriculares. O Professor da disciplina de Física, Rodrigo Leandro Decon, explica que todas as atividades são desenvolvidas com comprometimento e os plantões, além de fortalecer o conteúdo, ainda promovem a aproximação entre alunos e professores. “Os plantões pedagógicos são importantes momentos para que os alunos tenham uma proximidade maior

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do professor, além de tirar dúvidas que surgiram ao estudar em casa. Como eu costumo dizer aos alunos, eles não podem ir para casa com dúvida, às vezes a dúvida nem é gerada na aula, mas sim naquele momento em que o aluno estava estudando sozinho em casa e não entendeu algum exercício ou algum passo tomado pelo professor em sala. No plantão pedagógico ele pode sanar esta dúvida com mais calma”, salienta Rodrigo. As oficinas de redação também contribuem neste processo. São aulas extras com o foco no desenvolvimento de uma excelente redação, nos parâmetros exigidos nos vestibulares e no ENEM. Desde a 1ª série os alunos também trabalham com simulados preparatórios e oficinas de pesquisa científica. A aluna Paola Avila, da 1ª série, pretende cursar Engenharia Civil e para ela, as atividades extras realizadas pelo Colégio são de suma importância no processo de ensino aprendizagem. “Principalmente pelas exatas, trabalhamos muitas questões de vestibulares, Enem, buscando como fonte universidades de referência, o que oportuniza a ampliação do conhecimento. O professor traz muitas atividades extras e complementa as aulas. Saímos preparados para vestibulares, Enem e para vivenciar a vida na universidade”, comenta. Já Maria Luiza Lima da Costa Lopes, estudante da 2ª série, vai prestar vestibular para Medicina e sabe bem que não é uma tarefa fácil, por isso, neste ano ela já vai iniciar uma maratona de

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Matheus Novello Favero • 1º Lugar Circuito Enem Unochapecó e ganhou uma bolsa de intercâmbio em Londres • 1º Lugar na Olimpíada Regional de Matemática • Engenharia Química na UFRGS e UFSM

Dandara Modesti • Engenharia Civil na UFSM, UDESC e FURG • 3º Lugar Circuito ENEM Unochapecó

Yasmin Hack Schvambach • Enfermagem UFSC • Biomedicina FURB

Lucca Fiorini • Engenharia Sanitária e Ambiental UFFS e UFSC • Destaque no Circuito ENEM (Unochapecó)

Jessica Cadamuro • Engenharia Civil UTFPR , Unochapecó • 2º Lugar na Olimpíada Regional de Matemática • Destaque no Circuito ENEM (Unochapecó)

Arthur Loss • Engenharia Mecatrônica IFSC

provas, com o objetivo de no próximo ano, estar ainda mais preparada para a realização do seu sonho. “Eles são muito importantes pois a gente consegue retomar o conteúdo. Os professores conseguem aprofundar com questões de vestibular”, explica. Muito mais do que a preparação para o vestibular, o Colégio Marista São Francisco também prepara os alunos para a vida. É a formação integral por meio de um processo pedagógico-pastoral que visa à educação integral de crianças e jovens, articulando fé, cultura e vida, e contribui para o desenvolvimento da consciência crítica, favorecendo as relações, o posicionamento, a valorização do sentido da vida e a relação com Deus.


Todos ganhamos! Campanha Defenda-se ĂŠ reconhecida pelo PrĂŞmio Neide Castanha.

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Centro Marista de Defesa da Infância


diz aí

Por que as pessoas são diferentes

?

© Fotos: Elaine Cezaro

umas das outras

Sarah Luchetta Saito 11 anos

João Pedro Felini Cominetti 11 anos

Valeska Biazus 16 anos

“Porque cada pessoa tem um gosto. Uns gostam de uma coisa, outros gostam de outra. Cada pessoa tem pai, mãe, que são diferentes dos outros pais, e as crianças são parecidas com os pais. E também cada um tem um coração cheio de sentimentos diferentes.”

“As pessoas são diferentes umas das outras porque elas vivem em ambientes diferentes, convivem com pessoas diferentes, desde o ambiente familiar, escolar e social, e desta forma as vivências do seu cotidiano influenciam diretamente na sua forma de agir e pensar, tornando-os diferentes uns dos outros.”

“Para mim, somos todos como um diamante bruto. Conforme vamos nos desenvolvendo, recebemos educação dos familiares e do colégio, passamos por experiências únicas e nos influenciamos com o ambiente e as diferentes culturas. Portanto, nos lapidamos de acordo com a marca que desejamos deixar pelos lugares por onde passamos.”

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Inaiê Motter Alexandre 10 anos

Marco Antonio Gusi 9 anos

Cecília de Carvalho Winckler 10 anos

“Porque Deus nos fez assim do jeito que somos. Imaginou se todos nós fôssemos iguais?”

“Para sabermos quem somos nós, nossa aparência nos define. Quem nós somos, define nossa personalidade nossa religião e muito mais.”

“Como seres humanos, somos todos iguais, porém cada um tem seu jeito de se vestir, de pensar e agir, bem como acreditar em crenças e religiões diferentes.”

OPINIÃO da Educadora “Desde a infância, somos inseridos em diferentes grupos sociais, como escola, família, comunidade etc. Neles participamos de forma ativa, vivenciando essa cultura e produzindo nossa própria cultura. Então, ao viver essas experiências sociais, principalmente na escola, a criança vai percebendo a diversidade cultural existente, aprendendo a aceitar e a conviver de forma respeitosa com o outro. Para o educador, cada criança é única, mas é fundamental que ele proporcione vivências que favoreçam as relações, enriquecendo-as dentro da coletividade, da coopera-

ção e do respeito. Assim, a criança compreenderá que somos diferentes, pois temos origens e culturas distintas e nossas experiências e vivências fazem de nós pessoas diferentes. Porém, o mais importante são os valores que temos, esses sim devem nos aproximar. Assim, com respeito e com as trocas de experiências, aprendemos e nos tornamos cada vez mais humanos.”

Michele Rosana Lemes da Silva Formada em Pedagogia e em Educação Especial. Pós-Graduada em Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Atua no Infantil 5

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caleidoscópio

Alunos vencedores do programa Talentos Maristas.

Diretora Marcia Maria Rosa (ao centro) lançou seu primeiro livro na Mostra Cultural e Científica.

2015

Aluno João Francisco Arcari lançou seu livro na Mostra Cultural e Científica.

MOSTRA CULTURAL E CIENTÍFICA

ACONTECEU

© Fotos: Elaine Cezaro

Alunos apresentaram seus trabalhos na Mostra Cultural e Científica.

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Mostra Cultural e Científica instigou a criatividade dos alunos Marista.

