Revista Pâncreas 1° Edição.

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A Revista Pâncreas foi criada para que nossas mentes criativas tivessem um lugar para extravasar. Para tentar suprir uma carência cultural, o conteúdo desta foi produzido junto com nossos colaboradores, e a partir do nosso ponto de vista é diferente e interessante. É extremamente importante lembrar que a revista Pâncreas não tem nenhum cunho político, religioso ou ideológico. Tivemos iniciativa própria para criar esta publicação, com a única intenção de expressar nossas ideias e pensamentos de forma mais livre e de acordo com o que gostaríamos de ler. Na primeira edição explicaremos um pouco sobre a escolha do nome “Pâncreas”, e também como funciona esse órgão obscuro em nosso corpo. A matéria principal fala sobre a visão dos jovens da periferia acerca da política no País. Como eles reagem a tudo o que vem acontecendo no cenário político brasileiro e como eles poderiam ser inseridos nesse contexto. Ainda nessa edição, um artigo sobre adestração de humanos. Isso mesmo, como criar ou como ser um humano de bom caráter e bom coração. Você terá ainda algumas dicas para manter um blog que se destaque entre tantos que existem atualmente. E que a leitura da nossa primogênita seja proveitosa, e traga equilíbrio para a sua vida, assim como o seu Pâncreas traz equilíbrio para o seu organismo. 1


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MarĂ­lia Rizzo

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Tarantino tem outra coisa especial: acima de reunir atores de gêneros diferentes, ele consegue fazer um bom filme com pouca coisa. O que é esta pouca coisa? Ele usa uma história batida (que todos conhecem), pouco dinheiro, consegue fazer referências a vários itens da cultura pop, além de satirizar vários aspectos do cinema atual como o excesso de sangue, os tiros e cenas de lutas exagerados etc. No seu último filme: Bastardos Inglórios utilizou as mesmas técnicas dos filmes anteriores, mas se superou. Trata-se de uma refilmagem de uma produção ítalo-americana da década de 70, sobre um grupo de soldados judeuamericanos que atacam as tropas nazistas na Europa, durante a Se gunda Guerra Mundial. Tarantino trabalha bem com os dilemas de seus personagens, no caso Shosana Dreyfuss e o Coronel nazista Hans Landa. Aldo Rayne, líder dos bastardos inglórios. Personagens que assustam e encantam. Tarantino encanta com o seu poder de inovação através de poucos recursos. DK

lite roci nema tica

Desde o início da década, o cinema em geral tem passado por uma crise de criatividade, prendendo-se a franquias (Harry Potter, Transformers entre outros), refilmagens e adaptações de filmes estrangeiros como, por exemplo, o Chamado . Em outras palavras, o cinema está repetitivo e desinteressante. Em meio a esta crise de criatividade, existem algumas luzes no fim da grande escuridão. O diretor Quentin Tarantino é um exemplo, porque utilizando estereótipos banais, ele inova e encanta aos admiradores do mundo do cinema. Em Pulp Fiction, utilizou o tema do sub-mundo e bandidos. Resultado: foi indicado ao Oscar e deu vigor a carreira de Jonh Travolta. Em Kill Bill, utilizou as artes marciais e vários estereótipos de filmes baixos como temática. Resultado: David Carradine (1936-2009) ganhou o globo de ouro como melhor coadjuvante.

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Por Diogo Kubota

O cinema passa uma crise de imaginação. A imaginação está dominada pela escuridão! Existe solução?


Antes tudo era segredo. Agora, quanto mais gente souber melhor. Descubra se você deve ter um blog ou não!

querido diário...

tiro no pe

Por Tabata Alves

Lembra daquela época em que você podia escrever qualquer besteira no seu diário? Naquele tempo tudo que estivesse escrito ali seria um grande segredo e nada do que estava escrito ali poderia ser lido por qualquer pessoa. Além disso, o diário era uma coisa de menina, era muito difícil saber de algum menino que tivesse um. Com o surgimento dos computadores e com as constantes inovações tecnológicas, essa realidade mudou bastante. Atualmente, tanto homens quanto mulheres escrevem sobre o que lhes interessa e tudo fica disponível na internet. Aliás, quanto mais gente ler mais popular você se torna. E isso acontece quando você resolve criar um “blog”. O problema da popularização desse tipo de recurso é que nem sempre o conteúdo é de qualidade. Algumas pessoas o utilizam apenas como diário mesmo, sem nenhum tipo de controle sobre o que escreve, e nem sempre as pessoas querem saber tudo o que você pensa. Em casos de mais sucesso, o que era hobby acaba se tornando uma ferramenta de trabalho. 6

