Ano 4 vol 18

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Expediente Data da Impressão: fevereiro/2015.

Editora: Lisiane Palau Azevedo Editora Científica: Regina Medeiros Coordenador Editorial: Gilberto Dias de Azevedo gilbertolivros@gmail.com Assistente Editorial: Annelise Silva da Rocha revistasulbrasileira@gmail.com Arte/Produção: Álvaro Lopes contato@alvarolopes.com.br

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moriaeditora@gmail.com (51) 9116-9298 / 9127-9041

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Revisão de Português: Lisiane Andriolli Danieli Revisão de Inglês: Matheus Flores da Rosa matheus.rosa.002@acad.pucrs.br

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Números avulsos: R$ 40,00 Periodicidade: Bimestral Distribuição: Via Correios Revista Sul-Brasileira de Enfermagem reserva-se todos os direitos, inclusive os de tradução, em todos os países signatários da Convenção Pan- Americana e da Convenção Internacional sobre Direitos Autorais.

Os trabalhos publicados terão seus direitos autorais Revista Sul-Brasileira de Enfermagem é um periódico resguardados pela Moriá Editora que, em qualquer científico, cultural e profissional bimestralmente lido por situação, agirá como detentora dos mesmos. 5.000 profissionais de enfermagem. A Revista Sul-Brasileira de Enfermagem não aceita matéria paga em seu A Revista Sul-Brasileira de Enfermagem é uma puespaço editorial. blicação bimestral. Publica trabalhos originais das diferentes áreas da Enfermagem, Saúde e áreas afins, Circulação: em todo território nacional. como resultados de pesquisas, artigos de reflexão, relato de experiências e discussão de temas atuais. Seis números anuais: janeiro/fevereiro, março/abril, maio/junho, julho/agosto, setembro/outubro e noISSN 2236-0417 vembro/ dezembro.

Ficha Catalográfica R 454 Revista Sul-Brasileira de Enfermagem. - Vol. 1, nº 1(março/abril. 2011). Porto Alegre: Moriá Editora Ltda., 2011. -V. Bimestral ISSN 2236-0417 1. Enfermagem-Periódicos NLM WY 1 Bibliotecária Responsável – Maria Laura Martins Scheidemandel CRB10-581

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Conselho Cientíico

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Presidente do Conselho Científico: Profa Dra Regina Helena Medeiros UCS - Universidade de Caxias do Sul Profa Dra Adriana Aparecida Paz UFCSPA - Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre/RS Profa Dra Ana Elizabeth Figueiredo PUC/RS - Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul/RS Prof. Dr. Ari Nunes Assunção Unisc – Universidade de Santa Cruz do Sul/RS

Profa MS Lucila Corsino de Paiva Faculdade Maurício de Nassau - Natal/RN Profa Dra Luzia Fernandes Millão Ulbra - Universidade Luterana do Brasil/RS Profa Doutoranda Magada Tessmann Unesc – Universidade do Extremo Sul Catarinense/SC Prof Dr Maira Buss Thofehrn UFPel - Universidade Federal de Pelotas /RS a

Profa Dra Beatriz Regina Lara dos Santos PUC/RS - Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul/RS Profa Dra Dulcinéia Ghizoni Schneider UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina/RS Prof Dra Edaiane Joana Lima Barros FURG- Fundação Universidade Federal de Rio Grande/RS a

Prof. Dr. Edison Luiz Devos Barlem FURG- Fundação Universidade Federal de Rio Grande/RS Profª Dra Eniva Miladi Fernandes Stumm Unijuí - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul/RS

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Profa Dra Maria Ribeiro Lacerda Universidade Federal do Paraná/PR Prof. Doutorando Marcio Neres dos Santos Grupo Hospitalar Conceição. PUC/RS - Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul/RS

Profa Dra Maria da Graça de Oliveira Crossetti UFRGS - Universidade Federal do RS

Profa MS Graziella Gasparotto Baiocco Grupo Hospitalar Conceição

Profa Dra Nara Marilene Oliveira Giradon Perlini UFSM - Universidade Federal de Santa Maria/RS

Prof Dr Lisnéia Fabiani Bock IPA - Rede Metodista de Educação do Sul/RS a

Profa Dra Solange Machado Guimarães Ulbra - Universidade Luterana do Brasil/RS

Profa Dra Sonia Beatriz Cocaro Souza UFRGS - Universidade Federal do RS

Profa Dra Marlene Gomes Terra UFSM - Universidade Federal de Santa Maria/RS

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Enfa Estomaterapeuta Silvana Janning Prazeres SOBEST- Associação Brasileira de Estomaterapia/RS

Profa Dra Maria Bettina Camargo Bub UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina/RS

Profa Dra Giovana Calcagno Gomes FURG- Fundação Universidade Federal de Rio Grande/RS

Profa Dra Lisia Maria Fenstersefer Unisinos - Universidade do Vale do Rio dos Sinos/RS

Profa Dra Sandra Maria Cezar Leal Unisinos - Universidade do Vale do Rio dos Sinos/RS

Profa Dra Sonara Lucia Estima Unilasalle - Centro Universitário La Salle/RS

Profa Dra Maria Ligia dos Reis Bellaguarda Centro Universitário Estácio de Sá/SC

Profa Dra Juliana Vieira De Araújo Sandri Univali - Universidade do Vale do Itajaí/SC

Profa Dra Roseana Maria Medeiros URI-Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões-Campus Erechim/RS

Profa Dra Maritê Inez Argenta Faculdade Estácio de Sá/SC

Profa Dra Erica Rosalba Mallmann Duarte UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul/RS

Profa Dra Iride Cristofoli Caberlon Ulbra - Universidade Luterana do Brasil-Gravataí/RS

Profa Dra Rita Catalina Aquino Caregnato UFCSPA – Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre/RS

Profa Doutoranda Nára Selaimen G. de Azeredo Grupo Hospitalar Conceição Porto Alegre/RS Profa Dra Nilva Lúcia Rech Stedile UCS - Universidade de Caxias do Sul/RS Profa Dra Regina Gema Santini Costenaro Unifra - Centro Universitário Franciscano/RS

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Profa Dra Suzane Beatriz Frantz Krug UNISC /Universidade de Santa Cruz do Sul/RS Profa MS Terezinha Valduga Cardoso Ulbra - Universidade Luterana do Brasil. IAHCS Instituto de Administração Hospitalar e Ciências da Saúde/RS Profa MS Vera Lucia Fortunato Fortes UPF - Universidade de Passo Fundo/RS Prof Dr Wilian Wegner UFRGS - Universidade Federal do RS


Editorial

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REDE BRASILEIRA DE ENFERMAGEM E SEGURANÇA DO PACIENTE – POLO RS: PROMOVENDO A SEGURANÇA DO PACIENTE No cenário internacional, diversas ações são desenvolvidas pelas redes de colaboração para o desenvolvimento da enfermagem, apoiadas pela Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) e Organização Mundial da Saúde (OMS). As redes têm como características a mobilização e a cooperação entre profissionais engajados no avanço de áreas prioritárias da enfermagem. Nesse contexto, destaca-se a Rede Internacional de Enfermagem e Segurança do Paciente (REINSEP), criada em 2005, cujo objetivo é fomentar a segurança do paciente enquanto prioridade do cuidado de enfermagem. Entende-se por segurança do paciente a ausência de dano evitável durante o processo de cuidado à saúde.1 A Rede Brasileira de Enfermagem e Segurança do Paciente (REBRAENSP) é a estratégia de articulação e de cooperação técnica entre instituições diretas e indiretamente ligadas à saúde e educação de profissionais em saúde, com o objetivo de fortalecer a assistência de enfermagem segura e com qualidade.2 Foi constituída em 2008, sendo organizada em polos estaduais e núcleos regionais. No Rio Grande do Sul (RS), as atividades tiveram início em setembro de 2008.3 Atualmente, o Polo RS gerencia cinco núcleos regionais (Porto Alegre, Santa Maria, Região dos Vales, Vale do Paranhana e Ijuí) e espera ampliar esse número até o final da gestão atual, em 2016. A REBRAENSP orienta as atividades em consonância com as recomendações da REINSEP por meio de um plano de trabalho bienal, em seis áreas estratégicas, voltadas para formação profissional, extensão às comunidades, pesquisa, políticas públicas, atenção à saúde e expansão/fortalecimento da Rede. Durante os seis anos de atividade da REBRAENSP-POLO RS pode-se destacar várias ações desenvolvidas, como a publicação da obra Estratégias para a segurança do paciente: manual para profissionais da saúde;4 a realização de dois eventos científicos estaduais e vários seminários regionais/locais em diversas instituições de saúde e ensino do RS; a promoção de atividade em comemoração ao Dia Internacional do Enfermeiro, no Brique da Redenção, em Porto Alegre, enfatizando a importância da participação do paciente e de sua família no cuidado à saúde; a execução debates entre os serviços de

saúde e instituições de ensino; o desenvolvimento de pesquisas científicas; entre outras atividades. Em 2013, o Ministério da Saúde do Brasil aderiu às recomendações internacionais e lançou o Programa Nacional de Segurança do Paciente,5 que propõe diretrizes para o cuidado seguro nos serviços de saúde do País. Essa proposta vai ao encontro daquilo que a REBRAENSP vem construindo, e espera-se fortalecer essa preocupação e fomentar ações por parte dos profissionais da saúde nas instituições que prestam assistência à saúde. Portanto, a REBRAENSP-POLO RS almeja continuar promovendo a segurança do paciente nas suas ações, esperando apoio e parceira dos profissionais da enfermagem e da equipe de saúde para garantir uma assistência segura e isenta de riscos desnecessários que potencializem incidentes de segurança do paciente. Luiza Maria Gerhardt; Wiliam Wegner; Caroline Zottele. Coordenadores da Rede Brasileira de Enfermagem e Segurança do Paciente, Polo Rio Grande do Sul, Gestão 2014-2016. Referências: 1. World Health Organization (WHO). A World Alliance for Safer Health Care. More than words: conceptual framework for the International Classification for Patient Safety. Geneva (Switzerland): World Health Organization; 2009. 2. Rebraensp. Acordos Básicos de Cooperação na Rede Brasileira de Enfermagem e Segurança do Paciente. São Paulo, 2009. Arquivo da REBRAENSP. 3. GERHARDT, L. M.; WEGNER, W.; ZOTTELE, C. REBRAENSP Polo RS: segurança do paciente e o ensino em Enfermagem. Informativo do Fórum das Escolas de Enfermagem do Rio Grande do Sul. 2014 Mar;2(1):1. 4. Rede Brasileira de Enfermagem e Segurança do Paciente Polo RS. Estratégias para a segurança do paciente: manual para profissionais de saúde. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2013. 132 p. 5. Brasil. Ministério da Saúde, Gabinete do Ministro. Portaria n. 529, de 01 de abril de 2013. Institui o Programa Nacional de Segurança do Paciente. Diário Oficial da União. 2013 abr 2 [acesso em: 7 dez. 2014];62(Seção 1):43-44. Disponível em: http://pesquisa.in.gov.br/imprensa/jsp/visualiza/index.jsp?data=02/04/2013&jornal=1&pagina=44&totalArquivos=120

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Sumário

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Editorial Artigos

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ACOLHIMENTO COM CLASSIFICAÇÃO DE RISCO UTILIZANDO O PROTOCOLO EMERGENCY SEVERITY INDEX (ESI) Reception and Nurse Triage: the use of the Emergency Severity Index (ESI) in the emergency room*. Nilton Cesar Silva da Silva - Rodrigo Madril Medeiros - Altair Oliveira de Mello Virgínia Bonebegr de Lima - Márcio Neres dos Santos PERCEPÇÃO DE MÃES TRABALHADORAS SOBRE A HOSPITALIZAÇÃO DO FILHO E ATIVIDADE LABORAL Perception of working mothers about their kids hospitalization and labor activity Maria Aparecida Honoratz - Débora Fernandes Coelho - Geilsa Soraia Cavalcanti Valente - Adriana Aparecida Paz PERCEPÇÕES E SENTIMENTOS DE MULHERES SUBMETIDAS À HISTERECTOMIA Perceptions and feelings of women subjected to hysterectomy Ana Paula Selle - Priscila Escobar Benetti - Eliane Raquel Rieth Benetti - Joseila Sonego Gomes - Eniva Miladi Fernandes Stumm PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DA POPULAÇÃO QUE FOI ATENDIDA PELO SERVIÇO MÓVEL DE URGÊNCIA NO MUNICÍPIO DE ERECHIM-RS Epidemioĺgico profile of population which was attended by mobile service in the city of urgency Erechim-RS Elaine Terezinha Strassburg Grando - Luciana Spinato de Biasi - Roseana Maria Medeiros - Irany Achiles Denti - Cibele Sandri Manfredini - Vera Lúcia Pichinin Zago

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Normas para publicação

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Curso Relações Humanas no Trabalho da Enfermagem Aula 7: Especificidades da Terapia Intravenosa

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Atualização: Assistência à Saúde da Mulher com ênfase em Saúde Coletiva

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Congressos e Eventos

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Notícias

Errata: O artigo PERCEPÇÕES E SENTIMENTOS DE MULHERES SUBMETIDAS À HISTERECTOMIA, esta sendo publicado novamente, devido a erro na publicação do sumário na edição anterior. Revista Sul-Brasileira de Enfermagem. 2015; Ano 4. No18


Artigo de Pesquisa

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ACOLHIMENTO COM CLASSIFICAÇÃO DE RISCO UTILIZANDO O PROTOCOLO EMERGENCY SEVERITY INDEX (ESI)*. Reception and Nurse Triage: the use of the Emergency Severity Index (ESI) in the emergency room*.

** Nilton Cesar Silva da Silva *** Rodrigo Madril Medeiros ****Altair Oliveira de Mello ****Virgínia Bonebegr de Lima *****Márcio Neres dos Santos

INTRODUÇÃO O atendimento de urgência e emergência constitui uma forma diferenciada de assistência à saúde, cujas decisões são estabelecidas num pequeno espaço de tempo. As intervenções, invasivas ou não, são múltiplas, recorrentes e, muitas vezes, de risco.1 A superlotação em serviços de urgência e emergência é um “fenômeno” contemporâneo global que impacta fortemente sobre a gestão clínica e a qualidade assistencial.2,3 Além disso, em diversos serviços, público ou privado, existe carência de recursos materiais e recursos humanos.2,3,4 Em detrimento desses fatos, nos atendimento dessa natureza a relação equipe de saúde-paciente-família é pautada, de certa forma, a partir de situações limítrofes e nas difíceis decisões,4 necessitando de ferramentas de apoio à gestão clínica. Assim, o acolhimento e a classificação de risco (CR) são tecnologias de intervenção que norteiam reflexões e mudanças no modo de operar os processos de trabalho, alinhando os modelos de atenção e de gestão.1,4,5

Resumo: O acolhimento e a classiicação de risco (CR) são tecnologias de intervenção que norteiam relexões e mudanças no modo de operar os processos de trabalho, alinhando os modelos de atenção e de gestão. O objetivo desse artigo é relatar a utilização do sistema de CR Emergency Severity Index (ESI) no serviço de emergência de um hospital privado da cidade de Porto Alegre/RS. O cenário em que foi contextualizado esse relato de caso é muito próximo a outros serviços de emergência, com a similaridade dos desaios enfrentados no cotidiano (superlotação, número elevado de pacientes de baixa complexidade, internações eletivas via emergência, demanda elevada, etc.). Os resultados deste estudo demonstram que uma das vantagens da adoção do ESI para a CR foi a rápida identiicação dos pacientes que necessitam atenção imediata, reduzindo de forma signiicativa o número de pacientes potencialmente graves na sala de espera, como pacientes com queixa de dor torácica. Palavras-chave: Pronto-socorro. Atendimento de emergência. Acolhimento. Equidade. Abstract: Reception and ‘Nurse Triage’ are intervention technologies that guide relections and changes in the mode of operation work processes, aligning the models of care and management. The aim of this paper is to report the use of the Emergency Severity Index - ESI in the emergency room of a private hospital in the city of Porto Alegre / RS. The scene where he was contextualized this case report is very close to other emergency services, such as the similarity of the challenges faced daily (overcrowding, high numbers of low-complexity patients, elective admissions via emergency, high-demand, etc.). The results of this study show that one of the advantages of the adoption of ESI for the nurse triage was the rapid identiication of patients who need immediate attention, signiicantly reducing the number of potentially serious patients in the waiting room, for example: patients complaining of chest pain. Keywords: First aid. Emergency care. ‘Nurse Triage’. Equity.

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O acolhimento não é um espaço ou um local, mas uma postura ética; não pressupõe hora ou profissional específico para fazê-lo, mas implica necessariamente o compartilhamento de saberes, angústias e necessidades; quem acolhe toma para si a responsabilidade de abrigar outrem em suas demandas, com a resolutividade necessária para o caso em questão.5,6,7 O acolhimento deve ocorrer em qualquer tempo e espaço nos serviços de saúde. A CR vem sendo implantada em diferentes serviços, principalmente nas portas de emergência, visando à diminuição de riscos aos pacientes que aguardam o atendimento, independentemente do protocolo ou do sistema adotado (desde que possua cinco níveis de estratificação de risco e seja validado7), separando o eixo da alta e média complexidade (intervenção imediata) do eixo da baixa complexidade (intervenções não imediatas). Acolhimento e CR têm objetivos diferentes, mas complementares (de certa forma, indissociáveis), podendo, dada a singularidade dos serviços, coexistirem ou funcionarem separadamente no contexto físico, mas jamais serem díspares no processo de trabalho.4,5,7 Embora o processo de CR já fosse realizado em diferentes países desde a década de 1980, no Brasil somente a partir da década de 2000 que um conjunto de políticas públicas foi criado para regulamentar e reorganizar o processo de trabalho nos serviços de atenção às urgências e emergências.9 Diante disso, surgem as primeiras tentativas de adequação dos protocolos de CR à realidade brasileira, qualificando a escuta e operando na lógica da resolutividade e responsabilização na assistência realizada aos agravos agudos.4,5,6 O cenário da emergência hospitalar privada em que foi contextualizado esse relato de caso é muito próximo a outros serviços de emergência, com a similaridade dos desafios enfrentados cotidianamente, como superlotação, número elevado de pacientes de baixa complexidade, internações eletivas via emergência, demanda elevada, etc. Houve a necessidade, por parte do serviço analisado, de modificar a gestão clínica dos pacientes atendidos na emergência. Para isso, a área física foi modificada, houve aumento no número de colaboradores, acréscimo nos recursos tecnológicos e negociação com diversas operadoras de saúde a fim de agregar pacientes conveniados. Com isso, tornou-se imprescindível a implantação de um sistema de classificação de risco para auxiliar na organização do processo assistencial, na qualificação dos fluxos operacionais e na segurança do paciente. Revista Sul-Brasileira de Enfermagem. 2015; Ano 4. No18

O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Instituição. O objetivo desse artigo é relatar a utilização do sistema de classificação de risco Emergency Severity Index (ESI) no serviço de emergência de um hospital privado na cidade de Porto Alegre/RS.

