Em Família | Marista Maringá

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1º Semestre • 2015 | 15ª edição

Corrente do bem

Em todo tempo, somos convidados a praticar atos de solidariedade e fazer parte dessa corrente do bem. Mas, será que ser solidário é algo que se aprende?

SOLIDARIEDADE

Unidade Propulsão, uma proposta Marista inovadora, acolhe jovens que fazem uso abusivo de álcool e outras drogas.

DIA A DIA

Já pensou em receber um intercambista em casa? Confira dicas e embarque nessa aventura cultural.



Combinação única de bons valores e excelência.

O Grupo Marista conta com milhares de pessoas que, diariamente, vivenciam e disseminam importantes valores humanos e cristãos com o compromisso de promover e defender os direitos das crianças e dos jovens. Faz parte do jeito Marista a busca constante por excelência. Na área da

educação, da escola à universidade, formamos pessoas e trazemos resultados comprovados. Em atividades nas áreas de saúde e comunicação, levamos sempre a melhor qualidade para públicos de diferentes condições e necessidades. Em todas essas áreas, a ação social está presente

BRASÍLIA Colégio Marista de Brasília - Ensino Fundamental SGAS 609 CONJ A - Bairro Asa Sul - Brasília-DF CEP 70200-690 | (61) 3442-9400

Superior Provincial Ir. Joaquim Sperandio Presidente do Grupo Marista Ir. Delcio Afonso Balestrin Superintendente Executivo do Grupo Marista Paulo Serino Diretor da Rede de Colégios Ir. Vanderlei Siqueira dos Santos Diretor de Marketing E COMUNICAÇÃO Stephan Younes

Rua Imaculada Conceição, 1155, Prado Velho Curitiba-PR | Prédio Administrativo PUCPR 8º andar - CEP: 80215-901 | Tel.: (41)3271-6500

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Colégio Marista de Brasília - Ensino Médio SGAS 615 CONJ C - Bairro Asa Sul - Brasília-DF CEP 70200-750 | (61) 3445-6900 Colégio Maristinha Pio XII - Educação Infantil e 1º Ano do Ensino Fundamental SGAS 609, Módulo C - Bairro Asa Sul - Brasília-DF CEP 70200-690 | (61) 3442-9400 SÃO PAULO Colégio Marista de Ribeirão Preto Rua Bernardino de Campos, 550 - Higienopólis Ribeirão Preto-SP - CEP 14015-130 | (16) 3977-1400 Colégio Marista Arquidiocesano Rua Domingos de Moraes, 2565 - Vila Mariana São Paulo-SP - CEP 04035-000 | (11) 5081-8444 Colégio Marista Nossa Senhora da Glória Rua Justo Azambuja, 267 - Cambuci - São Paulo-SP CEP 01518-000 | (11) 3207-5866 PARANÁ Colégio Marista Paranaense Rua Bispo Dom José, 2674 - Seminário - Curitiba-PR (41) 3016-2552 Colégio Marista Santa Maria Rua Prof. Joaquim de M. Barreto, 98 - São Lourenço Curitiba-PR CEP 82200-210 | (41) 3074-2500

15ª Edição | 1º Semestre 2015 Periodicidade Semestral

com iniciativas alinhadas ao posicionamento institucional, mas também atuamos diretamente, por meio de uma ampla rede de solidariedade. Bons valores e excelência. Nossa missão é proporcionar essa combinação única para a construção de um mundo melhor.

Colégio Marista de Cascavel Rua Paraná, 2680 - Centro - Cascavel-PR CEP 85812-011 | (45) 3036-6000 Colégio Marista de Londrina Rua Maringá, 78 - Jardim dos Bancários - Londrina-PR CEP 86060-000 | (43) 3374-3600 Colégio Marista de Maringá Rua São Marcelino Champagnat, 130 - Centro Maringá-PR - CEP 87010-430 | (44) 3220-4224 Colégio Marista Pio XII Rua Rodrigues Alves, 701 - Jardim Carvalho Ponta Grossa-PR - CEP 84015-440 | (42) 3224-0374 SANTA CATARINA Colégio Marista São Francisco Rua Marechal F. Peixoto, 550L - Chapecó- SC CEP 89801-500 | (49) 3322-3332 Colégio Marista de Criciúma Rua Antonio de Lucca, 334 - Criciúma-SC CEP 88811-503 | (48) 3437-9122 Colégio Marista São Luís Rua Mal. Deodoro da Fonseca, 520 - Centro Jaraguá do Sul-SC - CEP 89251-700 | (47) 3371-0313 Colégio Marista Frei Rogério Rua Frei Rogério, 596 - Joaçaba-SC - CEP 89600-000 (49) 3522-1144 GOIÂNIA Colégio Marista de Goiânia Avenida Oitenta e Cinco, 1440 - Santa Marista Goiânia-GO - CEP 74.160-010 | (62) 4009-5875

Revisão Lumos | Bureau de Traduções

EDIÇÃO Diretoria de Marketing e Comunicação do Grupo Marista Eduardo Correa e Vivian Lemos

Envie comentários, críticas e sugestões sobre a revista para o email conteudo@grupomarista.org.br

REDAÇÃO

PUBLICIDADE R. Amauri Lange Silvério, 270 Pilarzinho Curitiba-PR – CEP: 82120-000 Para anunciar, ligue: (41) 3271-4700 www.grupolumen.com.br

Jornalista responsável: Rulian Maftum / DRT Nº 4646 Supervisão: Maria Fernanda Rocha (Lumen Comunicação) Edição de arte: Julyana Werneck PROJETO GRÁFICO Estúdio Sem Dublê | semduble.com

Capa Fernando Pereira,

estudante do Colégio Marista Santa Maria, de Curitiba (PR), sua mãe Patrícia, Goivana Ohta, do 3º ano, e o monitor de alunos Luciano Silva.

FOTO DE CAPA Gilberto do Rosário © Todos os direitos reservados. Todas as opiniões são de responsabilidade dos respectivos autores.

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índice

capa

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Que fatores influenciam na prática da solidariedade? Afinal, ser solidário é algo que se aprende?

1ª impressão

dia a dia

entrevista

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A história do Instituto Marista nasce de um ato de solidariedade, o qual, até hoje, é um convite a sociedade para agir com compaixão.

Acolher um intercambista em casa é uma experiência enriquecedora. Confira dicas de uma boa convivência e conheça a história da família Javorski, que está recebendo o neo-zeolandês Jacob Pritchard.

essência

solidariedade

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como fazer

compartilhar

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diversão

olhar

curiosidade

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O Irmão Alvanei Finamor relembra os primórdios do Instituto Marista e reforça a importância de se doar ao próximo nos dias atuais.

Veja de que forma a juventude Marista se organiza e defende suas ideias por meio das Comissões da Juventude.

Conhecer mais de perto a cultura indígena é se aproximar da nossa origem. Descubra roteiros em aldeias e reservas que, além de divertidos, são uma verdadeira aula de História.

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Conheça a Unidade Propulsão, uma proposta que contribui para que adolescentes que fazem uso abusivo de álcool e outras drogas ressignifiquem suas vidas.

Confira dicas de livros, filmes e aplicativos indicados pelos professores dos Colégios Maristas.

O sociólogo Eurico Cursino, da Universidade de Brasília, comenta sobre fatores que podem levar jovens a se envolver em lutas radicais, como as propostas pelo Estado Islâmico.

César Ribeiro, coordenador de Pastoral do Colégio Marista de Maringá (PR), traz uma reflexão sobre os fatores que influenciam as práticas de solidariedade e os novos posicionamentos Maristas sobre o tema.

índice

seu colégio

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Confira as matérias elaboradas exclusivamente para o seu Colégio.

Pesquisa internacional traça panorama de solidariedade no mundo. Confira o ranking de países mais solidários.


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1ª impressão

or uma compreensão mais ampla da solidariedade apostólico é bicentenário nas suas realizações por muitos países do mundo. No Brasil, ele começou em 1897, em Minas Gerais. Em 2017, o Instituto Marista completa 200 anos. O Ir. Emile Turú, Superior Geral, comenta, na carta Montagne, a importância dessa missão: hoje, há tantos jovens que vivem sem a força, sem a luz e sem o conhecimento aprofundado de Jesus Cristo – conhecimento que leva ao consolo e à amizade de Jesus – que importa comprometermo-nos como apóstolos, catequistas e educadores. Diante de uma sociedade de pouca fé, sem o correto sentido da existência, não se pode ficar indiferente. São os novos e numerosos Montagnes de hoje, cuja realidade nos provoca e nos convida a sermos generosos. Montagne tem, hoje, milhares de rostos diferentes e vive em realidades que reclamam generosa compreensão e pronta ajuda. O Irmão Turú alarga o entendimento do desafio, na perspectiva a que o Papa Francisco se refere quando nos convida a sair de nós mesmos para as periferias existenciais, entrando em contato com a vida concreta dos muitos outros empobrecidos e expostos a tantos perigos. A solidariedade volta-se à promoção e à defesa dos direitos de crianças, adolescentes e jovens e à para a nova evangelização e inclusão social. A solidariedade pode e deve ser aprendida e desenvolvida; o seu itinerário abrange processos e práticas que visam à caridade em obras e ações de verdadeiro melhoramento da pessoa e do grupo desajustado e empobrecido. Visa-se, pois, a melhores níveis de interação e ao oportuno

comprometimento apostólico, dentro das suas circunstâncias e realidades. Ser solidário implica grande compaixão, mas, acima de tudo, o reconhecimento do outro como pessoa necessitada. Champagnat não foi visitar o jovem Montagne para julgá-lo. Foi ao encontro de alguém que tinha a sua identidade e a sua história. Por isso, os dois saíram modificados. Champagnat ensinou-lhe, na urgência do momento, as coisas de Deus e, do seu lado, entendeu que não há mais tempo para perder. O convite é feito a mim e a você, atual leitor desta edição da revista Em Família. Devemos cultivar um coração solidário na nossa vida pessoal, familiar, social e eclesial. Que significa, então, para cada um de nós, o contexto em que a solidariedade é citada como a grande virtude do nosso tempo? Por certo significa colocar-nos na posição de partida, como interpela o Papa Francisco. Cumpre entender bem o sentido da expressão periferias existenciais. Todos somos chamados a uma conversão pastoral e missionária, porque as coisas não podem ficar como estão (EG 25). A que tipo de conversão me sinto convidado? A resposta constitui o atendimento da nossa consciência e do nosso coração solidário e comprometido.

Ir. Vanderlei Siqueira dos Santos diretor-executivo da Rede Marista de Colégios

© Foto: João Borges

Em 1816, o Pe. Champagnat foi chamado para atender a um jovem carpinteiro de 17 anos, gravemente enfermo, em uma aldeia próxima a Le Bessat, no sul da França. Após ouvi-lo em confissão e prepará-lo para a morte, o padre regressou a La Valla, pensativo. O encontro com o jovem Montagne marcou profundamente a vida de Marcelino Champagnat; nesse acontecimento, percebeu o chamado interior da graça de Deus. Ele iria fundar um instituto dedicado à educação cristã de crianças, adolescentes e jovens, em especial das vilas e dos povoados pobres. Ele levaria a bom termo tal empreendimento. O entendimento de que essa missão era obra de Deus foi basilar para a sua perseverança no projeto da fundação de uma congregação de religiosos dedicados à educação cristã e ao ensino básico da França de então. Nenhuma dificuldade bloquearia o seu projeto. Esta edição da revista Em Família estuda, em particular, a solidariedade. Esse termo evoca as mais diferentes emoções, interpretações e questionamentos. O encontro de Champagnat com Montagne nos revela que a Instituição Marista nasceu de uma experiência de solidariedade em relação de óbvia e grave necessidade. Apresenta-nos alguns referenciais, como a atenção que cumpre dar à realidade e à situação dolorosa do outro, isto é, o nosso próximo. A convicção profunda desperta não apenas a compaixão e a indignação; mas o essencial é a ação para minorar o sofrimento e o estado de abandono dos empobrecidos, sem a luz do bom ensino e, especialmente, sem a luz espiritual da instrução religiosa e cristã. Esse curso e discurso

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dia a dia

© Foto: Fabio Melo

Um intercambista

em minha

casa

Acolher o intercambista como um filho e deixar claras as regras da casa são fundamentais para uma experiência bem sucedida. Ser uma família hospedeira é culturalmente enriquecedor Por Michele Bravos

