Revista Minerva - Edição 4

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ÍNDICE: Bem-vindo

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PUBLICAÇÃO REVISTA MINERVA

Provérbios da alma 4

EDIÇÃO 4 – ANO 1 – JULHO 2021 https://isabelabarboza4.webnode.com/

Em outras telas 12

@isabelabarbozad O Baú de Shailo 13 EDITORAS CHEFE: ANDRIESE SOTERO

Reaprendendo o passado 17

andriese@gmail.com @andriesesotero

Senta que lá vem história! 18

ISABELA BARBOZA isabelabarboza@hotmail.com

A viagem 26

THAIS VIEIRA thaisvso@outlook.com

Trancado em minha mente 30

@thatisoli_ilustra Balcão Histórico Show 32 TODOS OS DIREITOS RESERVADOS E SOB A RESPONSABILIDADE DOS

Acorrentada 38 AUTORES.

CONTATO:

Crônica de um devaneio 40

contato.revistaminerva@gmail.com

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Bem-vindo

O

escuro também é uma

forma de enxergar. Nem todas as alegrias estão contentes. Existem os risos nos rostos que mentem. A alegria pode ser triste, mas ela não pode permanecer para sempre. Nesta edição, deixamos os espectros englobalizadores da tristeza permanecerem para refletir. Os textos expressam o que no momento atual também nunca deixou de existir.

nossa verdade se abre neste trabalho. A arte da capa feita por uma das nossas editoras-chefes Thais Vieira, traz essa tríplice de sonhos, mas sem perder a realidade a vista. Venha compartilhar os seus lados que se assombram. Se divida por inteiro e seja bemvindo. Sem julgar, sem tentar entender, não precisa nem bater à porta, ela automaticamente se abrirá.

Entre o mundo real e imaginário, sempre haverá uma verdade. E a

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Provérbios da alma ISABELA BARBOZA

Geração Entristecida

Fonte: Google Imagens

Pobre geração entristecida Que os riscos ferem a vida E a vida nem é tão vista Como saída Pra quem só quer sobreviver. Pobre geração de amarras Presa nas velhas garras De senhoras e senhores Que os prontos atores Não estão aptos a receber… E essa geração Sem nome Sem afeto A alegria do pranto é o Predileto E a empatia Palavra de fato É o feto De alguém Que só quer Sobreviver… E no meio do caos da geração entristecida Existem pessoas reunidas Para tornar mais fácil a vida Para aqueles que só querem viver Sem serem obrigados Aos mortos e julgados Sem nenhum pecado 4


Ao firmamento Que os livrem de quaisquer tormentos A reza ainda salva Mas no mundo que se vê Só se salva quem vê Pelos olhos da alma…

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Provérbios da alma ANDRIESE SOTERO

VELHOS RECOMEÇOS

Algo a me perseguir A me pegar pelos pés E me puxar para trás.

Algo a me paralisar A me lembrar de cada erro Não consigo fugir.

Andriese Sotero é editora chefe desta revista.

Eu me que nego a aceitar o fim?

Contato:

Ou você que quer impor a sua vontade? Eu me que nego a me enxergar? Ou você que tampa os meus olhos?

Email: andriese@gmail.com Instagram: @andriesesotero

Eu que estou perdendo? Ou eu que ganhei por tantas vezes escapar?

Sussurros, ecos no silêncio Sombras, mas não há ninguém...

Insônia, por quantas noites Nem lembro qual a última vez

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Que ouvi o silêncio estando sozinho

Nego que segui pelo caminho estreito Mas não que nunca fui por onde eu não quis, Nego todos os enganos, seus!

As luzes da cidade me absorvem Tantas palavras me confundem Me proteja eu mesma das ciladas Das curvas que me afastam de casa.

Sussurros, ecos no silêncio Sombras, não há ninguém...

Algo me traz sempre ao mesmo lugar O começo A estrada é longa e não pode ter somente um fim...

Então, hoje vou a leste do medo A norte da dúvida A oeste do erro Que hoje seja o fim de velhos recomeços.

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A mulher do terminal: ISABELA BARBOZA

De verdade, não sei se acredito que isso possa ser nós, que possa ser eu ou alguém além de mim e alguém além de você ou simplesmente você… As quatro e meia o relógio desperta. Já estava programado esse horário sobre nós. Estamos cansados à beira do precipício abismático. Um dia, eu tentarei colocar o despertador para tocar outrora, mas não há como mudar minha rotina. Eu não quero mudar. Estou cansada de fazer o mesmo e já me acostumei de viver de imaginação, mas o que eu não posso mais é esconder… E eu sei que falar importa. Isso não é o bastante para mostrar. É preciso mostrar depois. Às cinco da manhã, peguei a minha bolsa valiosa e um ônibus, estava indo sentido ao terminal perdido, lá já não havia ninguém. Só a mim. Mesmo assim não havia ninguém. Acredito que havia almas que perambulavam por lá. O ambiente era cinza e cheio de névoa. Causava arrepio na espinha, era gelado. Não sei se mais pelos espíritos ao frio. Minha cabeça doía, era a enxaqueca em absorver a energia de certos ambientes. Que liquidez. Eu estava só, mas será que estava? Havia pessoas em outros lugares, mas ali só existia eu. A cabeça perdida fazia eu me cegar naquele habitat, não tão natural. Sentei no banco. O ônibus não passava logo.

