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PUBLICAÇÃO OFICIAL DO NÚCLEO HOSPITALAR DE EPIDEMIOLOGIA DO HOSPITAL SANTA CRUZ

Revista de Epidemiologia e Controle de Infecção Ano II - Volume 2 - Número 3 - 2012


PUBLICAÇÃO OFICIAL DO NÚCLEO HOSPITALAR DE EPIDEMIOLOGIA DO HOSPITAL SANTA CRUZ

EDITORIAL

Os projetos PRÓSAÚDE/PET-Saúde e a Universidade Maria Salette Sartori1* e Maria do Horto2 Tutora Acadêmica PET-Saúde Redes de Atenção, Universidade de Santa Cruz do Sul, Unisc. Coordenadora PRÓSAÚDE e PET-Saúde, Universidade Federal de Santa Catarina, UFSC.

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Enviado em: 05/09/2012 Aceito em: 30/09/2012 *

sartori@unisc.br

Como se constrói a interdisciplinaridade? Quais são suas premissas, recursos e estratégias de suporte e de desenvolvimento? Os Programas de Reorientação de Formação em Saúde (PRÓSAÚDE) e Programas de Educação pelo Trabalho (PET-Saúde) tem contribuído para a promoção de aprendizagens significativas? Estas são algumas das questões sobre as quais este exemplar da Revista de epidemiologia e Controle de Infecção está centrado, cedendo espaço aos autores para relatarem suas experiências e reflexões sobre abordagens interdisciplinares. Mais que isso, revela-se nos artigos a possibilidade da compreensão integral do ser humano e do processo saúde-doença em tempos de humanização, acesso e equidade. Compreender e agir com o ser humano neste sentido passam necessariamente por reflexões interdisciplinares e por práticas multiprofissionais, na medida em que o processo de trabalho se organiza na complementariedade dos diferentes saberes e práticas profissionais, buscando potencializar as ações cuidadoras e terapêuticas. O Ministério da Saúde por intermédio da Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação em Saúde (SGTES) e o Ministério da Educação no uso das suas atribuições, vem trabalhando no sentido de potencializar qualidades colaborativas de estados, municípios e universidades no sentido de superar as dificuldades do trabalho, da formação e da pesquisa em saúde através de diferentes políticas indutoras. O PRÓSAÚDE e PET-Saúde, estratégias que fazem parte desta política, tem sido marcadores importantes na formação de grupos e equipes de profissionais que se envolvem estrategicamente na construção coletiva de propostas de “aprender a aprender” e de “aprender fazendo” em um movimento articulaRev Epidemiol Control Infect. 2012;2(3):80-81

do entre serviços de saúde, comunidade e formação em saúde, tendo como direção os princípios do Sistema Único de Saúde, as Diretrizes Curriculares Nacionais dos cursos da área da saúde e a Política de Educação Permanente, entre outras. A participação nestes Programas pressupõe que as mudanças na relação ensino/atenção/serviços/comunidade e gestão são ideais pautados na 8ª Conferencia Nacional de Saúde (1986), nas deliberações do movimento da Reforma Sanitária Brasileira e na própria Constituição Brasileira ou seja, orientados pela união com a comunidade, e pela vontade política de implementar um Sistema Único de Saúde, que possa dar conta das necessidades de saúde do país. Novos cenários de práticas contemplando ambientes comunitários, serviços da rede de saúde, enfoque da integralidade e do conceito ampliado saúde vão sendo integrados como eixos de desenvolvimento curricular na formação, como estratégia importante para dar conta de novos e velhos desafios, demonstrados em grande parte por estudos epidemiológicos das situações de saúde da população. Contudo, há indícios de que as alterações nas correlações de forças internas na academia e nos serviços propiciados pela criação e adoção de múltiplos espaços reflexivos se constituem como importantes ingredientes para estimular mudanças que atinjam um plano mais estrutural e ideológico. A mudança do processo de formação em saúde está ligada à mudança da prática profissional, que por sua vez depende do modelo de atenção e do papel dos vários sujeitos na produção coletiva do pensar e fazer em saúde e nesse sentido são processos dialeticamente relacionados e interdependentes. Os programas PRÓSAÚDE e PET-Saúde têm revelado que as transformações desejadas podem ser difíceis, lentas, comple-

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PUBLICAÇÃO OFICIAL DO NÚCLEO HOSPITALAR DE EPIDEMIOLOGIA DO HOSPITAL SANTA CRUZ

ARTIGO ORIGINAL

Agravos Relacionados ao Trabalho como causa de Internações Hospitalares Work-related injuries as cause of hospitalization

Rafaela Scheid1, Marthina Alice Gressler1, Débora Martins1, Luciana Simon Fanfa2, Suzane Beatriz Frantz Krug3* Bolsistas PET Saúde - Vigilância em Saúde da Universidade de Santa Cruz do Sul, Unisc; 2Preceptora do PET Saúde - Vigilância em Saúde, Unisc, Secretaria Municipal de Saúde de Santa Cruz do Sul; 3Programa de Pós-Graduação em Promoção da Saúde da Unisc, Tutora acadêmica do PET Saúde - Vigilância em Saúde, Unisc. 1

Recebido em: 23/04/2012 Aceito em: 02/08/2012 *

RESUMO

skrug@unisc.br Justificativa e Objetivos: Identificar os possíveis casos de internação hospitalar devido a acidentes e agravos relacionados ao trabalho, traçando o perfil dos pacientes internados em sua decorrência, em Hospital de ensino do Sul do Brasil, entre 2008 e 2010. Método: Estudo descritivo, retrospectivo, do tipo documental, no qual os dados foram coletados em 40 prontuários de pacientes internados no período de janeiro de 2008 a dezembro de 2010. Após a coleta de dados, realizou-se busca dos casos considerados relacionados ao trabalho no Sistema de Notificação em Saúde do Trabalhador (SIST). Resultados: Dos 40 prontuários analisados, apenas 1 (2,5%) havia registro de acidente de trabalho. Em 45%, verificou-se que informações descritas sugeriam nexo entre o trabalho e a internação. Entre as internações identificadas como relacionadas

DESCRITORES Saúde do Trabalhador Hospitalização Trabalho

ao trabalho, 80% ocorreram com homens e 89% dos casos tiveram alta melhorada. Um evoluiu a óbito e em um prontuário o campo desfecho não estava preenchido. Conclusão: O estudo mostrou a realidade de não estabelecimento do nexo causal entre a ocupação laboral e o acometimento à saúde dos pacientes, resultando em não investigação da doença ou acidente relacionado ao trabalho, o que contribui para o panorama de subnotificação dos agravos.

ABSTRACT Rationale and Objectives: To identify possible cases of hospitalization due to work-related accidents and injuries, establishing the profile of patients admitted to a teaching hospital in southern Brazil between 2008 and 2010. Method: A descriptive, retrospective documental study, of which data were collected from 40 medical records of patients admitted between January 2008 and December 2010. After data collection we conducted a search of work-related cases from the Workers’ Health Notification System (SIST). Results: Of the 40 reviewed records, only 1 (2.5%) contained a work-related accident record. In 45% of them, the information provided suggested an association between work and hospitalization. Among hospitalizations identified as work-related, 80% occurred with men and 89% of cases were dis-

KEYWORDS Workers’ Health Hospitalization Labor

charged after improvement. One individual died and the outcome was not described in another record. Conclusion: The study showed the reality of not establishing a causal link between work and health problems of patients, resulting in the absence of investigation of work-related illnesses or accidents, which contributes to the panorama of injury underreporting.

Rev Epidemiol Control Infect. 2012;2(3):82-84

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AGRAVOS RELACIONADOS AO TRABALHO COMO CAUSA DE INTERNAÇÕES HOSPITALARES Rafaela Scheid, Marthina Alice Gressler, Débora Martins, Luciana Simon Fanfa, Suzane Beatriz Frantz Krug.

INTRODUÇÃO Os acidentes e as doenças relacionados ao trabalho trazem grande morbi-mortalidade à população e representam importante impacto na saúde pública, com demanda de custos ao sistema de saúde, ao paciente e à sociedade como um todo. Conforme legislação vigente, os agravos relacionados ao trabalho são considerados casos de notificação compulsória no Brasil1. A Secretaria Estadual do Rio Grande do Sul (SES/RS) implantou em 2000 o Sistema de Notificação em Saúde do Trabalhador (SIST), o qual é alimentado basicamente com o Relatório Individual de Notificação de Agravos (RINA) e complementado com a Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT), do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). As notificações, entretanto, nem sempre ocorrem, devido a diversos fatores, dentre eles, a não investigação do nexo causal entre o trabalho e o acometimento à saúde do trabalhador. O preenchimento do RINA e da CAT, bem como a notificação dos casos de agravos relacionados ao trabalho contribui com os sistemas de informações vigentes, estabelecendo um fidedigno perfil dos agravos. Isso contribui diretamente com as políticas públicas voltadas à saúde do trabalhador, uma vez que são baseadas nos sistemas de dados1,2. O objetivo desse estudo foi identificar os possíveis casos de internação hospitalar devido a acidentes e agravos relacionados ao trabalho, traçando o perfil dos pacientes internados em decorrência desses agravos relacionados ao trabalho em um Hospital do Interior do Sul do Brasil, entre 2008 e 2010.

MÉTODOS Trata-se de um estudo descritivo, retrospectivo, do tipo documental, cujos dados foram coletados em 40 (1,2%) prontuários de pacientes internados em uma unidade clínica adulta de uma instituição hospitalar de ensino do sul do Brasil no período de 2008 a 2010. A amostra, composta aleatoriamente, foi calculada pelo Sistema Epi Info. Os dados foram analisados quantitativamente em frequências absolutas e relativas. O hospital em questão é uma entidade filantrópica, sem fins lucrativos, reconhecida como de Utilidade Pública Federal, Estadual e Municipal. Possui 191 leitos disponíveis à comunidade, sendo distribuídos em diferentes alas. A ala destinada ao atendimento de pacientes adultos do Sistema Único de Saúde (SUS) possui 44 leitos. Para a associação do possível nexo causal entre o trabalho e a internação, elaborou-se um formulário de coleta em que foram avaliadas as seguintes informações: horário da internação, sexo, idade e profissão do paciente e desfecho dos casos. Após a coleta de dados nos prontuários, realizou-se busca dos casos considerados relacionados ao trabalho no SIST. O projeto foi desenvolvido de acordo com a Resolução 196/96 que regulamenta a pesquisa com seres humanos e passou pela apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP-UNISC) sendo aprovado sob o número de protocolo 2764/10.

RESULTADOS Dos 40 prontuários analisados, em 2,5% havia registro formal de caso de acidente de trabalho. Em outros 18 (45%) prontuários, verificou-se que algumas informações descritas suRev Epidemiol Control Infect. 2012;2(3):82-84

geriam o nexo entre o trabalho e a internação. Nos demais casos não houve relação do motivo da internação com a ocupação do paciente. Do total de internações relacionadas ao trabalho (15), 80% ocorreram com homens. A média de idade desses pacientes foi de 36 anos (±10,5), variando de 23 a 54 anos. Em 11 (58%) prontuários do total das internações relacionadas ao trabalho, o campo da profissão estava preenchido como ‘outros’. Nos demais (42%) prontuários a profissão constava como agricultores, vigilantes, ‘do lar’, mecânico e motorista. Com relação ao desfecho do caso, entre os 19 pacientes internados, 17 (89,5%) tiveram alta melhorada, 1 (5,25%) evoluiu para óbito e em um prontuário o campo desfecho não estava preenchido. Em nenhum dos prontuários havia informação sobre preenchimento dos formulários de notificação Relatório Individual de Notificação de Agravos (RINA) ou Comunicação de Acidente de trabalho (CAT). Ao realizar a comparação entre os 19 casos considerados relacionados ao trabalho com o SIST constatou-se que um dos casos estava registrado nesse sistema de informação, sendo que este não era o mesmo caso que havia sido relacionado ao trabalho encontrado no prontuário.

DISCUSSÃO Verificou-se, entre os prontuários pesquisados, a ocorrência de maior número de acometimentos relacionados ao trabalho na população de homens, adultos jovens, sendo a média de idade 36 anos, caracterizados como indivíduos economicamente ativos. Com relação à ocupação laboral, verificou-se uma quantidade variada de dados, sendo a grande maioria não identificada, devido a inexistência dessa informação no formulário. Isso mostra a importância dos registros completos. Embora não tenha sido relatada nos prontuários a associação da internação hospitalar com a atividade ocupacional, verificou-se nesse estudo a possibilidade de tal nexo em 47,5% dos casos avaliados. Esse dado vem ao encontro do que refere o Ministério da Previdência Social no Anuário Estatístico de Acidentes de Trabalho de 2010 no Brasil, quanto a acidentalidade para a faixa 16 a 34 anos (por 100 acidentes) na taxa de 53,27%3-5. O estudo mostrou a realidade de não estabelecimento do nexo causal entre a ocupação laboral e o acometimento à saúde dos pacientes, resultando em não investigação da doença ou acidente relacionado ao trabalho, o que contribui para o panorama de subnotificação dos agravos relacionados ao trabalho6-8. São de diversas etiologias os possíveis acidentes e agravos aos quais o trabalhador encontra-se exposto em seu ambiente de trabalho e sua exposição aos agentes etiológicos, embora possa ser minimizada com o estabelecimento de normas de segurança, não consegue ser extinguida. Logo, os riscos inerentes ao trabalho, sendo variados conforme diferentes atividades laborais, devem ser conhecidos pelos trabalhadores, pela equipe de saúde e pelos órgãos gestores, no intuito de estabelecer metas de prevenção dos acidentes e agravos relacionados ao trabalho, de minimizar os riscos ocupacionais e também de proporcionar suporte de saúde aos pacientes que sofreram a injúria junto à rede de saúde, visto que a saúde do trabalhador demanda atendimentos em diferentes centros de saúde. Tais ações proporcionariam a diminuição das internações hospitalares, bem como a necessidade de atendimento em Páginas 02 de 03 não para fins de citação


AGRAVOS RELACIONADOS AO TRABALHO COMO CAUSA DE INTERNAÇÕES HOSPITALARES Rafaela Scheid, Marthina Alice Gressler, Débora Martins, Luciana Simon Fanfa, Suzane Beatriz Frantz Krug.

níveis de maiores complexidades e, acima de tudo, proporcionando melhor atendimento nos diferentes âmbitos da rede de saúde9,10. O campo de atuação da saúde do trabalhador possui pouco tempo de evolução em comparação com outras grandes áreas de atuação da saúde pública e vem crescendo com investimentos e pesquisas, as quais promovem mais ações relacionadas à área, contribuindo para a ampliação da atuação do campo. Os dados do estudo sugerem que a maior ocorrência de acometimentos relacionados ao trabalho situa-se na população

masculina de adultos jovens. Isso leva a insuficientes ações de vigilância na área, bem como baixos investimentos públicos e privados em saúde e segurança no trabalho, e consequentemente, em ações de prevenção desses agravos. O estudo mostra a necessidade de intervenção nessa realidade, tornando-se necessário o estabelecimento de planos de ação que oportunizem modificações necessárias para a minimização de agravos à saúde no trabalho e o aprimoramento das práticas de notificação dos mesmos nos sistemas de informações.

REFERÊNCIAS 1.

2.

3.

4.

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Brasil. Ministério da Saúde. Notificação de acidentes do trabalho fatais, graves e com crianças e adolescentes. Brasília: Ministério da Saúde, 2006. Brasil. Ministério da Saúde. Saúde do Trabalhador: programa de qualidade de vida e promoção à saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2008. Occupational Environmental Medicine, 2007; 64(7): 454-60. Brasil. Ministério da Previdência Social. Anuário Estatístico de Acidentes do Trabalho. 2010. [Internet]. [acesso em 2012 mai 07]. Disponível em: http://www.previdencia.gov.br/ conteudoDinamico.php?id=1209. Lourenço EAS, Bertani IF. Saúde do trabalhador no SUS: desafios e perspectivas frente à precarização do trabalho. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, 2007; 32(115): 121-134. Santana VS, Araújo GR, et al. A utilização de serviços de saúde

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por acidentados de trabalho. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, 2007; 32(115): 135-143. 6. Correa PRL, Assunção AA. A subnotificação de mortes por acidentes de trabalho: estudo de três bancos de dados. Epidemiol. Serv. Saúde [online]. 2003; 12(4): 203-212. 7. Napoleão AA, Robazzi MLCC, Marziale MHP, et al. Causas de subnotificação de acidentes do trabalho entre trabalhadores de enfermagem. Rev. Latino-Am. Enfermagem. 2000; 8(3): 119-120. 8. Cordeiro R, et al. Subnotificação de acidentes do trabalho não fatais em Botucatu, SP, 2002. Rev. Saúde Pública. 2005; 39(2): 254-260. 9. Brasil. Ministério da Saúde. Saúde do trabalhador. Brasília: Ministério da Saúde, 2001. 10. Friedman LS. Forst L. The impact of OSHA recordkeeping regulation changes on occupational injury and illness trends in the US: a time series analysis.

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PUBLICAÇÃO OFICIAL DO NÚCLEO HOSPITALAR DE EPIDEMIOLOGIA DO HOSPITAL SANTA CRUZ

ARTIGO ORIGINAL

Notificações de acidentes de trabalho com material biológico: um estudo no município de Santa Cruz do Sul/RS Communication of work accidents involving biological material: a study in the city of Santa Cruz do Sul/RS

Dayane Tais Diehl¹, Karini da Rosa¹, Susimar Souza da Rosa¹, Suzane Beatriz Frantz Krug²* Bolsistas PET/Vigilância em Saúde; 2Programa de Pós Graduação em Promoção da Saúde da Universidade de Santa Cruz do Sul, Unisc, Tutora do PET Saúde/Vigilância em Saúde, Unisc.