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Alunos do 3º ano do Ensino Fundamental receberam uma visita muito especial. Aline tem deficiência visual e veio conversar com os alunos sobre a leitura Braille. Ela é revisora de Braille na ADEVOSC Chapecó.


A valorização da amizade é um dos valores praticados pelos alunos Marista.

Com suas luzes natalinas, Colégio foi atração na cidade de Chapecó.

Auto de Natal emocionou famílias dos alunos Marista.

AUTO DE NATAL

Auto de Natal contou com a dedicação dos alunos em uma noite recheada de apresentações.

Diversão e muita fantasia no carnaval da Ed. Infantil.

Auto de Natal encerra ano letivo com chave de ouro.

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destaque

Desafios e perspectivas

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Inclusão

O mundo é feito de diferenças. Não somos iguais. Os aspectos potenciais de cada indivíduo também são diferentes. Alguns com mais aptidão para uma determinada atividade, outros, para outra. E, quando se trata de algum tipo de limitação, essas diferenças precisam passar longe dos preconceitos. É por isso que a inclusão social se faz necessária em todas as situações da sociedade. Em casa, na comunidade, na acessibilidade e, é claro, a inclusão social também está presente na escola. O Colégio Marista São Francisco sabe da importância dessa inclusão e por isso desenvolve um projeto importantíssimo que assume vários desafios, almejando bons resultados. O projeto é uma atuação sistemática, marcada por ações de acompanhamento e

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aproximação da família e da escola e profissionais de apoio, tendo em vista o desenvolvimento integral do aluno. Trata-se de um olhar atento sobre a aprendizagem e o desenvolvimento humano. Segundo a diretora educacional Marcia Maria Rosa, a intervenção mediada no processo de ensino e aprendizagem tem ênfase nas dificuldades da aprendizagem. “Essa proposta de intervenção mediada da aprendizagem é um projeto de apoio educacional que tem como intuito a operacionalização do processo pedagógico no acompanhamento de alunos que apresentam dificuldades de aprendizagem, manifestadas em decorrência dos distúrbios, síndromes ou deficiências presentes”, explica. Toda essa discussão proposta no projeto traz à tona a inclusão e os desafios de uma


educação atenta à diversidade e à pluralidade humana. É por isso que o Marista assumiu o grande desafio de romper limitações. “É a quebra de grandes paradigmas, o reconhecimento de diferentes processos de aprendizagem, como uma das condições que nos distinguem e nos humanizam".

O Colégio Marista São Francisco está buscando desenvolver um processo multidisciplinar por meio do diálogo com os professores, família e demais profissionais que atuam com esses alunos. Segundo a diretora educacional, é importante promover espaços de diálogo sobre os processos de aprendizagem vivenciados pelos alunos com síndromes, deficiências ou dificuldades específicas, promovendo a adequação curricular e conceitual. Para tal, é importante também integrar os professores apoiadores e os profissionais externos que acompanham os alunos, como terapeutas ocupacionais, psicopedagogos, psicólogos, neurologistas e neuropediatras. O papel dos pais e da família como um todo é essencial, já que é importante analisar e discutir os avanços que são percebidos e as necessidades que se evidenciam.

“Antes de Educar é preciso Amar” A frase de Champagnat, “Antes de educar é preciso amar”, é o que move as atividades da professora Claudete Bourscheid Wagner, que tem em sua sala alunos com necessidades específicas de aprendizagem e adequação curricular. “Nós, professores, temos que ter o cuidado de olhar para os alunos de maneira a reconhecer as diferenças com naturalidade e atenção. A diversidade nos desafia e quando temos alunos que

© Fotos: Elaine Cezaro

Inclusão Multidisciplinar

apresentam padrões tão distintos de aprendizagem é uma exigência grande quanto ao olhar do professor e o conhecimento técnico. Eu também fico me questionando quanto ao meu olhar e diariamente buscando caminhos para ampliar a integração, aprendizagem e desenvolvimento das crianças", explica. Um dos diferenciais é passar esse amor para toda a turma. “Eles têm um cuidado com os colegas que apresentam dificuldades, acho isso extraordinário”, ressalta. Segundo a professora, é possível observar que as crianças possuem um olhar puro e o preconceito acaba passando longe da sala de aula. “As crianças aceitam muito. Quem tem preconceito geralmente é o adulto. A relação entre os alunos é muito especial. Eles vivenciam isso com muito mais naturalidade”, finaliza Claudete.

Nós, professores, temos que ter o cuidado de olhar para os alunos de maneira a reconhecer as diferenças com naturalidade e atenção. Claudete Bourscheid Wagner Professora

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© Fotos: Elaine Cezaro

você sabia?

Bagagem cultural A hospitalidade do povo brasileiro é um dos grandes diferenciais observados por quem nos visita. As belezas naturais, o clima tropical, a cultura e tantos outros aspectos chamam atenção de quem passa por aqui. Da mesma forma, os turistas que vêm a passeio, trabalho ou estudo também trazem em sua bagagem muitas histórias e um baú recheado de costumes e cultura diferente para compartilhar. Todos os anos, o Colégio Marista São Francisco recebe intercambistas de vários países, que escolhem o Brasil como destino para partilhar sua cultura, conhecimento e vivências. Anna Brynhildur é islandesa e escolheu o Brasil justamente pela vontade de conhecer um lugar totalmente diferente da sua origem. Essa diferença é perceptível já de início, quando Anna arrisca o português e conta sobre o frio que faz em seu país. “Eu queria conhecer um lugar muito, muito diferente. Aqui é calor e na Islândia é muito frio. A recepção das pessoas é muito agradável”, comenta Anna, que mora com uma família de Chapecó durante o período de intercâmbio. O fato de a “irmã” (da família brasileira que a recebeu) também estudar no Colégio facilita a convivência e o aprendizado. Para a aluna islandesa, o que mais chamou atenção, além das práticas de estudo do Colégio Marista, foi o calor humano e a receptividade dos professores e colegas, desde a sua chegada. “As pessoas aqui são muito mais próximas. Na Islândia, todo mundo é mais fechado, ninguém abraça, beija.

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As culturas islandesa e espanhola em sala de aula

É apenas ‘oi’”, explica. A primeira língua falada aqui no Brasil foi o inglês, o que facilitou a comunicação nos primeiros dias. Depois de 11 meses de convivência, a islandesa levará para seu país uma bagagem cultural gigantesca, assim como deixará um pouco da sua experiência para os alunos por meio da troca de informações sobre os dois países. Leire Irigoyen é outra intercambista que conheceu o Colégio Marista São Francisco. Leire é espanhola e não sofreu muito com o idioma. Ela veio para o Brasil por meio de um programa do Rotary Club, que possibilita essa troca de experiências. “Eu já acabei o Ensino Médio na Espanha, então seria um ano para viajar e conhecer outros lugares antes de iniciar a faculdade. Eu gostei muito das pessoas daqui, do jeito delas. Muito mais afetivas”, destaca Leire. Segundo a intercambista, quando chegou ao Colégio Marista ficou surpresa com a acolhida. Ela já recebeu intercambistas em sua casa e quando eles chegavam à escola, na Espanha, não eram acolhidos como fazemos por aqui. “Lá eles não enturmam, aqui eu já tenho as minhas amigas e fui muito bem recebida”, explica.

