Revista Deguste

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Saberes do Vinho Gilvan Passos - gilvanpassosvinhos@gmail.com

Finger Food & Vinhos FOTO ROGÉRIO VITAL

O termo “finger food”, salgadinho em português, equivalente a “petit bouche,” na França e “punta dele dita,” na Itália, tem apenas uma década de história. Seu berço foi Salzburg, na Áustria, e seu ano 2002, quando Chefs internacionais da mais alta gastronomia resolveram apresentar as suas criações, antes dos pratos principais em apresentações e recipientes inusitados. A relação desse movimento com a gastronomia molecular talvez se justifique pela riqueza e surpreendente criatividade nos sabores das iguarias, bem como pela anteposição às formas convencionais de apresentação dos alimentos, típicas da gastronomia clássica. O sentido do Finger Food é descomplicar o ato de comer, dando ao evento em que está inserido uma grande variedade de sabores, texturas e contrastes, que podem ser saboreados sem o auxílio de talheres, de forma fixa ou

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volante e em apresentações as mais diversas: colheres, xícaras, panelinhas, ou mesmo desnudas, para o deleite das mãos, algo que representa uma desconstrução à forma convencional do comer. A harmonização com o vinho não é algo tão fácil, visto que o finger food foge às regras, e tem como ponto alto o ecletismo de sabores, textura e estrutura, em contrastes entre o doce e salgado, crocante e pastoso, cru e defumado, leve e marcante. Neste contexto, o vinho deve ser pensado não só do ponto de vista do alimento, mas também do ambiente, que pode variar do mais informal ao mais formal, de um evento diurno a um evento noturno. Como o que se propõe é o ecletismo, para qualquer destas situações (formais ou informais) há vinhos versáteis, considerados “coringas”, que transitam sem criar arestas com os sabores das várias iguarias servidas. Para eventos informais, recomendo de espumantes Charmat, vinhos brancos a rosados ecléticos e/ou tintos versáteis de Pinot Noir, Merlot e Gamay, com a fruta em primeiro plano. Para eventos mais formais, vinhos mais elaborados e complexos, que vão dos espumantes Champenoise e Millesimé a brancos amadeirados de Chardonnay e tintos, onde o carvalho possa aportar uma complexidade extra, que o leve além da fruta. Na prática, um evento com alimentos finger food não tem qualquer vocação enogastronômica, visto que a comida e o vinho estão ali como pano de fundo, não como protagonistas, porém ainda assim o contexto dita o vinho e faz-se bonito, buscando a simplificação onde um branco e um tinto “coringas”, por exemplo, podem passear sem transtornos por entre as iguarias que estrelam o céu da boca dos comensais.


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