Em Família | Marista de Cascavel

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1º Semestre • 2015 | 15ª edição

Corrente do bem

Em todo tempo, somos convidados a praticar atos de solidariedade e fazer parte dessa corrente do bem. Mas, será que ser solidário é algo que se aprende?

SOLIDARIEDADE

Unidade Propulsão, uma proposta Marista inovadora, acolhe jovens que fazem uso abusivo de álcool e outras drogas.

DIA A DIA

Já pensou em receber um intercambista em casa? Confira dicas e embarque nessa aventura cultural.



Combinação única de bons valores e excelência.

O Grupo Marista conta com milhares de pessoas que, diariamente, vivenciam e disseminam importantes valores humanos e cristãos com o compromisso de promover e defender os direitos das crianças e dos jovens. Faz parte do jeito Marista a busca constante por excelência. Na área da

educação, da escola à universidade, formamos pessoas e trazemos resultados comprovados. Em atividades nas áreas de saúde e comunicação, levamos sempre a melhor qualidade para públicos de diferentes condições e necessidades. Em todas essas áreas, a ação social está presente

BRASÍLIA Colégio Marista de Brasília - Ensino Fundamental SGAS 609 CONJ A - Bairro Asa Sul - Brasília-DF CEP 70200-690 | (61) 3442-9400

Superior Provincial Ir. Joaquim Sperandio Presidente do Grupo Marista Ir. Delcio Afonso Balestrin Superintendente Executivo do Grupo Marista Paulo Serino Diretor da Rede de Colégios Ir. Vanderlei Siqueira dos Santos Diretor de Marketing E COMUNICAÇÃO Stephan Younes

Rua Imaculada Conceição, 1155, Prado Velho Curitiba-PR | Prédio Administrativo PUCPR 8º andar - CEP: 80215-901 | Tel.: (41)3271-6500

www.colegiosmaristas.com.br

Colégio Marista de Brasília - Ensino Médio SGAS 615 CONJ C - Bairro Asa Sul - Brasília-DF CEP 70200-750 | (61) 3445-6900 Colégio Maristinha Pio XII - Educação Infantil e 1º Ano do Ensino Fundamental SGAS 609, Módulo C - Bairro Asa Sul - Brasília-DF CEP 70200-690 | (61) 3442-9400 SÃO PAULO Colégio Marista de Ribeirão Preto Rua Bernardino de Campos, 550 - Higienopólis Ribeirão Preto-SP - CEP 14015-130 | (16) 3977-1400 Colégio Marista Arquidiocesano Rua Domingos de Moraes, 2565 - Vila Mariana São Paulo-SP - CEP 04035-000 | (11) 5081-8444 Colégio Marista Nossa Senhora da Glória Rua Justo Azambuja, 267 - Cambuci - São Paulo-SP CEP 01518-000 | (11) 3207-5866 PARANÁ Colégio Marista Paranaense Rua Bispo Dom José, 2674 - Seminário - Curitiba-PR (41) 3016-2552 Colégio Marista Santa Maria Rua Prof. Joaquim de M. Barreto, 98 - São Lourenço Curitiba-PR CEP 82200-210 | (41) 3074-2500

15ª Edição | 1º Semestre 2015 Periodicidade Semestral

com iniciativas alinhadas ao posicionamento institucional, mas também atuamos diretamente, por meio de uma ampla rede de solidariedade. Bons valores e excelência. Nossa missão é proporcionar essa combinação única para a construção de um mundo melhor.

Colégio Marista de Cascavel Rua Paraná, 2680 - Centro - Cascavel-PR CEP 85812-011 | (45) 3036-6000 Colégio Marista de Londrina Rua Maringá, 78 - Jardim dos Bancários - Londrina-PR CEP 86060-000 | (43) 3374-3600 Colégio Marista de Maringá Rua São Marcelino Champagnat, 130 - Centro Maringá-PR - CEP 87010-430 | (44) 3220-4224 Colégio Marista Pio XII Rua Rodrigues Alves, 701 - Jardim Carvalho Ponta Grossa-PR - CEP 84015-440 | (42) 3224-0374 SANTA CATARINA Colégio Marista São Francisco Rua Marechal F. Peixoto, 550L - Chapecó- SC CEP 89801-500 | (49) 3322-3332 Colégio Marista de Criciúma Rua Antonio de Lucca, 334 - Criciúma-SC CEP 88811-503 | (48) 3437-9122 Colégio Marista São Luís Rua Mal. Deodoro da Fonseca, 520 - Centro Jaraguá do Sul-SC - CEP 89251-700 | (47) 3371-0313 Colégio Marista Frei Rogério Rua Frei Rogério, 596 - Joaçaba-SC - CEP 89600-000 (49) 3522-1144 GOIÂNIA Colégio Marista de Goiânia Avenida Oitenta e Cinco, 1440 - Santa Marista Goiânia-GO - CEP 74.160-010 | (62) 4009-5875

Revisão Lumos | Bureau de Traduções

EDIÇÃO Diretoria de Marketing e Comunicação do Grupo Marista Eduardo Correa e Vivian Lemos

Envie comentários, críticas e sugestões sobre a revista para o email conteudo@grupomarista.org.br

REDAÇÃO

PUBLICIDADE R. Amauri Lange Silvério, 270 Pilarzinho Curitiba-PR – CEP: 82120-000 Para anunciar, ligue: (41) 3271-4700 www.grupolumen.com.br

Jornalista responsável: Rulian Maftum / DRT Nº 4646 Supervisão: Maria Fernanda Rocha (Lumen Comunicação) Edição de arte: Julyana Werneck PROJETO GRÁFICO Estúdio Sem Dublê | semduble.com

Capa Fernando Pereira,

estudante do Colégio Marista Santa Maria, de Curitiba (PR), sua mãe Patrícia, Goivana Ohta, do 3º ano, e o monitor de alunos Luciano Silva.

FOTO DE CAPA Gilberto do Rosário © Todos os direitos reservados. Todas as opiniões são de responsabilidade dos respectivos autores.

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índice

capa

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Que fatores influenciam na prática da solidariedade? Afinal, ser solidário é algo que se aprende?

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dia a dia

entrevista

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A história do Instituto Marista nasce de um ato de solidariedade, o qual, até hoje, é um convite a sociedade para agir com compaixão.

Acolher um intercambista em casa é uma experiência enriquecedora. Confira dicas de uma boa convivência e conheça a história da família Javorski, que está recebendo o neo-zeolandês Jacob Pritchard.

essência

solidariedade

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O Irmão Alvanei Finamor relembra os primórdios do Instituto Marista e reforça a importância de se doar ao próximo nos dias atuais.

Conheça a Unidade Propulsão, uma proposta que contribui para que adolescentes que fazem uso abusivo de álcool e outras drogas ressignifiquem suas vidas.

como fazer

compartilhar

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diversão

olhar

curiosidade

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Veja de que forma a juventude Marista se organiza e defende suas ideias por meio das Comissões da Juventude.

Conhecer mais de perto a cultura indígena é se aproximar da nossa origem. Descubra roteiros em aldeias e reservas que, além de divertidos, são uma verdadeira aula de História.

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César Ribeiro, coordenador de Pastoral do Colégio Marista de Maringá (PR), traz uma reflexão sobre os fatores que influenciam as práticas de solidariedade e os novos posicionamentos Maristas sobre o tema.

Confira dicas de livros, filmes e aplicativos indicados pelos professores dos Colégios Maristas.

O sociólogo Eurico Cursino, da Universidade de Brasília, comenta sobre fatores que podem levar jovens a se envolver em lutas radicais, como as propostas pelo Estado Islâmico.

índice

seu colégio

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Confira as matérias elaboradas exclusivamente para o seu Colégio.

Pesquisa internacional traça panorama de solidariedade no mundo. Confira o ranking de países mais solidários.


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1ª impressão

or uma compreensão mais ampla da solidariedade apostólico é bicentenário nas suas realizações por muitos países do mundo. No Brasil, ele começou em 1897, em Minas Gerais. Em 2017, o Instituto Marista completa 200 anos. O Ir. Emile Turú, Superior Geral, comenta, na carta Montagne, a importância dessa missão: hoje, há tantos jovens que vivem sem a força, sem a luz e sem o conhecimento aprofundado de Jesus Cristo – conhecimento que leva ao consolo e à amizade de Jesus – que importa comprometermo-nos como apóstolos, catequistas e educadores. Diante de uma sociedade de pouca fé, sem o correto sentido da existência, não se pode ficar indiferente. São os novos e numerosos Montagnes de hoje, cuja realidade nos provoca e nos convida a sermos generosos. Montagne tem, hoje, milhares de rostos diferentes e vive em realidades que reclamam generosa compreensão e pronta ajuda. O Irmão Turú alarga o entendimento do desafio, na perspectiva a que o Papa Francisco se refere quando nos convida a sair de nós mesmos para as periferias existenciais, entrando em contato com a vida concreta dos muitos outros empobrecidos e expostos a tantos perigos. A solidariedade volta-se à promoção e à defesa dos direitos de crianças, adolescentes e jovens e à para a nova evangelização e inclusão social. A solidariedade pode e deve ser aprendida e desenvolvida; o seu itinerário abrange processos e práticas que visam à caridade em obras e ações de verdadeiro melhoramento da pessoa e do grupo desajustado e empobrecido. Visa-se, pois, a melhores níveis de interação e ao oportuno

comprometimento apostólico, dentro das suas circunstâncias e realidades. Ser solidário implica grande compaixão, mas, acima de tudo, o reconhecimento do outro como pessoa necessitada. Champagnat não foi visitar o jovem Montagne para julgá-lo. Foi ao encontro de alguém que tinha a sua identidade e a sua história. Por isso, os dois saíram modificados. Champagnat ensinou-lhe, na urgência do momento, as coisas de Deus e, do seu lado, entendeu que não há mais tempo para perder. O convite é feito a mim e a você, atual leitor desta edição da revista Em Família. Devemos cultivar um coração solidário na nossa vida pessoal, familiar, social e eclesial. Que significa, então, para cada um de nós, o contexto em que a solidariedade é citada como a grande virtude do nosso tempo? Por certo significa colocar-nos na posição de partida, como interpela o Papa Francisco. Cumpre entender bem o sentido da expressão periferias existenciais. Todos somos chamados a uma conversão pastoral e missionária, porque as coisas não podem ficar como estão (EG 25). A que tipo de conversão me sinto convidado? A resposta constitui o atendimento da nossa consciência e do nosso coração solidário e comprometido.

Ir. Vanderlei Siqueira dos Santos diretor-executivo da Rede Marista de Colégios

© Foto: João Borges

Em 1816, o Pe. Champagnat foi chamado para atender a um jovem carpinteiro de 17 anos, gravemente enfermo, em uma aldeia próxima a Le Bessat, no sul da França. Após ouvi-lo em confissão e prepará-lo para a morte, o padre regressou a La Valla, pensativo. O encontro com o jovem Montagne marcou profundamente a vida de Marcelino Champagnat; nesse acontecimento, percebeu o chamado interior da graça de Deus. Ele iria fundar um instituto dedicado à educação cristã de crianças, adolescentes e jovens, em especial das vilas e dos povoados pobres. Ele levaria a bom termo tal empreendimento. O entendimento de que essa missão era obra de Deus foi basilar para a sua perseverança no projeto da fundação de uma congregação de religiosos dedicados à educação cristã e ao ensino básico da França de então. Nenhuma dificuldade bloquearia o seu projeto. Esta edição da revista Em Família estuda, em particular, a solidariedade. Esse termo evoca as mais diferentes emoções, interpretações e questionamentos. O encontro de Champagnat com Montagne nos revela que a Instituição Marista nasceu de uma experiência de solidariedade em relação de óbvia e grave necessidade. Apresenta-nos alguns referenciais, como a atenção que cumpre dar à realidade e à situação dolorosa do outro, isto é, o nosso próximo. A convicção profunda desperta não apenas a compaixão e a indignação; mas o essencial é a ação para minorar o sofrimento e o estado de abandono dos empobrecidos, sem a luz do bom ensino e, especialmente, sem a luz espiritual da instrução religiosa e cristã. Esse curso e discurso

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dia a dia

© Foto: Fabio Melo

Um intercambista

em minha

casa

Acolher o intercambista como um filho e deixar claras as regras da casa são fundamentais para uma experiência bem sucedida. Ser uma família hospedeira é culturalmente enriquecedor Por Michele Bravos

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Já pensou em adotar um filho estrangeiro? Calma, a gente explica. É comum e bastante incentivado por agências de intercâmbio que os adolescentes intercambistas se hospedem em casas de família para que a imersão na cultura do país para onde estão indo seja mais intensa e significativa. Abrir as portas de casa para um intercambista é como adotar um filho – mesmo que temporariamente. Para Celso Javorski, acolher o jovem Jacob Pritchard, 17 anos, da Nova Zelândia e que está estudando no Colégio Marista de Ribeirão Preto (SP), está sendo uma experiência enriquecedora. “É a primeira vez que estamos recebendo um intercambista e a troca cultural é muito rica. Temos dois filhos e um deles está fora do país, em intercâmbio também. Então, o Jacob, literalmente, está sendo tratado como um filho”. Para Guilherme Reischl, diretor comercial da Egali Intercâmbio, a consideração mais importante de um programa de intercâmbio em casa de família é que a família hospedeira acolha o estrangeiro como um membro da família. “O intercambista tem que usufruir da mesma estrutura de um filho. Ele tem que se sentir integrado, acolhido. As atividades diárias têm que ser realizadas com o intercambista. No começo,


isso pode significar sair da rotina – e a família precisa estar ciente disso –, mas, aos poucos, todos se adaptam”. Jacob afirma que um ponto positivo dessa experiência tem sido passar tempo com sua família brasileira. “Eles são pessoas muito legais, que fazem eu me sentir bem-vindo na casa deles”. Uma boa adaptação depende bastante de regras claras. Reischl lembra que toda casa tem normas que, naturalmente, são cumpridas pelos membros da família. O intercambista precisa ser inserido nesse contexto também. “Ele precisa saber o que pode fazer na cozinha, o que deve fazer com as roupas sujas – se ele irá lavá-las ou se alguém fará isso para ele –, se existe um horário para o banho, se o secador é de uso comum...”. O diretor comercial complementa que isso tudo deve ficar claro já no primeiro dia. “Assim que o intercambista chegar, dê as boas-vindas, faça ele se sentir em casa. Em seguida, de forma gentil, apresente as regras do lar”. Javorski conta que Jacob respeita inclusive as normas de comportamento – por exemplo, com relação a sair para festas e dar satisfação quanto a para onde está indo e com quem. “Tínhamos muita expectativa com relação a essa convivência. É também nossa responsabilidade zelar pela segurança dele”.