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Já pensou em adotar um filho estrangeiro? Calma, a gente explica. É comum e bastante incentivado por agências de intercâmbio que os adolescentes intercambistas se hospedem em casas de família para que a imersão na cultura do país para onde estão indo seja mais intensa e significativa. Abrir as portas de casa para um intercambista é como adotar um filho – mesmo que temporariamente. Para Celso Javorski, acolher o jovem Jacob Pritchard, 17 anos, da Nova Zelândia e que está estudando no Colégio Marista de Ribeirão Preto (SP), está sendo uma experiência enriquecedora. “É a primeira vez que estamos recebendo um intercambista e a troca cultural é muito rica. Temos dois filhos e um deles está fora do país, em intercâmbio também. Então, o Jacob, literalmente, está sendo tratado como um filho”. Para Guilherme Reischl, diretor comercial da Egali Intercâmbio, a consideração mais importante de um programa de intercâmbio em casa de família é que a família hospedeira acolha o estrangeiro como um membro da família. “O intercambista tem que usufruir da mesma estrutura de um filho. Ele tem que se sentir integrado, acolhido. As atividades diárias têm que ser realizadas com o intercambista. No começo,


isso pode significar sair da rotina – e a família precisa estar ciente disso –, mas, aos poucos, todos se adaptam”. Jacob afirma que um ponto positivo dessa experiência tem sido passar tempo com sua família brasileira. “Eles são pessoas muito legais, que fazem eu me sentir bem-vindo na casa deles”. Uma boa adaptação depende bastante de regras claras. Reischl lembra que toda casa tem normas que, naturalmente, são cumpridas pelos membros da família. O intercambista precisa ser inserido nesse contexto também. “Ele precisa saber o que pode fazer na cozinha, o que deve fazer com as roupas sujas – se ele irá lavá-las ou se alguém fará isso para ele –, se existe um horário para o banho, se o secador é de uso comum...”. O diretor comercial complementa que isso tudo deve ficar claro já no primeiro dia. “Assim que o intercambista chegar, dê as boas-vindas, faça ele se sentir em casa. Em seguida, de forma gentil, apresente as regras do lar”. Javorski conta que Jacob respeita inclusive as normas de comportamento – por exemplo, com relação a sair para festas e dar satisfação quanto a para onde está indo e com quem. “Tínhamos muita expectativa com relação a essa convivência. É também nossa responsabilidade zelar pela segurança dele”.

Integrando Integrar não quer dizer fazer as vontades do intercambista. Ele precisa conhecer e se adaptar aos costumes do país em que está. Uma boa forma de integrar o jovem à cultura e à nova família é na hora das refeições. “O momento das refeições é muito importante para a integração. Por isso, pelo menos algumas devem ser feitas com a família reunida”. Javorski afirma que os hábitos alimentares certamente são muito diferentes e isso sempre rende bastante conversa. Outra forma de integrar é convidar o intercambista para passear. “É importante que a família esteja prepara-

da para fazer 'programas de turista', mesmo na sua cidade natal. É preciso lembrar que o intercambista também está interessado em conhecer lugares típicos e diferentes dos que ele está habituado a ver”.

Comunicação Na casa da família Javorski, apenas a filha fala inglês. Então, foi preciso desenvolver formas de comunicação até Jacob estar mais fluente no português. “Às vezes, o Google tradutor nos ajuda. A gente acaba tendo que ser criativo”, diz Javorski. Reischl aponta que é ideal que pelo menos um membro da família compartilhe de um idioma em comum com o intercambista. “Caso contrário, a comunicação fica nula e pode gerar desconfortos, como prejudicar a compreensão das regras da casa. Uma família monoglota poderia ser um problema”. As barreiras de comunicação na casa de Javorski têm sido vencidas com bom humor. “Nós falamos português e inglês em casa. Eu imagino que deve ser um quebra-cabeça para eles entenderem o que eu falo, às vezes, mas nós rimos disso”, diz Jacob. O quesito “comunicação” também deve se estender para a família no exterior, pois isso gera maior confiança para o intercambista. “A família que está recebendo deve fazer contato com a família do outro país, mesmo que não falem a mesma língua. Por meio de uma conversa por chamada de voz e vídeo, as famílias podem se ver, sorrir uns para os outros e dar um ‘tchauzinho’. Isso já faz diferença”, afirma Reischl.

Atenção! Não existe idade limite para os membros de uma família receberem alguém. No entanto, recomenda-se que a pessoa que vai ser acolhida seja adolescente ou jovem. Segundo Guilherme Reischl, diretor comercial da Egali Intercâmbio, depois dos 25 anos, a pessoa já tem uma independência que poderia dificultar a interação. A família hospedeira deve avaliar isso.

dicas Seguindo essas dicas, a família hospedeira terá uma grande experiência de vida recebendo um intercambista. l Tenha certeza de que sua casa tem condições de receber mais um membro. Pode ser que ele tenha que dividir o quarto com os seus filhos, mas é importante que o intercambista tenha um espaço que ele sabe que é dele. l Conheça o intercambista antes de ele chegar à sua casa. Pode ser por e-mail, por chamada de voz e vídeo, etc. l Trate-o como um filho, tanto para as coisas legais, como passear em família, quanto para as regras. l Apresente as regras da casa. Elas precisam estar claras para o intercambista. l Pergunte o que ele gosta de fazer ou o que tem curiosidade em conhecer. Seja solícito, simpático, mas não extrapole, impondo a sua programação. l Tenha disposição para conviver com as diferenças – elas são enriquecedoras – e dialogue sempre!

Na foto: Maria Eduarda, Jacob, Anaisa e Celso Javorski.

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© Foto: Gilberto do Rosário

capa

Atitudes solidárias podem aparecer em diversos contextos. Mas elas são aprendidas ou as pessoas nascem assim? Por Michele Bravos

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Solidariedade se aprende? Falar de solidariedade no Brasil atual é um desafio, diante de tantos fatos de corrupção, de violência gratuita, de discriminação. Mas, para Viviane Silva, assessora da Rede Marista de Solidariedade (RMS), o desafio não é impossível. "Há um provérbio popular que explica bem o ensino da solidariedade: se a palavra convence, o exemplo arrasta. Portanto, é preciso bons pais, bons educadores, bons exemplos inspiradores do que é viver em sociedade". Ela complementa que é importante transmitir a ideia de "eu preciso do outro para viver". Dessa forma, tem-se uma melhor compreensão de senso de justiça e solidariedade. Entendendo a solidariedade como uma virtude, a pedagoga Luciene Tognetta, doutora em Psicologia Escolar pela Universidade de São Paulo (USP) e Universidade de Genebra, acredita que ela precisa ser vivida para ser assimilada. “Eu entendo virtude como uma disposição para fazer o bem, como afirma Comte-Sponville, e o bem não é para se contemplar, é para ser feito. Em momentos de crise, por exemplo, podemos indagar crianças e adolescentes sobre os sentimentos do outro. Só assim eles podem construir instrumentos psicológicos que os tornam capazes de solidarizar”. Na família de Fernando Pereira, 17 anos, aluno da 2ª série do Ensino Médio do Colégio Marista Santa Maria, de Curitiba (PR), as práticas solidárias estão presentes nas pequenas atitudes, como conta sua mãe, Patrícia Pereira. “Uma atitude solidária pode ser dar ouvidos a alguém que está precisando desabafar. Pode ser ajudar alguém a empurrar um carro na rua – coisa que eu já fiz, inclusive. É importante que a família dê esse exemplo e incentivo aos filhos”. Patrícia ainda afirma a importância de as ideias da família estarem alinhadas com as ideias do colégio. “Quando estava buscando uma escola para o Fernando, eu priorizei os valores que a instituição passaria, pois é isso que será lembrado para sempre”. Luciene lembra que a solidariedade é um valor que precisa ser buscado como outros valores morais. "Não nascemos solidários, mas nos tornamos solidários quando conseguimos reconhecer nossas próprias dores, quando temos a experiência de compartilhar as dores dos outros. Pessoas solidárias o são porque desejam ser”, diz. Fernando conta que vive essa constante busca para ser uma pessoa solidária e que tem aprendido a valorizar o que realmente importa. “Desde que comecei a participar da Pastoral da Juventude Marista (PJM), eu me tornei uma pessoa diferente. Sou mais calmo e me preocupo mais com a minha família e meus amigos. Na PJM, não aprendemos só a ser solidários, mas a ser pessoas melhores para o mundo, aprendemos a respeitar mais as diferenças, a dispor do nosso tempo para o outro – como nas missões Maristas – e a ter autonomia”. A pedagoga destaca que a solidariedade se faz presente já na infância. “Do ponto de vista psicológico, a solidariedade é uma das primeiras virtudes que as crianças apresentam e o fazem espontaneamente porque independe de uma construção cognitiva mais evoluída. Depende, na verdade, da sensibilidade com o outro, coisa que criança desenvolve desde bem cedo pela empatia”.

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© Fotos: João Borges

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Curiosidade

Patrícia complementa, expondo que, por vezes, percebe que os adultos não são solidários por medo: “Eles têm medo de ajudar um estranho e ele ser um ladrão, por exemplo. Mas acredito que o medo está relacionado à ausência de fé e as pessoas precisam crer mais, pois penso que, naturalmente, o ser humano é, sim, solidário”.

Ressignificando Por muito tempo, a ideia de assistencialismo, de dependência, esteve associada à solidariedade.

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No livro “O Ensaio sobre a Dádiva”, do sociólogo Marcel Mauss, o autor conta a história do Rei Artur e sua Távola Redonda para concluir seus pensamentos sobre os conceitos de dar, receber e retribuir – presentes ao longo do material: “Sobre a história do Rei Artur e a Távola Redonda. Disse o carpinteiro a Artur: ‘Far-te-ei uma mesa muito bela, onde poderão sentar-se seiscentos e mais, e andar em volta, e de onde ninguém será excluído... Nenhum cavaleiro poderá travar combate, pois ali o de maior destaque estará no mesmo nível que o de menor destaque’. Não mais houve lugar de honra e, por conseguinte, não mais houve querelas. “Os povos podem enriquecer, mas só serão felizes quando souberem sentar-se, tal como cavaleiros, à volta da riqueza comum. É inútil ir procurar longe o bem e a felicidade, pois ele está ali, na paz imposta, no trabalho bem ritmado, comum e solitário alternativamente, na riqueza acumulada e depois redistribuída no respeito mútuo e na generosidade recíproca que a educação ensina”.

Entre os povos ditos primitivos já se faziam presentes atos de dar, receber e retribuir como formas necessárias para uma vida em comunidade, mesmo que, muito atreladas a relações de poder. De acordo com o que explica o sociólogo Marcel Mauss, em seu livro “O Ensaio Sobre a Dádiva”, para que um rei pudesse continuar sendo superior, ele precisava ofertar aos pobres, colocando-os em uma

posição de inferioridade. Mas, recusar não era possível, pois esse ato era o mesmo que dizer que se tinha medo de retribuir. “Ao aceitar uma dádiva, aceita-se um desafio e ele pode ser aceito porque se tem a certeza de retribuir, de provar que não se é desigual”, expõe o autor. Diante disso, existe a necessidade de ressignificar conceitos. Viviane afirma que é preciso um ou-


tro modelo de sociedade, colocando a solidariedade na contramão da visão assistencialista que marcou a história. "Necessitamos de uma sociedade em que o direito seja garantido para todos, sem exceção, onde nenhum tipo de privilégio é aceito, já que fere o princípio comum de justiça. Nesse sentido, o que se discute é uma sociedade onde se aprende, desde criança, a não levar vantagem, nem dar o jeitinho brasileiro, mas que há regras e responsabilidades a serem cumpridas. Essa é uma nova forma de entender solidariedade. Essa posição coloca em relevo a defesa de direitos humanos e a justiça social que precisam ser assumidos por todos".

Relações solidárias hoje Os caminhos da solidariedade são uma trama entre a existência de cada indivíduo e as relações em que se encontram. É preciso se perceber além de si para ser solidário. “Gosto de uma expressão de uma escritora de livros infantis, Adriana Falcão: ‘Solidariedade é quando a gente se empresta pro outro’”, diz Luciene. Fernando relata que uma das experiências mais marcantes que teve na vida foi ter participado da Missão Solidária Marista 2015, em Pouso Redondo (SC), cuja premissa era justamente o contato com o próximo. “Nós ficamos hospedados na casa de pessoas que nem conhecíamos, fazíamos visitas a famílias mais vulneráveis e estávamos o tempo todo em contato com a população durante as atividades. Para mim, isso foi exercer a solidariedade na prática”. Para Patrícia, pensar em solidariedade é pensar em “dispor o seu tempo para o outro”. “Se nos perguntarmos qual o contrário de solidariedade eu diria ‘individualidade’. Acho que, assim, esse conceito fica mais claro”, diz.

