Amazônia, um patrimônio biológico global, que pode impulsionar a nova revolução movida a inteligência artificial e tecnologias que “imitam” a natureza – o biomimetismo. A Amazônia é o próximo centro de inovações do mundo
“Vale do Silício Amazônico” pode manter floresta em pé Uso da Terra e das mudanças climáticas, riscos na Amazônia e a necessidade de um novo paradigma de desenvolvimento sustentável
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meaçada por desmatamento, queimadas, uso insustentável do solo e dos recursos, Floresta Amazônica já perdeu 20% de sua mata. Para proteger a floresta, cientistaspropõem transformar a biodiversidade em tecnologia. A maior floresta tropical do planeta, berço de pelo menos metade de todas as espécies vivas, pode se transformar no próximo “Vale do Silício”. A proposta parte dos cientistas (Carlos A. Nobre, Gilvan Sampaio, Laura S. Borma, Juan Carlos Castilla-Rubio, José S. Silva e Manoel Cardoso): os 6,7 milhões de km2 de floresta – sete vezes o tamanho da Alemanha – escondem matérias-primas que devem impulsionar a quarta revolução industrial, diz um estudo publicado recentemente na Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), dos Estados Unidos. “As nossas análises mostraram que, se continuarmos com os dois modelos de desenvolvimento historicamente usados, que são a conservação pura da floresta e a atividade agropecuária, o desmatamento vai continuar. Se não encontrarmos uma outra maneira, a floresta vai desaparecer”, afirma em entrevista à DW Brasil o climatologista Carlos Nobre, principal autor do estudo e recém-eleito membro da Academia Nacional de Ciências dos EEUU. 10
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sapo que inspirou a criação de uma nova tecnologia de captura de CO2 da atmosfera”, diz Juan Carlos Castilla-Rubio, um dos autores e presidente do conselho da Space Time Ventures, incubadora de start-ups de tecnologia.
Histórico de destruição Climatologista Carlos Nobre, principal autor do estudo e recém-eleito membro da Academia Nacional de Ciências dos EEUU
Chamada de “terceira via”, a proposta dos cientistas enxerga a Amazônia como um patrimônio biológico global, que pode impulsionar a nova revolução movida a inteligência artificial e tecnologias que “imitam” a natureza - o biomimetismo. “Estamos dizendo que existe um valor agregado muito maior nos recursos biológicos da Amazônia que podem gerar uma economia muito robusta, de longo prazo, que sustentará um novo modelo e que é compatível com a floresta em pé”, explica Nobre. Desvendar de que plantas e animais são feitos, como organismos se locomovem e percebem o ambiente, por exemplo, são a chave para criação de materiais, sensores e até robôs do futuro. “Conhecemos o caso de uma espuma resistente produzida por um
Em mais de 50 anos de exploração da Amazônia, que se estende por 9 países e ocupa 47% do território brasileiro, a expansão da agropecuária e ocupação já desmataram 20% da floresta. Segundo diversos estudos publicados por climatologistas, se mais de 40% da floresta for destruída, a mata densa não consegue mais se recuperar e se transforma numa savana. A Amazônia também é fundamental no combate às mudanças climáticas – a estimativa é que suas árvores armazenem até 200 bilhões de toneladas de carbono. A liberação desse gás de efeito estufa na atmosfera poderia elevar a temperatura do planeta num ritmo ainda mais acelerado. “Talvez a proposta de explorar esse patrimônio biológico seja, de fato, a única possibilidade de conservar a Amazônia”, avalia Nurit Bensusan, especialista em biodiversidade do Instituto Socioambiental (ISA). “Mas é preciso muito cuidado para que haja a repartição de benefícios, para que a exrevistaamazonia.com.br