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Desequilíbrio

FotógrafoLuizFerreira

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Andei pensando sobre o desequilíbrio e me senti um tanto quanto inquieto. Se o desequilíbrio é o oposto do equilíbrio, então é ele que nos faz andar. O desequilíbrio entre o que achamos do mundo e o que o mundo nos apresenta a cada dia nos afeta as certezas. Estarmos equilibrados significa imobilidade. Pelo menos foi a conclusão a que cheguei pensando em meio à inquietude. E a minha inquietude vem do desiquilíbrio. Depois, pensando mais ainda, me certifiquei que a fotografia não é mesmo o tempo congelado, porque a fotografia me inquieta. E me inquieta porque um recorte de tempo retirado de seu contexto me desiquilibra, portanto nada tendo a ver com tempo congelado, ou alguma coisa assim.

E continuando a pensar, tem mais do que tempo envolvido, tem sensações que nos remetem de volta, não a um passado que nos espera para ser revivido, mas a um novo passado a ser construído. Porque o passado, no máximo, é para ser relido, não dá para revivê-lo. E essa releitura é como o resgate de seu legado. E comecei a delirar que o passado relido é mais uma das consequências do passado vivido. E insistindo em pensar, comecei a achar que o delírio em que me encontrava era fruto do desequilíbrio em que me metera ao começar a pensar.

Pensei tanto, cá com meus botões, que me deu vontade de sair e fotografar. Adicionar mais recortes dissociados do tempo que eles fingem representar. Criar um quebracabeça de peças quase insuportavelmente embaralhadas para passar o tempo que não tenho mais. Confundo ilusões com delírios e me perco no tempo. Então faço da vontade ação e saio para fotografar, brincando de reter o tempo. Colecionando fotogramas e construindo memórias que já não serão as mesmas quando forem finalmente relidas. Serão fotografias, serão um novo passado a ser construído.

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