DESVELANDO O CENÁRIO Os serviços de urgência e emergência passaram a ser a porta de entrada para o sistema de saúde não somente nos hospitais públicos, mas também nos hospitais privados. Houve um aumento no número de visitas às salas de emergência de 96,5 milhões, em 1995, para 115,3 milhões, em 2005, nos Estados Unidos e na Austrália, representando um aumento médio anual aproximado de 1,7 milhões, dos quais mais de 85% em área metropolitana.3,10,11 Além desses serviços constituírem uma porta de entrada, o aumento da expectativa de vida da população (e, consequentemente, da propensão ao desenvolvimento de doenças crônicas) e da constante redução do financiamento para o setor têm levado os gestores dos sistemas de saúde a reconsiderarem as estruturas operacionais no sentido de responderem adequadamente a essa demanda crescente de pacientes agudos e, também, de pacientes crônicos agudizados.2,3,7,10 As unidades de emergência privadas também têm sido alvo de críticas pelos seus usuários, e seus colaboradores sentem-se desmotivados com a pressão por atendimento em maiores quantidade e rapidez.6 Por outro lado, os gestores enfrentam dificuldades na manutenção e no custeio elevado desses serviços, pela grande demanda e saturação dos serviços.10,12,13 Dessa forma, contextualizamos brevemente o serviço de emergência que foi objeto do presente relato. As atividades assistenciais iniciaram no ano de 1998. Naquele momento, havia capacidade instalada para 10 pacientes adultos (dois leitos de reanimação e oito leitos de observação). Em julho do ano de 2004, passou a atender pacientes pediátricos, criando três leitos pediátricos de observação. Nessa primeira etapa, a demanda era exclusivamente de pacientes particulares e convênio dos colaboradores da instituição. Os pacientes eram atendidos por ordem de chegada e triados por um atendente administrativo. O atendente gerava um boletim de atendimento médico e a partir da consulta médica eram disparadas Artigo de Pesquisa - pag. 5 à 11


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as atividades a serem executadas pelos enfermeiros e técnicos de enfermagem. A equipe assistencial era mínima (um médico clínico, um médico pediatra, um enfermeiro, três técnicos de enfermagem e um auxiliar administrativo) devido ao baixo fluxo de pacientes. Em relação à área física, havia recepção e área de espera dos pacientes, sala de urgência, salas de observação adulta e pediátrica, dois consultórios médicos, sala de inalação/medicação, staff médico e de enfermagem. O serviço está inserido em uma instituição privada de grande porte, localizado na cidade de Porto Alegre/RS, contando com 335 leitos (incluindo leitos de terapia intensiva adulta, pediátrica e neonatal) para atender as diversas especialidades clínicas e cirúrgicas ofertadas. Além disso, a instituição conta com um instituto de ensino e pesquisa que oferta cursos regulares, desde o nível médio até a pós-graduação. A instituição foi inaugurada no ano de 1927 e desde então busca consolidar rotinas operacionais e padrões assistenciais que visam maior segurança ao paciente e escolha de decisões terapêuticas baseadas nas melhores evidências, almejando resultados clínicos ótimos para a população atendida. Por isso, no ano de 2008, recebeu certificação internacional da Joint Commission International (JCI). Na perspectiva da gestão de custos, das boas práticas assistências e das adequações legais às Políticas Públicas no que tange à atenção às urgências,9 o serviço, no ano de 2009, passou por inúmeras readequações físicas, tecnológicas e administrativas, como: atendimento a convênios de diferentes operadoras, ampliação de área física (recepção; consultório de CR; observação pediátrica com 12 leitos; seis consultórios médicos; sala de gesso; sala de medicação/ inalação com 20 lugares; duas salas de reanimação; sítios assistenciais vermelho e laranja, cada uma com capacidade de receber quatro pacientes graves; sala amarela com capacidade para 10 pacientes; e uma unidade de pré-internação com treze leitos); aumento do número de colaboradores; e, também, recursos tecnológicos foram incorporados devido à estrutura física. Essas modificações impactaram fortemente nos fluxos do serviço de emergência, que passou de uma média de atendimento de 50 pacientes de baixa complexidade por dia para uma média de 350 pacientes por dia, entre eles um número significante de pacientes complexos. A partir disso, todos os pacientes que chegam são acolhidos e classificados, por um enfermeiro, de acordo com o protocolo ESI. Artigo de Pesquisa - pag. 5 à 11

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CLASSIFICAÇÃO DE RISCO UTILIZANDO O PROTOCOLO ESI A CR é a estratificação do risco dos pacientes que procuram atendimento nos serviços de saúde dos diferentes níveis de atenção, isto é, pode ser aplicado na rede de atenção primária ou nas unidades de urgência e emergência. Dessa forma, ao dar entrada em uma unidade de saúde, o paciente é classificado, recebendo uma prioridade que determina o tempo alvo para o primeiro atendimento médico, essa prioridade é baseada na situação clínica apresentada e não na ordem de chegada.4,5,14 A CR é realizada com base em protocolo validado adotado pela instituição de saúde, normalmente representado por cores que são associadas a tempos de espera e indicam a prioridade clínica de cada paciente.7 Para tanto, algumas condições e parâmetros clínicos devem ser verificados para auxiliar no processo de tomada de decisão do classificador. Existem evidências que mostram que a CR realizada por enfermeiros experientes são mais assertivas e efetivas do que quando realizadas por médicos.17 A triagem compreensiva é o sistema mais avançado e continua em evolução constante entre os métodos de CR.7,15,16 O objetivo é conseguir reunir rapidamente informações suficientes para determinar a acuidade da triagem. O consenso é que a triagem deve ser completada em 2-5 minutos, porém pacientes pediátricos e idosos podem necessitar de mais tempo do que outros pacientes.15 O ESI é uma metodologia de CR. Esse protocolo foi desenvolvido em 1998, nos Estados Unidos, com o objetivo de estratificar o risco dos pacientes em cinco prioridades, estabelecendo um tempo limite de espera para o atendimento médico em cada nível de classificação.7,15,16 Esse instrumento de triagem é baseado em um algoritmo de decisão (Fig. 1) simples de usar e que classifica os pacientes em atendimento na emergência. É avaliada tanto a acuidade como a quantidade de recursos a serem utilizados, característica exclusiva do ESI em comparação com outros sistemas de triagem.4,7,15,16 Dessa maneira, os pacientes que podem aguardar o atendimento médico são classificados de acordo com o número de recursos que irão consumir para que se chegue a uma decisão sobre seu destino (internação, alta ou cirurgia).15 A acuidade é determinada pela estabilidade das funções vitais e o potencial risco para a vida, o membro Revista Sul-Brasileira de Enfermagem. 2015; Ano 4. No18


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ou o órgão. Os recursos necessários são estimados pela experiência prévia do enfermeiro com pacientes apresentando queixas e lesões similares e baseadas nos protocolos institucionais. Uma vez orientada em relação ao algoritmo, o enfermeiro da triagem será capaz de rapidamente e com precisão triar os pacientes em um dos cincos níveis de acuidade.7,15

que o paciente necessita de intervenções, mas sabe que o estado do paciente não irá deteriorar. Ele pode estabelecer acessos venosos, administrar oxigênio suplementar, obter um eletrocardiograma (ECG) e monitorar o paciente antes do médico chegar.7,15,16 A predição dos recursos a serem utilizados pelos pacientes é parte fundamental da classificação dos

Figura 1. Algoritimo de triagem do Emergency Severity Index (ESI). Fonte: Adaptado de Emergency Severity Index (ESI), A Triage Tool for Emergency Department Care, Version 4, Implementation Handbook, 2012 Edition AHRQ Publications Clearinghouse.

A primeira conduta do enfermeiro classificador é a acuidade e verificação de sinais vitais. A partir do algoritmo de triagem (Fig. 1), caso o paciente não preencha um critério de acuidade alto (nível 1 ou 2), o enfermeiro avalia a quantidade de recursos que poderão ser necessários para auxiliar a determinar o nível de triagem (3, 4 ou 5).7,15,16 Os pacientes nível 1 chegam à emergência em condição instável. Como o paciente pode morrer se não for atendido, uma ação imediata da equipe de atendimento é iniciada; o médico atende o paciente imediatamente no leito e o enfermeiro inicia os procedimentos de cuidados intensivos.7,15,16 Embora os pacientes nível 2 também sejam muito graves, o enfermeiro da emergência pode iniciar o atendimento através de protocolos sem a presença do médico à beira do leito. O enfermeiro reconhece Revista Sul-Brasileira de Enfermagem. 2015; Ano 4. No18

pacientes de nível 3, 4 e 5. Assim, é permitido que um paciente que irá consumir mais recursos e, consequentemente, irá permanecer mais tempo na emergência, seja triado antes de outro paciente que consuma menos recursos.7,15,16 A fim de identificar os recursos necessários para cada paciente, o triador deve estar familiarizado com os padrões de conduta da equipe de atendimento e os protocolos institucionais.15 Desse modo, o classificador faz uso das informações coletadas da avaliação subjetiva e objetiva breves, como o passado médico, medicações em uso, idade e sexo, a fim de determinar quantos recursos diferentes o paciente irá utilizar.15,16 Por exemplo, uma paciente jovem adulto, sem doenças prévias, com tosse e discreta sibilância irá consumir apenas um recurso: nebulização. Por outro lado, um paciente idoso com Artigo de Pesquisa - pag. 5 à 11


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várias comorbidades, com queixa de tontura e dor na cabeça e no braço esquerdo claramente irá utilizar vários recursos: exames laboratoriais, ECG, exame de imagem ou avaliação com especialista. Em relação à verificação de sinais vitais, caso o paciente for classificado como nível 4 (nível 5 é referendado para a rede), registra-se apenas os sinais vitais básicos (frequência cardíaca, taquicardia atrial). Se o paciente for classificado como nível 3, ele tem condições de esperar, mas a princípio é considerado um paciente complexo. Nesse caso, todos os sinais vitais dever ser considerados.7,15,16 Os pacientes nível 3 requerem a verificação dos sinais vitais como parte importante da sua avaliação. A faixa em que se encontram os sinais vitais podem oferecer dados adicionais que aumentem a suspeita de uma doença mais séria.15 A CR é um processo dinâmico; se qualquer zona dos sinais for excedida, é recomendado uma reclassificação do nível 3 para 2.7,16

RESULTADOS E DISCUSSÃO Uma das vantagens da adoção do ESI para a CR foi a rápida identificação dos pacientes que necessitam atenção imediata, reduzindo de forma significativa o número de pacientes potencialmente graves na sala de espera, como pacientes com queixa de dor torácica. Estudos apontam que cerca de 50-70% dos pacientes que procuram a emergência por queixa de dor torácica são admitidos nos hospitais, mas apenas 15% desses pacientes têm diagnóstico de infarto agudo do miocárdio, e 30% de angina instável.18,19,20 Além disso, metodologias de CR inadequadas e não validadas levam a uma prática na qual 10% dos pacientes com síndrome coronariana aguda têm indevidamente a terapêutica retardada na sala de emergência.1 Nesse sentido, a educação permanente em relação ao sistema de CR aumentou a exatidão clínica dos classificadores. Outro ponto de relevância após a implantação da CR foi que o primeiro contato do paciente é com um membro da equipe assistencial; assim que eles chegam ao serviço de emergência são atendidos por um enfermeiro, sendo realizada uma breve entrevista clínica, verificação dos sinais vitais e definição da prioridade de atendimento, associadas às necessidades operacionais específicas. Dessa forma, os sítios de assistência passaram a ser identificados por cores que identificam a gravidade e complexidade dos pacientes, ou seja: sítio vermelho, sala de reaminação; Artigo de Pesquisa - pag. 5 à 11

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sítio laranja, sala para doentes com instabilidade hemodinâmica; sítio amarelo, urgência, atendimento com prioridade sobre os classificados como verde, no consultório ou leito da sala de observação; sítio verde e azul, atendimento em consultórios e área de medicação/inalação. No serviço analisado, a realização do ESI por enfermeiros treinados reduziu as admissões desnecessárias em sítios de maior complexidade (área laranja e área vermelha). Essa estratégia foi fundamental para manter o cuidado adequado dos pacientes de maior risco e para redução de custos operacionais. Os pacientes começaram a ser classificados em cinco grupos com diferenças clínicas significativas em termos de recursos necessários e, desse modo, associados a necessidades operacionais específicas, facilitando a locação de recursos físicos, tecnológicos e humanos no serviço de emergência. Uma fragilidade apresentada no sistema de CR foi a falta de informatização plena do processo. Por isso, não foram identificados alguns indicadores de gestão, como tempos de espera (chegada do paciente até a classificação, classificação até o atendimento médico) e de permanência de acordo com a classificação; número de consultas simples, consulta com terapia e consulta com observação de acordo com a classificação de gravidade, entre outros. Também houve relatos da coordenação local sobre esse fato dificultar a auditoria da CR. As auditorias internas e, em especial, as auditorias externas, do sistema de CR são definas pela análise periódica e independente por auditores internos ou externos, em instituição de que não são oriundos, com vistas a determinar se as atividades e os resultados relativos ao protocolo satisfazem os requisitos previamente estabelecidos e se estão efetivamente implementados.14 A utilização do sistema de CR do ESI, aliada a escuta qualificada e ao raciocínio clínico do enfermeiro, demonstrou ser dinâmica na identificação das necessidades dos pacientes em relação às intervenções médicas e de cuidados de enfermagem, de acordo com o potencial de risco, agravos à saúde ou grau de sofrimento. O processo de tomada de decisão dos enfermeiros classificadores passou a ser trabalhado em atividades de formação continuada. Em relação à CR, a avaliação clínica de um paciente deve ser rápida e concisa, exigindo tanto o raciocínio como a intuição. Além disso, a experiência e a habilidade técnica do triador são fundamentais.8 Na tomada de decisão, é necessário interpretar, discriminar e avaliar a situação. Revista Sul-Brasileira de Enfermagem. 2015; Ano 4. No18


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ACOLHIMENTO COM CLASSIFICAÇÃO DE RISCO UTILIZANDO O PROTOCOLO EMERGENCY SEVERITY INDEX (ESI) Nilton Cesar Silva da Silva - Rodrigo Madril Medeiros - Altair Oliveira de Mello - Virgínia Bonebegr de Lima - Márcio Neres dos Santos

Para isso, faz-se necessário o desenvolvimento do raciocínio clínico, que é imprescindível para a atividade do enfermeiro classificador, uma vez que a acurácia da avaliação do risco depende substancialmente das habilidades de raciocínio.8,21,22

CONCLUSÕES A CR emerge como uma tecnologia em saúde inovadora para a gestão clínica dos pacientes que procuram os serviços de emergência. A partir disso, é permitido que o paciente com maior risco de vida tenha seu atendimento priorizado em detrimento do atendimento de pacientes com menor agravo. A adoção de protocolos de CR por hospitais privados apenas demonstram a importância desses sistemas, pois estratificam com mais segurança as necessidades dos pacientes, respeitando a temporalidade do cuidado, uniformizam condutas e a própria comunicação entre todos os profissionais da saúde. Muito além de uma previsão legal, a classificação de risco deve ser entendida como uma necessidade para melhor organizar o fluxo de pacientes que procuram as portas de entrada de urgência/emergência, garantindo um atendimento resolutivo e humanizados àqueles em situações de sofrimento agudo ou crônico agudizado de qualquer natureza.

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ACOLHIMENTO COM CLASSIFICAÇÃO DE RISCO UTILIZANDO O PROTOCOLO EMERGENCY SEVERITY INDEX (ESI) Nilton Cesar Silva da Silva - Rodrigo Madril Medeiros - Altair Oliveira de Mello - Virgínia Bonebegr de Lima - Márcio Neres dos Santos 18.Polanczyk CA, Lima K, Wolchul D, et al. Elevada prevalência de doenças cardiovasculares em serviço de emergência de um hospital geral. Arq. Bras. Cardiol 1999; 73:337. 19.Lee TH, Goldman L. Evaluation of patient with acute chest pain. N.Engl J Med 2000; 342:1187-95. 20.Field JM, Hazinski MF, Sayre M, et al. Part 1 Executive Summary: 2010 American Heart Association Guidelines for Cardiopulmonary Resuscitation and Emergency Cardiovascular Care. Circulation 2010;122(18 Suppl 3).

Recebido: 20.09.2014 Aprovado: 15.10.2014

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21.Crossetti MGO.; Bittencourt GKG; Linck CL; Argenta C. Pensamento Crítico e Raciocínio Diagnóstico. In: Eneida Rejane Rabelo da Silva; Amália de Fátima Lucena e colaboradores. (Org.). Diagnósticos de enfermagem com base em sinais e sintomas. 1ª ed. Porto Alegre: Artmed; 2011:19-33. 22.Ciampone MHT; Melleiro MM. Planejamento e Processo Decisório como Instrumentos do Processo de Trabalho Gerencial. In: Paulina Kurcgant. (Org.). Gerenciamento em enfermagem. 2ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2010 (2): 35-50.

* Artigo extraído do Trabalho de Conclusão de Curso para obtenção de Título de Especialista em Enfermagem em Urgência, Emergência e Terapia Intensiva pelo Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Moinhos de Vento (IEP-HMV). ** Enfermeiro. Especialista em Urgência, Emergência e Terapia Intensiva pelo IEP-HMV. Enfermeiro Assistencial do Serviço de Emergência do HMV. *** Enfermeiro. Especialista em Enfermagem em Emergência e Saúde da Família. Enfermeiro Assistencial da Unidade de Cardiologia Intensiva – HSF/ISCMPA. **** Enfermeiros pela Escola de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (EEUFRGS). ***** Enfermeiro. Doutorando em Biologia Celular e Molecular Aplicada à Saúde. Docente do IEP-HMV e docente da FAENFI/PUCRS. Membro do staff de Enfermagem do Serviço de Emergência do HNSC/GHC.

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PERCEPÇÃO DE MÃES TRABALHADORAS SOBRE A HOSPITALIZAÇÃO DO FILHO E ATIVIDADE LABORAL Perception of working mothers about their kids hospitalization and labor activity

* Maria Aparecida Honoratz ** Débora Fernandes Coelho *** Geilsa Soraia Cavalcanti Valente **** Adriana Aparecida Paz

INTRODUÇÃO O crescimento e o desenvolvimento são eixos referenciais para as atividades de atenção voltadas à criança e ao adolescente no que tange os aspectos biológicos, afetivos e psicossociais.1 Para que a criança tenha um desenvolvimento adequado, é necessário que haja uma relação afetiva contínua com a mãe durante os primeiros anos de vida, sendo que a existência desse bom relacionamento na infância é imprescindível para saúde da criança. Dessa forma, a presença da mãe para uma criança doente é importante para seu melhor tratamento. Entende-se que, durante a hospitalização, a criança é retirada do seu ambiente, bem como do convívio familiar e de sua rotina, passando por momentos de medo, sentindo-se castigada e agredida por estar em um ambiente desconhecido.2

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Resumo: Este trabalho é composto por uma pesquisa qualitativa exploratória e descritiva, da qual participaram oito mulheres, mães e trabalhadoras formais, que acompanhavam seus ilhos hospitalizados em uma unidade de internação pediátrica de um hospital regional da Serra Gaúcha, no estado do Rio Grande do Sul (RS), com o objetivo de entender como elas se sentem em relação ao trabalho e à maternidade. A análise das informações deu-se por meio do método de análise de conteúdo do tipo temática. Na análise dos dados, emergiram as categorias: “sentimentos maternos vivenciados na hospitalização do ilho relacionados à atividade laboral” e “o empregador diante da hospitalização do ilho da mãe trabalhadora”. Neste estudo, observou-se que as mães deixam o trabalho em segundo plano, referindo não temer a demissão. Embora a mulher tenha adquirido, atualmente, seu espaço na sociedade trabalhista, ainda se arrisca a perder seu emprego por priorizar o cuidado ao seu ilho, principalmente se este está hospitalizado. Palavras-chave: Condições de trabalho. Trabalho feminino. Relações trabalhistas. Satisfação no emprego. Abstract: This is an exploratory and descriptive qualitative research, involving eight women, mothers and formal workers, who accompanied their children hospitalized in a pediatric unit of a regional hospital in the region of Serra Gaúcha, State of Rio Grande do Sul (RS). The analysis of the information has been realized by the method of the thematic analysis of the content. The following categories emerged from the analysis: “Maternal feelings experienced in the child’s hospitalization associated with the labor activity” and “the employer against the working mother’s son’s hospitalization”. In this study, it was observed that the mothers put the job in the background, like they don’t fear the dismissal. Although the woman has acquired, currently, her position in the labor society, she still risks losing her job to prioritize care for your child, especially if they are hospitalized. Descriptors: Working Conditions; Female Work; Labor Relations; Job Satisfaction;


PERCEPÇÃO DE MÃES TRABALHADORAS SOBRE A HOSPITALIZAÇÃO DO FILHO E ATIVIDADE LABORAL Maria Aparecida Honoratz - Débora Fernandes Coelho - Geilsa Soraia Cavalcanti Valente - Adriana Aparecida Paz

No Estatuto da Criança e do Adolescente,3 a Lei n° 8.069, em seu Art. 12, estabelece que as instituições de saúde devem proporcionar condições de permanência de um dos pais ou responsável nos casos de internação da criança e/ou adolescente. Contudo, apesar do auxílio da lei para a permanência dos pais junto ao filho, existem outros fatores que contribuem no estresse pela hospitalização, como casos em que os pais trabalham e não têm condições de ficar com o filho de maneira permanente. A atividade laboral, a maternidade e o cuidado com os filhos fazem parte de um vasto conjunto de significados que historicamente estão presentes na vida da mulher.4-6 Os significados que ela atribui a essas questões são vividos cotidianamente, uma vez que necessita conciliar cuidados com a criança, o trabalho e os afazeres domésticos. Diante dessa contextualização e dentro da área temática da saúde do trabalhador, surgiu o interesse que instigou a realização de uma pesquisa para entender como as mães se sentem em relação à hospitalização do seu filho e sua atividade laboral. Além disso, uma das pesquisadoras vivenciou a mesma situação quando teve um filho hospitalizado e precisou, na época, decidir entre cuidar da criança ou seguir o trabalho. Assim, surgiu o seguinte questionamento: Qual é a percepção das mães que acompanham seus filhos na hospitalização em relação à atividade laboral? Diante disso, o objetivo deste estudo foi o de conhecer a percepção das mães que acompanham seus filhos na hospitalização no que se refere à sua atividade laboral.