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Uma pena demorar tanto. Que angústia obsoleta… Viver e não saber o que viver… Ouço um grito. Macabro e assustador. Mas não havia ninguém ali. Como pode? Meu coração estava em descompasso. Via-se preso em uma parte de um corpo trombótico. Não sabia o que saber, mas sentia o não sentir. Um cão latiu. Não estou falando do Lúcifer, mas de um cachorro. Ele aproximava o seu latido à medida que vinha em minha direção. Ele podia pular em cima de mim. Era grande e podia me matar. Cheirou minha bolsa. Parecia estar curioso com o que tinha dentro dela. Começou a pedir carinho. O danado só queria carinho. Cão que ladra realmente não morde. Ele estava agitado e parecia querer me convidar a segui-lo. Eu pensei em hesitar, pois ouvi o grito. Mas o grito se aproximava. Era um grito que chamava o pobre cãozinho. De longe vinha um rapaz, com uma estatura maior que a minha. Parecia estar curioso no que se diz respeito a mim. Quando chegou disse: Ah, Baltazar você está aí… Ele se referia ao cachorro que pulava em seu colo. E então disse: Apresente-me a moça, rapaz. E eu disse: Sou Gisália. Ele falou: Prazer, Tom. Não puxou mais nenhuma conversa. Ainda bem. 9


O cachorro cismou com minha bolsa. Ele cheirava, cheirava… Eu dizia: Não há nada para você aí, rapaz… E ele saía e depois voltava a querer saber o que tinha na bolsa. Tom disse: Parece que está muito curioso Bal… E eu disse: Ele é bem bisbilhoteiro. O silêncio se instalou novamente. Meu ônibus estava se aproximando. E eu disse: Tenho que ir, até breve! Ele disse um até breve. Antes de sinalizar para o ônibus, fui pegar minha bolsa. O cachorro parecia ainda estar curioso nela. E dessa última vez, agarrou a bolsa e foi uma tarefa difícil soltar. Algumas pessoas já estavam descendo do ônibus. Eu precisava ir embora, mas o cachorro não deixava a bolsa para mim. A última vez que puxei, por ela já está velha, se rasgou. Dentro havia uma sacola. O cachorro começou a rasgá-la e enquanto isso, eu estava caída, tentando me recompor. Quando o cachorro em instantes desensacou, havia um órgão dentro daquela sacola, era um coração. O Coração que embora não fosse meu de verdade, agora iria me fazer companhia e quanto ao seu dono, ele estava morto, em meu apartamento, há exatamente na hora que o despertador tocou. Foi passional, criminal… Foi amor. Eu o atraí naquela noite, ele não podia me abandonar, iria viajar para muito longe e seu coração não me pertenceria mais. Eu tomei o seu destino junto ao seu coração. O cachorro ainda deixou-o intacto. O seu dono apavorado disse: Assassina! E todos passaram a me ver assustados. Ligaram para a polícia e eu pedi que deixassem o coração junto a mim. Foi difícil de tirar. Eu precisava dele para acalmar o meu coração. Mesmo que acordasse a partir de agora, vendo o sol em outra geometria. Mas só queria o coração… 10


“(…) Devolva meu coração Devolva meu coração Se você não quer mais meu amor Então me devolva meu coração(…)”.

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Em outras telas Fonte: Google Imagens

Audiovisual Jujutsu Kaisen (2018):

Fonte: Google Imagens

Itadori é um estudante comum e normal do ensino médio. Megumi Fushiguro, um feiticeiro de jujutsu, está procurando por um objeto amaldiçoado especial, originado do espírito amaldiçoado mais poderoso da história. Sugestão: Thais Vieira

Meu Pé Esquerdo (1989):

Fonte: Google Imagens

Christy Brown: O menino de uma família humilde de operários irlandeses, que nasceu com paralisia cerebral. Apesar de tetraplégico, um evento milagroso ocorre quando, aos cinco anos, ele demonstra o controle de seu pé esquerdo e usa giz para rabiscar uma palavra no chão. Com coragem, determinação e a ajuda da mãe, Christy, ele supera as limitações físicas e torna-se pintor, poeta e autor. Sugestão: Andriese Sotero

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Na literatura O BAÚ DE SHAILO POR MARCOS DE SÁ

Escritor cearense lança Romance sobre transtorno de ansiedade, depressão e exploração sexual com a Praia de Iracema como cenário. SINOPSE DA OBRA Quando ela pensou ter chegado ao limite, descobriu que ainda havia uma porta a ser aberta. Shailo é uma garota de 20 anos, que procura emprego e tenta seguir em frente sem depender de sua caótica família, até que um suicídio dentro de casa desencadeia uma série de segredos que ela tentou esconder a todo custo. Quando as coisas começam a dar errado, Shailo tenta enfrentar o mundo como sempre fez, mas no seu interior surge um inimigo que desintegra suas expectativas a reduzindo a quase nada. Numa busca frenética por sobrevivência, a garota ainda se depara com um misterioso desaparecimento, onde só ela poderia se importar a ponto de enfrentar a si mesma. Enquanto corre pelo mundo, desafia seus traumas e o preconceito Livro: https://amzn.to/3fLnbw4 de pessoas que lhe cercam, mas também encontra abrigo e compaixão. O velho baú mistério que sofrimento, desvendá-lo demais.

Livro: https://amzn.to/3fLnbw4

de madeira guarda um poderá resgatá-la de seu mas alguém precisa antes que seja tarde 13


E

m 2021, Marcos assinou um contrato com a Editora Flyve,

com sede em Minas Gerais. A pré-venda está prevista para julho de 2021 através do site da editora. A obra é um romance contemporâneo (drama) que tem como pano de fundo a periferia da Praia de Iracema, Fortaleza CE, escondida entre prédios luxuosos e os cartões postais mundialmente conhecidos. Apesar de ser uma ficção cheia de ações, a obra aborda temas reais e presentes como o transtorno de ansiedade generalizada (O Brasil foi apontado no ranking mundial como o maior caso entre os jovens), a depressão, o suicídio, a exploração sexual de adolescentes, entre outros temas que ressaltam questões sociais como a falta de recursos que dificultam o tratamento e a adequada sobrevivência. Apesar de não ser uma história didática, a obra é sensível e destinada a qualquer leitor que gosta do gênero, mas pode ser agregadora aos que passam por conflitos semelhantes ao dos personagens. O livro também ressalta sentimentos nobres como amizades verdadeiras, empatia e sonhos. O autor foi diagnosticado em 2016 com TAG, o que também lhe dar propriedade para abordar do assunto, porém fez um trabalho intenso de pesquisa com outras experiências para trazer o máximo de verossimilhança à narrativa. Não se trata de uma biografia, mas uma história cheia de ações de tirar o fôlego, com suspense, mistério e sobrevivência.

