[RENAN MARCONDES]
Manual Civilizador Para Um Peso Sem Nome Artigo apresentado para Poéticas Contemporâneas: Linguagem do Corpo ministrada pela professora Juliana Moraes.
www.renanmarcondes.com
SOBRE Renan Marcondes é Graduando em Artes Visuais pelo Centro Universitário Belas artes de São Paulo e curso técnico em interpretação pela Oficina de Atores Nilton Travesso. Através da performance, vídeo e documentação textual faz questionamentos acerca do corpo e seu consequente comportamento a partir do que chama de "Processo Civilizatório".
Percurso É possível observar determinados padrões e normas a que o homem foi e é condicionado, que exigem‐no uma “boa conduta” e certo comportamento perante a um todo social. Os mais diferentes estudos tanto nas ciências quanto na psicologia são feitos todos os dias rotulando e trazendo resoluções práticas para a vida. Em meio a tantos rótulos, o homem parece esquecer de seu modo intuitivo e sua subjetividade, seguindo padrões esperados pela sociedade que acaba por moldar um ser contido em si mesmo, contenção esta, que as vezes beira a loucura. Em seu vídeo “Extração Liquida de um corpo em pedaços” de 2012, Renan aparece em três frames que correm simultaneamente, onde podemos vê‐lo em diferentes momentos – de costas, de frente com close em seu rosto, e movimentando‐se entre giros e pulos de forma a querer extrapolar limites. O som que acompanha as imagens se difundi, da fluidez da água, a agilidade da máquina de escrever. Com as possibilidades de intervenções oferecidas pelo vídeo, as imagens recebem interferências gráficas como grades e cálculos matemáticos que ao acompanharem os movimentos do corpo, produzem certa contenção e objetivação das ações, numa tentativa de racionalizar o que se sucede.
Renan Marcondes – “Extração liquida de um corpo em pedaços” – 2012
Neste vídeo e no corpo geral de seus trabalhos Renan nos faz lembrar o valor e a necessidade de um balanço entre a racionalização, ai então a linguagem e o animal, subjetividade.
“Como se houvesse um papel milimetrado no qual o corpo deita e se estrutura, acredito ser necessário que o corpo pese a ponto de se desmanchar, desmontar, perder sua forma quando em cima daquele espaço ultrapassar essa grade em minuciosos pedaços” Renan Marcondes. Ressaltando essa questão do balanço entre o racional e subjetivo, Merleau Ponty em “Conversas‐1948” faz um apontamento a respeito da ciência: “.... a questão que o pensamento moderno coloca em relação a ciência não se destina a contestar sua existência ou a fechar‐lhe qualquer domínio. Trata‐se de saber se a ciência oferece ou oferecerá uma representação do mundo que seja completa, que se baste, que se feche de alguma maneira sobre si mesma, de tal forma que não tenhamos mais nenhuma questão válida a colocar além dela. Não se trata de negar ou de limitar a ciência; trata‐se de saber se ela tem o direito de negar ou de excluir como ilusórias todas as pesquisas que não procedam como ela por medições, comparações e que não sejam concluídas por leis, como as da física clássica, vinculando determinadas conseqüências a determinadas condições” Pag.5 A presença de objetos como caixas, cadeiras e livros é recorrente durante sua produção. Esse interesse partiu quando em um sebo, se deparou com uma mala que continha em seu interior diversas contas pagas e um cartão Bradesco, todos com o nome de Antonio Carlos Chapela Nores, possível proprietário da mala. Em conseqüência, essa mala trouxe a percepção dos objetos como extensores do eu, já que estes carregavam uma possível leitura sobre quem seria Antonio Carlos. Segundo Merleau Ponty: “As coisas não são, portanto, simples objetos neutros que contemplaríamos diante de nós; cada uma delas simboliza e evoca para nós uma certa conduta, provoca de nossa parte reações favoráveis ou desfavoráveis, e é por isso que os gostos de um homem, seu caráter, a atitude que assumiu em relação ao mundo e ao exterior são lidos nos objetos que ele escolheu para ter a sua volta...” Nossa relação com os objetos se torna cada dia mais estréia e difusa devido a grande produção de mercadorias e do consumismo, assim:
“O efeito espetacular faz do sujeito um objeto; ao mesmo tempo, transforma o mundo dos objetos numa extensão ou projeção do eu.” Christopher Lasch
Renan Marcondes – Ensaio para uma abdicação ‐ 2012 A partir da relação com certos objetos presentes em nossa volta,estes,
passam a ter um certo valor afetivo ganhando qualidades de sujeito. Uma cadeira é escolhida não apenas por sua função, mas também por suas características como cor e material. Da mesma forma a cadeira exige uma certa postura do sujeito, que tende para a objetividade.
