Edição 18

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pai é homem e o filho é tudo aquilo que o homem e a mulher desejam”. Confesso que não compreendi tal colocação. Achei totalmente sem nexo e amplamente incoerente. Agora, relendo e escrevendo, percebo que aquela senhorinha me falava de posições, de lugares a se ocupar, de atividades e modos a serem reproduzidos por uma mulher, uma mãe e, consequentemente, uma família. Acompanhem o raciocínio. Na época dela – considerando sua idade avançada e sua criação interiorana –, a mulher era criada para pensar em casamentos, tangenciada à maternidade e conduzida ao interior da casa como seu ambiente natural. Qualquer atividade que desviasse dessa tríade seria considerada um equívoco. Mulher era um signo colado em um significado inerte, passivo, embora forte e essencial. Hoje, como frisado pela senhorinha, a mulher toma uma posição, ocupa os espaços e reivindica sua participação. Não pense que estamos aqui fazendo uma apologia ao feminismo ou ao direito de igualdade entre homens e mulheres. Não é isso! É apenas uma mudança, uma crescente evolução que acompanha o ritmo social. Entre imposição e afazeres, a mulher se constitui, também, a partir de opções. Há, portanto, algumas que fazem da maternidade sua essência. Mas há também o oposto, aquelas que não fazem da maternidade seu objetivo, seu encontro e sua devoção. E isso, diga-se de passagem, não deve torná-las menos mulheres. A vaidade seria uma boa opção para nos definir. Há, ainda, as que prezam pela produtividade, trocando a aparência jovial e elegante pela praticidade, por exemplo. Novamente, isso não as torna menos mulheres. Realmente, do tempo da senhorinha para o moderno 2015, muita coisa mudou. Mudamos da posição de mãe para, também, de mulher. É como se a “subjetividade da mulher” estivesse sendo escutada, olhada e reconhecida pela maioria. A roda de conversa me fez lembrar que, embora a autonomia feminina seja de grande valia e um passo, de fato, sério e importante, não podemos reduzi-la a uma competição de gênero com os homens. Como indicou aquela mãozinha silenciosa no fundo da sala, uma família é uma questão de assumir papéis, posicionamentos. Assim, estendendo ao quesito mulher, faço-te a seguinte pergunta: se não maternidade, vaidade e domicílio, o que constitui uma mulher, afinal? Continuemos a conversar. revistadue

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