Manual Civilizador para um Peso sem Nome

Page 1

[RENAN
MARCONDES]

Manual
Civilizador
Para
Um
Peso
Sem
Nome
 Artigo
apresentado
para
Poéticas
Contemporâneas:
Linguagem
do
Corpo
ministrada
pela
 professora
Juliana
Moraes.

www.renanmarcondes.com


SOBRE
 Renan
 Marcondes
 é
 Graduando
 em
 Artes
 Visuais
 pelo
 Centro
 Universitário
 Belas
 artes
 de
 São
 Paulo
 e
 curso
 técnico
 em
 interpretação
 pela
 Oficina
 de
 Atores
 Nilton
Travesso.
 Através
da
performance,
vídeo
e
documentação
textual
faz
questionamentos
 acerca
 do
 corpo
 e
 seu
 consequente
 comportamento
 a
 partir
 do
 que
 chama
 de
 "Processo
Civilizatório".


Percurso
 É
possível
observar
determinados
padrões
e
normas
a
que
o
homem
foi
e
é
 condicionado,
que
exigem‐no
uma
“boa
conduta”
e
certo
comportamento

perante
a
 um
todo
social.
Os
mais
diferentes
estudos
tanto
nas
ciências
quanto
na
psicologia
 são
 feitos
 todos
 os
 dias
 rotulando
 e
 trazendo
 resoluções
 práticas
 para
 a
 vida.
 Em
 meio
 a
 tantos
 rótulos,
 o
 homem
 parece
 esquecer
 de
 seu
 modo
 intuitivo
 e
 sua
 subjetividade,
seguindo
padrões
esperados
pela
sociedade
que
acaba
por
moldar
um
 ser
contido
em
si
mesmo,
contenção
esta,
que
as
vezes
beira
a
loucura.

 Em
 seu
 vídeo
 “Extração
 Liquida
 de
 um
 corpo
 em
 pedaços”
 de
 2012,
 Renan
 aparece
 em
 três
 
 frames
 que
 correm
 simultaneamente,
 onde
 podemos
 vê‐lo
 em

 diferentes
 momentos
 –
 de
 costas,
 de
 frente
 com
 close
 em
 seu
 rosto,
 e

 movimentando‐se
 entre
 giros
 e
 pulos
 de
 forma
 a
 querer
 extrapolar
 limites.
 O
 som
 que
acompanha
as
imagens
se
difundi,
da
fluidez
da
água,
a
agilidade
da
máquina
de
 escrever.
 Com
 as
 possibilidades
 de
 intervenções
 oferecidas
 pelo
 vídeo,
 as
 imagens
 recebem
 interferências
 gráficas
 como
 grades
 e
 cálculos
 matemáticos
 que
 ao
 acompanharem
os
movimentos
do
corpo,

produzem
certa
contenção
e
objetivação
 das
ações,

numa
tentativa
de
racionalizar
o
que
se
sucede.

Renan
Marcondes
–
“Extração
liquida
de
um
corpo
em
pedaços”
–
2012

Neste
vídeo
e
no
corpo
geral
de
seus
trabalhos
Renan

nos
faz
lembrar
o
valor
 e
 a
 necessidade
 de
 um
 balanço
 entre
 a
 racionalização,
 ai
 então
 a
 linguagem
 e
 o
 animal,
subjetividade.


“Como
 se
 houvesse
 um
 papel
 milimetrado
 no
 qual
 o
 corpo
 deita
 e
 se
 estrutura,
 acredito
 ser
 necessário
 que
 o
 corpo
 pese
 a
 ponto
 de
 se
 desmanchar,
 desmontar,
 perder
 sua
 forma
 quando
 em
 cima
 daquele
 espaço
 ultrapassar
 essa
 grade
em
minuciosos
pedaços”
Renan
Marcondes.
 Ressaltando
 essa
 questão
 do
 balanço
 entre
 o
 racional
 e
 subjetivo,
 Merleau
 Ponty
em
“Conversas‐1948”
faz
um
apontamento
a
respeito
da
ciência:

 “....
a
questão
que
o
pensamento
moderno
coloca
em
relação
a
ciência
não
se
 destina
 a
 contestar
 sua
 existência
 ou
 a
 fechar‐lhe
 qualquer
 domínio.
 Trata‐se
 de
 saber
 se
 a
 ciência
 oferece
 ou
 oferecerá
 uma
 representação
 do
 mundo
 que
 seja
 completa,
 que
 se
 baste,
 que
 se
 feche
 de
 alguma
 maneira
 sobre
 si
 mesma,
 de
 tal
 forma
que
não
tenhamos
mais
nenhuma
questão
válida
a
colocar
além
dela.