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Sobre o autor: Marcos de Sá, nasceu em Fortaleza, Brasil, em 1986. É escritor de romance contemporâneo, e seus livros de lançamento são “Reciclável – Acomode-se ou Recicle-se” (Contemplado no VIII Edital das Artes de Fortaleza) e “O Baú de Shailo”, também escreveu um livro infanto-juvenil intitulado “Rotulândia”, além de antologias, crônicas e matérias para a coluna Desabafo & Discussões da Revista Entre Poetas e Poesias. Nos últimos três anos tem se dedicado mais diretamente à trabalhos voluntários em instituições, no qual atuou como professor de língua portuguesa, contador de histórias e trabalhos educacionais com crianças e adolescentes da comunidade do Bom Jardim, periferia de Fortaleza, onde reside desde os 11 anos de idade. Essa experiência o tornou um educador social e idealizador de projetos voltados à leitura, como o “Periferia que lê”, “Leitor Book Brasil” e “Prêmio Book Brasil”. Na área artística, antes de se dedicar a escrita, participou da dramaturgia de peças teatrais como: “As 7 farsas da enganação” e “0,45 centavos a peça” dirigidas por renomados diretores como Pedro Gonçalves e Murillo Ramos, respectivamente. Além de participar da escrita também atuou nas mesmas como ator e cantor. Em outras apenas atuou, entre elas estão: “Labirinto”, “A Farsa da mal amada” e “A decisão”, todas produzidas através do Centro Cultural do Bom Jardim. Estudou teatro e dramaturgia nos anos de 1998, 2017 a 2019. E hoje, dedica-se às suas obras literárias e projetos sociais. LINKS: Autor: https://linktr.ee/eu_marcosdesa https://www.instagram.com/eu_marcosdesa/ Livro: https://amzn.to/3fLnbw4 https://www.instagram.com/obaudeshailo/´

Contato: (85) 98597-3199 / WhatsApp e celular E-mail: trechosdeumamarca@gmail.com

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Músicas E algumas respectivas escolas literárias Trovadorismo:

Fonte: Google Imagens

As canções trovadoras são divididas em: Satíricas: Cantigas de Maldizer e Cantigas de Escárnio Líricas: Cantigas de Amor e Cantigas de Amigo O trovadorismo dedicou suas canções às damas da sociedade, toda sua devoção se voltava às mulheres.

Aqui na literatura PT expoentes do estilo foram:

os

maiores

Dom Dinis, português, 1261-1325; Fernão Rodrigues de Calheiros, português, século XIII; João Garcia de Guilhade, português, século XIII; Também é importante ressaltar que o movimento não existiu no Brasil, pois ocorreu na Idade Média. O Brasil viria a ser colonizado no século XVI.

O trovadorismo também traz características como: - O primeiro da Língua Portuguesa e teve como produção literária as chamadas cantigas; - A relação entre a poesia e a música se fundiu no estilo; - Era dividido em dois gêneros: lírico e satírico; - Tratavam de amor e de veneração ao ser amado e de amizade; Usavam elementos da natureza para expressar sentimentos e refletiam o modo de vida da aristocracia feudal; - Ambiguidade e crítica social também era presente.

Outras canções sobre o tema: Volta pra mim - Roupa Nova; Esse Cara - Caetano Veloso; Sogra Boa e Sogra Ruim – Cajuzinho; Marília Mendonça Ausência;

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Reaprendendo o passado: Quais palavras só existem em português? Um spoiler: Vai muito além de ‘saudade’.

Miguel de Cervantes costumava dizer que o português brasileiro é “doce e agradável, a língua mais sonora do mundo”. Contrariando bastante a teoria do juntos & shallow now. Separamos algumas palavras exclusivas da língua portuguesa, vem ver!

Cafuné: Aquele afago e mimo que fazem na cabeça. Calorento: Porque não há melhor palavra para descrever o fogo desse país. Caprichar: O que é feito com muito esmero, primor. Gambiarra: Aquele jeitinho de consertar as coisas que só o brasileiro sabe. Malandro: Sobre quem é espertinho até demais. Quentinha: Aquela comida num precinho daora. Xodó: Aquele envolvimento amoroso. Coxinha: O petisco que nenhum outro país supera. Cumbuca: Aquela vasilha redondinha que serve pra tudo. Futevôlei: A mistura do futebol e do vôlei. Desbunde: Quem fica deslumbrando ou extasiado. Tapioca: A melhor comida do mundo.

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Senta que lá vem história! Por Laura Fonte: Google Imagens

Aluísio de Azevedo, numa comic con do mundo dos mortos, apresenta o seu conto nem tão conhecido, mas que é celebre. - Neste precursor conto do mundo literário brasileiro, chamado “Demônios”, ao retratar a ficção científica no naturalismo/realismo, o fantástico aqui, fica por toda a conta do suspense. Deixo o leitor sofrer até a última gota. O microfone também é passado para uma das mulheres belas da mesa: - Oi, gente! Sou eu, a Laura. Uma das personagens desse conto. Vi que querem saber como foi a minha entrega e lhes digo: Foi a melhor possível. O bobão do meu parceiro de cena era completamente atordoado. Logo de início, quando tudo fica escuro, para causar uma aflição e distopia no leitor, tivemos que fazer a cena diversas vezes, já que ele sempre se esquecia de narrar o fato. Leitor em primeira pessoa é sempre lerdo! – Laura pôs a mão na cabeça e começou a murmurar no microfone. Os olhos arregalados da personagem faziam a galera rachar o bico. Ela era bem versátil. Aluísio completou: Fora que aquele retrato que o dito cujo fez era bem mal feito, né? Lau merecia muito mais! Toda a plateia se pôs a rir. - E também o bordão dele “Oh... Que singular, muito singular!” – Laura imita-o e completa: Já encheu minha paciência! Ela também se lembra: Ele me via morta e dizia “Laura, oh minha Laura...” ah, vá... Coisa de escritor forçado, com todo o respeito ao Lulu, até porque me refiro ao meu parceiro de cena. - Mas não é só isso Lau, a gente dá uma trollada legal no leitor, não vamos dar spoiler, né?