As atuais formas de comunicação, sobretudo as que se efetivam em redes, podem incentivar a construção de comunidades e, consequentemente, a prática da solidariedade, pois partem dos princípios de reconhecimento e aceitação do outro como membro da rede, bem como do desenvolvimento de respeito mútuo e de interesse pelo próximo.

dos princípios de reconhecimento e aceitação do outro como membro da rede, bem como do desenvolvimento de respeito mútuo e de interesse pelo próximo”. Viviane complementa: "Podemos entender que a solidariedade está nessas relações com o outro que nos completa, que nos constitui. O contrário disso nos desumaniza, segrega e isola. Por gerar um comportamento coletivo de corresponsabilidade, é um dos principais valores que temos". Para Danielle, a possibilidade de constituição de comunidades nesses espaços virtuais intensifica as práticas solidárias. Ela frisa que o ponto mais importante nesse contexto é o conteúdo gerado pelos membros das redes. “As tecnologias e as redes sociais não promovem solidariedade por si só, mas pelo referencial de valores que os membros dessa comunidade possuem e que se revelam nas suas relações.

Danielle Pamplona Professora da Universidade de Brasília (UnB)

O estabelecimento dessas relações de responsabilidade recíproca está diretamente ligado à comunicação, possibilitando a interação e a colaboração. Traçando um pensamento para o contexto atual, em que o mundo virtual está muito presente, a professora Danielle Pamplona, da Universidade de Brasília (UnB), afirma que “as atuais formas de comunicação, sobretudo as que se efetivam em redes, podem incentivar a construção de comunidades e, consequentemente, a prática da solidariedade, pois partem

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capa

O campo fértil para a solidariedade é regado por valores de amor ao próximo, respeito às diferenças, justiça e ética. Cabe, portanto, aos membros dessas redes incentivar práticas que levem à formação de indivíduos comprometidos com o outro, que priorizem a dimensão humana, a valorização do outro e o fortalecimento dos laços solidários”.

Solidariedade x classes sociais Tendo esse conceito como norte, a solidariedade pode se fazer presente inclusive em ambientes menos favorecidos. "Ainda que o meio seja desfavorável, as dificuldades vividas podem ser superadas. Aliás, é de ambientes vulneráveis que surgem bons exemplos de partilha e solidariedade", diz Luciene. Viviane vivencia isso na prática por meio da RMS, que atua na criação de uma nova mentalidade nos contextos em que está presente. "Não fazemos atos pontuais de generosidade

Não nascemos solidários, mas nos tornamos solidários quando conseguimos reconhecer nossas próprias dores, quando temos a experiência de compartilhar as dores dos outros. Pessoas solidárias o são porque desejam ser. Luciene Tognetta Pedagoga e doutora em Psicologia Escolar pela Universidade de São Paulo (USP) e Universidade de Genebra

nos locais vulneráveis em que estamos, mas temos a solidariedade como valor e comprometimento em defesa da vida em todas suas formas, contribuindo assim para a superação da pobreza e da desigualdade, e pela defesa e promoção dos direitos das crianças e jovens". Conheça o Projeto Propulsão, na editoria Solidariedade desta edição, e saiba como a solidariedade é desenvolvida com

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jovens em situação de vulnerabilidade social.

Por que se faz o bem? Para alguns, ser solidário e fazer o bem são sinônimos. Já, para Viviane, entendendo solidariedade como uma oposição ao individualismo, ela considera que ser solidário é mais que fazer o bem. "A solidariedade supera a busca individual, levando-nos a uma busca

coletiva para encontrarmos soluções para problemas comuns". No fim, praticar a solidariedade e fazer o bem têm como finalidade promover algo de bom, em que todos, tanto quem ajudou, quanto quem foi ajudado, saem ganhando. Luciene afirma que esse jogo de interesse existe – mesmo que no âmbito psicológico – uma vez que “o desejo de ser reconhecido como alguém do bem é o que leva


© Fotos: João Borges

© Foto: Gilberto do Rosário

Fernando Pereira, 17 anos, aluno da 2ª série do Ensino Médio do Colégio Marista Santa Maria, de Curitiba (PR), e sua mãe Patrícia Pereira.

Da comunidade para a comunidade A origem atrelada a espaços populares motivou um grupo de pesquisadores a criar o Observatório de Favelas, “uma organização social de pesquisa, consultoria e ação pública dedicada à produção do conhecimento e de proposições políticas sobre as favelas e fenômenos urbanos”, como a própria organização se define. O Observatório existe desde 2001 e conta com atividades em diversas áreas de atuação: educação, políticas urbanas, comunicação, cultura, direitos humanos. Por meio das ações realizadas, a comunidade é instigada a se conhecer, a se desenvolver pessoalmente e a voltar o seu olhar e atenção para o meio em que estão, assim como para as pessoas ao seu redor. Para mais informações, acesse o site através do link: observatoriodefavelas.org.br

uma pessoa a agir bem. Queremos nos ver como solidários e detestamos nos ver como egoístas”. Fernando conclui que, independente do que move as pessoas a fazerem o bem, ser solidário contagia quem está ao redor e isso gera um efeito de causa e consequência positivo. “Quando você quer ser mais solidário e faz isso, você está servindo de exemplo para as pessoas e, consequentemente, influencia a todos”.

A solidariedade supera a busca individual, levando-nos a uma busca coletiva para encontrarmos soluções para problemas comuns. Viviane Silva Assessora da Rede Marista de Solidariedade (RMS)

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© Fotos: Acervo do Colégio

entrevista

Todos podem ser solidários O despertar da solidariedade é possível e depende de um compilado de fatores externos e pessoais. Apostas do Grupo Marista nessa área visam promover uma consciência crítica sobre o tema Por Michele Bravos

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A expressão da solidariedade se dá de formas distintas em cada meio e para cada pessoa. Para refletir sobre o assunto e apresentar de que forma o Grupo Marista pretende potencializar o despertar dessa prática nos Colégios, César Augusto Ribeiro é o entrevis-

Sem ignorar o fato de que a solidariedade pode ser ensinada e aprendida, na sua opinião, há pessoas que simplesmente nascem solidárias?

É uma questão difícil. Do ponto de vista biológico, há instintos de preservação que podem ser vistos como solidários – como, por exemplo, uma mulher que acolhe e cuida de uma criança em situação de risco de vida. Porém, entendendo a solidariedade como algo mais dinâmico, que ganha níveis e significados distintos ao longo do tempo e na diversidade de culturas, é difícil concluir que alguém já nasça solidário. É preferível afirmar que todos nascem com a possibilidade de desenvolver esse valor.

A solidariedade está na essência Marista. Por que investir no desenvolvimento de um ser humano mais solidário?

A educação Marista se pauta em vários princípios que apontam para a solidariedade como uma das virtudes de nosso tempo: a formação integral, o desenvolvimento da alteridade e da paz, o protagonismo das infâncias e juventudes, a cidadania planetária e outros que emanam da ética cristã.

Entendendo a solidariedade como algo mais dinâmico, que ganha níveis e significados distintos ao longo do tempo e na diversidade de culturas, é difícil concluir que alguém já nasça solidário.

tado desta edição da Em Família. Ribeiro tem uma longa caminhada no Grupo Marista, já tendo colaborado diretamente com a Rede de Solidariedade Marista. Atualmente, ele é coordenador de Pastoral do Colégio Marista de Maringá (PR).

Quais as apostas para este ano nas unidades pastorais dos Colégios?

A missão Marista no mundo é a educação de crianças e jovens, com um grande foco na defesa e na promoção da vida. Já há algum tempo, as Diretrizes da Ação Evangelizadora do Grupo Marista apontam para a solidariedade socioambiental como um elemento inculturador do Evangelho. A Rede Marista de Solidariedade avançou muito e tem um belíssimo trabalho no campo da defesa e da promoção dos direitos das infâncias e juventudes em situação de vulnerabilidade, pois amplia a ação social em rede, participa de espaços de construção e controle social das políticas públicas e motiva o Grupo Marista a avançar na educação para a solidariedade. Em sintonia com essa caminhada, em 2015, a Pastoral da Rede de Colégios assumiu a promoção e a defesa das infâncias e juventudes como um de seus eixos de análise e estruturação. O objetivo desse eixo é consolidar o posicionamento da comunidade educativa frente à defesa e à promoção dos direitos das infâncias e juventudes em sintonia com os direcionamentos da Rede Marista de Solidariedade (boas práticas de gestão, projetos de solidariedade, mobilização e comunicação) para que a vivência da fraternidade e da caridade cristã abra caminhos e estabeleça pontes para uma cidadania solidária. A aposta está em programas, projetos e ações estratégicos e inovadores que colaborem para que os diversos interlocutores – alunos, famílias, educadores, colaboradores, parceiros – desenvolvam a consciência crítica, ampliem seu olhar sobre a solidariedade, atribuam novos sentidos e colaborem para a transformação positiva do mundo.

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entrevista Para algumas pessoas, solidarizar-se com o outro, colaborar para essa transformação positiva é um verdadeiro exercício. Por que, às vezes, pode parecer difícil se doar ao próximo?

Não é fácil controlar os instintos egoístas e a tendência à acomodação. Nesse sentido, é difícil superar paradigmas anacrônicos, estruturas obsoletas e preconceitos em favor do bem comum. Dá trabalho sair de si, estimular a consciência crítica, reconhecer incoerências pessoais, desenvolver a alteridade, buscar coletivamente soluções assertivas com foco no grupo. Porém, a maior parte dos que começaram a desenvolver sua dimensão solidária encontrou um caminho de realização, ampliou o sentido de sua existência e tornou sua vida mais dinâmica.

Dá trabalho sair de si, estimular a consciência crítica, reconhecer incoerências pessoais, desenvolver a alteridade, buscar coletivamente soluções assertivas com foco no grupo.

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Ser solidário e fazer o bem são a mesma coisa?

Há diferentes níveis de solidariedade. De maneira simplificada, poderíamos destacar três. O primeiro é o assistencialismo. Muitas pessoas se comovem com o sofrimento alheio e se dispõem a ajudar, mas não necessariamente colaboram para que as raízes do sofrimento sejam superadas. O segundo é a fraternidade. Há pessoas que se dispõem a superar preconceitos e conviver com quem sofre. Aprendem que a solidariedade é um “caminho de mão dupla”, de interlocução que promove o crescimento de todos os envolvidos. O terceiro é a defesa e a promoção dos direitos e a emancipação dos sujeitos. Quem está nesse nível assume direta e indiretamente o acompanhamento das políticas públicas que incidem na vida de todos e o apoio às iniciativas que buscam superar as causas da vulnerabilidade social e econômica. Pensando assim, podemos afirmar que ser solidário e fazer o bem podem ser sinônimos, mas têm formas e impactos distintos. César Augusto Ribeiro, coordenador de Pastoral do Colégio Marista de Maringá (PR).


índice

Por Érika Gonçalves

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destaque

Crianças aprendem a importância de reduzir o consumo e reciclar o lixo.

com a palavra

ser melhor

ed. infantil

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O que pensa a Diretoria-Geral.

Conheça algumas ações da Pastoral.

Atividades práticas e rodas de conversa ensinam crianças sobre a diversidade e como conviver com ela.

ens. fundamental

ens. médio

você sabia?

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diz aí

caleidoscópio

gente nossa

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Projeto interdisciplinar busca valorizar avós e sua importância na história da família.

Por que as pessoas são diferentes umas das outras? Saiba o que pensam os alunos e o educador.

Ensino Religioso trabalha o respeito às diferenças criando uma cultura de paz.

Relembre os principais acontecimentos do Colégio.

Família mostra como é a adaptação ao Brasil depois de viver no Japão.

Médico maringaense conta a importância dos valores maristas em sua formação profissional e pessoal.


com a palavra

as vias da Nsolidariedade

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Colégio Marista Maringá

É relativamente fácil motivar-se para ações beneficentes. Mais difícil é avançar no nível do compromisso pessoal e social.