Renan Marcondes‐ Convite para um corpo – 2011
Em seu trabalho “Desassossego”,‐ que segue com o mesmo nome do livro de Fernando Pessoa, por ter sido influencia direta para construção de tal trabalho ‐ Renan faz uma desconstrução da relação esperada com objetos de âmbitos acadêmicos como lousa, cavalete e cadeira. Estes encontram‐se juntos e amontoados uns sobre os outros onde Renan em meio a movimentos leves, permeia‐os, numa tentativa de achar‐se perante tal estrutura que ao mesmo tempo tende a camuflá‐lo.
Renan Marcondes – Desassossego – 2011
Manual Civilizador para um peso sem nome Seguindo no âmbito das questões burocráticas e acadêmicas o Manual Civilizador pretende levantar observações sobre o corpo que se constrói em tais ambientes. Este interesse pelo corpo que se forma em conseqüência a um conjunto de normas começou a partir de pesquisas sobre manuais de comportamentos como, Deveres de Cícero. Durante o período de três meses muitos testes públicos foram feitos e registrados até se chegar na ação final. Estes testes foram selecionados e documentados no que Renan chama de Diário de Bordo, onde é possível perceber a evolução do processo através de experimentações com diversos materiais como, giz, lápis, caixas e até pedaços de carne. As ações se davam de formas inusitadas como cobrir o rosto com etiquetas para preços, se adentrar em caixas e a mais recorrente, que acontece no ato de apoiar seu corpo sobre lápis e giz deixando‐o pesar sobre tais matériais numa procura por sustentação. Através destas ações, Renan procurava tentativas de sair do campo superficial a que somos submetidos e alcançar o peso de seu corpo.
Renan Marcondes‐ Testes para Manual Civilizador para um Peso Sem Nome.
Na ação final, a performance acontece em um espaço pré‐estabelecido de 3x3m que contem em seu interior, inúmeros gizes brancos. Renan move‐se seguindo as marcações limites desse espaço, e em conjunto com o som que varia do orgânico ao mecânico, seu corpo reage conforme os impulsos oferecidos tais como água, maquina de escrever e impressora. Durante aproximadamente uma hora Renan percorre este perímetro e conforme seus movimentos acontecem os gizes quebram e esfarelam sujando o ambiente e também a roupa social que Renan esta usando. Fato percebido e confirmado por Renan, é o distanciamento dos objetos – da cadeira a caixa; da caixa ao lápis; do lápis ao giz; do giz ao pó. Assim sobra o corpo com o próprio corpo, orgânico e também maquina.
Renan Marcondes ‐ teste para Manual Civilizador para um Peso sem nome
ENTREVISTA COM RENAN MARCONDES A: Renan, você pode nos apontar as principais questões que te moveram para a criação do “Manual cilivizador para um peso sem nome”. Eles encontram relações com trabalhos anteriores? RM: As principais questões que hoje me movem no Manual são bem diferentes das questões iniciais, que de fato se relacionavam com os Manuais de comportamento. Hoje, especificamente, me move entender qual o lugar do meu trabalho dentro das linguagens que busco. Meu trabalho em performance tem um foco na ação do corpo que por vezes o aproxima das artes "cênicas" (mesmo eu não enxergando muito essa dissociação), e eu cada vez
mais
quero
entender
como
poder
lidar
com
essas linguagens/escolhas/procedimentos. É um trabalho que eu sinto aos poucos fugir de um campo específico das artes visuais e entrar em outros lugares, e é preciso ter tato pra lidar bem com isso. Da relação com os trabalhos anteriores, acredito que exista e seja forte, pois sempre busquei essa relação comportamental vista pela ótica do sujeito x objeto. A: Sobre os manuais de comportamento, quando e porque aparece o
interesse de se aprofundar nesses metodos? RM: Nunca falei isso pra ninguém, mas aos 12, 13 anos eu era viciado em livros de auto ajuda. Não por necessidade, mas por curiosidade. Li Quem ama educa, Criando meninas, Criando meninos, O monge e o executivo, enfim, as coisas mais bizarras. Hoje, com 20 anos, eu consigo ter um distanciamento crítico do quanto eles nos moldam socialmente. E, historicamente, eles são uma derivação direta desses manuais de comportamento, que indicam o que devemos ou não fazer, com a diferença que hoje temos essa sindrome da "subjetividade alegre", que permeia quase todos os livros. Mas é importante
dizer que o trabalho nao tem mais nada desses livros em si... A: Na Performance‐teste Volume 1: hipótese sobre a construção (2012) quando se relacionou com giz, o lápis e o papel, objetos vindos de um contexto academico ou burocratico, o que a relação de peso, força e quilíbrio evidenciava para você? RM: Naquele contexto específico, ela me evidenciava frustração. Depois de uma hora e pouco, estava transtornado por não ter um peso que pudesse ser sustentado por um apontador... Foi quando começei a jogar todo o peso do corpo nos lápis e quebrar um por um. Mas como todas as minhas ações terminam quando o relógio apita, em horários redondos, foi no meio desse momento que tive que parar.