Não
se
 trata
de
negar
ou
de
limitar
a
ciência;
trata‐se
de
saber
se
ela
tem
o
direito
de
negar
 ou
 de
 excluir
 como
 ilusórias
 todas
 as
 pesquisas
 que
 não
 procedam
 como
 ela
 por
 medições,
 comparações
 e
 que
 não
 sejam
 concluídas
 por
 leis,
 como
 as
 da
 física
 clássica,
vinculando
determinadas
conseqüências
a
determinadas
condições”
Pag.5
 A
presença
de
objetos
como
caixas,
cadeiras
e
livros
é
recorrente
durante
sua
 produção.
Esse
interesse
partiu
quando
em
um
sebo,
se
deparou
com
uma
mala
que
 continha
em
seu
interior
diversas
contas
pagas
e
um
cartão
Bradesco,
todos
com
o
 nome
 de
 Antonio
 Carlos
 Chapela
 Nores,
 possível
 proprietário
 da
 mala.
 Em
 conseqüência,
essa
mala
trouxe
a
percepção
dos
objetos
como
extensores
do
eu,
já
 que
estes
carregavam
uma
possível
leitura
sobre
quem
seria
Antonio
Carlos.
 Segundo
Merleau
Ponty:
 “As
 coisas
 não
 são,
 portanto,
 simples
 objetos
 neutros
 que
 contemplaríamos
 diante
 de
 nós;
 cada
 uma
 delas
 simboliza
 e
 evoca
 para
 nós
 uma
 certa
 conduta,
 provoca
 de
 nossa
 parte
 reações
 favoráveis
 ou
 desfavoráveis,
 e
 é
 por
 isso
 que
 os
 gostos
de
um
homem,
seu
caráter,
a
atitude
que
assumiu
em
relação
ao
mundo
e
ao
 exterior
são
lidos
nos
objetos
que
ele
escolheu
para
ter
a
sua
volta...”
 Nossa
relação
com
os
objetos
se
torna
cada
dia
mais
estréia
e
difusa
devido
a
 grande
produção
de
mercadorias
e
do
consumismo,
assim:


“O
efeito
espetacular
faz
do
sujeito
um
objeto;
ao
mesmo
tempo,
transforma
 o
mundo
dos
objetos
numa
extensão
ou
projeção
do
eu.”
Christopher
Lasch

Renan
Marcondes
–
Ensaio
para
uma
abdicação
‐
2012
 A
 partir
 da
 
 relação
 com
 certos
 objetos
 presentes
 em
 nossa
 volta,estes,

passam
a
ter
um
certo
valor
afetivo
ganhando
qualidades
de
sujeito.
Uma
cadeira
é
 escolhida
 não
 apenas
 por
 sua
 função,
 mas
 também
 por
 suas
 características
 
 como
 cor
e
material.
Da
mesma
forma
a
cadeira
exige
uma
certa
postura
do
sujeito,
que
 tende
para
a
objetividade.

Renan
Marcondes‐
Convite
para
um
corpo
–
2011


Em
seu
trabalho
“Desassossego”,‐
que
segue
com
o
mesmo
nome
do
livro
de
 Fernando
 Pessoa,
 por
 ter
 sido
 influencia
 direta
 para
 construção
 de
 tal
 trabalho
 ‐
 Renan
 faz
 uma
 desconstrução
 da
 relação
 esperada
 com
 objetos
 de
 âmbitos
 acadêmicos
 como
 lousa,
 cavalete
 e
 cadeira.
 Estes
 
 encontram‐se
 
 juntos
 e
 amontoados
 uns
 sobre
 os
 outros
 onde
 Renan
 em
 meio
 a
 movimentos
 leves,
 permeia‐os,
numa
tentativa
de

achar‐se
perante
tal
estrutura
que
ao
mesmo
tempo
 tende
a
camuflá‐lo.