Uma experiência para toda a vida Não são apenas os intercambistas que ganham ao permanecerem um período fora do seu país de origem. Para quem convive em sala de aula, a experiência é enriquecedora, como explica o professor de História Rodri-

Colégio Marista São Francisco

go Constâncio. “O mais importante, na minha opinião, é essa vivência que o aluno tem em sala com a pessoa de outro país. Porque ele vê outra cultura, vê gente diferente, entende como está a política do ensino lá fora e o aluno do Ensino Médio passa a entender a diversidade do mundo com uma pessoa de outro lugar do mundo ali com ele. Para o intercambista é fantástico, sem dúvida, pois são vários os benefícios, como a bagagem cultural. Para o nosso aluno também é incrível, você pode usar a cultura dessa pessoa que mora em outro país em sala de aula”, explica. Segundo Constâncio, as alunas Anna e Leire compartilharam com os demais colegas as peculiaridades de seus países de origem. “Elas fizeram um trabalho sobre o país em que vivem e mostraram para os alunos. Teve um momento em que eu estava trabalhando com um assunto e pedi a elas que contassem como aquilo funcionava no país delas. A gente consegue pegar a realidade do aluno que é intercambista e trazer para a sala de aula”, destaca Constâncio destaca que o papel da Escola para socializar os alunos intercambistas é fundamental. Um trabalho especial, desenvolvido desde a chegada do aluno, que tem início com a Pastoral e a equipe pedagógica e passa pela família que está recebendo o intercambista. O principal objetivo é acolhê-los da melhor forma possível para que se sintam parte da turma e possam interagir uns com os outros.


gente nossa

MARISTA

Luiz Gustavo Guedes Diaz é Gente Nossa. Durante seis anos, foi aluno do Colégio Marista São Francisco. Tempo suficiente para deixar sua história marcada pelos ensinamentos e lembrar até hoje de momentos importantes vivenciados conosco. “As lembranças são diversas. Lembro muito das conversas com os amigos com os quais fortes laços de amizade são mantidos ainda hoje. Dos campeonatos, principalmente de futsal, da Semana Champagnat, Olimac, Jogos Escolares, sempre com o professor Acco”, relembra Diaz. Segundo o ex-aluno, as brincadeiras e os conteúdos também são lembranças fortes, especialmente as aulas de Biologia com a professora Mariza, de Língua Portuguesa com Ivanete, de História com Luciene. Assim como Diaz, outros ex-alunos, que agora são pais de alunos que atualmente frequentam o Colégio, também devem lembrar muito bem desses momentos. Um dos principais momentos que marcaram a trajetória de Diaz ocorreu em 1998, quando o Grêmio Es-

tudantil São Francisco foi reativado. “Reforçamos ainda mais nossas amizades e trabalhamos de forma ativa dentro de diversas atividades no Colégio”, conta. Mas as lembranças vão mais além. Algumas delas estão ligadas à formação Marista, o que permite ao aluno praticá-las no dia a dia. “A formação Marista sempre foi além dos ensinamentos de sala de aula. O desenvolvimento e crescimento moral sempre foram pilares dessa formação. Lembro muito de frases e discursos do Irmão Alcídio João Schmidt. Na época, não conseguíamos entender claramente o que ele tentava nos transmitir, mas hoje, após ter saído de casa e trabalhado em um grande centro, tais ensinamentos mostram-se totalmente verdadeiros e atuais”, considera Diaz. Atualmente, ele mora em São Paulo/SP. É formado em Medicina pela Universidade de Passo Fundo/ RS. Cursou dois anos de Residência Médica em Cirurgia Geral no Hospital da Cidade de Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, e, posteriormente, realizou o terceiro ano de Residência

© Foto: Elaine Cezaro

Médico do Albert Einstein é ex-aluno

A formação Marista sempre foi além dos ensinamentos de sala de aula. O desenvolvimento e crescimento moral sempre foram pilares desta formação. Luiz Gustavo Guedes Diaz Ex-Aluno Marista

Médica em Cirurgia Geral no Hospital Municipal do Tatuapé – Dr. Carmino Caricchio, São Paulo/SP. Diaz também realizou a complementação profissional em Hepatologia e Transplante de Fígado no Hospital Israelita Albert Einstein, onde exerceu, no ano de 2011, a função de preceptor da residência médica de transplante de fígado. Atualmente, ele é cirurgião da Equipe de Transplante de Fígado do Hospital Israelita Albert Einstein.

Colégio Marista São Francisco

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© Fotos: Elaine Cezaro

ser melhor

Pastoral Juvenil Marista comemora 10 anos! Estabelecer um processo de formação integral, onde o jovem desenvolva aspectos da espiritualidade, do seu papel ativo na Igreja, autonomia, aprofundamento do carisma Marista, do protagonismo juvenil e da intervenção eficaz na sociedade. Este é o objetivo da Pastoral Juvenil Marista (PJM) que em 2015 comemora seus 10 anos. A PJM é uma proposta educativo-evangelizadora que almeja, por meio da escuta e participação dos jovens, capacitá-los para encontrar respostas autênticas aos anseios e necessidades fundamentais da juventude e da evangelização. O Colégio Marista São Francisco conta hoje com a participação de aproximadamente 140 jovens e adolescentes nos grupos da PJM, que sistematicamente se encontram para vivenciar experiências diferentes. Uma das opções pedagógicas da Pastoral Juvenil Marista é o processo integral de educação na fé que acontece de forma processual, dinâmica e abrangente, sendo um itinerário que o próprio jovem percorre. Segundo a agente de Pastoral Edivane Rodrigues, esta é uma oportunidade ímpar na vida de cada um. “Para a juventude e para os adolescentes é uma oportunidade diferenciada de viver no ambiente escolar. Acreditamos na força do protagonismo juvenil, por isso desenvol-

