no quadro IMC). Os dados não são animadores: de 1975 a 2009, o percentual de homens obesos mórbidos no Brasil cresceu 11 vezes (de 0,04% da população masculina adulta para 0,44%) e o de mulheres aumentou quatro vezes (de 0,32% para 1,14% do total de mulheres adultas). Mesmo assim, o número de mulheres com obesidade mórbida ainda é maior do que o de homens. Apesar do rápido crescimento, os obesos mórbidos no Brasil ainda não chegam a 1% da população. De acordo com dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares 2008-2009 (POF 2008-2009), o número de obesos mórbidos no país é de 1.550.993 pessoas, ou seja, 0,81% da população. A prevalência está na Região Sul, nas mulheres e em pessoas de cor preta. Mesmo assim, Michele destaca que os gastos com obesidade mórbida equivalem a um quarto dos gastos totais com obesidade e comorbidades. Segundo a pesquisadora, quanto maior é o índice de massa corporal (IMC), mais altos são os custos para cuidado de saúde. No Ministério da Saúde, em parceria com o CNPq e universidades, Michele Lessa realiza vários estudos para qualificar as ações de prevenção. “Em nenhum momento, podemos culpar o indivíduo obeso”, frisa. Ela destaca que as pessoas atualmente vivem em ambientes obesogênicos, ou seja, lugares que promovem o sedentarismo e têm disponíveis, com facilidade, alimentos com baixa qualidade nutricional e alta densidade energética. Os motivos levam a aumento dos quadros de obesidade. A nutricionista e doutora em Nutrição Humana da UnB Daniela Lopes Gomes explica que o problema depende de um conjunto de motivos: “Existem fatores genéticos (regulação neuroendócrina da fome e saciedade), ambientais
(hábitos alimentares, prática de atividade física), psicossociais e culturais (acesso ao alimento, a informação) envolvidos que vão influenciar no gasto energético e na ingestão alimentar”. Prevenir para não remediar Michele Lessa, Everton Luís da Silva e a nutricionista Daniela Gomes concordam que o meio mais efetivo de frear o avanço acelerado da obesidade é focar na prevenção. “Muito mais precisa ser feito. O Ministério da Saúde já vem adotando medidas para combater a obesidade”, destaca Michele, que cita, como exemplo, a promoção da alimentação balanceada e de atividades físicas nas escolas básicas da rede pública, incentivadas pelo programa Saúde na Escola. “Eu quis alertar para este problema de saúde pública, a obesidade”, frisa Michele, ao falar sobre a motivação para a escolha do tema. O coorientador Everton Luís da Silva afirma que o trabalho demonstra, para o governo (e para toda a sociedade), quão grande poderia ser a economia de recursos se a obesidade fosse diminuída. Michele destaca: “Olhar para os custos mostra que é necessário investir na prevenção para evitar que o gasto aumente”. A nutricionista acredita que avançamos na prevenção, de 2011 para cá. Contudo, identifica que o Brasil ainda precisa adotar algumas medidas já realizadas por países que têm alto impacto na prevenção da obesidade. Ações como a melhoria no rótulo de alimentos com mensagens claras para a população sobre presença de alto teor de açúcar, gordura e sódio e a restrição da publicidade desses alimentos para crianças. O aumento do preço de refrigerantes e de alimentos ultraprocessados também é um caminho apontado, além da redução do preço
IMC Para calcular o Índice de Massa Corporal (IMC), basta dividir o peso (em kg) pela altura (em metros) ao quadrado. A obesidade ocorre quando o indivíduo apresenta IMC superior ou igual a 30 kg por m2. Já a obesidade mórbida é caracterizada por IMC maior ou igual a 40 kg/m2. A superobesidade ultrapassa o IMC equivalente a 45 kg/m2.
de frutas e hortaliças, bem como a oferta de alimentos mais saudáveis nas cantinas das escolas. “Já adotamos medidas para aplicar estas ações no Brasil. Precisamos de apoio das universidades e da sociedade civil para que elas possam ser efetivadas. O controle da obesidade não é de responsabilidade apenas das pessoas, o governo e a sociedade como um todo precisam facilitar a adoção de escolhas saudáveis”, reforça Michele.
EU FAÇO CIÊNCIA
Quem é a pesquisadora: Michele Lessa de Oliveira é nutricionista, doutora em Nutrição Social, mestre em Ciências da Saúde (Epidemiologia) e especialista em Saúde Coletiva pela UnB. Foi coordenadora da equipe de implantação do Programa Bolsa-Alimentação (2005) e trabalhou na Organização Pan-Americana de Saúde. Atualmente é coordenadora de Alimentação e Nutrição do Ministério da Saúde. Título da tese: Estimativa dos custos da obesidade para o Sistema Único de Saúde no Brasil
Onde foi defendida: Faculdade de Ciências da Saúde (FS), Programa de Pós-Graduação em Nutrição Humana.
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