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Serviço Educativo aos Pobres

O Instituto dos Irmãos das Escolas Cristãs de La Salle teve as

suas bases e consolidação no ensino preferencialmente aos mais necessitados. Em 1679, quando pela primeira vez João Batista de La Salle encontrou o Senhor Adriano Nyel, membro de uma fraternidade cristã de professores, com recomendações da parte da Madame Maillefer para iniciar uma escola em Reims para meninos pobres, mal sabia o fundador tudo que iria fazer em favor dos mais necessitados.

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A fim de melhor servir ao Reino de Deus por intermédio da Educação Cristã, João Batista de La Salle renunciou ao que recebia como Cônego e, não o bastante, renunciou a todos os bens que possuía para viver integralmente junto com os primeiros Irmãos a nobre missão de educador. Tal postura radical frente à realidade que o cercava, marcou definitivamente a vida e a obra posterior do Instituto nascente.

Com o passar do tempo e a consolidação do Instituto, os Irmãos adotaram para si um hábito, construíram casas de formação para os novos professores e professaram 5 votos, a saber: castidade, pobreza, obediência, serviço educativo aos pobres e fidelidade ao Instituto. Em especial, esses dois últimos, os Irmãos já viviam antes da oficialização do Instituto junto à Igreja Católica.

O atendimento educacional aos mais necessitados, não somente na época de La Salle, mas também hoje, representa um grande

Jornal Folha de Botucatu 06/02/1957

Imagem 1: comunicado disponibilizando bolsa de estudo desafi o. Em primeiro lugar, não quer dar a entender atendimento exclusivo, não signifi ca dizer que a cobrança de mensalidade anuvia a missão e não signifi ca dizer que existe apenas a pobreza em relação ao dinheiro.

Como nos inícios do

Instituto, hoje também atendemos uma enormida

de de pessoas, dentre elas

Arquivo histórico do Colégio

Imagem 2: outra forma de angariar recursos para dar continuidade à obra era o sorteio de prêmios entre as unidades da Rede, ou Associação Brasileira de Educadores Lassalistas.

temos pobres, ricos e muito ricos. Para darmos conta do atendimento equitativo a todos, existe a cobrança da mensalidade e a concessão de bolsas de estudo e sindicais, essa última destinada apenas aos filhos de colaboradores. Tal proceder tem suas origens desde antes da vinda dos Irmãos Lassalistas para Botucatu, como podemos observar na imagem 1 e 2 na página anterior.

Nos relatos que tive acesso da década de 60 17 , fica evidente a preocupação Lassalista referente aos mais necessitados na região. Além de oferecer bolsas de estudo, o valor da matrícula era fixado no seu teto máximo, mas havia possibilidade de a família pagar de acordo com os seus rendimentos. Além disso, consta que o Colégio, colaborando com a promotoria local, dava subsídio, casa, roupas e comida a dois menores órfãos e oferecia almoço e janta para cinco famílias pobres indicadas pela Conferência Vicentina, além de outras refeições avulsas.

Com o passar do tempo, averiguou-se maior rigidez e transparência nos processos de concessão de bolsa de estudo. Novos editais foram organizados e uma enormidade de documentos passou a ser exigida para conceder o benefício. Todavia, os trâmites burocráticos não impediram a unidade de continuar. Os anos foram passando, e com eles muitos, realmente muitos, estudantes bolsistas e pagantes passaram pelo Colégio. Hoje, só para se ter uma ideia, o Colégio investe cerca de R$ 700 mil por ano em atendimento educacional gratuito a 219 estudantes bolsistas. Sem

17 Relatório de atividades da década de 1960. Arquivo histórico do Colégio La Salle.

dúvida, uma contribuição significativa para cada bolsista e para o Município como um todo.

Obviamente, não é somente no Colégio que temos esse investimento e não é somente a unidade que investe. Na verdade, o investimento em bolsas, em última instância, é a Mantenedora que não somente as oferece para o Colégio, mas também atende hoje, gratuitamente, cerca de 250 crianças na Escola La Salle – obra assistencial que fica no Jardim Bandeirantes, aqui em Botucatu. Assim sendo, somando às duas unidades Lassalistas em Botucatu, temos mais de 400 crianças atendidas, quando não de forma totalmente gratuita, com 50% de gratuidade.

Além da concessão de bolsas, o Colégio sempre teve presente a imperiosa necessidade de fazer com que os estudantes compreendessem a importância de auxiliar o próximo. Assim, em muitas ocasiões os estudantes foram chamados a participar de competições, gincanas e eventos solidários. Trata-se basicamente de uma forma de levá-los a contemplar as necessidades dos mais pobres, em um exercício salutar de empatia.

Abaixo, o Professor de Educação Física do Colégio, Prof. Gildo (apelido), nos relata um pouco da importância do serviço assistencial do Colégio.

Edivaldo Rogério Fumes, casado com Lucilena Lopes Fumes, pai de Lucas Della Coletta Fumes e João Vítor Loés Fumes, estudou no Colégio de 1980 a 1986. Atualmente, é Professor de Educação Física do Colégio La Salle.

