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BETH COLOMBO A DAMA DE AÇO
Secretária de Educação de Canoas
Entrevista: Andréia Fioravante e Lucio Vaz
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Edição: Patrícia Poitevin
Fotos: Chico Pinheyro/Revista Em Evidência
Beth Colombo é pedagoga, foi vice-prefeita nas duas gestões anteriores de Jairo Jorge em Canoas, entre 2009 e 2016, além de ter sido secretária da Saúde. Agora, pela terceira vez, ocupando o cargo de secretária da Educação, enfrenta, além dos desafios pertinentes à pasta, a missão de modernizar o sistema educacional de Canoas e manter a cidade como umas das mais proeminentes no ensino público municipal. Confira, a seguir, alguns momentos da entrevista de Beth ao Em Evidência na TV (RDC TV), ou assista o programa na íntegra, lendo o QR code disponível
A senhora é uma líder política, mãe, esposa e professora, foi diretora de escola, vice-prefeita, secretária de Saúde e agora é secretária de Educação, em Canoas. Conte-nos um pouco da sua trajetória. Quem é a Beth Colombo?
A Beth Colombo é uma mulher que está na casa dos 69 anos, mas que foi uma menina muito atrevida para minha época, pois resolvi que seria presidente, aos 12 anos, de um Grêmio Estudantil numa escola de freiras, com mais de mil alunos. Todos me desaconselharam, as freiras e os professores. O único que disse para seguir em frente foi o meu professor de educação física. Ele me disse que se não desse certo, não haveria problema, porque eu teria mais tempo na vida. No fim, deu tudo certo, venci a eleição e fiquei na presidência até me formar no magistério, sendo reeleita a cada dois anos. Com isso, percebi que eu tinha vindo ao mundo para fazer um pouco mais, que é a política estudantil e, posteriormente, a partidária, onde estou até hoje. Nessa caminhada, eu namorei, casei, tive três filhos, sendo duas filhas e um filho, quatro netos e um segundo casamento. Fui vice-prefeita de Canoas por oito anos e, também, secretária de Saúde e Educação. Trabalhei como diretora de saúde e de escola, tive a felicidade de fazer parte da equipe da Ulbra, onde também fui diretora de uma Unidade de Ensino. Estive na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul e foi uma grande honra assumir o cargo de coordenadora da Comissão de Cidadania e Direitos Humanos, quando o deputado estadual Sergio Peres foi o presidente da Casa. Foram muitas honrarias, mas muitas perdas também, que eu sempre considero como um aprendizado. Segundo os filósofos e educado- res, nós aprendemos na dor e quando erramos. Eu me propus a fazer o que eu gostava e que tive apoio para fazer, sem o medo do erro, sempre tentando fazer o melhor.
A senhora tem uma especialização em Educação Especial e Inclusiva. Como tem sido feita a inserção desses alunos pela Secretaria de Educação de Canoas?

Essa escolha que tomei surpreendeu muitas pessoas. Quando comecei a atuar nessa área, na época, chamava-se Educação Especial, hoje é Educação Inclusiva. Eu trabalhei no Instituto Pestalozzi, em Canoas, onde encontrei todos os tipos de deficiências. Cada vez fiquei mais encantada, porque as pequenas conquistas são grandes vitórias.
Não me dediquei exclusivamente a essa causa, mas estive sempre ao lado dela, participei da presidência da diretoria da APAE. Nós criamos um grupo chamado “Chimarrão da Amizade”, junto com um casal maravilhoso que não tinha filhos, nem parentes com deficiência, mas tinha amigos. A Dona Nair e o Adão Gentil me propuseram criar um grupo para planejar o que faríamos no Ensino Regular. Nós encontrávamos crianças com algumas dificuldades e que eram rotuladas.
Eu acredito que uma das coisas mais gratificantes que consegui nessa minha caminhada pela Educação Especial foi a criação da Escola de Surdos, em Canoas, que se chama Vitória. Eu era secretária de Educação, quando consegui convencer o prefeito para construir a escola. Naquele momento foi uma grande luta, porque já havia a teoria da inclusão, que eles não precisavam mais das Escolas Especiais, que seriam incluídos. Eu questionei muito e a escola foi inaugurada no ano de 2000. Ela existe até hoje e já formou muitos alunos.
