Revista Preá 24

Page 122

q seio erétil, q denso rio invisível ou filete a derramar ternuras em suas encostas, meu cabugi, minhas nascentes de vulcânicas cintilações, fulgurâncias e ânsias de ser desaguadouro, foz, rio de larvas, e eterno mar

CAPITÃO JOTA DA PENHA A ALUÍZIO ALVES E WODEN MADRUGA Sobre a lua da sela a mão se deixa

***

e a mão, em inércia, há muito o que sonhar: sua República de ciência e esgar,

R E V E R D E C E antes que um rasgo de sanfona c-esse

positivismos, Comte e o que mais seja.

Em vigília, na noite sertaneja, cofiava o duro queixo exemplar:

***

se uma Tróia não havia, por inventar, qual Deus, ou Ideal, ou qual Igreja?

TRANSATLÂNTICO Em Juazeiro, a Eterna e Degradada, Não tenho intimidades com navios nem com o mar. Sou sertanejo, de Angicos, caatingueiro, terra banhada
por um rio seco, o Pataxó. Referências ao mar, só nas histórias que Maria, minha segunda mãe, me contava.
E ela nem conhecia o mar. Quanto a navios e barcos e canoas, nada. Em dia de festas, além do carrossel, havia
as baleeiras nas quais me balançava só pelo prazer de me balançar. Não conhecia ainda o Moby Dick, de Melville. Como me imaginar em um barco, lutando contra o mar e as baleias? Perto da minha cidade, no entanto,
havia um lugar que se diferenciava dos demais lugares da Região. Chamava-se São Miguel dos Marinheiros, fazenda dos ingleses, homens brancos, de língua estranha, de roupas e costumes diferentes. Ali estive algumas vezes, nos meus oito ou nove anos, com meu pai e um motorista que nos conduzia. Conversando com meu pai e um dos ingleses, um homem já meio velho chamado Seu Bilro, que muito tempo depois identifiquei como sendo o pai ou tio do poeta Newton Navarro. Era classificador de algodão, a riqueza que aqueles estrangeiros arrancavam do nosso solo. O povo chamava os homens brancos de marinheiros, e meu pai me ensinou o significado dessa palavra, e fez menção à outras – navio e vapor. Não me encantei muito com seus significados. Me encantava mesmo o Cabugi, bem pertinho daquele lugar. No inverno parecia sair do seu pico uns fiapos de névoa. Então o povo dizia que o Cabugi estava cachimbando. Somente agora é que eu faço uma poética analogia. No mar de raras águas da caatinga, o Cabugi era um enorme transatlântico. E me ponho, marinheiro encanecido, a navegar.

122

antes que a aurora exsurja menstruada, o jagunço desperto cobra a senha:

“... que Progresso, que Ordem e Augusto Comte?” Feriu-o de morte. É a história (outro a reconte) do Valoroso Capitão da Penha.

José Jarbas Martins é poeta e professor.


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.