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PSICOLÓGICO
a importância da relação, ao passo que os homens tendem a estar menos satisfeitos junto de companheiras com padrão de vinculação “ansioso/ambivalente”, porque se sentem ameaçados pela exigência e natureza possessiva das mesmas. (FIGUEIREDO; PAIVA, 2003, p.172)
O abusador tende a descreditar os sentimentos e a fala do parceiro, negando a importância da vítima no relacionamento, pois, para o gaslighter, somente a opinião dele e o poder que ele exerce sobre o outro são relevantes, fazendo com que ele controle as decisões no relacionamento e diminua cada vez mais o espaço de escolha da parceira.
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"Muitas vezes, a resposta é 'você não tem motivos para sentir dessa forma', 'não é isso', 'você não deveria se sentir assim'. Quando, na verdade, quem está falando sobre a sua intimidade está falando sobre alguma coisa que, para se transformar, primeiro precisa ser reconhecida e acolhida". (BAUER, 2021).
Estudos feitos pelos profissionais da psiquiatria apontam que pode haver inúmeros motivos para que uma pessoa cometa violência psicológica em um relacionamento, mas um dos principais apresentados por pesquisadores é o abuso e negligência na infância pelos "modelos internos dinâmicos", ou seja, os modelos responsáveis pela construção da personalidade nos primeiros anos da vida de uma pessoa.
O efeito das experiências de abuso na infância nas dificuldades interpessoais presentes nas relações íntimas com o companheiro durante a idade adulta é mediado pelo padrão de vinculação “inseguro” construído a partir das relações iniciais com os pais (MCCARTHY; TAYLOR, 1999).
O filme Malcolm & Marie, lançado em 2021, é a perfeita representação de um relacionamento tóxico e abusivo, mostrando o menosprezo que um sente em relação ao outro, quando ambos utilizam várias táticas para se atacar e, assim, apresentando algumas das características mais comuns em relacionamentos abusivos.
2.7. UM OLHAR PARA TELEDRAMATURGIA BRASILEIRA SOBRE O ABUSO PSICOLÓGICO
Ao observar o cenário nacional e como o abuso psicológico é retratado na teledramaturgia brasileira, podemos perceber que as novelas conseguem trazer o assunto de uma forma que o contexto de diversos abusos diferentes se passa no cotidiano dos personagens, onde o público é introduzido aos poucos a enxergar 43
pequenas a grandes situações de abuso e as sequelas que são deixadas nas vítimas. Explicitamos os casos de abuso psicológico retratos em duas novelas diferentes A Favorita (2008) e Avenida Brasil (2012). Foi apresentado ao público em “A Favorita” exibida em 2008 o personagem Orlandinho (Iran Malfitano) jovem playboy e rico, filho de pais fazendeiros de Minas Gerais, que mora sozinho em um apartamento luxuoso em São Paulo, no começo o personagem aparece em restaurantes cercado de mulheres. Ao conhecer Halley (Cauã Reymond), Orlandinho declara seu amor e mostra interesse em se assumir homossexual para viver seu romance. A construção do personagem vai se modificando de forma que o exagero dos trejeitos remete às antes recorrentes caricaturas, e sua “afeição” não passa despercebida pelo pai que percebendo seu interesse em seu novo “amigo”, propõe interná-lo em uma clínica para “se curar dessa doença” que para ele não é aceito de forma alguma. Com medo, Orlandinho foge, mas, ao perceber que não teria mais sua vida de luxo e seus cartões de crédito que foram cortados pelo pai, ele concorda com a internação.
“...aqueles e aquelas que transgridam as fronteiras de gênero ou de sexualidade, que as atravessam ou que, de algum modo, embaralham e confundem os sinais considerados 'próprios' de cada um desses territórios são marcados como sujeitos diferentes e desviantes. [...] Esses sujeitos são tratados como infratores e devem sofrer penalidades. Acabam por ser punidos, de alguma forma, ou, na melhor das hipóteses, tornam-se alvo de correção. (LOURO, 2004, p. 87)”

Orlandinho volta da reabilitação e com isso seu pai (Luiz Bacceli) resolve testar seu filho e ver se o mesmo está curado da homossexualidade, com isto contrata uma garota de programa Maria do Céu (Debora Secco) para ficar com o filho, Orlandinho não consegue ficar com Maria do Céu e pede para ela mentir para seus pais e falar que ele é “terrível na cama”, a garota sem entender muito bem o que está ocorrendo questiona o comportamento de Orlandinho, o mesmo começa a chorar e o mesmo diz: “ Não, é que eu estava sentindo umas coisas... Eu acabo de voltar de uma clínica e eles me proibiam de dizer o que eu estava sentindo e eles me botavam no quarto azul e mandavam eu ficar repetindo que é isso que eu gosto, que é isso que eu gosto, mas eu não gosto disso, eu não gosto disso...”. O olhar de sofrimento do personagem ao relar o abuso sofrido em clínica por sua opção sexual só retrata o que muitos jovens passam no seu dia a dia.