Integrando Integrar não quer dizer fazer as vontades do intercambista. Ele precisa conhecer e se adaptar aos costumes do país em que está. Uma boa forma de integrar o jovem à cultura e à nova família é na hora das refeições. “O momento das refeições é muito importante para a integração. Por isso, pelo menos algumas devem ser feitas com a família reunida”. Javorski afirma que os hábitos alimentares certamente são muito diferentes e isso sempre rende bastante conversa. Outra forma de integrar é convidar o intercambista para passear. “É importante que a família esteja prepara-

da para fazer 'programas de turista', mesmo na sua cidade natal. É preciso lembrar que o intercambista também está interessado em conhecer lugares típicos e diferentes dos que ele está habituado a ver”.

Comunicação Na casa da família Javorski, apenas a filha fala inglês. Então, foi preciso desenvolver formas de comunicação até Jacob estar mais fluente no português. “Às vezes, o Google tradutor nos ajuda. A gente acaba tendo que ser criativo”, diz Javorski. Reischl aponta que é ideal que pelo menos um membro da família compartilhe de um idioma em comum com o intercambista. “Caso contrário, a comunicação fica nula e pode gerar desconfortos, como prejudicar a compreensão das regras da casa. Uma família monoglota poderia ser um problema”. As barreiras de comunicação na casa de Javorski têm sido vencidas com bom humor. “Nós falamos português e inglês em casa. Eu imagino que deve ser um quebra-cabeça para eles entenderem o que eu falo, às vezes, mas nós rimos disso”, diz Jacob. O quesito “comunicação” também deve se estender para a família no exterior, pois isso gera maior confiança para o intercambista. “A família que está recebendo deve fazer contato com a família do outro país, mesmo que não falem a mesma língua. Por meio de uma conversa por chamada de voz e vídeo, as famílias podem se ver, sorrir uns para os outros e dar um ‘tchauzinho’. Isso já faz diferença”, afirma Reischl.

Atenção! Não existe idade limite para os membros de uma família receberem alguém. No entanto, recomenda-se que a pessoa que vai ser acolhida seja adolescente ou jovem. Segundo Guilherme Reischl, diretor comercial da Egali Intercâmbio, depois dos 25 anos, a pessoa já tem uma independência que poderia dificultar a interação. A família hospedeira deve avaliar isso.

dicas Seguindo essas dicas, a família hospedeira terá uma grande experiência de vida recebendo um intercambista. l Tenha certeza de que sua casa tem condições de receber mais um membro. Pode ser que ele tenha que dividir o quarto com os seus filhos, mas é importante que o intercambista tenha um espaço que ele sabe que é dele. l Conheça o intercambista antes de ele chegar à sua casa. Pode ser por e-mail, por chamada de voz e vídeo, etc. l Trate-o como um filho, tanto para as coisas legais, como passear em família, quanto para as regras. l Apresente as regras da casa. Elas precisam estar claras para o intercambista. l Pergunte o que ele gosta de fazer ou o que tem curiosidade em conhecer. Seja solícito, simpático, mas não extrapole, impondo a sua programação. l Tenha disposição para conviver com as diferenças – elas são enriquecedoras – e dialogue sempre!

Na foto: Maria Eduarda, Jacob, Anaisa e Celso Javorski.

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© Foto: Gilberto do Rosário

capa

Atitudes solidárias podem aparecer em diversos contextos. Mas elas são aprendidas ou as pessoas nascem assim? Por Michele Bravos

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Solidariedade se aprende? Falar de solidariedade no Brasil atual é um desafio, diante de tantos fatos de corrupção, de violência gratuita, de discriminação. Mas, para Viviane Silva, assessora da Rede Marista de Solidariedade (RMS), o desafio não é impossível. "Há um provérbio popular que explica bem o ensino da solidariedade: se a palavra convence, o exemplo arrasta. Portanto, é preciso bons pais, bons educadores, bons exemplos inspiradores do que é viver em sociedade". Ela complementa que é importante transmitir a ideia de "eu preciso do outro para viver". Dessa forma, tem-se uma melhor compreensão de senso de justiça e solidariedade. Entendendo a solidariedade como uma virtude, a pedagoga Luciene Tognetta, doutora em Psicologia Escolar pela Universidade de São Paulo (USP) e Universidade de Genebra, acredita que ela precisa ser vivida para ser assimilada. “Eu entendo virtude como uma disposição para fazer o bem, como afirma Comte-Sponville, e o bem não é para se contemplar, é para ser feito. Em momentos de crise, por exemplo, podemos indagar crianças e adolescentes sobre os sentimentos do outro. Só assim eles podem construir instrumentos psicológicos que os tornam capazes de solidarizar”. Na família de Fernando Pereira, 17 anos, aluno da 2ª série do Ensino Médio do Colégio Marista Santa Maria, de Curitiba (PR), as práticas solidárias estão presentes nas pequenas atitudes, como conta sua mãe, Patrícia Pereira. “Uma atitude solidária pode ser dar ouvidos a alguém que está precisando desabafar. Pode ser ajudar alguém a empurrar um carro na rua – coisa que eu já fiz, inclusive. É importante que a família dê esse exemplo e incentivo aos filhos”. Patrícia ainda afirma a importância de as ideias da família estarem alinhadas com as ideias do colégio. “Quando estava buscando uma escola para o Fernando, eu priorizei os valores que a instituição passaria, pois é isso que será lembrado para sempre”. Luciene lembra que a solidariedade é um valor que precisa ser buscado como outros valores morais. "Não nascemos solidários, mas nos tornamos solidários quando conseguimos reconhecer nossas próprias dores, quando temos a experiência de compartilhar as dores dos outros. Pessoas solidárias o são porque desejam ser”, diz. Fernando conta que vive essa constante busca para ser uma pessoa solidária e que tem aprendido a valorizar o que realmente importa. “Desde que comecei a participar da Pastoral da Juventude Marista (PJM), eu me tornei uma pessoa diferente. Sou mais calmo e me preocupo mais com a minha família e meus amigos. Na PJM, não aprendemos só a ser solidários, mas a ser pessoas melhores para o mundo, aprendemos a respeitar mais as diferenças, a dispor do nosso tempo para o outro – como nas missões Maristas – e a ter autonomia”. A pedagoga destaca que a solidariedade se faz presente já na infância. “Do ponto de vista psicológico, a solidariedade é uma das primeiras virtudes que as crianças apresentam e o fazem espontaneamente porque independe de uma construção cognitiva mais evoluída. Depende, na verdade, da sensibilidade com o outro, coisa que criança desenvolve desde bem cedo pela empatia”.

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© Fotos: João Borges

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Curiosidade

Patrícia complementa, expondo que, por vezes, percebe que os adultos não são solidários por medo: “Eles têm medo de ajudar um estranho e ele ser um ladrão, por exemplo. Mas acredito que o medo está relacionado à ausência de fé e as pessoas precisam crer mais, pois penso que, naturalmente, o ser humano é, sim, solidário”.

Ressignificando Por muito tempo, a ideia de assistencialismo, de dependência, esteve associada à solidariedade.

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No livro “O Ensaio sobre a Dádiva”, do sociólogo Marcel Mauss, o autor conta a história do Rei Artur e sua Távola Redonda para concluir seus pensamentos sobre os conceitos de dar, receber e retribuir – presentes ao longo do material: “Sobre a história do Rei Artur e a Távola Redonda. Disse o carpinteiro a Artur: ‘Far-te-ei uma mesa muito bela, onde poderão sentar-se seiscentos e mais, e andar em volta, e de onde ninguém será excluído... Nenhum cavaleiro poderá travar combate, pois ali o de maior destaque estará no mesmo nível que o de menor destaque’. Não mais houve lugar de honra e, por conseguinte, não mais houve querelas. “Os povos podem enriquecer, mas só serão felizes quando souberem sentar-se, tal como cavaleiros, à volta da riqueza comum. É inútil ir procurar longe o bem e a felicidade, pois ele está ali, na paz imposta, no trabalho bem ritmado, comum e solitário alternativamente, na riqueza acumulada e depois redistribuída no respeito mútuo e na generosidade recíproca que a educação ensina”.

Entre os povos ditos primitivos já se faziam presentes atos de dar, receber e retribuir como formas necessárias para uma vida em comunidade, mesmo que, muito atreladas a relações de poder. De acordo com o que explica o sociólogo Marcel Mauss, em seu livro “O Ensaio Sobre a Dádiva”, para que um rei pudesse continuar sendo superior, ele precisava ofertar aos pobres, colocando-os em uma

posição de inferioridade. Mas, recusar não era possível, pois esse ato era o mesmo que dizer que se tinha medo de retribuir. “Ao aceitar uma dádiva, aceita-se um desafio e ele pode ser aceito porque se tem a certeza de retribuir, de provar que não se é desigual”, expõe o autor. Diante disso, existe a necessidade de ressignificar conceitos. Viviane afirma que é preciso um ou-


tro modelo de sociedade, colocando a solidariedade na contramão da visão assistencialista que marcou a história. "Necessitamos de uma sociedade em que o direito seja garantido para todos, sem exceção, onde nenhum tipo de privilégio é aceito, já que fere o princípio comum de justiça. Nesse sentido, o que se discute é uma sociedade onde se aprende, desde criança, a não levar vantagem, nem dar o jeitinho brasileiro, mas que há regras e responsabilidades a serem cumpridas. Essa é uma nova forma de entender solidariedade. Essa posição coloca em relevo a defesa de direitos humanos e a justiça social que precisam ser assumidos por todos".

Relações solidárias hoje Os caminhos da solidariedade são uma trama entre a existência de cada indivíduo e as relações em que se encontram. É preciso se perceber além de si para ser solidário. “Gosto de uma expressão de uma escritora de livros infantis, Adriana Falcão: ‘Solidariedade é quando a gente se empresta pro outro’”, diz Luciene. Fernando relata que uma das experiências mais marcantes que teve na vida foi ter participado da Missão Solidária Marista 2015, em Pouso Redondo (SC), cuja premissa era justamente o contato com o próximo. “Nós ficamos hospedados na casa de pessoas que nem conhecíamos, fazíamos visitas a famílias mais vulneráveis e estávamos o tempo todo em contato com a população durante as atividades. Para mim, isso foi exercer a solidariedade na prática”. Para Patrícia, pensar em solidariedade é pensar em “dispor o seu tempo para o outro”. “Se nos perguntarmos qual o contrário de solidariedade eu diria ‘individualidade’. Acho que, assim, esse conceito fica mais claro”, diz.

As atuais formas de comunicação, sobretudo as que se efetivam em redes, podem incentivar a construção de comunidades e, consequentemente, a prática da solidariedade, pois partem dos princípios de reconhecimento e aceitação do outro como membro da rede, bem como do desenvolvimento de respeito mútuo e de interesse pelo próximo.

dos princípios de reconhecimento e aceitação do outro como membro da rede, bem como do desenvolvimento de respeito mútuo e de interesse pelo próximo”. Viviane complementa: "Podemos entender que a solidariedade está nessas relações com o outro que nos completa, que nos constitui. O contrário disso nos desumaniza, segrega e isola. Por gerar um comportamento coletivo de corresponsabilidade, é um dos principais valores que temos". Para Danielle, a possibilidade de constituição de comunidades nesses espaços virtuais intensifica as práticas solidárias. Ela frisa que o ponto mais importante nesse contexto é o conteúdo gerado pelos membros das redes. “As tecnologias e as redes sociais não promovem solidariedade por si só, mas pelo referencial de valores que os membros dessa comunidade possuem e que se revelam nas suas relações.