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-Não mesmo, se quiserem saber o que acontece nessa história maravilhosa, terão de ler! - Mas, e cadê o parceiro de cena? – Pergunta uma das repórteres da conferência. Aluísio e Laura piscam os olhos um para o outro e assim, percebe-se o quanto eram danadinhos no suspense. Afinal, para vender aquele peixe não seria necessário aprender a pescar, era só cair na rede, ou melhor, na lábia. - Sigam nossa bad trip. – Completaram.

Para ler o conto em PDF, clique aqui: http://www.dominiopub lico.gov.br/download/te xto/bi000025.pdf

Aluísio de Azevedo:

Fonte: Google Imagens

Aluísio Tancredo Gonçalves de Azevedo nasceu em São Luís, Maranhão, no dia 14 de abril de 1857 (18571913). Foi um escritor brasileiro. "O Mulato" foi o romance que iniciou o Movimento Naturalista no Brasil. Foi também caricaturista, jornalista e diplomata. É membro fundador da cadeira nº. 4 da Academia Brasileira de Letras. Fonte: EBiografia.

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A identidade da Bruxa do Oeste: ISABELA BARBOZA

E

ra uma vez, depois de

muito tempo de um final nem tão feliz, Samira mais conhecida como a Bruxa do Oeste. Ela acabara de mudar seu nome, antes conhecida como Almira, para poder circular pela cidade, mas ainda tinha traumas de sua antiga geolocalização. Agora vivia no Norte da cidade, geralmente era lá que se localizava um estilo de vida mais simples e o lugar que mais parecia chover. Ao sair do cartório, recém-nomeada, com um guarda-chuva de cor sombreada, alguém lhe chamou por: Senhora! Ela parecia não entender, mas tinha toda a certeza. Aquele jamais seria seu pronome de tratamento naquele momento, ora essa... Não tinha sequer uma ruga, imagina ser chamada de senhora?! A voz feminina passou a insistir: Senhora, senhora, senhoraaaa! Ela virou-se em direção à voz e com um semblante confuso, perguntou: Está me chamando? - Claro. Desculpe-me gritar, mas eu preciso que me conte a versão da sua história. - Que história? - Mas você não é a Bruxa do Oeste? E ela não teve como negar. Mesmo que mudasse de nome, isso seria impossível. Então, a menina a chamou para um recinto confortável.

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Que tinha cadeiras bem macias e ar-condicionado. E havia uma janela de vidro. Dava ainda para ver o tempo lá fora. A moça resolveu se apresentar, ela se chamava Rebeca e tinha um canal no YouTube. - Muito prazer, Rebeca. O que quer que eu conte? - Absolutamente tudo. Como foi para você quando a Dorothy lhe jogou um balde de água fria? - Foi absolutamente constrangedor, mas eu sinto que também errei. Ela era só uma menina que queria voltar para casa. Eu não devia ter atrapalhado. - Não sente mágoas da Dorothy? - Não, claro que não. - Quer dizer que você não cancelaria a Dorothy? - Absolutamente não cancelaria ninguém. E jamais gostaria que me cancelassem. - Mas ela errou? - E eu também! Mas isso não significa que ela não mereça uma nova chance e eu também. Na verdade, acho que quanto mais a gente erra, mais a gente aprende. Se não existissem os vilões, como os mocinhos teriam algum conflito em suas histórias? Não tem pra quê cancelar nada ou ninguém. Essa sociedade está doente. Queira Oz um dia poder nos aceitar novamente pelo jeito que somos. - Não acredito. Com esse papo de “não cancelar ninguém”, eu não vou ter o meu engajamento. Justo hoje que estava procurando uma coisa boa para o meu canal, aí vi você ali no cartório, achei estranho porque você quase não sai de casa e daí, me aparece assim, toda reformulada e sem um pingo de “a vingança é um prato que se come frio”... - Mas não podemos ser assim, Rebeca. As coisas são bem mais que entre o bom e o ruim. As pessoas têm seus diversos arquétipos. Não só os personagens. Vamos ver você, o que faria na minha situação? - Eu não sei! Porque eu não vivi nada disso. Eu nem era nascida quando tudo aconteceu... - Então, por que você quer me julgar se não sabe exatamente como se comportaria se estivesse em meu lugar? 21


- Mas não é isso. Eu só queria um conteúdo de qualidade! - Ok. Que tal ler “O Mágico de Oz”? - Eu não gosto de ler. Isso é chato. Eu quero um celular e qualquer coisa mais fácil para perder o meu tempo. - Ok, Rebeca. Se acha que ler a obra do Criador é tão perda de tempo, isso já diz muito mais sobre você do que sobre mim. Samira pegou sua bolsa. Saiu devagar. No centro do Oeste, naquele mesmo dia, ela teria uma entrevista de emprego. Antes que pudesse sair do local, houve muitos fotógrafos e repórteres perguntando: - Por que a mudança de nome, Almira, quer dizer, Samira? Talvez fosse perda de tempo responder naquele momento. As pessoas estavam tão vidradas em notícias de furo que nada mais era tão inédito e inovador. O melhor que Samira tomou em sua decisão, foi pegar seu guarda-chuva, ir até o ponto de táxi mais próximo e se dirigir ao Oeste. De qualquer forma, ela seria julgada, mas o mais importante era que ela não daria ouvidos e continuaria se desconstruindo de todo um passado de vilanias, para isso, o primeiro passo foi usar roupas inteiramente em tons pastéis, isso chamaria menos atenção e traria um ar mais sofisticado e, ao mesmo tempo, era como se ela estivesse estiada no temporal de seu próprio passado. Se ontem foi sol e hoje o tempo seria chuvoso, isso também diria a respeito do amanhã, pois, sempre haverá uma mudança no tempo e no espaço para que nada seja da mesma forma que antes. E assim, Samira tomou um novo rumo na vida. A Almira ainda estava lá dentro dela e, graças a uma terapia feita ainda na época de Freud, com acompanhamento de Jung, ela pôde se surpreender, quando olhou para si mesma e despertou suas atitudes mais positivas, se mudando de uma zona para outra, notando em cada coisa seus mais diferentes aspectos. De uma coisa ela tinha certeza: Ela sempre foi bem mais do que ela sabia. Quanto à Rebeca, estava agora produzindo mais um conteúdo monótono para gerar engajamento. E provavelmente, não demoraria muito para pensar em começar a guardar um pouco de si mesma e melhorar seu conteúdo em tempo.