“A orientação sexual e a identidade de gênero são questões inerentes ao indivíduo e se estruturam nos primeiros anos de vida. O profissional de saúde não deve interferir nisso. Seu papel é respeitar o paciente e auxiliá-lo nesse processo, que traz um estresse emocional e psicológico.” (NIEL, 2021).
Com pena de Orlandinho e sentindo um alívio por não precisar ter relações sexuais com o mesmo, Maria do Céu mente para família de Orlandinho, os dois ficam amigos e com o passar do tempo fingem estar em um relacionamento onde Maria do Céu cole os frutos de ter uma relação com um playboy rico e Orlandinho pode mantém sua homossexualidade no armário, em paralelo Maria do Céu mantém uma amizade colorida com Harley que é o alvo de Orlandinho, ao longo da novela Maria do Céu descobre que está gravida de Harley e com isto Orlandinho oferece se casar com a moça e assumir o filho para fins de transformar o seu relacionamento em um relacionamento há três ( Orlandinho, Maria do Céu e Harley). Porém sua família não aceita facilmente seu filho se casar com uma prostituta, mas na mente deles é mais aceitável seu filho casar-se com uma garota de programa do que ser homossexual e acabam aceitando a união dos dois. A cumplicidade entre Céu e Orlandinho vai se transformando em uma forte amizade e na “noite de núpcias”, que seria uma encenação, eles, de fato, consumam o ato sexual. A cena é cortada para a manhã seguinte e, entre beijos e abraços, seguidos de um abrupto afastamento, o casal questiona: “Mas como pode ser, você é gay” fala Maria do Céu. “É, eu sou gay, não posso gostar de estar com uma mulher” diz Orlandinho. Os personagens atribuem a “reconversão” à forte amizade entre eles, enfatizada como algo central nas relações amorosas. No último capítulo, Céu dá a luz a um bebê ao pé de uma árvore no quintal de Cilene, onde Halley (pai biológico) e Orlandinho (pai adotivo) ajudam a fazer o parto. Antes da situação inusitada, Orlandinho externa sua ansiedade e recupera as afetações dos primeiros momentos da trama, mas se diz apaixonado por Céu e feliz em ser pai. A novela A favorita reforçou para o público um clássico caso de reconversão da homossexualidade, onde o autor João Emanuel Carneiro expõe que o personagem nunca teve uma relação homoafetiva e que suas expectativas são baseadas na imaginação, após se relacionar com uma mulher ele descobre estar apaixonado e vive sua vida com a mulher amada, porém comunidade gay não aceitou muito bem o desenrolar do personagem Orlandinho, pois a novela

romantizou a cura gay e o abuso sofrido pelo personagem com sua família que não aceitava sua orientação sexual. Na novela Avenida Brasil exibida em 2012 tivemos o caso de abuso psicológico passado no relacionamento da Ivana (Letícia Isnard) e Max (Marcello Novaes) onde os personagens eram casados, no início da trama Ivana foi apresentada ao publico como uma mulher solteirona e que não obtinha muita sorte no amor, já Max era o amante de Carminha (Adriana Esteves) um homem oportunista que fazia de tudo para se dar bem na vida, O relacionamento teve início quando Carminha começou a se relacionar com Tufão (Mauricio Benício) e apresentou Max para Ivana como uma forma de ficar perto do seu amante e conseguir ter mais vínculos na família de Tufão, Ivana que já estava desiludida na vida amorosa sede as investidas de Max e em pouco tempo juntos os dois se casam. Depois do casamento Max vem tratando Ivana cada dia pior, no início do relacionamento inventava cansaço ou colocava remédio no copo de água da mulher para não ter relações sexuais com ela, começou a fazer críticas a sua aparência e ao seu modo de falar e agir em público, Ivana por sua vez sempre dá desculpas para os abusos e ofensas feitos pelo seu marido e sempre o perdoa.