Quando volto para a Educação, 20 anos depois, eu encontro um cenário preocupante. Em Canoas, nós temos no Ensino Regular 2.649 alunos, que são incluídos dentro da Rede de 84 escolas. Não basta só colocar dentro da sala de aula. Nós temos que acolher e dar as condi- ções necessárias. Às vezes, é necessário ter um monitor para cada aluno nessas condições. Nós estamos contratando funcionários, fazendo concurso e refletindo como podemos realizar essa inclusão da melhor forma possível. É um grande desafio, especialmente o aluno autista, porque até bem pouco tempo atrás, ele era chamado de teimoso e birrento. Enfim, algumas características que atribuíam e que, na verdade, fazem parte do espectro. Nós estamos conhecendo, reconhecendo e aprendendo a trabalhar para ajudar os nossos alunos.
Que prejuízos a pandemia trouxe para a área da Educação?
Nós vamos levar um tempo e não é pouco, para nos recuperarmos, porque foram dois anos letivos. Nem conseguimos ter aulas híbridas, eram remotas mesmo. Algumas famílias tinham um aparelho de telefone a mais, um note- book ou um computador para as crianças acompanharem as aulas, mas havia famílias com quatro a cinco filhos, em idades escolares diferentes, que não conseguiam fazer o mesmo. Os professores foram os grandes heróis, merecem o reconhecimento. Em relação às atividades da pandemia, não foi possível manter os conteúdos como tem que ser, embora as escolas preparassem o material impresso e deixassem à disposição na secretaria da escola, nem todos os pais tinham tempo para retirar, enfim foi um grande prejuízo.
O professor tinha que preparar uma aula on-line e ter um equipamento para dar a sua aula, esta necessidade trouxe para alguns professores um desconforto, por não conseguir fazer conforme estivessem em sala de aula, trazendo ansiedade, medo, pânico e até depressão. Eu moro numa cidade em que a rede ativa de professores tem mais de dois mil professores, entre Educação Infantil e Ensino Fundamental. Nós acompanhamos o dia a dia das pessoas que se superaram para conseguir realizar as atividades no “novo normal”. Os alunos estão com déficit de aprendizagem, especialmente os alunos de séries iniciais. Eles foram avançando com a alfabetização incompleta, então o professor tem que recuperar isso. Nós estamos criando aulas de reforço, atividades extracurriculares, de pesquisas e feiras, para que essas crianças retomem a sua rotina. Então, é uma retomada e um grande desafio, não acredito que nós venceremos em dois ou três anos.
A senhora enfrentou um grande desafio na área da saúde e tem muito a compartilhar com todas as mulheres sobre a prevenção do câncer. Como foi passar por todo esse processo?
Este foi um desafio que me pegou de surpresa. Sempre tive como regra de vida fazer os meus exames de revisão, desde os 19 anos, e vem sendo essa minha rotina. Uma vez por ano, procuro o médico que me acompanha há muito tempo. Inclusive na pandemia, eu não deixei de fazer os exames. Estava tudo tranquilo, quando chegou maio de 2021, fiz os exames para cumprir calendário. Eu vi que a médica que estava realizando o exame silenciou, num determinado momento. Naquele silêncio dela, eu fiz uma leitura da situação, pois nós estávamos descontraídas antes disso. Ela disse que viu uma coisa que não gostou e me recomendou fazer uma biópsia. Já me deu o resultado em 20 minutos, que levei para o meu médico. Ele disse para eu procurar imediatamente um mastologista. As coisas da minha vida sempre acontecem de forma oportuna ou mesmo que inoportuna, mas por alguma razão. Quando liguei para o Hospital Santa Casa, a atendente disse que a primeira consulta só poderia acontecer em uns 22 dias. Enquanto ela estava pegando os meus dados, ocorreu uma desistência para o outro dia, com o Dr. Cassio Paganini. Foi a primeira bênção, que eu recebi junto com o diagnóstico. Ele pediu uma série de exames e quando voltei com eles já era junho.