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Este texto está disponível na Antologia “Meus Contos de Falhas”. Link: https://www.amazon.com.br/gp/product/B08Z4FQ8J8/ref=dbs_a_def_ rwt_bibl_vppi_i2

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Do que você se lembra? ISABELA BARBOZA

H

avia uma sala muito silenciosa. Em uma casa abandonada sobre

um lugar cheio de árvores. Sexta-feira indicou que era um dia para relaxar, mas ei... Fui passear, dei passos longos. Corri, corri e não cheguei ao local. Minha vida começou a mudar ali. Eu caí em um buraco até uma árvore. Estava frio lá. Não me lembro do que fiz para chegar lá. Meus pés estão cheios de areia. A areia estava fria. Tinha vermes. Eu me senti como Alice, porque aparentemente aquele lugar era maravilhoso, mas ei... Eu tentei escalar o buraco. Mas não atingi a superfície. Algo estava mais alto do que imaginava. Uma sombra veio. Ela olhou nos meus olhos e respondendo disse: — O que você está fazendo? Minha pele estava sensível. Isso fez tremer. Eu não vi ninguém. Mas eu estava olhando para a silhueta dela. Parece ser vestida com um vestido de cetim que flutuava quando o vento ia à direção do pano leve. A voz sussurrou, estendendo a mão: Venha... Venha! Minha percepção começou a mudar. Estava tocando? Eu lentamente tomei coragem para segurar a mão da voz sussurrante enquanto ela conversava comigo, dizendo: Não tenha medo, vamos lá ... Eu agarrei sua mão e ela esticou meus pés. Tive que sair. Quando saí, a voz sussurrante desapareceu. Já era noite. Comecei a ficar tonta. Caí no chão. Quando acordei, estava em um quarto estranho. Eu vi muitas luzes. Tudo estava branco. Um homem com longas vestes brancas apareceu, parecendo um médico. — O que você lembra garota? — o homem pergunta.

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— Não sei. Talvez eu tenha que falar sobre como parei por aqui. — Eu respondi. — Hoje é seu aniversário? — Sim, mas... Quando ele ia me levar disse: Sente-se! Não tenha pressa. Ele pegou meu braço e respondeu: Por que você está sempre atrasada? O que você não lembra? — Sobre exatamente como estou aqui... — Mas você não lembra como foi? — Não... Mas... O que há de errado em me responder? — Para estar aqui você precisa saber que se lembra... — Mas não sei... — Claro que você veio aqui, sem dor. Mas nada acontece, aqui é a terra dos mortos. Toda dor física existe apenas na vida. A morte causa o esquecimento de que é a dor mais profunda. Então, do que você se lembra? — Eu sou a Alice? E o homem vestido de branco respondeu: O sonho repetido finalmente acabou.

Disponível em: Meus Contos de Falhas; Isabela Barboza, 2021, Amazon Kindle.

Link: https://www.amazon.com.br/gp/product/B08Z4FQ8J8/ ref=dbs_a_def_rwt_bibl_vppi_i0

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Crônica: A viagem Carlos Eduardo

"F

inalmente vou poder me mudar! Depois de alguns anos

procurando por um lugar bom, tranquilo, finalmente achei! Não sei ao certo se é como penso que é lá, nenhum dos moradores não falam as suas experiências. Ahh! Como é boa a sensação de mudança e pela primeira vez eu ia fazer o que eu sempre quis. A parte ruim é que além de ir para um lugar longe, não vou voltar pra minha antiga casa de novo. Mas antes de partir preciso me despedir de quem amo, afinal ninguém se muda sem antes dar um abraço bem apertado em quem se ama. Aos meus amigos, uma party intimista com umas comidinhas e bebidas. No final, todo mundo alcoolizado, eu também (lógico), falei de cada um, suas qualidades e o quanto marcaram minha vida com momentos ímpares! Ah, como vou sentir falta dos meus amigos! Para minha família, um jantar, uma música ambiente e muita conversa jogada fora. Risos e muita discussão sobre o atual governo, que para uns é incrível e para mim e os outros, um verdadeiro picadeiro. Minha família é cheia de altos e baixos, como qualquer outra, mas foi com eles que aprendi muito sobre a vida. Sou muito grato. Para minha mãe, é gratidão que não cabe na própria palavra. Ela me ensinou tudo sem ao menos sentar pra me dizer. Eu sempre fui de analisar bem as pessoas e, convivendo com ela, analisei muito. Ela é muito importante para mim e tenho certeza que ela sim, vai sentir saudades e é mútuo. Ela todo dia me mostrava como ser uma pessoa boa e generosa. Ela é tudo o que eu sempre quis ser. Talvez eu seja 35% igual ela, o que já é muito pra mim, porque essa mulher é deus na minha vida e eu amo muito ser filho dela! E as vésperas da minha partida, em meu celular havia uma ligação perdida. Resolvi retornar e perguntaram pelo meu nome, confirmei minha identidade e disseram que eu fui selecionado através da entrevista de emprego. Por dentro eu saltitava de alegria! "Finalmente, depois de um ano e meio, consegui o emprego que eu sempre quis!". Por fora, eu sabia que não podia mais porque eu já estava de mudança e para onde eu iria não podia trabalhar no emprego dos meus sonhos e 26


muito desapontado, recusei a proposta. Durante a noite, mal consegui dormir. Era a ansiedade misturada com o medo e o ânimo de finalmente poder ter meu próprio cantinho despertavam meu pouco sono que sentia. Então, pela madrugada, fiz um sanduíche, liguei a TV e vi alguns episódios da minha série preferida. Era cinco da manhã, não aguentei tanto sono acumulado e acabei dormindo. Acordei as três da tarde, quase em cima da hora de eu ir. Já estava tudo pronto, já havia me despedido de todos a quem eu amava. Todos em casa já estavam no trabalho e antes deles chegarem, liguei minha caixinha de som no máximo, botei a música que eu mais gostava e enquanto tomava banho, eu chorava pensando no quanto eu iria sentir saudades daquela minha rotina. Sai do banho disposto a realizar minha mudança e mesmo sabendo que podia voltar atrás, eu já tinha tomado minha decisão e meu orgulho não me deixaria desistir agora. Essa seria a viagem mais marcante que eu ia fazer e desistir não entrou para o plano. Minha passagem já estava no quarto e com a música ligada fechei a porta e parti." Josué Ferreira, 35 anos, cometeu suicídio na tarde de quintafeira, em sua casa. Segundo relato de amigos e familiares, ele havia dito que faria uma viagem e que queria despedir-se antes de sua ida. Ele deixa para trás seus familiares e amigos a quem disse que tanto ama em uma carta escrita deixada por ele em cima de sua cama. "O mundo é mau e ele era um homem bom demais pra esse mundo", diz sua mãe em entrevista para o jornal local.

