1822, principiou e concluiu “logo facilmente huma bem extensa Peça Intitulada A Revolução”, que nos diz ter sido “mutilada em mais de três partes por motivos imperiosos [ou Imperiais]”. Entra no prelo em 1826, já “sob a forma de novella com o título de Statira e Zoroates”. E eis aqui a obra que deixou fama a Lucas José de Alvarenga, merecendo-lhe a distinção de pai do romance brasileiro por ter marcado o início do romance-folhetim, um género mais prestável à intervenção política e moralizante, que Alvarenga pretendia para uma sociedade
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brasileira em busca de identidade e enfrentada à evolução urbano-industrial soprada da Europa - o modelo eleito pela classe controladora para destino do Brasil na história. Para rematar esta curta evocação de um governador de Macau que foi poeta, deixamos agora à apreciação do leitor um extracto de poema com sabor da época, talvez aquele que Alvarenga elegesse para o recordar, um exercício de glosa a mote, onde transpira o vento triunfal do Brasil nascente, e que um amigo mandou dar à estampa em Paris.
Mote: O mundo há-de ver um dia/ neste céu sereno e azul/ prostra-se a Ursa do norte/ ante o Cruzeiro do Sul. Glosa: Em vário giro rodando/ Sempre o Universo inteiro/ Vai de Janeiro em Janeiro/ Mil novas cenas mostrando./ A velha Europa ditando/ Por força as Leis ao Meio- dia/ Perdeu essa regalia./ E o Brasil rico e fecundo/ Dando também leis ao mundo/ O mundo há-de ver um dia. Vate é o que vaticina...
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