O ideal é pensar muito bem antes de colocar um blog no ar, o sucesso dele está diretamente ligado à maneira como ele será administrado. Na próxima página você vai ler uma entrevista com o jornalista Cido Coelho, criador do blog NoReset, que fala sobre tecnologia e games. Revista Pâncreas - Por que você criou o seu blog? Cido Coelho - No caso, o blog foi criado para falar de um determinado tema. Eu como gosto de tecnologia e games, optei por escrever sobre o assunto e nasceu o NoReset. Na época que o blog foi criado, há quase 3 anos, não tinha tantos blogs com qualidade sobre games e tecnologia. E a internet foi uma nova forma de se aproximar daqueles que gostam de tecnologia como eu. RP - Atualmente, muitas pessoas têm blog, Twitter, Facebook entre outros. De tudo o que tem


publicado na rede, você acha que as pessoas utilizam essas ferramentas corretamente? CC - Primeiro você tem que ver para qual finalidade você vai usar as ferramentas de redes sociais. Cada um tem uma forma de usar as ferramentas na web. Mas, posso dizer que tem gente que abusa das ferramentas. Por exemplo, você usa o Twitter para enviar a mesma mensagem várias vezes, o dia todo. Chega uma hora que você vai tomar um ‘unfollow’, ou seja, vai deixar de ser seguido, pois você vai parecer um spammer (o cara que envia propaganda ou mensagens de forma excessiva, que enche sua caixa de e-mail e te irrita) e ninguém perdoa um spammer na internet. E geralmente quando você é banido, é banido mesmo, pois apesar de o público da internet ser rotativo e dinâmico, é conservador. A primeira impressão é a que fica. Tudo que você usa em excesso faz mal. E na internet essa deixa funciona muito bem. RP - Qual a melhor forma de manter o blog? CC - Não tem segredo. Para manter um blog você tem que

manter a página sempre atualizada, com um material bem elaborado, bem editado e criativo. Pois, só assim, você vai conseguir cativar um público fiel que vai te seguir e te acompanhar. Se você deixa o seu blog de lado, tua página vai ser uma entre milhares que só servem para congestionar a rede e assim vai virar mais um dado no banco de busca do Google. RP - Que dicas você dá para quem já tem um blog e não sabe o que fazer com ele? CC - Bom, se a pessoa tem um blog e ainda quer salvá-lo, procure maneiras criativas para isso, reveja se você quer mesmo manter um blog, pois hoje em dia temos ‘blogueiros’, escritores de diários, jornalistas ‘blogueiros’ e até ‘blogueiros’ profissionais (que vivem disso com afinco), enfim a concorrência é grande e tem blog para todos os públicos. Para escrever hoje em dia, você tem que ter dedicação e gostar do que faz. Quem já tem um blog, não sabe mesmo o que fazer com ele ou desencanou de escrever, basta apagar e seguir sua vida digital de outra forma (risos)! Afinal, com o Twitter você pode escrever com apenas 140 caracteres, tem o Facebook que tem mecanismo semelhante, o Orkut para colecionar amigos e comunidades, Flickr ou Picasa para fotografias... A lista de redes sociais é extensa e atende todos os públicos e gostos. Escolha o que é melhor e seja feliz! 7


Este é um órgão que, geralmente, ninguém sabe dizer para que serve. Mas agora ou lhes contar. Este é um órgão presente nos seres vertebrados, ou seja, que têm coluna vertebral, sendo o responsável pela produção de insulina, que por sua vez é responsável pela redução da taxa de glicose no sangue. É essencial no consumo de carboidratos, na síntese de proteínas e no armazenamento de lipídios (gorduras). Além da produção de insulina, também é responsável pela produção de enzimas digestivas, que digerem alimentos. Como Pâncre-

Por Pancriativos

Pa

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as é um orgão que equilibra hormônios e auxilia no processo digestivo, entendemos que este é parte indispensável do sistema fisiologico no corpo humano, e nessa linha de raciocínio percebemos que um orgão informativo, auxiliador e produtor de conteúdo como este é uma referência clara do que almejamos ser para você. Assim como no orgão que existe em nosso corpo, na nossa equipe há divisão de funções para cada membro da equipe, que também precisa dos outros orgãos pra funcionar, para fazer com que nosso objetivo seja alcançado: que é você vivendo bem, recebendo informação e produzindo conteúdo. Eis que agora vamos lhes contar como escolhemos o nome da nossa revista: Era uma noite escura de ve-

s a e r nc


rão após uma tempestade que varreu uma boa parte do local. Enquanto nos dirigíamos ao local do encontro, nos deparamos com árvores caídas, caos, confusão, transtorno. Observávamos atônitos ao cenário da destruição recente, pensando nos assuntos que deveríamos resolver logo mais. Diversas coisas passavam pelas nossas cabeças, pautas, ilustrações, prazos, orçamentos, goteiras no coletivo e na fome que apertava e fazia rugir o estômago, enquanto olhávamos as estrelas no céu, que brilhavam placidamente após a tormenta. Chegamos cada qual em seu ritmo. Surpresa nos acometeu quando nos deparamos com os grandes obstáculos que nos aguardavam. Milhares de degraus, nenhuma luz além do fraco brilho do visor de um celular. Estávamos apressados, não tínhamos muito tempo e deveriamos decidir diversas coisas. Idéias pululavam das nossas mentes criativas e nenhuma decisão agradava a