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vemos estratégias para que os jovens tenham espaço, voz e vez e possam fazer a diferença no ambiente escolar e na sociedade”, explica. Durante o tempo de participação na PJM, os adolescentes e jovens engajados têm a oportunidade de vivenciar algumas experiências formativas definidas em nível Provincial ou regional. Entre elas está o Desafio Juvenil Marista (DJM), que proporciona desafios práticos para que eles possam se desenvolver e analisar as suas dificuldades do cotidiano. “São atividades que proporcionam uma reflexão mais profunda sobre os limites e possibilidades pessoais e grupais, a partir da busca coletiva e cooperativa de soluções para desafios propostos que buscamos relacionar com os desafios práticos da vida diária de cada um, possibilitando a superação de seus medos, angústias e dificuldades”, comenta. O Curso de Liderança Marista (CLIMA) é outro diferencial que atrai muitos jovens em encontros que buscam o despertar para a liderança, para o protagonismo nos diferentes espaços em que participam. Nesses dez anos, há muito o que ser comemorado. “A PJM tem uma história muito bonita, gestada a partir do sonho de muitos jovens, leigos e Irmãos Maristas. São muitos acontecimentos, muitas pessoas que pas-

Colégio Marista São Francisco

saram por este projeto. Por meio da PJM, promovemos a evangelização de adolescentes e jovens, por amor ao Reino de Deus e às juventudes, e para darmos continuidade à missão que São Marcelino Champagnat nos legou”, destaca. O aluno João Victor Santin Carraro participa da PJM há oito anos. Hoje na terceira série do Ensino Médio, João Victor sabe exatamente o que a PJM representa em sua vida. “É um espaço privilegiado de encontro com o outro, conhecemos muitas pessoas e elas se tornam importantes para a nossa vida, tudo isso pautado em valores, e o mais legal é que podemos colocar tudo o que aprendemos em prática. A PJM é uma família dentro do Colégio, e o Marista se destaca também por isso. A PJM é um espaço em que podemos ser quem somos, porém nos desafiando a melhorar cada vez mais”, comenta João Victor, que ainda destaca que mesmo ao final da terceira série pretende continuar auxiliando a PJM. Eduarda Reollon está no 6º ano. Para ela, participar da PJM é uma forma de fortalecer a sua fé. “Pra mim é um momento importante, de oração, de encontro na fé, e eu também acabo conhecendo pessoas novas, pessoas que vou levar por muito tempo na minha vida. Enquanto eu estiver no Marista vou continuar na PJM”, conta Eduarda.


www.colegiosmaristas.com.br

NA OLIMAR TEM UMA COISA QUE TODOS VÃO COMEMORAR: A AMIZADE.

A Olimar é um evento que celebra o espírito esportivo e a amizade entre os alunos dos Colégios Maristas. Venha participar. De 4 a 8 de setembro, no Colégio Marista de Londrina. VINÍCIUS SAMPAIO | ISABELA GOMES Atletas de futsal da 3ª e 2ª Série Acesse fb.com/olimpiadamarista e saiba mais.

Colégios Maristas. Preparação para todas as provas da vida.


© Foto: João Borges

essência

Ir. Alvanei Finamor Diretor Interino da Diretoria Executiva de Ação Social (DEAS)

O Instituto Marista nasceu de uma experiência de solidariedade na prática e prática da solidariedade! Quem conhece a história bem sabe. Marcelino Champagnat, ao visitar o jovem Montagne – doente, analfabeto e completamente alheio sobre quem era Deus –, teve ali o impulso que faltava para iniciar um movimento de transformação da sociedade da sua época: a fundação do Instituto Marista, com a missão de educar e evangelizar crianças e jovens, inicialmente no interior da França e, hoje, em mais de 80 países pelo mundo. “A solidariedade é o sentimento que melhor expressa o respeito pela dignidade humana”, disse Franz Kafka, escritor tcheco de língua alemã – um dos principais nomes da literatura. Para o Instituto Marista, a educação, a evangelização, a solidariedade e o voluntariado são valores evangélicos e instâncias que ajudam as pessoas na sensibilização para com as necessidades e mazelas do outro, diante de situações que precisam ser assumidas nos âmbitos pessoal, fraternal, coletivo e social por todos nós, enquanto cidadãos e membros da Igreja. "Criamos oportunidades para projetos de convivência, de solidariedade e de voluntariado entre crianças, jovens e adultos de diferentes classes sociais, culturais e estilos de vida. Assim, desenvolvemos sua abertura de espírito e os iniciamos no hábito de partilhar tempo, talentos e habilidades no serviço do próximo", como citado no documento Missão Educativa Marista.

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Solidariedade na prática e prática da solidariedade Na esteira de São Marcelino Champagnat, a vida Marista tem me oportunizado trilhar caminhos de solidariedade na prática e prática da solidariedade. No fundo, a gente acaba fazendo a experiência de se tornar um ser humano cada vez melhor ao interagir com tanta diversidade e beleza, mas também ao lidar com um universo de contradições sociais e adversidades mil por esse mundo de Deus. Isso me faz lembrar de José Saramago, escritor e gajo poeta, que afirmou: "Mesmo que a rota da minha vida me conduza a uma estrela, nem por isso fui dispensado de percorrer os caminhos do mundo” e de tantas pessoas que Deus tem colocado na estrada da minha vida. E, de fato, as experiências profundamente humanas são "realidades que exigem de nós a capacidade de ir além das aparências para atingir a essência e adquirir posturas sempre novas: ver o invisível, escutar o silêncio, adivinhar a angústia e sondar o mistério", como afirmou, sábia e profeticamente, Dom Helder Câmara. “Não são os pobres que devem compartilhar a nossa esperança; nós é que devemos compartilhar a deles. Eu aprendi muito com aqueles que são chamados pobres, mas que são ricos do espírito do Senhor”, disse o saudoso pastor. Ele avançou ao dizer que "quando os problemas se tornam absurdos, os desafios se tornam apaixonantes", e recomendou: "Se as pessoas são pesadas demais para serem levadas nos ombros, leve-as no coração".

Solidariedade na prática e prática da solidariedade requer estar atento, sentir a injustiça do ser humano e reagir, trabalhando, partilhando e criando soluções para que se viva em paz e com dignidade. Dessa forma, ela se torna o eixo que orienta toda a vida, as opções e ações de cada um. O meio mais adequado para se percorrer o caminho até Deus é o amor e as formas mais coerentes de amor no plano social são o exercício e o aprendizado da solidariedade. De fato, não existe outra via para a solidariedade humana senão a procura e o respeito pela dignidade de cada pessoa. “Eu não acredito em caridade. Eu acredito em solidariedade. Caridade é tão vertical: vai de cima para baixo. Solidariedade é horizontal: respeita a outra pessoa e aprende com o outro. A maioria de nós tem muito o que aprender com as outras pessoas”, asseverou Eduardo Galeano, escritor uruguaio.

CHAMPAGNAT

ensina a Montagne

as coisas de Deus

E MONTAGNE lhe ensina que não

HÁ MAIS TEMPO A PERDER.


