Capítulo 2 A dança como profissão
E
m 1948, foi aberto concurso público para o ingresso no Corpo de Baile do Theatro Municipal. A seleção era direcionada para os alunos que pertenciam ao curso de dança da prefeitura e foi dividida em cinco etapas. “Foi uma prova muito difícil”, afirma Alda Marques, ao dizer que só poderia ir adiante aquele aluno que fosse aprovado na fase anterior. A banca era formada por críticos, jornalistas, diretores, professores e bailarinos do Theatro Municipal.1 Diversos alunos participaram dessa prova, entre eles: Edmundo Carijó, Thais Bellini, Alda Marques, Helba Nogueira (1930-1997) e Raul Soares. Carijó lembra que, nessa época, Mercedes já tinha consciência de que teria dificuldades para ser aprovada por causa da “pigmentação de sua pele”, porém foram aprovados dois bailarinos negros: “a Mercedes e o Raul Soares”. Torna-se relevante destacar que o receio de não poder entrar para o Corpo de Baile não era em vão, pois, anos antes, em 1945, Consuelo Rios,2 uma bailarina negra, havia sido vítima de racismo e, apesar de sua excelente técnica clássica, atestada por todos os seus colegas, não conseguiu se inscrever no concurso para o Corpo de Baile. Em 21 de janeiro de 1981, Consuelo contou para o jornal O Globo que foi “impedida por um funcionário que a fez saber depois, por outra pessoa, que ali só aceitavam candidatas brancas, ou, pelo menos, mulatas disfarçadas.” Para Mercedes não foi apenas uma prova difícil tecnicamente, “suei muito para entrar no corpo de baile, eu era negra”. É ela quem nos conta os árduos momentos:
“As provas de seleção para o corpo de baile começaram em fevereiro. Seriam cinco provas, cada aula ministrada por um coreógrafo. Tudo aconteceu normalmente...