revista MACAU 64

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EFEMÉRIDE

para ser usada como biblioteca pública. Numa altura em que a cidade estava a ser invadida por vagas de refugiados que fugiam à guerra, “o meu avô ficou muito sensibilizado pela calorosa hospitalidade das pessoas de Macau”, diz o director da Commercial Radio de Hong Kong. Sir Robert Ho Tung “era um homem frugal na sua vida pessoal. Ele não gastava muito com ele próprio, mas acreditava em retribuir as comunidades que o beneficiaram ou que lhe ofereceram um porto de abrigo”, diz George. Após a sua morte, o faro que o ‘comprador’ demonstrou para o negócio foi eclipsado pelas acções filantrópicas que deixou em Hong Kong, mas também em Macau. Aliás, a doação do edifício no Largo de Santo Agostinho nem foi a primeira vez que o negociante tinha puxado da carteira para ajudar a cidade. Já em 1951 tinha feito uma doação para permitir a construção de duas escolas – uma masculina e outra feminina – onde hoje se situa a Escola Primária Luso-Chinesa Sir Robert Ho Tung. A contribuição do

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MACAU • Outubro 2018

milionário para Macau foi “bastante positiva”, diz Gary Ngai.

De portas abertas

Carlos Marreiros tinha um ano quando a Biblioteca Sir Robert Ho Tung abriu ao público e lembra-se de visitar o edifício a partir dos anos 1970, nomeadamente para procurar “livros de difícil acesso” e ainda para ter aulas de latim. “Havia americanos e russo-americanos que estavam em Macau a estudar acupunctura, e eles viviam de ensinar inglês ou latim”, recorda o macaense. “Eu já queria ser arquitecto mas nunca imaginei que um dia teria um papel naquele mesmo edifício,” confessa Marreiros. O jovem arquitecto foi convidado por Francisco Figueira, chefe do então Departamento do Património do IC, para colaborar no restauro da biblioteca, uma operação que tentou manter ao máximo o que já existia. “Criámos uma marquise no primeiro e segundo andar para ganhar espaço na sala de leitura, desinfestámos o edifício que estava atacado pela formiga-branca e

introduzimos desumidificadores”, explica Marreiros. O jardim da frente, cujos arcos tinham sido fechados, foi de novo aberto ao exterior, diz o macaense. “Era habitual em Macau as casas terem dois jardins, com o jardim fronteiro de boas-vindas, uma tradição tanto portuguesa como chinesa. Eram sempre jardins com flores, que davam beleza e bom cheiro”, refere Marreiros. Já o jardim traseiro era funcional, com canteiros de ervas aromáticas e vegetais de uso na cozinha macaense, e a Biblioteca Sir Robert Ho Tung mantém ainda hoje as árvores de fruto. Duas delas, a maçã de Java e a longane, estão mesmo entre as sete árvores de seis espécies diferentes preservadas neste jardim que fazem parte da “Lista de Salvaguarda de Árvores Antigas e de Reconhecido Valor” de Macau. Uma delas foi danificada durante a passagem do tufão Hato, em Agosto do ano passado, mas foi possível recuperá-la. O rés-do-chão do edifício acolheu a primeira livraria portuguesa de Macau, recorda Carlos Marreiros, enquanto o últi-

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