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VIOLÊNCIA DOMÉSTICA: É NECESSÁRIO CUIDAR DA VÍTIMA E DO AGRESSOR

ANDRÉIA FIORAVANTE

Advogada, diretora do Centro Despertar e apresentadora do programa Despertando Mulheres

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Oestado do Rio Grande Sul encerrou 2022 com 106 casos de feminicídio, uma média de dois casos por semana, um aumento superior a 10%, se comparado com 2021. Os feminicídios aconteceram em 69 cidades gaúchas, sendo que aproximadamente 10% dos casos aconteceram na capital Porto Alegre.

A violência contra a mulher deve ser debatida em todos os ambientes e espaços de fala. Quando se chega ao ponto de um feminicídio acontecer é porque todas as outras formas de violência já aconteceram. Seja a violência psicológica, patrimonial, sexual ou a agressão física. O que acontece é que a mulher, na maioria das vezes, não se enxerga vítima de uma violência sexual, por exemplo, quando ela entende que não existe o estupro marital. Ou não se vê vítima de uma violência patrimonial, quando o seu companheiro ou marido administra todo o seu salário e controla suas compras. E não é só a mulher quem perde, mas seus filhos perdem, seus pais e familiares perdem, a sociedade perde. Assim como também a família do agressor. São crianças e adolescentes que perdem a mãe, que foi assassinada pelo pai e perdem o pai que se suicidou, ou foi preso. E os prejuízos emocionais podem ser irreparáveis se essas crianças e jovens não forem corretamente acolhidos e assistidos.

Das 106 mulheres que tiveram suas vidas tiradas, 80,2 não tinham medidas protetivas vigentes à época do crime; 50% não tinham registro policial anterior ao fato; em 92,4 dos casos o autor era, ou foi companheiro da vítima e 72,6 dos casos aconteceram na residência delas.

Pelos dados, pode-se verificar que a mulher nem sempre registra e nem sempre busca pela polícia ou pelo Poder Judiciário para resolver sua situação. E vários são os motivos. Contudo, a base de todos os motivos está no estado emocional no qual essa mulher se encontra.

Uma mulher forte emocionalmente terá condições de enfrentar a situação de violência e abuso, na qual está vivendo, de forma mais lúcida e mais firme. em frente, enfrentar o processo e os desafios de uma separação e de uma vida nova. Sá então ela saberá o que realmente fará com aquele curso profissionalizante e com aquela linha de crédito que irá receber, por exemplo, vindo então a empreender com sucesso. a necessidade de políticas públicas voltadas para o emocional das pessoas, desde a escola até a iniciativa privada, nas empresas, nas instituições de classe, nas instituições sociais e esportivas, nas instituições religiosas e agremiações. Cuidar da vítima, do agressor e das famílias. O agressor também está doente, precisa ser tratado para que não machuque outras mulheres, outros filhos e outras famílias

Certamente, essa mulher irá buscar por socorro, irá denunciar e manter a denúncia, pois muitas são as mulheres que registram ocorrência, mas imediatamente após se arrependem e deixam de representar contra o agressor, ou então mudam a versão dos fatos inocentando-o.

Várias são as justificativas da mulher que se submete a permanecer em um lar abusivo e que, na maioria das vezes, diz respeito a dependência financeira e/ ou emocional.

Algumas políticas públicas e ações por meio de associações e instituições sociais são desenvolvidas, no sentido de oferecer cursos profissionalizantes e linhas de crédito para que a mulher e, em especial, a mulher em situação de vulnerabilidade possa se reestruturar financeiramente. Contudo, nesse caso, sem saúde emocional, sem educação e planejamento financeiro, será muito difícil essa mulher romper e prosperar.

Não adianta oferecer cursos e dinheiro para a mulher que, quando chega em sua casa, é humilhada pelo marido, ou agredida fisicamente pelo companheiro. E que vê os filhos assistindo a tudo e tendo problemas na escola, ou problemas com drogas e prostituição.

É necessário cuidar emocionalmente da mulher vítima de violência doméstica e cuidar do agressor, para que não venha a agredir outra mulher.

Essa mulher precisa ser cuidada na sua alma, no seu coração, no seu emocional. Ela precisa ser fortalecida para que possa sair da situação de abuso e violência na qual vive. Deve buscar pela delegacia de polícia e pelo Poder Judiciário, com clareza e com firmeza, para poder seguir

Urge a necessidade de políticas públicas voltadas para o emocional das pessoas, desde a escola até a iniciativa privada, nas empresas, nas instituições de classe, nas instituições sociais e esportivas, nas instituições religiosas e agremiações. Cuidar da vítima, do agressor e das famílias. O agressor também está doente, também precisa ser tratado para que não machuque outras mulheres, outros filhos e outras famílias.