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© Ilustração: Rabisko

solidariedade

Ressignificando a liberdade Proposta inovadora Marista contribui para que adolescentes que fazem uso abusivo de álcool e outras drogas criem novos repertórios para suas vidas e construam seus espaços na sociedade Por Michele Bravos

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Ela buscava liberdade quando passou a consumir drogas frequentemente. A procura não foi bem sucedida e Carolina Machado, então com 16 anos, precisou de ajuda para sair do uso abusivo. “Eu morava com meu pai e não tínhamos uma boa relação. Eu queria fugir, ter liberdade e experimentar algo novo”, relata Carolina durante uma conversa na varanda do espaço onde está localizado o Centro Social Marista Propulsão, um projeto inovador no Brasil dedicado à inserção social de adolescentes em tratamento devido ao consumo abusivo de álcool e outras drogas. É nesse local que histórias como a de Carolina são ressignificadas pelos próprios jovens, com o auxílio de uma equipe multidisciplinar – que conta, atualmente, com um coordenador pedagógico, três educadores sociais, um assistente social e um psicólogo. Em comum acordo, jovens e profissionais desenvolvem atividades que promovem a criação de novos repertórios aos atendidos. De acordo com Altieres Frei, diretor do Centro Social, para que isso seja possível, o Propulsão se dedica de forma singular aos adolescentes. “Estamos pensando em qualidade, por isso, temos apenas 24 vagas. Quando o adolescente adere ao atendimento, sugerimos que ele proponha uma atividade para que possamos ajudá-lo a desenvolver. Nós perguntamos a ele: ‘O que você quer fazer?’”. Tanta liberdade foi vista até com estranheza por Carolina, em um primeiro momento. “Isso era muito diferente dos lugares que eu conhecia. O modo como sou tratada é acolhedor”. Apontando para algumas redes instaladas no gramado, ela continua: “Está vendo ali, aqueles adolescentes conversando com um educador? É assim sempre. Comigo também era assim. Às vezes, eu chegava e só queria ficar ali, conversando, batendo um papo cabeça”.


© Fotos: Gilberto do Rosário

As paredes grafitadas, a cozinha bem espaçosa e convidativa, o barulhinho baixo de um filme passando na sala mostram que são muitas as atividades que acontecem no Propulsão. O coordenador pedagógico Rudinei Nicola explica que todas elas possuem um propósito. “Após uma sessão de cinema, por exemplo, os adolescentes conversam e discutem sobre a temática vista na tela. Nas atividades na cozinha, trabalhamos os vínculos. Uma vez por semana, nós almoçamos juntos e são eles mesmos que cozinham. Em geral, uma receita da família de algum deles. Chamamos isso de ‘ocupação afetiva da cozinha’”. Além das atividades internas, os adolescentes também são convidados a ocupar outros territórios, como museus, cinemas, ruas e ciclovias. “Quando vamos a algum lugar, vamos de bicicleta ou de transporte público. Isso também proporciona uma inserção na cidade”, diz o coordenador.

Ocupando os espaços O diretor do Propulsão ressalta que pensar em inserção social é buscar a redução de danos. O termo, utilizado pela Política Nacional de Atenção Integral ao Usuário de Álcool e Outras Drogas, do Ministério da Saúde, designa um método em que o sujeito vá gradativamente se distanciando das drogas – tanto do uso, quanto dos rótulos que esse envolvimento lhe conferiu. “É por isso que, quando percebemos que é propício, incentivamos o adolescente a participar de atividades externas, como aulas de teatro”. Isso contribui para que ele deixe de ser visto como 'o ex-usuário de cocaína' e passe a ser percebido como 'o jovem que faz teatro'”. Dentre as muitas definições de Carolina, hoje ela também é re-

conhecida como jovem aprendiz. “Conforme foram fazendo tanta coisa por mim, eu fui tendo vontade de ser diferente e fazer algo. Hoje, eu também quero ajudar os outros”. Cabe ao Propulsão fornecer subsídios para que o jovem busque essas possibilidades. “Propomos que o adolescente procure o que o município ou outras instituições oferecem para ele de forma acessível em termos de profissionalização, atividades culturais e esportivas. Lembramos que ele é cidadão tanto quanto qualquer outro, por isso, pode – e deve – usufruir de propostas públicas. Em caso de atividades específicas, intervimos, buscando parcerias privadas, mas isso são exceções”, explica Frei. Conforme as percepções de mundo vão se transformando, os adolescentes vão aprendendo a ressignificar, de fato, a si próprios e tudo ao seu redor. “Minha definição de liberdade mudou. Antes, eu achava que liberdade era sair da realidade, fazer alguma coisa errada. Hoje, eu sei que liberdade é poder expressar as minhas ideias. Essa liberdade que eu achei é muito melhor do que a que eu estava buscando”, conclui Carolina.

© Estêncil: Carolina Machado

Atividades diferenciadas

As três etapas do Propulsão O atendimento no Propulsão se dá em três níveis. Saiba quais são eles: T1 – Este é o momento da adesão, em que o adolescente precisa criar vínculos com o projeto, para que o atendimento seja efetivo. T2 – Nesta fase, o jovem tem condições de desenvolver atividades dentro e fora do Centro Social, fazendo cursos com o acompanhamento da equipe, por exemplo. T3 – Esta etapa se refere ao momento em que o jovem está apto para a inserção de fato, assumindo um trabalho, por exemplo. Ainda assim, segue com o acompanhamento do projeto.

O que define o uso abusivo?

Isso era muito diferente dos lugares que eu conhecia. O modo como sou tratada é acolhedor. Carolina Machado

Segundo informações da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas, o uso abusivo ou nocivo define o consumo de álcool e outras drogas que colocam a pessoa em uma situação vulnerável. De acordo com Altieres Frei, diretor do Centro Social Marista Propulsão, o termo “uso abusivo ou nocivo” não está necessariamente vinculado à dependência química, mas aos riscos a que a pessoa está exposta. Por exemplo, um adolescente que compra fiado alguma droga, está em risco – está, portanto, fazendo uso abusivo ou nocivo.