Minha história no Colégio começou no final de 1979, quando um amigo da família, Sr. João Ribeiro (foi durante anos gestor das finanças do Colégio La Salle de Botucatu), em conversa com meu pai, apresentou a possibilidade de eu sair do EECA (Escola Estadual) e ir estudar no La Salle.

Meu pai trabalhava de sapateiro pela manhã e de servente de escola (funcionário público) no período da tarde. Minha mãe era cozinheira. Portanto, minha família não tinha condições financeiras para me colocar no Colégio La Salle.

O Sr. João Ribeiro, no entanto, conseguiu uma bolsa de estudo integral (100%) para que eu ingressasse na antiga 5ª série do Colégio.

Com uma expectativa imensa tanto para mim como para minha família, em 1980, comecei a estudar no La Salle juntamente com muitos amigos que estudavam comigo na Escola Estadual. Naquele momento, começava a se realizar um sonho da família.

No início, apesar de muitos amigos e conhecidos, não foi fácil, pois a diferença de ensino entre o Colégio La Salle e uma escola estadual já era muito grande naquela época. Mas, com o decorrer do ano, fui me adaptando e, principalmente pela estrutura física e esportiva do Colégio, logo comecei a me destacar nos esportes, principalmente no futebol, então tudo se tornou mais fácil.

Os professores eram excelentes, com alguns professores bastante severos e outros mais tranquilos, mas muito comprometidos com a educação e com as famílias. Muitos desses professores eram “fregueses” da minha mãe, que fazia salgados para festas e, mesmo assim, se mantinham altamente profissionais. Respeito todos (alguns in memoriam) até hoje, pois ajudaram muito na minha educação e como ser humano.

Fiz muitos amigos aqui. Confesso que até hoje, com meus 52 anos, muitos conhecidos são dessa época e a minha “turma” de amigos (Irmãos) temos contato e mantemos contato frequentemente. Amizade que nasceu e cresceu dentro do La Salle.

No centro, Prof. Gildo em reunião festiva com a família. Ressalto que não foi o Colégio que o influenciou a torcer para o Palmeiras (risos)!

Em 1987, saí do Colégio e fui para o Objetivo, pois recebi uma proposta de ir trabalhar em um Banco, não podendo conciliar o estudo no La Salle com o trabalho. Mas até o final do Ensino Médio e durante a faculdade, as experiências e os ensinamentos Lassalistas me conduziram a me esforçar, alcançar e trilhar meus caminhos, acredito que de muito sucesso.

Muito me marcou estudar aqui. Me lembro dos churrascos e jogos de futebol com os Irmãos e professores, dos campeonatos e das festas juninas. Me recordo também das reuniões de pais; eu tremia quando ocorriam (risos). Um Colégio até os dias de hoje renomado, com uma didática de ensino poderosa e fundamentada nas diretrizes de São João Batista de La Salle. Sem dúvida, um dos melhores colégios do Estado de São Paulo. Uma tradição familiar que passa de geração em geração.

Me orgulho em ter estudado, estagiado e de trabalhar nesse Colégio. Além disso, meu filho, Lucas (22 anos), estudou em todos os ciclos no Colégio La Salle e, meu filho João Vitor (13 anos), está estudando no Colégio que sempre representou muito para toda minha família.

Abaixo segue um pequeno recorte dos idos de 1967 que trata do atendimento gratuito aos estudantes. Vejamos:

Recorte histórico de 1967. Diz: “A escola mantém diversos alunos, completamente gratuitos em regime de internato e grande número com substanciais descontos nas anuidades de externato, que já são das mais módicas do Estado de São Paulo”.

Arquivo histórico do Colégio La Salle

Pequeno recorte do Relatório de Atividades dos idos de 1979, quando o Diretor era o Irmão Laurentino.

Além da Gincana Lassalista, existem outras atividades durante o ano em que o Colégio La Salle Botucatu envolve os estudantes e toda a comunidade educativa em campanhas caritativas. Aliás, não é somente a Rede La Salle em Botucatu que assim procede, mas todas as unidades Lassalistas. Dentre as campanhas de caridade, temos o Natal Solidário, arrecadação de chocolate na Páscoa, campanha do agasalho quando se aproxima o inverno. Enfi m, havendo ocasião, não nos furtamos em auxiliar o próximo. No ano corrente em específi co, nos envolvemos muito na arrecadação de mantimentos e colchões para os desabrigados devido às fortes chuvas que caíram em Botucatu. Foram muitas

as contribuições, graças à prontidão e à empatia que o povo Botucatuense tem para com aqueles que necessitam.

Contribuição particular

Fortes chuvas atingiram Botucatu em 2020.

Jornal de Botucatu, 08 de junho de 1983 Gincanas que pontuam na medida da solidariedade de cada um é uma marca registrada do Colégio La Salle.

Arquivo do Colégio

Gincana 2019. Nesta oportunidade, os estudantes arrecadaram mais de 4 toneladas de alimentos e produtos de limpeza – e se divertiram para valer!

Arquivo histórico do Colégio, 1992

Jogos internos onde pontua quem arrecada alimentos.