Darcy Nº 15

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DOSSI Ê

na crista dos índios

Respeitado por ser estudioso notável, Darcy Ribeiro dedicou boa parte da vida às comunidades indígenas brasileiras

Texto Nívea Ribeiro

Berta, abro este diário com seu nome. Dia a dia escreverei o que me suceder, sentindo que falo com você. Ponha sua mão na minha mão e venha comigo. Vamos percorrer mil quilômetros de picadas pela floresta, visitando as aldeias índias que nos esperam, para conviver com eles, vê-los viver, aprender com eles.” Com esse recado a sua então esposa, Darcy Ribeiro abre sua obra Diários índios, feita entre 1949 e 1951 durante sua expedição às aldeias dos índios Urubus-Kaapor, no terreno fronteiriço entre Pará e Maranhão. Os diários de campo foram a última obra publicada em vida, no ano de 1996. Após uma extensa carreira como político e educador, Darcy optou por publicar suas memórias do início da carreira na antropologia, quando era um jovem recém-saído da Escola Livre de Sociologia e Política, em São Paulo. Em artigo publicado no número 126 da revista Ciência Hoje, como homenagem póstuma a Darcy, o professor Roque Laraia, do Departamento de Antropologia da Universidade de Brasília (DAN UnB), escreve que “não há um ato de maior coragem e generosidade, para um antropólogo, do que a publicação de seus diários de campo. Não resta dúvida de que este foi um acontecimento importante para a antropologia brasileira”. Em entrevista a DARCY, Laraia completa: “ele começa a vida como etnólogo e termina como etnólogo.” Além dos Diários, a experiência com os índios Urubus-Kaapor gerou também A arte plumária dos índios Kaapor, escrito em parceria com Berta Ribeiro, e Uirá vai ao encontro de Maíra: as experiências de um índio urubu que saiu a procura de Deus. Antes, entre 1947 e 1948, Darcy já havia feito trabalho de campo entre os Kadiwéu, no sul do Mato Grosso, depois publicando Kadiwéu: ensaios etnológicos sobre o saber, o azar e a beleza. O professor Stephen Baines, também do DAN UnB, acredita que tais ensaios são de grande importância para a valorização da cultura indígena no Brasil: “Na época, a produção dos índios não era considerada arte, apenas cultura material. Darcy conseguiu valorizar a arte indígena a nível nacional.”

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