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© Foto: Renata Salles

como fazer

Eles são a voz da juventude Marista Integrantes das Comissões de Juventude levam à frente ideias dos jovens Maristas, mostrando o protagonismo juvenil Por Michele Bravos

Diante de um conflito entre alunos e gestão escolar, por exemplo, os integrantes da Comissão da Juventude têm o papel de mediar a situação e defender aquilo que os alunos estão apontando como importante. Lançando um olhar ampliado sobre esse contexto, entende-se que as Comissões de Juventude permitem que os alunos desenvolvam uma responsabilidade sobre direitos e deveres do cidadão. Para Francine dos Santos, 22 anos, participante da Comissão Provincial de Juventude, integrar essa equipe é defender não somente a própria opinião, mas a de toda juventude Marista. “Temos que ter uma visão estratégica, lembrando

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sempre que estamos representando todas as juventudes presentes nos espaços Maristas”. Segundo o setor de Solidariedade do Grupo Marista, as Comissões de Juventude – presentes, atualmente, em 40 espaços Maristas que trabalham com jovens – “têm como principal desejo contribuir com a ação evangelizadora Marista nas dimensões eclesiais, sociais, políticas, culturais e institucionais”, representando os diferentes grupos juvenis Maristas (alunos dos Colégios, das unidades sociais e dos ensinos universitário e técnico). A coordenadora de Pastoral do Colégio Marista de Brasília (DF) Flaviane Leite destaca que o aluno, ao

participar da Comissão, tem envolvimento, inclusive, com questões relacionadas a políticas públicas. “O aluno precisa dialogar e argumentar em defesa dos demais alunos, por exemplo. Ele também vivencia a luta pelo protagonismo juvenil”. Francine considera que, de certa forma, o que os jovens desenvolvem no universo Marista reflete na sociedade. “Sinto-me útil quando vejo que a minha opinião é importante e que pode mudar o rumo de uma conversa. Acredito que, dentro da sociedade em que vivemos, esses espaços são muito importantes, pois nos incentivam a ser pessoas melhores e a pensar mais no todo”.


© Foto: Acervo Comissão da Juventude

que participam, além de proporem atividades; consultiva, à medida que a unidade ou níveis superiores vão até esses jovens para consultá-los; colaborativa, pois, também, ajudam nos eventos Maristas como equipes de organização; e representativa, uma vez que representam todos os jovens Maristas”. Entenda como essas Comissões se organizam e atuam.

Encontrando tempo

Futuramente, esse engajamento continuará gerando impactos positivos, por exemplo, na vida profissional do aluno, uma vez que na rotina da Comissão, o jovem desenvolve a liderança, o trabalho em equipe, a solidariedade e a capacidade de servir em favor do outro. “Esse trabalho bem realizado hoje o preparará para o mercado de trabalho, com uma visão mais humanizada da sociedade diante de seus desafios”, afirma Flaviane.

Formas de trabalho As Comissões da Juventude estão firmadas em quatro atribuições que guiam suas atividades. Bruno Socher e Ana Dias, do setor de Solidariedade do Grupo Marista, explicam cada uma: “Propositiva, pois as comissões levam os anseios dos jovens que representam às instâncias de

Mesmo com uma rotina atribulada, Francine faz questão de participar da Comissão. “Tenho que admitir que nem sempre é fácil. Curso Agronomia em tempo integral, faço estágio, entre outras atividades. Mas acredito que a vontade de ser Marista como Champagnat é o que me move a cada dia”. Nesse cenário de agenda lotada, Flaviane aponta para a importância de pais e professores apoiarem o envolvimento dos filhos e alunos nesse trabalho. “É preciso existir uma parceria diante da caminhada realizada, proporcionando ao aluno a segurança de que ele está desenvolvendo um trabalho sério”.

Temos que ter uma visão estratégica, lembrando sempre que estamos representando todas as juventudes presentes nos espaços Maristas. Francine dos Santos 22 anos, participante da Comissão Provincial de Juventude

Organização das Comissões de Juventude As Comissões de Juventude se organizam em dois níveis de atuação: provincial e local.

Comissão Provincial Formada por jovens Maristas eleitos em assembleia, com a participação de representantes das Comissões Locais. Sua vigência é de dois anos. Responsabilidades - Estabelecer diálogos com as Comissões Locais, pastoralistas, Irmãos e outras lideranças juvenis, realizando uma escuta atenta. - Elaborar, junto ao Setor de Pastoral, reflexões, andamento de projetos, metodologias e linguagens que o Grupo Marista empreende no trabalho com as juventudes de todas as unidades. - Participar de diálogos externos ao Grupo Marista, representando os jovens da Instituição.

Comissão Local Formada por jovens Maristas que sejam atuantes no âmbito local, ou seja, nos Colégios, nas unidades sociais e nos ensinos universitário e técnico. Sua vigência também é de dois anos. Responsabilidades - Garantir que as atribuições estabelecidas em nível provincial sejam efetivas nas unidades em que atuam. - Agir de forma democrática, sempre em diálogo com os jovens, os pastoralistas e os gestores locais.

Para mais informações sobre como integrar esses grupos, faça uma visita ao seu Núcleo de Pastoral.

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compartilhar

“Virunga” Indicado ao Oscar 2015 na categoria de Melhor Documentário, “Virunga” conta a história de pessoas que lutam pela vida de gorilas quase em extinção e pela preservação do Parque Nacional de Virunga, na República Democrática do Congo. Os ativistas retratados são o diretor do parque, um guardaflorestal, um cuidador dos gorilas e uma jornalista francesa. A união dos esforços individuais em prol de uma causa comum reforça a ideia de que o bem se constrói em rede. O filme está disponível no serviço on-line Netflix. Redação Em Família Marista

IOS: goo.gl/MWhRdj ANDROID: goo.gl/h6Ggfo

Internet para ajudar O aplicativo Chance, disponível na Apple Store e na Play Store, tem como objetivo incentivar a prática da solidariedade. O usuário, ao se conectar, divulga seu pedido de ajuda. Aquele que pode auxiliá-lo responde. Em seguida, eles combinam como isso será feito. Algumas ajudas que podem ser solicitadas são: revisão de conteúdo de uma matéria, passeio com cachorro, indicação de uma vaga de emprego, entre outras. Felipe da Rocha, Coordenador de Pastoral do Colégio Marista Santa Maria (PR).

A solidariedade de Papa Francisco Neste livro, um diálogo entre o Papa Francisco, o rabino Abraham Skorka e o membro da Igreja Presbiteriana Marcelo Figueroa conduz a uma reflexão sobre a prática da solidariedade no dia a dia, transpondo a religião. O livro deixa claro que é preciso ter cuidado com falsas ideologias que podem levar para o lado oposto ao da solidariedade. Colégio Pio XII, de Ponta Grossa (PR)

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Como estrelas na Terra Essa produção indiana, dirigida por Aamir Khan, retrata a vida de Ishaan Awasthi, uma criança de nove anos que tem dislexia. O filme mostra como o desconhecimento dessa dificuldade, por parte da família e da escola, pode trazer grandes sofrimentos à criança. A vida do garoto é transformada quando ele encontra um professor que passou pelo mesmo problema em sua infância. É possível assistir no YouTube. Flávio Sandi, diretor executivo da Rede de Colégios

O FAZEDOR DE VELHOS

© Imagens: Divulgação

de Rodrigo Lacerda Na trajetória para o amadurecimento, Pedro irá encontrar pessoas que o farão perceber o sentido de sua existência. O professor Nabuco é peçachave para auxiliar o jovem na tarefa de se colocar no mundo. Colégio Marista Glória, de São Paulo (SP)

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diversão

Dia de índio

Vivenciar a cultura indígena pode ser um momento divertido em família e também de aprendizado e valorização da história do Brasil

© Fotos: Divulgação | Pataxó Turismo

Por Michele Bravos

Já houve um tempo em que os povos indígenas eram os únicos por este gigante território brasileiro. Hoje, eles são menos de 1% da população total do país, cerca de 820 mil indivíduos, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Mesmo com a miscigenação étnica, todo brasileiro tem, em alguma instância, um vínculo com os nativos desta terra. Para que a cultura indígena seja difundida, espaços de preservação ambiental e reservas indígenas, que ainda são morada para os índios, recebem visitantes. A ideia é manter viva a história do Brasil.