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Recebido em: 30/04/2012 Aceito em: 19/08/2012 *

skrug@unisc.br

RESUMO Justificativa e Objetivos: Trabalhadores da área da saúde estão constantemente expostos ao risco de acidentes ocupacionais envolvendo material biológico. Dessa forma o objetivo do estudo foi elaborar um perfil dos trabalhadores acometidos por acidentes de trabalho com material biológico no município de Santa Cruz do Sul, através do número de notificações realizadas nos sistemas de informação. Metodologia: Estudo transversal, retrospectivo e de abordagem quantitativa, com coleta de dados dos anos de 2008 a 2010, em prontuários da Unidade Municipal de Referência em Saúde do Trabalhador – UMREST, contendo a notificação através do Relatório Individual de Notificação de Agravo – RINA, e/ou Comunicação de Acidente de Trabalho – CAT. Resultados: Foram analisados 1.263 prontuários no período do estudo. Em 2008, houveram 13 notificações, em 2009, 7 casos e em 2010, 2 notificações. Cinco prontuários possuíam CAT, 8 possuíam RINA e 9 possuíam CAT e RINA. Observou-se que a categoria profissional mais acometida foi a de técnico de enfermagem, com maior frequência em 2008, seguido pelos cirurgiões dentistas e enfermeiros. Houve uma maior prevalência em trabalhadores do sexo

DESCRITORES Acidentes de trabalho Pessoal de saúde Exposição ocupacional

feminino, com 18 casos. A faixa etária mais prevalente foi de 20 a 49 anos de idade. Conclusão: O estudo mostrou que as mulheres, profissionais de enfermagem, em faixa etária produtiva são as que mais encontram-se na situação de acidentados do trabalho por material biológico no período investigado. Através dos resultados encontrados, levanta-se a suspeita de subnotificação de casos de acidentes com material biológico, considerando-se o número de notificações encontradas no universo de prontuários investigados na UMREST.

ABSTRACT Rationale and Objectives: Healthcare workers are constantly exposed to the risk of occupational accidents involving biological material. Thus the aim of the study was to develop a profile of workers involved in workplace accidents with biological materials in Santa Cruz do Sul, through the number of notifications made in information systems. Methods: Transversal retrospective study with a quantitative approach; data collection was carried out between the years 2008 and 2010 from medical records in the Municipal Reference Occupational Health Unit – UMREST – containing the notification via Individual Report of Accident Notification - RINA, and/or Work Accident Communication - CAT. Results: A total of 1,263 records were analyzed during the study period. There were 13 notifications in 2008, 7 cases in 2009 and 2 in 2010. Five records had CAT, 8 had RINA and 9 had RINA and CAT. The most frequently affected professional category was the nursing technician, with the highest frequency in

KEYWORDS Work-related accidents Health care professional Occupational accidents

2008, followed by dentists and nurses. There was a higher prevalence of female workers, with 18 cases. The most prevalent age group was 20 to 49 years old. Conclusion: The study showed that women working in the nursing profession at the productive-age group are the ones most often affected by work accidents involving biological material during the study period. The study results raise the suspicion of underreporting of accidents with biological material, considering the number of notifications in the setting of records found in the investigated UMREST.

Rev Epidemiol Control Infect. 2012;2(3):85-88

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NOTIFICAÇÕES DE ACIDENTES DE TRABALHO COM MATERIAL BIOLÓGICO: UM ESTUDO NO MUNICÍPIO DE SANTA CRUZ DO SUL/RS Dayane Tais Diehl, Karini da Rosa, Susimar Souza da Rosa, Suzane Beatriz Frantz Krug.

INTRODUÇÃO A exposição dos trabalhadores de saúde ao risco ocupacional biológico é uma realidade muito discutida nos últimos decênios e tem sido considerado fator preocupante, não só pelos prejuízos que acarretam às instituições, mas também aos próprios trabalhadores. Se por um lado essa exposição é vivenciada no dia-a-dia de trabalho, por outro ela não tem visibilidade, porque existe grande subnotificação desses acidentes entre os trabalhadores de saúde. Em algumas unidades de trabalho nas instituições de saúde os trabalhadores vivenciam situações estressantes que podem levar ao acidente e ao sofrimento psíquico, desencadeado pelas situações de dor e morte dos pacientes1,2. Os profissionais que lidam, direta ou indiretamente, com a saúde dos pacientes preocupam-se muito com a assistência oferecida aos usuários, priorizando o seu conforto e bem-estar, e pouco com os riscos inerentes à execução de suas atividades, que podem ser ampliados segundo a diversificação dos processos e organização do trabalho e pela especialidade da assistência. Esses trabalhadores podem sofrer alterações de saúde oriundas da presença da diversidade de agentes e do tempo e da intensidade do contato com os mesmos3. O ritmo, a intensidade do trabalho, as situações de emergência, o convívio com doenças e morte são fatores desencadeantes de estresses psicossociais e são geradores de desgastes, como mal-estar, ansiedade, nervosismo, depressão e outras doenças dos trabalhadores 1,2. A exposição ocupacional é caracterizada pelo contato direto com fluidos potencialmente contaminados e pode ocorrer por inoculação percutânea, também chamada de parenteral e pelo contato direto com pele e/ou mucosa, com comprometimento de sua integridade após arranhões, cortes ou dermatites2. A realização de atividades que exigem destreza e precisão pelos profissionais de saúde os deixa mais vulneráveis a lesionar membros superiores, especialmente dedos e mãos 4,5. Doenças como hepatite B, hepatite C e imunodeficiência adquirida (HIV) têm sido relacionadas à exposição acidental dos trabalhadores da saúde a material biológico, sejam decorrentes de lesões percutâneas e/ou de contato com sangue contaminado em membrana mucosa ou pele não íntegra. Após um acidente, envolvendo sangue e/ou fluidos corporais potencialmente contaminados, o profissional deve receber atendimento profilático de emergência, uma vez que, para atingir maior eficácia, as intervenções necessitam ser precocemente realizadas6,7. Os sentimentos expressos pelos trabalhadores no momento da exposição biológica relatam a complexidade e a amplitude que esta exposição pode gerar. Os sentimentos relatados não se restringem apenas ao trabalhador; envolvem também familiares, superiores e outras pessoas, que fazem parte do convívio social desse trabalhador. Assim, os sentimentos vivenciados no momento da exposição vão além da interrupção da integridade física, causada pelo instrumento cortante ou pelo respingo em mucosas, expressando a preocupação com as consequências do acidente para as outras pessoas1. No Brasil, acidentes de trabalho devem ser comunicados imediatamente após sua ocorrência, por meio da emissão da Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT), que deve ser encaminhada ao acidentado, ao hospital, ao sindicato da categoria correspondente, ao Sistema Único de Saúde (SUS), à Previdência Social e ao Ministério do Trabalho2. Além disso, as informações referentes Rev Epidemiol Control Infect. 2012;2(3):85-88

à notificação dos casos são extraídas do Sistema de Informações de Agravos de Notificação (SINAN) – Portaria n° 2.472, de 31 de Agosto de 2010 e do SIST/RS (Sistema de Informação em Saúde do Trabalhador) através do Relatório Individual de Notificação de Agravo (RINA). Estes instrumentos são importantes para que se possa identificar o motivo pelo qual os trabalhadores adoecem ou morrem, os ramos de atividade econômica e de trabalho, além de fazer intervenções sobre as causas e determinantes e elaborar estratégias de atuação na área de promoção e prevenção, controlando e enfrentando, de forma integrada e eficiente, os problemas de saúde coletiva relacionados com o trabalho. O preenchimento destes documentos é considerado dever de todos os profissionais de saúde. A Norma Regulamentadora (NR) 32 objetiva estabelecer diretrizes básicas para a implementação de medidas de proteção à segurança e à saúde dos trabalhadores dos serviços de saúde, bem como daqueles que exercem atividades de promoção e assistência à saúde em geral. Dentre as normas estabelecidas são preconizados o uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPI), a higienização das mãos, a vacinação contra hepatite B, tétano e difteria, entre outras disposições. Em complementação, a Portaria nº 939, de 19 de novembro de 2008, determinou o prazo de dois anos, a partir da data de sua publicação, para as empresas substituírem os materiais perfuro-cortantes por outros com dispositivo de segurança7. O estudo foi desenvolvido pela equipe do Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde - PET Saúde/Vigilância em Saúde (PET Saúde/VS), sub-projeto “Vigilância em saúde: um estudo com trabalhadores cadastrados e não cadastrados na Unidade Municipal de Referencia em Saúde do Trabalhador de Santa Cruz do Sul”, uma parceria da Universidade de Santa Cruz do Sul – Unisc e a Secretaria de Saúde do município com apoio do Ministério da Saúde. O projeto foi desenvolvido com a intenção de formar profissionais de saúde conhecedores do perfil epidemiológico da saúde do trabalhador no município, preparados para responder às necessidades da população trabalhadora e dos serviços de saúde, intensificando a atividade multidisciplinar e aprimorando as ações de assistência nessa área. O objetivo do estudo constitui-se em elaborar um perfil dos trabalhadores acometidos por acidentes de trabalho com material biológico nos anos de 2008 a 2012 no município de Santa Cruz do Sul, verificando o número de notificações realizadas nos sistemas de informação.

METODOLOGIA Trata-se de um estudo transversal, retrospectivo, de abordagem quantitativa, realizado por meio do levantamento de dados secundários dos anos de 2008 a 2010, nos prontuários dos trabalhadores cadastrados na Unidade Municipal de Referência em Saúde do Trabalhador do município de Santa Cruz do Sul (UMREST). A UMREST é uma unidade de saúde do Sistema Único de Saúde (SUS) especializada em atender os acometidos por acidentes e doenças causadas ou relacionadas ao trabalho, priorizando a assistência de atenção integral à saúde. O município de Santa Cruz do Sul está localizado no Vale do Rio Pardo, distante 155 km da capital Porto Alegre, com uma população estimada em cerca de 120.000 habitantes, segundo dados do censo do IBGE de 2010. Possui três hospitais gerais, conta com vinte e uma unidades básicas de saúde e duas unidades móveis equipadas para atendimento médico e odontológiPáginas 02 de 04 não para fins de citação


NOTIFICAÇÕES DE ACIDENTES DE TRABALHO COM MATERIAL BIOLÓGICO: UM ESTUDO NO MUNICÍPIO DE SANTA CRUZ DO SUL/RS Dayane Tais Diehl, Karini da Rosa, Susimar Souza da Rosa, Suzane Beatriz Frantz Krug.

co. Quinze unidades localizam-se na zona urbana, dessas, nove são implementadas pela Estratégia de Saúde da Família (ESF). Na área rural, localizam-se cinco unidades básicas de saúde e uma ESF. O município conta também com centros especializados de atendimento à saúde. A coleta de dados foi realizada utilizando os dois formulários de notificações de agravos relacionados ao trabalho, CAT e RINA. As seguintes variáveis foram estudadas: sexo, idade, estado civil, bairro de residência, escolaridade, ocupação, situação no mercado de trabalho, tempo de trabalho, natureza do acidente, local onde ocorreu o acidente, referência e contra-referência, ramo de atividade, localização da empresa, formulário de notificação emitido e conclusão do caso. O banco de dados foi montado em uma planilha Excel e posteriormente as estatísticas descritivas foram realizadas no programa SPSS versão 19.0. O estudo está de acordo com a Resolução 196/96 e passou pela apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP-Unisc) sendo aprovado sob o número de protocolo 2764/10, que regulamenta a pesquisa com seres humanos.

Com relação ao sexo dos trabalhadores acidentados, houve uma maior frequência de casos no sexo feminino (81,82%). Com relação à faixa etária 40,91% dos acometidos tinham entre 30 e 39 anos (Tabela 2). O ramo de atividade dos trabalhadores com maior número de casos foi na Administração do Estado e da Política Econômica e Social, com 19 casos no total (86,36%) e maior incidência do agravo no ano de 2008, encontrando-se no estudo as profissões de técnico em enfermagem, enfermeiro e dentista como as ocupações mais acometidas.

TABELA 1 - Número de prontuários investigados e relação com instrumentos de notificação em Santa Cruz do Sul, 2008 a 2010. Emissão CAT e RINA

2008

2009

2010

TOTAL

CAT

2

3

0

5

RINA

6

1

1

8

CAT e RINA

5

3

1

9

TOTAL

13

7

2

22

RESULTADOS Realizou-se levantamento de dados em 1.263 prontuários de pacientes da UMREST. Um total de 22 (1,74%) casos foram notificados como acidentes com material biológico, sendo 13(59,09%) casos no ano de 2008, 7 (31,82%) casos no ano de 2009 e 2 (9,09%) casos no ano de 2010 (Tabela 1). Na Tabela 2, observa-se que a categoria profissional mais acometida por acidentes com material biológico foram os técnicos de enfermagem (59,09%), com maior frequência no ano de 2008, seguido pelos cirurgiões dentistas (18,18%) e enfermeiros (13,64%), com maior frequência também no ano de 2008. Acidente biológico com o profissional auxiliar de consultório dentário foi notificado apenas no ano de 2009 e com o profissional médico clínico no ano de 2010.

DISCUSSÃO A prevalência de acidente com material biológico observada neste estudo foi de 1,74%. A análise destes resultados faz levantar a suspeita de subnotificação de casos de acidentes com material biológico, considerando-se o número de notificações encontradas no universo de prontuários investigados na UMREST. Em estudo realizado em quatro hospitais da região de Ribeirão Preto/ SP, constatou-se que na população composta por 1.662 trabalhadores de enfermagem foram registrados 46 acidentes de trabalho com perfuro-cortante, o que corresponde a ocorrência anual de apenas 2,7% 8.

TABELA 2 - Características gerais dos acidentados com material perfuro-cortante, 2008-2010. 2008 N=13(%)

2009 N= 7(%)

2010 N= 2(%)

TATAL N= 22(%)

Feminino

13 (100)

Masculino

0 (0)

5 (71,43)

0 (0)

18 (81,82)

2 (28,57)

2 (100)

4 (18,18)

20-29

3 (23,08)

30-39

6 (46,15)

5 (71,43)

0 (0)

8 (36,36)

2 (28,57)

1 (50)

9 (40,91)

0 (0)

0 (0)

1 (50)

5 (22,73)

12 (92,31)

5 (71,43)

2 (100)

19 (86,36)

1 (7,69)

0 (0)

0 (0)

0 (0)

2 (28,57)

0 (0)

1 (4,55)

Técnico de Enfermagem

7 (53,85)

5 (71,43)

1 (50,0)

13 (59,09)

Cirurgião Dentista

3 (23,08)

1 (14,29)

0 (0)

4 (18,18)

Enfermeiros

Emissão CAT e RINA Sexo

Faixa etária

Acima de 40 Ramo de atividade Administração do Estado e da Política Econômica e Social Hospital Associação da Educação familiar e social do RS

2 (9,09)

Profissão

3 (23,08)

0 (0)

0 (0)

3 (13,64)

Auxiliar de Consultório Dentário

0 (0)

1 (14,29)

0 (0)

1 (4,55)

Médico Clínico

0 (0)

0 (0)

1 (50,0)

1 (4,55)

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NOTIFICAÇÕES DE ACIDENTES DE TRABALHO COM MATERIAL BIOLÓGICO: UM ESTUDO NO MUNICÍPIO DE SANTA CRUZ DO SUL/RS Dayane Tais Diehl, Karini da Rosa, Susimar Souza da Rosa, Suzane Beatriz Frantz Krug.

A subnotificação é um importante agravante do conhecimento da real prevalência dos acidentes de trabalho, fator que pode refletir a atitude de desconhecimento ou de menor atenção dos profissionais de saúde quanto à gravidade dos acidentes, principalmente envolvendo material biológico, em virtude dos riscos em transmitir o vírus da imunodeficiência humana e das hepatites6. Constitui-se uma grande barreira para se entender os riscos e os fatores associados com a exposição ocupacional, pois é através do número de notificações que será possível se diagnosticar a gravidade do problema e planejar medidas específicas de prevenção em cada ambiente de trabalho8. As profissões mais acometidas por acidentes com material biológico foram enfermeiros e técnicos de enfermagem. Acidentes ocupacionais relacionados a material biológico são frequentes envolvendo materiais perfuro-cortantes entre os trabalhadores de enfermagem, devido ao grande número de manipulação com agulhas, esses riscos representam prejuízos tanto aos trabalhadores, quanto para a instituição9. Além dos profissionais de enfermagem, profissionais da área odontológica foram os que mais apresentaram casos de acidentes de trabalho por exposição a material biológico. Agravos desse tipo com essa categoria profissional devem-se ao fato de estes profissionais estarem expostos ao realizarem procedimentos mais invasivos e possuírem contato com sangue e fluidos corporais2,6. No presente estudo, obervou-se que 81,8% dos acidentes ocorreu com profissionais do sexo feminino. Silva e colaboradores (2010) relataram que existe uma alta prevalência do sexo feminino entre os trabalhadores acidentados e isto se relaciona ao fato da equipe de enfermagem ser composta majoritariamente por profissionais deste sexo10. Os trabalhadores acidentados estão situados na faixa etária de 20 a 49 anos de idade, sendo que os mais acometidos tem idade entre 30 a 39 anos. Esses dados apontam para trabalhadores da faixa etária produtiva, em franca participação no mercado de trabalho. A relação entre o acidente de trabalho e a faixa etária é relevante, pois o aumento da idade pode desencadear alterações cognitivas como mudança no estado de alerta ou atenção, que adicionados aos aspectos psicossociais como o estresse e a fadiga mental, podem levar ao com-

prometimento da condição de saúde e trabalho dos profissionais11. Acredita-se que o maior número de notificações advindos do ramo da Administração do Estado e da Política Econômica e Social, deve-se ao fato de que essas ocupações contam com o Serviço Especializado em Engenharia e Segurança e em Medicina do Trabalho (SESMT), que atua de forma eficaz e investigativa nas situações notificadas pelos serviços ligados a saúde e a administração do município. Isso contribui para a notificação dos casos nos sistemas de informação, trazendo maior visibilidade a esse panorama. Os acidentes de trabalho com exposição a material biológico são de grande risco para os profissionais da saúde, uma vez que estão expostos a vários patógenos. Sendo assim, torna-se necessário a conscientização das instituições dos profissionais quanto ao uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs). Além disso, é de suma importância que as instituições cumpram as exigências da Norma Regulamentadora (NR) 32. Os resultados deste estudo vêm alertar para a necessidade de conscientização dos trabalhadores, administradores e instituições para com os riscos da exposição ocupacional a sangue e fluidos corpóreos veiculadores de patógenos que causam infecção. Além disso, traz a tona a necessidade de incentivar sua notificação no intuito de conhecer a real prevalência deste tipo de acidente e consequentemente poder desenvolver estratégias para a redução da ocorrência desse tipo de agravo. Neste contexto, mostra-se relevante a continuidade de estudos no sentido de investigar as condutas adotadas pelas instituições na assistência aos trabalhadores acometidos por esse tipo de agravo. Políticas públicas em saúde do trabalhador podem contribuir para evitar situações de risco direcionando e adaptando medidas preventivas à realidade desses profissionais.

