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Mães que iluminam a vida (p

Mães que iluminam a vida

Como o apoio da LBV a essas mulheres garante direitos e melhora a qualidade de vida delas e da comunidade onde estão inseridas

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LEILA MARCO

Luciene da Silva é mãe de duas crianças e aparece na foto com o seu filho mais velho, Marcus Emanuel, de 11 anos, diagnosticado com a síndrome de Asperger, que afeta a forma como percebe o mundo e interage com outras pessoas. A família, cuja renda é de um pouco mais que um salário-mínimo, recebe da unidade da LBV em Cidade Dutra/SP, apoio alimentar e suporte de uma equipe multiprofissional, a fim de oportunizar o bom desenvolvimento escolar, a socialização e a inclusão do menino.

Mais de 77% dos profissionais das escolas e dos Centros Comunitários de Assistência Social da Legião da Boa Vontade são mulheres. Mesmo quando não são mães biológicas, boa parte delas acaba exercendo a maternidade no seu sentido mais sublime, o de cuidado ao próximo, no acolhimento que se dá nas diversas frentes de serviços da Entidade, oferecendo a outras mamães, madrastas, tias e avós o acesso a direitos, o apoio socioeducacional aos seus filhos/tutelados e a oportunidade de crescer pelo convívio social, pelo estudo e pela capacitação profissional, de modo que possam escolher o que quiserem ser como profissionais: médicas, engenheiras, professoras, empreendedoras... E que tenham na vida valores ligados ao bem comum.

Neste mês dedicado à figura materna, nada melhor do que falar dessas guerreiras, cuja ação torna o mundo um lugar melhor, sendo um luzeiro na vida de tantas pessoas. Para homenageá-las, a revista BOA VONTADE conta a história de cinco delas, que tiveram suas existências transformadas pela atuação solidária da LBV, fazendo de suas trajetórias inspiração a outras mulheres, o que fortalece ainda mais o ser feminino no trabalho, na família, na vida comunitária ou nas ruas. Esses exemplos de maternidade tornam realidade o que o saudoso fundador da Instituição, Alziro Zarur (1914-1979), há muito anteviu em seu Poema do Grande Milênio, no qual fala que chegaria um tempo de real Fraternidade, construído por todos os de bom senso, em que “(...) Os filhos são filhos de todas as mães, e as mães são as mães de todos os filhos” .

Boa leitura!

Vivian R. Ferreira

Guarulhos/SP

Rosana Serri

Curitiba/PR

Paulo Araújo

Miracema do Tocantins/TO

Pandemia e relação de mães e trabalho

39% das mães com filhos pequenos perderam o emprego durante a pandemia, enquanto que 52% delas ficaram sem a renda. Mães foram 16% mais demitidas do que os demais grupos. O Estado do Amazonas foi o líder na perda de empregos por mulheres, cerca de 61% delas*¹.

O cenário de desemprego foi pior para as menos escolarizadas, pobres e negras.

Mulheres exauridas Elas cumprem, em média, o dobro de horas dedicadas a afazeres domésticos e aos cuidados de pessoas do que os homens — são 21,3 horas para elas, segundo números de 2018 do IBGE*².

Fontes: *¹ Estudo da startup Famivita com 7.500 mulheres em todo o Brasil e *² Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

“LBV: a mãe de todas”

Acolher, escutar, estar presente nos momentos mais difíceis de 350 famílias chefiadas por mulheres. É assim o dia a dia da paraibana Renata Carla de Freitas Macena, 35 anos, que migrou para Natal/RN, com apenas 3 anos de idade, com a família, que buscava por novas oportunidades. Em 2012, com o falecimento do pai dos seus quatro filhos, encontrou em uma ocupação o teto para ficar com suas crianças e acabou entrando para o movimento social de pessoas sem moradia: “Pela minha vivência, pelo meu sofrimento, achei [que era preciso] lutar também por outras famílias. Para mim, é uma alegria estar ao lado delas, mostrar a elas que, apesar de a gente estar morando em condições precárias, na verdade, o importante é estar junto e lutar por um momento melhor. Até quando Deus permitir que eu fique na Terra, estarei aqui para cada uma, elas sempre podem contar comigo”.

De lá para cá, não parou de trabalhar, tornando-se uma referência para mães solo nas três comunidades em que atua: Eleny Ferreira, 7 de Setembro e Marcos Dionísio, esse último aglomerado de barracos, o mais recente, surgiu há nove meses, em razão dos desdobramentos da pandemia, como a diminuição de renda, o desemprego e a alta da inflação, que atingiu duramente as populações mais carentes, inviabilizando o pagamento de aluguel e mesmo a compra de comida por parte desses brasileiros. Aliás, foi exatamente nesse período mais difícil de pandemia que Renata encontrou a Legião da Boa Vontade, que, em mais de dois

“A LBV está sempre presente, seja trazendo doação, seja ofertando uma palavra de conforto, nunca nos abandonou!”