todos. Fizemos jogos, brincadeiras, brainstorms, brigas e piadas, sem conseguir chegar a um consenso. Foi quando decidimos parar com tudo e selecionarmos algo dentre aquilo que já tínhamos. Entre preferências,sorteios, piadas acabamos por ficar com apenas dois nomes: Pâncreas e Tiro no pé e, desses dois nomes nenhuma decisão parecia vir à luz. Em uma votação acirrada, marcada por choro, raiva, desilusão e comemoração, nós chegamos a uma decisão. Nossa revista se chamará Pâncreas e nosso grupo Tiro no pé. Após o trabalho concluído, pudemos enfim descansar e comer macarrão sem carne com refrigerante, sem luz e sem mais trabalhos a realizar. Após o trabalho concluído, cada qual voltou para sua casa, com o estômago forrado, com a sensação do dever cumprido e observando mais uma vez as estrelas no céu.

um estilo de vida

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agenda cultural

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São Paulo é um caldeirão de cultura para todos os gostos e para todos os bolsos. Pensando em levar uma informação vivenciada eu, o amigo oculto e a fotógrafa da equipe, a Débora, fomos ao Centro Cultural do Banco do Brasil [CCBB] a fim de dar uma conferida. Logo de cara vimos o movimento no local, freqüentado por pessoas que vão atrás de cinema, teatro, exposições e oficinas ligadas às artes em geral. Ficamos horas agradáveis lá dentro, não fomos abordados nenhuma vez por seguranças [quem mora na periferia sabe que isso é quase um milagre], fomos bem atendidos pela recepcionista e nos divertimos muito. O local é grande, conta com café [que é pago, não vá se iludir], com livraria e loja, contando com vários títulos, além de um espaço no térreo, onde se pode curtir uma boa conversa. Os seguranças não ficam te enchendo e você pode tirar fotos à vontade, a não ser dentro de umas salinhas, mas nesses casos tem o aviso clássico de “no flash please”. Sugerimos esse local como parte dos nossos esforços em proporcionar o acesso à cultura para as pessoas, principalmente para aquelas que R$2,70 do busão já é uma fortuna. Garantimos que vale a pena gastar pra colar lá. O CCBB fica no centro da cidade, na Rua Álvares Penteado, 112. É próximo ao metrô Sé, não tem erro.


Por Amigo Oculto

Revista Pâncreas - Uma característica muito interessante no seu trabalho como músico se dá pela produção e comercialização dos seus Cd’s, totalmente artesanal. Como foi a ideia de se lançar independente no cenário, contrariando a “lógica” de ser artista, buscando uma gravadora e todos os processos? Emicida - Eu fui procurado por alguns selos e gravadoras antes de lançar a mix tape, mas Leo Eloy

Ele dispensa qualquer apresentação a não ser que tenha viajado a Marte nos últimos tempos. Cria da rua e da zona norte de Sp, anda colhendo bons frutos com passinhos de formiga e estilo maloqueiro zen. Um verdadeiro monstro da rima, o exterminador de Mc’s, Emicida fala com a revista Pâncreas sobre vários assuntos. Confiram!

a r ua é nóiz !!!

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Janaina Castelo Branco

as propostas não eram legais do meu ponto de vista, alguns preocupam-se mais com passar blush na minha cara do que fazer um bom disco, desencanei e fiz a minha parada como sempre fiz, quando eu era moleque, não que eu não seja mais, mas eu queria ler histórias em quadrinhos não tinha grana, eu inventava as minhas desenhava, grampeava e lia, fiz o mesmo com minha música e a forma de vendê-la, a treta da independência é a ideia de que os artistas independentes sonham com alguém maior que os fisgue, 12

esse é o maior problema, mas na grande verdade, pra quem se organiza e leva a coisa a sério, como um trabalho e não como um hobby a coisa anda a passos menores mais firmes e duradouros, talvez eu seja um exemplo disso, as pessoas me veem agora devido a ex posição na mídia, mas vivo disso a anos sem botar a cara em lugar nenhum, só por trabalhar direito. RP - A cena do hip-hop paulista sempre se focou muito no protesto, com letras politizadas que, ora versavam sobre a vida “do crime”, ora sobre a favela e as dificuldades [e as coisas boas] que só se encontra lá. Há, no entanto uma transformação no estilo de letra com os “novos” rappers, em músicas que falam de amor, de sentimento e de outras coisas não focadas na dualidade problema/Solução. Como você enxerga essa transição? Emicida - O rap sempre teve milhares de temas, se você for pesquisar o rap era música de festa no começo, aqui e lá fora uma vertente ganhou mais expressão e ficou em evidência durante anos, mas sempre tivemos grupos falando de diversos temas, acho que tudo tem