Renan
Marcondes
–
Desassossego
–
2011


Manual
Civilizador
para
um
peso
sem
nome
 Seguindo
 no
 âmbito
 das
 questões
 burocráticas
 e
 acadêmicas
 o
 Manual
 Civilizador
 pretende
 levantar
 observações
 sobre
 o
 corpo
 que
 se
 constrói
 em
 tais
 ambientes.
Este
interesse
pelo
corpo
que
se
forma
em
conseqüência
a
um
conjunto
 de
normas
começou
a
partir
de
pesquisas
sobre
manuais
de
comportamentos
como,
 Deveres
 de
 Cícero.
 Durante
 o
 período
 de
 três
 meses
 muitos
 testes
 públicos
 foram
 feitos
 e
 registrados
 até
 se
 chegar
 na
 ação
 final.
 Estes
 testes
 foram
 selecionados
 e
 documentados
no
que
Renan
chama
de
Diário
de
Bordo,
onde
é
possível
perceber
a
 evolução
do
processo
através
de
experimentações
com
diversos
materiais
como,
giz,
 lápis,
caixas
e
até
pedaços
de
carne.
As
ações
se
davam
de
formas
inusitadas
como
 cobrir
o
rosto
com
etiquetas
para
preços,
se
adentrar
em
caixas
e
a
mais
recorrente,
 que
acontece
no
ato
de
apoiar
seu
corpo
sobre
lápis
e
giz
deixando‐o

pesar
sobre
 tais
matériais
numa
procura
por
sustentação.
Através
destas
ações,
Renan
procurava
 tentativas
de
sair
do
campo
superficial
a
que
somos
submetidos
e
alcançar
o
peso
de
 seu
corpo.

Renan
Marcondes‐
Testes
para
Manual
Civilizador
para
um
Peso
Sem
Nome.


Na
 ação
 final,
 a
 performance
 acontece
 em
 um
 espaço
 pré‐estabelecido
 de
 3x3m
que
contem
em
seu
interior,
inúmeros
gizes
brancos.
Renan
move‐se
seguindo
 as
marcações
limites
desse
espaço,
e
em
conjunto
com
o
som
que
varia
do
orgânico
 ao
 mecânico,
 seu
 corpo
 reage
 conforme
 os
 impulsos
 oferecidos
 tais
 como
 água,
 maquina
 de
 escrever
 e
 impressora.
 Durante
 aproximadamente
 uma
 hora
 Renan
 percorre
este
perímetro
e
conforme
seus
movimentos
acontecem
os
gizes
quebram
 e
esfarelam
sujando
o
ambiente
e
também
a
roupa
social
que
Renan
esta
usando.
 Fato
percebido
e
confirmado
por
Renan,
é
o
distanciamento
dos
objetos
–
da
 cadeira
a
caixa;
da
caixa
ao
lápis;
do
lápis
ao
giz;
do
giz
ao
pó.
Assim
sobra
o
corpo
 com
o
próprio
corpo,
orgânico
e
também
maquina.

Renan
Marcondes
‐

teste
para
Manual
Civilizador
para
um
Peso
sem
nome


ENTREVISTA
COM
RENAN
MARCONDES
 A:
 Renan,
 você
 pode
 nos
 apontar
 as
 principais

questões
 que
 te
 moveram
 para
 a
 criação
 do
“Manual
 cilivizador
 para
 um
 peso
 sem
 nome”.
 Eles
encontram
relações
com
trabalhos
anteriores?
 RM:
As
 principais
 questões
 que
 hoje
 me
 movem
 no
 Manual
 são
 bem
 diferentes
das
questões
iniciais,
que
de
fato
se
relacionavam
com
os
Manuais
 de
 comportamento.
 Hoje,
 especificamente,
 me
 move
 entender
 qual
 o
 lugar
 do
meu
 trabalho
 dentro
 das
 linguagens
 que
 busco.
 Meu
 trabalho
 em
 performance
 tem
 um
 foco
 na
 ação
 do
 corpo
 que
por
 vezes
 o
 aproxima
 das
 artes
"cênicas"
(mesmo
eu
não
enxergando
muito
essa
dissociação),
e
eu
cada
 vez

mais

quero

entender

como

poder

lidar

com

essas
linguagens/escolhas/procedimentos.
 É
 um
 trabalho
 que
 eu
 sinto
 aos
 poucos
 fugir
 de
 um
 campo
 específico
 das
 artes
 visuais
 e
 entrar
 em
 outros
 lugares,
 e
 é
 preciso
 ter
 tato
 pra
 lidar
 bem
 com
 isso.
 Da
 relação
 com
 os
 trabalhos
anteriores,
acredito
que
exista
e
seja
forte,
pois
sempre
busquei
essa
 relação
comportamental
vista
pela
ótica
do
sujeito
x
objeto.
 A:
 Sobre
 os
 manuais
 de
 comportamento,
 quando
 e
 porque
 aparece
 o