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Em Santa Catarina, por exemplo, a Reserva Volta Velha, um espaço de preservação ambiental, proporciona aos interessados visita a uma oca, oficina de arco e flecha, caminhada pela Mata Atlântica, canoagem e o mais interessante: uma vivência com o índio Yawaritsawa Trumai Waurá, o Yawa. Seu povo é do Alto Xingu, mas, atualmente, ele é diretor cultural da Reserva Volta Velha. “Todo diálogo com um verdadeiro nativo é de extrema importância para que se corrijam alguns erros cometidos durante a colonização, em que a história é contada de um lado só”, diz Yawa.

Para aqueles que estão dispostos a imergir a fundo na cultura, é possível percorrer cinco das 29 aldeias do povo Pataxó, localizadas no sul da Bahia, na Costa do Descobrimento. O roteiro é organizado pela Pataxó Turismo. Em qualquer uma delas a conversa com um representante indígena é um ponto alto do passeio, pois apresenta ao público a verdadeira cultura indígena. Na Reserva Volta Velha, Yawa gosta de contar sobre as histórias do seu povo e o dia a dia no Alto Xingu, ensinar as danças tradicionais e algumas palavras na sua língua. “Conhecer e entender o outro lado faz com que as pessoas pen-


sem e reflitam antes julgar um índio e sua cultura. Existem muitos conflitos entre homem branco e índio, por um não conhecer a realidade e o costume do outro. Acredito que, nas escolas, não se discuta ou estude a verdadeira raiz e quem de fato construiu a primeira história dessa terra, antes da descoberta pelos portugueses”, afirma Yawa.

Ponto alto É em semanas de lua cheia ou lua nova que as expedições para as aldeias Pataxós partem. A saída é de Porto Seguro, em direção ao sul. Dormir em redes, dentro de uma oca, faz parte da aventura – assim como comer bem. Durante os dias de percurso pelas aldeias, os visitantes degustam as comidas típicas da culinária Pataxó, como peixe na folha de patioba (uma espécie de palmeira) com farinha de puba (derivada da mandioca). Já na Reserva Volta Velha, Yawa afirma, convicto, que um dos momentos mais emblemáticos para os visitantes é quando todos estão na oca e ele se veste com enfeites indígenas, pinta-se com urucum e começa a falar na língua de seu povo. Apesar de toda a experiência que se oferece para os visitantes e da importância que isso tem, Yawa garante que ele também aprende com a vivência. “Aprendemos com nossos avós que os não índios vinham apenas para destruir e matar. Poucos para ajudar. Com esses encontros culturais, isso também muda”.

Agenda Tanto a visita à Reserva Volta Velha quanto o circuito pelas aldeais Pataxós precisam ser agendados com antecedência. Na Reserva Volta Velha, a vivência de um dia acontece de segunda a sexta, entre março e outubro, para grupos de 20 pessoas. Está tudo detalhado aqui: www.reservavoltavelha.com. br, na aba “Ecoturismo”. A rota das aldeias deve ser programada com 30 dias de antecedência e acontece o ano todo, em grupos pequenos. Mais informações no site: www.pataxoturismo.com.br.

Para saber mais sobre a cultura dos nativos do nosso país, acesse Povos Indígenas no Brasil: migre.me/pckLc

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olhar

Crise de sentido em um mar de

© Fotos: Shutterstock | Acervo do Colégio

{des}informação

O crescente envolvimento de jovens ocidentais em movimentos radicais gera questionamentos sobre qual o propósito de vida da atual juventude 48

Em março deste ano, o governo brasileiro detectou intervenções do Estado Islâmico (EI) para aliciar jovens brasileiros à causa, por exemplo. Também, neste semestre, presenciou-se expressões de radicalismos por parte de jovens cristãos diante de fatos considerados por eles uma afronta às Escrituras Sagradas. Para refletir sobre o que leva um jovem a acreditar que vale a pena se envolver em um movimento radical, que, por vezes, propaga morte e destruição, o doutor em Sociologia Eurico Gonzalez propõe uma discussão sobre o sentido da vida nos dias de hoje.


Nosso tema é complexo, ou seja, tem muitas causas simultâneas, de modo que podemos nos concentrar apenas em algumas delas. Sugiro que reflitamos sobre duas coisas: o império da inteligência eletrônica e a crise de sentido pela qual passa hoje o Ocidente, em geral, e o Brasil, em particular. O que chamo de “império da inteligência eletrônica” significa o fato de que as ideias que hoje estão à disposição na sociedade não possuem critérios institucionalizados de filtragem, mas deveriam ter. Quando Lutero traduziu a Bíblia, no século XVI, ocorreu algo semelhante: de uma hora para outra, um acervo completamente novo de pensamentos se distribuiu horizontalmente pela sociedade, podendo suas verdades ser interpretadas por cada um livremente, gerando, no curto prazo, crise de ordem e, no longo, ideias novas que originaram a modernidade. Vivemos, hoje, uma situação semelhante. Há enorme afluência de adventícios à sociedade e a internet faz com que cada um tenha o direito de dizer como acha que o mundo deve ser. Acrescente a isso o poder de sedução da publicidade, que produz e inculca ideias afirmativas sobre o mundo, nas quais, secretamente, a sociedade não acredita, pois sabe que sua finalidade é a de apenas seduzir a mente para que adquira esse ou aquele bem. Assim, temos uma situação cultural em que as ideias antigas são desacreditadas e novas não surgem com autoridade, muito menos por consenso. Além disso, como uma miríade de vozes – umas roucas, outras possantes –, cada um tenta resolver sozinho (inclusive por solidão de sentido) os difíceis problemas da vida. Não devemos ficar apreensivos demais. O número dos que seguem procurando uma vida normal ainda é amplamente majoritário, mas as exceções de que tratamos aqui apontam para direções potencial-

mente perigosas que, se não forem contrabalanceadas com inteligência e amor, podem aumentar. A sociologia sabe que a consciência do sujeito é produzida pela sociedade – e sabe, então, que quando a sociedade se desorganiza, a consciência individual se ressente paralelamente, em uma relação causal forte. Como especificidade de nossa época, porém, há a crise de sentido que mencionei anteriormente. Os principais referenciais coletivos de sentido estão dessacralizados em nossa sociedade: religião, ideais morais e políticos, ideais estéticos ligados à beleza e o próprio e prosaico valor da vida. Nada mais deixa de poder se submeter ao cálculo dos prazeres e das vantagens, está livre o caminho para que os humanos adorem as coisas materiais. Mas quem dera a vida fosse assim fácil de resolver... O cálculo dos prazeres e das vantagens ignora o problema do sentido interior da vida de cada um – mas este não deixa de existir. Impedida publicamente de se manifestar, a demanda por sentido da vida segue pulsando, vindo a se manifestar de formas bizarras e, frequentemente, destrutivas. Na medida em que a sociedade tomou por saber o que era, na verdade, sua ignorância e omissão quanto ao problema do sentido, foram se desenvolvendo