AGRADECIMENTOS Agradecemos a colaboração da farmacêutica e preceptora Rosângela Rodrigues Marques e da enfermeira e preceptora Luciana Fanfa pelo apoio e incentivo para realização deste trabalho.

REFERÊNCIAS 1.

2.

3.

4.

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6.

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PUBLICAÇÃO OFICIAL DO NÚCLEO HOSPITALAR DE EPIDEMIOLOGIA DO HOSPITAL SANTA CRUZ

ARTIGO ORIGINAL

Tuberculose: um estudo sobre referência em serviços de saúde Tuberculosis: a study on health care reference

Lia Possuelo1,4*, Anne Winck da Rosa2, Heloisa Poli2, Fabiane Battisiti3, Maria Salette Sartori4, Ana Júlia Reis2, Mariélli Moraes2, Andreia Rosane de Moura Valim1 Programa de Pós-Graduação em Promoção da Saúde, Universidade de Santa Cruz do Sul, Unisc; 2Bolsista PET-Saúde Vigilância, Unisc; 3Preceptora PET-Saúde Vigilância, Secretaria Municipal de Saúde de Santa Cruz do Sul; 4Tutora acadêmica PET-Saúde, Unisc. 1

Recebido em: 05/05/2012 Aceito em: 20/08/2012

RESUMO

liapossuelo@unisc.br

Justificativa e Objetivos: O principal elemento para a integração das redes de saúde é um efetivo sistema de referência

*

e contrarreferência, entendido como mecanismo de encaminhamento mútuo de pacientes entre os diferentes níveis de complexidade dos serviços. Dessa forma, o objetivo deste estudo foi conhecer e analisar o sistema de referência para o encaminhamento de pacientes com diagnóstico de tuberculose no município de Santa Cruz do Sul. Métodos: O estudo foi realizado pelo PET- Saúde Vigilância/Tuberculose, na Unidade Referencia para Tuberculose do município (UR-TB). Foi realizado um estudo descritivo do tipo levantamento, através de uma revisão nos prontuários dos pacientes que realizaram tratamento para tuberculose entre os anos de 2007 a 2011. Os dados foram tabulados em Excel e analisados em SPSS 18.0. Resultados: Foram avaliados 239 prontuários, destes 157 (65,7%) não apresentavam documento de referência nem qualquer tipo de encaminhamento, 53 (22,2%) apresentavam receituário médico como forma de encaminhamento e 29 (12,1%) continham o documento oficial de referência e contrarreferência. Entre os 49 (20,5%) documentos que apresentavam informações referentes à unidade de saúde que fez o encaminhamento, 19 (38,8%) pacientes foram encaminhados por unidades de

DESCRITORES

menor complexidade e 30 (61,2%) encaminhados por unidades de maior complexidade. O intervalo de tempo entre a data do encaminhamento para a referência e o início do tratamento foi de 23 dias variando de 0 a 296 dias, a mediana foi de 4,5 dias

e a moda foi 1. Nenhum registro referente à contrarreferência foi encontrado. Conclusão: Através destes dados podemos Tuberculose Atenção Primária à Saúde refletir sobre a importância dos sistemas de referência e contrarreferência para as redes de saúde, assim como as falhas que Acesso aos serviços de saúde o não preenchimento dessas guias, pelos profissionais, pode acarretar no sistema de saúde prejudicando seus usuários.

ABSTRACT Rationale and Objectives: The key element for the integration of health networks is an effective system of reference and counter-reference, understood as a mechanism for mutual referral of patients between different levels of service complexity. Thus, the aim of this study was to identify and analyze the reference system for the referral of patients diagnosed with tuberculosis in the city of Santa Cruz do Sul, Brazil. Methods: The study was conducted by PET-Health Surveillance/Tuberculosis at the Reference Unit for Tuberculosis in the municipality (RU-TB). We conducted a descriptive survey study by reviewing the records of patients who underwent treatment for tuberculosis between the years 2007 and 2011. Data were tabulated in Excel and analyzed using SPSS 18.0. Results: A total of 239 medical records were evaluated and of these, 157 (65.7%) had no reference document or any type of referral; 53 (22.2%) had a medical prescription as a way of referral and 29 (12.1%) had the official reference and counter-reference document. Of the 49 documents (20.5%) with information on the health unit that

KEYWORDS Tuberculosis Primary Health Care Access to health services

made the referral, 19 (38.8%) patients were referred to less complex units and 30 (61.2%) referred to greater complexity units. The time interval between the referral date and the reference and the start of treatment was 23 days, ranging from 0 to 296 days; the median was 4.5 days and mode was 1. There were no records related to counter-reference. Conclusion: These data show the importance of systems of reference and counter-reference for health networks, and that errors, such as failing in filling out these forms by health care professionals, can have an effect on health system users.

Rev Epidemiol Control Infect. 2012;2(3):89-93

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TUBERCULOSE: UM ESTUDO SOBRE REFERÊNCIA EM SERVIÇOS DE SAÚDE Lia Possuelo, Anne Winck da Rosa, Heloisa Poli, Fabiane Battisiti, Maria Salette Sartori, Ana Júlia Reis, Mariélli Moraes, Andreia Rosane de Moura Valim.

INTRODUÇÃO A tuberculose (TB) é uma das mais antigas doenças que afligem a humanidade. É uma doença potencialmente curável e prevenível, mas ainda se constitui um problema de saúde pública, especialmente nos países em desenvolvimento1. Segundo dados divulgados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2010 foram notificados 6,2 milhões de casos de TB no mundo, enquanto no Brasil, foram notificados cerca de 69 mil novos casos, com um coeficiente de incidência de 36/100.000 habitantes. O Brasil encontra-se entre os 22 países que concentram 82% dos casos de TB no mundo2. Entre os estados brasileiros, o Rio de Janeiro apresenta o maior coeficiente de incidência e São Paulo o maior número absoluto de casos, segundo o Sistema de Informação de Agravos de Notificação - SINAN3. No Rio Grande do Sul (RS), 5784 casos foram notificados em 2011, sendo Porto Alegre a cidade com o maior número de casos. Santa Cruz do Sul, localizada na região central do RS é um dos municípios prioritários para o controle da TB no RS, apresentou 67 notificações no ano de 2010, o que corresponde a uma incidência de 56,8/100.000 habitantes3. O sistema de referência e contrarreferência para os pacientes, não só com TB, é um dos pontos importantes para viabilizar a implantação do Sistema Único de Saúde (SUS), uma vez que é a partir da sua estruturação que o encaminhamento de pacientes aos diversos níveis de atenção torna-se possível4. No Brasil, a Política de Atenção Básica (PNAB) estabelece que os serviços de Atenção Primária (AP) ou de Atenção Básica (AB), representados pelas Unidades Básicas de Saúde (UBS) e Estratégias de Saúde da Família (ESF) devem assumir a utilização de sistemas de referência e contrarreferência5. Os conceitos de referência e contrarreferência em saúde, apesar de se constituírem como uma das bases da mudança almejada para o setor e de serem o principal elemento para a integração das redes de saúde, ainda se encontram em um estágio de pouco desenvolvimento, tanto em relação à seus possíveis sentidos teóricos, quanto na efetivação e divulgação de experiências exitosas ou não6. A referência compreende o trânsito do nível menor para o de maior complexidade, ou seja, para hospitais e clínicas especializadas; a contrarreferência, inversamente, compreende o trânsito do nível maior para o de menor complexidade, devendo ser este a unidade de saúde mais próxima do domicílio do paciente1,6. Para a sua efetivação é necessário que exista e funcione um sistema hierarquizado de serviços formando uma rede integrada com fluxo normatizado dos pacientes nos dois sentidos. O bom funcionamento deste sistema pressupõe não só o fluxo do paciente como pessoa física, mas também a troca de informações a respeito do seu estado clínico entre os profissionais dos diferentes níveis que participam no processo do seu tratamento7. Dessa forma, o objetivo do presente estudo foi conhecer e analisar o sistema de referência para o encaminhamento de pacientes com diagnóstico de tuberculose no município de Santa Cruz do Sul.

METODOLOGIA Foi realizado um estudo descritivo, do tipo levantamento na Unidade Referência para TB (UR-TB) do município de Santa Cruz do Sul. A equipe de trabalho da UR-TB é composta por um médiRev Epidemiol Control Infect. 2012;2(3):89-93

co, um técnico de enfermagem e uma enfermeira. O profissional médico atende pacientes com consultas agendadas previamente, 2 turnos por semana e a equipe de enfermagem atende a demanda espontânea. Todos os pacientes encaminhados de unidade de saúde de maior ou menor complexidade são acolhidos. Estes pacientes são encaminhados para a UR-TB com suspeita ou com diagnóstico, que é descentralizado no município. O tratamento é centralizado nesta unidade. Foi realizada uma revisão nos prontuários dos pacientes que fizeram tratamento, independente do tipo de TB, entre os anos de 2007 e 2011 (amostra de conveniência). Para efeitos de análise, foram considerados como encaminhamentos documentos de referência e contrarreferência oficiais ou não oficiais. Foram definidos como referência toda e qualquer forma de encaminhamento (formulário oficial do município ou receituário médico) do paciente para a unidade de saúde de referência para TB (UR-TB). O tempo decorrente entre o encaminhamento e o início do tratamento foi avaliado. As variáveis aferidas no documento de encaminhamento foram as seguintes: nome do paciente, data de nascimento, endereço e telefone, unidade de saúde referenciada e/ou unidade de saúde referida, assim como seus telefones e endereço. Além disso, foi avaliado se havia a descrição do agendamento da consulta (data e horário), profissional solicitante e data de encaminhamento. No prontuário médico foi avaliada a data de início do tratamento. Um formulário para preenchimento dos dados contidos nos documentos de encaminhamento foi construído para coleta de dados. Os dados colhidos foram tabulados em planilha excel e posteriormente analisados em SPSS 18.0. Análises univariadas foram realizadas. O protocolo de estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UNISC sob número 2764/10.

RESULTADOS No período de estudo, 239 prontuários foram avaliados. Do total de prontuários revisados 157 (65,7%) não apresentavam nenhum tipo de documento de encaminhamento, 53 (22,2%) apresentavam receituário médico como forma de encaminhamento e 29 (12,1%) tinham o formulário oficial de referência e contrarreferência (Figura 1). Entre os 82 prontuários que continham os documentos de encaminhamento, 49 (59,8%) continham a informação referente à unidade de saúde solicitante. Um total de 16 (32,6%) casos foram encaminhados por clínicas privadas, e os demais por outras unidades de saúde de Santa Cruz do Sul, conforme a Tabela 1. Com relação à unidade referenciada, somente 29 (35,4%) documentos tinham a informação referente à unidade à qual o paciente deveria se deslocar. Dezessete (58,6%) pacientes foram corretamente referenciados para a UR-TB e outros 12 (41,4%) foram referenciados para as outras unidades de saúde ou para profissionais especialistas (Tabela 2). Em relação aos profissionais que fizeram o encaminhamento, em 69 (84,1%) casos foi possível identificar a especialidade do profissional médico. Destes, 25 (36,2%) eram clínicos gerais e outros 24 (34,8%) eram pneumologistas (Tabela 3). O tempo entre o encaminhamento e o início do tratamento foi avaliado em 44 (53,7%) pacientes. Incompatibilidades entre as datas encontradas no documento de encaminhamento e a data do início Páginas 02 de 05 não para fins de citação


TUBERCULOSE: UM ESTUDO SOBRE REFERÊNCIA EM SERVIÇOS DE SAÚDE Lia Possuelo, Anne Winck da Rosa, Heloisa Poli, Fabiane Battisiti, Maria Salette Sartori, Ana Júlia Reis, Mariélli Moraes, Andreia Rosane de Moura Valim.

do tratamento ou a ausência da data no encaminhamento foi o fator limitante nesta informação. O tempo médio entre o encaminhamento e o início do tratamento foi de 23 dias, variando de 0 a 296 dias. A mediana foi de 4,5 dias e a moda foi 1 dia. Na pesquisa, não foram encontrados formulários de refe-

rência e contrarreferência com agendamento de horário. Até 2010, os dados pessoais estavam incompletos, a maioria apresentava apenas o nome do paciente, no entanto não continham data de nascimento, endereço e telefone. Já no ano de 2011, dos 62 prontuários verificados, 61 apresentavam todos os dados do paciente, com exceção do telefone.

FIGURA 1 - Tipo de documentos de referência encontrados nos prontuários, por ano analisado (número absoluto) TABELA 1 - Unidades de Saúde Solicitantes, por ano. 2007 N (%)

2008 N (%)

2009 N (%)

2010 N (%)

2011 N (%)

TOTAL N (%)

Privado

4 (25,0)

5 (31,2)

2 (12,5)

4 (25,0)

1 (6,2)

16 (32,6)

Hospitais

2 (18,2)

2 (18,2)

2 (18,2)

5 (45,5)

0 (0,0)

11 (22,4)

ESF’s

2 (10,5)

3 (15,8)

3 (15,8)

5 (26,3)

6 (31,6)

19 (38,8)

UBS’s TOTAL:

0 (0,0)

1 (33,3)

1 (33,3)

1 (33,3)

0 (0,0)

3 (6,2)

8 (16,3)

10 (20,4)

8 (16,3)

15 (30,6)

7 (14,3)

49 (100,0)

* SUS: Sistema Único de Saúde, UR_TB: Unidade de Referência de Tuberculose, ESF: Estratégia Saúde da Família; UBS: Unidade Básica de Saúde

TABELA 2 - Unidade de Saúde Referenciada, por ano. 2007 N (%)

2008 N (%)

2009 N (%)

2010 N (%)

2011 N (%)

TOTAL N (%)

UR-TB

1 (5,8)

2 (11,8)

0 (0,0)

12 (70,6)

2 (11,8)

17 (58,6)

HSC

0 (0,0)

0 (0,0)

0 (0,0)

1 (100,0)

0 (0,0)

1 (3,4)

Pneumologista

0 (0,0)

1 (33,3)

1 (33,3)

1 (33,3)

0 (0,0)

3 (10,4)

Infectologista

0 (0,0)

2 (33,3)

1 (16,7)

0 (0,0)

3 (50,0)

6 (20,7)

CEMAS

0 (0,0)

1 (50,0)

0 (0,0)

0 (0,0)

1 (50,0)

2 (6,9)

TOTAL:

1 (3,4)

6 (20,7)

2 (6,9)

14 (48,3)

6 (20,7)

29 (100,0)

*UR-TB: Unidade de Referência de Tuberculose, HSC: Hospital Santa Cruz, CEMAS: Centro de Atendimento a Sorologia

TABELA 3 - Especialidade de Profi ssional Médico que fez o encaminhamento, por ano. 2007 N (%)

2008 N (%)

Pneumologista

5 (20,8)

5 (20,8)

Infectologista

0 (0,0)

0 (0,0)

Clínico Geral

2 (8,0)

2 (8,0)

Cirurgia Torácica

0 (0,0)

Médico de Família e Comunidade

0 (0,0)

Demais especialidade TOTAL:

2009 N (%)

2010 N (%)

2011 N (%)

TOTAL N (%)

2 (8,3)

7 (29,2)

5 (20,8)

24 (34,8)

1 (25,0)

3 (75,0)

0 (0,0)

4 (5,8)

4 (16,0)

8 (32,0)

9 (36,0)

25 (36,2)

0 (0,0)

1 (25,0)

1 (25,0)

2 (50,0)

4 (5,8)

0 (0,0)

0 (0,0)

0 (0,0)

4 (100,0)

4 (5,8)

0 (0,0)

1 (12,5)

3 (37,5)

0 (0,0)

4 (50,0)

8 (11,6)

7 (10,1)

8 (11,6)

11 (16,0)

19 (27,5)

24 (34,8)

69 (100,0)

*Demais especialidades: Nefrologista, Medicina Interna, Medicina do Trabalho e Cardiologista

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TUBERCULOSE: UM ESTUDO SOBRE REFERÊNCIA EM SERVIÇOS DE SAÚDE Lia Possuelo, Anne Winck da Rosa, Heloisa Poli, Fabiane Battisiti, Maria Salette Sartori, Ana Júlia Reis, Mariélli Moraes, Andreia Rosane de Moura Valim.

