Pará+ 48

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clandestinas, colaborando dessa forma para o aumento do barulhame. Engrossando a zoeira causada pelo homem, os motores dos garimpos funcionam 24 horas, na busca do precioso metal, acionando a esquisita trapizonca de madeira, apelidada de Cobra Fumando, além do jorro das poderosas bombas bico-jato usadas para desbarrancar as lavras, espalhando o mercúrio ou azougue, o agente causador da Doença de Minamata, ainda não diagnosticada na região, de nada adiantando as advertências de especialistas paraenses para o perigo de seu aparecimento. Outro resultante do barulho-homem é o produzido pelas embarcações que percorrem o Aranhol Hidrográfico, do comandante Raimundo Moraes. Para dar saída aos motores marítimos usados no transporte de pessoal e carga, era necessário empregar o maçarico para esquentar o cabeçote. Por esse motivo eram denominados cabeças-quentes, atualmente conhecidos por cabeças-brancas da Yamaha. O uso de armas pesadas por pistoleiros especializados na eliminação de contrários, chega a lembrar espécie de treinamento para confrontos de grande envergadura. Até agora tem sido praticamente impossível, atenuar o uso abusivo da moto-serra da Sthill, do correntão, das bombas para a pesca predatória na costa e nas águas internas. Junto a esses, sons menos contundentes, porém mais degradantes, são os lamentos e gemidos que resultam do trabalho escravo dos nossos irmãos nordestinos, oriundos, principalmente, do Ceará e do Maranhão, arrebanhados para abrir a mata visando a instalação de pastagens e retirada de madeiras para fazendeiros e madeireiros oriundos de outras plagas, que se intitulam responsáveis pela integração e desenvolvimento da região; as cantorias dos remanescentes silvícolas e dos quilombolas, colocados à margem da civilização dos chamados brancos e o choro das pequenas prostitutas que mercadejam seus corpos em pontos de atração das grandes rodovias e dos acampamentos dos “novos bandeirantes”. Dá para antever que a zoeira transformar-se-á e precederá o grande silêncio. Dá para antever que o fim dos rumores naturais precederão o grande silêncio do Último Refúgio da Natureza. Caso o homo-sapiens (?) que não deve ter sido criado à imagem e semelhança de Deus, consiga se libertar da ambição desenfreada e destruidora, ainda restarão esperanças no coração dos brasileiros.

defendendo o itapicuim onde encontra o alimento; o piado noturno da coruja agourenta, premonitando a morte ou o desaparecimento de alguém; o guincho roquinho da Mapinguari no Acre e do Fonfon no Tapajós; o chamamento do dia e o anúncio do anoitecer pelo Arancuan, considerada ave sagrada pelos índios por atacar a jereraca (jararaca); o esturro dos grandes gatos pintados na defesa de seu território; relacionado ao mau agouro, o som que emitem os mutuns chegando a assustar os ribeirinhos; o estridente ganir do rato-coró; o grito estriduloso do licorne ou unicorne, passarão que se alimenta na várzea; o estalo da queda das sementes das seringueiras e das castanhas de ouriço; o marulhar das ondas dos rios de água doce; o estrondo da pororoca nos estirões fluviais e na encontroada do rio Amazonas com o Oceano e o maravilhoso cantar do pequenino Uirapuru, fazem parte dessa sinfonia da Ribalta Colossal de um Mundo Novo. Diferenciando dos barulhos que são característicos da natureza, os produzidos pelo efeito da corrupção, da ganância e da cupidez do homem em imensa irresponsabilidade para com a geração atual e as do futuro, vêm ocorrendo com maior virulência no sul e sudeste do Pará e em Rondônia, com a chegada dos colonizadores, trazendo miséria, violência, doenças e um sem número de mazelas, transformando a Região Predestinada do Novo Mundo, em verdadeiro Inferno Clorofilado sob o apavorante crepitar da mata pegando fogo. Em determinados núcleos populacionais, em horas pré-estabelecidas, novo tipo de barulho vem se tornando freqüente, lembrando os fogos de vista dos festejos juninos ou joaoninhos, como ainda se diz por aqui, mas que na realidade não passam de avisos de que a mercadoria oriunda da Colômbia, do Peru, da Bolívia, da Venezuela e de alguns fornecedores de outras regiões do País, já estão à disposição dos usuários de cocaína, maconha e outras prendas de uso crescente entre nós, uma vez que a Amazônia há muito deixou de ser área de passagem dessas e outras preciosidades. Em Itaituba, situada no rio Tapajós, durante a recente corrida do ouro ao sem número de garimpos de aluvião, o aeroporto teve a primazia de ter a maior concentração do mundo de aviões teco-tecos, ora mono, ora bi-motores, segundo informações que podem ter credibilidade. E haja barulheira nos céus e na terra produzidas pelas máquinas voadoras, muitas vezes utilizadas para contrabando de armas e drogas, mesmo com a atuação das Forças Armadas, que fazem explodir pistas 38

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Edição 48 - fevereiro


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