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1. BIOGRAFIA

Melanie Hahnemann, uma mulher além de seu tempo

Chamada de “minha melhor aluna” e “melhor homeopata da Europa” pelo próprio Samuel Hahnemann, Marie Melanie d’Hervilly Gohier Hahnemann foi uma das estrelas mais brilhantes na história da Homeopatia. Muitos ainda a resumem pelo status de esposa do homem que trouxe tal ciência reveladora para o mundo, contudo, Melanie abdicou de sua juventude e posição social para que as descobertas do marido pudessem ser democraticamente disseminadas.

Nascida em 2 de fevereiro de 1800, ela pertenceu a uma nobre família francesa, da qual foi afastada após sofrer violência doméstica. Encontrando abrigo na casa de seu professor de pintura, Guillaume Guillon-Lethière, Melanie passou a ganhar a vida vendendo suas obras de arte.

O sobrenome Gohier veio de Louis-Jérôme Gohier, governante francês que, em 1830, depois de construir com ela uma amizade sólida, a escolheu como sua única herdeira antes de vir a falecer. Apesar de ter usado o sobrenome até casar-se com Hahnemann, Melanie nunca aceitou o dinheiro de Gohier. Dois anos depois, ela o enterrou ao lado de Lethière, no cemitério Montmartre.

Diversas das pinturas de Melanie foram exibidas no Louvre entre 1822 e 1824, e ela chegou a ganhar uma medalha de ouro de Charles X por uma delas. Atualmente, apenas duas dessas obras são conhecidas. A primeira, uma litografia do herói grego Leonidas, lançada em 1825, acompanhada de um poema escrito pela própria Melanie sobre a 8

independência da Grécia. A outra é um retrato de Samuel Hahnemann.

O interesse da artista pela Homeopatia começou durante uma epidemia de cólera que tomou Paris em 1832. Dois anos depois, ela conheceu Hahnemann e, como documentado em suas memórias, interessou-se por “sua moral perfeita e inteligência sublime”.

Enquanto considerava casar-se com ele, ela lidou com alguns receios por conta da diferença de idade. Ainda segundo suas memórias, “o medo de perdê-lo cedo demais e de ficar de luto por ele o suficiente para acabar morrendo” a assustava. Ainda assim, o casal oficializou sua união e abriu uma clínica na capital da França.

Muitos, sobretudo a família de Samuel Hahnemann, acusaram Melanie de ser uma alpinista social, acreditando que ela se casara com um homem idoso por dinheiro quando ela mesma já era rica, encontrando renda fixa em várias de suas propriedades espalhadas por Paris. Sem mencionar que, com exceção da aliança dourada de casamento, ela nunca recebeu nada, fosse benefício ou dinheiro, relacionado às posses do esposo.

Em sua biografia, Hahnemann retratou a segunda esposa como modelo de cientista e artista, além de acrescentar que Melanie era “dotada de um coração nobre” e de “inteligência clara”. “Ela me ama imensamente”, ele também escreveu “e transforma a Terra em um paraíso”.

De pupila, Melanie se tornou assistente de Hahnemann e, logo, passou a ser conhecida como homeopata independente, recebendo um diploma da Allentown Academy of The Homeopathic Healing Art, a primeira escola de Homeopatia dos Estados Unidos.

Durante os últimos anos de vida do esposo, ela o apoiou e encorajou a trabalhar na produção da 6ª edição do Organon da Arte de Curar, bem como e na criação das diluições agitadas em série – potências LM – que são uma das características dos medicamentos homeopáticos.

Hoje conhecida como uma mulher que viveu além de seu tempo, Melanie escolheu perseguir uma carreira em vez de se casar e, quando não precisou mais de um homem para lhe oferecer segurança financeira, escolheu um forasteiro muitos anos mais velho do que ela como esposo, uma imagem feminina nada convencional para as tradições do século XIX.

Com a morte de Samuel Hahnemann, Melanie recebeu todos os direitos sobre a clínica que os dois mantinham juntos e, também, sobre a obra Organon da Arte de Curar, berço dos fundamentos básicos da Homeopatia.

De acordo com os diários da homeopata, sua última conversa com Samuel foi:

“Dois dias antes de morrer, ele me disse: Eu escolhi você de todos os meus discípulos e lhe deixo os meus estudos científicos que são de suma importância para a humanidade. Continue o meu trabalho como nós dois temos feito por tanto tempo, continue a minha missão; você conhece a Homeopatia e sabe como curar tão bem quanto eu. Eu respondi: Mas, eu sou uma mulher e meu corpo está cansado, meu cabelo está branco com esse trabalho tão difícil. Eu também mereço descansar um pouco. E ele me disse ‘Descanso! E eu já descansei? Em frente, vá em frente, contra o mundo, as difi culdades e os problemas, cure sempre e em todos os lugares, e curando sempre você ganhará a justiça que merece. Convide discípulos confiados para o seu lado, ensine-lhes tudo o que eu não poderei e que você já sabe (...) e quando a sua hora chegar, você se juntará a mim. O seu corpo será colocado no mesmo caixão que eu, não ao meu lado, mas dentro, e escreverão na nossa tumba: O amor nos uniu em vida, e a tumba faz o mesmo. De cinzas a cinzas, e de ossos a ossos’. Eu prometi a ele tudo o que ele quis. Então, ele completou: ‘Deus compensará você’. E cinco minutos antes de ele morrer, ele falou ‘você será minha pela eternidade’. Essas foram as últimas palavras dele.”

Retrato de Hahnemann pintado por Mélanie, em 1835

A homeopata seguiu servindo sua comunidade com devoção, mesmo depois de ser julgada e condenada por prática ilegal, em 1847. Já no ano de 1872, ela finalmente conseguiu uma licença médica para atuar legalmente na área.

Melanie Hahnemann faleceu em 1878 e foi enterrada no cemitério Père Lachaise, ao lado da tumba do marido, e continua sendo uma inspiração preciosa para todos aqueles que pretendem atuar no mundo por meio da arte/ciência de curar.