Ir. Afonso Levis Diretor-Geral

© Foto: Guilherme Neto

O termo solidariedade suscita geralmente a ideia de ajuda, de campanha para angariar produtos em favor de pessoas carentes. Hoje, a consciência cada vez mais esclarecida das pessoas impele a sociedade a superar a visão fatalista e a resignação diante da vida. A mera assistência social mostra-se insuficiente para os tempos atuais. Acentua-se a necessidade da solidariedade na defesa dos direitos humanos e no resgate da dignidade de toda pessoa. A partir desse horizonte mais amplo, de nossos valores cristãos e maristas, e com a consciência de que o empenho em favor da justiça e da transformação de estruturas alienantes e opressoras faz parte da educação evangelizadora, enfatizam-se alguns aspectos: a) Fazer com que a ajuda material traduza o compromisso pessoal. Não só dar coisas, mas dar-se, pessoal e comunitariamente, em compromisso transformador. É relativamente fácil motivar-se para ações beneficentes. Mais difícil é avançar no nível do compromisso pessoal e social. b) Desenvolver o cuidado com os bens materiais usando-os de modo evangélico e não como escravos do consumismo. Cultivar atitudes e sensibilidade de preservação do meio ambiente, dons de Deus à humanidade. c) As discriminações de todo tipo são desafios e, com isso, tornam-se oportunidades de aprendizagem, apelos ao comprometimento solidário para a mudança de mentalidades e da transformação de estruturas. d) A solidariedade cristã impele a alcançar níveis de compromisso que superam as sociedades simplesmente justas. Ela tem exigências que levam a doar a própria vida por amor, em favor do próximo. Assim, o Colégio é resultado de uma solidariedade cristã. Os Irmãos Maristas, colocando os bens em comum e levando vida simples, ao longo dos anos puderam disponibilizar muitos recursos para construir espaços destinados à educação e à evangelização. Desenvolver a capacidade de compartilhar que se fundamenta no amor ao semelhante abre as portas da solidariedade, que ultrapassa os limites dos grupos, dos credos e alcança a dimensão universal.


ser melhor

Campanha da Fraternidade e Ano Montagne Eu vim

para servir

Por César Augusto Ribeiro/Coordenador de Pastoral

© Imagem: Divulgação

Em 2 de janeiro de 2017, o Instituto (cf. Mc 10,45) Marista completará 200 anos de existência. Em preparação à festa, todos são convidados a trilhar um caminho de revisão pessoal e comunitária a partir de temas fundamentais na história Marista. Até julho de 2015, celebra-se o Ano Montagne. João Batista Montagne foi um jovem que Marcelino Champagnat conheceu à beira da morte, em outubro de 1816. Nunca foi para escola por causa daCampanha da Fraternidade 2015 IGREJA E SOCIEDADE pobreza e também nunca teve aces-FRATERNIDADE: vens em situação de vulnerabilidade COLETA NACIONAL DA SOLIDARIEDADE - Domingo de Ramos – COLETA - Pãomas so a nada relacionado à espirituali-29 de março social e econômica, e Justiçasobretudo para todas as pessoas dade alguma. Marcelino dedicou-lhe nos espaços de definição de políticas algumas horas para falar do amor de públicas e de defesa e promoção de Deus antes que o jovem viesse a fale- direitos. É preciso se aproximar dos cer. Comovido, Champagnat sai da- Montagnes de hoje e mobilizar toda quela casa motivado a empreender a sociedade para que os cenários em sem demora seu sonho: fundar uma prol de sua vida melhorem. congregação de Irmãos educadores Fiel à sua identidade e missão, o para atender crianças e jovens. Marista reforça o convite para que Hoje a Congregação Marista está toda a Comunidade Educativa emespalhada por 78 países, conta com preenda seus esforços para a con3,5 mil religiosos e 74 mil profis- quista do mesmo objetivo: “Tornar sionais dedicados à formação de Jesus Cristo conhecido e amado”, de crianças e jovens das diversas clas- forma inculturada, e formar pessoas ses sociais. Nos últimos anos, há um competentes e do bem, que colabocrescente envolvimento não só no ram para a construção de um munatendimento direto das crianças e jo- do melhor. © Imagem: Divulgação

© Foto: Amanda Cristina Nogueira

Dois grandes temas, um eclesial e outro Marista, tocam a história e convidam a refletir sobre a identidade e a missão do Colégio Marista: a Campanha da Fraternidade (CF), com o tema Igreja e Sociedade, e a preparação para a celebração dos 200 anos do Instituto Marista, em 2017. Até julho de 2015, celebra-se o Ano Montagne. Nas últimas cinco décadas, a Igreja católica empreende um caminho de renovação muito profunda e abrangente. O Concílio Vaticano II, realizado na década de 1960, tornou-se um ponto de partida para a ampliação da capacidade de diálogo e de adaptação da Igreja no mundo (pós-)moderno. (Confira no YouTube o “Dossiê Vaticano II”, com três blocos, lançado pelo Grupo Marista em 2015.) As Campanhas da Fraternidade, promovidas no Brasil antes da Páscoa, são uma das estratégias que abrem portas para os cristãos realizarem uma autocrítica e construírem caminhos para a efetivação dos valores vividos e anunciados por Jesus Cristo. Os colégios católicos também se inserem nesse rol de iniciativas.

2014|2015

Alunos visitam a Associação Maringaense de Autistas (AMA) para conhecer a instituição e conviver com os atendidos.

Montagne

Colégio Marista Maringá

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ed. infantil

Respeitando as diferenças

© Fotos: Flavia Ramos Lorencete

Atividades práticas e rodas de conversa ensinam crianças sobre a diversidade e como conviver com ela

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Colégio Marista Maringá

Solidariedade, tolerância, respeito ao próximo... Valores fundamentais para vivermos em sociedade de forma harmônica podem e devem ser aprendidos desde cedo. Mesmo crianças pequenas podem, de acordo com seu nível de maturidade e levando-se em consideração suas necessidades educacionais, aprender tais valores. Conforme explica Ana Maria Tono Mochi, coordenadora psicopedagógica, na proposta pedagógica do Colégio Marista há alguns eixos que organizam o currículo e que são chamados de “Dimensões”. “Essas dimensões privilegiam as relações entre as linguagens e abordam valores que regem todo o trabalho desenvolvido com as crianças pequenas. Dentre nossas Dimensões, temos uma, em especial, que chamamos de ‘Dimensão da acolhida e das relações solidárias’, cujo objetivo é ir além da solidariedade, pois implica em dar crédito/considerar/ouvir/aceitar/incluir/acolher especificidades e o outro, além de realizar construções com reciprocidade, relacionar-se com responsabilidade e comprometer-se a apoiar o outro. Desse modo, temas como a diversidade são trabalhados semanalmente e de maneira concreta, para que mesmo crianças bem pequenas possam compreender os conceitos trabalhados, utilizando-os em seu dia a dia”, explica.


Ana Maria pontua que, quanto mais cedo for iniciado o trabalho desses valores, mais fácil será incutir na vida das crianças valores significativos que as acompanharão por toda a vida. “Assim, quando forem adultos, não terão adquirido preconceitos”, completa a coordenadora. Os conceitos são trabalhados série após série, sempre fazendo a ligação entre eles, de maneira a criar um raciocínio lógico. “Primeiro as crianças percebem que nem todos são iguais, depois que é necessário cuidar de si mas também das relações com as pessoas. Na sequência, aprendem a respeitar e acolher diferentes culturas, para então tomar atitudes. Na verdade, esse trabalho sobre identidade é contínuo, inicia-se explorando o ‘eu’, depois o ‘eu e o outro’, até o momento que exploram as características dos grupos e da sociedade”, conta a coordenadora. Para trabalhar com os pequenos, são usadas diversas metodologias, sempre com atividades práticas, envolvendo as crianças de forma lúdica. Histórias, desenhos, rodas de conversa e metáforas são algumas delas. O objetivo é levar os alunos a refletir sobre as atividades cotidianas, nas quais eles se envolvem com frequência. Segundo Ana Maria, por serem muito observadoras, as crianças percebem com facilidade as diferenças. Devido à idade, não é discutido com os pequenos sobre o preconceito diretamente, mas eles são ensinados a perceber e respeitar as diferenças. Tais atitudes também se refletem nas famílias, pois os pequenos adoram compartilhar em casa o que aprendem na escola. “As crianças respondem positivamente a todas essas abordagens, tanto que transmitem os conceitos aprendidos para a família. Temos um caso em especial relatado por uma mãe. Ela contou que, enquanto fazia o almoço, seu filho percebeu a

diferença entre os ovos: um era branco e o outro marrom. Imediatamente, ele a questionou sobre o porquê daquela diferença. Sua mãe explicou que não sabia, por isso o filho ficou ao lado dela vendo os dois ovos (por fora e depois por dentro, quando a mãe os quebrou). Naquele dia, ele pediu para comer os dois ovos e, após comê-los, ele falou: ‘Mãe, agora eu entendo o que a minha professora disse sobre sermos diferentes e iguais ao mesmo tempo, pois olha estes ovos – por fora eles eram diferentes, mas por dentro são iguais, têm o mesmo sabor, é igual a mim e ao [disse o nome do garoto], eu sou loiro e ele é moreno, mas somos crianças e temos muitas coisas iguais’”, conta a coordenadora.

Na verdade, esse trabalho sobre identidade é contínuo, inicia-se explorando o ‘eu’, depois o ‘eu e o outro’, até o momento que exploram as características dos grupos e da sociedade. Ana Maria Tono Mochi Coordenadora Psicopedagógica

Colégio Marista Maringá

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© Fotos: Flavia Ramos Lorencete

ens. fundamental

Aprendendo com a Melhor Idade Projeto interdisciplinar busca valorizar avós e sua importância na história da família

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O projeto anteriormente denominado Bisa Bia, Bisa Bel foi idealizado pelas professoras das turmas do 5º ano do Ensino Fundamental, com o apoio da coordenação pedagógica e da coordenadora de Língua Portuguesa, professora Silvana Sipraki, em conjunto com as áreas de Arte, Educação Física e Núcleo de Tecnologia. Com o aprimoramento no decorrer dos anos e a constante necessidade de acompanhar as mudanças curriculares da série, o projeto passou por reformulações. Inicialmente, foi um trabalho em conjunto com o Núcleo Tecnológico, a área de Língua Portuguesa, Artes e Educação Física. Hoje, passa por novos olhares e objetivos. Tal mudança também tem a ver com a necessidade de refletir sobre questões relacionais,

Colégio Marista Maringá

comportamentais e familiares observadas entre os alunos da série. O respeito aos idosos e à família é o tema central nesta nova etapa. Contudo, o prazer pela leitura continua sendo um aspecto primordial a ser explorado e incentivado, além da importância do trabalho em grupo, a produção textual e artística. A disciplina de Ensino Religioso está fortemente atrelada ao projeto, chamado agora de Aprendendo com a Melhor Idade, visto que o enfoque da solidariedade vem sendo explorado com bastante ênfase. Nessa perspectiva, os objetivos do projeto são a valorização dos avós e sua importância na história da família; o resgate das brincadeiras antigas que fazem parte da história dos avós; a re-


flexão sobre o tratamento dado aos idosos pelos familiares e pela sociedade; conhecer a história de idosos que não sejam parentes ou pessoas do convívio dos alunos; promover uma campanha solidária de produtos de higiene pessoal para o Lar dos Velhinhos; e, por fim, visitar a instituição que acolhe os idosos. O livro "Fugindo de casa", de Suzana Dias-Beck, retrata o relacionamento de uma avó e seu neto, passo inicial de nosso trabalho. A partir da história, foi possível discutir o relacionamento familiar e o papel dos idosos na sociedade. Ela também contribuiu para despertar a curiosidade sobre a infância das avós e, a partir de um levantamento das brincadeiras preferidas, os alunos puderam explorar suas regras, nas aulas de Educação Física, e brincar como no tempo da vovó. Além das regras, a Educação Física utilizou-se também das diversas “brincadeiras antigas” como possibilidade de prática corporal com o intuito de o aluno se apropriar dos movimentos diversos proporcionados pelas atividades. O ponto alto dessa etapa foi a participação da família em uma manhã lúdica, possibilitando um tempo para que filhos, pais, avós e professores “brincassem” juntos em vários ambientes criados para que a afetividade esteja alinhada à aprendizagem. Em continuidade a essa atividade, no componente curricular de

Arte, os alunos conheceram obras de grandes artistas como Pieter Bruegel e Candido Portinari, que retratavam as brincadeiras infantis de cada época. A partir desse estudo, fizeram releituras das obras comparando-as com as brincadeiras do tempo das avós. Os trabalhos ficaram maravilhosos e as crianças puderam expressar, a partir da pintura e do desenho, emoções vividas por eles despertadas nas atividades. Nesse contexto, as crianças puderam também enxergar, sob nova perspectiva, a realidade de outros idosos que não são seus parentes. Com ajuda da Pastoral, organizaram uma visita ao Lar dos Velhinhos e puderam demonstrar atitudes de solidariedade, desenvolvendo uma campanha de arrecadação de produtos que a instituição necessitava. Cartazes e visitas às outras séries solicitando doações acabaram por envolver todo o Colégio. Todas as ações e atividades desenvolvidas, além das já citadas – como a linha do tempo da vovó, receitas preferidas, painel com depoimentos sobre o que mais gostam de fazer e confecção de cartazes –, foram devidamente fotografadas e, ao término do projeto, serão entregues às famílias, em forma de DVD, como uma recordação e uma demonstração de carinho aos que neste momento se encontram na melhor idade.