Sobre o autor: Carlos Eduardo tem 22 anos, é natural de São Luís – Maranhão. Escreve contos e poemas como hobby. Instagram: @czobrist. e-mail: caresodaco@gmail.com

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O clube das garotas tristes: ISABELA BARBOZA Vagarosamente eu tenho lembranças. Lembranças da minha infância e da canção de ninar que tocava logo perto da minha casa. Lembrança da bailarina que dançava perto da minha casa. Lembranças do vizinho que fazia barulho próximo a minha casa. Lembranças… Voluptuosamente eu sentia as badaladas da meia-noite marcarem o início. E assim tudo começou. Insultuosamente eu ouvia a minha voz baixa tentar falar algo, mas eles não ouviam. E quando eu tentei fugir, eles me observaram. Trancaram-me e me puderam em cima de um muro com espinhos. Independentemente de qual é a sua crença, a sua história. Eu só peço respeito pela minha e que leia até o fim. -Silêncio! -A próxima vítima está fugindo. -Ela tem que ser soterrada. -E Debaixo de seus próprios medos. Assim eles diziam… A terra estava fria. Ela sentia. Ela soltou um grito desesperador. As unhas arranharam o solo. E assim se transformou em areia. Minutos depois, ouviu as pancadas de pés.

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E gritou fortemente. Que do chão ao céu se ouviu. Seu corpo pedia ajuda e uma criança a ouviu.

A menina cavou incansavelmente com as mãos a maior parte de terra que pôde e chamou as outras crianças para ajudar. A certeza de que um zumbi não existiria ali, era o que podia acalmar. O vestido da moça estava sujo. Ela estava gelada e com fome. A batida de botas tocou o solo e a fizeram perguntar seu nome, mas a conheceram então por “garota triste”. E a garota triste em um dito pediu, para aquelas meninas ajudarem-na a fugir. As meninas escoteiras a guiaram pelo caminho mais longo da floresta. E lhe deram abrigo em uma casa próxima do campo. Ela comeu maçãs e tomou água. E rebatizou todas as meninas daquela casa como “clube das garotas tristes”. Naquele dia, ao soar as badaladas da meia-noite, o clube das garotas tristes havia se recolhido. A vizinha bailarina não mais dançava. O vizinho que fazia barulho não mais o fazia. Compulsivamente gritos se ouviram. Ninguém nada o fez. Longe daquele clube existia outra garota triste prestes a ser enterrada e dessa vez, não seria possível salvá-la.

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(trancado em minha mente) Por: ANDRIESE SOTERO

Eu estou ouvindo vozes Um quadro na parede Chamando meu nome A imagem sem face Com a alma desbotada e empobrecida. Uma página em branco

Eu estou sem memórias Será que tenho uma história? Qual minha origem? Do que gosto, por que visto isso Vou a esses lugares, pago pra sorrir?

Faço perguntas, qual a respostas? Será errado, e o que é certo?

Sem saída Trancado em minha mente

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Estão me mantendo salvo de um mundo Ou preso pra me punir?

Eu estou ouvindo vozes Um quadro na parede Chamando meu nome Sem saída, Trancado em minha mente Estão me mantendo a salvo de um mundo ou preso?

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O passado que revisita o presente: Cecília Gosson A fase mais estranha da vida que parece atormentar, com certeza são os vinte e poucos anos. Você descobre que não é o mesmo para ser considerado naquela década “teen”, principalmente quando está prestes a fazer trinta anos e assim como a Jenna, do filme “De repente Trinta”, ter trinta anos não é como magia e sim, é preciso muita ação para melhorar a cada dia a sua situação. Talvez apareçam as primeiras rugas e as drogas das espinhas ainda surgem no rosto, mesmo que haja mil adstringentes ou sabonetes para acne. Não existe uma dieta que cause um milagre para você ter o corpo que sempre desejou porque viu em uma revista. A gente sabe que a modelo da revista é uma mentira e possui inúmeros tratamentos naquela foto para estar diva e maravilhosa. Sua celulite está ali para provar que você é um ser humano e possui marcas, furos e etc na pele. É o braile que só você consegue ler e entender explicando que o seu metabolismo não é mais o mesmo. O primeiro cabelo branco, a mudança repentina de humor, seja ela a idosa ou a jovem que habita em um só corpo, pedindo socorro ou talvez calma. Sua atenção está redobrada para pagar as contas do fim do mês, porque percebe que a memória não anda lá essas coisas e num papo com adolescentes, você percebe que suas influências famosas não estão mais em tanta evidência: A revista Capricho, Sandy e Junior, Rouge e Spice Girls... A revista Capricho nem existe mais em bancas, só digital. Que evolução! Os seus paqueras ou crushes estão na casa dos quarenta ou quase lá, tipo o Leonardo Di Caprio, Fábio Assunção, Brad Pitt, Rodrigo Santoro e muitos outros coroas enxutos. O seu dinheiro já não compra muitas coisas e com o dólar aumentando, adeus o sonho de conhecer a Disney. A Barbie que antes era “padronizada”, agora possui vários estilos, para todos os gostos e tamanhos. Exemplando a representatividade. Porque o padrão não é só ser de um único jeito. Você ainda assiste Friends, mas a idade não é a mesma, mesmo assim, ainda se identifica com cada personagem, só que agora entendendo bastante o que antes era engraçado e torna-se ainda 33