interesse
de
se
aprofundar
nesses
metodos?
 RM:
Nunca
falei
isso
pra
ninguém,
mas
aos
12,
13
anos
eu
era
viciado
 em
livros
de
auto
ajuda.
Não
por
necessidade,
mas
por
curiosidade.
Li
Quem
 ama
educa,
Criando
meninas,
Criando
meninos,
O
monge
e
o
executivo,
enfim,
 as
coisas
mais
bizarras.
Hoje,
com
20
anos,
eu
consigo
ter
um
distanciamento
 crítico
 do
 quanto
 eles
 nos
 moldam
 socialmente.
E,
 historicamente,
 eles
 são
 uma
derivação
direta
desses
manuais
de
comportamento,
que
indicam
o
que
 devemos
 ou
 não
 fazer,
 com
 a
diferença
 que
 hoje
 temos
essa
 sindrome
 da
 "subjetividade
 alegre",
 que
 permeia
quase
 todos
 os
 livros.
 Mas
 é
 importante


dizer
que
o
trabalho
nao
tem
mais
nada
desses
livros
em
si...
 A:
 Na
Performance‐teste
 Volume
 1:
 hipótese
 sobre
 a
 construção
 (2012)
quando
se
relacionou
com
giz,
o
lápis
e
o
papel,
objetos
vindos
de
um
 contexto
academico
ou
burocratico,
o
que
a
relação
de
peso,
força
e
quilíbrio
 evidenciava
para
você?
 RM:
 
 Naquele
 contexto
 específico,
 ela
 me
 evidenciava
 frustração.
 Depois
 de
 uma
 hora
 e
 pouco,
 estava
 transtornado
 por
 não
 ter
 um
 peso
 que
 pudesse
ser
sustentado
por
um
apontador...
Foi
quando
começei
a
jogar
todo
 o
peso
do
corpo
nos
lápis
e
quebrar
um
por
um.
Mas
como
todas
as
minhas
 ações
 terminam
 quando
 o
 relógio
 apita,
 em
 horários
 redondos,
 foi
 no
 meio
 desse
momento
que
tive
que
parar.

A:
 Em
Performance
 ‐
 teste
 Volume
 2:
 o
 lápis,
 o
 percurso,
 o
 afeto

(2012)

porque
o
giz
e
o
lápis
grafite
foram
os
matérias
escolhidos?
 RM:

Eu
levantei
muita
coisa
nos
ensaios:
a
caixa
de
correio,
a
maquina
 de
escrever,
a
fita
crepe,
a
folha
sulfite,
etc...No
Tuca
(onde
rolou
o
segundo
 teste)
recorri
ao
lapis
e
ao
giz
pela
movimentação
que
eles
geravam,
que
eram
 as
 coisas
 que
 mais
 me
 interessavam.
 Foi
 a
 primeira
 formatação
 de
 fato
 da
 performance,
que
hoje
já
ta
bem
alterado...tinha
também
a
carne
no
meio
e
 tals,
 que
 eu
 acho
 que
 agregou
 pouco...De
 qualquer
 forma,
 os
 objetos
 escolhidos
pra
o
trabalho
final
são
de
fato
o
giz
e
o
lapis.
 A:
Porque
o
peso,
movimenta
a
sua
relação
com
o
objeto?
 RM:
A
educação
retira
nosso
peso.
Olha
o
desenho
de
uma
criança
ainda
não
 alfabetizada,
por
exemplo.
Ela
entra
corporalmente
no
desenho
e
o
peso
dela
fica
 integralmente
lá.
Agora,
fazer
um
A
igual
ao
de
todo
mundo
requer
que
o
peso
do
 corpo
se
comporte
para
aquele
gesto
sair.
Algum
traço
ainda
reside,
e
por
isso
cada
 um
tem
sua
caligrafia
(que
desenvolve
conforme
desenvolve
sua
subjetividade).


