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o qu e e u c r i e i P ARA V O C Ê
Uma casa feita de
Arquiteta usa planta para erguer paredes. Método torna as construções mais baratas e ecológicas. A cada número, esta coluna apresenta uma invenção produzida na UnB
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Priscilla Borges
Especial para Revista Darcy
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custo. Ana Cristina teve a ideia de estudar primeiro pasta de gesso com mucilagem e, depois, pasta de gesso com mucilagem e adição de fibras de sisal, bambu e coco. OS RESULTADOS: A produção do gesso é menos agressiva ao meio ambiente do que a do cimento. Porém, toda massa feita de gesso precisa de mais quantidade de água por causa do seu rápido endurecimento. Segundo a pesquisadora, a adição da mucilagem ajuda a reduzir o uso da água e, também, melhora a resistência do material. Durante os testes, Ana Cristina notou que a adição de fibras evitou a separação das peças de gesso quando quebradas. OS OBJETIVOS: O gesso, no Brasil, é mais utilizado em forros e revestimentos. O uso de gesso acartonado (uma placa que é revestida com duas lâminas de papel kraft) como parede tem se tornado cada vez mais popular na construção a seco. Segundo Ana Cristina, a cultura brasileira ainda valoriza muito as construções de tijolos e cimento, mas os novos construtores estão percebendo o potencial do gesso acartonado. Ela alerta que o gesso não pode ser depositado no meio ambiente, nem em aterro com outros resíduos. O gesso acartonado pode ser separado em demolições e, consequentemente, reciclado. O sistema construtivo a seco reduz os desperdícios e acelera as etapas de construção, porém ainda é mais caro. O uso da mucilagem como impermeabilizante pode reduzir os custos da construção. Ela acredita que é possível baratear os materiais, popularizar esse tipo de construção e dar novo valor ao cultivo dessa planta nativa. AS VANTAGENS: Além de aumentar a resistência das placas de gesso, a mucilagem do cacto facilita sua fabricação. Durante a preparação do gesso, o endurecimento do material é muito rápido. Com a adição da mucilagem, Ana Cristina percebeu que é possível aumentar
esse tempo. “Evitamos o desperdício, uma vez que a perda desse material por endurecimento é alta”, afirma. O professor Jaime Gonçalves de Almeida, orientador da pesquisa, acredita que a extração do cacto ainda pode se tornar uma importante atividade produtiva para os sertanejos. “O ganho não é só econômico, com o barateamento da fabricação das placas, mas também social”, ressalta. AS EXPECTATIVAS: Agora, Ana Cristina continuará os estudos no Centro de Pesquisa e Aplicação de Bambu e Fibras Naturais – CPAB/ UnB. Ela pretende aprimorar o material durante o doutorado, para torná-lo um produto de uso corrente.
Marcelo Brandt/UnB Agência
m diferentes desertos do mundo, os cactos marcam a paisagem ressecada. Costumam ser o verde que resta ao solo marrom. Resistem à dureza da terra e sobrevivem com firmeza à pouca água. A população sertaneja, acostumada às dificuldades da natureza, aprendeu a utilizá-los de diferentes maneiras. Como guardam água dentro de si, matam a sede de animais e seres humanos. E muitas vezes tornam-se alimento também. O que uma pesquisadora da UnB descobriu é que essa planta também pode ser usada para levantar paredes e, dessa maneira, tornar as construções mais baratas e ecológicas. Durante o mestrado no Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Ana Cristina Tinôco Verçosa de Magalhães estudou as propriedades da mucilagem do cacto e das fibras vegetais aplicadas em materiais de construção. Ela adicionou a mucilagem, que nada mais é do que a baba do cacto, à preparação da pasta de gesso. O processo exigiu menos água e tornou o material mais resistente. A baba revelou-se um excelente impermeabilizante natural. A civilização asteca, no México, já usava o material em suas construções, no período pré-colombiano. O QUE É: Placas de gesso produzidas com a adição de gel ou pó de cacto. Ana Cristina fez experimentos com os cactos: utilizou a mucilagem em gel e o pó da planta seca. Duas espécies de cacto foram escolhidas para os testes, a Opuntia fícus-indica (palma de gado) e a Nopalea cochenillifera (palma miúda). A última é abundante em Brasília. A PESQUISA: A construção civil vem testando o uso de materiais ecológicos. As fibras, por exemplo, têm sido misturadas a argamassas de cimento, cal ou gesso para produzir materiais mais sustentáveis, leves e de baixo
eu faço ciência Quem é a pesquisadora: Ana Cristina Tinôco Verçosa de Magalhães, 36 anos, é arquiteta formada pela Universidade de Brasília. Iniciou o mestrado na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UnB, na área de Tecnologia. Hoje atua no Centro de Pesquisa e Aplicação de Bambu e Fibras Naturais da UnB. O produto criado por ela: uma massa de gesso com mucilagem de cacto Onde foi desenvolvido: Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UnB
Orientador: Jaime Gonçalves de Almeida