engraçado, mas com uma dose de “isso é muito verdade”. Você se lembra dos VJ da MTV e descobre que ela nem existe mais na TV aberta e que sua programação mudou totalmente. As Patricinhas de Beverly Hills ainda continua na sua lista de filmes preferidos, mas você já tem outro olhar sobre o filme e continua apontando o que poderia mudar para o enredo ficar a sua cara, mas outros filmes trashes da sua infância não passam a ter o menor sentido depois que cresce, você percebe que tem muita coisa errada e se pergunta: Como eu pude gostar disso? Bate uma saudade enorme de outras redes sociais como Orkut e MSN, enquanto que a briga para se manter atualizada persiste em acompanhar certos jovens em diversas redes sociais. Não existia tanto ego nas redes sociais antigas, até uma foto descabelada era motivo de mostrar o quanto você estava sexy e ir a uma Lan House era a coisa mais ostentadora que você podia fazer nos seus dias sociais, era o melhor rolê para marcar. A Fátima Bernardes não apresenta mais jornal e trocou o “boa noite” pelo “bom dia” e a Xuxa estava na Record, não apresentando um programa infantil, mas algo adulto e para a família. Nas amizades algumas até podem fazer efeito, outras nem tanto. Algumas coisas ficaram eternamente marcadas para a vida toda que parece que o novo desta década fica totalmente sem sentido. Os felizes para sempre era a prova de amor maior, enquanto que no hoje você percebe que o amor próprio é o melhor que alguém pode ter para encarar a vida. O futuro daquela adolescente sonhadora parece que não cumpriu com o trato. Ela não se tornou milionária ou famosa, mas descobriu que a palavra sucesso se amplia ao dizer que fazer o que gosta, realmente a realiza. Provavelmente, aquele prêmio da loteria ainda nem sequer ganhou, mas o que resta agora é jogar. E apesar de todos os dramas dessa fase, o essencial é imaginar que tudo o que aconteceu é um processo de aprendizado que nos torna melhores. Na verdade, a vida é um constante aprendizado em que o passado nos revisita trazendo boas novas ao presente. Link para o ebook: https://www.amazon.com.br/gp/product/B07MMZRFVX/ref =dbs_a_def_rwt_hsch_vapi_tkin_p1_i4

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EPÍSTOLA DE UMA ESTAGIÁRIA EM CHAMA OU NAS ÁGUAS 28 de março de qualquer ano

Caro terapeuta imaginário, Todos os dias lemos o jornal. Mas nós entendemos o que se passa na cabeça de um jornalista? Ou melhor, na cabeça de uma estagiária de jornalismo? Sempre faço minhas atividades, quando produzo meus escritos, ouço “choram as rosas”. Claro, os jovens não sabem do que estou falando, mas sou de uma geração que assistia aos videocassetes verdes do Rei Leão. Isso me classifica como uma velha. Meu chefe acha que eu sou uma menina, que ele pode falar como a "Super Nanny": “Você termina sua lição de casa, eu deixo você ir dar um passeio”. Essa vida composta de um 'behaviorismo' escravo, onde só posso trabalhar e trabalhar, para ganhar as "recompensas" é quase o fim da motivação para escrever. Porque eu faço tudo isso, trabalho de forma voluntária, ainda estou na faculdade e não sei, parece que o curso não é como eu imaginava. Se o chefe fala como a babá famosa da TV, os professores, poucos, falam que: Estamos todos no mesmo barco, vivendo as mesmas realidades. Acho que eles têm um Titanic e os aprendizes não têm nenhum barco. Estamos nos motores da nave, provavelmente esperando que algum Jack nos salve.

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E sim, tem quem salva, só Jesus e às vezes os monitores, que acompanham nosso trabalho e ajudam com ideias ou tarefas. Eles ainda estão lá, segurando nossas mãos e dizendo: Espere um pouco mais. É assim que Deus se autodenomina o anjo mais perfeito para dizer que é preciso ter fé em algo ou em alguém. Quando pareço um pouco nervosa, frustrada, o chefe diz: Ligo para você amanhã e discutiremos algo. Eu fico irada. Que vida de cão! E quando na vida peço instruções, digo: Você desce essa rua direto e no final, na porta com a placa escrita "oportunidade para um estagiária", você olha e vira à esquerda. Vá lá. Os "bons profissionais" estão sempre presentes. Não há melhor conselho para dar como uma "coach de iniciantes". Porque a terra gira em torno do sol. E todos os dias você se imagina sentado em uma cadeira, com um copo d'água (é melhor pro seu corpo), dizendo: Olhe para mim, eu consegui! Eu fui promovida! Mas a realidade não é o que queremos. Ela é cruel. Não estamos no mesmo barco, reconheça isso e você estará apto para a sua posição desde o início: Sofrer. Porque é assim quando a verdade é dita. A carga das duras realidades é assim: Minha limonada não foi feita com limão e sim, com lágrimas. Algo como "lago dos cisnes". Eu sou Odette, não sou dançarina, ainda danço de acordo com a música. Verdadeiramente choram as rosas, os estagiários... E faço sarcasmos, ironias... Mas o amor pela profissão escolhida me deixa vivo e não sóbrio.

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Amém. Obrigada. Cordialmente, Cecília Goss, Uma jornalista em chamas ou nas águas após a formatura, é claro.

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Acorrentada WANESSA MAIA

S

into-me acorrentada. As minhas

mãos estão atadas. Os pés parecem fixos em um só lugar, e por mais que eu me esforce, por mais que eu tente me mover, não consigo. Eu sinto como se toda a minha vida estivesse escrita em um pedaço de papel mesquinho, nem um pouco misterioso. Escrita com palavras simples, sem enfeites e complexos, assim como a minha vivência. Se eu tenho planos? Sou cheia deles, mas às vezes parece que permanecer nesse contexto é o suficiente. Sinto-me presa pelas escolhas que fiz e pelas que não fiz. Sinto-me acorrentada pelos sonhos que criei ou que criaram para mim, e pelo medo que me impede de correr atrás. Eu sei que passo a imagem de grande autoconfiança, mas nem sempre é assim. Às vezes me pego pensando nos planos que fiz, que ainda faço, e nas impossibilidades. Coloco empecilhos por medo. Colocar dificuldade no caminho é uma maneira de travar o passo, impedir o caminhar, evitar o risco, não sair do comodismo. É assim que eu me sinto. Sinto-me listando dificuldades para não me arriscar, para não desafiarme, para permanecer onde estou, não porque eu gosto tanto de estar aqui, mas por receio de encarar novas pessoas, viver novos ciclos, respirar novos ares, obter novas experiências. Estou acorrentada pelo medo. O medo do desconhecido. O medo de errar, de tropeçar, de cair. E tudo isso me deixa ainda mais temerosa, com medo de passar toda a vida paralisada e não viver de verdade.