um começo meio e fim, não que esse seja o fim de algum tipo de rap mas as pessoas começam agora a olhar para o lado e ver “olha rap também pode ser assim” e a coisa vai fluindo. Acredito que foi muito importante para todos nós a forma como o rap se manifestou até agora, ter a postura que teve e não ceder nos momentos em que poderia, nosso respeito vem daí, aprendi a fazer rap ouvindo esse tipo de rap que muitos julgam antiquado, defasado, mas é o meu favorito, tem muita música ruim falando coisa sem nexo também, se for só pra ser diferente num me satisfaz, a música precisa ter um propósito. RP - Recentemente você começou a fazer shows ao vivo acompanhado de uma banda além do Dj. Para um artista de hip-hop, qual é a maior diferença entre tocar acompanhado apenas do Dj e tocar com uma banda completa? A rotina é diferente, nos conte um pouco sobre isso. Emicida - Banda é mais treta, mais cabeças para administrar, mais problemas, eu particularmente gosto pelo fato de podermos criar algumas coisas especiais, montar um show diferente

etc. Mas sou muito apegado ao formato clássico, dj e mc, acho que é simples e direto, mas a banda tem outra pressão outra pegada, visual até. O problema é que é bem mais caro, mas dá pra tocar se você se organizar, muitas pessoas cedem no primeiro obstáculo, eu mantenho a banda para algumas ocasiões especiais, como estivais grandes e coisas do tipo, mas jamais quero me desligar da formação clássica dj e mc, que é como me sinto mais a vontade, até porque creio que meu dj é o melhor nessa parada! RP - Você é um artista que ficou conhecido pelas perfomances arrasadoras em um evento de rap freestyle [estilo livre] conhecido como rinha de MC’s, ficando bastante conhecido pela enorme capacidade de improvisação. Mesmo gravando as músicas, você se declara um MC freestyle. Qual a principal diferença entre um MC freestyle e um MC que “decora” suas músicas? Emicida - Um mc de freestyle é um mestre de cerimônias, dá o microfone na mão dele e ele faz o resto, um cara que decora as rimas é apenas é um rapper, ou seja, ele é um cara que sabe cantar rap apenas, não que um seja melhor que o outro mas tem suas diferenças e contextos. Eu sou improvisador na essência, mas amo escrever e cantar minhas músicas. Dá um resultado legal somar as duas coisas. RP - Outra característica sempre presente no Hip-hop é o eterno duelo entre o que é “real” e o que é “falso”, isso é muito explorado nas rinhas de MC’s e nos freestyles em 13


geral. Pra você, o que significa ser “real”. O termo “A rua é nóiz” tem alguma ligação com esse pensamento? Emicida - Se eu fosse te dizer o que é a rua é nóiz eu diria que é tipo o zen budismo, se eu precisar te explicar, dificilmente você vai entender você precisa sentir a parada, vivenciar, eu te dizer que existe comida não mata sua fome, e é mais ou menos isso, esse confronto verdadeiroXfalso será eterno no rap pela autenticidade que o gênero depende, é a forma de se ver representado em qualquer artista que pegar o micriofone e se dizer do rap, da cultura de rua, da rua própriamente dita. Principalmente em dias como hoje, em tempos de internet, onde todo mundo acha que pode ser o que quiser sem se esforçar e sem sofrer por aquilo, acho que é aí que vemos o discurso florescer e cobrar de algumas pessoas uma postura coerente, talvez. Mas é bom lembrar que nem sempre quem acusa está certo e nem sempre quem é acusado está errado. A coisa pode se inverter, ser pedra e ser vidraça, é louco, ambos tem suas agruras. RP - De uns tempos pra cá, o público que ouve, veste, compra e vê shows de hip-hop está mudando. Mesmo mantendo a essência na periferia e nos públicos “marginalizados”, recentemente uma grande parte da “elite” tem se apropriado do hip-hop, comparecendo a shows, comprando Cd’s e, vemos ao mesmo tempo uma abertura maior do hip-hop para esse público, com shows de artistas internacionais e nacionais em casas 14

enormes, com preços nas alturas, shows em palcos que, tradicionalmente não eram “abertos” pro Hip-hop,ou seja, um cenário muito diferente de alguns anos atrás. Como você enxerga essa mudança de cenário? Emicida - Existem dois hip hops, ou melhor existe o que chamam de hip hop que é o rap comercial norte americano que chamam de hip hop pra não ficar dizendo que gostam de rap pois na cabeça dele rap é coisa de “mano”, e o rap mesmo nesse caso é o rap nacional, isso mostra uma parada de décadas, sobre história, as pessoas querem ser os pretos de lá por que sabem que os daqui tão fudido e todos tem consciência disso, acho maneiro shows de rap em casas grandes e quando digo rap me refiro a todas as vertentes, um show como o do Kanye West por exemplo era um puta espetaculo, todo mundo que foi disse que foi loco e alguns nem de Kanye West gostavam disseram que era um puta show. Acho maneiro cantar pra todos os tipos de pessoas, e é aquilo, se você está consciente de que é fiel ao seu caminho então você pode ir onde quiser,