METODOLOGIA Trata-se de uma pesquisa qualitativa, exploratória e descritiva. As participantes do estudo foram oito mulheres, mães e trabalhadoras formais, em uma amostra aleatória por conveniência, que acompanhavam seus filhos hospitalizados em uma unidade de internação pediátrica de um hospital regional da Serra Gaúcha, no estado do Rio Grande do Sul (RS). Os critérios de inclusão foram: ser mãe e responsável pela criança hospitalizada; idade do filho ≤ anos; hospitalização em unidade internação pediátrica. Já os critérios de exclusão foram: ter idade < 18 anos; e ser trabalhadora informal. A coleta das informações foi realizada por meio da técnica de entrevista semiestruturada, com roteiro contendo três questões: “Quais são as dificuldades enfrentadas no seu trabalho em decorrência da necesArtigo de Pesquisa - pag. 12 à 18

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sidade do acompanhamento da hospitalização de seu filho?”; “Como você faz para conciliar o trabalho e a atenção ao filho hospitalizado?”; “Durante a atividade laboral, você tem apoio do empregador?”. As entrevistas foram gravadas em mídia digital (MP3 player), em local tranquilo e reservado, de forma que as informantes puderam sentir-se à vontade para falar. Não houve tempo pré-estabelecido para a gravação. Ao aceitarem participar do estudo, a fim de garantir o anonimato, as participantes escolheram a sua representação por nome de flores, sendo elas: Rosa, Camélia, Violeta, Orquídea, Jasmim, Íris, Tulipa e Palma. A coleta das informações encerrou-se quando ocorreu o “ponto de saturação”, isto é, quando as entrevistas não trouxeram mais valor agregado ao conhecimento sociológico do objeto social. A análise das informações deu-se por meio do método de análise de conteúdo do tipo temática, que consiste em um conjunto de técnicas que pretende a obtenção, por procedimentos sistemáticos e objetivos, e a descrição do conteúdo das mensagens indicadoras que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/percepção dessas mensagens.7 A construção da análise foi sinalizada por marcação de trechos significativos, com utilização do sistema de cores, em arquivo do Microsoft Excel, o que auxiliou na identificação e constituição das categorias e subcategorias. As exigências éticas foram respeitadas conforme a Resolução do Conselho Nacional de Saúde (CNS) 196/96. O estudo foi aprovado pelo Conselho Científico e Editorial (COEDI) da Fundação Universidade de Caxias do Sul e pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Associação Cultural e Científica Nossa Senhora de Fátima (CEP-FÁTIMA), o qual recebeu autorização nº 025/11.

RESULTADOS E DISCUSSÃO A mulher sofre emocionalmente quando o filho está hospitalizado, expressando esse sofrimento por meio de maior ocorrência de sintomas de ansiedade, nervosismo e tensão, em grande parte decorrente da dupla jornada de trabalho, da preocupação com sua situação diante do empregador e da atividade laboral.6,8-9 A análise de conteúdo das falas permitiu a construção de duas categorias, que serão discutidas a seguir: “sentimentos maternos vivenciados na hospitalização do filho relacionados à atividade laboral” e “o empregador diante da hospitalização do filho da mãe trabalhadora”. Revista Sul-Brasileira de Enfermagem. 2015; Ano 4. No18


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Sentimentos maternos vivenciados na hospitalização do filho relacionados à atividade laboral Nesta categoria, procurou-se explorar o sentimento das mães em relação à atividade laboral. O estudo encontrou a expressão de alguns sentimentos verbalizados pelas mães, sendo que o sentimento de ambiguidade esteve presente nas falas. Esse sentimento é referente à dúvida que as mães demonstraram ter em relação ao ato de ficar cuidando do filho hospitalizado e ao mesmo tempo deverem estar no ambiente laboral. É possível identificar essa observação através das falas a seguir: [...] normalmente eu iria trabalhar, mas agora eu não faço mais isso. Eu não fui trabalhar hoje, essa noite que passou; e se precisar eu não vou de novo, porque antes eu ia, deixava a criança doente em casa, não me valia de nada, então vale mais ela para mim que o emprego, eu não sou de faltar, não gosto de faltar. (Orquídea). [...] é que tu tens que se dividir em duas, tu deixas o trabalho ou fica aqui [...] deixar o serviço e pensar no filho. (Palma).

Diversos estudos5-6 realizados com os familiares de crianças internadas apontaram que a hospitalização gera conflito pessoal e um obstáculo na conciliação entre cuidados com a criança e o trabalho. Outras depoentes também relatam o sentimento de conflito: [...] é que a gente se preocupa com o serviço. E tem que ficar fora por causa das crianças [...] é que primeiro os filhos, depois o serviço. (Rosa). [...] fico na firma pensativa, porque eu chego em casa 3 horas da manhã e 6 e meia tenho que estar acordada para mandar o outro menino para escola. (Tulipa).

Fica evidente o sentimento que as mães têm em relação ao trabalho e ao filho hospitalizado, uma vez que necessitam estar e sentir-se presentes no cuidado e reabilitação do filho, mas também precisam da renda mensal para atender as demandas de subsistência da família.2 A hospitalização da criança gerou muitas preocupações para as mães desta pesquisa, como é possível identificar na próxima fala:

Estou pensando, ainda não decidi, se eu pago alguém pra ficar com ela, ou deixo ela com o pai dela, ou vou ter que ficar. Vou ficar. (Iris).

Nessa fala, observa-se que a mãe está preocupada em saber quem irá ficar de acompanhante da criança, já que necessita trabalhar. Para as mães, ver seu filho hospitalizado causa muita preocupação e perturbação.9 A doença e hospitalização do filho, para os pais, em especial para a mãe, é uma situação inesperada que causa vários sentimentos e desestrutura toda a família, causando estresse, insegurança e incerteza.6,10 Denota-se que além da intensa preocupação com a doença do filho, a mãe que trabalha entra em conflito pessoal, uma vez que necessita ir trabalhar, mas não quer deixar seu filho aos cuidados de outra pessoa. A renda da mulher tem grande participação nos recursos da família, isso quando não é o principal sustento.2 Contudo, opta pelo cuidado integral ao filho hospitalizado. Nesse sentido, observa-se que existe também a preocupação com outros filhos, como relato de uma mãe: [...] não estou preocupada com o serviço, estou preocupada com os demais filhos. (Palma).

A dificuldade financeira enfrentada pelas mães que se encontram cuidando de filhos hospitalizados provém dos dias que se afastaram do trabalho e, por consequência, não receberam o salário completo.6 Essa observação é possível identificar pela fala das depoentes: [...] bastante. Mês passado foram quatro dias, sabe? As contas que tem que pagar ficam lá. (Rosa). [...] vai fazer falta na renda, vai fazer falta no dinheiro. (Orquídea).

A hospitalização e a doença podem gerar gastos não incluídos no orçamento da família, juntamente com a necessidade de deixar o trabalho de lado para permanecer junto do filho, principalmente quando essa hospitalização prolonga-se por muito tempo.5,11 Entretanto, a compreensão e colaboração por parte do empregador também se fazem presentes nos casos: [...] eles sempre me ajudaram. Agora querem me ajudar com dinheiro. (Camélia).

[...] tenho que trabalhar, e agora eu não sei se eu vou ou não vou. Estou pensando ainda o que vou fazer.

Identificou-se, também, na fala a seguir, o sentimento de desvalorização que as mães sentem em relação ao empregador. Como expõem:

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[...] sei lá, deixada pra trás, não ser reconhecida. Lá na hora que tu estás lá dentro tu prestas, se tu não estás, tu és desvalorizada. O sentimento da gente é esse [...] a empresa não me ressarcia [...] é uma injustiça, porque eu nunca falto. (Orquídea). [...] eu acho que eles deveriam pagar os dias que tu tem que ficar com a criança, mesmo tu só levando uma folha [...] a mãe não podia vir trabalhar porque a criança estava doente, já tinham que entender, sabe que tinha, porque a gente não fica em casa por besteira. (Rosa). “[...] bastante magoada. É dois anos que eu estou naquele serviço das sete da manhã, esteja chovendo, com temporal, com tudo. Tu tem que tá lá sete da manhã, cedo lidando com o público, que é uma coisa difícil, e aí quando tu precisas, não tem apoio do serviço. Nenhum, nenhum apoio, [...] com certeza eu acho que teria que ter isso das firmas em qualquer lugar. Uma mãe tá com o filho no hospital, não deveria nem descontar. Não estou aqui por que eu quero. Quem vai querer estar no hospital, ainda mais com um filho [...], então o que tu espera dessa pessoa. [...] a dificuldade é que o patrão não te dá um apoio. São os primeiros que ficam ligando pra saber que dia tu vai voltar a trabalhar. Essa é a maior dificuldade em relação ao trabalho e ao filho internado [...]. (Violeta).

A discriminação12 que incide sobre a mulher em seu ambiente laboral não infringe somente os direitos referentes ao salário ou à função que exerce na empresa, mas, sim, viola a sua dignidade humana e de mulher, uma característica de valor imensurável que a afeta em todos os sentidos. Infelizmente, ser mãe-mulher-trabalhadora nem sempre encontra o apoio necessário dos empregadores quando seu filho encontra-se doente, sendo que muitas vezes a mulher se vê obrigada a voltar a trabalhar e deixar seu filho hospitalizado aos cuidados de terceiros, o que lhe provoca muita revolta, sofrimento e, consequentemente, baixo rendimento laboral. Por outro lado, com base nos relatos, foi possível identificar a valorização da mãe trabalhadora com seu filho hospitalizado por parte do empregador. Essa observação é possível identificar nestas falas: [...] estava bem contente nessa empresa agora, que eles estavam tentando me ajudar, de tudo que era forma, foi numa hora de aperto mesmo que eles me acolheram, estavam me ajudando. Pessoas bem boas, sabe [...]. (Camélia). [...] até fiz uma proposta: me pôr pra rua. Então aí ela foi humana. Ela disse que não, que era uma hora que eu precisava trabalhar. Aí eu disse: é verdade. Saindo daqui eu vou precisar do convênio, então tenho que estar Artigo de Pesquisa - pag. 12 à 18

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trabalhando; e é onde eu estou segurando o serviço e acompanhando o filho ao mesmo tempo. (Tulipa).

A reação dos empregadores de Camélia, Íris e Jasmim são consideradas positivas, como expressam as seguintes falas: [...] eu acho que eles me ajudaram bastante. Tem me ajudado ainda, sabe? De repente eles vão me ajudar a comprar as máquinas para eu trabalhar em casa [...] com eles. (Camélia). [...] foram compreensivos, falaram que estava tudo bem, que pode ficar tranquila. Foi isso que eles me passaram [...], esse é o mais difícil. O que dificulta mais é que eu vou ter que pagar hora, no caso. (Íris). [...] sim, foram bem compreensivos. (Jasmim).

A ênfase na pessoa humana do trabalhador, como uma das mais importantes vantagens competitivas de qualquer instituição, requer dos gestores o estímulo às iniciativas, a proximidade nas relações e a flexibilidade para compreender o ser humano em suas inquietações e perspectivas de vida.13 A valorização do ser humano em situação de fragilidade é uma maneira de minimizar as demandas internas psíquicas que envolvem a situação vivenciada.

O empregador diante da hospitalização do filho da mãe trabalhadora Nessa categoria foi observada, por meio das falas, a postura do empregador diante da hospitalização do filho de sua trabalhadora. Foram abordados temas referentes ao afastamento laboral, atestados e a possibilidade de demissão por parte da mãe. É possível identificar que as mães estão dispostas a deixar seu trabalho em segundo plano para poder prestar atendimento integral ao seu filho hospitalizado, como verificado em outros estudos.6 Nas falas, é possível fazer essa observação: [...] não estou indo, daí eu estou conversando com eles. Assim, por telefone, né? [...] eu que tive que largar o serviço. É que daí, no caso, só tem eu pra ficar aqui no hospital. (Camélia). [...] não estou indo trabalhar, avisei na empresa, mas não tem o que fazer. (Orquídea). Revista Sul-Brasileira de Enfermagem. 2015; Ano 4. No18


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Entre as mães trabalhadoras que permaneciam no hospital junto ao filho, muitas deixaram o emprego para poder cuidar da criança. Após a maternidade, torna-se difícil manter a atividade laboral, uma vez que as mães sentem-se obrigadas a deixar o emprego nos anos iniciais de criação dos filhos, já que o cuidado à criança ainda perdura sobre a mãe.5,11,14 Existe uma atenção diferenciada para a mãe e para a criança. No entanto, existe também uma preocupação com a empresa quanto às faltas exigidas pela hospitalização do filho: [...] a gente vê que eles precisam da gente na fábrica também; [...] o gerente da empresa está vindo lá em casa. Ele é vizinho nosso. Veio perguntar como é que estava e quando que eu ia voltar e quando e ele ia ter alta. (Rosa).

A mulher trabalhadora, além das suas responsabilidades no trabalho, necessita assistir sua casa e seus filhos, sendo muitas vezes vista pelo empregador como um obstáculo que dificulta o crescimento da empresa e a alta produtividade. A mãe que está convivendo com a doença e a hospitalização da criança experimenta mudanças significativas relacionadas ao seu trabalho, sentindo-se insegura com a possibilidade de perder o emprego, devido às internações que exigem presença e participação constante, o que resulta em ausências ao trabalho.6,12,15 A mulher que passa pelo sofrimento de ter o filho hospitalizado não tem mais o medo de perder o emprego. Temem, sim, pela vida de seu filho, proporcionando-lhe o cuidado integral, permanecendo ao seu lado no ambiente hospitalar, local que, tanto para ela quanto para a criança, é fonte de instabilidade emocional, insegurança e medo.2 Nesse sentido, outras mães foram categóricas quanto a faltar o trabalho para cuidar de seus filhos, como se verificam em seus relatos: [...] falei no serviço, é que eu tinha que vim; [...] trabalho se a gente sai de um, pega no outro. Só querer trabalhar que a gente trabalha. (Palma). [...] não fui, dei toda a atenção pra ele. Não apareci mais lá. Saí segunda ao meio-dia e não voltei mais; [...] só quando ele estiver em casa bem, vou pensar se vou voltar. (Violeta).

A apresentação de atestados é uma tentativa para não se perderem os dias que a mãe deixou de ir trabalhar para cuidar do filho hospitalizado. Observou-se, neste estudo, que o empregador foi atencioso, dando Revista Sul-Brasileira de Enfermagem. 2015; Ano 4. No18

seu apoio nesse momento e sendo tolerante quanto a aceitar atestados: [...] só avisei que eu estava com ela hospitalizada e enquanto ela estivesse aqui eu não ia trabalhar; [...] vou levar os atestados; [...] eles disseram que não teria problema. A tua filha primeiro, depois tu vem trabalhar. (Jasmim).

No entanto, fica evidente nas falas que o empregador não aceita o atestado se ele não estiver no nome da mãe trabalhadora, o que se torna um fator complicador, pois, geralmente, o atestado é expedido pelo médico com o nome da criança que está hospitalizada. Sendo assim, a mãe necessita contar com o bom senso do seu empregador,10 sob pena de ter os dias descontados, conforme relatos a seguir: [...] se eu não conseguir o atestado, daí eu vou perder tudo esses dias; [...] depende, se o médico me dá o atestado, eles pagam, mas o atestado no meu nome, daí eles pagam. Se não, eles descontam o dia [...]. Elas pedem pra recuperar, só que como é que vou recuperar de noite? Eu tenho que ir pra casa de noite. Tenho mais duas crianças. (Rosa). [...] Não aceitam o atestado, porque é dela; no caso, se fosse meu, eu tivesse internada, eles aceitavam, mas como é dela, não; [...] eu acho ruim. Vou ter que pagar hora. Vou ter que ficar a mais pra recuperar. (Íris).

As mães trabalhadoras devem buscar, junto ao sindicato de sua categoria, os seus direitos, uma vez que está previsto em lei que elas têm direito a um subsídio da segurança social para ampará-las durante o período de hospitalização do filho quando não conseguem ir trabalhar.2,6 A possibilidade de ser demitida foi expressa, podendo ser considerada como proposta oferecida aos seus empregadores. [...] às vezes eles me ligam, eles não queriam me largar, [...] eles sempre perguntam o que eu quero fazer. Se eu pensei melhor, se é isso que quero, sempre achando melhor pra mim, né? [...] Aí eles acharam melhor me largando, até para eu ter o direito de alguma coisa. (Camélia). [...] talvez eu deixe o trabalho um pouco, vou conversar com a minha chefe. [...] eu até gostaria que me demitissem [...] virar um pouco dona de casa pra ele, porque essa idade passa rápido. Eles estão grandes, vai fazer 4 em novembro, e eu trabalhei desde que ele nasceu. (Violeta).

A família que tem o filho internado muitas vezes precisa fazer uma escolha: ou a mãe perde o empreArtigo de Pesquisa - pag. 12 à 18


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go, ou ausenta-se do processo de hospitalização do filho, mesmo que isso acarrete em riscos financeiros; nesse caso, há a possiblidade de a mãe trabalhar nos fins de semana, em casa, ou mesmo em trabalho informal.2,15 Pode-se observar que, quando a mãe tem o filho hospitalizado, ela também tem um momento de conflito entre retornar à sua atividade laboral ou ficar um tempo em casa para acompanhar o crescimento e desenvolvimento do filho.

