revista MACAU 16

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Setembro, 2009

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seu maior desejo é ajudar o Mundo a aprender a “maravilhosa língua portuguesa”. Americano de nascimento, Joseph Abraham Levi é director do Centro de Línguas da Universidade de Hong Kong, especialista em literaturas e culturas lusófonas e em história e literatura colonial brasileira. Um professor que se sente um embaixador da língua portuguesa e que considera Portugal “um país demasiado modesto”. Levi aponta que “o Governo de Portugal não aposta no desenvolvimento e expansão do português”, língua que trata como se fosse a sua, e considera que a sua “ligação à pátria de Camões pode ter tido origem noutra vida”, quando, aponta, pode ter sido um judeu-português

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inha história, minha viagem, é muito comprida e interessante. Comecei por estudar Estudos Africanos em Nápoles, Itália, onde estava a trabalhar para o Governo americano. Quando terminei a minha licenciatura fui para a Tanzânia onde dei aulas de História do Islão e de História Africana numa escola muçulmana. À noite ensinava inglês no instituto alemão. A esposa do director é portuguesa e foi ela que me apresentou esta língua maravilhosa que mudou completamente a minha vida”. Joseph Levi fala da descoberta do português com um sentimento tão profundo que até os olhos azuis brilham de regozijo. Ao decidir ir trabalhar no Algarve e posteriormente estudar na Universidade Clássica de Lisboa, certamente que não imaginaria que três meses depois já falasse a nossa língua. “Estudei português arcaico e

História de Portugal e quando voltei ao meu país, os Estados Unidos, decidi fazer mestrado e doutoramento na língua de Camões e Fernando Pessoa. Naquela altura a América não estava pronta para o diálogo inter-cultural e não me deixaram fazer o doutoramento em português com concentração na África de língua portuguesa, o que me levou a optar pela Linguística Românica com concentração em italiano, espanhol e português medieval. Todavia, fiquei impressionado comigo mesmo e com os resultados obtidos na aprendizagem do português”. Doutorado, optou por ir dar aulas de português em vários países, tendo como principal objectivo “ajudar o Mundo a aprender a língua portuguesa”. Nesse processo, passou pela primeira vez por Macau e Hong Kong onde trabalhou num projecto na área da Ciência e da Tecnologia. Começou assim a sua relação com o Oriente, intensificada mais recentemente quando, em Agosto de 2008, foi convidado para ser Director do Centro de Línguas da Universidade de Hong Kong. “Cheguei com um contrato de três anos e como consequência do facto de ensinar português desde 1986. São mais de 20 anos de ligação ao ensino de português e às culturas lusófonas”, explica, sempre modesto, jeito tímido de ser, para logo, surpreendentemente, afirmar: “sabe, nasci nos Estados Unidos mas considerome português ou, mais ainda, lusófono. Em Portugal sinto-me em casa. Prefiro escrever em português do que em inglês. Para mim é uma questão de identidade. Sinto-me tão à vontade com a língua e com as culturas lusófonas que é um prazer fomentar esta relação. É por isso que digo que um professor que esteja a ensinar línguas e culturas e que não se sinta um embaixador dessa cultura não pode ensinar bem. E os alunos percebem isso. Acredito, aliás, que o meu sucesso no ensino do português advém desse facto”. Trata-se de um caso de paixão, de profundo interesse, mas também de conhecimento. “Tive a oportunidade

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