Janaina Castelo Branco

quanto mais pessoas gostarem mais shows, mais cds vendidos, mais downloads, mais rap sendo produzido e aí a coisa anda, é mais tou menos isso. RP - Uma característica interessante de seu trabalho é que você não se foca apenas em uma manifestação, já que possui um projeto de um portal chamado “NOIZ” [http://noiz.com. br] na internet, voltado para todas as vertentes do Hip-hop, além da divulgação de shows e eventos, ou seja, um apanhado geral da cultura Hiphop. Qual o retorno que o portal tem dado? Notei que o portal tem o patrocínio da prefeitura de SP através de um programa de repasse de

verbas [chamado VAI]. Como é trabalhar com dinheiro público em prolde um público geralmente esquecido pelo poderpúblico? Emicida - Aí que tá a coisa, o poder público tá lá, e a base pra negociação é o debate, mas muitos de nós só tem força pra lutar uns aos outros, é que nem o bill [MV Bill] disse no disco novo dele, os verme só tem força quando é nóiz contra nóiz, quando tá frente a frente com o inimigo perde a voz, eu fui lá ver qual era, dialogar, existem padrões de aceitação em toda a sociedade, para a aprovação de um projeto é a mesma coisa, e o VAI é destinado a pessoas que nunca participaram de um edital, é tipo uma oficina com dinheiro de verdade, com a chance de você mostrar que é capaz, eu tinha um sonho e fui ver se dava pra envolver em algum tipo de incentivo, juntei uma equipe e fizemos a coisa rolar, e rolar bem! 15


Agora estamos no caminho e passando por uma redefinição de equipe, já que a coisa ficou mais séria e alguns infelizmente pularam do barco, mas tamo aê, eu acredito no bagulho e vou até o fim. Fomos aprovados no VAI este ano novamente e vamos fazer a coisa andar maravilhosamente bem de novo, o site deu um retorno foda no ano passado e esse ano vai ser o dobro, no mínimo, estamos armando a estratégia para 2010 aguardem e visitem. RP - Vemos todos os anos, muitas iniciativas do poder público repassando verbas para diversos tipos de ações, sejam culturais, sociais, audiovisuais e afins. Como você vê essa presença do poder público no cenário cultural e você acha que isso pode ser negativo de alguma forma? Emicida - Não acho que é negativo de forma alguma, o dinheiro é nosso afinal de contas, pagamos milhares de impostos, aqui é um dos locais onde mais se paga imposto no mundo, e se parte desse valor pode voltar em forma de benefícios para nós é maravilhoso, temos é que brigar mais por isso, dialogar mais com o poder público de cada cidade, foda é que vagabundo num vai cobrar lá por que nem lembra em quem votou, aí fica complicado. Mas eu acho da hora, acho pouco dinheiro destinado pra isso, mas acho muito louco. RP - Muito obrigado pela entrevista e o espaço final é seu para suas considerações. Emicida - Lutem por seus sonhos! a rua é nóiz! 16


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Participaram desta Edição Amigo Oculto bombril

Allan Sieber allan@toscographics.com.br Cido Coelho @coelho coelho@ymail.com Diogo Kubota @oldkubota

Débora Carvalho foto

Emicida contato@emicida.com myspace.com/emicida Luana Pequeno @Luana_Pequeno luana_p_alcantara@hotmail.com

May LeCe

Marília Rizzo rizzomarilia@gmail.com

arte Marlon Marques iosbilario.blogspot.com Rincon De Dós @beatris Tabata Alves redação

Tony Soares tony@estudioabrasileira.com.br @tony_soares

Impressão Grafnorte Gráfica e Editora Victor Hugo ilustra

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politica na periferia

Política não é um assunto que costuma interessar as pessoas, principalmente os jovens. Esse público prefere se informar sobre músicas, saber de suas bandas e artistas preferidos, falar de roupas, baladas e, no caso das meninas, de moda e beleza. Um interesse normal para a idade, mas igualmente interessante também é participar da vida política do país. Desde os tempos do regime militar, jovens de classe média sempre tiveram uma participação maior na história da política brasileira, ao contrário de jovens da periferia, que mantinham-se distante desse mundo. No en

A hora e a vez dos jovens:

Por Luana Pequeno

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tanto, com a disseminação dos movimentos sociais e dos trabalhos de conscientização política, essa realidade vem mudando. Os jovens, mesmo aqueles que pertencem a uma classe social mais baixa, o que interfere diretamente no seu conhecimento sobre determinados assuntos, como no caso da política, estão cada vez mais cientes da importância de se informar sobre os acontecimentos políticos do lugar em que vivem, assim como de exercer seu direito de participação nas decisões tomadas por aqueles que os representam. Nos dias atuais, é essa participação mais ativa que se espera na política. Já não é mais aceitável que os jovens, que têm forte representação na sociedade, fiquem limitados a atuar em planos secundários, ou que sejam simplesmente ignorados nos programas e projetos administrativos de seus municípios, e do país como um todo. No entanto, apesar dos avanços, o número de jovens desinteressados em assuntos relativos à política é grande. Uma das razões que afasta os jovens do universo político, especialmente aque-les da periferia, é o modo como a política é elaborada. Fernando dos Santos Araújo, 21, mora em Itaquera, zona leste de São Paulo, e sabe os nomes dos dois principais candidatos à sucessão presidencial, Dilma Rousseff e José Serra. Quanto à candidata Marina Silva, afirma não saber de sua candidatura. Quando questionado sobre o seu conhecimento e interesse pela política, diz que 20