O médico disse que eu estava com um câncer agressivo, porque a um ano atrás não tinha nada e agora já estava na mama direita e axila. Ele recomendou que eu fosse encaminhada para um oncologista, para uma colega dele na Santa Casa, a Dra. Katsuki Tiscoski. Eles foram da maior importância quando me trouxeram a segurança que naquele momento eu precisava. É desesperador um diagnóstico de câncer, porque assusta. Eu percorri toda uma caminhada que não foi fácil, especialmente as quimioterapias. Eu fiz 16 sessões de quimioterapia, sofri como toda mulher sofre. Como dizia um amigo terapeuta, o que está te trazendo todos esses efeitos e essas dores, é a cura, não é a doença, porque a doença não dói, ela só se manifesta e quando acontece isso, nós temos que ser mais rápidos que ela.
Quando fui realizar os exames preparatórios para a cirurgia, também foi encontrado na mama esquerda algumas calcificações, que poderiam se desenvolver num câncer, mas tem uma notícia boa nisso tudo, não foi necessário uma mastectomia, foram retiradas só algumas partes da mama. Eu quero ficar viva, tenho netos de sete a 19 anos e quero acompanhá-los ainda por muito tempo. A cirurgia foi delicada, mas transcorreu bem. Logo após, veio a radioterapia, que fiz 15 sessões. Com o tempo percebi que a minha pele estava queimando, não é como uma queimadura com óleo ou uma água quente. Você não sente nada, só percebe com o tempo quando a pele vai escurecendo e a mama vai mudando de cor. Eu não tive outros sintomas maiores em relação a radioterapia, só a ardência na pele, que foi tratada com cremes.
Estou fazendo quimioterapia oral, porque agora são cinco anos tomando uma medicação. Eu tive como minha parceira de horário, uma senhora que fecharia agora os cinco anos e reincidiu. Então, nós temos que acreditar que tem cura, que tem que fazer todos os passos. Eu quero te agradecer Andréia, por essa oportunidade de poder dizer para mulheres que estejam em qualquer fase do diagnóstico de câncer, que tem cura. Nós avançamos e vencemos, mas temos
Refer Ncia
Depois de 40 anos no Progressistas, Beth é uma das principais referências no projeto que alavancou o Republicanos como um dos maiores partidos do RS. Muito acima das diferenças partidárias, sua figura se funde com a luta das mulheres na busca por mais espaços na política, sendo ela mesma uma das pioneiras desta jornada que estar preparadas para o processo e repetir o que foi dito para mim: sempre o que dói e te deixa nauseada, dando vontade de ficar na cama e não tirar o pijama, é a cura e não a doença.
Quais são as suas considerações finais?
Andréia, Lucio e toda a equipe do Em Evidência na TV, obrigada pela oportunidade, é sempre muito bom poder falar com pessoas que nos fazem bem, porque falar da nossa vida não é muito fácil, especialmente quando se tem uma trajetória parecida com a minha. Eu sou uma incentivadora da presença da mulher na política. Eu fui pioneira, sendo presidente de uma Executiva Municipal, quando isso não era para mulheres. Foi difícil convencer o partido no Estado, mas fiz porque acredito e defendo sempre a minha presença no meio político, não para servir cafezinho, mas para opinar, resolver, ajudar, contribuir e fortalecer a vida de todos.

As mulheres ficam nos bastidores, não se apresentam como candidatas e depois reclamam que as leis são machistas, portanto, não pode ser assim. A mulher tem que ir para a linha de frente. Nós temos que estar lá para contribuir com o homem, para que possamos juntos fazer com que a vida das pessoas se torne mais fácil. Tenham a coragem de mostrar o que têm dentro de vocês, o que vocês podem realizar e nós podemos fazer muito e vamos ainda. Para encerrar, mulher não é cota, não aceite se alguém pedir o seu nome emprestado, não empreste, pois ele é fundamental e da maior importância. Se for colocar o seu nome em algum lugar, que seja para fazer a diferença.