Nessa perspectiva, os objetivos do projeto são a valorização dos avós e sua importância na história da família; o resgate das brincadeiras antigas que fazem parte da história dos avós; a reflexão sobre o tratamento dado aos idosos pelos familiares e pela sociedade; conhecer a história de idosos que não sejam parentes ou pessoas do convívio dos alunos [...]

Colégio Marista Maringá

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© Foto: Acervo pessoal

ens. médio

Amar o

próximo como a si mesmo

Trabalhar o respeito às diferenças é um dos eixos do Ensino Religioso, que busca levar o aluno a conhecer e refletir sobre o outro, criando uma cultura de paz

Seja de credo, cor da pele, socioeconômico ou de qualquer outro tipo, o preconceito ainda está arraigado em muitas pessoas e trabalhar com nossas crianças e jovens para garantir um futuro mais harmônico é nosso dever. Quando se trata de jovens, é muito importante saber como abordar o assunto. Os adolescentes vivenciam justamente um momento de mudanças tanto físicas quanto emocionais e muitas vezes são alvo dos próprios colegas que têm dificuldades em aceitar o diferente. Liliam Vitória Busatto Paladini, professora de Ensino Religioso, conta que em suas aulas procura fazer o aluno “repensar o outro na medida em que ele possui experiências diferentes, escolhas diferentes e uma cultura diferente”. Segundo ela, o desconhecimento dos jovens a respeito de si é um dos motivos para que eles não se deem conta de que algumas vezes podem estar sendo preconceituosos. “Nos dias atuais, qualquer aluno do Ensino Médio já sabe que não deve ser preconceituoso. Então, diante do grupo, ele nega que carregue precon-

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ceitos. Porém, na conversa ao pé do ouvido, é possível descobrir que, infelizmente, isso permanece vivo ainda nesta geração. E por saber que é antiético ser preconceituoso, os adolescentes fogem desse tema em sala de aula”, conta. Na realidade da sala de aula, alguns alunos também sofrem preconceitos, seja por atitudes que tomam no dia a dia, seja pela aparência física. A professora conta que as meninas, em geral, são cobradas para estarem bonitas e maquiadas. Já os garotos sofrem quando não correspondem ao ideal físico, ou seja, terem músculos. Liliam lembra que o preconceito é uma das fontes do bullying, “pois julgar antes de conhecer e fixar rótulos nas pessoas antes que lhes seja dada a oportunidade de mostrar quem ou como realmente são faz com que a pessoa a quem se dirige o preconceito se torne alvo de sucessivas situações constrangedoras e humilhantes”. Dentro do componente curricular Marista para a disciplina de Ensino Religioso, um dos eixos estruturantes trata das relações e experiências

Colégio Marista Maringá

Selfie após oração pelo bem da Guiné-Bissau.

religiosas. É esse eixo que direciona o professor para tratar questões como o preconceito, pois o objetivo é levar o aluno a repensar o outro e a reconhecer a dignidade no outro. “Cabe ao professor reforçar o respeito ao diferente, dentro de uma cultura de paz a partir da convivência escolar e estendendo-a para todas as relações sociais”, afirma a docente. Para trabalhar o tema de maneira mais eficaz e sem criar bloqueio nos alunos, são utilizados filmes, músicas, esportes e reportagens. “Isso tudo nos leva a trabalhar em sala de aula competências como o desenvolvimento da alteridade e do respeito às diferenças, sejam quais forem. O aluno Marista do Ensino Médio já tem dentro do seu coração a semente da aceitação e da tolerância, basta ajudar a desenvolver essa semente. Nossas atitudes enquanto educadores são fundamentais, já que temas como o preconceito devem estar presentes sempre que possível, em múltiplas linguagens, propiciando uma formação gradual para a cidadania e o amor ao próximo”, finaliza.


© Foto: Sxc.hu

você sabia?

Do outro lado

do mundo!

Família mostra como é a adaptação ao Brasil depois de viver no Japão pão, sabia que não seria muito fácil. Mas agora ficamos mais tranquilos ao perceber que eles também estão bem”, conta. © Fotos: Acervo pessoal

Aos 16 anos, o jogador de futebol Alessandro dos Santos foi para o Japão, para trabalhar e também terminar os estudos. Algum tempo depois, conheceu a esposa Naomi e lá tiveram quatro filhos: Allan, hoje com nove anos; Mônica, seis; Luan, quatro; e Jéssica, um aninho. Ele permaneceu no exterior por 21 anos e há pouco mais de um ano a família decidiu voltar ao Brasil. O lugar escolhido para fixar residência foi Maringá, cidade natal do jogador. “Voltamos em janeiro. Como tínhamos planos de retornar ao Brasil, no ano passado as crianças já estudaram em uma escola brasileira. Em casa falávamos um pouco o português, mas as crianças sempre frequentaram escolas japonesas, que são muito diferentes das daqui”, explica Santos. Segundo ele, no Japão as crianças estudam em período integral e a qualidade de ensino é equivalente em escolas particulares e públicas. Mesmo com um ano de preparação, as crianças sentiram a vinda para o país. “O Luan quase não falava português. O alfabeto é diferente, a forma de escrita também. Lá, usamos os kanjis [sistema de ideogramas] e principalmente o Allan sentiu essa diferença. Muitas coisas foram sendo adiantadas no Japão, mas aqui as formas de estudar são diferentes”, afirma. Santos espera que com o esforço dos filhos e o apoio da Escola logo as crianças estejam mais integradas à rotina de estudos. “Por isso também escolhemos o Colégio Marista. Sabíamos que era uma ótima escola e queremos o melhor para eles. Uma das coisas que mais gostamos foi da estrutura e do espaço oferecidos. No Japão, é tudo muito reduzido e aqui é espaçoso”, comenta. Quanto ao convívio com as outras crianças, ele conta que nos primeiros dias Luan ficou um pouco receoso pois não falava o idioma e tinha dificuldades em conversar com os coleguinhas, mas hoje todos já estão mais tranquilos e fizeram amigos. “Eu principalmente sabia que seria difícil no princípio, pois passei pela mesma coisa quando fui para o Ja-

Colégio Marista Maringá

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diz aí

Por que as pessoas são diferentes

?

© Fotos: Leandro Camillo

umas das outras

JÚLIA DE LAMARE S. PAULA 3ª série EM

ISADORA ELISA PEREIRA LOPES 2ª série EM

LARA RUFATO 8º ano EF

“Além da genética, as pessoas possuem diferentes personalidades, resultantes de princípios familiares e do meio em que vivem. Mesmo que os indivíduos passem pelas mesmas experiências as reações não são iguais.”

“Porque assim como no filme ‘Para sempre’, somos a soma de todos os momentos que vivemos, de todos que conhecemos, de toda a nossa história. Cada um tem a sua, assim como cada um tem seu jeito.”

“Eu acho que nós temos pensamentos, caráteres e personalidade diferentes. Além da genética, o meio social também influencia no nosso modo de agir e pensar.”

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Colégio Marista Maringá


BRUNO MEYER 1ª série EM

TAMIRIS SAITO 9º ano EF

ANDRÉ RODRIGUES 3ª série EM

“Cada pessoa possui uma cultura, um hábito, gosto e até mesmo maneiras de pensar diferente. Por isso nos relacionamos, para aprender cada vez mais com opiniões e pensamentos que não são iguais ao nosso.”

“Eu acredito que Deus fez as pessoas diferentes umas das outras, para que os diferentes talentos, ideias e opiniões fossem somados na construção de um mundo melhor.”

“Acredito que cada pessoa tem seus próprios objetivos e sonhos e a maneira com que lutamos para conquistá-los nos torna especiais e nos faz diferentes uns dos outros.”

OPINIÃO Da EDUCADORa “A criança percebe, desde os primeiros anos da infância, que as pessoas ao seu redor são diferentes. A princípio, observam seus familiares e suas características físicas (cor dos olhos, cabelo, pele...), mas, à medida que expandem seu convívio social, as diferenças tornam-se mais claras. Essas percepções só são permitidas por meio da interação social; por isso a escola é o principal espaço para exploração das diversidades.

Portanto, o professor, como mediador no processo de aprendizagem, deve promover a integração de todos, ensinando a respeitar e a valorizar as diferenças de cada indivíduo.”

Valéria Cristina de Souza ValÉrio Professora do Ensino Infantil 3

Colégio Marista Maringá

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© Foto: Nori Dias

© Foto: Guilherme Neto

caleidoscópio

ACONTECE

ESPORTE

STREET DANCE Na volta às aulas, a academia Daisa Poltronieri, com sede no complexo esportivo do Colégio Marista, programou apresentações de balé, jazz e street dance. Na foto, as bailarinas Ilana Souza e Sara Ribeiro.

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TEATRO Tradicional projeto pedagógico, o teatro da Educação Infantil objetiva desenvolver a criatividade, autonomia e segurança, estimulando o trabalho em grupo. Nesta apresentação do Infantil 4, o título foi “A bruxa que roubou o Sol”.

Colégio Marista Maringá

© Foto: Guilherme Neto

2015

MARISTA IDIOMAS Os alunos do Marista Idiomas iniciaram as aulas em fevereiro e com muita empolgação receberam e exploraram o material didático do nível Júnior. Com uma metodologia específica para crianças, o Marista Idiomas oferece aos nossos alunos uma aula de inglês diferenciada e divertida.


© Foto: Guilherme Neto

GINÁSTICA RÍTMICA Em março, os atletas de Ginástica Rítmica da Equipe Juvenil do Colégio Marista de Maringá fizeram apresentação especial durante o intervalo do período da manhã.

© Foto: Acervo do Colégio

acolhida

© Foto: Guilherme Neto

DIA DA MULHER O Dia da Mulher foi comemorado com muita alegria e todas as colaboradoras foram homenageadas com um maravilhoso doce personalizado. Música, cartazes e orações também fizeram parte deste dia.

CANTATA DE NATAL A cantata de Natal, com o título a “Noite do menino”, teve um brilho muito especial com músicas e encenação do nascimento de Jesus Cristo preparado pelas crianças e professoras. As famílias foram acolhidas com muito carinho e espiritualidade.

Colégio Marista Maringá

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© Fotos: Liliana Panhoni de Pontes

destaque

RE

Crianças aprendem a importância de reduzir o consumo e reciclar o lixo

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utilizar duzir ciclar

Para onde vai o lixo que produzimos em casa? Quanto o meio ambiente é afetado por nosso consumo? Falar sobre a importância do consumo consciente e do destino adequado para o lixo; sobre a responsabilidade de cada um para a preservação do ambiente; estimular a curiosidade por meio dos questionamentos e desafios; despertar nas crianças o desejo pela busca do conhecimento – estes foram os objetivos do projeto de investigação Proteja a natureza: qual o destino do lixo?, desenvolvido pela professora do 1º ano do Ensino Fundamental, Liliana Panhozi de Pontes, com seus alunos.

Colégio Marista Maringá

Desde a Educação Infantil, o Colégio Marista de Maringá compartilha diversas lições educativas com seus alunos, tais como utilizar os três “Rs” da Educação Ambiental (Reutilizar, Reduzir, Reciclar), consumir de forma consciente, refletir sobre qual o ambiente escolar desejamos, quem são as pessoas que trabalham para que a Escola fique limpa e organizada, e como podemos contribuir para mantê-la assim. Os alunos das turmas A e B do 1º e do 2º anos realizaram uma Oficina de Ateliê, onde foram produzidos objetos de arte com materiais reutilizáveis recolhidos em casa pelos alunos durante os


estudos sobre consumo consciente, lixo e seus impactos na natureza. Os objetos foram expostos na recepção da Educação Infantil. “O projeto surgiu em uma de nossas assembleias, com o encerramento das atividades da oficina, enquanto decidíamos o que fazer com o material reutilizável que não seria mais usado. Na ocasião, as crianças levantaram questões relevantes como: O que acontece com o lixo que produzimos? Para onde ele vai? Como o lixo chega à reciclagem? O que acontece com o lixo que não é reciclável?”, conta Liliana. As crianças partilharam com os colegas seus conhecimentos sobre o assunto e levantaram muitas hipóteses. Perceberam que não conseguiriam responder sozinhas aos questionamentos, então decidiram realizar o projeto de pesquisa. Começaram com a escolha do nome do projeto e, em seguida, selecionaram algumas ações, alguns meios de pesquisa e algumas pessoas para auxílio e orientação. Os alunos escolheram construir uma maquete representando as diferentes destinações do lixo para apresentarem no encerramento do projeto.