DISCUSSÃO O sistema de referência e contrarreferência auxilia no manejo do paciente à procura do tratamento e cura de sua patologia, envolvendo os três níveis de complexidade em saúde. As unidades básicas referenciam seus pacientes à unidades de maior complexidade a fim de obter atendimento especializado, enquanto as unidades fazem a contrarreferência justificando o tratamento ou encaminhando para acompanhamento na unidade básica. No presente estudo 59,8% dos prontuários analisados continham algum tipo de encaminhamento. Estes resultados demonstram que o uso de documento de referência ou encaminhamento não tem sido adequadamente utilizados no município estudado. Os dados do presente estudo estão de acordo com aqueles apresentados pelo Tribunal de Contas do Rio Grande do Sul8. Com base nessas auditorias são formuladas recomendações visando ao aperfeiçoamento da gestão dos programas e ações governamentais. Após a auditoria do Tribunal de Contas, relatou-se que, embora seja utilizado o documento de referência e contrarreferência, não tem ocorrido, pelo menos de forma adequada, a contrarreferência. O documento de referência e contrarreferência, deve ser preenchido pelo médico após a consulta e entregue ao paciente para que o encaminhe ao médico da unidade de saúde na próxima consulta. Foi identificado que o formulário raramente retorna à unidade, sem que tenha ficado evidenciado se a falha é do médico especialista, que não teria preenchido o documento, ou do paciente, que não o encaminhara. Quando o documento retorna, muitas vezes vem em branco, e em outras vezes é ilegível. Também foi observado que nem sempre o médico da unidade insere no documento de encaminhamento todas as informações necessárias8. O fato de 32,7% dos encaminhamentos partirem de unidades privadas (especialistas) de saúde pode justificar a maior utilização de encaminhamentos por receituário médico e a pouca utilização dos formulários de referência e contrarreferência padrão do sistema de saúde. O encaminhamento partindo de hospitais e de profissionais médicos especializados sugere o desvio no trânsito do paciente, que deveria partir de uma unidade de saúde de um nível menor para um de maior complexidade4. Estes dados refletem a necessidade de uma capacitação mais adequada das equipes de saúde da atenção primária, o que permitiria uma maior detecção de casos de TB na comunidade e o correto encaminhamento destes pacientes para a UR –TB onde o tratamento é realizado, evitando assim este desvio no trânsito. A falta de preenchimento do nome do paciente nos anos de 2007 a 2010 e o não agendamento da consulta indicam um funcionamento precário do sistema, mostrando uma falha da unidade de saúde que fez o encaminhamento, que deveria preencher os dados

iniciais do paciente. Entretanto, notou-se melhora no preenchimento dos dados do pacientes no ano de 2011, já que apenas um prontuário não apresentava estas informações. Essa melhora, provavelmente está relacionada com o início das atividades de residência médica em algumas das unidades de saúde do município. Além disso, a falta do preenchimento do local referenciado pode levar a uma dificuldade de entendimento e de acesso do paciente ao tratamento indicado. Não há concordância na literatura sobre o tempo entre o diagnóstico e o início do tratamento do paciente. Estudo realizado na Tanzânia optou pelo critério de seis profissionais médicos do hospital de referência em tratamento de TB, que apoiados em conhecimentos médicos e avaliação das condições socioeconômicas dos pacientes, apresentaram um período máximo aceitável de 30 dias na demora do paciente7. Esse mesmo período foi definido por outros pesquisadores do Hospital Fairfiel – Austrália9. A resposta apresentada pelos profissionais acima mencionados para a demora do serviço foi um período aceitável de até três dias9. Outra definição com período aceitável foi de até 10 dias7. Diferentes estudos, em regiões de distintos estágios de desenvolvimento sócio-econômico, tem estabelecido de 3 a 30 dias como período aceitável de demora do paciente7,9. No presente estudo o tempo médio de demora desde o encaminhamento até o início do tratamento foi de 23 dias, um período demasiadamente longo, que pode estar diretamente relacionado com a ausência de informações suficientes, tanto no formulário de encaminhamento quanto na orientação ao paciente. Em estudo realizado por Maior et al. (2012) foi relatado que o tempo entre o resultado positivo de uma baciloscopia e o início do tratamento não deve ultrapassar 24-48h10. Com base nas observações realizadas, o presente estudo nos leva a refletir sobre a importância dos sistemas de referência e contrarreferência para as redes de saúde, especialmente no que diz respeito a um dos princípios do SUS: a integralidade do cuidado; assim como as falhas que o não preenchimento dessas guias, pelos profissionais, podem acarretar no sistema de saúde prejudicando seus usuários. Deve-se então buscar a implantação de sistemas eletrônicos, com um cadastro único a todos os serviços do SUS. Torna-se necessário redesenhar os movimentos reais dos usuários, e refletir sobre novos fluxos e relações dentro do sistema, para que assim os pacientes possam ser observados, acolhidos e direcionados corretamente. Garantir a integralidade do atendimento é responsabilidade de todos os níveis de atenção e profissionais da área da saúde, e não uma batalha individual de cada paciente, que deveria sempre ser encaminhado para o centro de saúde mais próximo de sua residência, a alguma especialidade ou a qualquer outra possibilidade existente no sistema. Por fim, precisamos de aperfeiçoamento no sistema de informação do setor Público para assegurar uma maior rapidez e eficiência na coleta de dados, na sua consolidação e na divulgação dos mesmos.

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TUBERCULOSE: UM ESTUDO SOBRE REFERÊNCIA EM SERVIÇOS DE SAÚDE Lia Possuelo, Anne Winck da Rosa, Heloisa Poli, Fabiane Battisiti, Maria Salette Sartori, Ana Júlia Reis, Mariélli Moraes, Andreia Rosane de Moura Valim.

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Disponível em: http://200.198.173.164/scripts/tabcgi.exe?snet/ tubercrsnet.%20Acessado%20em%20Maio%20de%202012. Acesso em Abril de 2012. Juliani CM, Ciapone MHT. Organização do sistema de referência e contra-referência no contexto do Sistema Único de Saúde: a percepção de enfermeiros. Brasil Rev Esc Enferm - USP. 1999;33(1):323-33. Oliveira MF, Arcênio RA, Netto AR, et al. A porta de entrada para o diagnostico da tuberculose no Sistema de Saúde de Ribeirão Preto/SP. Rev Esc Enferm - USP. 2011;45(4):898-904. Fratini JRG, Suape R, Massaroli A. Referência e contra referência: contribuição para a integralidade em saúde. Cienc Cuid Saúde. 2008;7(1):065-072

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PUBLICAÇÃO OFICIAL DO NÚCLEO HOSPITALAR DE EPIDEMIOLOGIA DO HOSPITAL SANTA CRUZ

ARTIGO ORIGINAL

Perfil social do usuário do sistema único de saúde na atenção primária em saúde

Social profile of the unified health system user in primary health care Aline Braido Pereira1*, Karen Mello de Mattos2, Juliana Silveira Colomé3, Ruth Maurer da Silva4 Residente Multiprofissional em Sistema Público de Saúde com ênfase em estratégia de Saúde da Família pela Universidade Federal de Santa Maria, UFSM e Programa de Pós-Graduação em Ciências e Saúde da UFSM; 2Grupo Interdisciplinar em Pesquisa (GIPES) do Centro Universitário Franciscano (Unifra) Santa Maria, RS; 3Grupo Interdisciplinar em Pesquisa (GEPESES) da Unifra. 4Centro Universitário Franciscano (Unifra).

1

Recebido em: 14/05/2012 Aceito em: 03/09/2012 *

RESUMO

alinebraido@gmail.com Justificativa e Objetivos: O Sistema Único de Saúde (SUS) foi criado como uma política para toda população. Conhecer o perfil de seu usuário é de fundamental importância para sua organização. Sendo assim, o objetivo dessa pesquisa foi delinear o perfil social do usuário do SUS na Atenção Básica em Saúde de Santa Maria/ RS. Métodos: Pesquisa descritiva, realizada em uma Estratégia de Saúde da Família (ESF) e uma Unidade Básica de Saúde (UBS) de Santa Maria/RS no período de março a abril de 2010, onde foram incluídos usuários

DESCRITORES Avaliação em Saúde Recursos Humanos em Saúde Serviços de Saúde Sistema Único de Saúde

adultos, de ambos os gêneros. Resultados: Um total de 112 usuários participaram da pesquisa. A grande procura pelo serviço de saúde foi à emergência/urgência, com relação a opinião em relação ao SUS, 60% dos usuários da UBS consideram o SUS ruim e 40,4% dos usuários da ESF consideraram bom. Conclusão: Cabe aos trabalhadores, usuários e apoiadores de uma teoria sobre a produção de saúde, tratar de construir projetos objetivando as necessidades, bem como dos meios necessários para atendê-las.

ABSTRACT Rationale and Objectives: The Brazilian Unified Health System (SUS) was established as a policy for the general population. Knowledge of the user profile is crucial for your organization. Thus, the aim of this study was to outline the social profile of SUS users in Primary Health Care in the city of Santa Maria/RS. Methods: Descriptive study, carried out in a Family Health Strategy (FHS) unit and a Basic Health Unit (BHU) in the city of Santa Maria/RS from March to April 2010, which included adult users of both genders.

KEYWORDS Health Evaluation Human Resources in Health Care Health Services Unified Health System

Results: A total of 112 users participated in the survey. The highest demand for health care services was at the emergency/urgency care; regarding the users’ opinion about SUS services, 60% of BHU users considered it bad and 40.4% of the FHS users considered it good. Conclusion: It is the responsibility of the workers, users and supporters of a theory on health production to try to build projects aiming at the needs, as well as the means to meet them.

Rev Epidemiol Control Infect. 2012;2(3):94-98

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PERFIL SOCIAL DO USUÁRIO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE NA ATENÇÃO PRIMÁRIA EM SAÚDE Aline Braido Pereira, Karen Mello de Mattos, Juliana Silveira Colomé, Ruth Maurer da Silva.

INTRODUÇÃO A utilização dos serviços de saúde é uma necessidade complexa, resultante de um conjunto de determinantes que incluem as características socioeconômicas e de saúde, a organização da oferta e o perfil epidemiológico, que podem levar a uma maior ou menor utilização dos serviços1. O Sistema único de Saúde (SUS) foi criado como uma política, Lei 8.080 de 19 de Setembro de 1990 de Regulamentação do SUS, para toda população, independentemente de condição socioeconômica. A existência de grandes desigualdades sociais e a presença do sistema privado pode gerar a expectativa de que a política pública seja dirigida preferencialmente para as parcelas da população mais desfavorecidas. O SUS origina-se da Reforma Sanitária Brasileira, processo político que envolveu a sociedade com o intuito de propor políticas e novas organizações ao sistema, serviços e práticas em saúde². As reflexões em torno do legado da Atenção Primária à Saúde e sua estratégia dos cuidados primários ainda hoje suscitam debates entre sujeitos e atores sociais envolvidos nos rumos da Política Nacional de Saúde. No período anterior à criação do SUS, a Atenção Primária à Saúde representava um marco referencial para a organização dos serviços numa lógica que tinha como proposta ser uma das principais alternativas de mudança do modelo assistencial. Após sua criação e o desenvolvimento de seus mecanismos financeiros e operacionais, cada vez tem sido mais frequente o uso da Atenção Básica em Saúde, caracteriza-se por um conjunto de ações de saúde, no âmbito individual e coletivo, que abrangem a promoção e a proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação e a manutenção da saúde como referência aos serviços municipais. Nos últimos anos, vimos crescer no cenário brasileiro o Programa Saúde da Família (PSF), que vivificou este debate ao explicitar a superposição destes referenciais que permeiam a organização dos sistemas locais. Há experiências municipais que fazem referência à organização do PSF na perspectiva da Atenção Primária, outros o fazem na da Atenção Básica, sendo que estes termos são utilizados ora como sinônimos, ora como contraposição³. O Programa Saúde da Família (PSF) hoje, renomeada como Estratégia Saúde da Família (ESF), surge no cenário brasileiro como estratégia de reorientação do modelo assistencial, substituindo o modelo tradicional de assistência à saúde, historicamente curativo, por um modelo sintonizado com os princípios do SUS, tais como a universalidade, equidade, hierarquização e integralidade da atenção4. Sendo assim, a proximidade dos serviços e recursos oferecidos pelo SUS, a cobertura por planos de saúde privados, bem como as percepções do indivíduo referentes à sua saúde, podem influenciar a utilização dos serviços de saúde¹. Baseado numa nova dinâmica de organização dos serviços e ações de saúde, o programa tem como principais características a adstrição da clientela, por meio da definição de território de abrangência da equipe; enfoque sobre a família, a partir de seu ambiente físico e social como unidade de ação; estruturação de equipe multiprofissional; atividade preventiva em saúde; a detecção de necessidades da população e a atuação intersetorial visando à promoção da saúde.5 A pesquisa em saúde pública tem por tradição a investigação de determinantes socioeconômicos, portanto, delinear o perfil social dos usuários do SUS é de extrema relevância, pois, permitiu uma melhor compreensão das suas reais necessidades, das suas Rev Epidemiol Control Infect. 2012;2(3):94-98

condições socioeconômicas, do tipo de serviço, do local para atendimento em saúde e do profissional mais procurado. Além disso, o referido delineamento possibilitou avaliar a satisfação do usuário em relação ao SUS e quais os itens que poderiam ser melhorados dentro do SUS. Desta forma, o objetivo geral dessa pesquisa foi delinear o perfil do usuário do sistema único de saúde na atenção básica em saúde, bem como conhecer o tipo de serviço em saúde, o profissional mais procurado, bem como a necessidade da inclusão do nutricionista na equipe de saúde e ainda averiguar a satisfação do usuário em relação ao SUS de Santa Maria/RS.

MÉTODOS Foi realizada uma pesquisa de delineamento transversal com coleta de dados primários. O local para coleta dos dados foi em uma Estratégia de Saúde da Família (ESF) e uma Unidade Básica de Saúde (UBS) de Santa Maria/RS ambas pertencentes à área urbana do município, sendo esta realizada no período de março a abril de 2010. Os usuários foram selecionados aleatoriamente na sala de espera de uma ESF e de uma UBS de Santa Maria/ RS. Foi utilizado um questionário com perguntas fechadas o qual foi aplicado aos usuários de ambos os gêneros, maiores de 18 anos. Os dados foram coletados por meio de entrevistas em dias consecutivos em cada local, na sala de espera das unidades. Foi utilizado um questionário elaborado para a pesquisa composto pelas seguintes variáveis: condições de serviço (a procura e frequência de atendimento); opinião sobre o SUS, condições de melhoria, serviços mais procurados, regionalização em relação ao serviço e resolutividade deste serviço. Para análise dos resultados foi elaborado uma planilha para o banco de dados no programa Microsoft Excel 2007, que posteriormente sofreram tratamento estatístico descritivo com média, desvio padrão e percentual realizado no programa SPSS versão 14.0. A pesquisa vinculou-se ao projeto do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA): “Interação ensino-serviço no SUS: uma proposta de reorientação na formação acadêmica e no exercício profissional” do Programa Nacional de Reorientação da Formação Profissional em Saúde (Pró-Saúde) e a linha de pesquisa: Educação, Sociedade e Integralidade na Saúde do Grupo Interdisciplinar de Pesquisa em Saúde (GIPES) da UNIFRA. Foi ainda aprovada pelo Núcleo de Educação Permanente em Saúde (NEPES) da Secretaria de Município da Saúde de Santa Maria/RS e pelo Comitê de Ética e Pesquisa da UNIFRA sob registro número 359.2009.2/CONEP número 1246 em 11 de janeiro de 2009. Cabe salientar que os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido contendo informações relevantes do trabalho e esclarecendo sobre sua participação de livre e espontânea vontade, certificando o anonimato.

RESULTADOS Foram entrevistados 112 usuários, sendo que 59,8% deles buscaram atendimento na UBS e 40,2% na ESF. Uma prevalência de 80,4% dos indivíduos estudados eram do sexo feminino. A média de idade de todos indivíduos pesquisados foi de 37 (±12,54) anos. Na Tabela 1 encontram-se descritas as principais características epidemiológicas dos usuários estudados. Com relação à marcação de consultas, na ESF 13,3% das Páginas 02 de 05 não para fins de citação


PERFIL SOCIAL DO USUÁRIO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE NA ATENÇÃO PRIMÁRIA EM SAÚDE Aline Braido Pereira, Karen Mello de Mattos, Juliana Silveira Colomé, Ruth Maurer da Silva.

consultas são marcadas pelo agente comunitário de saúde e na UBS em 86,6% dos casos analisados, as consultas são marcadas pelo próprio paciente (Tabela 2). O local de maior procura para serviços de saúde por usuários da UBS foi à própria unidade em 69% dos casos. Para os usuários da ESF o local de maior procura foi o pronto atendimento (Tabela 3). Com relação à opinião em relação ao SUS, 60% dos usuários da UBS consideram o SUS ruim e 40,4% dos usuários da ESF consideraram bom. Ao ser averiguado entre os usuários o que deveria ser aprimorado no SUS, para 63,6% dos usuários da UBS e 36,4% da ESF é o atendimento (Tabela 4). TABELA 1 - Perfil social dos usuários de UBS e ESF- Santa Maria/RS, 2010. CARACTERÍSTICAS

N

FREQUÊNCIA (%)

Sexo feminino

88

80,4

40

51,8

76

72,3

78

83,0

Ocupação Empregado Estado civil Casado Plano de saúde privado Não

TABELA 2 - Responsável pelas marcações de consultas na UBS e na ESF para o usuário -Santa Maria/RS, 2010. QUEM MARCOU A CONSULTA

UBS

UBS %

N= 67

%

N=45

Você mesmo

58

86,6

34

75,6

Agente Comunitário de Saúde

3

4,5

6

13,3

Encaminhado por Profissional

6

8,9

5

11,1

TABELA 3 - Local de procura do serviço de saúde e atendimento por usuários de UBS e ESF- Santa Maria/RS, 2010. LOCAL

UBS

UBS

N=67

%

N=45

%

Pronto Atendimento

25

50

25

50

Hospital Particular

3

100

0

0

Hospital Público

2

100

0

0

Hospital Universitário

2

50

2

50

UBS\ESF

29

69

13

31

Consultório Particular

6

60

4

40

TABELA 4 - Em que o SUS deve ser aprimorado na opinião dos usuários de UBS e ESF - Santa Maria/RS, 2010. EM QUE DEVE MELHORAR