sabe “algumas coisas”, mas que o assunto é chato. O fato demonstra que os políticos falam para um público restrito, geralmente com uma linguagem muito formal e rebuscada, o que poderia explicar o distanciamento dos jovens da periferia. Alguns desses jovens são carentes de conhecimento e informação, o que faz com que eles vejam a política como algo secundário e desinteressante. Isso por que o desinteresse no assunto pode estar ligado à renda e ao grau de educação. Quanto maior a renda de um jovem, maior a sua participação em organizações sociais. Se a ligação para que a participação da vida política é a educação, o jovem pobre, por ter mais dificuldade de acesso à educação, não tem estímulo. Já aquele com renda familiar melhor, têm condições de ir a uma escola particular e, consequentemente, maior estímulo para uma participação política. Para o cientista político Ronald Kuntz, o desinteresse da sociedade pela política, inclusive dos jovens de baixa-renda, ode ser explicado por uma espécie de revolta que toma conta das


pessoas quando o assunto é política. Kuntz usa a Síndrome de Estocolmo, que é um estado psicológico particular desenvolvido por pessoas que são vítimas de seqüestro, para explicar seu raciocínio. Essa síndrome se desenvolve a partir das tentativas da vítima de se identificar com o seu raptor, ou de conquistar a simpatia do sequestrador. Ela recebe esse nome em referência ao famoso assalto de Norrmalmstorg, que ocorreu próximo à praça homônima na área comercial de Estocolmo, capital da Suécia, entre os dias 23 e 28 de agosto de 1973. O interessante desse acontecimento é que as vítimas continuaram a defender seus captores mesmo depois dos dias de sequestro terem terminado, mostrando um comportamento reticente nos processos judiciais que se seguiram ao assalto. De acordo com Kuntz, algo semelhante acontece com a sociedade e com os jovens de baixa-renda. As pessoas sabem dos problemas que rondam o país e da necessidade da atuação dos políticos para que esses problemas sejam

solucionados. A questão é que nem sempre as autoridades cumprem o seu papel. Como os políticos, na maioria das vezes, fazem pouco ou nada pela sociedade e estão sempre envolvidos em escândalos políticos, eles acabam sendo desacreditados pela sociedade, que passou a ver a política como um problema que não tem solução. “Quando o jovem vê a sua impotência, ele também se aliena da política, perde a esperança e tenta buscar em outros canais uma maneira de se satisfazer”, afirma Kuntz. Outro exemplo que Kuntz dá, é o da norteamericana Patrícia Campbell Hearst, neta de um dos magnatas da comunicação, Willian Randolph Hearst. Patrícia, também conhecida como Patty, foi sequestrada por membros do Exército Simbionês de Libertação e após sofrer de lavagem cerebral, passou a adotar o nome de Tania e se juntou aos seqüestradores. A norte-americana, que foi mantida refém e estuprada, tornou-se uma guerrilheira e se virou contra o sistema. Para Kuntz, esse foi o mecanismo desenvolvido por ela para se defender, o que acontece também com a sociedade com relação à política. As pessoas se sentem impotentes e se alienam, preferem não participar e se manterem, de certa forma, ignorantes. Segundo o cientista político, a ausência de uma maior participação dos jovens da periferia na política, não é a falta de informação, como algumas pessoas afirmam, mas sim, revolta. “Hoje em dia, todo mundo tem acesso à informação, inclusive as pessoas 21


de baixa-renda. As pessoas não participam da política porque não querem. Quando ela vê que o assunto é política, ela foge”, afirma. Kuntz explica que os jovens, inclusive aqueles da periferia, crescem ouvido os adultos dizerem que políticos não prestam. De acordo com ele, essa alienação das pessoas em relação à política, é fruto de décadas de um sistema corrupto. “Uma Justiça que demora dez anos para chegar a alguma conclusão, não é justiça, é um vácuo de justiça”, diz. Para ele, nenhum pai quer criar seu filho sabendo que ele vai ser escravo de um sistema corrupto, que mesmo quando a sociedade não elege determinado político, por considerar ele corrupto ou inadequado, esse candidato vai estar em algum posto importante, porque alguém vai colocar ele lá. Na opinião da vice-diretora do Movimento Voto Consciente de São Paulo, Rosangela Giembinsky, há diversos fatores que fazem com que os jovens de baixa-renda e a sociedade como um todo não se interessem por assuntos relacionados à política. Segundo ela, os temas da política são bastante complexos, exigem conhecimento, participação e dedicação. Uma educação política seria essencial para resolver essa questão, mas de acordo com Rosangela, não há uma educação política nas escolas, o que deixa as pessoas com uma visão superficial da discussão publica dos problemas, por falta de informação e formação. Para a vice-diretora do Movimento, outro fator que interfere no interesse pelo assunto, 22