CONSIDERAÇÕES FINAIS Com essa pesquisa, procurou-se conhecer a percepção das mães que trabalham e acompanham seus filhos hospitalizados, bem como as dificuldades e as situações que possibilitam conciliar a atividade laboral ao processo de hospitalização do filho. Foi possível perceber que algumas mães entrevistadas sentem-se desvalorizadas pelo empregador, uma vez que este não lhes dá suporte no momento de dificuldade. Mesmo assim, por parte de alguns empregadores, houve demonstração de valorização dessa mãe, não somente como funcionária, mas também no sentido humanitário, tendo em vista que se pôde observar que estes priorizaram a cura e reabilitação do filho da trabalhadora, auxiliando-as com recursos financeiros. Porém, algumas mães ainda se sentiram em dúvida quanto a ir trabalhar ou permanecer no hospital,

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já que os dias que ficariam junto ao filho seriam descontados. Essa perda salarial deve-se ao fato de as empresas não aceitarem o atestado no nome do filho da trabalhadora. Vale ressaltar que, entre as entrevistadas, apenas uma permaneceu trabalhando no período de hospitalização do filho, sendo que as outras, a partir do momento em que o filho ficou internado, deixaram de ir trabalhar, mesmo que isso acarretasse numa possível demissão ou na sugestão de ela trabalhar em casa. Denota-se, neste estudo, que as mães deixam o trabalho em segundo plano, referindo não temer a demissão. Embora a mulher tenha adquirido, atualmente, seu espaço na sociedade trabalhista, ainda se arrisca a perder seu emprego por priorizar o cuidado ao seu filho, principalmente se este encontra-se acamado em um hospital. Os profissionais de enfermagem, na medida em que reconhecem as dificuldades das mães trabalhadoras com filhos hospitalizados, poderão contribuir na organização da rede de suporte social ou familiar. Embora esse estudo tenha examinado intensivamente a relação entre a mãe trabalhadora e hospitalização do filho, apresenta a limitação da generalização dos dados. Ainda assim, essa investigação também trouxe subsídios para se elencarem estratégias na atenção à saúde da criança e da mulher trabalhadora, de modo que a equipe de enfermagem torna-se facilitadora desse processo de hospitalização.

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Recebido: 09.11.2014 Aprovado: 15.12.2014

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* Enfermeira. Especialista em Saúde do Trabalhador da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Sindicato Trabalhadores Metalúrgicos de Caxias do Sul e Região. ** Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (DENF-UFCSPA). Membro do Grupo de Estudos e Pesquisa da Práxis de Enfermagem (GEPPEn-UFCSPA). *** Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora do Departamento de Fundamentos de Enfermagem e Administração da Universidade Federal Fluminense (UFF). **** Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora do DENF-UFCSPA. Membro do GEPPEn-UFCSPA e Grupo Interdisciplinar de Saúde Ocupacional da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (GISO-UFRGS). E-mail: adrianap.ufcspa@gmail.com

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PERCEPÇÕES E SENTIMENTOS DE MULHERES SUBMETIDAS À HISTERECTOMIA Perceptions and feelings of women subjected to hysterectomy

* Ana Paula Selle ** Priscila Escobar Benetti *** Eliane Raquel Rieth Benetti **** Joseila Sonego Gomes ***** Eniva Miladi Fernandes Stumm

INTRODUÇÃO A ocorrência de uma cirurgia é motivo de mobilização emocional para o paciente e sua família. Sentimentos de inquietação, insegurança e medo são percebidos e atribuídos à natureza intervencionista do tratamento terapêutico proposto e às necessidades emocionais das pacientes submetidas ao tratamento cirúrgico. A cirurgia ginecológica trata do aparelho genital feminino, das afecções cirúrgicas da mulher relacionadas às mamas e à pelve. Não existem registros exatos da época em que a cirurgia iniciou, mas sabe-se que tanto a obstetrícia quanto a ginecologia foram separadas da cirurgia geral no começo do século XIX.1 Por ser o útero um órgão associado à reprodução e socialmente vinculado à feminilidade e sexualidade, sua extirpação pode interferir tanto na expressão da sexualidade feminina quanto na imagem corporal e na vida social.2

Resumo: Esta pesquisa busca apreender percepções e sentimentos experienciados por mulheres submetidas à histerectomia, desde o conhecimento do diagnóstico até o tratamento cirúrgico. Estudo qualitativo, realizado com 15 mulheres, deinido pelo método de exaustão. Instrumentos de coleta de dados: entrevista, diário de campo, roteiro com dados sociodemográicos e clínicos. Projeto aprovado por Comitê de Ética, parecer número 289/2010. Emergiram cinco categorias analíticas: decisão pela cirurgia; cirurgia: resolução dos problemas versus ansiedade e medo da morte; dor no pós-operatório imediato; necessidade de controles periódicos e repercussões na qualidade de vida; implicações da cirurgia. Esses resultados podem ampliar pesquisas e ações em saúde direcionadas à população feminina. Palavras-chave: Saúde da Mulher. Histerectomia. Enfermagem. Pesquisa qualitativa. Abstract: The research objective is understood perceptions and feelings of women subjected to hysterectomy, from diagnostic to chirurgic treatment. It’s a qualitative research, realized with a sample of 15 women, using the exhaustion method. The instruments of data collection were interviews, ield diary and sociodemographic and clinical data. The project was approved by the Ethics Committee, with nº / . Were ive analytical categories: the decision for surgery; surgery: resolution of problems X anxiety and fear of death; pain in the immediate postoperative period; need for periodic controls and impact on quality of life; implications surgery. The results may instigate enlarge searches and actions on health directed at the female population. Descriptors: Women’s Health. Hysterectomy. Nursing. Qualitative research.

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Do ponto de vista quantitativo, no Brasil, a cada ano, cerca de 300 mil mulheres têm a indicação de histerectomia e necessitam de cirurgia.3 Para o Sistema Único de Saúde (SUS), a histerectomia representa a segunda cirurgia mais realizada entre mulheres em idade reprodutiva, sendo superada apenas pela cesárea.4 Nesse sentido, cabe aos profissionais da saúde responsáveis pelo cuidado dessas mulheres conhecimentos específicos referentes às implicações psicológicas e orgânicas envolvidas neste procedimento. Pesquisas nacionais referentes à histerectomia ainda são reduzidas e avaliam determinados serviços de forma isolada.5 Em relação aos fatores de risco, a renda familiar per capita relativamente maior, a ausência de filhos ou ter até três filhos, a necessidade de assistência médica por alterações menstruais, o histórico de distúrbio menstrual ou a morbidade decorrente do colo uterino, a internação hospitalar ginecológica e a ligadura tubária antes dos 30 anos de idade predispõem a mulher a histerectomia.4 Essa cirurgia pode ser indicada em casos de endometriose, infecções nos órgãos reprodutores, cistos ovarianos recorrentes, hipermenorreia e neoplasia maligna do útero, colo uterino e ovários.5 Por ser um método irreversível, que visa restituir a saúde da mulher, proporcionar bem-estar e remover o risco de morte pode implicar em alterações físicas, emocionais e no cotidiano.1 Mulheres submetidas à histerectomia podem enfrentar inúmeros problemas, entre eles o sentimento de mutilação.6 Nesse sentido, os profissionais da saúde vivenciam inquietações relacionadas ao cuidado dessas mulheres de maneira holística, individualizada e integral, especialmente quando em idade reprodutiva. A cirurgia pode solucionar o problema de um órgão, mas repercute na condição de ser mulher, repleto de subjetividade, aspecto importante no cuidado.7 Consideradas as inúmeras repercussões que podem advir de uma histerectomia no processo de viver das mulheres, é essencial que tais possibilidades sejam problematizadas. É necessário que as equipes instrumentalizem-se para a discussão dessa temática, com objetivo de tornar essa cirurgia um processo terapêutico tanto do ponto de vista biológico quanto psicossocial e influenciar no modo como as mulheres conduzirão suas vidas depois da recuperação. Diante do exposto, pretendeu-se, com esse estudo, apreender as percepções e os sentimentos experimentados por mulheres submetidas à histerectomia, desde o conhecimento do diagnóstico até o tratamento cirúrgico. Revista Sul-Brasileira de Enfermagem. 2015; Ano 4. No18

METODOLOGIA Estudo qualitativo, descritivo, realizado em um município do noroeste do Rio Grande do Sul, com 15 mulheres, residentes no meio urbano. Os critérios de inclusão foram idade superior a 18 anos e ter sido submetida à histerectomia. A busca das mulheres ocorreu com o auxílio das agentes comunitários de saúde, e a coleta de dados foi realizada nos respectivos domicílios, nos meses de outubro e novembro de 2010. Para coleta de dados, foi utilizada a entrevista aberta, gravada e transcrita na íntegra, com a questão norteadora: “Conte-me como foi para você ser submetida à histerectomia?” O número de sujeitos foi definido pelo método de exaustão; dessa forma, a repetição de informações indicou o término da coleta de dados. A análise dos dados foi realizada seguindo preceitos da análise de conteúdo temática, que procura conhecer aquilo que está por trás das palavras. A operacionalização foi efetuada por meio de pré-análise, exploração do material e tratamento e interpretação dos resultados.8 Assim, emergiram cinco categorias. Os preceitos éticos da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde 9 foram observados, sendo o projeto de pesquisa aprovado por Comitê de Ética em Pesquisa sob o parecer número 289 de 03/11/2010. Para preservar a identidade das mulheres, elas foram identificadas por E1 (entrevistada 1), E2, E3 e assim sucessivamente.

RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram entrevistadas 15 mulheres, de 32 a 65 anos. Quanto à situação conjugal, 12 eram casadas e as demais separadas judicialmente. Dentre as sujeitas da pesquisa, 14 eram mães, 12 professaram a religião católica e três a evangélica. Em relação à escolaridade, nove cursaram o Ensino Fundamental incompleto, quatro o Ensino Médio completo, uma o ensino superior incompleto e uma o superior completo. Quanto ao tempo de histerectomia, este variou de 8 meses a 22 anos e os motivos foram: metrorragia, menorragia, hiperplasia e hipertrofia uterina, leiomioma, anemia ferropriva por metrorragia, carcinoma, endometriose e prolapso uterino. Da busca de apreender o conteúdo nas falas das mulheres, emergiram cinco categorias, analisadas e descritas sequencialmente. Artigo Original - pag. 19 à 25


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Categoria 1 - A decisão pela cirurgia A análise das falas referentes à decisão em realizar a histerectomia mostra que ela se deu em função da orientação médica aliada aos sinto0mas e resultados de exames. “Comentei com o médico que não queria fazer a cirurgia por modismo, faria se precisasse mesmo e foi o que aconteceu. Fiz os exames e ele falou que teria que fazer a cirurgia, não tinha mais opção.” (E4) “No preventivo deu NIC III [neoplasia intraepitelial]; depois o doutor tirou um pedacinho para biópsia, aí tinha que fazer a cirurgia.” (E9)

Pela análise do dia a dia de 25 mulheres histerectomizadas no Hospital Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora, os autores concluíram que a pessoa, ao sentir a necessidade de uma cirurgia, não controla seu estado de saúde, sente-se ameaçada diante da indicação do médico assistente ou pelo fato de lutar pela vida.7 Os fragmentos das falas citadas demonstraram essa percepção. Os sintomas físicos sentidos pelas pesquisadas, antes da cirurgia, compreenderam: fluxo sanguíneo intenso, hemorragia, hipermenorreia, dor, cansaço, distensão abdominal e fraqueza, os quais contribuíram para a decisão de realizar a cirurgia. “Antes da cirurgia eu tinha um fluxo de menstruação muito forte e com o tempo foi se agravando, provocava hemorragia, às vezes ficava de 30 a 40 dias menstruada.” (E1) “Antes da cirurgia me sentia muito fraca, até para trabalhar não me sentia bem.” (E8) “Antes da cirurgia eu tinha muita dor nas costas, na barriga, tinha a barriga inchada.” (E11)

A maneira como as pessoas lidam com sintomas físicos varia e merece reflexões do profissional de saúde.10 Existem pessoas que banalizam sintomas sérios ou procuram assistência em fase já avançada da doença. No cotidiano, a mulher não ostenta, como uma decisão para si, o cuidado com a própria saúde, apenas vai em busca de assistência quando tem dor, sangramento, prolapso vaginal ou uterino.7 “Antes da cirurgia estava sempre sentindo “aquilo” caído e dor, começou a pressionar.” (E12) “Eu tinha muita dor, um peso [...], daí apareceu esses miomas, ficava seguidamente menstruada, durante dias.” (E15)

Em um estudo que investigou a frequência e os fatores associados a leiomiomas uterinos, com 125 Artigo Original - pag. 19 à 25

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mulheres de 30 a 50 anos de idade, os autores concluíram que há maior incidência de leiomioma uterino em mulheres de mais idade que não pariram; além disso, os autores sinalizam que os leiomiomas estão presentes em no mínimo 25% das mulheres em idade reprodutiva.11 Ainda, instrumentos utilizados para avaliar a qualidade de vida em mulheres com neoplasia ginecológica mostraram que a dor de uma malignidade afeta a pessoa como um todo, traz sofrimento e compromete a qualidade de vida.12 Nesse sentido, destaca-se a importância dos profissionais de saúde conhecerem os fatores associados ao diagnóstico, sinais e sintomas apresentados, indicações de cirurgia, além dos sentimentos e necessidades que se fazem presentes nessas situações. Categoria 2 – Cirurgia: resolução dos Problemas versus ansiedade e medo da morte A opção pela histerectomia repercute na vida da mulher e a subjetividade interfere nesse processo. Observa-se, nas falas, que a cirurgia foi percebida como resolução dos problemas e alívio dos sintomas físicos: “Quando recebi a noticia que ia fazer a histerectomia, fiquei faceira, ia parar os problemas de menstruação. Fiquei um ano tendo hemorragia, não dava mais.” (E3) “Como eu tinha muita dor, inclusive nas relações sexuais, para mim eu achei que foi a melhor solução.” (E13) “Quando fiquei sabendo que ia fazer a cirurgia, nem me assustei porque sabia que um dia eu ia ter que fazer e nem deu tempo de pensar.” (E6)

Com objetivo de conhecer representações sociais de 12 mulheres histerectomizadas e identificar fatores que interferiram no seu processo de viver, um estudo destacou que algumas avaliaram a cirurgia como negativa, como a interrupção de um sonho, a impossibilidade de ser mãe, o desinteresse sexual e a interferência na vida matrimonial.2 Já outras avaliaram como uma maneira de resgatar sua vida social e de reaver sua liberdade, com repercussões positivas na qualidade de vida.2 Quanto à ansiedade sentida pelas mulheres, permeava no pré-operatório, por reviver a cirurgia, ou pelo medo do desconhecido. Diante da remoção de um tumor, a ansiedade pode se associar ao medo do câncer e suas consequências, aliada ao estresse da paciente e sua família. As mulheres podem apresentar sintomas psicológicos, físicos, síndrome pós-menopausa e necessitar mais dos serviços de saúde após a histerectomia, e outras percebem melhora na sua saúde. Revista Sul-Brasileira de Enfermagem. 2015; Ano 4. No18


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“Quando fiquei sabendo que teria que fazer cirurgia (eu nunca tinha feito antes), fiquei nervosa... na cirurgia, inclusive, estava nervosa, mas foi tudo bem.” (E10) “Me senti nervosa porque foi a primeira cirurgia que eu fiz.” (E14)

Em um estudo que avaliou sentimentos de pacientes no pré-operatório, os autores evidenciaram ausência de comunicação efetiva por barreiras que impediram uma relação terapêutica, e os pacientes continuavam ansiosos e deprimidos na internação, por falta de orientação e apoio dos profissionais de saúde quanto à cirurgia.13 As orientações e a sistematização da assistência de enfermagem no pré-operatório tendem a reduzir ansiedades, medos e dúvidas e preparar o paciente para essa experiência. No presente estudo constatou-se que as mulheres sentiram muito medo da morte por ocasião do diagnóstico e do tratamento necessário, e conhecer esses sentimentos oportuniza um atendimento individualizado a essas mulheres. “Fiquei com muito medo de morrer.” (E2) “Quando soube, achei que ia morrer [...]; o médico falou câncer, pensei que teria que fazer quimioterapia. A primeira coisa que pensei foi nas meninas, só chorava [...].” (E9)

O cuidado à mulher no perioperatório pode ser realizado por meio da consulta de enfermagem; a possibilidade de dispor de novos espaços de cuidado em saúde favorece o vínculo entre profissional e sujeito, ameniza a angústia e o sofrimento.14 Assim, a consulta de enfermagem deve ser embasada em uma relação de confiança, compromisso, ética e corresponsabilidades.15 A busca pela integralidade do atendimento revela-se pelo encontro, conversa, atitude do profissional de saúde que procura com prudência reconhecer, para além das demandas explícitas, as necessidades das mulheres. Categoria 3 - A dor no ṕs-operat́rio imediato As mulheres relataram que no pós-operatório imediato, ao cessar o efeito anestésico, sentiram uma dor intensa e de difícil mensuração. Neste aspecto, a avaliação dos resultados de programas educacionais referentes à dor pós-operatória, constatou que os referidos programas melhoraram a dor pós-operatória, porém não interferem na internação, percepção de conforto e alteração do humor.14 Os fragmentos das falas mostram que as mulheres pesquisadas sentiram dor no pós-operatório imediato. Revista Sul-Brasileira de Enfermagem. 2015; Ano 4. No18

“Quando eu estava acordando da cirurgia, senti muita dor na barriga, uma dor que eu não sei explicar [...]; não consegui suportar e pedi, por favor, para a enfermeira me ajudar,” (E1) “Foi uma cirurgia muito dolorida [...]; eu achei horrível; depois que acorda da anestesia sente muita dor, tipo uma queimação.” (E5)

O controle da dor pós-operatória é essencial para a assistência integral e individualizada, visto que estímulos dolorosos prolongados predispõem complicações no pós-operatório. Para o controle da dor é indicada a abordagem multimodal, a qual inclui as técnicas farmacológicas e não farmacológicas, com o objetivo de bloquear a geração, transmissão, percepção e apreciação dos estímulos nociceptivos.16 A avaliação da dor deve ser realizada periodicamente em todos os pacientes cirúrgicos no período pós-operatório, a fim de garantir o bem-estar e reduzir complicações relacionadas à dor. Categoria 4 - Necessidade de controles perídicos e repercussões na qualidade de vida Ser submetida à histerectomia requer da mulher atenção especial no que tange controles periódicos de saúde, com repercussões na qualidade de vida. Na busca de compreender como mulheres com neoplasia maligna e seus familiares enfrentam a doença, os resultados apontam que conviver com um câncer implica em prosseguir com a certeza de que se teve uma doença grave e que requer atenção redobrada a tudo que ocorre de diferente em seu corpo, seguido de busca por assistência médica.17 Nas falas a seguir, nota-se que elas entendem a necessidade de controles periódicos, os realizam e conhecem os efeitos colaterais dos hormônios. “Um ano depois, retornei para os exames de rotina, como faço até hoje, o médico me perguntou como estava me sentindo, eu disse que estou vivendo, não sinto nada, parece um sonho [...].” (E1) “Hoje tenho que tomar hormônios e sei que pode dar câncer, mas frequentemente faço mamografia, fico atenta a qualquer coisa.” (E3)

Sobre a atuação da equipe de saúde no cuidado à mulher submetida à histerectomia, atualmente, as políticas públicas colaboram para melhoria na assistência, busca ativa e orientações durante sua permanência no hospital. A referida equipe deve suprir necessidades emocionais das mulheres e seus familiares. Quanto às mudanças nas percepções das mulheres pesquisadas referentes à qualidade de vida, nas falas Artigo Original - pag. 19 à 25


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da maioria emerge satisfação, prazer em viver, trabalhar, ausência de sangramento, fraqueza, debilidade, dentre outros. “Graças a Deus, não tenho mais hemorragia, tenho mais ânimo, vontade de viver, trabalhar, coisa que eu não tinha mais força. Hoje me sinto bem, devia ter feito antes.” (E8) “Depois da cirurgia me sinto melhor, 100%, não me arrependo de ter feito.” (E11) “Minha qualidade de vida mudou muito; como eu ficava menstruada frequentemente, ia transar e não sabia o que vinha, se era sangue [...]. Para mim, nesse sentido, foi bom”. (E15)