Como
eu
busco
muito
a
movimentação
mas
não
venho
da
dança,
meu
corpo
por
 vezes
pesa
demais
e
impede
de
realizar
certas
ações
como
projeto,
então
fico
sempre
 lembrando
desse
peso
dele.
 
 A:
Fale
um
pouco
sobre
a
sua
intenção
de
desfragmentar
o
corpo?
 RM:
Você
não
constrói
nada
sem
ter
as
partes
separadas.
Para
eu
reconstruir
 esse
corpo,
preciso
primeiro
entende‐lo
e
dividi‐lo
para
só
depois
poder
reorganizá‐ lo
de
forma
sincera
e
autonoma
(no
limite
do
possivel,
claro).
Um
corpo
conformado
 é
um
corpo
com‐forma,
e
a
gente
precisa
sempre
estar
atento
pra
que
formas
são
 essas
 e
 o
 quanto
 elas
 são
 de
 fato
 internas
 a
 nós
 ou
 não.
 Como
 diria
 Foucault,
 é
 a
 ética
do
cuidado
de
si
como
prática
de
liberdade...
 A:

Quais
são
suas
expectativas
para
próximas
produções?
 RM:
 Hoje
 eu
estou
 integralmente
 mergulhado
 no
 Manual...pois
 ele
 é
 um
 projeto
 bem
 complexo.
 Mas
 pra
 frente,
 quero
 emendar
 um
 mestrado
 que
 compreenda
 as
 mesmas
 questões,
 mas
 provavelmente
 fora
 das
 artes
visuais,
 e
 sim
 no
teatro,
ou
na
dança.
Tem
muitas
coisas
d
corpo
que
eu
to
querendo
pesquisar
que
 acho
que
podem
agregar
muito
no
meu
trabalho,
como
o
Butoh,
por
exemplo,
que
 sempre
assisti
muito
mas
tive
um
contato
prático
muito
pontual,
em
workshops
e
tal.
 Minha
utopia
é
falar
do
que
falo
usando
só
o
corpo
e
nada
mais.
Mesmo
eu
achando
 isso
 impossível,
 é
 uma
 boa
 meta
 para
 que
 eu
 me
 aprofundecada
 vez
 mais
 nas
 questões
fisicas
de
meu
corpo.


Entender‐
Analisar‐
Escrever
 O
que
escrever
a
respeito
de
um
suposto
entendimento
do
trabalho
de
um
 artista,
quando
o
próprio
questiona
essa
ideia
de
entendimento?

 Em
seu
diário
de
bordo
Renan
Marcondes
em
determinado
trecho
conta
de
 uma
 experiência
 de
 após
 ter
 apresentado
 um
 esboço
 de
 seus
 trabalhos
 em
 um
 evento,
 e
 o
 público
 composto
 por
 pessoas
 de
 algumas
 áreas
 como
 artes,
 dança,
 performance
etc,
não
conseguirem

falar
sobre
seu
trabalho,

ficaram


olhando
para
 o
artista
a
espera
de
sua
fala,
diante
da
tal
relato
me
surgiram
algumas
questões.

 Será
que
o
silencio
causado
por
muitos
de
seus
trabalhos,
como
foi
relatado,
 é
realmente
por
conta
de
um
não
entendimento?
O
que
demonstra
o
que
significa
 esse
 silêncio,
 essa
 ausência
 de
 palavras
 ditas?
 O
 silêncio
 é
 resultado
 de
 uma
 tentativa
de
reflexão
ou
apenas
de
um
conformismo
de
não
ter
acessado
e
não
ter
 compreendido
o
trabalho?
 Será
que
compreender
algo
é
necessariamente
conseguir
colocar
em
palavras
 o
que
aquilo
te
desperta,
te
comove,
perturba,
inquieta
e
sensibiliza?

 Diante
 não
 apenas
 desses
 questionamentos,
 mas
 também
 do
 desafio
 que
 é
 ler
e
analisar
obras,
foi
feito
uma
coleta
de
leituras
das
performances
realizadas
pelo
 Renan
Marcondes
disponível
em
seu
site,
com
intuito
de
se
ter
uma
aproximação
de
 possíveis
leituras
e
como
as
performances
estão
atingindo
o
espectador.