é o fato de não existir a cultura da participação no coletivo. “Este conceito ainda precisa ser melhorado na sociedade, não sabemos trabalhar em grupo e não temos noção da força do coletivo”, ressalta. Assim como Kuntz, Rosangela também fala sobre a influência dos escândalos políticos para afastar a sociedade da política, inclusive os próprios jovens da periferia. “Somos envolvidos muito pelos escândalos da política na mídia, o que também afasta o cidadão. Do ponto de vista da classe política isso é bom, pois quanto menos interessados, menor é a cobrança”, afirma. Para que o jovem da periferia participe mais da vida política e não fique limitado a saber um ou outro nome de candidatos à eleição, é necessária toda uma mudança cultural e estrutural. A idéia passada de geração em geração de que os políticos não prestam precisa ser mudada, assim como as escolas públicas, lugar onde os jovens de baixa-renda estudam, precisam incentivar o debate político e a conscientização sobre a importância da participação política. A questão financeira e educacional influencia na ignorância sobre o assunto, mas o aspecto cultural de como a política é vista também contribui. É preciso mudar esses conceitos para que esse jovem, isolado na periferia da cidade onde mora, tenha uma ampla visão de mundo. LP 23


May LeCe

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Rinc贸n de Dos

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AndrĂŠ Cabral

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Tony Soares

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Chico não precisava combater o regime e nos brindou com um disco com músicas cheias de lirismo e poesia

vitrola minha vitrola

gramo phone

Por Marlon Marques

Vida é um grande disco de Chico Buarque e, talvez marca o início da transição do Chico político para o Chico poeta. Esse disco de 1980 faz um par perfeito com o próximo disco de estúdio “Almanaque”, bem arranjados e poeticamente compostos. Vida é bastante diverso e regular, sem momentos chatos, com canções boas e outras ótimas. O disco traz duas parcerias inéditas de Chico, com Tom Jobim em Eu Te Amo e outra com Roberto Menescal, em Bye, Bye, Brasil, ambas para trilhas sonoras dos respectivos filmes de Arnaldo Jabor e Cacá Diegues. Vida é ricamente arranjado e tocado, conta com a participação de Francis Hime em todo álbum, com exceção das faixas acima citadas, onde seus compositores originais as tocam. O disco não tem mais aquele ímpeto político dos anteriores, porque o país já vivia um momento de transição desde 1975 com Geisel 28

e a abertura política gradual. O contexto já era outro e Chico já não precisava mais combater o regime, por isso nos brindou com um disco repleto de sambas e bossas, músicas cheias de lirismo e poesia. “Vida” é um desabafo. Acho que de tanto lutar, fugir e correr, Chico deixou a fatia mais doce de sua vida passar, mas confessa ter sido feliz “Mar e Lua” é pura poesia, versos entrelaçados nos acordes singelos e no som da flauta magistral. “Deixa A Menina” é um aviso para aqueles homens machões, todos cheios de si e que acham que mandam em suas mulheres. Aqui Chico está debochado, dizendo para deixar a menina em paz. “E se vai continuar enrustido, com


essa cara de marido, a moça é capaz de se aborrecer”. Esse é o Chico cronista, despudorando o dia-a-dia mais íntimo de cada um de nós. “Já passou” é um samba bossa-nova bem cadenciado. Em clima brisa do mar um homem tenta fazer as águas passarem depois de uma briga. “Se você quer saber, eu já sarei, já curou”, diz ele para mostrar que superou o trauma. A simetria dessa poesia é exemplar, rimas bem estruturadas, com “por favor”, “já passou”, e “estancou” e “supurou”. “Bastidores” é uma linda história de amor perdido, de um homem beirando a loucura da perda e a sanidade do aplauso. “Qualquer Canção” e “Fantasia” são boas canções, como dito no início, porém é depois dessas canções que o disco torna-se magnífico. “Eu Te Amo” é quase uma continuação de “João e Maria”. Suponhamos que João tenha encontrado Maria nesses tortuosos caminhos da vida e tenham se amado outra vez. Porém, tudo novamente acabou. Eu Te Amo começa daí. Sob um belo arranjo de piano de Jobim, Chico conta