RENATA DE FREITAS MACENA

Líder comunitária em Natal/RN

anos de atuação nessas localidades, tem levado a essas famílias, por intermédio de suas ações emergenciais, cestas de alimentos não perecíveis, verduras e legumes e kits de higiene e de limpeza, além de ações especiais, a exemplo da que foi realizada em parceria com o projeto Faculdade na Comunidade, da Uninassau, que possibilitou a oferta de serviços de orientação em saúde bucal, aferição de pressão e de glicemia, relaxamento e ergonomia, além da elaboração de currículos para os que desejam a recolocação no mercado de trabalho. “Desde o meu primeiro contato, o pessoal da LBV logo fez uma visita e, quando presenciou as dificuldades, de imediato, trouxe alimentação, solidariedade para essas famílias. Eu só tenho de agradecer à Legião da Boa Vontade pela assistência que tem dado. A LBV está sempre presente, seja trazendo doação, seja ofertando uma palavra de conforto, nunca nos abandonou!”, emociona-se Renata.

Graças à ajuda da Entidade e à coleta de materiais recicláveis, a comunidade tem conseguido tirar o sustento em tempos tão difíceis. “É tão emocionante falar da LBV, expressar a minha gratidão, porque, assim como as famílias me têm como um porto seguro, todos nós da comunidade temos a LBV como o nosso porto seguro, porque é a única Instituição que vem nos atender. Eu queria saber agradecer com mais palavras, mas sei o que estou sentindo no meu coração, é um momento de gratidão por tudo que fizeram e fazem por essas famílias nessas comunidades, muito obrigada mesmo. Quando falo com a Instituição, sinto aquela paz, esperança, uma tranquilidade de espírito, porque sei que seremos atendidos. A LBV é a mãe de todas.”

“O amor é o carro-chefe da LBV”

Patrícia da Silva, da LBV, emociona-se ao ouvir das famílias atendidas que “a cesta de alimentos chegou em boa hora”, porque relembra a própria trajetória transformada pela ação da Obra.

Há quase duas décadas, Patrícia Ferreira da Silva, 41 anos, depois de enfrentar uma reviravolta em sua trajetória particular, descobriu a razão de viver com o apoio dos serviços de convivência da Legião da Boa Vontade, ampliando ainda mais o sentimento materno. Formada em Pedagogia, viu na oportunidade de ser educadora do Centro Comunitário de Assistência Social da Instituição em Goiânia/GO a realização do antigo sonho de transmitir conhecimentos a crianças em situação de vulnerabilidade social, de fazer algo pelo próximo. Ali, por sinal, ela encontrou bem mais do que esperava: “A LBV é uma instituição que eu visto a camisa mesmo, porque a amo, trabalho por Amor, pois me ajudou nos momentos mais difíceis que passei em minha vida. Eu cresci muito como pessoa porque a LBV esteve ao meu lado”.

Aos poucos, ela relata sobre sua caminhada: “Em 2003, eu mudei de Indiara para morar em Goiânia. Não foi nada fácil, vim para uma cidade grande, estava casada, mas, logo em seguida, o meu companheiro saiu de casa, e fiquei sozinha com a minha filha. Apesar da situação difícil, eu falava para mim mesma que não voltaria para o interior. Só que aí foi ficando tão grande o meu desespero que pensei até em coisas erradas, em desistir de tudo, em não viver mais, mas aí veio a LBV, que me ajudou em tudo. Graças à equipe da LBV, que me acolheu, me ajudou mesmo, consegui suplantar, crescer profissionalmente. Sou grata, faço de tudo para estar aqui colaborando com quem mais precisa, não tem como não me emocionar ao falar disso, e eu sei que têm muitas mães que passam por isso e pensam em desistir. Não façam isso, tenham Fé, pensem em Jesus!”

O fato de poder transmitir aos atendidos da Entidade todo o seu carinho foi curando a sua dor: “Eu me via naquela situação de desespero, de sofrimento, mas, quando vinha para a LBV, nesse momento, quando as crianças me abraçavam,

esses sentimentos iam embora e, aos poucos, fui livrando-me de tudo isso, graças ao carinho das crianças, das famílias ali atendidas”.

Patrícia diz que a Pedagogia do Afeto e a Pedagogia do Cidadão Ecumênico, criadas pelo presidente da LBV, o educador José de Paiva Netto, “que alia cérebro e coração”, é o grande diferencial do atendimento da Instituição. “Todas as pessoas que vêm trabalhar na LBV primeiramente colocam seu Amor no trabalho, depois veem as outras coisas, mas o Amor é o carro-chefe da LBV, seja na hora de entregar um benefício a uma família, seja na hora de realizar um atendimento a uma criança ou ao acolher uma pessoa que bate à porta da Instituição”. Para ela, essa Solidariedade sem fronteiras vivenciada nas unidades da Obra é como a boa semente que vai se multiplicando: “É tão importante, porque a gente percebe que planta e vai colhendo no decorrer do caminho”.

