átrio
É em Macau que inicia este novo projecto. Porquê aqui?
Eu fui convidado para participar no Festival Literário de Macau com a projecção do meu último filme José e Pilar. Nessa altura soube que os escritores brasileiros João Paulo Cuenca e Tatiana Salem Levy estariam presentes e então pensei que seria interessante fazer uma espécie de diário de viagem, quase à semelhança daqueles diários do século XIX, mas em vídeo.
O guião do filme vai tomando forma ao longo da viagem?
Sim. Vai ser uma série online, onde queremos mostrar o encontro de três criadores lusófonos com uma realidade que é próxima e, ao mesmo tempo, distante. No fundo queremos tentar perceber como é que se vêem em termos identitários, em confronto com uma cultura que lhes é alheia. Todas as civilizações constroem-se sobre as ruínas das outras civilizações, por isso há uma espécie de assimilação constante. Penso que no fundo Macau é um reflexo disso mesmo, de uma cultura milenar chinesa com a cultura portuguesa e, de repente, com uma cultura da actualidade absolutamente global.
Daqui partem para onde?
O ponto de partida é Macau e a ideia depois seria seguir por uma viagem pelo Camboja, Vietname e Tailândia. O projecto está dividido por vários capítulos, que irão ser colocados online nos jornais O Globo e Público. A ideia é que numa fase posterior dê um filme.
Como pensa materializar o projecto em vídeo?
Há aqui, naturalmente, um grande peso da escrita. A ideia é tentar que eu, através da montagem, consiga manter os mecanismos narrativos que o escritor faz na escrita do seu livro. Daí surgiu a ideia que cada episódio na montagem fosse o trabalhar de uma figura de estilo, como a metáfora, eufemismo, repetição ou clímax. É uma ideia simples, mas acho que pode funcionar. 118
revista MACAU · Março 2012