Danielle Pamplona Professora da Universidade de Brasília (UnB)

O estabelecimento dessas relações de responsabilidade recíproca está diretamente ligado à comunicação, possibilitando a interação e a colaboração. Traçando um pensamento para o contexto atual, em que o mundo virtual está muito presente, a professora Danielle Pamplona, da Universidade de Brasília (UnB), afirma que “as atuais formas de comunicação, sobretudo as que se efetivam em redes, podem incentivar a construção de comunidades e, consequentemente, a prática da solidariedade, pois partem

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capa

O campo fértil para a solidariedade é regado por valores de amor ao próximo, respeito às diferenças, justiça e ética. Cabe, portanto, aos membros dessas redes incentivar práticas que levem à formação de indivíduos comprometidos com o outro, que priorizem a dimensão humana, a valorização do outro e o fortalecimento dos laços solidários”.

Solidariedade x classes sociais Tendo esse conceito como norte, a solidariedade pode se fazer presente inclusive em ambientes menos favorecidos. "Ainda que o meio seja desfavorável, as dificuldades vividas podem ser superadas. Aliás, é de ambientes vulneráveis que surgem bons exemplos de partilha e solidariedade", diz Luciene. Viviane vivencia isso na prática por meio da RMS, que atua na criação de uma nova mentalidade nos contextos em que está presente. "Não fazemos atos pontuais de generosidade

Não nascemos solidários, mas nos tornamos solidários quando conseguimos reconhecer nossas próprias dores, quando temos a experiência de compartilhar as dores dos outros. Pessoas solidárias o são porque desejam ser. Luciene Tognetta Pedagoga e doutora em Psicologia Escolar pela Universidade de São Paulo (USP) e Universidade de Genebra

nos locais vulneráveis em que estamos, mas temos a solidariedade como valor e comprometimento em defesa da vida em todas suas formas, contribuindo assim para a superação da pobreza e da desigualdade, e pela defesa e promoção dos direitos das crianças e jovens". Conheça o Projeto Propulsão, na editoria Solidariedade desta edição, e saiba como a solidariedade é desenvolvida com

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jovens em situação de vulnerabilidade social.

Por que se faz o bem? Para alguns, ser solidário e fazer o bem são sinônimos. Já, para Viviane, entendendo solidariedade como uma oposição ao individualismo, ela considera que ser solidário é mais que fazer o bem. "A solidariedade supera a busca individual, levando-nos a uma busca

coletiva para encontrarmos soluções para problemas comuns". No fim, praticar a solidariedade e fazer o bem têm como finalidade promover algo de bom, em que todos, tanto quem ajudou, quanto quem foi ajudado, saem ganhando. Luciene afirma que esse jogo de interesse existe – mesmo que no âmbito psicológico – uma vez que “o desejo de ser reconhecido como alguém do bem é o que leva


© Fotos: João Borges

© Foto: Gilberto do Rosário

Fernando Pereira, 17 anos, aluno da 2ª série do Ensino Médio do Colégio Marista Santa Maria, de Curitiba (PR), e sua mãe Patrícia Pereira.

Da comunidade para a comunidade A origem atrelada a espaços populares motivou um grupo de pesquisadores a criar o Observatório de Favelas, “uma organização social de pesquisa, consultoria e ação pública dedicada à produção do conhecimento e de proposições políticas sobre as favelas e fenômenos urbanos”, como a própria organização se define. O Observatório existe desde 2001 e conta com atividades em diversas áreas de atuação: educação, políticas urbanas, comunicação, cultura, direitos humanos. Por meio das ações realizadas, a comunidade é instigada a se conhecer, a se desenvolver pessoalmente e a voltar o seu olhar e atenção para o meio em que estão, assim como para as pessoas ao seu redor. Para mais informações, acesse o site através do link: observatoriodefavelas.org.br

uma pessoa a agir bem. Queremos nos ver como solidários e detestamos nos ver como egoístas”. Fernando conclui que, independente do que move as pessoas a fazerem o bem, ser solidário contagia quem está ao redor e isso gera um efeito de causa e consequência positivo. “Quando você quer ser mais solidário e faz isso, você está servindo de exemplo para as pessoas e, consequentemente, influencia a todos”.

A solidariedade supera a busca individual, levando-nos a uma busca coletiva para encontrarmos soluções para problemas comuns. Viviane Silva Assessora da Rede Marista de Solidariedade (RMS)

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© Fotos: Acervo do Colégio

entrevista

Todos podem ser solidários O despertar da solidariedade é possível e depende de um compilado de fatores externos e pessoais. Apostas do Grupo Marista nessa área visam promover uma consciência crítica sobre o tema Por Michele Bravos

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A expressão da solidariedade se dá de formas distintas em cada meio e para cada pessoa. Para refletir sobre o assunto e apresentar de que forma o Grupo Marista pretende potencializar o despertar dessa prática nos Colégios, César Augusto Ribeiro é o entrevis-

Sem ignorar o fato de que a solidariedade pode ser ensinada e aprendida, na sua opinião, há pessoas que simplesmente nascem solidárias?

É uma questão difícil. Do ponto de vista biológico, há instintos de preservação que podem ser vistos como solidários – como, por exemplo, uma mulher que acolhe e cuida de uma criança em situação de risco de vida. Porém, entendendo a solidariedade como algo mais dinâmico, que ganha níveis e significados distintos ao longo do tempo e na diversidade de culturas, é difícil concluir que alguém já nasça solidário. É preferível afirmar que todos nascem com a possibilidade de desenvolver esse valor.

A solidariedade está na essência Marista. Por que investir no desenvolvimento de um ser humano mais solidário?

A educação Marista se pauta em vários princípios que apontam para a solidariedade como uma das virtudes de nosso tempo: a formação integral, o desenvolvimento da alteridade e da paz, o protagonismo das infâncias e juventudes, a cidadania planetária e outros que emanam da ética cristã.

Entendendo a solidariedade como algo mais dinâmico, que ganha níveis e significados distintos ao longo do tempo e na diversidade de culturas, é difícil concluir que alguém já nasça solidário.

tado desta edição da Em Família. Ribeiro tem uma longa caminhada no Grupo Marista, já tendo colaborado diretamente com a Rede de Solidariedade Marista. Atualmente, ele é coordenador de Pastoral do Colégio Marista de Maringá (PR).

Quais as apostas para este ano nas unidades pastorais dos Colégios?

A missão Marista no mundo é a educação de crianças e jovens, com um grande foco na defesa e na promoção da vida. Já há algum tempo, as Diretrizes da Ação Evangelizadora do Grupo Marista apontam para a solidariedade socioambiental como um elemento inculturador do Evangelho. A Rede Marista de Solidariedade avançou muito e tem um belíssimo trabalho no campo da defesa e da promoção dos direitos das infâncias e juventudes em situação de vulnerabilidade, pois amplia a ação social em rede, participa de espaços de construção e controle social das políticas públicas e motiva o Grupo Marista a avançar na educação para a solidariedade. Em sintonia com essa caminhada, em 2015, a Pastoral da Rede de Colégios assumiu a promoção e a defesa das infâncias e juventudes como um de seus eixos de análise e estruturação. O objetivo desse eixo é consolidar o posicionamento da comunidade educativa frente à defesa e à promoção dos direitos das infâncias e juventudes em sintonia com os direcionamentos da Rede Marista de Solidariedade (boas práticas de gestão, projetos de solidariedade, mobilização e comunicação) para que a vivência da fraternidade e da caridade cristã abra caminhos e estabeleça pontes para uma cidadania solidária. A aposta está em programas, projetos e ações estratégicos e inovadores que colaborem para que os diversos interlocutores – alunos, famílias, educadores, colaboradores, parceiros – desenvolvam a consciência crítica, ampliem seu olhar sobre a solidariedade, atribuam novos sentidos e colaborem para a transformação positiva do mundo.

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entrevista Para algumas pessoas, solidarizar-se com o outro, colaborar para essa transformação positiva é um verdadeiro exercício. Por que, às vezes, pode parecer difícil se doar ao próximo?

Não é fácil controlar os instintos egoístas e a tendência à acomodação. Nesse sentido, é difícil superar paradigmas anacrônicos, estruturas obsoletas e preconceitos em favor do bem comum. Dá trabalho sair de si, estimular a consciência crítica, reconhecer incoerências pessoais, desenvolver a alteridade, buscar coletivamente soluções assertivas com foco no grupo. Porém, a maior parte dos que começaram a desenvolver sua dimensão solidária encontrou um caminho de realização, ampliou o sentido de sua existência e tornou sua vida mais dinâmica.

Dá trabalho sair de si, estimular a consciência crítica, reconhecer incoerências pessoais, desenvolver a alteridade, buscar coletivamente soluções assertivas com foco no grupo.

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Ser solidário e fazer o bem são a mesma coisa?

Há diferentes níveis de solidariedade. De maneira simplificada, poderíamos destacar três. O primeiro é o assistencialismo. Muitas pessoas se comovem com o sofrimento alheio e se dispõem a ajudar, mas não necessariamente colaboram para que as raízes do sofrimento sejam superadas. O segundo é a fraternidade. Há pessoas que se dispõem a superar preconceitos e conviver com quem sofre. Aprendem que a solidariedade é um “caminho de mão dupla”, de interlocução que promove o crescimento de todos os envolvidos. O terceiro é a defesa e a promoção dos direitos e a emancipação dos sujeitos. Quem está nesse nível assume direta e indiretamente o acompanhamento das políticas públicas que incidem na vida de todos e o apoio às iniciativas que buscam superar as causas da vulnerabilidade social e econômica. Pensando assim, podemos afirmar que ser solidário e fazer o bem podem ser sinônimos, mas têm formas e impactos distintos. César Augusto Ribeiro, coordenador de Pastoral do Colégio Marista de Maringá (PR).


índice

Por Emanoelle Beltran, Nathália Sartorato e Camila Agner

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Com o objetivo de incentivar o protagonismo juvenil, a Missão Solidária Marista 2015 reuniu mais de 450 missionários que prometem vestir a camisa da solidariedade.

destaque

com a palavra

ed. infantil

ens. fundamental

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ens. médio

diz aí

caleidoscópio

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O que pensa a Diretoria-Geral.

Desde cedo os alunos aprendem a importância de respeitar as diferenças.

Quando a zoação vira bullying.

Aliando tradição e inovação, a Pedagogia Marista obtém bons resultados quando o assunto é acolher e respeitar as diferenças.

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Por que as pessoas são diferentes umas das outras? Saiba o que pensam os alunos e o educador.

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você sabia?

gente nossa

ser melhor

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Confira como está sendo a adaptação da aluna Maria Eduarda, vinda de Natal, no Rio Grande do Norte.

Confira a entrevista com José Antônio Peruzzo, ex- -aluno Marista, e hoje Dom Peruzzo, o arcebispo de Curitiba.

Relembre os principais acontecimentos do Colégio.

Conheça algumas ações da Pastoral.


com a palavra

Aprimorando os

relacionamentos

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Colégio Marista de Cascavel

O ser que se integra permite a aproximação com o outro, vence os seus limites e se torna solidário para ajudar as outras pessoas e estará mais aberto para enxergar e entender o outro, no seu papel de cidadão.