UBS

UBS

N

%

N

%

Atendimento

21

63,6

12

36,4

Agendamento

12

54,5

10

45,5

Variedade de profissionais

7

58,3

5

41,7

Qualidade dos profissionais

7

63,6

4

36,4

Acesso

2

40,0

3

60,0

Oferta de medicamentos

13

61,9

8

38,1

Tempo de atendimento

5

62,5

3

37,5

Rev Epidemiol Control Infect. 2012;2(3):94-98

DISCUSSÃO A média de idade dos usuários pesquisados foi de 37 anos (±12,54), sendo que a busca por atendimento em saúde ocorreram em 59,8% na UBS e 40,2% na ESF, sendo que 80,4% dos participantes eram do sexo feminino. Resultados estes que corroboram com a pesquisa realizada por Stamm et al (2000), onde foram entrevistados 261 usuários do SUS, com idade entre 15 e 87 anos, sendo a média de 45,9 anos; 63,6% eram mulheres, 64,9% eram casados8. 92,7% possui exclusivamente o SUS com plano de saúde, resultados estes que estão de acordo com aqueles encontrados no presente estudo8. Profissionais que compõem as equipes de saúde de atenção básica, deveriam estar aptos para compreender e agir sobre os determinantes do processo saúde/doença, o que implicaria realizar uma síntese de saberes a serem utilizados na definição dos cuidados dos indivíduos e famílias. Entretanto, as práticas profissionais impressas pelo modelo flexneriano não valorizam tal percepção, limitando o cuidado às práticas pontuais e curativas9. As pessoas são os recursos mais importantes para se produzir mudanças no interior de uma organização10,11. Para eles, os processos de mudanças são construções sociais e, na sociedade contemporânea, as instituições sociais (famílias, escolas, organizações e empresas) têm vivenciado uma democratização crescente em seus interiores. Daí a importância de, nos processos de mudanças, valorizarem a gestão das pessoas nos ambientes de trabalho. A utilização de serviços de saúde torna-se um comportamento complexo, resultante de um conjunto amplo de determinantes, que incluem as características de organização da oferta, as características sociodemográficas dos usuários, o perfil epidemiológico, além de aspectos relacionados aos prestadores de serviços12. No Brasil, a organização dos serviços de saúde é de tipo misto, havendo um sistema público com orientação universal, integral e equânime, o Sistema Único de Saúde, e um sistema privado constituído pela oferta de seguros de saúde e pela modalidade de assistência contra pagamento direto. Levando-se em consideração a importância da questão dos recursos humanos frente às Ações Integradas de Saúde, tendo como base o SUS, a marcação da consulta para o atendimento em saúde, se caracteriza como o primeiro contato do usuário frente à equipe e a Unidade de Saúde. O sistema de marcação de consultas, em estudo semelhante, revelou-se, em três das unidades investigadas, como um obstáculo à utilização dos serviços13. Merece destaque o insatisfatório nível de implantação do sistema de marcação de consultas das unidades analisadas. Há que se problematizar, em particular, a realidade das USF quanto à dificuldade na marcação de consultas da demanda espontânea, pois, em muitas situações, o sistema resultava em rechaço à demanda, apesar do discurso do acolhimento. O modo de organização dos serviços, com base na oferta organizada de ações, tende a superar as formas tradicionais de reorganização da produção de ações de saúde, cabendo às unidades atender tanto indivíduos em busca de consultas e pronto atendimento (demanda espontânea) quanto desenvolver ações visando ao controle de agravos e ao atendimento de grupos populacionais específicos (oferta organizada)18. Na USF 1, a marcação de consultas para a demanda espontânea era realizada apenas através da solicitação dos ACS, e no caso da USF 2, a partir da triagem/acolhimento. Nas UBS, havia marcação diária, contudo, em uma, era possível marcar diariamente sem restrições de horário, e, em outra, apenas em horários específicos, no início de cada turno. Em estudo realizado Páginas 03 de 05 não para fins de citação


PERFIL SOCIAL DO USUÁRIO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE NA ATENÇÃO PRIMÁRIA EM SAÚDE Aline Braido Pereira, Karen Mello de Mattos, Juliana Silveira Colomé, Ruth Maurer da Silva.

por Cunha et al. (2010), a marcação de consultas e exames especializados era realizada por meio de uma central e mostrou-se mais sensível como facilitadora do acesso para os pacientes das USFs13. Isso se deu pelo fato de existir, nessas unidades, um profissional responsável pela priorização segundo gravidade/necessidade de cada caso, o que não acontece nas UBS em que o encaminhamento se dava por ordem de chegada. Contudo, a priorização era referida pelos profissionais como de grande dificuldade, pois nem sempre as solicitações estavam acompanhadas do relatório do caso para orientar a classificação de risco ou de necessidades. A marcação de consultas por ACS ou apenas para grupos de risco oriundos de atividades coletivas, assim como o restrito horário da triagem, deve ser vista com cautela. Se, por um lado, ajuda a programar a oferta das unidades, por outro, gera frustração nos usuários que desejam que os “privilégios” dos grupos sejam estendidos a todos18 . Nesta perspectiva também discute o PSF como porta de entrada aos serviços, em que apontam para a dificuldade na adequada articulação entre as atividades clínicas e de saúde coletiva, tendo em vista a programação das atividades para grupos de risco e as demandas por assistência individual 2. Na perspectiva da consolidação do SUS, é importante manter o foco nos avanços já obtidos, e um fato a se considerar é que ele tem possibilitado ampliar o mercado de trabalho dos profissionais de saúde num movimento crescente desde a década de 80. Neste contexto, cabe reconhecer que a saúde da família tem contribuído, em boa medida, para estes resultados, afinal são médicos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem, agentes comunitários, odontólogos, assistentes de consultórios e técnicos em higiene dental que têm sido absorvidos pelos sistemas municipais de saúde14 . Existem diversos fatores envolvidos na procura por serviços de saúde fatores que, dependendo de como estão ordenados, definirão a escolha pelo usuário15. Assim são influentes a gravidade ou a urgência do problema/necessidade, a tecnologia disponível, a resolutividade da atenção, a acolhida, as condições de acesso (distância da moradia, as formas, o tempo e o custo de deslocamento), a agilidade no atendimento, as experiências vividas pelo paciente/familiar, a destreza na marcação de exames ou encaminhamento para outros serviços, bem como o vínculo estabelecido pelo usuário com profissionais, serviços e com o Sistema de Saúde. No presente estudo 65,4% dos usuários da UBS e 44,9% dos usuários da ESF procuraram o serviço de saúde devido a urgência/ emergência, sendo que os motivos que levaram a busca do atendimento nestas unidades são atendimentos de rotina como, exames, medicação, receitas e atendimento clínico geral. A alta procura pelos serviços de urgência/ emergência pode ser justificada pelo fato deste serviço ser mais uma porta de entrada para obter atendimento no sistema, na maioria das vezes a mais fácil em sua visão. Comenta-se que a população procura as urgências para tudo e não apenas para casos de urgência. Trata-se de uma visão depreciativa, nesse sentido, afirma que se revela difícil definir, de maneira exclusivamente técnica, a urgência e a emergência e o que as distingue, ou melhor, o quanto essas noções e distinções não se deixam definir de maneira exclusivamente técnica16 . A utilização das UBS pelos usuários ocorrem devido à proximidade de sua residência para alguns procedimentos de consultas médicas, vacinas, exames, consultas para filhos, gruRev Epidemiol Control Infect. 2012;2(3):94-98

pos de hipertensão e atendimento a parentes idosos17. Muitos dos entrevistados relataram que foram direto a UPA (Unidade de Pronto Atendimento), não tendo passado pelas UBS antes. Ainda que em todas as unidades tenham sido apontados problemas na organização do sistema de referência e contra-referência, a situação é mais grave nas UBS. Nestas unidades, a regra é o encaminhamento de pacientes a outros profissionais e serviços através da própria solicitação do procedimento, porém sem garantia de atendimento. O retorno desse processo para as unidades de origem raramente acontece quando se trata das UBS tradicionais, revelando grande fragilidade na implantação desse critério. No caso das USF, o retorno, quando é feito, dá-se pelo próprio paciente13. A procura aos serviços de saúde pode ser entendida como uma necessidade básica do usuário, podendo ser acessada por meio de consultas e a realização dos exames, busca de medicamentos, realização de procedimentos, pois é essa a forma como os serviços organizam a sua oferta, paralelamente, as necessidades de cada usuário podem ser outras. O acesso ao atendimento e as consultas podem ser a busca de respostas às questões socioeconômicas, às más condições de vida, violência, solidão, necessidade de vínculo com um serviço/profissional, ou, ainda, o acesso a alguma tecnologia específica que lhe possa proporcionar qualidade de vida19. O atendimento, assim como o acesso a consulta de forma qualificada e adequada possibilita a aproximação entre equipe e usuário, ampliando possibilidades para a promoção e educação em saúde. Caberia aos trabalhadores e aos usuários, a partir de seus próprios desejos e interesses, bem como também apoiadores em uma teoria sobre a produção de saúde, tratar de construir projetos e de levá-los à prática, objetivando a concretização de determinados valores de uso, expressos sob a forma de necessidades, bem como dos meios necessários para atendê-las. O que se argumenta é que caberia aos trabalhadores e aos usuários, a partir de seus próprios desejos e interesses, bem como também apoiadores em uma teoria sobre a produção de saúde, tratar de construir projetos e de levá-los à prática, objetivando a concretização de determinados valores de uso, expressos sob a forma de necessidades, bem como dos meios necessários para atendê-las. Uma luta sem resultados prévios assegurados. É contrária a dialética a análise que atribui exclusividade de efeitos à racionalidade ou ao poder hegemônico. O poder hegemônico é o dominante e não o único. Os dominados também interferem na dinâmica social, particularmente quando se trata da alteração de valores. Ora, valores são os alicerces das estruturas, e as estruturas são produtoras e garantidoras de valores. A alteração de valores ressalta a inadequação social e histórica de estruturas ultrapassadas, aumentando as possibilidades de mudança. Concluindo, valeria um esforço concentrado da saúde coletiva objetivando tornar mais democrática e participativa a definição de valores de uso e de necessidades sociais. É preciso investir também no fortalecimento dos sujeitos, não somente em sua dimensão corporal, conforme a tradição da saúde pública, mas também pensando como cidadãos de direito e como sujeitos críticos, capazes de reflexão e eleição mais autônoma dos modos de andar a vida. Páginas 04 de 05 não para fins de citação


PERFIL SOCIAL DO USUÁRIO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE NA ATENÇÃO PRIMÁRIA EM SAÚDE Aline Braido Pereira, Karen Mello de Mattos, Juliana Silveira Colomé, Ruth Maurer da Silva.

AGRADECIMENTOS Ao Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), a Instituição que acolheu o projeto, a Secretaria Municipal pela viabilidade

da pesquisa em sua rede de saúde, a Unidade Básica de Saúde Floriano Rocha e a Estratégia de Saúde da Família São João por autorizar a coleta de dados em seus espaços físicos. A todos que participaram da pesquisa por acreditar que a pesquisa é o que corrobora a qualificação das práticas em saúde.

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PUBLICAÇÃO OFICIAL DO NÚCLEO HOSPITALAR DE EPIDEMIOLOGIA DO HOSPITAL SANTA CRUZ

ARTIGO ORIGINAL

Análise da sala de situação numa USF: um olhar sobre a saúde da mulher

Analysis of the situation room in a FHU: a view of women’s health care Marília Gabriela da Rocha Vital¹*, Katharine Lima Menezes¹, Nara Lins Gomes Ferreira¹, Jeanne Cunha dos Santos¹, Bruno Issao Matos Ishigami¹, Thereza Maria Bioca Neves² ¹Bolsistas do PET-Saúde da Universidade Federal de Pernambuco, PE. ²Preceptora do PET-Saúde da Universidade Federal de Pernambuco, PE.

Recebido em: 17/07/2012 Aceito em: 27/08/2012

RESUMO

mariliavital@yahoo.com.br

Justificativa e Objetivos: Dentre os programas de atenção à saúde está o Programa de Atenção Integral à Saúde

*

da Mulher (PAISM), que oferece assistência integral à população feminina em conformidade com os princípios e diretrizes do SUS, dentro da política da atenção básica. Este trabalho teve por objetivo analisar o espelho de acompanhamento mensal do ano de 2009 e 2010 através dos indicadores epidemiológicos da sala de situação referentes à saúde da mulher de uma Unidade de Saúde da Família (USF) de Recife-PE. Metodologia: Trata-se de um estudo epidemiológico descritivo, comparativo e ao mesmo tempo exploratório, realizado em uma USF do Distrito Sanitário V, localizada em Recife-PE e denominada Planeta dos Macacos II, integrante do PET-Saúde. Um total de oito indicadores foram consultados, o que representa 100% dos dados das planilhas dispostas na própria Sala de Situação, nos anos referidos acima. Resultado: A Unidade de Saúde da Família acompanhada, de maneira geral, atingiu as metas preconizadas pelo Ministério da Saúde em relação ao PAISM nos indicadores analisados

DESCRITORES Saúde da Mulher Atenção Primária à Saúde Políticas de Saúde

para realização de pré-natal e coleta de citopatológico para câncer uterino. Conclusão: A USF deve estar sempre orientada e capacitada para a atenção integral à saúde da mulher, numa perspectiva que contemple a promoção da saúde, o controle de patologias mais prevalentes nesse grupo e a garantia do direito à saúde. No entanto, vale enfatizar que os índices apresentados não podem ser interpretados isoladamente e nem ser a única fonte de informação e avaliação da assistência.

ABSTRACT Rationale and Objectives: Among the Brazilian health care programs, there is the Program for Integral Attention to Women’s Health (PAISM), which offers full assistance to the female population in accordance with the principles and guidelines of SUS within primary care policy. This study aimed to analyze the monthly monitoring in 2009 and 2010 through epidemiological indicators of the situation room regarding women’s health in a Family Health Unit (FHU) of Recife-PE. Methods: This is a descriptive epidemiological, comparative and exploratory study carried out in a FHU of the Health District V, located in Recife-PE and called Planet of the Apes II, a member of PET-Health. A total of eight indicators were assessed, representing 100% of the data in spreadsheets presented in the Situation Room in the abovementioned years. Results: The assessed Family Health Unit, in general, reached the goals established by the Ministry of Health regarding PAISM in the analyzed indicators for prenatal care and collection of cytopathologic

KEYWORDS Women’s Health Primary Health Care Health Policies

specimens for uterine cancer surveillance. Conclusion: The FHU must always be instructed and trained to provide comprehensive care to women’s health, a perspective that includes health promotion, control of the most prevalent diseases in this group and ensuring the right to health. However, it is worth emphasizing that the results shown here cannot be interpreted alone, or be the only source of information and evaluation of care.

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ANÁLISE DA SALA DE SITUAÇÃO NUMA USF: UM OLHAR SOBRE A SAÚDE DA MULHER Marília Gabriela da Rocha Vital, Katharine Lima Menezes, Nara Lins Gomes Ferreira, Jeanne Cunha dos Santos, Bruno Issao Matos Ishigami, Thereza Maria Bioca Neves.

INTRODUÇÃO A implantação do Programa de Saúde da Família (PSF) é um marco na incorporação da estratégia de atenção primária na política de saúde brasileira. A doutrina de cuidados primários de saúde da conferência de Alma-Ata já havia, anteriormente, influenciando na formulação das políticas de saúde no Brasil1, e seus princípios foram traduzidos no novo modelo de proteção social em saúde instituído com o Sistema Único de Saúde - SUS. Contudo, uma política específica, nacional, de atenção primária para todo o país nunca havia sido formulada, ainda que diversas experiências localizadas tenham sido implementadas de modo disperso. A Estratégia de Saúde da Família (ESF) propõe uma nova dinâmica para a estruturação dos serviços de saúde, bem como para a sua relação com a comunidade e entre os diversos níveis e complexidade assistencial. Uma das principais vertentes da ESF é sua capacidade de propor alianças, seja no interior do próprio sistema de saúde, seja nas ações desenvolvidas com as áreas de saneamento, educação, cultura, transporte, entre outras. Por ser um projeto estruturante, deve provocar uma transformação interna do sistema integrando as ações de saúde pública e a atenção médica individual, bem como as práticas educativas e assistenciais1. Para compor a Estratégia de Saúde da Família, o Ministério da Saúde utiliza alguns programas assistenciais que contemplam as demandas preferenciais da comunidade adstrita à unidade básica de saúde e permitem que as políticas públicas tornem-se efetivas. Dentre os programas de atenção à saúde está o Programa de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PAISM), que oferece assistência integral à população feminina em conformidade com os princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS), dentro da política da atenção básica2. O PAISM envolve ações básicas, objetivando atingir os principais conteúdos ligados à assistência integral à mulher, ou seja, intervenções voltadas à clínica-ginecológica, pré-natal, parto e puerpério imediato, a partir de um conjunto de ações que garantam2: • Aumento de cobertura e concentração do atendimento pré-natal para que toda a população seja atendida de forma equânime; • Melhora na qualidade da assistência na hora do parto fornecendo equipe de apoio treinada com o intuito de diminuir o número de cesáreas desnecessárias; • Aumento nos indicadores de aleitamento materno a partir da implantação do alojamento conjunto; • Aumento nas atividades de identificação e controle do câncer cérvico-uterino e de mamas; • Ampliação das atividades de identificação e controle das doenças sexualmente transmitidas; • Implantação de atividades que identifiquem e controlem outras patologias com grande prevalência no grupo; • Regulação da fertilidade humana, através das atividades de planejamento familiar; • Prevenção de gravidez indesejada. Para a promoção de uma assistência de qualidade acredita-se que além de ofertar um serviço que contemple o indivíduo integralmente, levando em consideração suas subjetividades, faz-se necessário uma avaliação desses objetivos, de modo a permitir a criação e implementação de novas estratégias, que possam ser somadas às rotinas dos programas. Sendo assim faz-se necessário a monitoração e análise dos resultados obtidos ao longo dos anos pelos programas de atenção Rev Epidemiol Control Infect. 2012;2(3):99-104

básica, relacionando-os com as várias questões históricas que envolvem o universo feminino, destacando conteúdos como: direitos humanos, cidadania, desigualdade social, reprodução e outros; que interferem significativamente na saúde da mulher, a partir de uma avaliação dos indicadores epidemiológicos expostos na sala de situação de uma Unidade Básica de Saúde de Recife/PE. Sendo assim, o objetivo desta pesquisa é analisar o espelho de acompanhamento mensal do ano de 2009 e 2010 através dos indicadores epidemiológicos da sala de situação referentes à saúde da mulher de uma Unidade de Saúde da Família de Recife/PE, correlacionando os dados encontrados com os resultados esperados, em conformidade com a Pactuação dos Indicadores da Atenção Básica.