A: Em Performance ‐ teste Volume 2: o lápis, o percurso, o afeto
(2012) porque o giz e o lápis grafite foram os matérias escolhidos? RM: Eu levantei muita coisa nos ensaios: a caixa de correio, a maquina de escrever, a fita crepe, a folha sulfite, etc...No Tuca (onde rolou o segundo teste) recorri ao lapis e ao giz pela movimentação que eles geravam, que eram as coisas que mais me interessavam. Foi a primeira formatação de fato da performance, que hoje já ta bem alterado...tinha também a carne no meio e tals, que eu acho que agregou pouco...De qualquer forma, os objetos escolhidos pra o trabalho final são de fato o giz e o lapis. A: Porque o peso, movimenta a sua relação com o objeto? RM: A educação retira nosso peso. Olha o desenho de uma criança ainda não alfabetizada, por exemplo. Ela entra corporalmente no desenho e o peso dela fica integralmente lá. Agora, fazer um A igual ao de todo mundo requer que o peso do corpo se comporte para aquele gesto sair. Algum traço ainda reside, e por isso cada um tem sua caligrafia (que desenvolve conforme desenvolve sua subjetividade).
Como eu busco muito a movimentação mas não venho da dança, meu corpo por vezes pesa demais e impede de realizar certas ações como projeto, então fico sempre lembrando desse peso dele. A: Fale um pouco sobre a sua intenção de desfragmentar o corpo? RM: Você não constrói nada sem ter as partes separadas. Para eu reconstruir esse corpo, preciso primeiro entende‐lo e dividi‐lo para só depois poder reorganizá‐ lo de forma sincera e autonoma (no limite do possivel, claro). Um corpo conformado é um corpo com‐forma, e a gente precisa sempre estar atento pra que formas são essas e o quanto elas são de fato internas a nós ou não. Como diria Foucault, é a ética do cuidado de si como prática de liberdade... A: Quais são suas expectativas para próximas produções? RM: Hoje eu estou integralmente mergulhado no Manual...pois ele é um projeto bem complexo. Mas pra frente, quero emendar um mestrado que compreenda as mesmas questões, mas provavelmente fora das artes visuais, e sim no teatro, ou na dança. Tem muitas coisas d corpo que eu to querendo pesquisar que acho que podem agregar muito no meu trabalho, como o Butoh, por exemplo, que sempre assisti muito mas tive um contato prático muito pontual, em workshops e tal. Minha utopia é falar do que falo usando só o corpo e nada mais. Mesmo eu achando isso impossível, é uma boa meta para que eu me aprofundecada vez mais nas questões fisicas de meu corpo.
Entender‐ Analisar‐ Escrever O que escrever a respeito de um suposto entendimento do trabalho de um artista, quando o próprio questiona essa ideia de entendimento? Em seu diário de bordo Renan Marcondes em determinado trecho conta de uma experiência de após ter apresentado um esboço de seus trabalhos em um evento, e o público composto por pessoas de algumas áreas como artes, dança, performance etc, não conseguirem falar sobre seu trabalho, ficaram olhando para o artista a espera de sua fala, diante da tal relato me surgiram algumas questões. Será que o silencio causado por muitos de seus trabalhos, como foi relatado, é realmente por conta de um não entendimento? O que demonstra o que significa esse silêncio, essa ausência de palavras ditas? O silêncio é resultado de uma tentativa de reflexão ou apenas de um conformismo de não ter acessado e não ter compreendido o trabalho? Será que compreender algo é necessariamente conseguir colocar em palavras o que aquilo te desperta, te comove, perturba, inquieta e sensibiliza? Diante não apenas desses questionamentos, mas também do desafio que é ler e analisar obras, foi feito uma coleta de leituras das performances realizadas pelo Renan Marcondes disponível em seu site, com intuito de se ter uma aproximação de possíveis leituras e como as performances estão atingindo o espectador.