Airton Bonet Diretor-Geral

© Foto: Acervo do Colégio

Numa geração influenciada pelas máquinas e pela tecnologia, estreitar os relacionamentos “reais” não é uma tarefa das mais simples. Mas entendemos que o nosso papel enquanto escola é favorecer o bom convívio, a integração e a interação dos alunos. Por isso, o Colégio Marista procura aprimorar os relacionamentos em todos os sentidos: aluno-aluno, aluno-educador, educador-educador, pais-escola. Os relacionamentos promovem a comunicação, o diálogo e a vivência entre as pessoas que podem ser diferentes (em origens, em educação e em cultura), mas que aprendendo a conviver no mesmo espaço compartilham experiências e o seu modo de vida. Na nossa escola vemos poucas atitude de discriminação. E isso é consequência de um projeto pedagógico implicado no nosso carisma, na nossa vocação, no compromisso com os valores que permeiam o jeito Marista de educar; educar do jeito de Maria. Não que estejamos livres disso, mas essa é uma questão muito séria para todos: alunos, educadores e familiares. Sempre que vivemos algum problema, somos provocados a resgatar com profundidade os caminhos que devemos percorrer para garantir que as pessoas sejam todas acolhidas na profundidade do seu direito de pertencer a esta comunidade escolar. Desde a formação do professor e dos gestores, a acolhida e o desenvolvimento dos alunos, são vivenciadas situações que promovem o compromisso do Educador e do aluno Marista com o acolher o outro. Diariamente, somos convidados a buscar a convivência fraterna. Temos como objetivo formar cidadãos humanos, justos, éticos e solidários a partir de uma série de processos educacionais centrados nos valores do Evangelho. Logo, todas as nossas ações precisam estar permeadas por esses princípios. Quer se passar a impressão de uma escola perfeita? Não. Quer se passar a certeza de que é uma escola que se preocupa muito com a aproximação das pessoas, com a integração, com o compromisso de conviver e cuidar do outro. O ser que se integra permite a aproximação com o outro, vence os seus limites e se torna solidário para ajudar as outras pessoas – e estará mais aberto para enxergar e entender o outro, no seu papel de cidadão. Acreditamos que uma sociedade se transforma pela transformação dos seus membros, por isso o compromisso da Escola em contribuir para que cada educando perceba o seu valor neste contexto e esteja pronto para dar a sua contribuição.



ed. infantil

A diversidade é linda! “O sonho da igualdade só cresce no terreno do respeito pelas diferenças”. A frase do médico, pesquisador e escritor Augusto Cury nos ajuda a ilustrar exatamente o que o Colégio Marista de Cascavel tem feito pelos alunos da Educação Infantil. Desde pequenos, eles são preparados para receber a sementinha do respeito, que no futuro frutificará e produzirá a igualdade tão necessária para termos um mundo mais justo, humano e fraterno. Ensinar as crianças a enxergar a beleza da diversidade que existe entre elas é um processo contínuo e de longo prazo. É uma verdadeira educação comportamental que elas certamente carregarão para toda a vida. E esse processo de ensino e aprendizagem

se dá por meio das relações e interações sociais que ocorrem no ambiente escolar e são sempre permeadas pelas diferenças entre as crianças. No entanto, de acordo com a coordenadora psicopedagógica Márcia Ionara E. Piovezani, cabe aos educadores reconhecerem que a diversidade é muito mais do que o conjunto das diferenças. “Ao entrarmos nesse campo, estamos lidando com as construções histórica, social e cultural das diferenças ligadas às relações que as crianças desenvolvem. Portanto, ao falarmos sobre a diversidade, não podemos desconsiderar a construção das identidades”, afirma. Mas como fazer isso? Como educar nossas crianças sobre o respeito pelas diferenças? Como evitar que a

© Fotos: Acervo do Colégio

No Colégio Marista de Cascavel, os alunos aprendem desde cedo a importância de respeitar as diferenças e conviver de maneira harmoniosa com a diversidade

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Colégio Marista de Cascavel


diversidade – independentemente da forma como ela se mostre – não se torne uma barreira no convívio social nem motivo para um comportamento inadequado e preconceituoso? Simples: com uma proposta pedagógica capaz de proporcionar aos alunos situações de aprendizagem que sejam integradoras e geradoras de acolhimento e afetividade, capazes de desenvolver e reconhecer a identidade de cada criança observando características individuais e de grupo, além das relações entre as diferentes culturas. “Essas vivências são fundamentais para o respeito às diferenças presentes no meio social das crianças. E a melhor maneira de ensinar isso é por meio das brincadeiras de integração e dinâmicas de grupo, desenvolvidas pelos professores da Educação Infantil, excelentes ferramentas para desenvolver essa consciência do respeito às diversidades, evitando qualquer forma de discriminação”, assegura a coordenadora psicopedagógica. É como diz o velho ditado, “Gentileza gera gentileza”. E respeito, claro, gera respeito! Mas todo mundo sabe que a educação não é papel apenas da escola. É preciso que em casa as crianças também sejam constantemente incentivadas a conviver com as diferenças de forma muito harmoniosa. “Nesse sentido, a gente também desenvolve um trabalho muito importante de orientação com as famílias. É necessário orientar os pais para o fato de que os filhos convivem em um grupo, convivem com pessoas diferentes, ressaltando que cada criança é única, que nem todo mundo aprende no mesmo tempo, nem todos se desenvolvem do mesmo jeito, que nem todos possuem a mesma habilidade para tudo. E isso é algo que precisa se estender para o ambiente familiar. As diferenças entre irmãos, por exemplo, precisam ser tratadas com naturalidade e não

podem ser motivo de comparação e cobranças”, destaca Márcia. O Colégio Marista de Cascavel entende que é na Educação Infantil que construímos grande parte dos valores que levamos para a vida. O convívio, o exemplo, as situações do cotidiano trazem aprendizagens significativas que formam a personalidade da criança. É fundamental que toda a equipe pedagógica compreenda o sentimento dos alunos, explorando suas qualidades e trabalhando as necessidades, superando-as no dia a dia da sala de aula. “Trabalhar valores como o respeito, a amizade, a honestidade e o amor ao próximo leva ao respeito às diferenças”. A escola que acolhe a diversidade direciona-se para um ensino que, além de reforçar os mecanismos de interação solidária e os procedimen-

tos cooperativos, cria um ambiente onde todos se sentem acolhidos em suas relações com o outro.

Trabalhar valores como o respeito, a amizade, a honestidade e o amor ao próximo leva ao respeito às diferenças. Márcia Piovezani Coordenadora Psicopedagógica

Colégio Marista de Cascavel

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© Fotos: Acervo do Colégio

ens. fundamental

Bullying:

a “zoação” que não tem graça! Quando um dos lados sai machucado, a brincadeira não pode continuar

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Acolher bem todas as pessoas. Essa talvez seja a principal missão do Colégio Marista de Cascavel. Afinal, é com hábitos e ações acolhedoras que podemos combater os hábitos de violência, assédio e intimidação. Pelo menos é isso que a experiência ensinou à equipe do Ensino Fundamental I e II. “A acolhida é um dos nossos principais valores e a gente trabalha isso com as crianças desde a Educação Infantil até o Ensino Médio”, afirma a coordenadora psicopedagógica Márcia Piovezani. “Dentro do Marista, nós trabalhamos valores o tempo todo, em qualquer disciplina. A gente sempre pensa na formação pessoal e social do aluno”, reforça a coordenadora psicopedagógica Luciana Faria. E essa formação pessoal e social passa, obrigatoriamente, pelo respeito ao próximo, que muitas vezes os adolescentes “esquecem” em uma rodinha de conversa entre os amigos. “Falando na linguagem deles, zoam de um colega achando que é brincadeira, mas só alguns estão se divertindo. O outro está sendo assediado moralmente. Isso é o bullying”, explica a coordenadora Luciana Faria. O problema está justamente em encontrar maneiras de evitar essas brincadeiras que são tão comuns aos alunos do Ensino Fundamen-

Colégio Marista de Cascavel

tal, mas podem ser muito prejudiciais. “Quando esses alunos crescem, eles passam a criar seus próprios grupos com interesses próprios e sua própria identidade. E isso dificulta um pouco”, afirma a coordenadora Márcia. Dificulta sim, mas não impossibilita. Prova disso são todos os projetos desenvolvidos com os alunos que visam a demonstrar a eles que apesar de vivermos em grupo nem todo mundo é igual e ter pessoas tão diferentes convivendo conosco é muito bom e nos agrega conhecimento. “No segundo ano temos o projeto Resgate da Infância Através da Arte, onde resgatamos as brincadeiras infantis de diversas culturas e as representamos com as crianças por meio da arte. Já o 3º ano trabalha um projeto chamado A Criança no Mundo, bem focado na questão da diversidade, mas olhando especificamente para a criança. Como uma criança africana brinca e interage com outra? E como uma criança indígena faz essa interação? E como a criança é vista em cada lugar do mundo? Já com os alunos do 5º ano trabalhamos com o projeto Diversidade Cultural, que aborda as diferentes culturas dos imigrantes que vieram para o Brasil. Os alunos estudam a cultura, as comidas típicas, as danças e as vestimentas de diversos países”, conta a coordenadora do Ensino Fundamental I, Márcia Piovezani.


Você pode até estar se perguntando como esses projetos que abordam a diversidade contribuem para evitar o bullying. “Nós temos na Escola um número grande de imigrantes de outras regiões do Brasil, que trazem com eles uma série de costumes e diferenças com as quais as crianças convivem no dia a dia. Esses projetos contribuem muito no sentido de ajudar a perceber que não existe o certo ou o errado, mas sim a diversidade cultural em que cada um está inserido. E nós convivemos com o diferente, precisamos respeitar e acolher o diferente como uma forma de integrar e agregar valores para o grupo”, explica Márcia. No Ensino Fundamental II, também podemos citar uma série de projetos que são desenvolvidos ao longo do ano e visam ao combate ao bullying e ao individualismo. “No primeiro trimestre, nós temos os projetos da Campanha da Fraternidade, que instigam os alunos a desenvolverem várias ações solidárias. O 6º ano trabalha o projeto Juventude e Solidariedade, que tem como objetivo sensibilizar os jovens para serem agentes transformadores da sociedade, a fim de promover a paz e o bem comum. Para o 7º ano, o projeto é Um Gesto de Gratidão, que vai propiciar aos alunos momentos de reflexão sobre a profissão de zelador, com

uma integração onde seja possível a troca de experiências, a fim de tornar evidente a valorização, o respeito e a colaboração, considerando que a sociedade muitas vezes não dá a devida importância aos serviços desenvolvidos por esses profissionais. Já os alunos do 8º ano têm o projeto Brincar e Servir, no qual eles podem estabelecer relações sinceras de amizade e levantar dados qualitativos e quantitativos referentes às crianças retiradas dos lares e que moram em abrigos. Por fim, os estudantes do 9º ano trabalham o projeto Em Busca de um Mundo Novo, que vai desafiá-los a buscar novos métodos, atitudes e linguagens na missão de levar a Boa-Nova a cada pessoa, família e sociedade; e desenvolver, à luz do Evangelho, a opção preferencial pelos pobres para o desenvolvimento integral da pessoa e na construção de uma sociedade justa e solidária”, explica a coordenadora do Ensino Fundamental II, Luciana Faria. Além disso, o Colégio Marista de Cascavel também está desenvolvendo uma campanha com o lema “Marista contra o bullying. Quem respeita é respeitado”. Cartazes e adesivos serão espalhados pela Instituição para educar e conscientizar todos os alunos sobre a seriedade do assunto. “O que nós percebemos é que alguns alunos querem ter o prazer ime-

diato, o que é normal, mas pra isso eles metem os pés pelas mãos, passam por cima dos colegas e acabam promovendo alguns conflitos no grupo. Então, o que falta é esse olhar do todo para que eles sejam menos individualistas e mais solidários. Por serem adolescentes e terem esse imediatismo, cabe a nós educadores parar tudo, sentar, conversar com eles e mostrar: ‘Olha, essa atitude não é adequada’”, finaliza Luciana.

Por eles serem adolescentes e terem esse imediatismo, cabe a nós educadores parar tudo, sentar, conversar com eles e mostrar: ‘Olha, essa atitude não é adequada’. Luciana Faria Coordenadora Psicopedagógica

Colégio Marista de Cascavel

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ens. médio

o respeito! “Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou, ainda, pela religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender; e se podem aprender a odiar, elas podem ser ensinadas a amar” – o pensamento é de Mandela, mas poderia ser o resumo de uma das vertentes do Colégio Marista que, ao formar alunos desde os primeiros anos de vida, prega o não preconceito ensinando que o amor, a solidariedade e a acolhida são sentimentos essenciais. Luciana Faria, coordenadora psicopedagógica dos Ensinos Fundamental II e Médio do Colégio Marista de Cascavel, acredita que esses são os três pontos básicos da educação Marista, mas, além deles, outro ganha destaque. “Nosso objetivo é formar alunos que questionem e conheçam as contradições da sociedade. No Ensino Médio, as discussões são mais profundas e, entre os nossos valores, temos o respeito em primeiro lugar”, pontua. Atuando num mundo de constantes mudanças, a bicentenária Pedagogia Marista contracena com novos formatos familiares, novas ideologias e novos preconceitos. A solução, segundo Luciana, é fazer com que a sala de aula seja o palco das discussões que envolvem esses temas e um espaço para onde os holofotes se direcionam para projetos que façam os alunos entenderem a realidade. “Dentro das salas, os professores não podem interferir nas escolhas do aluno, mas sim orientá-las, por isso todas as ideias são

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apresentadas e debatidas” observa. “Neste ano, o Ensino Médio tem um projeto que discute o preconceito religioso e étnico. Ser ou não ser Charlie Hebdo fará os alunos discutirem as questões ideológicas e religiosas daquele contexto para depois inserirem tudo isso no cotidiano”, diz Luciana. Acolher as diferenças e respeitá-las é um assunto recorrente nos corredores do Colégio e quem fomenta tudo isso, além da Pedagogia Marista, é Eduardo Nikodem, coordenador da Pastoral do Marista de Cascavel. Na sala da Pastoral Juvenil Marista (PJM), os alunos encontram suporte para realizar projetos que ensinam o não preconceito. “A acolhida é um dos nossos principais valores. Ensinamos a virtude de acolher o diferente abordando o respeito e a aceitação. Trabalhamos com tudo isso por meio de temas, como o protagonismo jovem”, explica Nikodem. Protagonismo que reconhece o adolescente não como um problema, mas como parte da solução. “Com a participação dos alunos em ações sociais, é possível realizar atos práticos que combatem o preconceito”, finaliza. Propagando o respeito, a metodologia Marista cumpre a difícil tarefa de aliar tradição com inovação. Dia após dia, os resultados são colhidos quando um aluno demonstra entender o seu contexto. São provas cotidianas de que a Missão Marista obtém sucesso quando o objetivo é pregar não só o amor, mas também a solidariedade, a acolhida e o respeito – verdadeiros

Colégio Marista de Cascavel

Aliando tradição e inovação, a Pedagogia Marista obtém bons resultados quando o assunto é acolher e respeitar as diferenças guias na caminhada estudantil, profissional e pessoal de cada um que adentra pelas portas do Colégio.