Facilmente vê-se na destruição alguma espécie de prenúncio do novo e do bom [...], quando não se espera mais nada do mundo real, quando não se sabe gostar da vida real, presente.

respostas cegas, raivosas (pudera!), ilhadas e não compartilhadas ao problema do sentido interior. Assim, chegamos a algum lugar: se somarmos o império da inteligência eletrônica à crise de sentido, perceberemos que as respostas às mais difíceis questões, que dizem respeito a todos os seres humanos, estão sendo dadas de modo confuso e fraco, incapaz de fazer face à imensidão dos problemas da interioridade. Quando se tem condições excelentes, já é muito difícil atinar uma resposta às grandes questões; quando se fazem tais perguntas à internet, obtém-se como resposta algo que não é uma resposta, mas uma incrível zoeira. Alguns jovens estão se deixando seduzir pela violência porque ela gera certo simulacro de sentido. Facilmente vê-se na destruição alguma espécie de prenúncio do novo e do bom (como as ideias sacrificiais sugerem), quando não se espera mais nada do mundo real, quando não se sabe gostar da vida real, presente. Essa é uma síntese do que penso sobre as condições interiores da vida da juventude hodierna. Para um exame completo do assunto, que não pode ser feito aqui, deveríamos observar também as “condições exteriores” da adesão de jovens ao terrorismo internacional – facilidades de trânsito de pessoas e de informações, etc. Eurico Gonzalez Cursino é doutor em Sociologia pela Universidade de Brasília e consultor legislativo do Senado Federal, onde responde pela área de Direitos Humanos e Cidadania. Cursino também tem realizado estudos em sociologia da religião e em sociologia política e do direito, bem como na intersecção desses temas.

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© Foto: Sxc.hu

Voluntários da pátria Tempo dedicado ao voluntariado no Brasil cresceu no último ano e isso nos coloca entre os top 10 países nessa prática. Em todo o mundo, ser voluntário e ajudar um estranho figuram como ações mais recorrentes Por Michele Bravos

Ainda que fatores políticos, econômicos e sociais estejam abalando o país, o Brasil mostra que atitudes solidárias são necessárias – principalmente nesses momentos. Segundo a ONG Charities Aid Foundation, o Brasil figura entre os top 10 países no quesito “doação de tempo”, considerando o número de voluntários. Junto com o Brasil, Rússia, Índia e China tiveram um aumento na quantidade de tempo dedicada a ações voluntárias. Apesar de essa ser uma boa notícia, a ONG aponta que também é esperada desses países – considerados economias prósperas – uma maior contribuição financeira, ainda que tenha ocorrido uma diminuição de doações em dinheiro no mundo todo. Esses aspectos apontados acima – tempo dedicado ao voluntariado e doações financeiras – são dois dos fatores avaliados pela Charities Aid Foundation para identificar o índice de solidariedade dos países, o qual vem sendo medido desde 2008. Outro fator analisado é o ato de ajudar um estranho, o qual se faz muito presente em países abalados por desastres naturais ou conflitos civis. A exemplo, o Iraque. O país tem sofrido com violências brutais e isso desperta nas pessoas a necessidade de ajudar o ou-

tro. Isso fez com que o país saísse da 90ª posição nesse quesito no relatório da ONG de 2013 para a segunda no último relatório.

Invertendo a ajuda O crescimento do índice de solidariedade da Ásia vem aumentando e isso faz com que a ONG afirme que o mundo deve repensar o modelo de solidariedade conhecido, o qual consiste “em uma transação que flui do Ocidente para o Oriente e do Norte para o Sul”. O relatório Future World Giving, da mesma ONG, afirma que há mais milionários no sul da Ásia (18 mil) do que no norte da América (17 mil) ou na Europa Ocidental (14 mil). A ONG aponta que é necessário que os novos-super-ricos sejam encorajados a serem solidários e, no caso deles, ajudem financeiramente – inclusive outros países. Paralelamente, apesar do potencial dessa parcela da população mundial, o grande pedido da Charities Aid Foundation para que a filantropia cresça no mundo e mais pessoas possam ser ajudadas – e aí a ONG coloca como meta a erradicação da extrema pobreza (pessoas que vivem com menos de US$ 1,25 por dia, segundo o Banco Mundial) – é para que a classe média seja convocada a ajudar.

Os relatórios podem ser lidos na íntegra nos seguintes links: l www.cafonline.org/pdf/CAF_WGI2014_Report_1555AWEBFinal.pdf l www.cafonline.org/pdf/Future_World_Giving_Report_250212.pdf. Ambos disponíveis em inglês.

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O número de pessoas consideradas de classe média deve crescer 165% até 2030, de acordo com dados da OECD (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Considerando que a maior concentração está nos países em desenvolvimento. Estima-se que se a classe média doar 0,4% de sua renda, eles podem contribuir com US$ 224 bilhões por ano. Segundo Jeffrey Sachs, autor do livro “O fim da pobreza”, US$ 175 bilhões anuais seriam suficientes para acabar com a pobreza extrema. A ONG alerta para que os governos de economias emergentes criem e apliquem desde já medidas que incentivem a filantropia, assim como a cultura da doação, apresentando novas formas de exercer esse ato na sociedade. Os meios de comunicação são apontados como fundamentais nesse processo que envolve mudança de pensamento.

Igualdade entre gêneros Homens e mulheres exercem a solidariedade de forma igual, não havendo diferenças significativas mundialmente. Apenas quando se observa a realidade de cada país isso se faz mais perceptível. Por exemplo, no Canadá, 75% das mulheres doaram dinheiro para caridade, contra 53% dos homens. Já no Afeganistão, 42% dos homens afirmam ter essa prática, enquanto apenas 24% das mulheres dizem o mesmo. Nesse exemplo de análise por país, fica claro o quanto as diferenças culturais influenciam nos resultados.



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