METODOLOGIA Trata-se de uma pesquisa epidemiológica descritiva, comparativa e ao mesmo tempo exploratória, uma vez que não se limita ao levantamento de determinadas questões ou situações, mas implicam também em observação, análise, estudo e avaliação que conduza a conclusões sobre o objeto de observação. A mesma faz parte das vivências dos acadêmicos em saúde no Programa de Educação pelo Trabalho na Saúde (PET-Saúde), da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), programa financiado pelo Ministério da Saúde, que além de proporcionar experiências na atenção básica permite ampliação dos conhecimentos no âmbito da pesquisa. A pesquisa aconteceu entre os meses de janeiro e agosto de 2011, sendo realizada em uma Unidade de Saúde da Família (USF) do Distrito Sanitário V, localizada em Recife/PE e denominada Planeta dos Macacos II, integrante do PET-Saúde. A Unidade de Saúde, palco do estudo, foi fundada em 09 de novembro de 2001, e está habilitada em uma condição de gestão (NOB/96) e de acordo com os elementos fundamentais do modelo de Saúde da Família, tendo a responsabilidade sanitária por uma população adstrita de habitantes, predominantemente adulto-jovem, segundo levantamento dos próprios profissionais da Unidade. Foi realizada em conjunto com a orientação de tutores da UFPE e de preceptores da própria unidade de saúde citada, permitindo uma integração entre discentes, docentes e profissionais de saúde, que culminou em momentos de reflexão e produção científica acerca do universo da atenção primária. A coleta de dados foi baseada em um levantamento de informações obtidas a partir dos registros de um arquivo da própria USF dos anos de 2009 e 2010, denominado Sala de Situação. Esse arquivo é composto por dados epidemiológicos referentes à saúde da criança, saúde da mulher, pessoas e agravos prioritários, ações individuais e coletivas, que permitem o acompanhamento e avaliação do serviço por parte da equipe e também da própria comunidade, facilitando a compreensão e participação ao trabalho proposto3. A Sala de Situação é uma proposta do Ministério da Saúde, implantada com o objetivo de subsidiar os profissionais de saúde das equipes de saúde da família na organização do processo de trabalho, além de estimular o controle social e a participação da comunidade, já que a mesma é composta por números absolutos em comparação com parâmetros preconizados a serem alcançados, expostos em um banner, facilitando assim, a visualização e o entendimento tanto dos profissionais de saúde quanto da comunidade4,5. A Sala de Situação permite não apenas a monitoramento de indicadores, mas o levantamento de um diagnóstico situacional, primordial para a construção de um planejamento estratégico. Para isso, algumas etapas precisam ser rigorosamente seguidas como: a alimentação dos dados mensalmente, o monitoramento de indicadores pelo nível gerencial, a consolidação das informações e, por último a exposição e discussão dos resultados Páginas 02 de 06 não para fins de citação


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alcançados no trabalho com a comunidade e equipe de saúde3. A amostra foi composta por 100% dos dados da planilha disposta da própria Sala de Situação, do ano 2009/2010. Para descrição dos resultados foi construído um banco de dados, sob a forma de tabelas, baseado nos indicadores referentes à saúde da mulher contidos na Sala de Situação, para posterior correlação com os dados esperados pela Coordenação de Avaliação e Acompanhamento da Atenção Básica. Esse levantamento de dados numéricos, caracterizados através de análise estatística (percentagem, média e frequência), foi utilizado para o conhecimento dos números de atendimentos e procedimentos realizados pela equipe de saúde da família, como preconiza o PAISM, na unidade em estudo nessa pesquisa. Os indicadores femininos são instrumentos que constam nos relatórios: Situação de Saúde e Acompanhamento das Famílias na Área (SSA2), referente à situação das famílias acompanhadas em cada área; e Produção e Marcadores para Avaliação (PMA2), referente à produção de serviços e situações de saúde consideradas de alerta.* Esses relatórios, elaborados mensalmente, fazem parte do Sistema de Informação da Atenção Básica – SIAB4,5. O SIAB é um banco de dados do Ministério da Saúde alimentado através dos registros de cadastramento, acompanhamento e produtividade consolidado pelos profissionais da atenção primária de cada USF. Os registros servem como instrumento para avaliação dos parâmetros de adequação a serem observados na Sala de Situação4,5. Em relação à saúde da mulher a sala de situação é composta pelos seguintes indicadores que serão analisados adiante3: • Número de preventivos de câncer realizados. Obtido através do relatório PMA2 e baseado em um mínimo de 40/mês, de acordo com a pactuação da coordenação de saúde da mulher do município; • Número de gestantes cadastradas. Obtido através do relatório SSA2 e baseado numa pactuação de 2% da população de mulheres; • Número de gestantes menores de 20 anos. Obtido através do relatório SSA2 e baseado numa pactuação do Ministério da Saúde;

• Número de gestantes com pré-natal. Obtido através do relatório PMA2 e baseado em 100% das gestantes da área de abrangência à Unidade de Saúde que foram cadastradas; • Número de gestantes com vacina em dia. Obtido através do relatório SSA2 e baseado em 100% das gestantes da área de abrangência à Unidade de Saúde que foram cadastradas; • Número de gestantes realizando pré-natal no primeiro trimestre. Obtido através do relatório SSA2 e baseado em 100% das gestantes da área de abrangência à Unidade de Saúde que foram cadastradas; • Casos de sífilis em gestantes. Obtidos através das fichas de notificação; • Óbitos maternos. Obtido através da identificação do ACS ou da equipe como um todo e baseado na ocorrência de apenas um caso, evento sentinela, já servindo de alerta para possíveis falhas na atenção à mulher. Esta pesquisa só iniciou-se após a liberação de uma carta de anuência da Prefeitura da cidade do Recife, fornecida através da Diretoria Geral de gestão do Trabalho (DGGT), já que o material levantado fazia parte de documentos oficiais da Unidade de Saúde da Família; e de um parecer de um Comitê de Ética em Pesquisa, atendendo a resolução 196/96 do Ministério da Saúde e aprovando o desenvolvimento da mesma com CAAE: 0376.0.172.000-116.

RESULTADOS As tabelas da sala de situação de 2009/2010 da Unidade de Saúde da Família Planeta dos Macacos II analisou, através desta pesquisa, a saúde da mulher baseando-se nos indicadores relacionados com os exames de preventivo de câncer realizados e com a saúde materna. Os resultados encontrados referentes à Sala de Situação 2009 e a Sala de Situação 2010 estão descritos na tabela a seguir (Tabela 1).

TABELA 1 - Número de atendimento na USF segundo os indicadores/mês, 2009 e 2010. INDICADOR (ESPERADO)

Preventivos de câncer realizados – 40/mês

REALIZADO 2009

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Gestantes com pré-natal – 100%

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Gestantes com vacina em dia – 100%

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Casos de sífilis em gestantes

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Gestantes cadastradas – 100% Gestantes menores de 20 anos – 100%

Gestantes com pré-natal primeiro trimestre – 100%

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Em relação às gestantes, os indicadores foram referentes ao cadastro, à faixa etária (menores de 20 anos), à imunização, ao pré-natal no primeiro trimestre, à presença de sífilis na gravidez e ao óbito materno. Ao avaliar tais indicadores, pode-se identificar que nos anos de 2009 e 2010, assim como preconizado pelo Ministério da Saúde, todas as gestantes cadastradas na unidade estavam realizando o acompanhamento pré-natal. Indicando, dessa forma, a eficiência da USF na realização de tal serviço tão importante para a saúde da mãe e do bebê. O Ministério da Saúde considera ideal o acompanhamento pré-natal iniciado no primeiro trimestre de gestação, porém, através da pesquisa realizada na unidade Planeta dos Macacos II constatamos que nem todos os meses atingiram os 100% das gestantes cadastradas. Foi obtido o êxito apenas nos meses de junho e julho de 2010, quando tal indicador atingiu a totalidade das gestantes. Nos demais meses observou-se um decréscimo nos valores, sobressaindo-se os meses de janeiro, fevereiro, março e abril de 2009 e janeiro de 2010. Esses resultados podem ser justificados devido ao fato de diversas mulheres demorarem a perceber ou aceitar que estão grávidas. O ciclo menstrual irregular, apresentado por algumas mulheres, induz a percepção tardia da gravidez, pois o atraso menstrual torna-se algo corriqueiro. Há ainda aquelas mulheres que percebem que o seu ciclo menstrual está alterado, mas não quer aceitar a sua gravidez, logo fica protelando a confirmação, atrasando, assim, o início do seu pré-natal. O indicador de gestantes com vacina em dia tem uma importância fundamental para se avaliar a qualidade do pré-natal que está sendo realizado. De acordo com a sala de situação do ano de 2009 e 2010 pode-se constatar que a imunização está sendo realizada de acordo com a meta do ministério da saúde, exceto no mês de janeiro de 2010 e isso é um indício de que a assistência pré-natal está sendo realizada de forma correta. A avaliação do número de gestantes menores de 20 anos, demonstrada nas Figuras 1 e 2, é considerada importante, pois com ela avalia-se que os serviços oferecidos pela unidade, tais como o planejamento familiar e a educação em saúde, têm atingido as metas estabelecidas.

FIGURA 2 - Número de gestantes menores de 20 anos atendidas na USF em 2010

Com relação ao indicador prevenção de câncer de colo de útero, demonstrado na Figura 3, foi esperado um total de 40 atendimentos ao mês segundo preconiza o Ministério da Saúde. Tal meta foi alcançada nos meses de fevereiro e agosto de 2009, chegando até a superar essa estimativa em março de 2009 e janeiro de 2010. Nos demais meses, observou-se um número abaixo do esperado, cabendo destacar dezembro de 2009 e fevereiro, junho e julho de 2010.

FIGURA 3 - Realização de Exames Preventivos de câncer na USF, 2009 e 2010

Em relação à incidência de sífilis nas gestantes, não foi notificado nenhum caso no período da pesquisa. A sala de situação referente aos anos de 2009 e 2010 de Planeta dos Macacos II mostra que não houve nenhum óbito materno registrado nessa unidade de saúde.

DISCUSSÃO FIGURA 1 - Número de gestantes menores de 20 anos atendidas na USF em 2009

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A gestação, embora constitua um fenômeno fisiológico, que na maioria dos casos tem sua evolução sem intercorrências, requer cuidados especiais mediante assistência pré-natal. Segundo o Ministério da Saúde, o principal objetivo da atenção pré-natal e puerperal é “acolher a mulher desde o início da gravidez assegu-

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rando no fim da gestação, o nascimento de uma criança saudável e a garantia do bem-estar materno e neonatal”7. Indicadores de grande relevância para a atenção à gestante são a realização dos exames laboratoriais básicos preconizados pelo Ministério da Saúde e a efetivação do número mínimo de seis consultas. Eles expressam uma relação estreita com o momento da gestação em que a mulher foi captada para o início da assistência pré-natal, uma vez que, quanto mais cedo ela iniciar a assistência, maiores chances terá de realizar todos os exames e o número de consultas necessárias para conduzir uma gravidez com o mínimo de intercorrências8. No presente estudo observou-se que 100% das gestantes cadastradas realizaram o pré-natal. Um serviço de pré-natal bem estruturado deve ser capaz de captar precocemente a gestante na comunidade em que se insere, além de motivá-la a manter o seu acompanhamento pré-natal regular, constante, para que bons resultados possam ser alcançados9. O acompanhamento pré-natal tem impacto na redução da mortalidade materna e perinatal, desde que as mulheres tenham acesso aos serviços, os quais devem ser de qualidade para o controle dos riscos identificados10. A baixa frequência às consultas de pré-natal tem como reflexo direto a perda das oportunidades de prevenir os agravos à gestação, principalmente os infecciosos. Com relação à gravidez na adolescência, observou-se que na unidade de saúde estudada, uma média de 17,62% das gestantes do ano de 2009 e 17,18% das gestantes do ano de 2010 eram adolescentes. Tais dados colhidos na USF estudada foram considerados satisfatórios, pois se encontravam abaixo da média nacional de gravidez antes dos 20 anos que é de 20,8%. Apesar dos bons resultados obtidos em relação à gravidez na adolescência é necessário que os gestores da unidade tomem medidas a fim de reduzir ainda mais a quantidade de gestantes menores de 20 anos. Medidas essas que giram em torno de ações educativas e preventivas. Acredita-se que a ausência de uma educação sexual mais efetiva, bem como a falta de acesso ou interesse a informações e programas de saúde relativos à vida sexual e reprodutiva são fatores determinantes para que aconteça a gravidez precoce11-13. No dado referente à vacinação, verificou-se que durante os anos de 2009 e 2010, excetuando-se o mês de janeiro de 2010, todas as gestantes cadastradas (100%) estavam com o calendário vacinal em dia. Em janeiro de 2010, das trinta e seis gestantes cadastradas, três estavam com o calendário vacinal desatualizado. Fato que foi regularizado no mês seguinte com incentivo dos profissionais de saúde da USF estudada. A vacinação de gestantes é fundamental, em virtude da possibilidade de transmissão vertical de vírus/bactéria durante o parto. Além disso, é importante citar a possibilidade de malformações decorrentes de infecção durante a gravidez, em especial no primeiro trimestre o que justifica a vacinação contra rubéola e a dT14. As vacinas indicadas pelo Ministério da Saúde são a Difteria e Tétano obrigatoriamente, caso a gestante não esteja em dia com o seu calendário vacinal. Além disso, outras vacinas podem ser aplicadas, a depender da situação como a Hepatite B, Raiva, Febre Amarela e Influenza15. No entanto, é contra-indicado utilizar vacinas de vírus vivos atenuados em gestantes, devido ao risco de potenciais efeitos negativos para o feto em desenvolvimento16. Durante o período pesquisado não houve o relato de casos de sífilis entre as gestantes estudadas. Tal fato pode ser entendido como uma boa realização dos serviços de educação e saúde na comunidade. A mortalidade materna é um indicador do acesso à atenção Rev Epidemiol Control Infect. 2012;2(3):99-104

obstétrica de qualidade e das condições de vida das mulheres. Além disso, ele reflete as condições de vida de uma população e se constitui como um dos indicadores mais adequados para se avaliar a cobertura e a qualidade dos serviços de saúde, assim como indicar o nível de pobreza e desigualdade em uma população17,18. No presente estudo não foram identificados óbitos maternos no período avaliado, refletindo a efetividade dos cuidados com a saúde da mulher na unidade estudada, pois ao se analisar como um conjunto os dados da sala de situação, podemos afirmar que todas as gestantes cadastradas realizaram um pré-natal de forma correta, afastando e “corrigindo” as comorbidades gestacionais. No Brasil, o óbito materno é um problema relevante, pois a taxa referente a este indicador, a razão de morte materna (RMM), foi de 75,87 em 2002, 72,99 em 2003 e de 76,09 por 100.000 nascidos vivos (nv) em 2004. De acordo com a OMS a RMM aceitável é de até 20 óbitos em 100.000 nascidos vivos19. Dessa forma, as mortes relacionadas à gravidez são importantes causas de morte de mulheres em idade reprodutiva. Em um estudo realizado com 1013 mulheres em Recife no ano de em 1993, verificou que aproximadamente três quartos das mortes maternas foram por causas diretas, entendidas como as decorrentes de complicações obstétricas da gravidez, parto e puerpério19. Esses dados continuam sendo uma realidade atual e reforça a importância do pré-natal efetivo e abrangente. O dano causado pelo óbito materno atinge de forma holística toda a família daquela mulher, pois priva a criança da amamentação e cuidado da mãe, aumentando as chances de morte e desnutrição infantil, além de alterar toda a estrutura familiar20. Sendo assim, é fundamental a análise do índice de mortalidade materna para se analisar a qualidade da atenção pré-natal. Em relação à realização do exame de prevenção do câncer de colo do útero, a USF estudada só obteve o êxito, de pelo menos 40 exames realizados por mês, em apenas quatro dentre vinte e quatro meses estudados. Infere-se que esses resultados podem estar ligados à realização do preventivo em outros locais, a um erro de cobertura da unidade ou até mesmo à não aderência aos programas preventivos, tornando-os assim pouco efetivos. Contudo, a Sala de Situação mostra-se como uma ferramenta importante para avaliação e acompanhamento das atividades desenvolvidas na USF, tanto pela ESF quanto para gestores, sendo um dispositivo a ser usado também no controle social, já que nela os usuários podem ter conhecimento dos serviços que estão sendo oferecidos na unidade de saúde, se apropriando de forma positiva dos mesmos, construindo opiniões mais concretas referentes a atenção primária, pois sabe-se que quanto mais se demonstra resultados visíveis, mais o grau de confiança perante o usuário aumenta. No entanto vale resaltar que, aliado aos números demonstrados na sala de situação, atitudes e atendimento humanizado deverão estar presentes diariamente para que esse resultado de confiança diante da população seja firmado. Outro ponto importante é a peculiaridade de cada USF, que cada gestor deve considerar na hora da avaliação, pois o não alcance das metas propostas nem sempre se dá por incapacidade da equipe e sim por falta de insumos, dificuldades administrativas, questão social e cultural da população, entre tantos outros. Devendo a sala de situação não ser a única forma de monitoramento das ações desenvolvida por profissionais e sim, um dos recursos que irá compor tal análise. Diante dos resultados expostos, podemos sugerir futuras pesquisas que visem à melhoria dos resultados, e consequentemente, a melhoria da atenção às mulheres na Unidade como um todo. Páginas 05 de 06 não para fins de citação


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PUBLICAÇÃO OFICIAL DO NÚCLEO HOSPITALAR DE EPIDEMIOLOGIA DO HOSPITAL SANTA CRUZ

ARTIGO ORIGINAL

Avaliação dos aspectos físico e organizacional da Unidade de Saúde da Família da comunidade de Vila São Miguel – Afogados – Recife/PE Evaluation of the physical and organizational aspects of the family health unit in the community of Vila São Miguel - Afogados - Recife / PE

Elaine Judite de Amorim Carvalho¹, Geane Nário de Souza², Hellencléia Pereira Cunha3*, Lucineide Cristina Barbosa3, Raissa Pires Morais3, Rafaela Valadares Amorim3, Vera Lúcia Ramos da Silva4, Sheila Amarantes do Nascimento4, Jacira Maria da Conceição4 ¹Professora de Patologia Oral - Departamento de Clínica e Odontologia Preventiva – UFPE; ²Enfermeira da Unidade de Saúde da Família – Vila São Miguel; 3Estudante de graduação do Centro de Ciências da Saúde – UFPE; 4Agente Comunitário de Saúde da Unidade de Saúde da Família – Vila São Miguel.