© Fotos: Acervo do Colégio

Em nome do não preconceito,

Luciana Faria – Coordenadora psicopedagógica do Ensino Fundamental II e do Ensino Médio.


Todos ganhamos! Campanha Defenda-se ĂŠ reconhecida pelo PrĂŞmio Neide Castanha.

defenda-se.com | fb.com/solmarista

Centro Marista de Defesa da Infância


diz aí

Por que as pessoas são diferentes

?

© Fotos: Acervo do Colégio

umas das outras

Camili de Lima Sonda 6º B - EF

“Cada pessoa tem um jeito diferente de ser, cada um tem um jeito de pensar, se todos fossem iguais não seria legal, é sempre bom conhecer os gostos diferentes dos outros, se todos gostassem das mesmas coisas não seria legal.”

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Gabriel Pscheidt D. de Lima 5º C - EF

Julia Inês Garbin 6º B - EF

“As diferenças nos tornam importantes, porque nós podemos saber que conseguimos fazer alguma coisa que os outros não conseguem e nós, com essas diferenças, conseguimos ajudar. Eu gosto de ser diferente porque posso ajudar o próximo e fazer a vida de alguém mais feliz.”

“É bom ser diferente porque não teria graça, cada um tem um jeito de pensar, de se vestir e ser diferente, não seria legal se todo mundo gostasse da mesma música, se todos tivessem o mesmo estilo de se vestir e se comportar.”

Colégio Marista de Cascavel


Jonas Casagrande 2ª B - EM

“Porque as pessoas nascem e se criam em variados lugares e, por isso, são influenciadas por diferentes meios e pessoas, formando então inúmeras personalidades.”

Gabriel B. Mota Schlemper 5ª B - Infantil

Tiago Pscheidt D. de Lima 5º B - EF

“Eu adoro os amigos diferentes porque ser igual é chato. Um dia, o Pedro, que é diferente de mim, foi na minha casa e isso foi demais porque ele tinha brincadeiras diferentes.”

“Eu acho que a vida não teria graça se todas as pessoas agissem da mesma maneira. As diferenças definem a gente e deixam a nossa marca no mundo, o que a gente é e o que a gente fez.”

Opinião da Educadora “A diferença está presente em todos os seres humanos. Sejam elas físicas, étnicas, sociais ou culturais. A escola tem papel fundamental frente a essa realidade e cabe a ela promover ações capazes de permitir que as crianças tenham condições de viabilizar formas de construção de conhecimento que respeitem o outro em suas peculiaridades e diferenças. Para abordar o tema aqui proposto, realizei um diálogo com três crianças de 4 anos que possuem em sua sala uma coleguinha com deficiência nos membros superiores. Após um longo tempo conversando sobre diversidade, perguntei às crianças se a coleguinha era diferente deles. Eles responderam: – Sim, ela é muito diferente. Então perguntei quais as diferenças que percebiam e eles começaram a relatar:

– Ela tem os olhos castanhos, os meus são azuis. São diferentes. – O cabelo dela é liso, o meu é enroladinho. – O cabelo dela é loiro e o meu é preto. Fiquei emocionada e surpresa ao perceber que em nenhum momento a deficiência nos braços e nas mãos da coleguinha foi mencionada pelas crianças. Assim, podemos concluir que, nas crianças, antes que seu comportamento seja contaminado por juízos de valor negativo, elas aceitam as diferenças e convivem em harmonia com elas.”

Márcia Piovezani

Coordenadora Psicopedagógica da Educação Infantil e do Ensino Fundamental I

Colégio Marista de Cascavel

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caleidoscópio Momento muito significativo durante a celebração de Páscoa com os educadores.

A reunião com as novas famílias é parte essencial no processo de acolhida e integração dos novos alunos.

2015

Dando continuidade à acolhida e à integração das novas famílias, os pais puderam aproveitar uma manhã divertida com seus filhos no Recanto Marista.

ACOLHIDA

Momento de Pastoral muito especial com contação de história para os alunos da Educação Infantil.

MOMENTOS Alunos do 8º ano em sua aula prática no laboratório.

A amizade no momento de acolhida com os alunos do Fundamental I.

Alunos do Terceirão 2015 em sua sexta-feira temática. Os hippies dominaram o Colégio.

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Colégio Marista de Cascavel


Os alunos do Infantil 4 durante as atividades do projeto Cultivando a Solidariedade, que trabalha os aspectos propostos pela campanha da fraternidade deste ano.

Os alunos do Fundamental I em suas atividades no Período Ampliado. Workshop motivacional com Maria Imaculada Möllmann sobre autoconhecimento para educadores no II Seminário das Escolas Católicas de Cascavel.

© Fotos: Acervo do Colégio

ACONTECEU Para comemorar o retorno às aulas, as alunas do Fundamental II aproveitaram uma manhã com muito picolé. Alunos dos 8os anos participaram de uma integração no Recanto Marista com o objetivo de interagir entre si.

Capacitação sobre valores Maristas com o Ir. Carlos e os novos educadores.

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© Fotos: Acervo do Colégio

destaque

Educação para a

solidariedade

Com o objetivo de incentivar o protagonismo juvenil, a Missão Solidária Marista deste ano reuniu mais de 450 missionários que prometem vestir a camisa da solidariedade

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Dayane Pelissaro Pereira tem 17 anos. Aluna da 3ª série do Ensino Médio do Colégio Marista de Cascavel, participa da PJM (Pastoral Juvenil Marista) desde a 3ª série do Ensino Fundamental. Como alguns participantes do grupo, o desejo inicial era trabalhar em prol do próximo e estreitar os laços com outros alunos. Hoje, mesmo enfrentando um tempo limitado devido aos estudos para o vestibular, Dayane continua frequentando a Pastoral e admite: neste ano, ela realizou um sonho. “Os outros alunos falavam que [a Missão Solidária] era muito legal e que contava muito para as nossas experiências de vida. Desde aquela época, comecei a sentir vontade de participar da Missão e eu estava esperando ansiosamente pela data da viagem”, relembra a estudante.

Colégio Marista de Cascavel

O desafio deste ano englobava quatro cidades: Ponta Grossa (PR), Jaraguá do Sul (SC), Pouso Redondo (SC) e Santos (SP). Dayane e os outros alunos do Marista de Cascavel seguiram viagem rumo a Pouso Redondo. Chegando lá, se juntaram aos mais de 100 missionários do local e começaram o trabalho. Entre os dias 18 e 25 de janeiro, alunos e ex-alunos Maristas realizaram as mais diversas atividades que proporcionavam o exercício da liderança, do protagonismo juvenil, do amor ao próximo e dos Valores Maristas. Eduardo Nikodem, coordenador da Pastoral do Marista de Cascavel, acompanhou os trabalhos e a preparação dos alunos para a Missão. “Existe uma formação anterior para explicar aos alunos quais serão as atividades desenvolvidas.


Depois, eles vão até o local, ficam hospedados nas casas das famílias da comunidade e durante o dia realizam trabalhos solidários”, explica Nikodem. Dayane ficou na casa de uma família que só tinha uma filha. Durante o tempo em que se hospedou lá, passou a ver a colega de quarto como irmã e com ela aprendeu coisas diferentes da sua realidade. “Eu e ela éramos filhas únicas e a convivência fez com que a gente se visse como irmãs. Eu aprendi os costumes de lá, bem diferentes dos da minha casa. Aprendi que é importante ouvir o conhecimento das outras pessoas e tentar enxergar outros pontos de vista”, afirma a estudante. Em Pouso Redondo, os jovens realizaram oficinas socioeducativas com crianças e adolescentes, visitas às famílias, além do trabalho realizado na comunidade de Santa Felicidade, com a revitalização da horta e do jardim do Hospital Annegret Nietzke e do espaço externo da comunidade de Pouso da Caixa. “Tanto a rotina quanto a realidade eram diferentes. Aprendi muito com todas as experiências”, relata Dayane. Para Nikodem, o diferencial é o fato de os alunos conviverem diretamente com o cotidiano da cidade escolhida. “Por ser uma cidade de interior, alguns jovens tiveram que lidar com a roça, outros ajudaram no galinheiro da família... Tudo agrega conhecimento”, observa Nikodem. No total, mais de 450 missionários fizeram parte da Missão Solidária Marista. Entre colaboradores, alunos, ex-alunos, irmãos e professores, um ideal era comum: a Educação para a Solidariedade. “Durante todos os encontros da PJM, a solidariedade é um dos assuntos principais a serem tratados. E o objetivo da Missão Solidária é realmente colocar em prática esse conceito aprendido de forma mais intensa e fazer com que o trabalho continue e não seja só durante o mês de janeiro”, completa o coordenador da Pastoral.

Quanto à continuidade, não há dúvidas de que a meta está sendo cumprida. Em Cascavel, por exemplo, os alunos que participaram da Missão e outros que não puderam ir – seja por idade, seja por não terem tido disponibilidade – promoveram uma campanha de doação de sangue. “Quem podia doar foi até o Hemocentro fazer a doação como parte de uma ação solidária. Dessa forma, os próprios estudantes vão lançando os desafios ‘pós-missão’, que buscam continuar o projeto e não deixar apagar aquele espírito de mudança – quem vai acaba voltando animado para seguir promovendo mudanças no mundo”, evidencia Nikodem. Assim como Dayane, outros jovens que participaram da Missão voltaram para casa com muitas histórias para contar, cientes de que novas responsabilidades estão por vir dentro da Pastoral. “Quem foi até Pouso Redondo participar da Missão voltou com o desafio de coordenar outro projeto solidário, o Páscoa Missão. Nessa oportunidade, serão realizadas ações para idosos, crianças e pessoas em situação de rua. Então, além de ser uma ocasião para a solidariedade, é uma chance de os estudantes aprenderem lições ligadas à liderança para coordenarem projetos futuramente”, diz Nikodem, orgulhoso por ver que o trabalho está rendendo os melhores frutos possíveis. Desenvolvendo trabalhos que aplicam na prática os Valores Maristas, a Pastoral segue incentivando os estu-

dantes a participarem dos projetos que destacam a solidariedade. Além disso, também incentiva a oportunidade de o jovem reconhecer o seu lugar na sociedade e, assim, fazer o bem ao próximo. Dayane, frequentadora assídua da PJM, já participou de várias ações e quer mais. “Pretendo fazer Psicologia ou Engenharia Elétrica no vestibular. Nas duas áreas, quero ajudar a fazer um mundo melhor”, diz, esperançosa. Em contato com os sonhos e as esperanças desses jovens, Eduardo Nikodem tem uma certeza: as sementes plantadas pela Pastoral já estão rendendo ótimos frutos a serem colhidos. Diante disso, uma esperança: que o trabalho prospere e continue sendo assim por muitos e muitos anos!

Tanto a rotina quanto a realidade eram diferentes. Aprendi muito com todas as experiências. Dayane Pelissaro Pereira Aluna Marista

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você sabia?

© Fotos: Sxc.hu | Acervo do Colégio

Da praia para

a cidade

A adolescente Maria Eduarda veio de Natal, no Rio Grande do Norte, e agora está se adaptando a uma nova rotina social e também escolar Imagine como deve ser para uma adolescente de 15 anos trocar uma cidade moderna, cercada por rios, mares, lindas praias, dunas e muito verde por uma cidade do interior com mais prédios do que árvores e quase nenhuma atração turística natural. Não deve ser muito fácil, né? E foi esse o desafio enfrentado por uma aluna da 1ª série do Colégio Marista de Cascavel. Maria Eduarda Cunha morava em Natal, no Rio Grande do Norte, e se mudou para Cascavel quando o pai foi aprovado em um concurso para engenheiro civil do Exército. Logo de cara, a adaptação à nova rotina e ao novo ambiente não foi muito fácil. “Passei por vários problemas por não aceitar a mudança. O mais difícil foi a falta dos meus familiares e amigos de lá”, conta a aluna. O choque cultural também foi grande. “Bem, eu morava em uma capital, ou seja, uma cidade bem maior, onde tinha inúmeras opções de lazer. As praias, com certeza, são uma das maiores diferenças entre as duas cidades. Sinto falta também das comidas que só têm lá”, conta. Por outro lado, se não temos as praias também não temos o trânsito caótico, típico de uma metrópole. “Em Cascavel, eu me sinto mais segura e posso até ir à Escola caminhando. Também é uma cidade totalmente sem trânsito e você consegue chegar a qualquer lugar em pouco tempo”.