LEITURAS E ANÁLISES Juan Manuel Wissocq, 25 anos Estudante de antropologia na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Impossível negar a importância do corpo na produção do Renan, mas não para se tornar a obra em si, mas sim como mais um elemento de construção de suas ideias. Junto com móveis, madeiras, lápis, mapas e caixas, a mão, a cabeça e o corpo tornam‐se também objetos, histórias, informação. Na verdade, creio que todo seu trabalho reflete sobre a produção e necessidade de informação, em que o corpo é visto como o mais importante meio de investigação, exploração e catalogação. Alcançando sentido somente pela sua função e pelo uso de suas partes, seja uma cabeça se conectando por um lápis a uma brochura de papel ou o corpo se camuflando entre móveis.
Naya Whitaker, 22 anos, estudante de jornalismo no Mackenzie. A minha impressão sobre o vídeo é que ele retrata a partir de objetos que representam a criação (o papel, borracha, lápis, giz) a aflição e pressão que a sociedade do homem impõem sobre o próprio homem para que estejamos em constante produção, mesmo quando esta produção tenha que ser a intelectual, a qual muitas das vezes não possuí o mesmo ritmo da produção industrial e mecânica. Pelo fato de ser um jovem e ele criar situações de aflição ‐ como o lápis contra a pele e a pressão do grampo/clips sobre o peso da cabeça ‐ o vídeo me remeteu alguns conceitos colocados pelo Bauman sobre a Modernidade. A própria a figura do Fausto, a volutibilidade das relações, a constante substituilção do velho pelo novo e pressão para que estejamos sempre tendo que reinventar, mesmo que esse processo seja doloroso.
João Claro, 21 anos, estudante de artes visuais no Centro Universitário Belas Artes de São Paulo. Delta Tendo o corpo como materialização do ser (de um ser), como uma (in)viabilização do sujeito, como constar dentro do âmbito social, da condição, do encaixe sem se zerar a equação? O que é expor um eu quando a fala pode não dizer e o corpo tende a ser silencioso? Como gritar aquilo que há muito é silenciado? Qual é o peso do corpo de fato? Por que o delta pertence à equação? Através de tais questionamentos e pontuações me envolvo em uma análise aos trabalhos de Renan Marcondes em pontos que, segundo minhas leituras, tratam da importância do valor da variável, da incerteza da equação. Como quantificar, qualificar, encaixar, padronizar e tornar áureo o ser que existe para a incerteza, para a variação, para a busca. O tempo é curto e a tentativa é constante. Não há fórmula, nem para o indivíduo, nem para sua inserção moldada na sociedade. Com ações que tomam o corpo de forma visceral, enérgica e esquizóide, e em situações que demonstram tentativas de conforto e de confronto, o os trabalhos analisados expõem o corpo propriamente dito, como parte do espaço, como conteúdo do continente, em situações de embate em relação à legitimação de sua condição, de seu encaixe e de como se encontrar dentro da cartografia cartesiana social. Como tornar o substantivo em adjetivo? Conhecer a variação do indivíduo implica em re‐conhecer, experimentar, experimentar não só o substantivo como sendo adjetivo, mas como sendo factualmente legítimo e legível (ou ilegível). Porém, quando o pensar e o centro de utopia já não dão mais conta de se exprimir a confissão do Homem sobre suas angústias e anseios, o corpo todo ‐ que absorve e expele como estática em reação ao atrito – passa a se expressar de forma a se atingir o objetivo. Com isso, tal corpo se apresentando de forma a atingir o alcance do limite, do esgotamento, da quantificação da constância, tentando realizar o encaixe no padrão, a inserção na
proporção áurea, acaba por ocasionar o surgimento da gota como resposta do centro de massa de que pode não ir tão longe. Relacionando‐se ainda assim com o ambiente em que se insere, o corpo já tanto citado toma algumas formas de se padronizar com tentativas constantes de inquietação, de dês‐amortecimento. Logo, Renan Marcondes, utilizando‐se de corpos que são passivos à sua existência, mostra o embate da carne como seu condicionador em situações de conforto e ou desconforto. Contudo, a relação entre o desconforto (induzido pela não compatibilidade entre corpo do sujeito e corpo a convidá‐lo) e o conforto (questionável em tentativas constantes como forma de se aproximar e testar outros campos de vivência – encaixes) dada pelo relacionamento corpo‐objeto, acaba por tornar (de certa forma) o indivíduo passivo aos (seus) mesmos. Com isso, ainda não concluo nenhum apontamento sobre qual a força da subjetividade, qual seu peso, e o que prende ela à realidade. Que gravidade é essa que pode encaixar a subjetividade numa realidade que abafa o sujeito? Há gravidade nisso? Nisso, onde convergir o que é o ser com o que ele espera ser? Novamente, o tempo é curto e a tentativa é constante.