Nesse transcurso, por sinal, diversos desafios foram vencidos e pessoas amparadas e fortalecidas. Entre tantas histórias, ela se recorda da época em que residia no mesmo bairro do Centro Comunitário de Assistência Social: “Ficava bem fácil de as crianças saberem quem morava aqui próximo e houve uma vez, era de madrugada, eu já estava deitada com minha filha dormindo, e dois irmãos que eram atendidos na Entidade bateram palmas em nossa casa. Quando abri o portão, os dois estavam chorando, porque o pai havia falecido, isso me marcou bastante. A gente percebe que eles tinham uma relação muito boa de carinho, de acolhimento na LBV, a ponto de nessa hora em que se perde um ente querido eles buscarem a Instituição, porque se sentem bem ao nosso lado. Hoje, já são homens casados, mesmo agora, quando nos encontramos, me chamam de tia Patrícia”.

Há cinco anos, ela passou a ocupar cargo administrativo na referida unidade da

LBV e viu durante a pandemia da Covid-19 o aumento do número de famílias assombradas pelo fantasma da fome. Por sinal, levantamento da Rede Brasileira de Pesquisa realizado em 2021 mostra que a insegurança alimentar é um problema que afeta praticamente 64% dos lares mantidos por mães solo. A pedagoga frequentemente segue com a equipe para realizar entregas de cestas de alimentos não perecíveis e verde e afirma, já com a voz embargada, que se sente gratificada por ser também um pouco mãe dessas atendidas: “Não tem como não se emocionar quando elas falam ‘essa cesta chegou em boa hora’, ‘aqui em casa não tinha nada para comer’. Eu penso em tudo o que já passei na época em que meu companheiro foi embora e que, se não fosse a LBV, a minha filha teria também passado necessidade”. E conclui essa batalhadora: “O trabalho da Legião da Boa Vontade é realmente significante, faz a diferença na vida das pessoas. A LBV é uma mãezona”.

64% das famílias chefiadas por mulheres enfrentam algum tipo de insegurança alimentar, segundo levantamento da Rede Brasileira de Pesquisa.

Goiânia/GO

Márcio Francisco Thiago Ferreira

Liderança, substantivo feminino

Aaposentada Lurdes Agatha Guiconi, 61 anos, mãe de seis filhos, que há 30 anos está à frente da associação de moradores da Lomba do Pinheiro, bairro da periferia de Porto Alegre/RS, é outra liderança feminina que faz a diferença na existência de dezenas de indivíduos. Sempre em busca de melhores condições de vida, de infraestrutura básica para a localidade, essa senhora coordena uma horta e uma creche comunitária, projetos que contam com diversos atores sociais, com foco na sustentabilidade, na agroecologia e na cidadania.

Entre os apoiadores da iniciativa está a Legião da Boa Vontade: “Mais de 70% da população local migrou do interior para cá e também do inchaço da grande Porto Alegre; são indivíduos empobrecidos, vivendo de bicos, e, com a pandemia, ainda piorou, falta comida. Por que eu estou dizendo isso? Para que vejam quanto é importante a LBV, que durante todo esse período da Covid-19 veio todos os meses entregar material de higiene, máscaras, cestas de alimentos e tudo”. E concluiu: “Só mesmo a palavra gratidão a todos esses queridos doadores da LBV, essa ajuda é um presente, tem muita gente passando fome”.

N ad i el e B ort oli n

Bianca Gunha

“Com o meu trabalho, outra mãe conseguirá alimentar seus filhos”

Na Legião da Boa Vontade, a participação ativa das mulheres ocorre em todos os níveis, elas estão integradas, por exemplo, na preocupação em trazer recursos para a manutenção do trabalho da organização. Entre essas agentes solidárias da Instituição está a curitibana Janefer Roberto da Silva, 33 anos, que batalha para manter a filha, Emelyn Vicytoria, 11, e que há quatro anos se dedica a solicitar o apoio de doadores para a causa da Entidade na capital paranaense.

“É gratificante saber que, com o meu trabalho, outra mãe conseguirá alimentar o seu filho, isso me deixa feliz. Nós, mães, sentimos na pele o que é um filho pedir leite ou outra coisa que seja, e não ter para dar. Eu sempre digo aos colaboradores quando estou em uma ligação que a fome é a primeira pandemia do mundo, ela sempre existiu. E, agora, com a Covid-19, a situação ficou ainda mais precária, devastadora para muitas famílias. Fazer parte deste elo, desta Corrente do Bem da LBV, é levar Esperança de que chegará um prato de comida, uma cesta de alimentos para as pessoas [em situação de vulnerabilidade social]”, ressalta Janefer.

Para ela, o grande incentivo para acordar e realizar esse serviço tão importante na LBV está “na empatia, na solidariedade, em tudo que envolve o Amor ao próximo. Minha filha entende o meu trabalho e sempre me diz: ‘mãe, tudo que você faz pelos outros é o que faz pra mim. Você é mãe de todo mundo’”.

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