Percy Jackson e a maldição dos titans

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“Perdoaram pelo quê?” Ela jogou o arco de volta sobre o ombro. “Foi há muito tempo atrás. Não tem importância.” Nós aceleramos rio acima, os penhascos se elevando de ambos os lados. “O que aconteceu com Bianca não foi culpa sua,” disse a ela. “Foi minha culpa. Eu a deixei ir.” Pensei que isso daria a Zoe uma desculpa para começar a gritar comigo. Pelo menos isso poderia sacudi-la para que parasse de se sentir deprimida. Em vez disso, seus ombros caíram bruscamente. “Não, Percy. Eu a forcei a vir na missão. Eu estava muito ansiosa. Ela era uma poderosa meio-sangue. Tinha um coração gentil, também. Eu... eu pensei que ela seria a próxima tenente.” “Mas você é a tenente.” Ela agarrou a alça de sua aljava. Parecia mais cansada do que jamais a tinha visto. “Nada dura para sempre, Percy. Por mais de dois mil anos eu liderei a Caça, e minha sabedoria não melhorou. Agora a própria Ártemis está em perigo.” “Olhe, você não pode se culpar por isso.” “Se eu tivesse insistido em ir com ela —” “Você acha que poderia ter lutado com algo poderoso o bastante para raptar Ártemis? Não há nada que você pudesse ter feito.” Zoe não respondeu. Os penhascos ao longo do rio estavam ficando mais altos. Longas sombras caiam sobre a água, deixando-a muito mais gelada, ainda que o dia estivesse claro. Sem pensar sobre isso, tirei Contracorrente do meu bolso. Zoe olhou para a caneta e sua expressão era sofrida. “Você fez isso,” eu disse. “Quem contou a ti?” “Eu tive um sonho sobre isso.” Ela me estudou. Eu tinha certeza de que ela me chamaria de louco, mas ela apenas suspirou. “Foi um presente. E um engano.” “Quem era o herói?” perguntei. Zoe balançou a cabeça. “Não me faças dizer o nome dele. Jurei nunca mais pronunciálo.” “Você age como se eu devesse conhecê-lo.” “Tenho certeza que conheces, herói. Vocês garotos não querem todos ser justamente como ele?” Sua voz estava tão amargurada que decidi não perguntar o que ela quis dizer. Olhei para Contracorrente e, pela primeira vez, imaginei se era amaldiçoada. “Sua mãe era uma deusa da água?” perguntei. “Sim, Pleione. Ela teve cinco filhas. Minhas irmãs e eu. As Hespérides.” “Essas eram as garotas que viviam em um jardim nos limites do Oeste. Com a árvore de maçãs douradas e um dragão que a guardava.” “Sim,” Zoe disse, saudosa. “Ladon.” “Mas não eram somente quatro irmãs?” “Agora são. Fui exilada. Esquecida. Obscurecida como se nunca tivesse existido.” “Por quê?” Zoe apontou para a minha caneta. “Porque eu traí minha família e ajudei um herói. Tu também não vais achar isso na lenda. Ele nunca falou sobre mim. Depois que seu ataque direto a Ladon falhou, dei a ele a ideia de como roubar as maçãs, como enganar meu pai, mas ele levou todo o crédito.” “Mas —”


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