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No ambiente escolar, o que mais causou estranheza à Maria Eduarda foi uma particularidade dos paranaenses. “O sotaque dos professores e o jeito como eles explicam os conteúdos fizeram, com certeza, a maior diferença dentro da Instituição”. E a rotina da aluna também passou a acompanhar o ritmo mais calmo de uma cidade menor. “Em Natal, a minha vida era totalmente preenchida com tudo que pudesse me ajudar, como curso de redação, curso de inglês, várias atividades físicas. Era tudo muito corrido! Aqui eu levo uma vida mais calma e bem mais tranquila”, assegura. Apesar das dificuldades iniciais que toda mudança traz, principalmente para uma adolescente, hoje a Maria Eduarda adora a tranquilidade e a paz que a cidade proporciona e afirma, sem medo: “Já amo Cascavel, mas tenho orgulho de ser nordestina”.

Em Cascavel, eu me sinto mais segura e posso até ir à Escola caminhando. Também é uma cidade totalmente sem trânsito e você consegue chegar a qualquer lugar em pouco tempo.

Colégio Marista de Cascavel


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Educar e

gente nossa

© Foto: Arnaldo Alves

EVANGELIZAR

Com o lema episcopal “Fazei discípulos... os Ensinai”, Dom Peruzzo destaca a importância de uma escola que não se preocupa em apenas formar alunos, mas sim cidadãos que exerçam o bem e a fé 34

Colégio Marista de Cascavel

José Antônio Peruzzo. Esse nome tão conhecido por todo o Paraná já esteve nos registros de alunos Maristas. Hoje, com 54 anos, o cascavelense ocupa o principal cargo da Igreja católica do Estado: é o arcebispo de Curitiba. Em entrevista à Em Família, ele voltou no tempo e nos revelou algumas recordações lá de 1969 até 1974, quando estudou no Colégio Marista de Cascavel.

Dom Peruzzo, quais são as suas recordações dos tempos de aluno Marista? São muitas as recordações! Não era ainda um Colégio grande, moderno e espaçoso como é hoje. As instalações eram bastante precárias. Tudo era de madeira e bem menor. Mas grandes naquele tempo eram a dedicação dos professores, o testemunho dos Irmãos Maristas, a participação das famílias na causa da educação dos seus filhos, as reuniões dos pais que eram bastante assíduas e frequentadas. Tenho bem presente o quanto aquela educação serviu mesmo de fundamento para tudo o que eu recebi depois. Sou muito grato.


Em que momento da sua vida o senhor entendeu e definiu que seguiria o caminho da fé?

© Foto: Arnaldo Alves

Foi um processo gradativo. Eu vinha de uma família bastante religiosa e o ambiente no Colégio tomava em grandíssimo apreço a causa da educação da fé. Não era apenas uma instituição escolar de princípios cristãos. No Colégio, muito se rezava, havia uma ótima formação catequética, era uma escola confessional. Então, combinando um ambiente familiar e uma escola que favorecia o processo de maturação vocacional, encontrei um ambiente sereno com um cotidiano realimentado que me levou um dia para o seminário e de lá não mais saí.

Educar e evangelizar. Acredita que essas são ferramentas importantes para a formação das novas gerações? É evidente que educar e evangelizar se integram e complementam. Se por educar entende-se apenas escolarização, então qualquer escola e qualquer ambiente servem. Escolarizar pode até ser uma questão de metodologia pedagógica. Agora educar e evangelizar trata-se de construir pessoas, aproximando-as de Deus e aproximando Deus das pessoas. Para tanto, educar e evangelizar são meios sem os quais qualquer ambiente educativo seria muito mais pobre.

Qual a importância de ter um Núcleo Pastoral trabalhando em conjunto com a equipe pedagógica dentro da escola? O que isso pode melhorar e influenciar na vida dos alunos? A palavra pastoral vem de pastor, é a imagem bíblica. Pastor é aquele que conduz as suas ovelhas a boas pastagens. O papel do Núcleo Pastoral é de matizar com critérios de fé aquilo que é pedagogia, que é ensino, que é aprendizado, que é didática, aquilo que é partilha do conhecimento. Para evangelizar, não é preciso fazer um discurso religioso toda hora, isso nem ajuda. Mas é em tudo aquilo que se faz, em que se possa perceber que há também motivações e fé subjacentes às inspirações daquilo que se projeta em termos de educação e formação.

Você tem como lema episcopal: "Fazei discípulos...…os Ensinai". Como a Escola pode levar isso adiante? © Fotos: José Fernando Ogura

Fazendo do ambiente educativo uma atmosfera de convivência, de relacionamento, de fé professada, de compreensão exercitada, de perdão oferecido e acolhido. Que sejam um ambiente e um contexto de fraternidade, não apenas em estratégia para favorecer o trabalho em equipe. Caso contrário, até a experiência religiosa se igualaria a apenas um pobre discurso teórico e perigosamente abstrato.

Colégio Marista de Cascavel

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ser melhor

Acolher

é envolver

© Foto: Acervo do Colégio

Mais que um momento de lazer e descontração, a Acolhida é uma forma de envolver os alunos criando um ambiente escolar de paz e amor ao próximo Quando o ponteiro do relógio indica 13h23, eles já estão a postos, nos devidos lugares e radiantes de alegria. As aulas no período da tarde começam pontualmente às 13h30, mas os alunos do Ensino Fundamental I têm bons motivos para os pais os deixarem na Escola sete minutinhos antes de o sinal tocar. Afinal, ninguém quer perder o momento da Acolhida – com direito a música ao vivo e tudo. "É uma forma de prepará-los para a sala de aula. Nesse momento, eles cantam, dançam, se confraternizam e encerram a atividade com uma oração, o que contribui muito para a concentração deles. É como se fizessem um aquecimento antes de iniciar a aula e o mais interessante é que o sinal só bate às 13h30, então é opcional chegar antes para esse momento, mas tanto os alunos quanto os pais fazem questão de participar", revela o coordenador de Pastoral, Eduardo Nikodem. Acolher. Essa palavra – cujo significado é tão agradável, como nos mostra o dicionário: recolher; receber com agrado – é tida no Colégio Marista como uma virtude integra-

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da diariamente na rotina das crianças e adolescentes. Assim como os alunos do 2º ao 5º ano, a dinâmica acontece com todas as séries, mas em formatos diferentes, vai de acordo com a fase de cada um. "De manhã, por exemplo, o Ensino Médio participa do momento de oração e recebe uma mensagem antes do início da aula. Com os menorzinhos fazemos diferente: vamos até a sala de aula e lá cantamos e dançamos com eles", conta Nikodem. O amor e o respeito pela pátria também são cultivados dentro da Escola com o momento cívico, onde é executado o hino nacional brasileiro.

Com a missão de criar estratégias e ações de evangelização, a Pastoral tem papel fundamental dentro da Escola, mas sabe que não dá para caminhar sozinha. "Todos, desde o professor até o zelador, são responsáveis por promover e fazer a Pastoral acontecer. Nossa função é nortear e garantir que a missão “evangelizar através da educação” aconteça. Mas é um trabalho em conjunto, onde contamos com o apoio da direção, dos coordenadores, dos professores e também dos pais", revela.

Novos alunos

Todos, desde o professor até o zelador, são responsáveis por promover e fazer a Pastoral acontecer. Nossa função é nortear e garantir que a missão “evangelizar através da educação” aconteça.

As boas-vindas e a integração de novos alunos fazem parte da Acolhida. "No início do ano, preparamos um trabalho com alunos novos para enturmá-los, conhecer melhor cada um, saber de onde vêm, o que esperam da Escola. Uma forma de envolvê-los em todas as atividades. E ao longo do ano ainda fazemos um acompanhamento pra saber se eles estão realmente se habituando", explica o coordenador de Pastoral.

Colégio Marista de Cascavel

Eduardo Nikodem

Coordenador de Pastoral


www.colegiosmaristas.com.br

NA OLIMAR TEM UMA COISA QUE TODOS VÃO COMEMORAR: A AMIZADE.

A Olimar é um evento que celebra o espírito esportivo e a amizade entre os alunos dos Colégios Maristas. Venha participar. De 4 a 8 de setembro, no Colégio Marista de Londrina. VINÍCIUS SAMPAIO | ISABELA GOMES Atletas de futsal da 3ª e 2ª Série Acesse fb.com/olimpiadamarista e saiba mais.

Colégios Maristas. Preparação para todas as provas da vida.


© Foto: João Borges

essência

Ir. Alvanei Finamor Diretor Interino da Diretoria Executiva de Ação Social (DEAS)

O Instituto Marista nasceu de uma experiência de solidariedade na prática e prática da solidariedade! Quem conhece a história bem sabe. Marcelino Champagnat, ao visitar o jovem Montagne – doente, analfabeto e completamente alheio sobre quem era Deus –, teve ali o impulso que faltava para iniciar um movimento de transformação da sociedade da sua época: a fundação do Instituto Marista, com a missão de educar e evangelizar crianças e jovens, inicialmente no interior da França e, hoje, em mais de 80 países pelo mundo. “A solidariedade é o sentimento que melhor expressa o respeito pela dignidade humana”, disse Franz Kafka, escritor tcheco de língua alemã – um dos principais nomes da literatura. Para o Instituto Marista, a educação, a evangelização, a solidariedade e o voluntariado são valores evangélicos e instâncias que ajudam as pessoas na sensibilização para com as necessidades e mazelas do outro, diante de situações que precisam ser assumidas nos âmbitos pessoal, fraternal, coletivo e social por todos nós, enquanto cidadãos e membros da Igreja. "Criamos oportunidades para projetos de convivência, de solidariedade e de voluntariado entre crianças, jovens e adultos de diferentes classes sociais, culturais e estilos de vida. Assim, desenvolvemos sua abertura de espírito e os iniciamos no hábito de partilhar tempo, talentos e habilidades no serviço do próximo", como citado no documento Missão Educativa Marista.

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Solidariedade na prática e prática da solidariedade Na esteira de São Marcelino Champagnat, a vida Marista tem me oportunizado trilhar caminhos de solidariedade na prática e prática da solidariedade. No fundo, a gente acaba fazendo a experiência de se tornar um ser humano cada vez melhor ao interagir com tanta diversidade e beleza, mas também ao lidar com um universo de contradições sociais e adversidades mil por esse mundo de Deus. Isso me faz lembrar de José Saramago, escritor e gajo poeta, que afirmou: "Mesmo que a rota da minha vida me conduza a uma estrela, nem por isso fui dispensado de percorrer os caminhos do mundo” e de tantas pessoas que Deus tem colocado na estrada da minha vida. E, de fato, as experiências profundamente humanas são "realidades que exigem de nós a capacidade de ir além das aparências para atingir a essência e adquirir posturas sempre novas: ver o invisível, escutar o silêncio, adivinhar a angústia e sondar o mistério", como afirmou, sábia e profeticamente, Dom Helder Câmara. “Não são os pobres que devem compartilhar a nossa esperança; nós é que devemos compartilhar a deles. Eu aprendi muito com aqueles que são chamados pobres, mas que são ricos do espírito do Senhor”, disse o saudoso pastor. Ele avançou ao dizer que "quando os problemas se tornam absurdos, os desafios se tornam apaixonantes", e recomendou: "Se as pessoas são pesadas demais para serem levadas nos ombros, leve-as no coração".

Solidariedade na prática e prática da solidariedade requer estar atento, sentir a injustiça do ser humano e reagir, trabalhando, partilhando e criando soluções para que se viva em paz e com dignidade. Dessa forma, ela se torna o eixo que orienta toda a vida, as opções e ações de cada um. O meio mais adequado para se percorrer o caminho até Deus é o amor e as formas mais coerentes de amor no plano social são o exercício e o aprendizado da solidariedade. De fato, não existe outra via para a solidariedade humana senão a procura e o respeito pela dignidade de cada pessoa. “Eu não acredito em caridade. Eu acredito em solidariedade. Caridade é tão vertical: vai de cima para baixo. Solidariedade é horizontal: respeita a outra pessoa e aprende com o outro. A maioria de nós tem muito o que aprender com as outras pessoas”, asseverou Eduardo Galeano, escritor uruguaio.

CHAMPAGNAT

ensina a Montagne

as coisas de Deus

E MONTAGNE lhe ensina que não

HÁ MAIS TEMPO A PERDER.