A histerectomia pode ocasionar implicações na vida da mulher. O útero possui função biológica e fisiológica aliada à maternidade e sexualidade, e sua remoção pode intervir de forma negativa na autoimagem, na qualidade de vida, nas relações sociais, na vida matrimonial e/ou relações afetivas.16 A maioria das mulheres interpreta a histerectomia como mutiladora, com influência emocional na saúde sexual, relata que antes da cirurgia sentiram medo e receio, e, após, um olhar positivo para a sexualidade.18 As mulheres compreendem a importância de cuidar de si e de realizar os exames periódicos, e possuem conhecimento referente ao uso de hormônios e efeitos colaterais. A maioria relata melhora na qualidade de vida, aspecto que pode ser considerado positivo. Considera-se que compete aos profissionais da saúde ajudar essas mulheres, no sentido de fornecer informações precisas, monitorar e proporcionar apoio emocional. Categoria 5 – Implicações da cirurgia Após a histerectomia, a mulher se depara com uma nova condição que pode, igualmente, trazer vários sentimentos e repercussões em sua vida. As informações referentes às necessidades e dificuldades sexuais no climatério são essenciais para promover qualidade de vida às mulheres. É importante que elas e seus parceiros conheçam as mudanças orgânicas e comportamentais do processo de envelhecer, o que favorece identificar eventuais dificuldades sexuais e intervenções terapêuticas. “Depois da cirurgia vem a tal da menopausa... Tive ressecamento vaginal, ansiedade, sistema nervoso alterado [...]”. (E4) “Levei um ano para me preparar para isso e depois levei mais um ano pra aceitar, porque logo depois que Artigo Original - pag. 19 à 25

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passou uns sete meses começou a me dar calorões, com 45 anos”. (E15)

Quanto a mudanças no plano sexual, observou-se, nas falas das mulheres que elas ocorreram, algumas associadas à cirurgia, presença de mitos, e outras à idade, inclusive perda da libido e necessidade de mais carinho antes do ato sexual. “Não sei se antes eu era 100% em termos de sexo, agora sou 1%. De repente é minha cabeça, mas não é mais a mesma coisa, parece que não tem mais aquele estímulo [...].” (E8) “Eu me sinto melhor agora porque não tem a menstruação, só que aquela vontade de ter relação, não dá, só com muitas preliminares.” (E9) “É diferente, não tem mais aquele prazer, não é como antes, acho que muda um pouco, o médico diz que é psicológico [...], demora mais para entrar no clima, de repente pode ser desinformação.” (E15)

Mitos referentes à ausência do útero, como perda da feminilidade, ficar fria, diferente, transformação na imagem corporal, intervenção na afetividade, na sexualidade e percepções do companheiro em relação a elas foram identificados em 10 mulheres no pré-operatório de histerectomia.3 Na avaliação do impacto da histerectomia na sexualidade de mulheres, mais da metade dos sujeitos da pesquisa sentiram insegurança, com impacto na vida sexual, aliada a tristeza por perder o órgão.19 Assim, evidencia-se que a histerectomia repercute na vida da mulher, física e psicologicamente. “Em um domingo à tarde pensei em me matar. Meu marido saiu, daí eu me preparei, escrevi uma carta de duas folhas. Aí eu pensei “será que eu vou fazer isso?” [...], queimei a carta e no dia seguinte pedi ao meu marido para me levar ao médico.” (E7) “Depois da cirurgia eu engordei muito, 20 quilos [...]; com ansiedade, passo comendo, o estomago está cheio, mas tem que fica comendo. Parece que vem tudo com mais intensidade [...].” (E4)

Nesse prisma, a atuação dos profissionais de saúde à mulher no perioperatório de histerectomia deve incluir orientações direcionadas às mudanças físicas e psíquicas. Quanto ao plano sexual, considerar as especificidades de cada mulher e, no que tange a ansiedade e depressão, ambas frequentes, passíveis de ocorrer, ocorre a necessidade de uma abordagem clara, simples e de fácil entendimento. Assim, a comunicação é uma estratégia de produzir saúde e envolve não somente a capacidade de se fazer claro, mas, sobretudo, de escutar o outro de forma acolhedora. Para Revista Sul-Brasileira de Enfermagem. 2015; Ano 4. No18


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sensibilizar e mobilizar os indivíduos, é preciso atingir a subjetividade, não apenas conceder-lhes informação.15 Destaca-se que a enfermagem não deve se eximir da responsabilidade do acompanhamento da mulher, independente do tipo de tratamento e do nível de complexidade do sistema no qual ela esteja sendo atendida. Salienta-se que o relacionamento interpessoal satisfatório no cuidado é de alta importância, pois o enfermeiro poderá contribuir com o conhecimento e a tranquilidade durante a realização de procedimento cirúrgico ginecológico, como no caso da histerectomia.

CONSIDERAÇÕES FINAIS Este estudo possibilitou apreender percepções e sentimentos vivenciados por mulheres submetidas à histerectomia. Constatou-se que as mulheres vivenciaram diferentes sentimentos e várias mudanças no cotidiano após a cirurgia, tanto fisicas quanto psíquicas,

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grande parte delas com repercussões positivas em sua saúde e, consequentemente, na qualidade de vida. À enfermagem, na atenção à mulher no perioperatório de histerectomia, destaca-se a necessidade de estabelecer uma relação de confiança e empatia para qualificar o cuidado. Considera-se que os profissionais que atuam no cuidado a essas mulheres podem minimizar os sentimentos vivenciados por elas a partir de ações simples, como ouvir até o acompanhamento, análise e encaminhamento aos demais profissionais da área. Ainda, o estudo permite ampliar conhecimentos sobre a temática e possibilita, como profissional da saúde, qualificar a assistência a mulheres no perioperatório de histerectomia, bem como, continuamente, orientando-as, proporcionando bem-estar, com repercussões positivas no enfrentamento da doença. Os resultados podem ser importantes para acadêmicos, profissionais da saúde e pesquisadores, no sentido de instigar reflexões, discussões e favorecer o planejamento de ações preventivas e promocionais de saúde direcionadas à população feminina.

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PERCEPÇÕES E SENTIMENTOS DE MULHERES SUBMETIDAS À HISTERECTOMIA Ana Paula Selle - Priscila Escobar Benetti - Eliane Raquel Rieth Benetti - Joseila Sonego Gomes - Eniva Miladi Fernandes Stumm

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Recebido: 02.08.2014 Aprovado: 14.08.2014

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* Enfermeira. Egressa do curso de Enfermagem da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul − UNIJUI. ** Acadêmica do curso de Enfermagem, bolsista de Iniciação Científica PIBIC/CNPq. Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul − UNIJUI. *** Enfermeira. Mestre em Enfermagem. Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM). Docente da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul − UNIJUI. **** Enfermeira. Mestre em Enfermagem. Docente da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul − UNIJUI. ***** Enfermeira. Doutora em Ciências. Docente da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul − UNIJUI.

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PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DA POPULAÇÃO QUE FOI ATENDIDA PELO SERVIÇO MÓVEL DE URGÊNCIA NO MUNICÍPIO DE ERECHIM-RS Epidemiológico proile of population which was attended by mobile service in the city of urgency Erechim-RS * Elaine Terezinha Strassburg Grando ** Luciana Spinato de Biasi *** Roseana Maria Medeiros **** Irany Achiles Denti ***** Cibele Sandri Manfredini ****** Vera Lúcia Pichinin Zago

O CONTEXTO DO ESTUDO SOBRE O SERVIÇO DE ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR O Ministério da Saúde (MS)1 define como Atendimento Pré-Hospitalar (APH) como toda e qualquer assistência prestada em um primeiro nível de atenção, direta ou indiretamente, fora do âmbito hospitalar. O atendimento pode variar desde orientação médica até o envio de uma viatura de suporte básico (que não realiza manobras invasivas) ou avançado (que realiza manobras invasivas de suporte ventilatório e circulatório). No Brasil estão disponíveis à população os serviços móveis e fixos. A implantação da assistência móvel no atendimento em urgência proporciona aos pacientes com risco de vida uma remoção rápida e segura, dando-lhes o suporte suficiente para manutenção de sua vida até a chegada ao ambiente hospitalar.

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Resumo: Este é um estudo transversal, retrospectivo sobre a população atendida pelo Serviço de Atendimento Médico de Urgência (SAMU) em Erechim, Rio Grande do Sul. Buscou-se identiicar o peril de atendimentos realizados pelo SAMU no período de 10/2011 a 09/2012. Os dados apontaram um total de 2.041 atendimentos no período, com maior percentual nos meses de fevereiro e março, em homens com idades acima de 50 anos, no domicílio. Acidentes de trânsito ganharam destaque, seguidos de quedas e problemas neurológicos. De todos os atendimentos, 94,16% dos pacientes foram deslocados até o hospital. Palavras-chave: Peril de atendimento. Serviço de Urgência e Emergência. Assistência pré-hospitalar. Enfermagem. Abstract: Transversal retrospective study on the population served by the SAMU in Erechim, RS. It was sought to identify the proile of care provided by SAMU from October/2011 to September/2012. The data showed a total of 2041 outpatients in the period with the highest percentage in the months of February and March, aged over 5 years, at home. Traic accidents were highlighted followed by falls and neurological problems. 94.16% of the patients were taken to a hospital. Descriptors: Proile of care Emergency and Urgency Service; Prehospital Assistance; Nursing.


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Os profissionais da saúde que atuam no atendimento da população pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) recebem treinamento específico e prático na prestação de socorro imediato. A central de atendimento é a responsável por receber e retransmitir as ligações vinculadas aos pedidos de socorro. A rapidez no atendimento à vítima é uma das maiores exigências do sistema, que preconiza o menor tempo decorrido entre a solicitação do serviço pelo usuário e o início do atendimento, designado como tempo de resposta. Estudos2 demonstram que o sistema deve determinar e desencadear a resposta mais adequada para o caso, assegurar a disponibilidade dos meios hospitalares, determinar o tipo de transporte exigido e preparar o acolhimento dos pacientes. Segundo dados oficiais do Ministério da Saúde,³ as principais causas de morbidade da população, nas regiões metropolitanas, ocorrem por acidentes, envenenamentos e violências em geral, tendo predomínio na faixa etária entre 15 e 49 anos. Essas circunstâncias são responsáveis por incapacidades físicas permanentes ou temporárias. As consequências desses agravos, na maioria das vezes, estão relacionadas ao atendimento impróprio durante a fase adjacente na remoção dos pacientes até o ambiente hospitalar. A avaliação da urgência e da emergência é realizada por profissional da saúde por meio da anamnese e do exame físico dos pacientes. Os atendimentos caracterizados como emergência são avaliados atentando-se para alteração súbita nos sinais vitais; nessas situações são tomadas medidas e procedimentos imediatos, como ressuscitação cardiopulmonar, contenção de hemorragias e outros, os quais visam corrigir alterações que coloquem a vítima em risco iminente de óbito. O atendimento terá caráter de urgência quando o paciente não apresentar tais riscos. Os objetivos da pesquisa foram identificar o perfil epidemiológico da população atendida pelo SAMU, no período de outubro de 2011 a setembro de 2012; apontar os principais motivos da solicitação do serviço; e levantar o número de atendimentos realizados nos 12 meses da implantação do SAMU.

OFICIALIZAÇÃO DO SERVIÇO DE APH O SAMU foi normatizado pela Portaria GM nº. 1.864, de 29 de setembro de 2003,¹ caracterizando-se por prestar socorro à população em casos de urgênArtigo de Pesquisa - pag. 26 à 31

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cia, de natureza traumática, clínica, pediátrica, cirúrgica, gineco-obstétrica e psiquiátrica, que possam acarretar sofrimento, sequelas ou, até mesmo, morte. É um serviço de saúde devidamente hierarquizado e integrado ao Sistema Único de Saúde (SUS). O Serviço de Urgência é um dos componentes da Política Nacional de Atenção às Urgências, publicada através da Portaria GM nº. 1.863, de 29 de setembro de 2003,¹ que proporcionou avanço na organização do Sistema de Saúde do País, pois se estruturou uma rede de serviços regionalizada e hierarquizada para a atenção às urgências, bem como a implantação de um processo de regulação que desse eficiência cotidiana ao sistema.

BREVE HISTÓRICO E INSERÇÃO SOCIAL DO ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR O sistema de atendimento pré-hospitalar teve seus primeiros registros no século XVIII, durante as grandes guerras, em que eram realizados os atendimentos às vítimas, bem como o transporte dos feridos. O atendimento aos soldados no campo de batalha continuou no século XIX e levou à formação da Cruz Vermelha Internacional, em 1863, que verificou a necessidade do atendimento rápido e precoce aos feridos, tendo sua atuação destacada nas Guerras Mundiais do século XX.4 A partir das experiências nas guerras, desenvolveu-se um sistema de atendimento ao trauma por meio de uma abordagem sistematizada, na qual os procedimentos realizados para a estabilização da vítima no local da ocorrência da lesão e o seu transporte rápido demonstraram-se eficazes, reduzindo a morbimortalidade dos pacientes.5 No Brasil, em 1893, o Senado da República aprovou a Lei que pretendia estabelecer o socorro médico de urgência na via pública, no Rio de Janeiro. Já em 1899, o Corpo de Bombeiros carioca pôs em ação a primeira ambulância de tração animal para realizar o referido atendimento. Quase um século depois, em 1950, foi instalado em São Paulo o Serviço de Assistência Médica Domiciliar de Urgência (SANDU), que passou a ser responsável pelo atendimento das urgências da cidade.4 Os serviços de APH foram criados na década Revista Sul-Brasileira de Enfermagem. 2015; Ano 4. No18


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de 1980, de forma regionalizada, sem uma diretriz central e sem uma normatização unificadora. Assim, surgiram diversos modelos destinados a diferentes realidades.6 Autores7 expressam que o modelo pré-hospitalar móvel vigente em todos os países ocidentais tem sido inspirado na organização de dois modelos: um de origem americana e outro, francês. O americano prioriza o atendimento feito por paramédicos (técnicos), sendo o atendimento centrado na rápida transferência do paciente do local do trauma até o centro especializado. Já o modelo francês adota a presença de médicos nas ambulâncias; o atendimento é realizado no local do trauma, sendo esta conduta considerada um diferencial nos resultados em longo prazo.7- 5 No Brasil, o modelo adotado para o SAMU foi o francês, adequando-o às peculiaridades nacionais.7 O Sistema Integrado de Atendimento ao Trauma e Emergências (SIATE), apresentado pelo Ministério da Saúde, foi implantado em 1990, em Curitiba, e serviu de modelo para a estruturação do APH******* em nível nacional, iniciado a partir de 1990 com a criação do Programa de Enfrentamento às Emergências e Traumas (PEET) pelo Ministério da Saúde.5

DA POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO ÀS URGÊNCIAS A Legislação do SUS, na atenção às urgências, definiu as competências de cada esfera de governo, delegando aos gestores federal, estaduais e municipais e aos respectivos Conselhos de Saúde a autonomia para a edição e aplicação de medidas, normas técnicas e estratégias, visando a implantação e a implementação de serviços de urgência, garantidas as diretrizes de universalidade, de igualdade de acesso e da integralidade de assistência.1 A Atenção às Urgências deve fluir em todos os níveis do SUS, organizando a assistência desde as Unidades Básicas de Saúde, Equipes de Saúde da Família, até os cuidados hospitalares e pós-hospitalares na convalescença, recuperação e reabilitação.1 A Política de Atenção às Urgências tem como finalidade proteger a vida das pessoas e garantir a qualidade no atendimento no SUS, além de definir a atenção às urgências como organizadora da rede assistencial, a qual deve acolher todos os pacientes urgentes, em qualquer serviço de saúde, respeitando o seu limite de complexidade e sua capacidade de resolução.8 O Revista Sul-Brasileira de Enfermagem. 2015; Ano 4. No18

SAMU, criado através da Portaria GM/MS nº. 1.864, regulado por meio de Centrais de Regulação de Urgência, é o principal componente da Política Nacional de Atenção às Urgências.1 A Política tem como foco cinco grandes ações: organizar o atendimento de urgência nos pronto-atendimentos, unidades básicas de saúde e nas equipes da Estratégia de Saúde da Família; estruturar o atendimento pré-hospitalar móvel (SAMU, 192); reorganizar as grandes urgências e os prontos-socorros em hospitais; criar a retaguarda hospitalar para os atendidos nas urgências; e estruturar o atendimento pós-hospitalar.1 Deve, ainda, adotar estratégias promocionais de qualidade de vida, integrando a rede e seus diversos componentes, os quais são considerados pontos estratégicos de integralidade. De acordo com a Portaria GM/MS nº. 2.048, de 05 de novembro de 2002,¹ unidades como Estratégia de Saúde da Família (ESF), equipes dos Programas de Agentes Comunitários de Saúde (PACS), ambulatórios especializados, serviços de diagnóstico e terapia, e Unidades Não Hospitalares de Atenção às Urgências (Unidades de Pronto Atendimento, UPA) deverão possuir uma adequada retaguarda para referência dos pacientes que, uma vez acolhidos, avaliados e tratados neste primeiro nível de assistência, necessitem de cuidados disponíveis em serviços de outros níveis de complexidade, mediados pela central de regulação médica de atenção às urgências. O governo federal, através do SAMU, está reduzindo o número de óbitos, o tempo de internação em hospitais e as sequelas decorrentes da falta de socorro precoce.9 Pesquisas10 apontam que o serviço está disponível nas 24 horas, sendo constituído por equipes de profissionais da saúde que incluem médicos, enfermeiros e condutores, os quais respondem a emergências de diferentes naturezas, inclusive trauma, pediatria, cirurgia, ginecologia, obstetrícia, saúde mental e outros.

METODOLOGIA Trata-se de um estudo transversal, retrospectivo, realizado por meio do levantamento de dados do boletim de atendimento, junto ao SAMU de Erechim/RS, relativos ao período de outubro do ano de 2011 a setembro do ano de 2012. O estudo epidemiológico-descritivo11 tem como base um levantamento de dados que permite conhecer a distribuição da ocorrência de um evento em uma população específica, com o intuito de rever a distribuição de casos e, desse modo, Artigo de Pesquisa - pag. 26 à 31


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efetuar uma intervenção no tempo dos agravos mediante os resultados alcançados no estudo. Inicialmente, foi organizado um banco de dados, no programa Microsoft Office Excel, para a transcrição dos dados de maior relevância: idade, sexo, local de ocorrência do atendimento e tipos de assistência em que os pacientes foram conduzidos ao hospital. A estatística dos dados extraídos possibilitou demonstrar o perfil epidemiológico da população atendida pelo SAMU, apontando o número absoluto e a proporção dos sinais e sintomas clínicos de doenças e outras variáveis na população geral. Para o processamento dos dados, foram utilizados os programas Word e Excel. Os dados foram analisados na forma de percentual do número absoluto mensal nos quesitos pesquisados. Os princípios éticos foram observados segundo a Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde e aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões (URI/ Erechim) sob o nº. 03141312.7.0000.5351. O projeto foi apresentado ao Secretário Municipal de Saúde do município, solicitando sua autorização para o levantamento de dados.