Recebido em: 25/04/2012 Aceito em: 27/08/2012

RESUMO

*hellen_cleiapc@hotmail.com Justificativa e Objetivos: Existem diversas razões pelas quais a estratégia de saúde da família não contempla as necessidades da comunidade, assim como também há fatores que influenciam na baixa qualidade dos serviços ofertados. O objetivo desse trabalho foi estabelecer o diagnóstico da comunidade e da Unidade de Saúde da Família (USF) de Vila São Miguel – Afogados – Recife / PE, no que diz respeito à prestação do serviço de saúde. Método: Trata-se de um estudo descritivo quantitativo. Foram aplicados dois questionários, sendo o primeiro direcionado a seis profissionais de saúde da unidade e o segundo, a 150 usuários da unidade de saúde. Resultados: Na análise dos dados referentes aos profissionais de saúde, verificou-se que no que diz respeito à infraestrutura e à organização do trabalho, a USF correspondeu a menos de 50% do que é estabelecido como adequado, mas na atenção à saúde, a equipe apresentou excelente desempenho (70%). Com o segundo questionário, verificou-se quanto ao perfil de usuário que 82,24% moram na comunidade há mais de 10 anos e 33,56% frequentam a USF mensalmente. Quanto à capacidade da USF

DESCRITORES Avaliação Serviços de Saúde Saúde da família

em receber portadores de deficiências, 81,45% responderam que a unidade não apresenta infraestrutura física necessária; 82,55% disseram não participar de atividade educativa da USF e 66% afirmaram que nunca solicitaram visita de algum profissional da equipe. Quanto às consultas, 51% relatou conseguir marcá-las mensalmente para o médico, 27,9% para enfermagem e 16,55% para dentista; 42,95% relataram nunca precisar realizar exame ginecológico, de sangue, urina ou fezes na USF. Conclusão: A USF foi bem avaliada na maioria dos itens, tendo o ponto mais crítico refere-se a questão da acessibilidade aos portadores de deficiências.

ABSTRACT Rationale and Objectives: There are several reasons why the family health strategy does not address the needs of the community, as there are factors that influence the low quality of the offered services. The aim of this study was to establish the diagnosis of community and the Family Health Unit (FHU) of Vila São Miguel – Afogados – Recife / PE, regarding the provision of health services. Methods: The present is an descriptive quantitative study. Two questionnaires were used, the first being directed to six health professionals and the second, to 150 users of the unit. Results: When analyzing the data related to health professionals, it was observed that with regard to work infrastructure and organization, the FHU corresponded to less than 50% of what is considered appropriate, but regarding health care, the team showed an excellent performance (70%). In the second questionnaire, a user profile was observed, showing that 82.24% have lived in the community for more than 10 years and 33.56% go to the FHU monthly.

KEYWORDS Evaluation Health Services Family Health

Regarding the capacity of the FHU to receive disabled individuals, 81.45% responded that the unit has no necessary physical infrastructure; 82.55% said they not participate in any educational activity of the FHU and 66% said they never requested a visit from a team professional. As for consultations, 51% can schedule them monthly for a doctor’s appointment, 27.9% for nursing and 16.55% for dentistry; 42.95% reported they never need to perform a gynecological, blood, urine or stool examination at FHU. Conclusion: The FHU was well appraised on most items, with the most critical point being accessibility to individuals with disabilities.

Rev Epidemiol Control Infect. 2012;2(3):105-108

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AVALIAÇÃO DOS ASPECTOS FÍSICO E ORGANIZACIONAL DA UNIDADE DE SAÚDE DA FAMÍLIA DA COMUNIDADE DE VILA SÃO MIGUEL – AFOGADOS – RECIFE/PE Elaine Judite. A. Carvalho, Geane N. de Souza, Hellencléia P. Cunha, Lucineide C. Barbosa, Raissa P. Morais, Rafaela V. Amorim, Vera Lúcia R. da Silva, Sheila A. do Nascimento, Jacira M. da Conceição.

INTRODUÇÃO A estratégia de saúde da família foi desenvolvida pelo Ministério da Saúde, com o objetivo de reorganizar a atenção básica, buscando um atendimento diferenciado capaz de suprir as necessidades básicas de saúde da comunidade1,2. A atenção é estruturada em uma unidade de saúde e centrada em uma população adscrita, que está sob a responsabilidade de uma equipe multiprofissional3. Isto possibilita integração e organização das ações de saúde em um território definido4. Oferecer à população ações de saúde acessíveis, resolutivas e humanizadas é uma responsabilidade a ser compartilhada pelas três esferas de gestão do Sistema Único de Saúde. Investir na melhoria da qualidade dos serviços, considerando todos os níveis de atenção significa promover a saúde, reduzir riscos e a morbi-mortalidade, garantindo maior efetividade e eficiência5,6. No entanto, não se sabe se o objetivo da implantação de uma Unidade de Saúde da Família (USF) é alcançado na prática e se a comunidade tem sido atendida em suas necessidades básicas¹. Assim, nossa proposta é investigar a qualidade do serviço prestado pela Unidade, tomando como base a opinião dos próprios usuários e da equipe de saúde.

MÉTODO Após aprovação pelo Comitê de Ética do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal de Pernambuco, registrado sob protocolo de número 0105.0.172.000-11, realizou-se um estudo descritivo quantitativo. Foram aplicados dois questionários avaliativos, sendo o primeiro deles composto pelos Instrumentos 3, 4 e 5 do documento técnico de Avaliação para Melhoria da Qualidade da Atenção Básica (AMQ), do Ministério da Saúde (2005)2. O Instrumento 3- Unidade Saúde da Família, trata da infraestrutura e equipamentos da USF, o 4- Consolidação do modelo de Atenção, trata da organização do trabalho em saúde da família e o 5- Atenção à saúde trata da assistência prestada à saúde da criança, adolescente, mulheres e homens adultos, idosos e doenças transmissíveis. Tal questionário foi aplicado a seis profissionais de saúde que atuam na referida unidade (médico, enfermeiro, dentista e três agentes comunitários de saúde). O segundo questionário foi direcionado aos usuários, buscando avaliar a prestação dos serviços ofertados e conhecimento da comunidade sobre a estratégia de saúde da família. A população alvo do estudo foi composta por 150 indivíduos, maiores de 18 anos e que

preenchiam os seguintes critérios para inclusão: morar na comunidade há pelo menos um ano; haver utilizado a USF pelo menos três vezes e concordar em participar da pesquisa, assinando o termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE). Após a aplicação de todos os questionários, os dados foram analisados segundo o critério objetivo para as respostas categóricas, através de estatística descritiva e a partir de gráficos e tabelas construídos em planilha Excel.

RESULTADOS Analisando o questionário respondido pela equipe de saúde da família, verificou-se que, em relação à infraestrutura, a USF correspondeu positivamente (48%) ao estabelecido para o funcionamento adequado da unidade. A equipe também atingiu menos de 50% do que é estabelecido como adequado, quanto à organização do trabalho. Entretanto, apresenta excelente desempenho (70%) na atenção dispensada à saúde da criança, adultos, idosos, portadores de transtorno mental e de doenças como: hipertensão arterial, diabetes, hanseníase e tuberculose. Ao avaliar o perfil do usuário, observou-se que 82,24% mora há mais de 10 anos e com frequência de utilização mensal da USF de 33,56%. A Tabela 1 mostra a visão dos usuários em relação ao aspecto físico e estrutural da USF, em que, apesar de ter sido considerada acessível, limpa e organizada, também foi negativamente avaliada como pequena e desconfortável. A respeito da adequação da unidade para receber portadores de necessidades especiais, 81,45% responderam ser pouco adequada para esta finalidade. Quando questionados se receberam ou recebem a visita de membro de equipe de saúde, 66% TABELA 1 - Avaliação do aspecto da unidade e seus aspectos físico e estrutural. Avaliação da USF sob aspecto físico e estrutural

Avaliação do aspecto a unidade 92,05%

Ampla

10,07%

Limpa

Pequena

89,93%

Suja

7,28%

Confortável

33,56%

Não responderam

0,66%

Desconfortável

66,44%

Organizada

66,22%

Acessível

90,60%

Desorganizada

30,46%

Difícil acesso

9,40%

Não responderam

3,31%

FIGURA 1 - Frequência com que conseguem marcar agendamento para profi ssionais Rev Epidemiol Control Infect. 2012;2(3):105-108

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AVALIAÇÃO DOS ASPECTOS FÍSICO E ORGANIZACIONAL DA UNIDADE DE SAÚDE DA FAMÍLIA DA COMUNIDADE DE VILA SÃO MIGUEL – AFOGADOS – RECIFE/PE Elaine Judite. A. Carvalho, Geane N. de Souza, Hellencléia P. Cunha, Lucineide C. Barbosa, Raissa P. Morais, Rafaela V. Amorim, Vera Lúcia R. da Silva, Sheila A. do Nascimento, Jacira M. da Conceição.

responderam que não. Um total de 82,55% dos usuários respondeu não participar de atividades educativas promovidas pela USF. Na Figura 1 foram considerados a frequência com que os usuários conseguem marcar consultas segundo suas necessidades, sendo observado que 51% consegue marcar mensalmente para o médico, 27,9% para enfermagem e 16,55% para dentista. Entre os entrevistados, 42,95% relatou que nunca lhes foi solicitado nenhum exame complementar do tipo sangue, urina ou fezes na USF, entretanto 36,91% respondeu que não tem dificuldade para a execução de tais procedimentos quando requeridos pelo profissional. Em relação à realização de exame ginecológico, 41,61% relataram que não tem dificuldade para realizá-los, enquanto 42,95% relatou que nunca lhes foi solicitado. Quando questionados sobre o sentimento de acolhimento pelos profissionais de saúde, a maioria (80,79%) afirmou que se sente acolhida. Na Tabela 2, verifica-se a opinião do usuário quanto ao atendimento dos profissionais da USF, onde se destaca um bom atendimento por parte do médico (49,67%), do enfermeiro (42%), do agente comunitário de saúde (45,7%) e do técnico de enfermagem (44,38%), mas também um alto número de moradores que não souberam avaliar o atendimento do dentista (49%) e auxiliar de saúde bucal (53,64%), provavelmente pela não utilização deste serviço.

DISCUSSÃO As inadequações, como a falta de consultórios para atendimentos individualizados, crachás e uniformes para todos os funcionários, rampa de acesso para portadores de deficiência física e usuários com dificuldade de deambulação, aparelhos de informática e insumos para atividades educativas, como televisão e DVD, fazem com que a unidade corresponda a menos de 50% do estabelecido pelo Ministério da Saúde¹, como adequado para o seu funcionamento. Ainda, a falta de monitoramento e avaliação das informações de saúde da área adscrita, assim como as discussões com os membros da equipe, as ações educativas, reuniões com conselhos e associações, também fazem com que a equipe atinja menos de 50% do adequado. No entanto, a equipe apresenta excelente desempenho (70%) na atenção dispensada à saúde da criança, adultos, idosos, portadores de transtorno mental e de doenças como: hipertensão arterial, diabetes, hanseníase e tuberculose. Mas, em relação à saúde do adolescente a equipe se mostra despreparada, devido à falta de atividades educativas e consultas direcionadas a essa população. De acordo com a visão dos usuários quanto ao aspecto físico e estrutural da USF foi considerada de fácil acesso (90,64%), limpa

(92,05%) e organizada (66,22%), foi negativamente avaliada como pequena (89,93%) e desconfortável (66,44%). A unidade não dispõe de espaço físico adequado, funcionando somente numa área não superior a 50m2. Os espaços físicos são utilizados para várias atividades como: sala de vacina, curativos, coleta de citologia, três equipes de odontologia, sala de dispensação de medicações, consultório médico, entrega e marcação de exames laboratoriais. Além disso, possui apenas uma funcionária auxiliar de administração, que só trabalha no turno da manhã. Toda esta situação gera conflitos de espaço e informações, o que refletiu em 30,46% dos usuários identificando a USF como desorganizada. Vale ressaltar que os usuários se queixaram da falta de privacidade existente na USF, a qual ocorre devido à falta de espaço físico para o desenvolvimento do trabalho dos profissionais, uma vez que os prontuários das famílias são guardados dentro do consultório médico e isso acarreta na entrada constante de profissionais para pegar algum prontuário ou formulário. A unidade também não é preparada para receber pessoas com necessidades especiais, o que é claramente identificado quando verifica-se que a maioria dos entrevistados (81,45%) responderam negativamente quanto à adequação da unidade para receber portadores de necessidades especiais. Quando questionados se receberam ou recebem a visita de membro de equipe de saúde, 66% respondeu que não. Acredita-se que este dado se relaciona com o fácil acesso à unidade, devido à sua localização, e pelo fato de que nem todos que responderam à pesquisa se enquadram no perfil de pacientes a serem visitados, que são os acamados ou com dificuldades de deambulação. Em relação à frequência de marcação das consultas, foi observado que os usuários conseguem mensalmente para o médico, enfermagem e para dentista. As consultas médicas são agendadas pela médica da equipe a cada 15 dias com triagem de necessidade e a marcação da enfermeira é feita pela profissional que atende consultas subsequentes como: pré-natal e puericultura, não havendo necessidade do usuário ir até a unidade. Em relação às profissionais dentistas, apesar de a USF contar com duas profissionais, há somente uma sala de odontologia, o que faz cair pela metade a oferta de atendimentos. A relação entre a organização do processo de trabalho da equipe e a falta de acesso da população ao atendimento clínico é um tópico importante a ser discutido. De acordo com Schimith & Lima (2004), esse tipo de situação possibilita afirmar que não basta aumentar o número de equipes de Saúde da Família sem abrir espaços para novas formas de organização no processo de trabalho. Discute-se que além das dificuldades estruturais na oferta de serviços, existem as de organização interna às unidades. Os rígidos e limitados horários de funcionamento e as formas quase sempre presenciais de marcação de consultas funcionam como constrangimento ao efetivo acesso à atenção básica, especialmente em

TABELA 2 - Frequência com que conseguem marcar agendamento para profi ssionais. EXCELENTE (%)

BOM (%)

NÃO SEI AVALIAR (%)

NÃO RESPONDEU (%)

Médico

37,09

49,67

5,30

1,32

6,62

0,00

Enfermeiro

24,68

42,00

0,66

0,66

32,00

0,00

Dentista

23,85

19,87

2,65

0,00

49,00

4,63

Auxiliar de Saúde Bucal

17,89

21,85

0,66

0,00

53,64

5,96

Agente Comunitário de Saúde

40,40

45,70

4,64

0,67

6,63

1,96

Técnico em Enfermagem

25,82

44,38

1,32

0,66

26,50

1,32

Rev Epidemiol Control Infect. 2012;2(3):105-108

RUIM (%) PÉSSIMO (%)

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AVALIAÇÃO DOS ASPECTOS FÍSICO E ORGANIZACIONAL DA UNIDADE DE SAÚDE DA FAMÍLIA DA COMUNIDADE DE VILA SÃO MIGUEL – AFOGADOS – RECIFE/PE Elaine Judite. A. Carvalho, Geane N. de Souza, Hellencléia P. Cunha, Lucineide C. Barbosa, Raissa P. Morais, Rafaela V. Amorim, Vera Lúcia R. da Silva, Sheila A. do Nascimento, Jacira M. da Conceição.

metrópoles, nas quais parcelas importantes da população passam o dia longe de seu local de moradia8. O acolhimento como tecnologia operacional é um processo em construção, variando nas unidades de saúde da família em níveis de concepção e estratégias de reorganização cotidiana do trabalho9. Quando questionados sobre o sentimento de acolhimento pelos profissionais de saúde, a maioria (80,79%) afirmou que se sente acolhida. Verifica-se que de um modo geral, quanto ao atendimento dos profissionais da USF, todos os profissionais foram bem avaliados pelos usuários, mas como é cultural que a grande demanda de atendimento numa unidade de saúde é realizada pelo profissional médico; assim o item “não sei avaliar”, em relação ao percentual de enfermeiro e dentista (32% e 49%, respectivamente), certamente os usuários não receberam atendimento destes profissionais. Oliveira et al. (2008) mostram que em ações educativas, os usuários explicitam sua expectativa de contar com profissionais qualificados para uma escuta acolhedora e resolutiva, e os trabalhadores apontaram como fundamental o nível de comprometimento profissional da equipe. Mas conforme descrito no texto, 82,55% dos usuários não participam de atividade educativa promovida pela

USF. Apesar de a Unidade realizar essas atividades, os encontros não contam com um número satisfatório de participantes, chegando a registrar apenas 3 ou 4 usuários presentes. Segundos os Agentes Comunitários, os usuários parecem demonstrar desinteresse pela sua própria saúde e desconhecimento da sua importância e necessidade de realizar o controle social. Em suma, a USF de Vila São Miguel foi bem avaliada na maioria dos itens, tendo o ponto mais crítico na questão da acessibilidade aos portadores de necessidades especiais e a pouca oferta na saúde do adolescente. Este resultado é semelhante ao encontrado por Macinko (2004) e Elias et al. (2006), os quais mostram que serviços, coordenação e profissionais de saúde foram bem avaliados, o que configura uma situação favorável para a estruturação da atenção básica na comunidade. Já acessibilidade, enfoque familiar e orientação comunitária são percebidas pelos usuários como sendo as piores dimensões nas modalidades de assistência básica avaliadas. Por outro lado, inferimos que seja necessária uma mudança do olhar do comunitário sobre a Estratégia de Saúde da Família, pois uma boa parte utiliza a atenção básica como serviço de pronto atendimento e não se envolve com os aspectos de educação em saúde.

REFERÊNCIAS 1.

2.

3.

4. 5.

6.

Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde. Documento Técnico de Avaliação para Melhoria da Qualidade da Atenção Básica. Brasília (DF);2008. Besen CB, Netto MS, Ros MA, et al. A estratégia saúde da família como objeto de educação em saúde. Saúde soc. 2007;16(1): 57-68. Araujo JC, Guimarães AM. Controle da hipertensão arterial em uma unidade de saúde da família. Rev. Saúde Pública. 2007; 41(3): 68-74. Pedrosa JIS, Teles JBM. Consenso e diferenças em equipes do Programa Saúde da Família. Rev. Saúde Pública. 2001;35(3):303-11. Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde. Avaliação para melhoria da qualidade da estratégia saúde da família. Brasília (DF);2005. Santana ML, Carmagnani MI. Programa Saúde da Família no Brasil: um enfoque sobre seus pressupostos básicos, operacionalização, e vantagens. Saúde soc. 2001;10(1):33-53.

Rev Epidemiol Control Infect. 2012;2(3):105-108

7.

Schimith MD, Lima MADS. Acolhimento e vínculo em uma equipe do programa saúde da família. Cad. Saúde Pública. 2004;20(6):1487-1494. 8. Elias PE, Ferreira CW, Alves MCG, et al. Atenção Básica em Saúde: comparação entre PSF e UBS por estrato de exclusão social no município de São Paulo. Ciência & Saúde Coletiva. 2006;11(3):633-641. 9. Souza ECF, Vilar RL, Rocha, NSPD, et al. Acesso e acolhimento na atenção básica: uma análise da percepção dos usuários e profissionais de saúde. Cad. saúde pública. 2008;24(1):100-110. 10. Oliveira A, Neto JCS, Machado MLT, et al. A comunicação no contexto do acolhimento em uma unidade de saúde da família de São Carlos, SP. Interface Comunicação Saúde Educação. 2008;2(27):749-62. 11. Macinko J, Almeida C, Oliveira E, Sá P. Organization and delivery of primary health care services in Petrópolis, Brazil. Int J Health Plann Mgmt. 2004;19(4):303-17.