"São mulheres com baixa autoestima, inseguras, dotadas de pouco autoconhecimento e que tendem a se desqualificar. Elas depositam no parceiro todos os seus desejos e anseios de aceitação" (SAMARITANO, 2012).
Ivana com o tempo vai perdendo sua autoestima e se prendendo ainda mais aos comentários que seu marido Max faz sobre ela e acha que se ele terminar com ela algum dia ela nunca conseguirá encontrar alguém que ame da forma que ela é, em uma cena Max inconformado por ter visto Carminha ganhar um cordão milionário de Tufão, Max procura agir de alguma forma para conseguir dinheiro e vai conferir o manual do cofre da mansão, traçando seu plano de roubo. No entanto, sua mulher Ivana que não desconfia das falcatruas do marido, aparece de surpresa na biblioteca e pede para que ele a ajude em seus novos negócios, o que aparenta não o deixar muito satisfeito. Sem disfarçar sua irritação com a entrada da esposa no local, ele acaba sendo grosso com ela e diz que não tem motivo algum para que ajudá-la. Surpresa, Ivana ainda o chama de estúpido e causa mais irritação em Max, que dispara ofensas como: “Além de ter que olhar todo dia para essa tua cara feia murcha, você fica ainda mais ‘mocreia’ chorando! Parece uma porca berrando no 46
matadouro. Sua ridícula!”. Arrasada com a reação do marido, a loira tenta dar um basta na situação. “Chega!”, pede. Furioso, ele ainda parte para cima dela e por muito pouco não acaba a agredindo. Ivana inconformada com a atitude do esposo sai chorando e vai atrás de Carminha para desabafar sofre o ataque de fúria do esposo. Com o passar do tempo à família de Ivana vai a alertando que a relação que a mesma vive com Max não é saudável e ela merece alguém que a trate bem, porém o medo de ficar sozinha é maior e ela sempre o perdoa e coloca tudo debaixo dos panos. As discussões entre os dois vão aumentando e Ivana se vê cada dia mais infeliz na relação, mesmo fazendo de tudo para agradar Max, dando dinheiro e o sustentando em seus luxos o mesmo não para de atacar a esposa com ofensas e a desprezando cada dia mais. O desfecho do casamento vem quando Max dá uma caixa para Ivana de presente e pede que ela abra com a família toda presente, a caixa contém fotos dele com Carminha que foi sua amante a vida toda, nesta mesma cena Max saí da mansão e joga a chave fora anunciando para o publico que está indo embora daquele lugar e do seu casamento que tanto odeia, quando Ivana abre a caixa ela fica horrorizada e começa a gritar chamando sua família para ver as fotos que comprovam a traição de Max e Carminha, após o ocorrido Ivana procura Max na intensão de matar o marido, porém ao encontra-lo ela fica muito abalada e Max acabada humilhando ela novamente e até a ameaçando com a faca que Ivana trouxe para mata-lo em seu pescoço, mas ele a solta, Ivana se irrita muito e bate na cara dele, mandando ele calar a boca. “Pode falar o que quiser de mim, Max. Mas, pelo menos, eu sou uma pessoa decente. Pode tirar sarro, Max. Pode se divertir, porque, agora, eu vou voltar para a minha mansão, para minha casa, para pessoas que me amam, para a minha família. Enquanto você, seu merda, você vai ficar aqui nesse monte de lixo, que é o teu lugar, sem ninguém, sozinho, apodrecendo nesse fim de mundo, nesse fedor”. Ivana sai do lixão e vai embora.

Partir não quer dizer que as mulheres estejam decididas a se divorciarem. Elas mantêm durante muito tempo a esperança de que seu companheiro venha a mudar. Esperam que a ruptura tenha sobre ele uma função de eletrochoque, que ele venha a se corrigir, e, mesmo depois de afastadas, têm vontade de ajudá-lo e continuam a ter pena dele ou a desculpá-lo. (HIRIGOYEN, 2006, p. 103).
Disposta a dar a volta por cima, ela contará com a ajuda da amiga e sócia Monalisa (Heloísa Périssé), que irá fazer uma transformação e renovar a autoestima da amiga que á anos é chamada de feia pelo ex-esposo Max, no fim da trama Ivana acaba ficando com Silas um homem que se apaixona por sua determinação e independência, já Max acaba sendo assassinado por Carminha. A novela Avenida Brasil conseguiu retratar muito bem como o abuso psicológico em relacionamentos funcionam, quais os efeitos na vítima e como ás vezes as palavras do agressor são mascaradas como críticas construtivas no inicio da relação.