Desde o início do trabalho, as crianças relatavam as ocasiões em que precisavam chamar a atenção dos pais, dos avós ou de outros familiares por causa do lixo ou do consumo exagerado. Liliana Panhozi de Pontes Professora

“Para a realização dos estudos, contamos com o auxílio da bibliotecária Helena Moreno Zorman e de Adeline Ambrozim, do Núcleo de Tecnologia, além das famílias. As crianças observaram em casa e perguntaram aos pais como o lixo doméstico era separado e como era descartado. Fizemos a experiência de armazenar por uma semana o lixo reaproveitável produzido em nossa casa e em nossa sala de aula”, explica Liliana. A professora conta também que na maquete foram representados tanto prédios e casas como os possíveis destinos do lixo, além, é claro, do caminhão coletor e os pontos de coleta seletiva. A construção de todas as partes da maquete foi intercalada com a fundamentação teórica. Assim, antes de construir o lixão, as crianças estudaram como o mesmo é formado, suas características e o consequente prejuízo ao meio ambiente. “As crianças pesquisaram o tipo de destino do lixo de nossa cidade. Estudamos a formação do aterro, suas características, seus benefícios e riscos. Então construímos o aterro sanitário. Também nos informamos bastante sobre as usinas de reciclagem e as cooperativas. A construção da maquete intercalada com a fundamentação teórica e o envolvimento das crianças em todas as etapas do trabalho permitiram que elas internalizassem bem os conceitos, soubessem explicar cada parte ou etapa da maquete e assumissem o compromisso de manter o ambiente limpo”, detalha a professora. O trabalho, após finalizado, foi exposto na recepção da Educação Infantil. Os pais foram convidados a visitar a maquete e as crianças prontamente explicavam o que era cada parte, como tinha sido produzida, o que representava, qual sua importância, a que se destinava. Liliana conta que nos momentos de circulação era comum os alunos se aproximarem de outras crianças

ou adultos que estavam admirando a maquete para explicar o trabalho. Depois de algum tempo, o material foi levado para o corredor da sala de aula das crianças, onde permaneceu até o fim do ano. Os alunos de outras turmas também foram convidados e compareceram para ver a maquete e ouvir as explicações do projeto deles. Estudar sobre o lixo e sua destinação também teve impacto no dia a dia, tanto em casa quanto na Escola. “Desde o início do trabalho, as crianças relatavam as ocasiões em que precisavam chamar a atenção dos pais, dos avós ou de outros familiares por causa do lixo ou do consumo exagerado. Elas também passaram a ter preocupação com o pátio, o banheiro, a sala de aula e outros ambientes do Colégio. Eles se ajudavam a manter tudo limpo, organizado e com o lixo na lixeira adequada. Achei interessante o fato de as crianças compreenderem que o lixo não desaparece e que o lixeiro não abre saco por saco antes de pôr no caminhão para selecionar o lixo como eles pensavam, o que interferiu em suas práticas cotidianas. Tudo isso aconteceu de forma lúdica e prazerosa”, afirma a professora Liliana.

Colégio Marista Maringá

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gente nossa

Formação acadêmica e MORAL

Médico maringaense conta a importância dos valores maristas em sua formação profissional e pessoal

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na minha vida até os dias de hoje, fiz muitas amizades duradouras no basquete, ainda tenho grandes amigos. Pratiquei basquete durante a faculdade, fiz muitas e muitas viagens pelo Paraná todo jogando pelo Marista e depois pela universidade. “Estudar no Marista foi um dos grandes pontos fortes da minha infância e juventude. Além da formação acadêmica, que me possibilitou bases para sonhar com tudo que eu quisesse, sempre tínhamos espaço para dar vazão ao desenvolvimento dos nossos valores morais. Podíamos discutir assuntos que são fundamentais para a formação de uma criança e mesmo eu tendo uma formação de outra religião, que não a católica, nunca sofri nenhum tipo de preconceito ou discriminação, muito pelo contrário, todos sempre foram abertos a ouvir e dialogar sobre a forma como vejo a vida física e espiritual. “Fora isso, eu passava o dia inteiro dentro do Colégio, com muito prazer. Estudava de manhã, ia para casa almoçar, fazia as tarefas e voltava correndo, ficava o dia todo jogan-

Colégio Marista Maringá

do nas quadras e muitas vezes ia embora somente à noite. Simplesmente era minha segunda casa. “Tenho maravilhosas recordações do grupo de jovens, do qual sempre participei com muita dedicação, adorava conversar sobre assuntos ligados a Jesus e a nossa formação moral. Participei de diversos encontros Marista na chácara do Colégio, era o que tinha de melhor”. © Foto: Acervo pessoal

Depois de 17 anos fora, o maringaense Pedro Henrique Bressan Leite está de volta. Aos 16 anos ele foi para Curitiba a fim de estudar. Cursou Medicina na Universidade Federal do Paraná e se especializou em neurologia pediátrica, onde, segundo conta, pode atuar em todas as áreas do desenvolvimento das crianças. Em visita ao Colégio, onde estudou do Pré 2, hoje chamado Infantil 2, até o 2º Colegial, como na época era chamado o Ensino Médio, ele compartilhou algumas de suas recordações: “Tenho muitas histórias curiosas e engraçadas. Na época em que eu estava na 8ª série (9º ano atual), o Irmão Pedrão começou com um discurso dentro das salas de aula que ficou gravado. Ele passava de sala em sala dizendo que deveríamos estudar uma hora por dia no 1º ano, duas horas por dia no 2º ano e três horas por dia no 3º ano. A forma que ele falava era muito engraçada e cativante. Eu tentei levar isso em consideração, mas no 3º ano precisei estudar bem mais do que três horas. “Atualmente, dentro da minha profissão, eu aconselho os jovens a [fazer a] mesma coisa, só acrescento algumas horas a mais no Terceirão e falo que é para estudar uma hora por dia desde o 6º ano do Ensino Fundamental. “Eu jogava basquete, fomos campeões estaduais no nosso ano, ficamos praticamente dois anos invictos. Essa é outra coisa que trago

Formatura do Ensino Fundamental no Colégio Marista de Maringá.

Formatura de Medicina.


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NA OLIMAR TEM UMA COISA QUE TODOS VÃO COMEMORAR: A AMIZADE.

A Olimar é um evento que celebra o espírito esportivo e a amizade entre os alunos dos Colégios Maristas. Venha participar. De 4 a 8 de setembro, no Colégio Marista de Londrina. VINÍCIUS SAMPAIO | ISABELA GOMES Atletas de futsal da 3ª e 2ª Série Acesse fb.com/olimpiadamarista e saiba mais.

Colégios Maristas. Preparação para todas as provas da vida.


© Foto: João Borges

essência

Ir. Alvanei Finamor Diretor Interino da Diretoria Executiva de Ação Social (DEAS)

O Instituto Marista nasceu de uma experiência de solidariedade na prática e prática da solidariedade! Quem conhece a história bem sabe. Marcelino Champagnat, ao visitar o jovem Montagne – doente, analfabeto e completamente alheio sobre quem era Deus –, teve ali o impulso que faltava para iniciar um movimento de transformação da sociedade da sua época: a fundação do Instituto Marista, com a missão de educar e evangelizar crianças e jovens, inicialmente no interior da França e, hoje, em mais de 80 países pelo mundo. “A solidariedade é o sentimento que melhor expressa o respeito pela dignidade humana”, disse Franz Kafka, escritor tcheco de língua alemã – um dos principais nomes da literatura. Para o Instituto Marista, a educação, a evangelização, a solidariedade e o voluntariado são valores evangélicos e instâncias que ajudam as pessoas na sensibilização para com as necessidades e mazelas do outro, diante de situações que precisam ser assumidas nos âmbitos pessoal, fraternal, coletivo e social por todos nós, enquanto cidadãos e membros da Igreja. "Criamos oportunidades para projetos de convivência, de solidariedade e de voluntariado entre crianças, jovens e adultos de diferentes classes sociais, culturais e estilos de vida. Assim, desenvolvemos sua abertura de espírito e os iniciamos no hábito de partilhar tempo, talentos e habilidades no serviço do próximo", como citado no documento Missão Educativa Marista.

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Solidariedade na prática e prática da solidariedade Na esteira de São Marcelino Champagnat, a vida Marista tem me oportunizado trilhar caminhos de solidariedade na prática e prática da solidariedade. No fundo, a gente acaba fazendo a experiência de se tornar um ser humano cada vez melhor ao interagir com tanta diversidade e beleza, mas também ao lidar com um universo de contradições sociais e adversidades mil por esse mundo de Deus. Isso me faz lembrar de José Saramago, escritor e gajo poeta, que afirmou: "Mesmo que a rota da minha vida me conduza a uma estrela, nem por isso fui dispensado de percorrer os caminhos do mundo” e de tantas pessoas que Deus tem colocado na estrada da minha vida. E, de fato, as experiências profundamente humanas são "realidades que exigem de nós a capacidade de ir além das aparências para atingir a essência e adquirir posturas sempre novas: ver o invisível, escutar o silêncio, adivinhar a angústia e sondar o mistério", como afirmou, sábia e profeticamente, Dom Helder Câmara. “Não são os pobres que devem compartilhar a nossa esperança; nós é que devemos compartilhar a deles. Eu aprendi muito com aqueles que são chamados pobres, mas que são ricos do espírito do Senhor”, disse o saudoso pastor. Ele avançou ao dizer que "quando os problemas se tornam absurdos, os desafios se tornam apaixonantes", e recomendou: "Se as pessoas são pesadas demais para serem levadas nos ombros, leve-as no coração".

Solidariedade na prática e prática da solidariedade requer estar atento, sentir a injustiça do ser humano e reagir, trabalhando, partilhando e criando soluções para que se viva em paz e com dignidade. Dessa forma, ela se torna o eixo que orienta toda a vida, as opções e ações de cada um. O meio mais adequado para se percorrer o caminho até Deus é o amor e as formas mais coerentes de amor no plano social são o exercício e o aprendizado da solidariedade. De fato, não existe outra via para a solidariedade humana senão a procura e o respeito pela dignidade de cada pessoa. “Eu não acredito em caridade. Eu acredito em solidariedade. Caridade é tão vertical: vai de cima para baixo. Solidariedade é horizontal: respeita a outra pessoa e aprende com o outro. A maioria de nós tem muito o que aprender com as outras pessoas”, asseverou Eduardo Galeano, escritor uruguaio.

CHAMPAGNAT

ensina a Montagne

as coisas de Deus

E MONTAGNE lhe ensina que não

HÁ MAIS TEMPO A PERDER.


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Nada mais atual do que um novo jeito de aprender inglês: o jeito Marista.

A Rede Marista de Colégios, buscando proporcionar um ensino diferenciado de Língua Inglesa, implantou neste ano o Marista Idiomas, que utiliza a metodologia do Red Balloon, totalmente alinhada à proposta pedagógica e aos Valores Maristas. Com 45 anos de tradição, o Red Balloon é pioneiro no ensino exclusivo de crianças e jovens, respeitando as características de cada faixa etária e atendendo alunos a partir dos 3 anos.

Santa Maria: 41 3074 2543 :: Pio XII: 42 3224 0374 :: Champagnat: 16 3238 4800 Maringá: 44 3220 4224 :: Londrina: 43 3374 3600

Colégios Maristas. Preparação para todas as provas da vida.


© Ilustração: Rabisko

solidariedade

Ressignificando a liberdade Proposta inovadora Marista contribui para que adolescentes que fazem uso abusivo de álcool e outras drogas criem novos repertórios para suas vidas e construam seus espaços na sociedade Por Michele Bravos

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Ela buscava liberdade quando passou a consumir drogas frequentemente. A procura não foi bem sucedida e Carolina Machado, então com 16 anos, precisou de ajuda para sair do uso abusivo. “Eu morava com meu pai e não tínhamos uma boa relação. Eu queria fugir, ter liberdade e experimentar algo novo”, relata Carolina durante uma conversa na varanda do espaço onde está localizado o Centro Social Marista Propulsão, um projeto inovador no Brasil dedicado à inserção social de adolescentes em tratamento devido ao consumo abusivo de álcool e outras drogas. É nesse local que histórias como a de Carolina são ressignificadas pelos próprios jovens, com o auxílio de uma equipe multidisciplinar – que conta, atualmente, com um coordenador pedagógico, três educadores sociais, um assistente social e um psicólogo. Em comum acordo, jovens e profissionais desenvolvem atividades que promovem a criação de novos repertórios aos atendidos. De acordo com Altieres Frei, diretor do Centro Social, para que isso seja possível, o Propulsão se dedica de forma singular aos adolescentes. “Estamos pensando em qualidade, por isso, temos apenas 24 vagas. Quando o adolescente adere ao atendimento, sugerimos que ele proponha uma atividade para que possamos ajudá-lo a desenvolver. Nós perguntamos a ele: ‘O que você quer fazer?’”. Tanta liberdade foi vista até com estranheza por Carolina, em um primeiro momento. “Isso era muito diferente dos lugares que eu conhecia. O modo como sou tratada é acolhedor”. Apontando para algumas redes instaladas no gramado, ela continua: “Está vendo ali, aqueles adolescentes conversando com um educador? É assim sempre. Comigo também era assim. Às vezes, eu chegava e só queria ficar ali, conversando, batendo um papo cabeça”.