ANÁLISE DOS RESULTADOS Foram quantificados os dados de 2.041 ocorrências atendidas pela Unidade de Suporte Básico (USB), no período compreendido entre outubro de 2011 a setembro de 2012. Destes, foram prestados 1.060 atendimentos com sinais e sintomas clínicos de doenças, e 981 pessoas foram vítimas de acidentes por causa externas. Distribuindo o número de ocorrências (Gráfico 1), os dados apontaram que a maior parte de atendimentos ocorreu no mês de fevereiro, com 10,09%, e o menor índice de chamados ocorreu no mês de outubro, com 6,67% dos atendimentos. Presume-se que o mês de outubro tenha sido o de menor número de ocorrências por ser o primeiro, uma vez que o serviço foi implantado naquele mês no município. Quanto aos demais meses, observando a distribuição dos atendimentos, percebeu-se uma pequena oscilação mensal no número de assistências realizadas à população, de forma crescente até fevereiro e que se manteve levemente oscilante até o final do estudo. Artigo de Pesquisa - pag. 26 à 31

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Gráfico . Número de ocorrências mensais

Os dados também indicaram que um maior número de homens necessitou de atendimento da USB, pois, quanto ao sexo, o masculino foi apontado em 58%, em relação ao feminino, com 42% do total de assistências. Em um estudo semelhante realizado em Palmas (TO), o número de atendimentos variou entre 52,7% no sexo masculino e 47,3% no sexo feminino.12 Da distribuição de assistência por sexo em relação ao mês de atendimento, os dados apontaram que no mês de fevereiro o feminino atingiu sua maior porcentagem (12,27%), com 104 atendimentos, e o masculino teve sua maior porcentagem no mês janeiro (10,72%), com 128 atendimentos. A menor porcentagem de assistência para o sexo feminino foi identificada no mês de outubro, com 53 assistências (6,25%), e no sexo masculino ocorreu no mês de julho, com 73 assistências (6,11%). O total de assistências a homens foi superior ao das mulheres, atingindo o número de 1.194 assistências no período e uma média diária de 3,31 atendimentos. Já as mulheres atingiram o número de 847 assistências no período, com média diária de 2,35 atendimentos.

Gráfico . Atendimento mensal por sexo

A maior porcentagem de assistências para a população menor de 50 anos de idade ocorreu no Revista Sul-Brasileira de Enfermagem. 2015; Ano 4. No18


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mês de novembro, com 92 atendimentos (10,81%), e, na população com mais de 50 de idade, ocorreu em fevereiro, com 123 atendimentos (10,33%). Já o menor número de atendimentos prestados para a população menor de 50 anos ocorreu em julho, com 54 casos (6,34%), e, para população maior de 50 anos, ocorreu em outubro, com 51 casos (4,28%). Nos 12 meses analisados ocorreram 1.055 atendimentos domiciliares (51,70%) e 986 atendimentos em via pública (48,30%). Quanto ao número de assistências realizadas no domicílio, a maior porcentagem de ocorrências foi registrada em dezembro, com 98 atendimentos (9,28%). Na população atendida em via pública, o maior número de chamados foi registrado no mês de maio, com 99 atendimentos (10,04%). O menor número de ocorrências em domicílio foi em agosto, com 70 atendimentos (6,63%), e, na via pública, ocorreu nos meses de outubro e novembro, com 56 casos cada mês, representando 5,67% do total. No Gráfico 3, pode-se observar que, do total de atendimentos realizados pelo SAMU, a maioria teve como causa os casos clínicos, sendo os demais por causas externas (acidentes). Os casos clínicos representaram 59,3% dos atendimentos, sendo neurológicos com 10,87%, circulatórios com 10,19%, respiratórios com 4,36%, psiquiátricos com 5,83%, e outros com 27,73%. As causas externas (acidentes) representaram 40,7% do total, tendo as quedas 15,72% e os acidentes de trânsito 24,98%. As outras ocorrências mencionadas acima, com 27,73%, representaram as mais diversas situações.

Dos 2.041 chamados com deslocamento da equipe do SAMU de Erechim, durante 24 horas, no período de 12 meses, verificou-se que, do total dos atendimentos, 1.922 pessoas foram atendidas no local, com os primeiros socorros mediante assistência médica via telefone e conduzidas até o ambiente hospitalar. Já em 119 chamadas realizadas pela população, o SAMU chegou até o local e mediante orientação médica da central, constatou a não classificação de atendimento de casos de urgência ou emergência. Ainda, no total de atendimentos, classificados no Gráfico 3 como outras ocorrências, foram verificadas 25 paradas cardiorrespiratórias, nas quais foram iniciadas as manobras de reanimação cardiopulmonar e deslocados os pacientes, com a maior brevidade, ao setor de emergência do hospital de referência do SUS no município. No local da cena ocorreram 17 óbitos, incluindo clínicos e traumas.

CONCLUSÕES A pesquisa mostrou, pela análise, que a presença do SAMU pela oferta de serviço móvel de urgência e emergência é fator primordial para a manutenção e salvamento de vidas. O serviço APH foi implantado nos municípios para suprir as demandas dos pacientes que precisam de atendimento de urgência e emergência, necessitando de uma assistência especializada, com materiais e recursos humanos adequados para a manutenção da vida e uma remoção segura até o atendimento hospitalar. É inegável que esse tipo de atendimento à saúde, por suas características, também colabore para o aumento de longevidade e da qualidade de vida nas populações assistidas. Considerou-se o estudo pertinente na medida em que os dados e sua análise também são socializados com todos os profissionais de saúde, gestores dessa área e demais interessados em conhecer melhor a atuação do serviço móvel de urgência no Brasil.

Gráfico . Tipos de atendimentos

Em pesquisa13 realizada sobre seis meses de funcionamento do SAMU de Cuiabá (MT), no período de agosto de 2007 a fevereiro de 2008, apontaram que houve 1.770 atendimentos realizados, sendo que o número de atendimentos por causas traumáticas foi de 1.224 (69,16%); e por causas clínicas foi de 546 (30,84%). Revista Sul-Brasileira de Enfermagem. 2015; Ano 4. No18

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Recebido: 13.11.2014 Aprovado: 01.12.2014

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* Enfermeira. Especialista em Urgências e Emergências (URI/Erechim). Responsável Técnica pelo SAMU/Erechim. E-mail: elaine.samu@yahoo.com.br ** Enfermeira. Mestre em Enfermagem (UFRGS); docente do curso de Enfermagem da URI/ Erechim. E-mail: lucianadb@uri.com.br *** Enfermeira. Doutora em Educação (UNISINOS); docente do curso de Enfermagem da URI/ Erechim. E-mail: roseanam@uri.com.br **** Enfermeiro. Mestre em Enfermagem (UFSC); doutorando em Ciências da Saúde (UNESC); docente do curso de Enfermagem da URI/Erechim. E-mail: iranyd@uri.com.br ***** Enfermeira. Mestre em Saúde e Gestão do Trabalho (UNIVALI-SC); docente do curso de Enfermagem da URI/Erechim. E-mail: cibelem@uri.com.br ****** Enfermeira. Especialista em Administração Hospitalar e Enfermagem MédicoCirúrgica (UnC); docente do curso de Enfermagem da URI/Erechim. E-mail: zave@bol.com.br ******* O Conselho Federal de Medicina define urgência como a ocorrência imprevista de agravo à saúde, com ou sem risco potencial de vida, cujo portador necessita de assistência médica imediata; e, como emergência, a constatação médica de condições de agravo à saúde que impliquem em risco iminente de vida ou sofrimento intenso, exigindo, portanto, tratamento médico imediato.

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Normas para publicação

A Revista Sul-Brasileira de Enfermagem é uma publicação bimestral, que tem por objetivo ser um dos principais veículos de divulgação do conhecimento na área de enfermagem no Brasil, promovendo, o desenvolvimento técnico-científico dos profissionais, publicando trabalhos originais e inéditos, de revisão, atualização ou relatos de casos/experiências. Seu conselho editorial, que tem caráter consultivo, é constituído por pesquisadores em enfermagem, de origem institucional diversificada, e é o principal responsável pela qualidade do conteúdo da revista. Apresentação do manuscrito 1. Os manuscritos apresentados devem destinar-se exclusivamente à Revista Sul-Brasileira de Enfermagem, não sendo permitida sua apresentação simultânea a outro periódico, no que se refere ao texto, às figuras ou tabelas, quer na íntegra ou parcialmente, excetuando-se resumos ou relatórios preliminares publicados em anais de reuniões científicas. 2. Nas pesquisas envolvendo seres humanos, os autores deverão enviar uma cópia de aprovação emitida pelo Comitê de Ética, reconhecido pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP), segundo as normas da Resolução do Conselho Nacional de Saúde – CNS 196/96 ou órgão equivalente no país de origem da pesquisa. O número do processo/projeto deverá constar no método do trabalho. 3. A Revista Sul-Brasileira de Enfermagem adota as normas do Comitê Internacional de Editores de Revistas Médicas (estilo Vancouver), publicadas no New England Journal of Medicine 1997; 336:309. 4. Figuras e tabelas deverão ser apresentadas em arquivo com boa resolução e separadas do texto (imagens com mínimo de 300 dpi). 5. O(s) autor(es) dos textos são por eles inteiramente responsáveis, devendo assinar e encaminhar a declaração de responsabilidade e Cessão de Direitos Autorais, conforme modelo abaixo. Declaração de Responsabilidade e Cessão de Direitos Autorais. Vimos submeter à aprovação da Revista Sul-Brasileira de Enfermagem o artigo ______________________________ ________________________________________________ ________________________________________ e informamos que todos os procedimentos éticos devidos foram observados. Declaramos que o trabalho é inédito e está sendo enviado com exclusividade à Revista. Concordamos que, em caso de aceitação do mesmo, os direitos autorais a ele referentes passarão a ser propriedade exclusiva da Revista Sul-Brasileira de Enfermagem. Categoria do artigo: _________________________ Assinatura dos Autores: _______________________________________ _______________________________________ _______________________________________ _______________________________________ _______________________________________ Data: _____/_____/_____.

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6. O(s) autor(es) deve(m) especificar no artigo indicação de financiamentos relacionados ao trabalho a ser publicado. Categorias de manuscritos aceitos pela Revista (A) Artigos originais/Pesquisas – Investigação baseada em dados empíricos, concluída, utilizando metodologia científica e que possam ser aplicadas e generalizadas. Devem atender aos princípios de objetividade e clareza da questão norteadora. Sua estrutura deve conter. – Introdução: apresentação e delimitação do assunto tratado, os objetivos da pesquisa e outros elementos necessários para situar o tema do trabalho. – Objetivo: especifica de maneira clara e sucinta a finalidade da pesquisa, com detalhamento dos aspectos que serão ou não abordados. Os objetivos podem ser definidos como gerais ou específicos a critério do autor. – Revisão da literatura: levantamento selecionado da literatura sobre o assunto que serviu de base à investigação do trabalho proposto. Proporciona os antecedentes para a compreensão do conhecimento atual sobre um assunto e esclarece a importância do novo estudo. Em algumas áreas, já existe a tendência de limitar a revisão apenas aos trabalhos mais importantes, que tenham relação direta com a pesquisa desenvolvida, priorizando as publicações mais recentes. Quando não houver necessidade de um capítulo para a Revisão da Literatura em função da extensão histórica do assunto, ela poderá ser incluída na Introdução. – Método: descrição completa dos procedimentos metodológicos que permitam viabilizar o alcance dos objetivos. Devem ser apresentados: tipo de pesquisa, dados sobre o local onde foi realizada a pesquisa, população estudada, tipo de amostra, variáveis selecionadas, material, equipamentos, técnicas e métodos adotados para a coleta de dados, incluindo os de natureza estatística. – Resultados: devem ser apresentados de forma clara e objetiva, sem interpretações ou comentários pessoais, podendo, para maior facilidade de compreensão, estar acompanhados por gráficos, tabelas, figuras, fotografias etc. – Discussão: deve restringir-se aos dados obtidos e aos resultados alcançados, enfatizando os novos e importantes aspectos observados e discutidas as concordâncias e divergências com outras pesquisas já publicadas. – Conclusões: correspondem aos objetivos ou hipóteses de maneira lógica, clara e concisa, fundamentadas nos resultados e discussão, coerentes com o título, proposição e método. Incluem-se ainda as Referências Bibliográficas (12 páginas de Word, espaçamento duplo). (B) Artigos de revisão – Estudo crítico, abrangente e sistematizado da literatura sobre um assunto de interesse para o desenvolvimento da Enfermagem, devendo apresentar análise e conclusão. (09 páginas no Word, espaçamento duplo). (C) Artigos de atualização ou divulgação – Trabalhos descritivos e interpretativos, com fundamentação sobre a situação global em que se encontra determinado assunto investigativo ou potencialmente investigativo. (05 páginas de Word, espaçamento duplo) (D) Experiência profissional/Relato de caso – Descrição de experiências assistenciais e de extensão, estudos avaliativos, originais contendo análise de implicações conceituais ou descrição de procedimentos com estratégias de intervenção, evidência metodológica apropriada de avaliação de eficácia, de interesse para a atuação de enfermeiros


Normas para publicação em diferentes áreas. (09 páginas no Word, espaçamento duplo). Processo de julgamento dos manuscritos Após o recebimento, o artigo é inicialmente analisado quanto ao cumprimento das normas estabelecidas para publicação, sendo sumariamente devolvido em caso de não atendimento. Se aprovado, é encaminhado para avaliação de dois consultores ad hoc, escolhidos entre pesquisadores de renomada competência na área do artigo, que exibirão seus pareceres aceitando, recomendando modificações ou recusando o mesmo. (Em qualquer situação os autores serão comunicados.) Havendo discordância nos pareceres, o manuscrito é encaminhado a um terceiro relator. O anonimato é garantido durante todo o processo de julgamento. Os pareceres dos relatores são analisados pelo Conselho Editorial que, se necessário, indica as alterações a serem efetuadas. Os trabalhos seguem para publicação somente após a aprovação final dos pareceristas e do Conselho Editorial. Após a aceitação do trabalho, os autores serão comunicados da decisão, com a data prevista para publicação, o volume e o fascículo da Revista na qual o artigo será publicado. Os artigos não publicados não serão devolvidos, serão destruídos seis meses após o final dos trâmites da revista. Preparo dos manuscritos • Folha de rosto com título que identifique o conteúdo em português e inglês, contendo o(s) nome(s) do(s) autor(es), a titulação e a instituição a que pertence(m). Serão aceitos até seis autores. • Resumo informativo em português e inglês (summary) com até 150 palavras. • Quatro unitermos (palavras-chave) que permitam identificar o assunto do artigo, apresentados em português e inglês (keywords). • Dados que permitam sua compreensão, como explicações sobre o sentido das abreviaturas e símbolos. • Errata: após a publicação do artigo, os autores, se identificarem a necessidade de uma errata, deverão enviá-la à Secretaria da Revista imediatamente e de preferência por e-mail. Referências bibliográficas (Exemplos) Artigos de perídicos: • Padrão: Elias MS, Cano MAT, Mestriner W Jr, Ferriani MGC. A importância da saúde bucal para adolescentes de diferentes estratos sociais do município de Ribeirão Preto. Rev Latino-Americana de Enfermagem 2001 jan.; 9 (1):88-95 • Artigo com indicação de subtítulo: Diniz NMF, Lopes RLM, Almeida MS, Gesteira SMA, Oliveira JF. Psicodrama com estratégia pedagógica: vivências no ensino de graduação na área da saúde da mulher. Rev. Latino-am. Enfermagem 2000 ago.; 8(4);88-94.

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Materiais em formato eletrônico: • Artigo de perídicos: Braga EM, Silva MJP. Como acompanhar a progressão da competência no aluno de enfermagem. Rev Esc Enfermagem USP (periódico na Internet). 2006 (citado 2006 set. 28);40(3): (cerca de 7 p). Disponível em: http://.ee.usp.br/ reeusp/upload/pdf/258.pdf • Livro ou monografias: Alvarenga, RE. Cuidados paliativos domiciliares: percepções do paciente oncológico e seu cuidador. Porto Alegre: Moriá; 2005. Calil AM, Paranhos WY. O enfermeiro e as situações de emergência. São Paulo (SP): Atheneu; 2007 • Capítulo do livro ou monografia: Debert, GG. Problemas relativos à utilização da história de vida e história oral. In: Cardoso RCL. A aventura antropológica. Teorias e pesquisa. 2ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra; 1998. p.64-78. • Dissertação e tese: Amarante ST. Analise das condições ergonômicas do trabalho das enfermeiras de centro cirúrgico. (dissertação). São Paulo (SP): Escola de Enfermagem/USP; 1999. • Anais: Carreiro FA. A Equipe de Enfermagem e o Corpo (do) Queimado Durante a Balneoterapia. In: Anais do 11º CBCENF-Congresso Brasileiro dos Conselhos de Enfermagem; 2008 ago. 31 a set. 03; Belém-PA, Brasil. Envio do manuscrito Os artigos originais encaminhados para avaliação e publicação deverão ser enviados por e-mail ou correio para o endereço da editora constante no final destas normas, aos cuidados do Conselho Científico. Os autores deverão ser assinantes da revista. Os trabalhos que forem encaminhados via correio deverão ser acompanhados de CD, uma cópia impressa com figuras e tabelas, juntamente com a Declaração de Responsabilidade e Cessão de Direitos Autorais, assinada por todos os autores, através de carta registrada ou sedex. Recomenda-se o uso do programa Word (papel formato A4; margens: superior 1,5 cm, inferior 1 cm; laterais 3 cm), bem como a fonte Times, tamanho 12, entrelinha dupla, em uma coluna. Pode conter ilustrações que sejam relacionadas com o assunto e tenham boa qualidade para impressão em cores ou em preto e branco (300 dpi). Texto justificado e com número de página no rodapé. Moriá Editora Ltda. Revista Sul-Brasileira de Enfermagem Av do Forte ,1573 Caixa Postal 21603 Vila Ipiranga – Porto Alegre/RS E-mail: revistasulbrasileira@gmail.com Contato: 51.9116.9298 / 3334.4753

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Curso TERAPIA INTRAVENOSA PARA ENFERMAGEM Graziella Gasparotto Baiocco

Aula 1: Princípios da Terapia Intravenosa para o Enfermeiro e Segurança do paciente

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Aula 2: Anatomia e fisiologia do sistema vascular

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Aula 3: Avaliação da rede venosa e opções para escolha do acesso Aula 4: Curativo e estabilização dos acessos

Aula 5: Complicações da Terapia Intravenosa e intervenções

Aula 6: Principais Diagnósticos de Enfermagem na Terapia Intravenosa Aula 7: Especificidades da Terapia Intravenosa

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Organizador a: Enfer meir a Gr aziella Gasparotto Baiocco Mestre em Medicina e Ciências da Saúde pela PUC – RS, Especialista em Nefrologia pela SOBEN, Especialista em Terapia Intensiva pela UNISINOS – RS. Enfermeira do setor de Gerenciamento de Risco do Grupo Hospitalar Conceição. Membro da Rede Brasileira de Enfermagem e Segurança do Paciente - Rebraensp. Membro do Conselho Científico da Revista Sul- Brasileira de Enfermagem. Email: grazigasparotto@terra.com.br

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CURSO: TERAPIA INTRAVENOSA PARA ENFERMAGEM Aula 7: Especificidades da Terapia Intravenosa/Infusional

É difícil imaginar a medicina moderna sem a terapia infusional. A frase é recorrente entre médicos e enfermeiros que veem na técnica um importante recurso para a administração de medicamentos, nutrição, soros ou reposição volêmica. Considerado um procedimento insubstituível e necessário em qualquer tratamento, a terapia infusional é realizada por meio de acessos venosos periféricos ou acessos venosos centrais, os quais podem ser intradérmicos, subcutâneos, intramusculares e endovenosos. Cada vez mais as instituições estão percebendo a necessidade de formar profissionais habilitados e capacitados para tal função, assim como a formação de times ou equipes responsáveis pela terapia infusional, desde a implantação dos cateteres, sua manutenção, retirada e controle dos dados. Cursos e especializações sobre a Terapia Infusional e suas especificidades estão mais frequentes e proporcionam o embasamento necessário às equipes de enfermagem para atuarem na área. A seguir citaremos algumas especificações que podem facilitar as práticas da terapia infusional, proporcionando maior segurança ao paciente e profissional:

1. Punção com microintrodutor ou técnica de Seldinger modificada A técnica mais popular para inserção de um cateter periférico é através da punção de uma veia do antebraço ou braço, utilizando um dispositivo intravenoso curto montado sobre agulha (Abbocath®, Jelco®). Para a inserção de um Cateter Central de Inserção Periférica (CCIP), pode-se utilizar um introdutor tipo excalibur que “descasca” (peel away). A primeira vantagem dessa técnica está relacionada com o fato de que as veias da fossa antecubital são mais fáceis de serem visualizadas e palpadas e a maioria dos enfermeiros tem experiência prévia nesse tipo de punção. Além disso, por essa região não ter nenhuma estrutura vital próxima às veias, não há registros de complicações sérias relacionadas a punção.¹ Entretanto, vários fatores podem influenciar negativamente no sucesso dessa punção venosa, como: 1,2 - Veias de pequeno calibre ou já puncionadas para coletas de sangue; - Edema ou obesidade; - Espasmo venoso no momento da punção;

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- Calibre dos introdutores convencionais que variam entre 16 g e 13 g, o que dificulta o acesso ao vaso escolhido; - Avanço da cânula sem o suporte de uma guia pode danificar a veia escolhida; - Introdutores calibrosos podem intimidar tanto o paciente quanto o profissional que está em fase de aprendizado. Nessas situações, uma técnica menos invasiva pode contribuir para melhorar os resultados da punção venosa e minimizar o trauma dos tecidos adjacentes ao sítio de inserção. Esse procedimento é conhecido como técnica de Seldinger modificada ou punção com microintrodutor. Essa técnica consiste na venopunção com uma agulha de baixo calibre, seguida da inserção de uma guia através dessa agulha para dentro do vaso, que servirá de suporte para colocação do introdutor, reduzindo os riscos de transfixação do vaso. A agulha é removida e é feita uma dermatotomia para inserção do conjunto dilatador/introdutor. Esse procedimento pode ser realizado com o próprio dilatador que acompanha o introdutor ou com o auxílio de uma lâmina de bisturi. A guia é transpassada por dentro do conjunto dilatador-introdutor. Esse conjunto é introduzido através da pele, alcançando o vaso; a guia e o dilatador são removidos; e o CCIP é introduzido através do introdutor. Depois, o introdutor é tracionado para fora do vaso e “quebrado” pelo sistema “peel away”. 3,4 As vantagens da punção com microintrodutor são: maiores taxas de sucesso na punção venosa, utilização de agulha de menor calibre, menor trauma ao tecido adjacente ao vaso, redução do risco de danificar o cateter durante a inserção.3,4 A técnica de Seldinger modificada é bastante utilizada na punção de vários tipos de acessos venosos centrais, como cateter venoso central curto, cateter para hemodiálise e cateter totalmente implantado. Os CCIP com microintrodutores são relativamente recentes no Brasil. Nos Estados Unidos, a técnica de Seldinger modificada é amplamente utilizada pelos enfermeiros especialistas em inserção de CCIP. 3,4 Essa técnica pode ser utilizada até mesmo em unidades de neonatologia e pediatria. Um estudo mostrou taxas de sucesso utilizando microintrodutor em crianças de 1 dia a 7 anos. As complicações estão associadas ao movimento da criança enquanto se punciona a veia, mas, com o uso do microintrodutor, pequenos movimentos não comprometem a punção, o que levou a uma menor necessidade de sedação, acompanhada de ótimas taxas de sucesso. 5 Revista Sul-Brasileira de Enfermagem. 2015; Ano 4. No18


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CURSO: TERAPIA INTRAVENOSA PARA ENFERMAGEM Aula 7: Especificidades da Terapia Intravenosa/Infusional

A técnica de Seldinger é descrita também em pacientes com acesso venoso precário que internam na emergência. Quando associada ao uso do ultrasom, mesmo em uma população com veias difíceis de serem puncionadas, os resultados positivos são satisfatórios ao serem comparados a outras técnicas.6 Podemos descrever como desvantagens dessa técnica a necessidade da dermatotomia, que se trata de uma pequena incisão feita na pele próximo ao sítio da inserção para a progressão do introdutor. No Brasil ainda não há uma regulamentação que dê suporte legal para o enfermeiro realizar essa técnica, bem como a aplicação da anestesia local. O Conselho Regional de Enfermagem do Rio Grande do Sul (COREN–RS) normatiza a punção através da Decisão 096/2013.

2. Cateteres com válvula distal ou tecnologia Groshong® A tecnologia Groshong foi desenvolvida pelo Dr. Leroy Groshong no início da década de 1980. Ela consiste em um cateter construído em 100% silicone de grau médico, radiopaco, com a ponta distal fechada e arredondada. Ao contrário dos cateteres convencionais de ponta aberta, o Groshong possui uma válvula (ou duas, no caso de duplo lúmen) de três posições em sua extremidade distal, a qual permite que haja aspiração ou infusão de líquidos através dela quando for exercida pressão, porém permanece fechada quando estiver em repouso (pressão zero).7 A válvula Groshong funciona em três posições básicas, dependendo da pressão que é exercida no cateter. Está localizada próxima a ponta distal do cateter, permitindo a infusão de líquidos e aspiração de sangue. Essa válvula foi idealizada para permanecer fechada entre intervalos de pressão variáveis entre -7 e 80 mmHg. Vale ressaltar que a veia cava superior, local onde deve estar a ponta distal do CCIP, possui uma pressão que varia entre 0 e 5 mmHg, o que mantém a válvula fechada, ou seja, quando o cateter não está em uso, a entrada de ar no sistema e o refluxo sanguíneo é restringido.8 Considerando que a pressão normal na veia cava superior (pressão venosa central) é entre 0 e 5 mmHg, a válvula permanecerá fechada sob esta pressão. A pressão na veia cava superior deve exceder 80 mmHg para que a válvula se abra para dentro. Da mesma forRevista Sul-Brasileira de Enfermagem. 2015; Ano 4. No18

ma, pressão negativa (vácuo) fará com que a válvula se abra para dentro, permitindo a aspiração de sangue. Quando a válvula está fechada, a entrada de ar no sistema não é possível, a não ser que a pressão na veia cava chegue a valores abaixo de -7 mmHg.8 A pressão positiva exercida pela gravidade, por bomba de infusão ou pela seringa promoverá a abertura da válvula para fora, permitindo a infusão de líquido. Quando a pressão retornar a valores entre -7 e 80 mmHg, a válvula fechará. A necessidade de utilização de solução anticoagulante (heparina) é eliminada, pois a válvula fechada impede a entrada de sangue, prevenindo a obstrução do cateter. 8 Da mesma forma, ao aspirar o cateter, ocorre a abertura da válvula em direção ao lúmen interno, possibilitando o teste de refluxo ou coleta de sangue. Depois, o cateter deve ser salinizado com o dobro do volume do “priming”, a fim de remover completamente todo sangue e resíduos do interior do cateter e permitir que a válvula retorne à posição normal – fechada.8 Vantagens do dos cateteres com a tecnologia Groshong9, 12 1 - Maior segurança do paciente devido ao risco reduzido de embolia aérea ou refluxo sanguíneo; 2 - Eliminação do uso da heparinização para manutenção do cateter; 3 - Dispensa a utilização de clamp; 4 - Maior fluxo, pois para construção da válvula foi necessário aumentar o lúmen interno do cateter e reduzir a espessura das paredes; 5 - Ideal para uso ambulatorial ou home care, pois elimina a necessidade de cuidados de manutenção do cateter.

3. CCIP e “Power Injection” O cateter central de inserção periférica apresenta várias vantagens na sua utilização, das quais podemos salientar menores índices de infecção, maior tempo de permanência, bem como custo-benefício positivo. Uma limitação para o seu uso está relacionado com as taxas de fluxo e com a resistência a altas pressões que o CCIP de silicone oferece. Em geral, os cateteres de silicone ponta aberta ou Groshong suportam até 40 psi, com fluxos de infusão limitados, apesar dos cateteres valvulados oferecerem um maior fluxo na infusão do que os ponta aberta.10,12


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Desde 2004, a Food and Drug Administration (FDA) aprovou o primeiro CCIP de poliuretano chamado de Power PICC, que foi registrado pela Bard Access Systems. Esse cateter de poliuretano é capaz de suportar até 300 psi, sendo suficiente para ser ligado a uma bomba injetora de contraste. A Bard também desenvolveu um CCIP “Power” triplo – lúmen para uso em pacientes criticamente enfermos que necessitem de múltiplas infusões. Sua finalidade é poder oferecer um cateter de inserção periférica (e as vantagens desse sítio), reduzindo as taxas de complicações relacionadas à inserção e os índices de infecção. 10,12 O portfólio de cateteres que suportam altas pressões variam no número de lumens, calibres e no tipo de válvula proximal. Temos disponível cateter 4 Fr monolúmen, cateter 5 Fr monolúmen e duplo lúmen e 6 Fr triplo lúmen.10,12 A utilização do Power Picc® para injeção automática de contraste segue uma série de cuidados que deve ser rigorosamente respeitada. Antes de programar a bomba injetora, deve-se testar o cateter para fluxo e refluxo. Caso não haja refluxo de sangue, o cateter não deve ser usado para infusões de alta pressão. Como será infundido contraste em um fluxo de 5 mL/s, ele deve estar aquecido. Nos cateteres de duplo lúmen, as duas vias suportam infusão em alta pressão. Nos cateter triplo lúmen, somente a via intermediária suporta altas pressões. 10,12 A manutenção do cateter é semelhante ao CCIP de silicone. A troca do curativo deve ser feita a cada sete dias com filme transparente. A salinização do cateter deve ser feita a cada 12 horas, se o uso for intermitente, seguida de heparinização com 1 mL da solução de heparina diluída. A pressão venosa central pode ser verificada e recomenda-se a manutenção de uma infusão a 3 mL/h na via utilizada.12 O Power Picc®, quando comparado ao CCIP Groshong®, apresentou menores taxas de complicações relacionadas à resistência do cateter. Nos demais itens, os resultados foram semelhantes. 11,12 O CCIP de poliuretano termossensível é bastante útil em terapia intensiva e nos pacientes que necessitem de tomografias computadorizadas de repetição. A utilização da técnica de Seldinger modificada para inserção do cateter reduz os risco de sangramentos e tromboses. A utilização desse cateter em terapia intensiva, inserido pelo enfermeiro intensivista, pode ser um diferencial para a equipe de enfermagem que busca autonomia, qualidade na assistência e reconhecimento pelas diversas equipes de saúde. 10,12

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4. A utilização do ultrassom em punções venosas: Atualmente, o número de publicações que relacionam a inserção de CCIP com a ultrassonografia vem crescendo e demonstrando grandes vantagens na utilização dessa tecnologia. A partir da década de 1990, as máquinas de ultrassom reduziram de tamanho, facilitando a sua portabilidade e o seu uso à beira do leito por enfermeiros e médicos na punção de acessos venosos.13 A utilização do ultrassom na localização das veias permite a avaliação do calibre, do fluxo e do curso do vaso, reduzindo o número de tentativas de inserção. As chances de sucesso das punções guiadas por ultrassom variam entre 80 e 100%. Além disso, com a ultrassonografia é possível optar por realizar a punção na região superior do braço, por meio da técnica de Seldinger modificada com microintrodutores, o que reduz o risco de complicações. As punções acima da fossa antecubital reduzem os riscos de flebites mecânicas, pois se pode estabilizar de forma adequada o CCIP.14 No ano de 2001, a Agency for Healthcare Research and Quality (AHRQ) publicou uma lista com 79 práticas seguras revisadas, das quais 11 foram identificadas como de alta eficácia. A punção venosa guiada por ultrassom foi incluída dentro das 11 práticas mais eficazes. 15 Da mesma forma, o American College of Emergency Phisicians publicou, em seu guideline, que todos os cateteres centrais devem ser inseridos com o auxílio de imagens de ultrassom. 16 Ainda, a punção venosa guiada por ultrassom também foi endossada pelo National Institute for Clinical Excellence, no Reino Unido. As vantagens de se utilizar a ultrassonografia à beira do leito para inserção de CCIP são inúmeras, dentre elas, podemos citar:

PAumento da taxa de sucesso com uma única punção; 17

PRedução

significativa das taxas de trombose em adultos; 14

PAumento das opões de veias puncionáveis; 17 PPossibilidade de uso de cateteres mais calibrosos; 18 PPossibilidade de visualização de artérias, evitando punção inadvertida; 18

PRedução de trauma do tecido. Revista Sul-Brasileira de Enfermagem. 2015; Ano 4. No18


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CURSO: TERAPIA INTRAVENOSA PARA ENFERMAGEM Aula 7: Especificidades da Terapia Intravenosa/Infusional

A utilização de novas tecnologias baseadas em evidências científicas visa garantir o conforto e a segurança do paciente, tornando a terapia infusional cada vez mais eficaz.

Referências: 1. BARD AMLESS SYSTEMS. Peripherally Inserted Central Catheters and Midline Selection, Insertion and Management. Salt Lake City, Utah, 1998. 2. PETTIT, J. Technological Advances for PICC: Placement and Management. Advances in Neonatal Care. V.7, n.3, junho, 2007. 3. WEINSTEIN, S. Plumer’s Principles and Practice of Intravenous Therapy. 8ª edição, 2006. Ed. Lippincot. 4. PHILLIPS, LD. Manual de Terapia Intravenosa. 2ª ed. Porto Alegre: Artmed; 2001. 5. WALD, M. A new modified Seldinger technique for 2- and 3-French peripherally inserted central venous catheters. European Journal of Pediatrics. n.167, 2008 6. MAHLER, S. Ultrasound-guided peripheral intravenous access in the emergency department using a modified sedinger technique. The Journal of Emergence Medicine. v.39, n.3, setembro, 2010. 7. BARD AMLESS SYSTEMS, Groshong Nursing Procedure Manual, 1995. 8. BARD AMLESS SYSTEMS, Groshong PICC, 1998. 9. CÁCERES, R. et al. II Curso de Certificação para Inserção do PICC por Ultrassom. Porto Alegre, 2007

Revista Sul-Brasileira de Enfermagem. 2015; Ano 4. No18

10. TILTON, D. How to fine-tune your Picc care. Modern Medicine, 2006. Disponível em: <http://www.modernmedicine. com/modernmedicine/article/articleDetail.jsp?id=368379>. Acesso em: 14 ago. 2014. 11. ONG, C. Prospective Randomized Comparative Evaluation of Proximal Valve Polyurethane and Distal Valve Silicone Peripherally Inserted Central Catheters. J. Vasc. Interv. Radiol. v. 21, agosto, 2010. 12. FIORAVANTI G J. in BAIOCCO G. G. et al. Cateter Central de Inserção Periférica – CCIP na prática de enfermagem. Moriá: Porto Alegre, 2013. 13. McGrath J. The use of bedside ultrasonography for PICC placement and insertion. Advances in Neonatal Care. 2001; 11(1). 14. Stokowski G, Steele D, Wilson D. The use of ultrasound to improve practice and reduce complication rates in peripherally inserted central catheters insertions. Journal of Infusion Nursing. mai./jun. 2009; 32(5). 15. Agency for Health Care Research and Technology. Making health care safer: Agency for Health Care Research and Technology, US. 2001. 16. McMahon D. Evaluating new technology to improve patient outcomes: a quality improvement approach. Journal Infusion Nursing. 2002; 25(4). 17. Nichols I, Doellman D. Pediatric peripherally inserted central catheter placement: aplication of ultrasound technology. Journal Infusion Nursing. 2009; 32(3). 18. Donaldson J et al. Peripherally inserted central catheter: US-guided vascular access in pediatric patients. Radiology. 1995; 197(2).


Atualização

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Assistência à Saúde da Mulher com ênfase em Saúde Coletiva

Aula 1: Retrospectiva da Assistência à Saúde da Mulher no Brasil - PAISM; SUS; ESF Aula 2: A Consulta de Enfermagem - Atenção Integral à Saúde Feminina

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Aula 3: Atenção Integral à Saúde da Mulher no Ciclo Reprodutivo Aula 4: Atenção Integral à Saúde da Mulher no Período Gravídico-Puerperal Aula 5: Climatério Aula 6: Atenção Integral à Saúde da Mulher

Cibele Sandri Manfredini

Graduada em Enfermagem e Obstetrícia pela Universidade Federal de Pelotas; especialista em Gerenciamento dos Serviços de Enfermagem pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul; especialista em Enfermagem Materno Infantil Universidade do Contestado-SC; Mestre em Saúde e Gestão do Trabalho com ênfase em Estratégia da Saúde da Família pela Universidade do Vale do Itajaí-SC. Docente no curso de Enfermagem na Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões/Erechim nas disciplinas de Saúde da Mulher e Saúde da Criança e do Adolescente. Tem experiência na área de Enfermagem, com ênfase em Saúde e Organização, atuando principalmente nos seguintes temas: enfermagem, cuidado, educação, adolescente, consulta de enfermagem, pré-natal, planejamento familiar, educação sexual, pediatria, saúde escolar, e saúde coletiva com ênfase em Estratégia Saúde da Família. Contato: cibelem@uricer.edu.br

Roseana Maria Medeiros

Bacharel e licenciada em Enfermagem; especialista em Educação pela Universidade de Caxias do Sul; especialista em Educação Popular pela Universidade do Vale dos Sinos (UNISINOS); Mestre em Educação Universidade Federal do Rio Grande do Sul; Doutora em Educação pela UNISINOS. Docente e coordenadora do curso de Enfermagem na Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões (URI/Erechim), com experiências em Saúde Mulher: titular nas disciplinas Pesquisa em Enfermagem, Projeto de Intervenção Profissional e Enfermagem na Promoção da Saúde; membro e pesquisadora do Núcleo de Estudos em Saúde Coletiva e Serviços de Saúde do Curso de Graduação em Enfermagem (URI/Erechim), atuando principalmente nos seguintes temas: saúde da mulher, temáticas sobre mulheres, gênero feminino, etnia/raça, e discurso. Atualmente é Coordenadora da pesquisa “Mulheres negras e vulnerabilidades em saúde: transversalidades por gênero e etnia”, com apoio da FAPERGS, e Coordenadora do projeto de extensão Prevenção do câncer de colo de útero e de mamas. Contato: roseanam@uricer.edu.br

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ATUALIZAÇÃO: ASSISTÊNCIA À SAÚDE DA MULHER COM ÊNFASE EM SAÚDE COLETIVA AULA 1: Retrospectiva da Assistência à Saúde da Mulher no Brasil - PAISM; SUS; ESF

No Brasil, as condutas iniciais que surgiram incorporando a saúde da mulher nas políticas de saúde ocorreram nas primeiras décadas do século XX, sendo que a preocupação estava voltada à figura da mulher como reprodutora, pois a ênfase era dada à gestação e ao parto. Na década de 1970, a economia nacional apresentava prejuízos na área social e, por lógica, o sistema de saúde estava voltado para uma prática curativa e assistencial. Na área de atenção à mulher, principalmente, havia a necessidade de que a saúde fosse garantida para que a gestação transcorresse de forma segura e para que as crianças nascessem saudáveis. O ano de 1984 foi um marco de importantes transformações na área de saúde da mulher no Brasil. Os índices de morbimortalidade materna eram elevadíssimos, o que impulsionou o governo federal a buscar mudanças no atendimento nessa área. Como proposta, a partir da construção de um novo modelo de atenção à saúde, ditado por um grupo de especialistas e pela pressão social, nasceu o Programa de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PAISM). Com uma visão mais ampla sobre a mulher, o programa pretendeu olhá-la em sua integralidade, compreendendo que as morbidades e a alta mortalidade eram produtos de aspectos multifatoriais. A missão do projeto incluiu a necessidade de apresentar para a sociedade um programa que justificasse, também filosoficamente, os anseios que se evidenciavam. Isso expressava o desejo do Ministério da Saúde em apresentar um programa que causasse impacto positivo e que pudesse ser implantado imediatamente. Com a solidificação do PAISM, a proposta inseriu ações educativas, preventivas, diagnósticas, curativas e de recuperação voltadas para a assistência ginecológica, pré-natal, parto, puerpério, climatério, planejamento familiar, câncer, doenças sexualmente transmissíveis e, mais recentemente, questões transversais sobre as mulheres cujas temáticas serão apresentadas posteriormente. As diretrizes gerais do programa previam, ainda, a capacitação do sistema de saúde para atender as necessidades da população feminina, enfatizando ações dirigidas ao controle das patologias mais prevalentes. A exigência de uma nova postura de trabalho de equipe de saúde frente ao conceito de integralidade tinha como prioridade a atuação em educação para a saúde. Já no início dos anos 1980, havia discussões sobre a reforma sanitária e a criação do Sistema Único de Saúde (SUS), cujas consolidações estabeleceram-se a Revista Sul-Brasileira de Enfermagem. 2015; Ano 4. No18

partir da 8ª Conferência Nacional de Saúde, em 1986, em Brasília. Ao mesmo tempo, mulheres brasileiras, representantes de grupos feministas, argumentavam e pressionavam para que, na saúde da mulher, também fossem incluídas questões que minimizassem as desigualdades sociais preconizadas pelas relações de gêneros, e pela criação de políticas públicas voltadas à integralidade do cuidado às mulheres. Desdobrando-se as principais interfaces do PAISM, pode-se traçar uma breve linha do tempo sobre a proposta da seguinte maneira: - 1994: divulgação do Manual de Assistência ao Recém-nascido; - 1998: elaboração da Norma Técnica para Prevenção e Tratamento dos Agravos Resultantes da Violência Sexual contra Mulheres e Adolescentes; criação do Caderno de Atenção Básica sobre Violência Intrafamiliar e a Cartilha para os Agentes Comunitários de Saúde; - 1999: publicação da Portaria Ministerial permitindo a criação dos centros normais de parto; - 2000: criação do Programa de Humanização do Pré-natal e Nascimento e dos Manuais de Assistência Pré-natal e de Urgências e Emergências Obstétricas; - 2004: organização da Política Nacional de Humanização no SUS – Humaniza SUS; - 2009: estabelecimento da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher. Dentro de todas as ações acima, a atenção à saúde feminina ampliou-se, garantindo os direitos humanos, com enfoque sobre o gênero feminino, a integralidade e as conquistas sobre os direitos reprodutivos.