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© Ilustração: Rabisko

solidariedade

Ressignificando a liberdade Proposta inovadora Marista contribui para que adolescentes que fazem uso abusivo de álcool e outras drogas criem novos repertórios para suas vidas e construam seus espaços na sociedade Por Michele Bravos

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Ela buscava liberdade quando passou a consumir drogas frequentemente. A procura não foi bem sucedida e Carolina Machado, então com 16 anos, precisou de ajuda para sair do uso abusivo. “Eu morava com meu pai e não tínhamos uma boa relação. Eu queria fugir, ter liberdade e experimentar algo novo”, relata Carolina durante uma conversa na varanda do espaço onde está localizado o Centro Social Marista Propulsão, um projeto inovador no Brasil dedicado à inserção social de adolescentes em tratamento devido ao consumo abusivo de álcool e outras drogas. É nesse local que histórias como a de Carolina são ressignificadas pelos próprios jovens, com o auxílio de uma equipe multidisciplinar – que conta, atualmente, com um coordenador pedagógico, três educadores sociais, um assistente social e um psicólogo. Em comum acordo, jovens e profissionais desenvolvem atividades que promovem a criação de novos repertórios aos atendidos. De acordo com Altieres Frei, diretor do Centro Social, para que isso seja possível, o Propulsão se dedica de forma singular aos adolescentes. “Estamos pensando em qualidade, por isso, temos apenas 24 vagas. Quando o adolescente adere ao atendimento, sugerimos que ele proponha uma atividade para que possamos ajudá-lo a desenvolver. Nós perguntamos a ele: ‘O que você quer fazer?’”. Tanta liberdade foi vista até com estranheza por Carolina, em um primeiro momento. “Isso era muito diferente dos lugares que eu conhecia. O modo como sou tratada é acolhedor”. Apontando para algumas redes instaladas no gramado, ela continua: “Está vendo ali, aqueles adolescentes conversando com um educador? É assim sempre. Comigo também era assim. Às vezes, eu chegava e só queria ficar ali, conversando, batendo um papo cabeça”.


© Fotos: Gilberto do Rosário

As paredes grafitadas, a cozinha bem espaçosa e convidativa, o barulhinho baixo de um filme passando na sala mostram que são muitas as atividades que acontecem no Propulsão. O coordenador pedagógico Rudinei Nicola explica que todas elas possuem um propósito. “Após uma sessão de cinema, por exemplo, os adolescentes conversam e discutem sobre a temática vista na tela. Nas atividades na cozinha, trabalhamos os vínculos. Uma vez por semana, nós almoçamos juntos e são eles mesmos que cozinham. Em geral, uma receita da família de algum deles. Chamamos isso de ‘ocupação afetiva da cozinha’”. Além das atividades internas, os adolescentes também são convidados a ocupar outros territórios, como museus, cinemas, ruas e ciclovias. “Quando vamos a algum lugar, vamos de bicicleta ou de transporte público. Isso também proporciona uma inserção na cidade”, diz o coordenador.

Ocupando os espaços O diretor do Propulsão ressalta que pensar em inserção social é buscar a redução de danos. O termo, utilizado pela Política Nacional de Atenção Integral ao Usuário de Álcool e Outras Drogas, do Ministério da Saúde, designa um método em que o sujeito vá gradativamente se distanciando das drogas – tanto do uso, quanto dos rótulos que esse envolvimento lhe conferiu. “É por isso que, quando percebemos que é propício, incentivamos o adolescente a participar de atividades externas, como aulas de teatro”. Isso contribui para que ele deixe de ser visto como 'o ex-usuário de cocaína' e passe a ser percebido como 'o jovem que faz teatro'”. Dentre as muitas definições de Carolina, hoje ela também é re-

conhecida como jovem aprendiz. “Conforme foram fazendo tanta coisa por mim, eu fui tendo vontade de ser diferente e fazer algo. Hoje, eu também quero ajudar os outros”. Cabe ao Propulsão fornecer subsídios para que o jovem busque essas possibilidades. “Propomos que o adolescente procure o que o município ou outras instituições oferecem para ele de forma acessível em termos de profissionalização, atividades culturais e esportivas. Lembramos que ele é cidadão tanto quanto qualquer outro, por isso, pode – e deve – usufruir de propostas públicas. Em caso de atividades específicas, intervimos, buscando parcerias privadas, mas isso são exceções”, explica Frei. Conforme as percepções de mundo vão se transformando, os adolescentes vão aprendendo a ressignificar, de fato, a si próprios e tudo ao seu redor. “Minha definição de liberdade mudou. Antes, eu achava que liberdade era sair da realidade, fazer alguma coisa errada. Hoje, eu sei que liberdade é poder expressar as minhas ideias. Essa liberdade que eu achei é muito melhor do que a que eu estava buscando”, conclui Carolina.

© Estêncil: Carolina Machado

Atividades diferenciadas

As três etapas do Propulsão O atendimento no Propulsão se dá em três níveis. Saiba quais são eles: T1 – Este é o momento da adesão, em que o adolescente precisa criar vínculos com o projeto, para que o atendimento seja efetivo. T2 – Nesta fase, o jovem tem condições de desenvolver atividades dentro e fora do Centro Social, fazendo cursos com o acompanhamento da equipe, por exemplo. T3 – Esta etapa se refere ao momento em que o jovem está apto para a inserção de fato, assumindo um trabalho, por exemplo. Ainda assim, segue com o acompanhamento do projeto.

O que define o uso abusivo?

Isso era muito diferente dos lugares que eu conhecia. O modo como sou tratada é acolhedor. Carolina Machado

Segundo informações da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas, o uso abusivo ou nocivo define o consumo de álcool e outras drogas que colocam a pessoa em uma situação vulnerável. De acordo com Altieres Frei, diretor do Centro Social Marista Propulsão, o termo “uso abusivo ou nocivo” não está necessariamente vinculado à dependência química, mas aos riscos a que a pessoa está exposta. Por exemplo, um adolescente que compra fiado alguma droga, está em risco – está, portanto, fazendo uso abusivo ou nocivo.

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© Foto: Renata Salles

como fazer

Eles são a voz da juventude Marista Integrantes das Comissões de Juventude levam à frente ideias dos jovens Maristas, mostrando o protagonismo juvenil Por Michele Bravos

Diante de um conflito entre alunos e gestão escolar, por exemplo, os integrantes da Comissão da Juventude têm o papel de mediar a situação e defender aquilo que os alunos estão apontando como importante. Lançando um olhar ampliado sobre esse contexto, entende-se que as Comissões de Juventude permitem que os alunos desenvolvam uma responsabilidade sobre direitos e deveres do cidadão. Para Francine dos Santos, 22 anos, participante da Comissão Provincial de Juventude, integrar essa equipe é defender não somente a própria opinião, mas a de toda juventude Marista. “Temos que ter uma visão estratégica, lembrando

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sempre que estamos representando todas as juventudes presentes nos espaços Maristas”. Segundo o setor de Solidariedade do Grupo Marista, as Comissões de Juventude – presentes, atualmente, em 40 espaços Maristas que trabalham com jovens – “têm como principal desejo contribuir com a ação evangelizadora Marista nas dimensões eclesiais, sociais, políticas, culturais e institucionais”, representando os diferentes grupos juvenis Maristas (alunos dos Colégios, das unidades sociais e dos ensinos universitário e técnico). A coordenadora de Pastoral do Colégio Marista de Brasília (DF) Flaviane Leite destaca que o aluno, ao

participar da Comissão, tem envolvimento, inclusive, com questões relacionadas a políticas públicas. “O aluno precisa dialogar e argumentar em defesa dos demais alunos, por exemplo. Ele também vivencia a luta pelo protagonismo juvenil”. Francine considera que, de certa forma, o que os jovens desenvolvem no universo Marista reflete na sociedade. “Sinto-me útil quando vejo que a minha opinião é importante e que pode mudar o rumo de uma conversa. Acredito que, dentro da sociedade em que vivemos, esses espaços são muito importantes, pois nos incentivam a ser pessoas melhores e a pensar mais no todo”. Futuramente, esse engajamento


© Foto: Acervo Comissão da Juventude

atividades; consultiva, à medida que a unidade ou níveis superiores vão até esses jovens para consultá-los; colaborativa, pois, também, ajudam nos eventos Maristas como equipes de organização; e representativa, uma vez que representam todos os jovens Maristas”. Entenda como essas Comissões se organizam e atuam.

Encontrando tempo

continuará gerando impactos positivos, por exemplo, na vida profissional do aluno, uma vez que na rotina da Comissão, o jovem desenvolve a liderança, o trabalho em equipe, a solidariedade e a capacidade de servir em favor do outro. “Esse trabalho bem realizado hoje o preparará para o mercado de trabalho, com uma visão mais humanizada da sociedade diante de seus desafios”, afirma Flaviane.

Formas de trabalho As Comissões da Juventude estão firmadas em quatro atribuições que guiam suas atividades. Bruno Socher e Ana Dias, do setor de Solidariedade do Grupo Marista, explicam cada uma: “Propositiva, pois as comissões levam os anseios dos jovens que representam às instâncias de que participam, além de proporem

Mesmo com uma rotina atribulada, Francine faz questão de participar da Comissão. “Tenho que admitir que nem sempre é fácil. Curso Agronomia em tempo integral, faço estágio, entre outras atividades. Mas acredito que a vontade de ser Marista como Champagnat é o que me move a cada dia”. Nesse cenário de agenda lotada, Flaviane aponta para a importância de pais e professores apoiarem o envolvimento dos filhos e alunos nesse trabalho. “É preciso existir uma parceria diante da caminhada realizada, proporcionando ao aluno a segurança de que ele está desenvolvendo um trabalho sério”.

Temos que ter uma visão estratégica, lembrando sempre que estamos representando todas as juventudes presentes nos espaços Maristas. Francine dos Santos 22 anos, participante da Comissão Provincial de Juventude

Organização das Comissões de Juventude As Comissões de Juventude se organizam em dois níveis de atuação: provincial e local.

Comissão Provincial Formada por jovens Maristas eleitos em assembleia, com a participação de representantes das Comissões Locais. Sua vigência é de dois anos. Responsabilidades - Estabelecer diálogos com as Comissões Locais, pastoralistas, Irmãos e outras lideranças juvenis, realizando uma escuta atenta. - Elaborar, junto ao Setor de Pastoral, reflexões, andamento de projetos, metodologias e linguagens que o Grupo Marista empreende no trabalho com as juventudes de todas as unidades. - Participar de diálogos externos ao Grupo Marista, representando os jovens da Instituição.

Comissão Local Formada por jovens Maristas que sejam atuantes no âmbito local, ou seja, nos Colégios, nas unidades sociais e nos ensinos universitário e técnico. Sua vigência também é de dois anos. Responsabilidades - Garantir que as atribuições estabelecidas em nível provincial sejam efetivas nas unidades em que atuam. - Agir de forma democrática, sempre em diálogo com os jovens, os pastoralistas e os gestores locais.

Para mais informações sobre como integrar esses grupos, faça uma visita ao seu Núcleo de Pastoral.

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compartilhar

“Virunga” Indicado ao Oscar 2015 na categoria de Melhor Documentário, “Virunga” conta a história de pessoas que lutam pela vida de gorilas quase em extinção e pela preservação do Parque Nacional de Virunga, na República Democrática do Congo. Os ativistas retratados são o diretor do parque, um guardaflorestal, um cuidador dos gorilas e uma jornalista francesa. A união dos esforços individuais em prol de uma causa comum reforça a ideia de que o bem se constrói em rede. O filme está disponível no serviço on-line Netflix. Redação Em Família Marista

IOS: goo.gl/MWhRdj ANDROID: goo.gl/h6Ggfo

Internet para ajudar O aplicativo Chance, disponível na Apple Store e na Play Store, tem como objetivo incentivar a prática da solidariedade. O usuário, ao se conectar, divulga seu pedido de ajuda. Aquele que pode auxiliá-lo responde. Em seguida, eles combinam como isso será feito. Algumas ajudas que podem ser solicitadas são: revisão de conteúdo de uma matéria, passeio com cachorro, indicação de uma vaga de emprego, entre outras. Felipe da Rocha, Coordenador de Pastoral do Colégio Marista Santa Maria (PR).

A solidariedade de Papa Francisco Neste livro, um diálogo entre o Papa Francisco, o rabino Abraham Skorka e o membro da Igreja Presbiteriana Marcelo Figueroa conduz a uma reflexão sobre a prática da solidariedade no dia a dia, transpondo a religião. O livro deixa claro que é preciso ter cuidado com falsas ideologias que podem levar para o lado oposto ao da solidariedade. Colégio Pio XII, de Ponta Grossa (PR)

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Como estrelas na Terra Essa produção indiana, dirigida por Aamir Khan, retrata a vida de Ishaan Awasthi, uma criança de nove anos que tem dislexia. O filme mostra como o desconhecimento dessa dificuldade, por parte da família e da escola, pode trazer grandes sofrimentos à criança. A vida do garoto é transformada quando ele encontra um professor que passou pelo mesmo problema em sua infância. É possível assistir no YouTube. Flávio Sandi, diretor executivo da Rede de Colégios

O FAZEDOR DE VELHOS

© Imagens: Divulgação

de Rodrigo Lacerda Na trajetória para o amadurecimento, Pedro irá encontrar pessoas que o farão perceber o sentido de sua existência. O professor Nabuco é peçachave para auxiliar o jovem na tarefa de se colocar no mundo. Colégio Marista Glória, de São Paulo (SP)

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diversão

Dia de índio

Vivenciar a cultura indígena pode ser um momento divertido em família e também de aprendizado e valorização da história do Brasil

© Fotos: Divulgação | Pataxó Turismo

Por Michele Bravos

Já houve um tempo em que os povos indígenas eram os únicos por este gigante território brasileiro. Hoje, eles são menos de 1% da população total do país, cerca de 820 mil indivíduos, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Mesmo com a miscigenação étnica, todo brasileiro tem, em alguma instância, um vínculo com os nativos desta terra. Para que a cultura indígena seja difundida, espaços de preservação ambiental e reservas indígenas, que ainda são morada para os índios, recebem visitantes. A ideia é manter viva a história do Brasil.