© Fotos: Gilberto do Rosário

As paredes grafitadas, a cozinha bem espaçosa e convidativa, o barulhinho baixo de um filme passando na sala mostram que são muitas as atividades que acontecem no Propulsão. O coordenador pedagógico Rudinei Nicola explica que todas elas possuem um propósito. “Após uma sessão de cinema, por exemplo, os adolescentes conversam e discutem sobre a temática vista na tela. Nas atividades na cozinha, trabalhamos os vínculos. Uma vez por semana, nós almoçamos juntos e são eles mesmos que cozinham. Em geral, uma receita da família de algum deles. Chamamos isso de ‘ocupação afetiva da cozinha’”. Além das atividades internas, os adolescentes também são convidados a ocupar outros territórios, como museus, cinemas, ruas e ciclovias. “Quando vamos a algum lugar, vamos de bicicleta ou de transporte público. Isso também proporciona uma inserção na cidade”, diz o coordenador.

Ocupando os espaços O diretor do Propulsão ressalta que pensar em inserção social é buscar a redução de danos. O termo, utilizado pela Política Nacional de Atenção Integral ao Usuário de Álcool e Outras Drogas, do Ministério da Saúde, designa um método em que o sujeito vá gradativamente se distanciando das drogas – tanto do uso, quanto dos rótulos que esse envolvimento lhe conferiu. “É por isso que, quando percebemos que é propício, incentivamos o adolescente a participar de atividades externas, como aulas de teatro”. Isso contribui para que ele deixe de ser visto como 'o ex-usuário de cocaína' e passe a ser percebido como 'o jovem que faz teatro'”. Dentre as muitas definições de Carolina, hoje ela também é re-

conhecida como jovem aprendiz. “Conforme foram fazendo tanta coisa por mim, eu fui tendo vontade de ser diferente e fazer algo. Hoje, eu também quero ajudar os outros”. Cabe ao Propulsão fornecer subsídios para que o jovem busque essas possibilidades. “Propomos que o adolescente procure o que o município ou outras instituições oferecem para ele de forma acessível em termos de profissionalização, atividades culturais e esportivas. Lembramos que ele é cidadão tanto quanto qualquer outro, por isso, pode – e deve – usufruir de propostas públicas. Em caso de atividades específicas, intervimos, buscando parcerias privadas, mas isso são exceções”, explica Frei. Conforme as percepções de mundo vão se transformando, os adolescentes vão aprendendo a ressignificar, de fato, a si próprios e tudo ao seu redor. “Minha definição de liberdade mudou. Antes, eu achava que liberdade era sair da realidade, fazer alguma coisa errada. Hoje, eu sei que liberdade é poder expressar as minhas ideias. Essa liberdade que eu achei é muito melhor do que a que eu estava buscando”, conclui Carolina.

© Estêncil: Carolina Machado

Atividades diferenciadas

As três etapas do Propulsão O atendimento no Propulsão se dá em três níveis. Saiba quais são eles: T1 – Este é o momento da adesão, em que o adolescente precisa criar vínculos com o projeto, para que o atendimento seja efetivo. T2 – Nesta fase, o jovem tem condições de desenvolver atividades dentro e fora do Centro Social, fazendo cursos com o acompanhamento da equipe, por exemplo. T3 – Esta etapa se refere ao momento em que o jovem está apto para a inserção de fato, assumindo um trabalho, por exemplo. Ainda assim, segue com o acompanhamento do projeto.

O que define o uso abusivo?

Isso era muito diferente dos lugares que eu conhecia. O modo como sou tratada é acolhedor. Carolina Machado

Segundo informações da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas, o uso abusivo ou nocivo define o consumo de álcool e outras drogas que colocam a pessoa em uma situação vulnerável. De acordo com Altieres Frei, diretor do Centro Social Marista Propulsão, o termo “uso abusivo ou nocivo” não está necessariamente vinculado à dependência química, mas aos riscos a que a pessoa está exposta. Por exemplo, um adolescente que compra fiado alguma droga, está em risco – está, portanto, fazendo uso abusivo ou nocivo.

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© Foto: Renata Salles

como fazer

Eles são a voz da juventude Marista Integrantes das Comissões de Juventude levam à frente ideias dos jovens Maristas, mostrando o protagonismo juvenil Por Michele Bravos

Diante de um conflito entre alunos e gestão escolar, por exemplo, os integrantes da Comissão da Juventude têm o papel de mediar a situação e defender aquilo que os alunos estão apontando como importante. Lançando um olhar ampliado sobre esse contexto, entende-se que as Comissões de Juventude permitem que os alunos desenvolvam uma responsabilidade sobre direitos e deveres do cidadão. Para Francine dos Santos, 22 anos, participante da Comissão Provincial de Juventude, integrar essa equipe é defender não somente a própria opinião, mas a de toda juventude Marista. “Temos que ter uma visão estratégica, lembrando

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sempre que estamos representando todas as juventudes presentes nos espaços Maristas”. Segundo o setor de Solidariedade do Grupo Marista, as Comissões de Juventude – presentes, atualmente, em 40 espaços Maristas que trabalham com jovens – “têm como principal desejo contribuir com a ação evangelizadora Marista nas dimensões eclesiais, sociais, políticas, culturais e institucionais”, representando os diferentes grupos juvenis Maristas (alunos dos Colégios, das unidades sociais e dos ensinos universitário e técnico). A coordenadora de Pastoral do Colégio Marista de Brasília (DF) Flaviane Leite destaca que o aluno, ao

participar da Comissão, tem envolvimento, inclusive, com questões relacionadas a políticas públicas. “O aluno precisa dialogar e argumentar em defesa dos demais alunos, por exemplo. Ele também vivencia a luta pelo protagonismo juvenil”. Francine considera que, de certa forma, o que os jovens desenvolvem no universo Marista reflete na sociedade. “Sinto-me útil quando vejo que a minha opinião é importante e que pode mudar o rumo de uma conversa. Acredito que, dentro da sociedade em que vivemos, esses espaços são muito importantes, pois nos incentivam a ser pessoas melhores e a pensar mais no todo”. Futuramente, esse engajamento


© Foto: Acervo Comissão da Juventude

atividades; consultiva, à medida que a unidade ou níveis superiores vão até esses jovens para consultá-los; colaborativa, pois, também, ajudam nos eventos Maristas como equipes de organização; e representativa, uma vez que representam todos os jovens Maristas”. Entenda como essas Comissões se organizam e atuam.

Encontrando tempo

continuará gerando impactos positivos, por exemplo, na vida profissional do aluno, uma vez que na rotina da Comissão, o jovem desenvolve a liderança, o trabalho em equipe, a solidariedade e a capacidade de servir em favor do outro. “Esse trabalho bem realizado hoje o preparará para o mercado de trabalho, com uma visão mais humanizada da sociedade diante de seus desafios”, afirma Flaviane.

Formas de trabalho As Comissões da Juventude estão firmadas em quatro atribuições que guiam suas atividades. Bruno Socher e Ana Dias, do setor de Solidariedade do Grupo Marista, explicam cada uma: “Propositiva, pois as comissões levam os anseios dos jovens que representam às instâncias de que participam, além de proporem

Mesmo com uma rotina atribulada, Francine faz questão de participar da Comissão. “Tenho que admitir que nem sempre é fácil. Curso Agronomia em tempo integral, faço estágio, entre outras atividades. Mas acredito que a vontade de ser Marista como Champagnat é o que me move a cada dia”. Nesse cenário de agenda lotada, Flaviane aponta para a importância de pais e professores apoiarem o envolvimento dos filhos e alunos nesse trabalho. “É preciso existir uma parceria diante da caminhada realizada, proporcionando ao aluno a segurança de que ele está desenvolvendo um trabalho sério”.

Temos que ter uma visão estratégica, lembrando sempre que estamos representando todas as juventudes presentes nos espaços Maristas. Francine dos Santos 22 anos, participante da Comissão Provincial de Juventude

Organização das Comissões de Juventude As Comissões de Juventude se organizam em dois níveis de atuação: provincial e local.

Comissão Provincial Formada por jovens Maristas eleitos em assembleia, com a participação de representantes das Comissões Locais. Sua vigência é de dois anos. Responsabilidades - Estabelecer diálogos com as Comissões Locais, pastoralistas, Irmãos e outras lideranças juvenis, realizando uma escuta atenta. - Elaborar, junto ao Setor de Pastoral, reflexões, andamento de projetos, metodologias e linguagens que o Grupo Marista empreende no trabalho com as juventudes de todas as unidades. - Participar de diálogos externos ao Grupo Marista, representando os jovens da Instituição.

Comissão Local Formada por jovens Maristas que sejam atuantes no âmbito local, ou seja, nos Colégios, nas unidades sociais e nos ensinos universitário e técnico. Sua vigência também é de dois anos. Responsabilidades - Garantir que as atribuições estabelecidas em nível provincial sejam efetivas nas unidades em que atuam. - Agir de forma democrática, sempre em diálogo com os jovens, os pastoralistas e os gestores locais.

Para mais informações sobre como integrar esses grupos, faça uma visita ao seu Núcleo de Pastoral.

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compartilhar

“Virunga” Indicado ao Oscar 2015 na categoria de Melhor Documentário, “Virunga” conta a história de pessoas que lutam pela vida de gorilas quase em extinção e pela preservação do Parque Nacional de Virunga, na República Democrática do Congo. Os ativistas retratados são o diretor do parque, um guardaflorestal, um cuidador dos gorilas e uma jornalista francesa. A união dos esforços individuais em prol de uma causa comum reforça a ideia de que o bem se constrói em rede. O filme está disponível no serviço on-line Netflix. Redação Em Família Marista

IOS: goo.gl/MWhRdj ANDROID: goo.gl/h6Ggfo

Internet para ajudar O aplicativo Chance, disponível na Apple Store e na Play Store, tem como objetivo incentivar a prática da solidariedade. O usuário, ao se conectar, divulga seu pedido de ajuda. Aquele que pode auxiliá-lo responde. Em seguida, eles combinam como isso será feito. Algumas ajudas que podem ser solicitadas são: revisão de conteúdo de uma matéria, passeio com cachorro, indicação de uma vaga de emprego, entre outras. Felipe da Rocha, Coordenador de Pastoral do Colégio Marista Santa Maria (PR).

A solidariedade de Papa Francisco Neste livro, um diálogo entre o Papa Francisco, o rabino Abraham Skorka e o membro da Igreja Presbiteriana Marcelo Figueroa conduz a uma reflexão sobre a prática da solidariedade no dia a dia, transpondo a religião. O livro deixa claro que é preciso ter cuidado com falsas ideologias que podem levar para o lado oposto ao da solidariedade. Colégio Pio XII, de Ponta Grossa (PR)

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Como estrelas na Terra Essa produção indiana, dirigida por Aamir Khan, retrata a vida de Ishaan Awasthi, uma criança de nove anos que tem dislexia. O filme mostra como o desconhecimento dessa dificuldade, por parte da família e da escola, pode trazer grandes sofrimentos à criança. A vida do garoto é transformada quando ele encontra um professor que passou pelo mesmo problema em sua infância. É possível assistir no YouTube. Flávio Sandi, diretor executivo da Rede de Colégios

O FAZEDOR DE VELHOS

© Imagens: Divulgação

de Rodrigo Lacerda Na trajetória para o amadurecimento, Pedro irá encontrar pessoas que o farão perceber o sentido de sua existência. O professor Nabuco é peçachave para auxiliar o jovem na tarefa de se colocar no mundo. Colégio Marista Glória, de São Paulo (SP)

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diversão

Dia de índio

Vivenciar a cultura indígena pode ser um momento divertido em família e também de aprendizado e valorização da história do Brasil

© Fotos: Divulgação | Pataxó Turismo

Por Michele Bravos

Já houve um tempo em que os povos indígenas eram os únicos por este gigante território brasileiro. Hoje, eles são menos de 1% da população total do país, cerca de 820 mil indivíduos, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Mesmo com a miscigenação étnica, todo brasileiro tem, em alguma instância, um vínculo com os nativos desta terra. Para que a cultura indígena seja difundida, espaços de preservação ambiental e reservas indígenas, que ainda são morada para os índios, recebem visitantes. A ideia é manter viva a história do Brasil.