Avanços A saúde da mulher no Brasil está muito articulada com os retrocessos e avanços do SUS. A criação do SUS ocorreu em 1988 após intensa luta social para que a saúde fosse estendida gratuitamente como direito a todo cidadão brasileiro. Ao final da década de 1970, o mundo iniciava uma nova caminhada em relação à saúde. As Conferências Internacionais e, em paralelo, as Nacionais,1 obrigaram os governos a posicionarem-se a respeito da oferta à população de uma saúde de qualidade, gratuita e universal. Em um salto, a Constituição da República Federal do Brasil2 inseriu a obrigatoriedade de a união, os estados e os municípios oferecerem saúde gratuita a todos os brasileiros. O SUS foi instituído como proposta inovadora de serviços para todos os níveis de atenção:


ATUALIZAÇÃO: ASSISTÊNCIA À SAÚDE DA MULHER COM ÊNFASE EM SAÚDE COLETIVA AULA 1: Retrospectiva da Assistência à Saúde da Mulher no Brasil - PAISM; SUS; ESF

promoção, prevenção, reabilitação e recuperação da saúde. No Artigo 196 da Constituição de 1988, na Seção II, Capítulo II, do título VIII, estão descritas as bases conceituais e organizativas do SUS.3 O SUS veio como proposta de descentralização da saúde, ampliação da participação social e fortalecimento da democracia, definindo princípios ditos de finalísticos e estratégicos.4 Os princípios de universalidade, equidade e integralidade da atenção são considerados como “princípios finalísticos”, isto é, a oferta de saúde do SUS deve se estender a todo território nacional, de forma igualitária para toda a população e priorizando cada pessoa em todas as suas dimensões. Em relação aos princípios estratégicos, o SUS preconiza descentralização, regionalização, hierarquização e participação social; ou seja, há a transferência das decisões sobre as políticas de saúde do nível federal, para o estadual até municipal. A regionalização implica em delimitar territórios específicos para a organização e oferta da saúde. A hierarquização dos serviços refere-se aos graus de complexidade dos serviços, estabelecendo redes de atendimento, articulando as unidades de menor para as de mais complexidade, por meio do sistema de referência e contrarreferência. A participação social relaciona-se com a representação popular sobre as decisões de saúde em nível local, regional e nacional. O SUS e a saúde da mulher articulam-se desde o surgimento de ambos, tendo em vista que as ofertas de serviços em saúde feminina foram ampliadas e melhoraram em termos qualitativos de maneira substancial. Isso significa que os índices de morbimortalidade materna reduziram drasticamente, apesar de ainda existirem brechas na atenção à mulher em várias regiões do País. A luta das mulheres permanece com o intuito de movimentar a comunidade e os gestores, a fim de melhorar a assistência à mulher de forma a implementar os princípios do SUS.5 De outra maneira, a Estratégia em Saúde da Família (ESF) mantém inequívoca proximidade com a saúde da mulher. A ESF nasceu com o objetivo de tornar-se a porta de entrada do novo sistema sanitário no país. Como porta de entrada, é um processo no qual e pelo qual deve ocorrer ênfase na resolução de problemas de saúde das comunidades, com custos econômicos adequados – contrapondo, assim, situações de assistência médica-curativa de altos custos e baixa resolutividade e satisfazendo as demandas dos problemas mais comuns da população.

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A ESF nasceu como Programa Saúde da Família (PSF), em 1994, e foi criado pelo governo federal como política de Atenção Primária à Saúde (APS). O PSF surgiu com foco na criação de vínculo entre os profissionais de saúde e a população, firmando compromisso de corresponsabilidade. A partir de 1996, em razão da amplitude e das potencialidades, o programa foi repensado e transformou-se em ESF por reconhecer na proposta a forte reorientação (transformadora) da APS. Em 2006, a Política Nacional de Atenção Primária à Saúde (PNAPS) reafirmou a ESF como modelo estruturante do SUS. Como objetivo geral, a ESF contribui para a reorientação do modelo assistencial, consoante com os princípios do SUS, formando uma nova dinâmica na estrutura e na funcionalidade das Unidades Básicas de Saúde (UBS) ou Unidades Avançadas de Saúde (UAS). A ESF não se propõe a atender exclusivamente a mulher e a criança, como ocorria até o aparecimento desse programa como política. Ao contrário, inclui uma aproximação com a Vigilância em Saúde, fortalecendo as ações inter e multidisciplinares com maior participação social. Dessa forma, a saúde da mulher tem sido fortalecida e apontada como desencadeadora de processos transformadores na saúde, pois se percebe que o início e o crescimento da assistência primária a saúde, de certa forma, sempre está voltada para as questões da mulher. Isso se firma em função das lutas femininas, em busca de seus direitos sociais e culturais, para melhorias e ampliação do cuidado com a mulher, no sentido de suas necessidades, especificidades, integralidade e equidade.

REFERÊNCIAS 1 CZERESNIA, D e FREITAS, C. M. de (orgs.). Promoção da Saúde: conceitos, reflexões, tendências. Rio de Janeiro: FioCruz, 2003. 2 GABINETE DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: DF, 1988. 3 SÍCOLI, Juliana L. e NASCIMENTO Paulo R. do. Promoção de Saúde: concepções, princípios e operacionalização. In: Interface: Comunicação, saúde e Educação. 2003. 4 TEIXEIRA, Carmen. Em debate apresentado nas Conferências Municipal e Estadual. Salvador. Disponível em: <http://www. saude.ba.gov.br/pdf/OS_PRINCIPIOS_DO_SUS.pdf>. Acesso em: 10 jul. 2013. 5 MANFREDINI, Cibele Sandri. Necessidades e Especificidades da Mulher Adulta e seus Reflexos nos Serviços de Saúde. Dissertação de Mestrado Profissionalizante. Programa de Pós-Graduação Stritu Sensu em Saúde e Gestão do Trabalho Itajaí: UNIVALI, 2012.

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*Envie seu evento para divulgação em nosso calendário: revistasulbrasileira@gmail.com

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Congressos e Eventos em 2015 Evento

Data

Local

Informações

IV Encontro Internacional de Neonatologia

09 a 11 de abril

Porto Alegre/RS

www. encontrodeneonatologia .com.br

4º SITEn

23 a 25 de abril

Salvador /BA

www.abennacional.org.br

18º SENPE

01 a 03 de junho

Fortaleza/CE

www.abennacional.org.br

XII Simṕsio Internacional de Ventilação Mecânica em Neonatologia e Pediatria

07 a 09 de agosto

Hospital Israelita Alberto Einstein

www.einstein.com.br

1º F́rum Latino Americano de Qualidade e Segurança na Saúde

13 a 13 de agosto

Centro de Convenções e Golden Hall - São Paulo/SP

www.einstein.com.br

XIII Conferencia Iberoamerica de Educacion em Enfermeria

04 a 09 de setembro

Rio de Janeiro/RJ

www.abennacional.org.br

CBCEnf- Congresso Brasileiro dos Conselhos de Enfermagem

15 a 18 de setembro

João Pessoa /PB

www.cofen.gov.br

XXXIV Encontro de Enfermagem do Hospital da Criança Santo Antônio

08 a 10 de outubro

Anfiteatro Hugo Gerdau Porto Alegre/RS

www.santacasa.tche.br

VI Congresso Brasileiro de Enfermagem Pediátrica e Neonatal. II Seminário Internacional de Saúde da Criança. XV Encontro do Laborat́rio de Estudos Interdisciplinares em Família e Saúde.

13 a 16 de outubro

Foz do Iguaçu/PR

www.abennacional.org.br

67º CBEn - Congresso Brasileiro de Enfermagem

26 a 30 de outubro

São Paulo/SP

www.abennacional.org.br

I Simṕsio Internacional em Centro Cirúgico, Recuperação Anestésica e Centro de Material e Esterilização

09 e 10 de novembro

Hospital Israelita Alberto Einstein

www.einstein.com.br

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Notícias

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II Seminário da Rede Brasileira de Enfermagem e Segurança do Paciente/Polo RS

A Rede Brasileira de Enfermagem e Segurança do Paciente/Polo RS (REBRAENSP/Polo RS) realizou o seu II Seminário, nos dias 25 e 26 de setembro de 2014, no Auditório Oscar Machado do Centro Universitário Metodista IPA, em Porto Alegre. O evento reuniu mais de 500 participantes, entre enfermeiros, técnicos de enfermagem, acadêmicos de Enfermagem, professores, e profissionais de áreas como Farmácia, Fisioterapia e Pedagogia. A realização de eventos científicos pela REBRAENSP/ Polo RS, a cada dois anos, integra a área dois do seu plano de trabalho: extensão às comunidades e sociedade. Nessa área são desenvolvidas atividades para oportunizar e promover a discussão e reflexão sobre a segurança na atenção à saúde de pessoas e comunidades. Neste ano, o tema central do II Seminário foi “Segurança do Paciente: ampliando perspectivas”. Com esse tema, a REBRAENSP/Polo RS alinha-se com a Organização Mundial da Saúde, a Organização Pan-americana da Saúde, o Ministério da Saúde e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em suas iniciativas e recomendações para a expansão dos esforços e das pesquisas relativas à segurança do cuidado para além

da assistência hospitalar. Em razão de sua complexidade, o cuidado à saúde realizado nos hospitais tem despertado maior preocupação de profissionais, serviços e agências governamentais, mas a necessidade de segurança também é importante em todos os outros níveis de atenção e tipos de serviços. Na atenção primária, nos serviços de atenção à saúde mental e no cuidado domiciliar, só para citar alguns, os pacientes têm, também, o direito ao cuidado seguro. Consequentemente, cabe a nós, profissionais da saúde, assegurar esse direito. O tema central do II Seminário evidencia a preocupação e a iniciativa da REBRAENSP/Polo RS no sentido de despertar a atenção dos profissionais da saúde e fomentar a discussão sobre a segurança como um aspecto inerente a todo e qualquer cuidado à saúde. Quatro cursos pré-evento, com 3 horas de duração, foram oferecidos aos participantes. No curso “Gerenciamento de incidentes de segurança” foram abordados os sistemas de notificação, investigação ACR (análise de causa raiz), tratamento e planos de ação e prevenção (análise do tipo e efeito de falha [FMEA]). O curso “Protocolos de segurança do Revista Sul-Brasileira de Enfermagem. 2015; Ano 4. No18


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Notícias

paciente” enfocou os protocolos de segurança na prescrição, uso e administração de medicamentos, além de prevenção de quedas. Já no curso “GERHUS: gerenciamento de recursos humanos em segurança”, discutiram-se a comunicação e a tomada de decisão. O quarto curso, “Experiências de pesquisa em segurança do paciente”, oportunizou aos participantes o debate sobre delineamentos transversais e de coorte, estudo de caso-controle e pesquisa qualitativa. Na conferência de abertura, “Programa Nacional de Segurança do Paciente”, o Dr. Victor Grabois, do Proqualis, contextualizou o tema para as discussões posteriores. O programa contemplou os temas da comunicação para a segurança do paciente; Redes de Enfermagem, uma iniciativa da Organização Pan-americana da Saúde, e Rede Brasileira de Enfermagem e Segurança do Paciente; experiências extra-hospitalares de implantação do Programa Nacional de Segurança do Paciente, enfocando a atenção primária e a saúde mental; a segurança do paciente no processo cirúrgico; e as interfaces multiprofissionais dos incidentes de segurança. Para o II Seminário foram inscritos 98 trabalhos, sendo 87 aprovados para a sessão dialogada de apresentação de pôsteres. Os trabalhos foram classificados em quatro grandes áreas: (1) ações para a segurança na prática assistencial; (2) pesquisa; (3) ações no ensino/educação; e (4) reflexão teórica. Na produção dos trabalhos estiveram envolvidos 260 autores, entre enfermeiros, acadêmicos de Enfermagem, técnicos de enfermagem, docentes e outros profissionais da área da saúde, de várias localidades do Rio Grande

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do Sul. A ampla divulgação do evento atraiu, também, pesquisadores de Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso e Rio de Janeiro, que vieram apresentar seus trabalhos. A organização e a realização do Seminário envolveram 28 membros da REBRAENSP/Polo RS, integrantes da Comissão Organizadora, 66 monitores (acadêmicos de Enfermagem), 24 palestrantes, e 10 coordenadores de mesas. Dois grupos de teatro contribuíram para ilustrar os debates: Saúde e arte, do Grupo Hospitalar Conceição, de Porto Alegre, e Educação e saúde na comunidade, formado por acadêmicos do curso de Enfermagem da Universidade de Santa Cruz (UNISC). A participação da REBRAENSP/Núcleo Porto Alegre, que sediou o evento, foi expressiva para alcançar o objetivo do Seminário e acolher os participantes e suas expectativas. O próximo Seminário está previsto para o ano de 2016 e será sediado pela REBRAENSP/Núcleo Ijuí. A Comissão Executiva do II REBRAENSP/Polo RS expressa à comunidade os seus agradecimentos aos participantes, integrantes das Comissões, monitores, palestrantes, coordenadores de mesas, apoiadores do evento e ao Centro Universitário Metodista IPA. Aproveitamos a oportunidade para convidar a todos os interessados a participarem das atividades da REBRAENSP/Polo RS, buscando compartilhar suas experiências e conhecimentos sobre a segurança do paciente. Maiores informações podem ser obtidas no site: www.rebraensp.com.br e/ou www.facebook. com/rebraensprs e endereço eletrônico da REBRAENSP/Polo RS: rs.rebraensp@gmail.com


Notícias

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Nos dias 24, 25 e 26 de novembro, aconteceu em Torres o lançamento da Força Estadual de Saúde

Nos dias 24, 25 e 26 de novembro, aconteceu em Torres o lançamento da Força Estadual de Saúde da Região das Belas Praias, que abrange a 18ª Coordenadoria Regional de Saúde. O evento foi dividido em três dias, com a participação de 23 municípios da região, tendo como convidados o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), os bombeiros, o policiamento de operações especiais (POE). Entre as autoridades e profissionais de saúde, estavam presentes o coordenador médico do SAMU estadual, Dr. Maicon de Paula Vargas, e a coordenadora de enfermagem do SAMU estadual, Magda Regina Dorr, que realizaram a abertura do evento. Durante os três dias de evento, foram ministradas palestras no auditório da Universidade Luterana do Brasil (ULBRA/Torres) sobre o funcionamento da Força Estadual de Saúde, do atendimento pré-hospitalar, do atendimento e dimensionamento em caso de acidentes de múltiplas vítimas e catástrofes e plano de contingência com a Defesa Civil. Além disso, no último dia de evento foi realizado uma grande simulação de atendimento com múltiplas vítimas, em um acidente de trânsito envolvendo dois carros, uma moto e um

ônibus escolar. A implantação da Força Estadual de Saúde é de suma importância para a região, pois teremos profissionais capacitados para qualquer eventualidade, acidente ou catástrofe. O evento foi uma iniciativa do SAMU/RS em parceria com as bases da região, tendo como apoiador e sede o SAMU/Torres, com apoio da Prefeitura Municipal de Torres, Secretaria Municipal de Saúde e a ULBRA, que aproveitou a oportunidade e prestigiou o evento com a realização da 11ª Semana Acadêmica de Enfermagem. A Força Estadual de Saúde é composta, em sua maioria, por componentes do SAMU, sendo montada inicialmente para organizar o atendimento de acidentes com múltiplas vítimas e catástrofes. Ela iniciou seu trabalho na cobertura da Copa do Mundo, nos jogos de Porto Alegre, e hoje possui barracas, hospitais de campanha e leitos de Unidade de Tratamento Intensivo (UTI). Esta é a segunda região a contar com a implantação e o treinamento para compormos a grande equipe desta Força Estadual de Saúde-RS, sendo a primeira realizada em Frederico Westphalen, na região Caminho das Águas, composta pelas 15° e 19° Coordenadorias Regionais de Saúde.

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URGÊNCIA E EMERGÊNCIA 46 NA PRÁTICA DE ENFERMAGEM

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Agenda de Enfermagem

2015.

Com acabamento de luxo, sob medida para planejar e facilitar o dia-a-dia. Elaborado para profissionais de enfermagem e estudantes. • Dados Pessoais, • Calendário 2014, 2015 e 2016 com feriados e planejamento 2015, • Pensamentos e Citações, • Agenda Diária. Incluí: Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem-Metodologia da Assistência de Enfermagem - Anamnese - Ectoscopia - Exame Físico - Escalas de Glasgow, Ramsay, Morse e Braden - Particularidades em Pediatria e Obstetrícia - Focos de Ausculta Cardíaca e Pulmonar - Anatomia de Superfície - Doenças de Notificação Compulsória - Calendário de Vacinação -Siglas e Abreviaturas comuns na Saúde. Prática, moderna e totalmente atualizada, é uma fonte diária de informação e utilidade no planejamento e coordenação dos compromissos pessoais e profissionais. Adquira já a sua com desconto especial de lançamento!

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ATUALIZAÇÃO EM SEGURANÇA DO PACIENTE

Organizador: Rede Brasileira de Enfermagem e Segurança do Paciente – REBRAENSP Polo RS Contato: rs.rebraensp@gmail.com - Website: http://www.rebraensp.com.br/

Aula 1: Identificação do Paciente Aula 2: Higiene das Mãos Aula 3: Administração na Segura de Medicamentos Aula 4: Prevenção de Quedas e de Úlceras por Pressão Aula 5: Cirurgia Segura Aula 6: Comunicação e Segurança do Paciente

Na pŕxima edição...

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