essa bela e triste história. “De Todas As Maneiras” é um bolero torto, meio clima de cabaré decadente, e uma letra de casal sem-vergonha. Aqui, Chico é sofisticado ao dizer que já se amaram de várias formas e maneiras, de igualmente já se destruíram e se mataram tantas outras vezes. É o poder renovador do amor, que no final como a letra deflagra, acaba tudo bem, é apenas mais uma briga de casal. “Morena De Angola” é um achado único. Há uma versão brilhante em dueto e solo de Clara Nunes. Essa morena é mais uma das memoráveis capitus de Chico, é mais uma Ana, Rita ou Beatriz. Mais uma vez aqui as rimas são precisas, ricas e simétricas, típico da poética de Chico Buarque. “Bye bye, Brasil” é genial. Crítica, afiada e discreta. A batida peculiar de Menescal é escorregadia, quase nos escapa, é hipnótica e dá o tom de jazz-samba que a música tem. “Não Sonho Mais” fecha o disco em grande estilo numa mistura de baião com metais e um suingue fantástico. Vida prova ao fim que é de fato ótimo, mostra um compositor de grande talento acompanhado por excelentes músicos e também grandes parceiros. É um disco de sonoridade única, sem par na música brasileira. Chico Buarque consegue ser irônico, crítico e sensual num mesmo álbum, um disco rico em grandes canções, logo no início de uma década tão cheia de altos e baixos, começar assim é de fato um feito e tanto. MM 29


Hoje lhes darei em pequenas, porém mágicas lições, tudo o que é necessário para adestrar seu próprio ser humano bom, ou seja, um ser humano consciente, amoroso, respeitador e inteligente. Peguem suas canetas e bloquinhos, anotem tudo e aproveitem bem!

como adestrar um

SER HUMANO

1 Jamais tente fazer isso com você mesmo! 6e, o começo das lições é: Todo 2Você provavelmente irá se identificar com ser humano deve ser criado em

uma ou mais lições desse pequeno guia, mas, não se desespere, há solução pra tudo, inclusive pra você! Um bom ser humano não é fácil de adestrar. São teimosos, indisciplinados e tendem a colocar emoções, sentimentos e significados abstratos onde eles não existem. Tudo o que você precisa para adestrar um ser humano é paciência e perseverança. Como, ao menos conscientemente, essas são características humanas, não espere ver cachorros ou vacas os adestrando por aí, embora não seja impossível. Um ser humano é uma fonte incrível para experiências e outras tentativas de acerto. Há uma variedade incrível para se escolher em qualquer lugar.

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um ambiente amoroso e pacífico e se não puder lhe dar esse ambiente finja que o que tem é. Ensine que o amor existe e é bom. Ensine que deus existe e é bom. Ensine que as pessoas são boas e que o bem sempre vence o mal. Ensine-o a gostar de todas as coisas vivas, mesmo que tenha que destruir e matar algumas delas para poder sobreviver. Ensine que o dinheiro é mau, porém, um mal necessário nessa sociedade corrupta. Ensine-o a ter amor pelo saber, pelo conhecimento e, que faça uma busca dele constantemente.

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13Ensine

que alguns fatos da vida às vezes são como são e, que ele não vai mudar apenas porque deseja isso. Ensine-o a lidar com as frustrações e decepções da vida como parte dela e não como fruto dos seus erros e escolhas idiotas. Ensine-o a dar importância pra tudo o que ele gosta. Ensine-o a tratar a todos com respeito e carinho e, aqueles que ele gostar de verdade com admiração, amor e ternura, não importando o tratamento que receba de volta. Ensine que o trabalho é uma coisa boa, que faz bem e quando se faz algo que se gosta como profissão é a melhor coisa do mundo. Ensine que tudo aquilo que não o mata, o torna mais forte. Ensine-o a tratar da saúde do corpo e que ela é importante. Se todas as lições falharam e você não haver adestrado corretamente o seu ser humano, você não pode jogá-lo fora. Reaproveitamento e a troca são altamente recomendados nesses casos, sendo farta a oferta de postos de troca de seres humanos [mal] adestrados nos mercados, baladas e outros aglomerados.

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Os possíveis efeitos colaterais dessas lições incluem: Depressão, ao se dar conta de que o amor não existe e que é apenas uma significação emotiva pra alguns instintos primitivos de todo ser humano, tais como sobrevivência, agrupamento, reprodução e perpetuação da espécie. Ao perceber que Deus não existe e que, se existe não é nem um pouco bom, sendo apenas um consolo para todo ser humano se apoiar quando as coisas estão difíceis à beça. Incompreensão e revolta, ao se dar conta de que as pessoas na sua maioria não são boas e que o bem nem sempre vence o mal. Ao perceber que todo o [bom] tratamento que dá a elas pode não ser recíproco e que muito sofrimento virá dessa constatação. Ao se dar conta de que todas as decepções e frustrações são fruto das suas escolhas idiotas, não parte da vida de cada um. Que o seu trabalho, mesmo sendo perfeito, pode ser um constante inferno e que pode te fazer muito infeliz, mesmo sendo uma coisa que ame fazer. Ao se dar conta de que tudo o mata, mesmo que seja lentamente. Para este produto não temos uma central de relacionamento, reclamações e devoluções, já que há inúmeras fábricas independentes e este produto não é patenteado e é produzido à revelia. Recomendo que ao fazer uso de um ser humano, que leia atentamente este manual e entenda que, o risco é todo seu e não me responsabilizo por seu mau uso. 31


Allan Sieber

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