LEITURAS
E
ANÁLISES
 Juan
 Manuel
 Wissocq,
 25
 anos
 Estudante
 de
 antropologia
 na
 Pontifícia
Universidade
Católica
de
São
Paulo.
 Impossível
 negar
 a
 importância
 do
 corpo
 na
 produção
 do
 Renan,
 mas

 não
 para
 se
 tornar
 a
 obra
 em
 si,
 mas
 sim
 como
 mais
 um
 elemento
 de

 construção
de
suas
ideias.
Junto
com
móveis,
madeiras,
lápis,
mapas
e
caixas,
a
mão,
 a
cabeça
e
o
corpo
tornam‐se
também
objetos,
histórias,
informação.
 
Na
 verdade,
 creio
 que
 todo
 seu
 trabalho
 reflete
 sobre
 a
 produção
 e
 necessidade
de
informação,
em
que
o
corpo
é
visto
como
o
mais
importante
meio
 de
 investigação,
 exploração
 e
 catalogação.
 Alcançando
 sentido
 somente
 pela
 sua
 função
e
pelo
uso
de
suas
partes,
seja
uma
cabeça
se
conectando
por
um
lápis
a
uma
 brochura
de
papel
ou
o
corpo
se
camuflando
entre
móveis.

Naya
Whitaker,
22
anos,
estudante
de
jornalismo
no
Mackenzie.
 
 A
 minha
 impressão
 sobre
 o
 vídeo
 é
 que
 ele
 retrata
 a
 partir
 de
 objetos
 que
 representam
 a
 criação
 (o
 papel,
 borracha,
 lápis,
 giz)
 a
 aflição
 e
 pressão
 que
 a
 sociedade
 do
 homem
 impõem
 sobre
 o
 próprio
 homem
 para
 que
 estejamos
 em
 constante
 produção,
 mesmo
 quando
 esta
 produção
 tenha
 que
 ser
 a
 intelectual,
 a
 qual
muitas
das
vezes
não
possuí
o
mesmo
ritmo
da
produção
industrial
e
mecânica.

 Pelo
 fato
 de
 ser
 um
 jovem
 e
 ele
 criar
 situações
 de
 aflição
 ‐
 como
 o
 lápis
 contra
 a
 pele
 e
 a
 pressão
 do
 grampo/clips
 sobre
 o
 peso
 da
 cabeça
 ‐
 o
 vídeo
 me
 remeteu
alguns
conceitos
colocados
pelo
Bauman
sobre
a
Modernidade.
A
própria
a
 figura
 do
 Fausto,
 a
 volutibilidade
 das
 relações,
 a
 constante
 substituilção
 do
 velho
 pelo
novo
e
pressão
para
que
estejamos
sempre
tendo
que
reinventar,
mesmo
que
 esse
processo
seja
doloroso.


João
 Claro,
 21
 anos,
 estudante
 de
 artes
 visuais
 no
 Centro
 Universitário
Belas
Artes
de
São
Paulo.
 Delta
 Tendo
 o
 corpo
 como
 materialização
 do
 ser
 (de
 um
 ser),
 como
 uma
 (in)viabilização
 do
 sujeito,
 como
 constar
 dentro
 do
 âmbito
 social,
 da
 condição,
 do
 encaixe
sem
se
zerar
a
equação?
O
que
é
expor
um
eu
quando
a
fala
pode
não
dizer
 e
o
corpo
tende
a
ser
silencioso?
Como
gritar
aquilo
que
há
muito
é
silenciado?
Qual
 é
o
peso
do
corpo
de
fato?
Por
que
o
delta
pertence
à
equação?

 Através
 de
 tais
 questionamentos
 e
 pontuações
 me
 envolvo
 em
 uma
 análise
 aos
trabalhos
de
Renan
Marcondes
em
pontos
que,
segundo
minhas
leituras,
tratam
 da
 importância
 do
 valor
 da
 variável,
 da
 incerteza
 da
 equação.
 Como
 quantificar,
 qualificar,
encaixar,
padronizar
e
tornar
áureo
o
ser
que
existe
para
a
incerteza,
para
 a
variação,
para
a
busca.
O
tempo
é
curto
e
a
tentativa
é
constante.
Não
há
fórmula,
 nem
para
o
indivíduo,
nem
para
sua
inserção
moldada
na
sociedade.
 Com
ações
que
tomam
o
corpo
de
forma
visceral,
enérgica
e
esquizóide,
e
em
 situações
 que
 demonstram
 tentativas
 de
 conforto
 e
 de
 confronto,
 o
 os
 trabalhos
 analisados
 expõem
 o
 corpo
 propriamente
 dito,
 como
 parte
 do
 espaço,
 como
 conteúdo
do
continente,
em
situações
de
embate
em
relação
à
legitimação
de
sua
 condição,
 de
 seu
 encaixe
 e
 de
 como
 se
 encontrar
 dentro
 da
 cartografia
 cartesiana
 social.