Joice Palloma, 22 anos, estudante de Artes Visuais no Centro Universitário Belas Artes de São Paulo. Renan Marcondes em muitas de suas performances coloca seu corpo em um embate físico com o material, até chegar um ponto que possa ficar anestesiado e não sentir mais nada, tornando‐se tão objeto quanto os objetos escolhidos, pois o objeto não sente apenas sofre as consequências de ações que são investidas contra ele. Após uma conversa informal com Renan a respeito do uso dos materiais (como lápis, papel sulfite, clips, etc), por exemplo, em Exercício #1, hipótese sobre uma construção, 2012 , discutimos sobre como é esperado que do uso desses objetos seja produtivo, tanto no âmbito acadêmico quanto burocrático. Nessa performance o que me chamou a atenção foi que por ele estar de relógio dá para saber que horas foi realizada ação, e a questão da produtividade está na maioria das vezes atrelada ao domínio do tempo seja qual for a tarefa executada, quanto mais coisas se consiga fazer em menor tempo, mais produtivo se é. Essa relação do corpo com sua eficiência produtiva vincula‐se a demanda de um corpo máquina, um corpo que tem que produzir, que tem que ser eficiente, e não dar defeito, pois o corpo máquina não deve sentir, apenas repete, se programa e auto programa, o corpo máquina obedece a uma coreografia “mecânica”. Não quero com isso dizer que as ações de Renan Marcondes são “robotizadas” e sim que por mais que haja subjetividade, os movimentos tendem a se aproximar de algo mecânico, tendo em vista que para cada parte movimentada do corpo é como se acionasse uma engrenagem , é uma combinação de partes que precisam estar coordenadas para que haja a ação, funcionando a partir de um sistema.
Suzana Cardoso, 22 anos, formada em História na Universidade Cruzeiro do Sul Assistindo à performance percebi primeiramente uma relação entre pontos de tensão e de equilíbrio, o corpo tenciona‐se, por debaixo da camisa os músculos parecem rijos. As linhas do rosto alternam‐se em linhas severas e suaves. Considerando estas linhas de oposição e as escolhas de materiais de trabalho (lápis, borracha, giz, régua e folhas de papeis) poderíamos pensar na construção de imagens como uma ação composta por linhas de tensões. Ao mesmo tempo o corpo se transforma em objeto e em tela desta construção, o corpo é o lugar onde se constrói e onde se tenciona. Por fim, a ação começa de forma metodicamente organizada, e durante a performance o que ocorre é um descontrole. O descontrole do corpo, dos objetos, da ação, e de novo existe uma linha de oposição: a construção e a destruição. Ao fim, já não sei se trata‐se da ação do desenho sobre uma superfície, ou da ação do corpo sob forças e sensações que não controlamos.
Bibliografia •
MERLEAU Ponty, Maurice. Conversas‐1948/Maurice Merleau –Ponty. Tradução: Fabio Landa, Eva Landa – São Paulo: Martins Fontes, 2004
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LASCH, Christopher. O Mínimo eu. Tradução: João Roberto Martins Filho. 4 edição – São Paulo: editora Brasiliense ,1987.
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MARCONDES, Renan. O Corpo Insustentável: Manual Civilizador Para um Peso sem Nome. São Paulo: FBSP,2012.
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MARCONDES,
Renan.
Vídeos.
Disponível
em:
http://www.renanmarcondes.com/ Acessado em 2/12/2012 as 14:00