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Em Santa Catarina, por exemplo, a Reserva Volta Velha, um espaço de preservação ambiental, proporciona aos interessados visita a uma oca, oficina de arco e flecha, caminhada pela Mata Atlântica, canoagem e o mais interessante: uma vivência com o índio Yawaritsawa Trumai Waurá, o Yawa. Seu povo é do Alto Xingu, mas, atualmente, ele é diretor cultural da Reserva Volta Velha. “Todo diálogo com um verdadeiro nativo é de extrema importância para que se corrijam alguns erros cometidos durante a colonização, em que a história é contada de um lado só”, diz Yawa.

Para aqueles que estão dispostos a imergir a fundo na cultura, é possível percorrer cinco das 29 aldeias do povo Pataxó, localizadas no sul da Bahia, na Costa do Descobrimento. O roteiro é organizado pela Pataxó Turismo. Em qualquer uma delas a conversa com um representante indígena é um ponto alto do passeio, pois apresenta ao público a verdadeira cultura indígena. Na Reserva Volta Velha, Yawa gosta de contar sobre as histórias do seu povo e o dia a dia no Alto Xingu, ensinar as danças tradicionais e algumas palavras na sua língua. “Conhecer e entender o outro lado faz com que as pessoas pen-


sem e reflitam antes julgar um índio e sua cultura. Existem muitos conflitos entre homem branco e índio, por um não conhecer a realidade e o costume do outro. Acredito que, nas escolas, não se discuta ou estude a verdadeira raiz e quem de fato construiu a primeira história dessa terra, antes da descoberta pelos portugueses”, afirma Yawa.

Ponto alto É em semanas de lua cheia ou lua nova que as expedições para as aldeias Pataxós partem. A saída é de Porto Seguro, em direção ao sul. Dormir em redes, dentro de uma oca, faz parte da aventura – assim como comer bem. Durante os dias de percurso pelas aldeias, os visitantes degustam as comidas típicas da culinária Pataxó, como peixe na folha de patioba (uma espécie de palmeira) com farinha de puba (derivada da mandioca). Já na Reserva Volta Velha, Yawa afirma, convicto, que um dos momentos mais emblemáticos para os visitantes é quando todos estão na oca e ele se veste com enfeites indígenas, pinta-se com urucum e começa a falar na língua de seu povo. Apesar de toda a experiência que se oferece para os visitantes e da importância que isso tem, Yawa garante que ele também aprende com a vivência. “Aprendemos com nossos avós que os não índios vinham apenas para destruir e matar. Poucos para ajudar. Com esses encontros culturais, isso também muda”.

Agenda Tanto a visita à Reserva Volta Velha quanto o circuito pelas aldeais Pataxós precisam ser agendados com antecedência. Na Reserva Volta Velha, a vivência de um dia acontece de segunda a sexta, entre março e outubro, para grupos de 20 pessoas. Está tudo detalhado aqui: www.reservavoltavelha.com. br, na aba “Ecoturismo”. A rota das aldeias deve ser programada com 30 dias de antecedência e acontece o ano todo, em grupos pequenos. Mais informações no site: www.pataxoturismo.com.br.

Para saber mais sobre a cultura dos nativos do nosso país, acesse Povos Indígenas no Brasil: migre.me/pckLc

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olhar

Crise de sentido em um mar de

© Fotos: Shutterstock | Acervo do Colégio

{des}informação

O crescente envolvimento de jovens ocidentais em movimentos radicais gera questionamentos sobre qual o propósito de vida da atual juventude 44

Em março deste ano, o governo brasileiro detectou intervenções do Estado Islâmico (EI) para aliciar jovens brasileiros à causa, por exemplo. Também, neste semestre, presenciou-se expressões de radicalismos por parte de jovens cristãos diante de fatos considerados por eles uma afronta às Escrituras Sagradas. Para refletir sobre o que leva um jovem a acreditar que vale a pena se envolver em um movimento radical, que, por vezes, propaga morte e destruição, o doutor em Sociologia Eurico Gonzalez propõe uma discussão sobre o sentido da vida nos dias de hoje.


Nosso tema é complexo, ou seja, tem muitas causas simultâneas, de modo que podemos nos concentrar apenas em algumas delas. Sugiro que reflitamos sobre duas coisas: o império da inteligência eletrônica e a crise de sentido pela qual passa hoje o Ocidente, em geral, e o Brasil, em particular. O que chamo de “império da inteligência eletrônica” significa o fato de que as ideias que hoje estão à disposição na sociedade não possuem critérios institucionalizados de filtragem, mas deveriam ter. Quando Lutero traduziu a Bíblia, no século XVI, ocorreu algo semelhante: de uma hora para outra, um acervo completamente novo de pensamentos se distribuiu horizontalmente pela sociedade, podendo suas verdades ser interpretadas por cada um livremente, gerando, no curto prazo, crise de ordem e, no longo, ideias novas que originaram a modernidade. Vivemos, hoje, uma situação semelhante. Há enorme afluência de adventícios à sociedade e a internet faz com que cada um tenha o direito de dizer como acha que o mundo deve ser. Acrescente a isso o poder de sedução da publicidade, que produz e inculca ideias afirmativas sobre o mundo, nas quais, secretamente, a sociedade não acredita, pois sabe que sua finalidade é a de apenas seduzir a mente para que adquira esse ou aquele bem. Assim, temos uma situação cultural em que as ideias antigas são desacreditadas e novas não surgem com autoridade, muito menos por consenso. Além disso, como uma miríade de vozes – umas roucas, outras possantes –, cada um tenta resolver sozinho (inclusive por solidão de sentido) os difíceis problemas da vida. Não devemos ficar apreensivos demais. O número dos que seguem procurando uma vida normal ainda é amplamente majoritário, mas as exceções de que tratamos aqui apontam para direções potencial-

mente perigosas que, se não forem contrabalanceadas com inteligência e amor, podem aumentar. A sociologia sabe que a consciência do sujeito é produzida pela sociedade – e sabe, então, que quando a sociedade se desorganiza, a consciência individual se ressente paralelamente, em uma relação causal forte. Como especificidade de nossa época, porém, há a crise de sentido que mencionei anteriormente. Os principais referenciais coletivos de sentido estão dessacralizados em nossa sociedade: religião, ideais morais e políticos, ideais estéticos ligados à beleza e o próprio e prosaico valor da vida. Nada mais deixa de poder se submeter ao cálculo dos prazeres e das vantagens, está livre o caminho para que os humanos adorem as coisas materiais. Mas quem dera a vida fosse assim fácil de resolver... O cálculo dos prazeres e das vantagens ignora o problema do sentido interior da vida de cada um – mas este não deixa de existir. Impedida publicamente de se manifestar, a demanda por sentido da vida segue pulsando, vindo a se manifestar de formas bizarras e, frequentemente, destrutivas. Na medida em que a sociedade tomou por saber o que era, na verdade, sua ignorância e omissão quanto ao problema do sentido, foram se desenvolvendo

Facilmente vê-se na destruição alguma espécie de prenúncio do novo e do bom [...], quando não se espera mais nada do mundo real, quando não se sabe gostar da vida real, presente.

respostas cegas, raivosas (pudera!), ilhadas e não compartilhadas ao problema do sentido interior. Assim, chegamos a algum lugar: se somarmos o império da inteligência eletrônica à crise de sentido, perceberemos que as respostas às mais difíceis questões, que dizem respeito a todos os seres humanos, estão sendo dadas de modo confuso e fraco, incapaz de fazer face à imensidão dos problemas da interioridade. Quando se tem condições excelentes, já é muito difícil atinar uma resposta às grandes questões; quando se fazem tais perguntas à internet, obtém-se como resposta algo que não é uma resposta, mas uma incrível zoeira. Alguns jovens estão se deixando seduzir pela violência porque ela gera certo simulacro de sentido. Facilmente vê-se na destruição alguma espécie de prenúncio do novo e do bom (como as ideias sacrificiais sugerem), quando não se espera mais nada do mundo real, quando não se sabe gostar da vida real, presente. Essa é uma síntese do que penso sobre as condições interiores da vida da juventude hodierna. Para um exame completo do assunto, que não pode ser feito aqui, deveríamos observar também as “condições exteriores” da adesão de jovens ao terrorismo internacional – facilidades de trânsito de pessoas e de informações, etc. Eurico Gonzalez Cursino é doutor em Sociologia pela Universidade de Brasília e consultor legislativo do Senado Federal, onde responde pela área de Direitos Humanos e Cidadania. Cursino também tem realizado estudos em sociologia da religião e em sociologia política e do direito, bem como na intersecção desses temas.

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© Foto: Sxc.hu

Voluntários da pátria Tempo dedicado ao voluntariado no Brasil cresceu no último ano e isso nos coloca entre os top 10 países nessa prática. Em todo o mundo, ser voluntário e ajudar um estranho figuram como ações mais recorrentes Por Michele Bravos

Ainda que fatores políticos, econômicos e sociais estejam abalando o país, o Brasil mostra que atitudes solidárias são necessárias – principalmente nesses momentos. Segundo a ONG Charities Aid Foundation, o Brasil figura entre os top 10 países no quesito “doação de tempo”, considerando o número de voluntários. Junto com o Brasil, Rússia, Índia e China tiveram um aumento na quantidade de tempo dedicada a ações voluntárias. Apesar de essa ser uma boa notícia, a ONG aponta que também é esperada desses países – considerados economias prósperas – uma maior contribuição financeira, ainda que tenha ocorrido uma diminuição de doações em dinheiro no mundo todo. Esses aspectos apontados acima – tempo dedicado ao voluntariado e doações financeiras – são dois dos fatores avaliados pela Charities Aid Foundation para identificar o índice de solidariedade dos países, o qual vem sendo medido desde 2008. Outro fator analisado é o ato de ajudar um estranho, o qual se faz muito presente em países abalados por desastres naturais ou conflitos civis. A exemplo, o Iraque. O país tem sofrido com violências brutais e isso desperta nas pessoas a necessidade de ajudar o ou-

tro. Isso fez com que o país saísse da 90ª posição nesse quesito no relatório da ONG de 2013 para a segunda no último relatório.

Invertendo a ajuda O crescimento do índice de solidariedade da Ásia vem aumentando e isso faz com que a ONG afirme que o mundo deve repensar o modelo de solidariedade conhecido, o qual consiste “em uma transação que flui do Ocidente para o Oriente e do Norte para o Sul”. O relatório Future World Giving, da mesma ONG, afirma que há mais milionários no sul da Ásia (18 mil) do que no norte da América (17 mil) ou na Europa Ocidental (14 mil). A ONG aponta que é necessário que os novos-super-ricos sejam encorajados a serem solidários e, no caso deles, ajudem financeiramente – inclusive outros países. Paralelamente, apesar do potencial dessa parcela da população mundial, o grande pedido da Charities Aid Foundation para que a filantropia cresça no mundo e mais pessoas possam ser ajudadas – e aí a ONG coloca como meta a erradicação da extrema pobreza (pessoas que vivem com menos de US$ 1,25 por dia, segundo o Banco Mundial) – é para que a classe média seja convocada a ajudar.

Os relatórios podem ser lidos na íntegra nos seguintes links: l www.cafonline.org/pdf/CAF_WGI2014_Report_1555AWEBFinal.pdf l www.cafonline.org/pdf/Future_World_Giving_Report_250212.pdf. Ambos disponíveis em inglês.

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O número de pessoas consideradas de classe média deve crescer 165% até 2030, de acordo com dados da OECD (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Considerando que a maior concentração está nos países em desenvolvimento. Estima-se que se a classe média doar 0,4% de sua renda, eles podem contribuir com US$ 224 bilhões por ano. Segundo Jeffrey Sachs, autor do livro “O fim da pobreza”, US$ 175 bilhões anuais seriam suficientes para acabar com a pobreza extrema. A ONG alerta para que os governos de economias emergentes criem e apliquem desde já medidas que incentivem a filantropia, assim como a cultura da doação, apresentando novas formas de exercer esse ato na sociedade. Os meios de comunicação são apontados como fundamentais nesse processo que envolve mudança de pensamento.

Igualdade entre gêneros Homens e mulheres exercem a solidariedade de forma igual, não havendo diferenças significativas mundialmente. Apenas quando se observa a realidade de cada país isso se faz mais perceptível. Por exemplo, no Canadá, 75% das mulheres doaram dinheiro para caridade, contra 53% dos homens. Já no Afeganistão, 42% dos homens afirmam ter essa prática, enquanto apenas 24% das mulheres dizem o mesmo. Nesse exemplo de análise por país, fica claro o quanto as diferenças culturais influenciam nos resultados.



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