 Como
tornar
o
substantivo
em
adjetivo?

 Conhecer
 a
 variação
 do
 indivíduo
 implica
 em
 re‐conhecer,
 experimentar,
 experimentar
 não
 só
 o
 substantivo
 como
 sendo
 adjetivo,
 mas
 como
 sendo
 factualmente
legítimo
e
legível
(ou
ilegível).
Porém,
quando
o
pensar
e
o
centro
de
 utopia
 já
 não
 dão
 mais
 conta
 de
 se
 exprimir
 a
 confissão
 do
 Homem
 sobre
 suas
 angústias
e
anseios,
o
corpo
todo
‐
que
absorve
e
expele
como
estática
em
reação
ao
 atrito
–
passa
a
se
expressar
de
forma
a
se
atingir
o
objetivo.
Com
isso,
tal
corpo
se
 apresentando
 de
 forma
 a
 atingir
 o
 alcance
 do
 limite,
 do
 esgotamento,
 da
 quantificação
 da
 constância,
 tentando
 realizar
 o
 encaixe
 no
 padrão,
 a
 inserção
 na


proporção
 áurea,
 acaba
 por
 ocasionar
 o
 surgimento
 da
 gota
 como
 resposta
 do
 centro
de
massa
de
que
pode
não
ir
tão
longe.
 Relacionando‐se
 ainda
 assim
 com
 o
 ambiente
 em
 que
 se
 insere,
 o
 corpo
 já
 tanto
 citado
 toma
 algumas
 formas
 de
 se
 padronizar
 com
 tentativas
 constantes
 de
 inquietação,
 de
 dês‐amortecimento.
 Logo,
 Renan
 Marcondes,
 utilizando‐se
 de
 corpos
 que
 são
 passivos
 à
 sua
 existência,
 mostra
 o
 embate
 da
 carne
 como
 seu
 condicionador
em
situações
de
conforto
e
ou
desconforto.

 Contudo,
 a
 relação
 entre
 o
 desconforto
 (induzido
 pela
 não
 compatibilidade
 entre
corpo
do
sujeito
e
corpo
a
convidá‐lo)
e
o
conforto
(questionável
em
tentativas
 constantes
 como
 forma
 de
 se
 aproximar
 e
 testar
 outros
 campos
 de
 vivência
 –
 encaixes)
dada
pelo
relacionamento
corpo‐objeto,
acaba
por
tornar
(de
certa
forma)
 o
indivíduo
passivo
aos
(seus)
mesmos.
 Com
 isso,
 ainda
 não
 concluo
 nenhum
 apontamento
 sobre
 qual
 a
 força
 da
 subjetividade,
qual
seu
peso,
e
o
que
prende
ela
à
realidade.
Que
gravidade
é
essa
 que
pode
encaixar
a
subjetividade
numa
realidade
que
abafa
o
sujeito?
Há
gravidade
 nisso?
Nisso,
onde
convergir
o
que
é
o
ser
com
o
que
ele
espera
ser?
Novamente,
o
 tempo
é
curto
e
a
tentativa
é
constante.


Joice
 Palloma,
 22
 anos,
 estudante
 de
 Artes
 Visuais
 no
 Centro
 Universitário
Belas
Artes
de
São
Paulo.
 Renan
Marcondes
em
muitas
de
suas
performances
coloca
seu
corpo
em
um
 embate
 físico
 com
 o
 material,
 até
 chegar
 um
 ponto
 que
 possa
 ficar
 anestesiado
 e
 não
 sentir
 mais
 nada,
 tornando‐se
 tão
 objeto
 quanto
 os
 objetos
 escolhidos,
 pois
 o
 objeto
não
sente
apenas
sofre
as
consequências
de
ações
que
são
investidas
contra
 ele.
 Após
 uma
 conversa
 informal
 com
 Renan
 a
 respeito
 do
 uso
 dos
 materiais
 (como
 lápis,
 papel
 sulfite,
 clips,
 etc),
 por
 exemplo,
 em
 Exercício
 #1,
 hipótese
 sobre
 uma
 construção,
 2012
 ,
 discutimos
 sobre
 como
 é
 esperado
 que
 do
 uso
 desses
 objetos
seja
produtivo,
tanto
no
âmbito
acadêmico
quanto
burocrático.
 Nessa
 performance
 o
 que
 me
 chamou
 a
 atenção
 foi
 que
 por
 