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Sobre Wanessa: Wanessa Maia, professora, Licenciada em Geografia, PósGraduanda em Africanidades e Cultura Afro-Brasileira, escritora, poeta. Autora de dois livros "Escritos W.Maia" e "Força e Imensidão". Participação em duas antologias poéticas. Compartilha os seus escritos no IG @escritos_wmaia.

Contato: IG: @escritos_wmaia https://www.instagram.com/escritos_wmaia/

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Email: wanessamaia01@gmail.com

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Crônica de devaneio

um

THAIS VIEIRA

E

ra uma espécie de shopping, mas

não desses comuns fechados. Tinha vários aclives e declives, lugares abertos e fechados. Inclusive, em alguns corredores, de um lado se via muitas lojas e do outro uma imensidão de água, como se o shopping desaguasse no mar. Desse lado havia uma espécie de escada para descer e se banhar, mas antes dela, parecia um precipício onde a morte seria certa. O lugar todo tinha um aspecto sombrio, mesmo sendo belo, estava tarde e o crepúsculo tocava o chão, estranhamente parecia que a luz do local tinha dificuldade em alcançar o piso de mármore imperador, tão frio e nítido. Cada sutileza do ambiente preparava para o que aconteceria, mas os tolos nunca percebem o alvo que carregam em sua cabeça.

Na entrada, antes de tudo acontecer, me despedi e entrei nesse mundo escondido. Caminhei admirada com a riqueza exposta nas vitrines. Meu objetivo era apenas mudar um pouco o estilo. Um corpo robusto cheio de autenticidade, que estranhamente carregava roupas adequadas para aquele dia. Nos pés, um calçado para uma fuga repentina, as pernas cobertas com uma calça comum cheia de desgastes, como aquele dia seria e, uma blusa longa solta para esconder a vergonha que sentia de viver em um corpo não aceito. Por fim, alguns acessórios para tentar dar um brilho naquela alma trajada nas cores do luto. Ao caminhar, me deparei com um grupo muito amigável de lindas jovens, como eu, no entanto, cheias do estilo que eu queria me encaixar. Ao pedir-lhes ajuda para mudar a aparência elas prontamente se mostraram solicitas, apesar de não concordarem com o fato de que eu precisaria mudar. "Você é cheia de estilo" "não perca sua autenticidade" "eu amo isso, mas não posso usar roupas assim, minha família não permitiria, pois são muito religiosos" e coisas desse tipo saíram delas. Isso fez com que eu gostasse mais delas, realmente eram meninas interessantes que não se acham facilmente. A receptividade e o 40


carinho foram tão mútuos e intensos que, pouco mais de uma hora experimentando roupas, nos tornamos amigas de infância. Isso pode ter contribuído para o meu futuro estado de choque. Tudo começou quando o último raio solar desapareceu. O lugar foi ficando cada vez mais vazio, semelhante ao natal, onde ninguém vai a esses lugares, nem mesmo quem trabalha lá. Algumas lojas não possuíam vendedores, os clientes pegavam o produto, testavam e pagavam, estávamos em uma assim. Janice, loira de cabelos ondulados e rosto redondo, saiu com seu casaco novo em busca de um suco. Estranhamos sua demora. Então, decidi ir chamá-la. As outras duas ficaram lá cuidando de seus afazeres. Estranhei que ao caminhar por alguns longos metros não vi a presença de um único ser. Ao chegar à escada do primeiro declive, o inesperado. As cores do impecável imperador agora se mesclavam com o vermelho que lentamente descia em cachoeira. Foi tudo tão rápido que mal pude perceber o buraco aberto por onde ele saía. Voltei correndo para tentar avisar Maria e Josi do acontecido e para minha surpresa, na escadaria que dá o acesso para a praia jazia o corpo de Janice, sua cabeça fora aberta impiedosamente por um assassino cruel, que enforca suas vítimas e, em seguida, abre suas cabeças com um furo na parte traseira e puxa seu cérebro para fora. A cena que meus olhos presenciaram foi terrível, na eternidade daqueles segundos chorei a longa vida perdida naquele ato macabro. Ofegante, tentei encontrar as outras, mas a minha pressa não foi de muita valia. Ao chegar ao local de separação, lá estavam dois corpos uma menina que antes carregava as estrelas em seus olhos castanhos e as ondas do mar no seu cabelo praiano junto com a amiga que majestosamente carregava os traços do povo originário. Estavam lá, violados de forma tão vil e asquerosa. Os seus líquidos internos se misturavam indiscriminadamente naquele chão frio e solitário. Tentei fugir dali, na tentativa de salvar, o que a qualquer momento poderia deixar de ser, minha breve existência. Consegui, depois de vários largos e apressados passos, chegar ao final desse pesadelo e chegar à mãos seguras. Tudo foi relatado, mas o medo e a aflição jamais foram esquecidas, assim como aquelas vidas.

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Quer ter sua arte ou seu texto publicado na revista? Envie para: Contato.revistaminerva@gmail.com Envie em formato Word, com informações sobre sua trajetória artística e seu trabalho, não se esqueça de colocar suas redes sociais e email de contato, caso houver. Também você pode enviar imagens com a referência. Aceitam-se textos autorais dos mais diversos tipos: Contos, crônicas, resenhas (de filmes, séries, livros, música), poemas, poesias, microcontos, piadas, charadas, entre outros. Ilustrações, charges, quadrinhos, mangás, tirinhas e muito mais, serão bem-vindos. A edição de agosto aceitará textos e artes até o dia 25 de julho, os envios posteriores a essa data, serão colocados na edição de setembro. No mais, agradecemos as participações e leituras!

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