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Em Santa Catarina, por exemplo, a Reserva Volta Velha, um espaço de preservação ambiental, proporciona aos interessados visita a uma oca, oficina de arco e flecha, caminhada pela Mata Atlântica, canoagem e o mais interessante: uma vivência com o índio Yawaritsawa Trumai Waurá, o Yawa. Seu povo é do Alto Xingu, mas, atualmente, ele é diretor cultural da Reserva Volta Velha. “Todo diálogo com um verdadeiro nativo é de extrema importância para que se corrijam alguns erros cometidos durante a colonização, em que a história é contada de um lado só”, diz Yawa.

Para aqueles que estão dispostos a imergir a fundo na cultura, é possível percorrer cinco das 29 aldeias do povo Pataxó, localizadas no sul da Bahia, na Costa do Descobrimento. O roteiro é organizado pela Pataxó Turismo. Em qualquer uma delas a conversa com um representante indígena é um ponto alto do passeio, pois apresenta ao público a verdadeira cultura indígena. Na Reserva Volta Velha, Yawa gosta de contar sobre as histórias do seu povo e o dia a dia no Alto Xingu, ensinar as danças tradicionais e algumas palavras na sua língua. “Conhecer e entender o outro lado faz com que as pessoas pen-


sem e reflitam antes julgar um índio e sua cultura. Existem muitos conflitos entre homem branco e índio, por um não conhecer a realidade e o costume do outro. Acredito que, nas escolas, não se discuta ou estude a verdadeira raiz e quem de fato construiu a primeira história dessa terra, antes da descoberta pelos portugueses”, afirma Yawa.

Ponto alto É em semanas de lua cheia ou lua nova que as expedições para as aldeias Pataxós partem. A saída é de Porto Seguro, em direção ao sul. Dormir em redes, dentro de uma oca, faz parte da aventura – assim como comer bem. Durante os dias de percurso pelas aldeias, os visitantes degustam as comidas típicas da culinária Pataxó, como peixe na folha de patioba (uma espécie de palmeira) com farinha de puba (derivada da mandioca). Já na Reserva Volta Velha, Yawa afirma, convicto, que um dos momentos mais emblemáticos para os visitantes é quando todos estão na oca e ele se veste com enfeites indígenas, pinta-se com urucum e começa a falar na língua de seu povo. Apesar de toda a experiência que se oferece para os visitantes e da importância que isso tem, Yawa garante que ele também aprende com a vivência. “Aprendemos com nossos avós que os não índios vinham apenas para destruir e matar. Poucos para ajudar. Com esses encontros culturais, isso também muda”.

Agenda Tanto a visita à Reserva Volta Velha quanto o circuito pelas aldeais Pataxós precisam ser agendados com antecedência. Na Reserva Volta Velha, a vivência de um dia acontece de segunda a sexta, entre março e outubro, para grupos de 20 pessoas. Está tudo detalhado aqui: www.reservavoltavelha.com. br, na aba “Ecoturismo”. A rota das aldeias deve ser programada com 30 dias de antecedência e acontece o ano todo, em grupos pequenos. Mais informações no site: www.pataxoturismo.com.br.

Para saber mais sobre a cultura dos nativos do nosso país, acesse Povos Indígenas no Brasil: migre.me/pckLc

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olhar

Crise de sentido em um mar de

© Fotos: Shutterstock | Acervo do Colégio

{des}informação

O crescente envolvimento de jovens ocidentais em movimentos radicais gera questionamentos sobre qual o propósito de vida da atual juventude 48

Em março deste ano, o governo brasileiro detectou intervenções do Estado Islâmico (EI) para aliciar jovens brasileiros à causa, por exemplo. Também, neste semestre, presenciou-se expressões de radicalismos por parte de jovens cristãos diante de fatos considerados por eles uma afronta às Escrituras Sagradas. Para refletir sobre o que leva um jovem a acreditar que vale a pena se envolver em um movimento radical, que, por vezes, propaga morte e destruição, o doutor em Sociologia Eurico Gonzalez propõe uma discussão sobre o sentido da vida nos dias de hoje.


Nosso tema é complexo, ou seja, tem muitas causas simultâneas, de modo que podemos nos concentrar apenas em algumas delas. Sugiro que reflitamos sobre duas coisas: o império da inteligência eletrônica e a crise de sentido pela qual passa hoje o Ocidente, em geral, e o Brasil, em particular. O que chamo de “império da inteligência eletrônica” significa o fato de que as ideias que hoje estão à disposição na sociedade não possuem critérios institucionalizados de filtragem, mas deveriam ter. Quando Lutero traduziu a Bíblia, no século XVI, ocorreu algo semelhante: de uma hora para outra, um acervo completamente novo de pensamentos se distribuiu horizontalmente pela sociedade, podendo suas verdades ser interpretadas por cada um livremente, gerando, no curto prazo, crise de ordem e, no longo, ideias novas que originaram a modernidade. Vivemos, hoje, uma situação semelhante. Há enorme afluência de adventícios à sociedade e a internet faz com que cada um tenha o direito de dizer como acha que o mundo deve ser. Acrescente a isso o poder de sedução da publicidade, que produz e inculca ideias afirmativas sobre o mundo, nas quais, secretamente, a sociedade não acredita, pois sabe que sua finalidade é a de apenas seduzir a mente para que adquira esse ou aquele bem. Assim, temos uma situação cultural em que as ideias antigas são desacreditadas e novas não surgem com autoridade, muito menos por consenso. Além disso, como uma miríade de vozes – umas roucas, outras possantes –, cada um tenta resolver sozinho (inclusive por solidão de sentido) os difíceis problemas da vida. Não devemos ficar apreensivos demais. O número dos que seguem procurando uma vida normal ainda é amplamente majoritário, mas as exceções de que tratamos aqui apontam para direções potencial-

mente perigosas que, se não forem contrabalanceadas com inteligência e amor, podem aumentar. A sociologia sabe que a consciência do sujeito é produzida pela sociedade – e sabe, então, que quando a sociedade se desorganiza, a consciência individual se ressente paralelamente, em uma relação causal forte. Como especificidade de nossa época, porém, há a crise de sentido que mencionei anteriormente. Os principais referenciais coletivos de sentido estão dessacralizados em nossa sociedade: religião, ideais morais e políticos, ideais estéticos ligados à beleza e o próprio e prosaico valor da vida. Nada mais deixa de poder se submeter ao cálculo dos prazeres e das vantagens, está livre o caminho para que os humanos adorem as coisas materiais. Mas quem dera a vida fosse assim fácil de resolver... O cálculo dos prazeres e das vantagens ignora o problema do sentido interior da vida de cada um – mas este não deixa de existir. Impedida publicamente de se manifestar, a demanda por sentido da vida segue pulsando, vindo a se manifestar de formas bizarras e, frequentemente, destrutivas. Na medida em que a sociedade tomou por saber o que era, na verdade, sua ignorância e omissão quanto ao problema do sentido, foram se desenvolvendo

Facilmente vê-se na destruição alguma espécie de prenúncio do novo e do bom [...], quando não se espera mais nada do mundo real, quando não se sabe gostar da vida real, presente.

respostas cegas, raivosas (pudera!), ilhadas e não compartilhadas ao problema do sentido interior. Assim, chegamos a algum lugar: se somarmos o império da inteligência eletrônica à crise de sentido, perceberemos que as respostas às mais difíceis questões, que dizem respeito a todos os seres humanos, estão sendo dadas de modo confuso e fraco, incapaz de fazer face à imensidão dos problemas da interioridade. Quando se tem condições excelentes, já é muito difícil atinar uma resposta às grandes questões; quando se fazem tais perguntas à internet, obtém-se como resposta algo que não é uma resposta, mas uma incrível zoeira. Alguns jovens estão se deixando seduzir pela violência porque ela gera certo simulacro de sentido. Facilmente vê-se na destruição alguma espécie de prenúncio do novo e do bom (como as ideias sacrificiais sugerem), quando não se espera mais nada do mundo real, quando não se sabe gostar da vida real, presente. Essa é uma síntese do que penso sobre as condições interiores da vida da juventude hodierna. Para um exame completo do assunto, que não pode ser feito aqui, deveríamos observar também as “condições exteriores” da adesão de jovens ao terrorismo internacional – facilidades de trânsito de pessoas e de informações, etc. Eurico Gonzalez Cursino é doutor em Sociologia pela Universidade de Brasília e consultor legislativo do Senado Federal, onde responde pela área de Direitos Humanos e Cidadania. Cursino também tem realizado estudos em sociologia da religião e em sociologia política e do direito, bem como na intersecção desses temas.

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© Foto: Sxc.hu

Voluntários da pátria Tempo dedicado ao voluntariado no Brasil cresceu no último ano e isso nos coloca entre os top 10 países nessa prática. Em todo o mundo, ser voluntário e ajudar um estranho figuram como ações mais recorrentes Por Michele Bravos

Ainda que fatores políticos, econômicos e sociais estejam abalando o país, o Brasil mostra que atitudes solidárias são necessárias – principalmente nesses momentos. Segundo a ONG Charities Aid Foundation, o Brasil figura entre os top 10 países no quesito “doação de tempo”, considerando o número de voluntários. Junto com o Brasil, Rússia, Índia e China tiveram um aumento na quantidade de tempo dedicada a ações voluntárias. Apesar de essa ser uma boa notícia, a ONG aponta que também é esperada desses países – considerados economias prósperas – uma maior contribuição financeira, ainda que tenha ocorrido uma diminuição de doações em dinheiro no mundo todo. Esses aspectos apontados acima – tempo dedicado ao voluntariado e doações financeiras – são dois dos fatores avaliados pela Charities Aid Foundation para identificar o índice de solidariedade dos países, o qual vem sendo medido desde 2008. Outro fator analisado é o ato de ajudar um estranho, o qual se faz muito presente em países abalados por desastres naturais ou conflitos civis. A exemplo, o Iraque. O país tem sofrido com violências brutais e isso desperta nas pessoas a necessidade de ajudar o ou-

tro. Isso fez com que o país saísse da 90ª posição nesse quesito no relatório da ONG de 2013 para a segunda no último relatório.

Invertendo a ajuda O crescimento do índice de solidariedade da Ásia vem aumentando e isso faz com que a ONG afirme que o mundo deve repensar o modelo de solidariedade conhecido, o qual consiste “em uma transação que flui do Ocidente para o Oriente e do Norte para o Sul”. O relatório Future World Giving, da mesma ONG, afirma que há mais milionários no sul da Ásia (18 mil) do que no norte da América (17 mil) ou na Europa Ocidental (14 mil). A ONG aponta que é necessário que os novos-super-ricos sejam encorajados a serem solidários e, no caso deles, ajudem financeiramente – inclusive outros países. Paralelamente, apesar do potencial dessa parcela da população mundial, o grande pedido da Charities Aid Foundation para que a filantropia cresça no mundo e mais pessoas possam ser ajudadas – e aí a ONG coloca como meta a erradicação da extrema pobreza (pessoas que vivem com menos de US$ 1,25 por dia, segundo o Banco Mundial) – é para que a classe média seja convocada a ajudar.

Os relatórios podem ser lidos na íntegra nos seguintes links: l www.cafonline.org/pdf/CAF_WGI2014_Report_1555AWEBFinal.pdf l www.cafonline.org/pdf/Future_World_Giving_Report_250212.pdf. Ambos disponíveis em inglês.

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O número de pessoas consideradas de classe média deve crescer 165% até 2030, de acordo com dados da OECD (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Considerando que a maior concentração está nos países em desenvolvimento. Estima-se que se a classe média doar 0,4% de sua renda, eles podem contribuir com US$ 224 bilhões por ano. Segundo Jeffrey Sachs, autor do livro “O fim da pobreza”, US$ 175 bilhões anuais seriam suficientes para acabar com a pobreza extrema. A ONG alerta para que os governos de economias emergentes criem e apliquem desde já medidas que incentivem a filantropia, assim como a cultura da doação, apresentando novas formas de exercer esse ato na sociedade. Os meios de comunicação são apontados como fundamentais nesse processo que envolve mudança de pensamento.

Igualdade entre gêneros Homens e mulheres exercem a solidariedade de forma igual, não havendo diferenças significativas mundialmente. Apenas quando se observa a realidade de cada país isso se faz mais perceptível. Por exemplo, no Canadá, 75% das mulheres doaram dinheiro para caridade, contra 53% dos homens. Já no Afeganistão, 42% dos homens afirmam ter essa prática, enquanto apenas 24% das mulheres dizem o mesmo. Nesse exemplo de análise por país, fica claro o quanto as diferenças culturais influenciam nos resultados.



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