 ele
 estar
 de
 relógio
dá
para
saber
que
horas
foi
realizada
ação,
e
a
questão
da
produtividade
está
 na
maioria
das
vezes
atrelada
ao
domínio
do
tempo
seja
qual
for
a
tarefa
executada,
 quanto
mais
coisas
se
consiga
fazer
em
menor
tempo,
mais
produtivo
se
é.
 Essa
relação
do
corpo
com
sua
eficiência
produtiva
vincula‐se
a
demanda
de
 um
 corpo
 máquina,
 um
 corpo
 que
 tem
 que
 produzir,
 que
 tem
 que
 ser
 eficiente,
 e
 não
dar
defeito,
pois
o
corpo
máquina
não
deve
sentir,
apenas
repete,
se
programa
 e
auto
programa,
o
corpo
máquina
obedece
a
uma
coreografia
“mecânica”.
 Não
 quero
 com
 isso
 dizer
 que
 as
 ações
 de
 Renan
 Marcondes
 são

 “robotizadas”
e
sim
que
por
mais
que
haja
subjetividade,
os
movimentos
tendem
a
 se
 aproximar
 de
 algo
 mecânico,
 tendo
 em
 vista
 que
 para
 cada
 parte
 movimentada
 do
corpo
é
como
se
acionasse
uma
engrenagem
,
é
uma
combinação
de
partes
que
 precisam
 estar
 coordenadas
 para
 que
 haja
 a
 ação,
 funcionando
 a
 partir
 de
 um
 sistema.


Suzana
 Cardoso,
 22
 anos,
 formada
 em
 História
 na
 Universidade
 Cruzeiro
do
Sul
 Assistindo
 à
 performance
 percebi
 primeiramente
 uma
 relação
 entre
 pontos
 de
tensão
e
de
equilíbrio,
o
corpo
tenciona‐se,
por
debaixo
da
camisa
os
músculos
 parecem
 rijos.
 As
 linhas
 do
 rosto
 alternam‐se
 em
 linhas
 severas
 e
 suaves.
 Considerando
estas
linhas
de
oposição
e
as
escolhas
de
materiais
de
trabalho
(lápis,
 borracha,
 giz,
 régua
 e
 folhas
 de
 papeis)
 poderíamos
 pensar
 na
 construção
 de
 imagens
como
uma
ação
composta
por
linhas
de
tensões.
 Ao
 mesmo
 tempo
 o
 corpo
 se
 transforma
 em
 objeto
 e
 em
 tela
 desta
 construção,
o
corpo
é
o
lugar
onde
se
constrói
e
onde
se
tenciona.

 Por
 fim,
 a
 ação
 começa
 de
 forma
 metodicamente
 organizada,
 e
 durante
 a
 performance
o
que
ocorre
é
um
descontrole.
O
descontrole
do
corpo,
dos
objetos,
 da
 ação,
 e
 de
 novo
 existe
 uma
 linha
 de
 oposição:
 a
 construção
 e
 a
 destruição.
 Ao
fim,
já
não
sei
se
trata‐se
da
ação
do
desenho
sobre
uma
superfície,
ou
da
ação
 do
corpo
sob
forças
e
sensações
que
não
controlamos.


Bibliografia
 •

MERLEAU
 Ponty,
 Maurice.
 Conversas‐1948/Maurice
 Merleau
 –Ponty.
 Tradução:
Fabio
Landa,
Eva
Landa
–
São
Paulo:
Martins
Fontes,
2004

LASCH,
 Christopher.
 O
 Mínimo
 eu.
 Tradução:
 João
 Roberto
 Martins
 Filho.
4
edição
–
São
Paulo:
editora
Brasiliense
,1987.

MARCONDES,
Renan.
O
Corpo
Insustentável:
Manual
Civilizador
Para
 um
Peso
sem
Nome.
São
Paulo:
FBSP,2012.

MARCONDES,

Renan.

Vídeos.

Disponível

em:

http://www.renanmarcondes.com/
Acessado
em
2/12/2012
as
14:00


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