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PUBLICAÇÃO OFICIAL DO NÚCLEO HOSPITALAR DE EPIDEMIOLOGIA DO HOSPITAL SANTA CRUZ

RELATO DE EXPERIÊNCIA

Grupo de Atividade Física e Bem-Estar na Atenção Primária: Um relato de experiência do Pet-Saúde Mental em Porto Alegre Physical activity and well-being group in primary health care: report of an experience of pet-mental health in Porto Alegre

Lidiane Tavares Mielczarski¹*, Franciane Gonçalves Lima², Luciana Balestrin Redivo Drehmer³ ¹Acadêmica do Curso de Educação Física Pontifícia universidade Católica do Rio Grande do Sul, PUCRS; ²Acadêmica do Curso de Medicina da PUCRS; ³Psicóloga, Professora da Faculdade de Psicologia da PUCRS, Tutora acadêmica do PET Saúde Mental. Recebido em: 10/04/2012 Aceito em: 03/08/2012

DESCRITORES

lidiane.mielczarski@acad.pucrs.br

KEYWORDS

*

Educação e saúde, Atividade física, Cuidados primário Education and health, Physical activity, Primary care

Sabe-se da importância da saúde mental para o completo bem-estar de um indivíduo, todavia percebe-se que algumas falhas ocorrem no sistema público de saúde quando o tema é o bem-estar mental de usuários. Tendo tal questão em vista, alguns projetos foram construídos na tentativa de melhorar o atendimento ao portador de transtorno psíquico e de promover a saúde mental. Dentre esses, no campo da promoção da saúde, pode-se destacar o Programa de Educação pelo Trabalho (PET) – Saúde, o qual disponibiliza bolsas, para tutores, preceptores e estudantes da área da saúde com o objetivo de integrar ensino, serviço e comunidade. Existem quatro tipos de programas PET: o PET-Saúde da Família, o PET-Vigilância em Saúde, PET-Saúde Redes de Atenção e PET-Saúde Mental/Crack, sendo este último o fomentador das experiências aqui relatadas1. Entende-se que é essencial o detalhamento dos princípios deste projeto, pois estes serviram como base para o desenvolvimento do grupo de atividade física e bem estar, foco deste artigo. Primeiramente, deve-se ressaltar o trabalho de forma multidisciplinar que é uma das bases do projeto PET e foi o fio condutor do grupo, cujas facilitadoras assim como a preceptora eram pertencentes a áreas distintas da saúde: medicina, educação física e psicologia. Entende-se que este tipo de trabalho que integra diferentes áreas da saúde é bastante enriquecedor, pois leva até o paciente o benefício do conhecimento integrado a serviço da sua saúde. Além disto, este tipo de trabalho também pode ser inserido na estratégia de apoio matricial, a qual também foi parte integrante da construção do grupo de atividade física e bem estar. Foi a partir desta estratégia de matriciamento que surgiram as demandas em saúde mental da comunidade onde o PET atuou, as quais proporcionaram Rev Epidemiol Control Infect. 2012;2(3):109-112

o surgimento do grupo de atividade física e bem-estar. De acordo com o guia prático de matriciamento em saúde mental, este é um novo modelo de se fazer saúde, no qual duas equipes, de forma conjunta, constroem um projeto terapêutico para os pacientes2. Tal estratégia é considerada inovadora, pelo fato de inverter a antiga lógica de atendimento na saúde que passou de uma perspectiva vertical e hierarquizada, na qual havia pouco ou quase nenhum espaço para discussão dos casos clínicos para uma perspectiva horizontal, na qual os profissionais possuem um espaço para trocar ideias e experiências com os profissionais especializados que prestam auxílio à equipe de referência. O apoio matricial foi importante não apenas para facilitar o trabalho da Estratégia da Saúde da Família (ESF) como também para evidenciar para as bolsistas PET que a comunidade da ESF em que elas estavam inseridas necessitava de cuidados na área da promoção em saúde mental. Tendo como base o trabalho multidisciplinar e como ferramenta o apoio matricial, os integrantes do PET, com o apoio da ESF e da comunidade, desenvolveram o Grupo de Atividade Física e Bem Estar. Este artigo busca relatar a experiência de duas acadêmicas no desenvolvimento teórico e prático deste grupo, assim como relatar o contexto no qual este desenvolveu-se: a inserção do graduando no campo de trabalho com o auxílio de preceptores, dos profissionais da saúde e da comunidade. As atividades do projeto PET Saúde Mental foram desenvolvidas de março de 2011 a Fevereiro de 2012 nos distritos Leste e Nordeste de Porto Alegre que abrangem uma população de aproximadamente 178 mil pessoas3. Especificamente o Grupo de Exercício Físico e Bem Estar realizou-se no período de julho de 2011

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GRUPO DE ATIVIDADE FÍSICA E BEM-ESTAR NA ATENÇÃO PRIMÁRIA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA DO PET-SAÚDE MENTAL EM PORTO ALEGRE Lidiane Tavares Mielczarski, Franciane Gonçalves Lima, Luciana Balestrin Redivo Drehmer.

a fevereiro de 2012, em uma ESF do distrito leste/nordeste do município de Porto Alegre. Foi escolhido este espaço territorial por tratar-se da área de abrangência e cuidado social da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) cujas bolsistas do projeto são acadêmicas e a preceptora é professora da instituição, além de funcionária da Prefeitura Municipal de Porto Alegre. Este grupo foi realizado por uma acadêmica de medicina e uma da educação física, acompanhadas por um Agente Comunitário de Saúde (ACS) da unidade, tendo duração de uma hora e frequência de dois encontros semanais. Tais encontros dividiam-se em discussão inicial, dinâmicas de integração, exercícios físicos, relaxamento e discussão final, sendo que o assunto em pauta era sugerido prioritariamente pelos integrantes do próprio grupo, de acordo com suas demandas. Quanto às questões éticas, a responsável pela equipe da ESF assinou um termo de ciência da atividade, autorizando a realização das atividades e a participação dos usuários daquela ESF respeitando os cuidados de sigilo e privacidade. O projeto guarda-chuva do PET Saúde Mental foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da PUCRS, sob protocolo número 11/05393, sendo aprovado em 24 de junho de 2011. O grupo de exercício Físico e Bem Estar teve como principal objetivo a promoção da saúde mental, utilizando como principais recursos o diálogo, a formação de uma identidade de grupo, o convívio social e o exercício físico.

A FORMAÇÃO DO GRUPO E SUAS REPERCUSSÕES O trabalho inicial dos alunos iniciou-se com o acompanhamento das reuniões de equipe de algumas ESFs e Unidades Básicas de Saúde, assim como por meio do apoio matricial. Neste contexto, surgiu a demanda trazida pela equipe da ESF Milta Rodrigues de criar um grupo de atividade física específico para certas patologias. A partir disto começou-se a analisar quais seriam as doenças que poderiam obter um maior benefício com o exercício físico, e que fossem de maior importância epidemiológica naquela comunidade. Foram escolhidas a hipertensão arterial sistêmica, o diabete melitus, além de doenças reumatológicas com caráter crônico, como algumas artrites e artroses. A ideia inicial da equipe foi que houvesse três horários de grupo, um para cada patologia, quando se poderia trabalhar com a atividade física de forma específica para cada demanda. Porém, apenas dois horários foram disponibilizados, em função de que ainda não havia sido realizada a mobilização dos usuários portadores de diabetes para o seguimento no grupo. Sendo assim, destes dois horários, um foi designado a pacientes com hipertensão e outro a pacientes com questões reumatológicas. O encaminhamento dos usuários se deu através do médico e ACS da ESF, na qual o trabalho foi realizado. O primeiro, durante a consulta clínica, verificava indicação e interesse do usuário em participar do grupo, já o segundo atuava na comunidade reforçando o convite realizado pelo médico. Desta forma, pode-se perceber a importância do trabalho integrado da equipe que possibilitou a concretização deste projeto. No decorrer das atividades grupais, notou-se que o modelo adotado passou a ser demasiadamente específico. Contemplava exclusivamente as características da patologia e deixava-se de lado a integralidade do ser humano. Tal conclusão foi desenvolvida inclusive com base nas opiniões dos integrantes dos grupos, os quais demonstravam a necessidade de dialogar Rev Epidemiol Control Infect. 2012;2(3):109-112

sobre diferentes questões para além do adoecimento físico, exigindo uma escuta ampliada por parte das facilitadoras dos grupos. Percebeu-se que quando outros temas eram foco de atenção, como a alimentação, o corpo e aspectos das histórias de vida dos usuários, os mesmos se mostravam mais ativos e interessados, tornando o ambiente mais propício a discussão e produção grupal. Utilizou-se então um novo dispositivo grupal no qual privilegiava as demandas de saúde física e aspectos psicossociais que emergia da fala dos usuários participantes. Desta forma, as patologias passaram a ser consideradas como pano de fundo, e as demandas biopsicossociais, o foco do trabalho. O principal objetivo desta mudança foi promover a saúde mental e o bem-estar dos usuários, através de uma escuta ampliada, dinâmicas de grupo e exercícios físicos acompanhados pelas facilitadoras. Desta forma, foi desenvolvido um grupo de educação em saúde, tomando a proposta de prevenção e promoção valorizada pelo Ministério da Saúde para garantir a qualidade de vida da população 4. Desta forma, modificando e ampliando o foco do grupo, passou-se a oferecer dois horários nos quais a comunidade podia participar de forma mais abrangente e flexível, independente do tipo de patologia do paciente. Com o decorrer das atividades, também foi possível notar que o número de participantes do grupo passou a ampliar-se, por ações dos próprios usuários, que por um movimento voluntário, passaram a convidar pessoas próximas, como vizinhos e amigos, entendendo que o grupo poderia também beneficiá-los. Da mesma forma, os ACSs também começaram a encaminhar outros usuários que conforme a sua leitura, necessitavam de um cuidado maior à saúde. É interessante salientar ainda que o grupo foi criando uma identidade própria desprovida de olhar sobre a patologia especificamente, mas com foco na saúde integral por meio de novos modelos de relação desenvolvidas pelo encontro grupal. Com este caráter de educação para saúde, objetivou-se melhorar a saúde daqueles que já possuíam patologias crônicas e promover o bem estar a esses, bem como àqueles previamente hígidos. Este novo modelo de grupo foi constituído de quatro momentos por encontro. O primeiro momento realizava-se uma discussão, na qual o grupo trabalhava com temas trazidos pelos usuários evidenciando suas demandas, expectativas e possibilidades. Se o grupo apresentasse alguma dificuldade em dar início às atividades, as facilitadoras iniciavam o processo a partir do histórico do grupo. Inicialmente foram propostos os temas como o que é saúde e doença, autoestima, autocuidado e alimentação. Com o decorrer dos encontros os participantes começaram a sugerir temas, como as vivências pessoais, história de vida e hábitos alimentares sendo que os aspectos emocionais se mostravam sempre envolvidos. A segunda parte do encontro tratava-se de um momento mais prático de maior descontração do grupo, no qual lhes eram propostas dinâmicas com músicas e movimentos. Para que o grupo pudesse conhecer-se mais, especialmente no que se refere à consciência corporal. Este também era um momento de incentivo a prática de atividades físicas em horários fora do grupo, quando os facilitadores recomendavam a prática de alongamentos em casa e de caminhadas ao ar livre, pois, além de melhorarem a integração do grupo também promovem o bem-estar físico. Após o exercício, reservava-se um espaço para um relaxamento, no qual os participantes sentavam-se, fechavam seus Páginas 02 de 04 não para fins de citação


GRUPO DE ATIVIDADE FÍSICA E BEM-ESTAR NA ATENÇÃO PRIMÁRIA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA DO PET-SAÚDE MENTAL EM PORTO ALEGRE Lidiane Tavares Mielczarski, Franciane Gonçalves Lima, Luciana Balestrin Redivo Drehmer.

olhos e refletiam a partir de uma música agradável. Tal momento foi desenvolvido para que os integrantes do grupo pudessem produzir um relaxamento após a atividade física e fossem estimulados a realizar práticas de autocuidado. Por fim, reservava-se mais um momento para o diálogo, no qual os participantes eram estimulados a expressarem-se sobre como se sentiam durante o grupo, podendo sugerir temas para a reunião seguinte e/ou ideias que contribuíssem para o aperfeiçoamento do grupo, de maneira que o mesmo ficasse cada vez mais moldado de acordo com as necessidades dos usuários.

O TRABALHO DE GRUPOS NA ATENÇÃO PRIMÁRIA Segundo Abrahão e Freitas (2009), os grupos educativos na atenção primária tiveram um grande crescimento nos últimos anos por abordarem os indivíduos de uma forma mais ampliada 5. Para os autores, este tipo de trabalho vem sendo incentivado por políticas e programas nacionais. Na estratégia do matriciamento, o trabalho de grupos é amplamente difundido, por ter a capacidade de ampliar a capacidade assistencial e permitir uma melhor organização do trabalho em saúde1 . Um estudo realizado por Maffacciolli e Lopes em Porto Alegre (2011), demonstrou a popularidade do trabalho de grupos, pois numa abordagem de 116 profissionais, de um total de 124 serviços de saúde, 83% das unidades apresentavam atividades de grupos, na sua grande maioria em Estratégias de Saúde da Família. O mesmo artigo aponta que este é um trabalho que privilegia a promoção da saúde, criando um espaço no qual o usuário pode se manifestar 6 . Em relação à atividade desenvolvida percebeu-se que a adesão ao trabalho foi facilitada pela modalidade grupal sendo que os usuários desenvolveram uma forma coletiva de promover a saúde geral. As atividades físicas ajudaram a promover um estilo de vida ativo, parte integrante de uma vida saudável. Neste sentido, Roeder et al (1999), mostra que a prática de atividades corporais contribui para um melhor bem-estar e uma melhora da autoimagem, sugerindo ainda, a melhora do humor e do afeto. Para a autora, tais melhoras acontecem quando os indivíduos percebem um melhor condicionamento de suas capacidades físicas levando-os assim a uma maior satisfação com a vida7. O trabalho de grupos na Atenção Primária vai ao encontro da estratégia de matriciamento, justamente por promover uma nova forma de acolhimento ao paciente. Além de ampliar a capacidade assistencial e de organizar melhor o trabalho em saúde, os grupos aqui descritos também tiveram o objetivo de capacitar, por via da atividade, os trabalhadores da unidade em questão. Foi possível mostrar uma nova forma de abordagem, não no formato didático ou de simples transferência de informações, mas sim de uma forma vivencial. A unidade participou, opinou, ajudou a construir este trabalho, e assim puderam se apoderar também dos temas abordados nos grupos, pois a participação de representante da ESF no grupo era constante. Dias, Silveira e Witt (2009), também mostram que o trabalho de grupos pode favorecer o crescimento de todos os envolvidos, tanto pessoal como profissionalmente, pacientes e trabalhadores de saúde 8 . Rev Epidemiol Control Infect. 2012;2(3):109-112

CONSIDERAÇÕES FINAIS Os grupos realizados nesta unidade tiveram a duração de sete meses. O projeto foi encerrado com o final do Programa PET Saúde Mental do qual as bolsistas, preceptores e tutora faziam parte. Entretanto, apesar do tempo reduzido, pôde-se notar algumas mudanças na equipe da ESF. De uma forma geral, os trabalhadores passaram a acreditar mais nos benefícios da prática de atividades físicas para a saúde em geral, tanto física como mental. Houve troca de conhecimentos e experiências que auxiliaram o crescimento tanto da equipe quanto das acadêmicas, proporcionando uma melhor formação para ambos. Outros grupos estão sendo realizados nesta ESF, considerando a experiência anterior e a importância do trabalho em grupo que possibilite um olhar para a integralidade do ser humano. O Grupo de Exercício Físico e Bem Estar não pode ser continuado, pois não encontrou-se um profissional de saúde nesta ESF que tenha sentido-se capacitado para continuar este projeto e também em virtude da indisponibilidade de horários. Considera-se importante refletir sobre o impacto do rompimento de atividades propostas para os usuários. Cria-se um trabalho a partir de uma demanda e a falta de mão de obra e capacitação impede a continuidade de projetos com bons resultados. Tal problemática que inclui a falta de capacitação sentida pelos profissionais da área da saúde também foi notada em outros trabalhos realizados em diferentes localidades do Brasil, como relatado no trabalho de Silveira e Vieira (2009), onde demonstram a falta de preparo dos profissionais de saúde da rede básica para receber e cuidar de pessoas com transtornos psíquicos graves (...)”9. Por meio da avaliação realizada no final dos encontros pelos integrantes dos grupos, notou-se bons resultados em relação à qualidade de vida geral (biopsicossial). Os usuários relataram perceber a atividade física e mudança no hábito alimentar como parte do processo de saúde e bem-estar. Tal percepção foi relatada pelos participantes aos facilitadores como uma mudança de vida ocorrida após o início do grupo. Percebe-se assim que a prática de grupos multidisciplinares com uma abordagem em atividade física e bem estar possibilitou uma melhora também à saúde mental geral destes pacientes, pois forneceu a eles um espaço para o diálogo, a integração e o autoconhecimento. Além disto, o desenvolvimento deste trabalho também oportunizou o crescimento profissional das bolsistas PET, as quais durante esta vivência puderam utilizar os aspectos teóricos aprendidos no espaço acadêmico para auxiliar, aprender e compartilhar com um dos serviços de saúde de seu município. A partir desta experiência, pode-se perceber a importância do fortalecimento da integração ensino-serviço-comunidade sendo essa uma estratégia do Programa Nacional de Reorientação da Formação Profissional em Saúde, o PRÓ-SAÚDE, em implementação no país desde 2005. Especificamente sobre a vivência do Grupo de Atividade Física e Bem Estar, pode-se dizer que a saúde mental também pode ser trabalhada na atenção básica com grupos que promovam o bem estar, pois apesar de aparentemente simples, esta prática pode promover o bem estar dos pacientes, o que pode ser uma ferramenta para auxiliar na prevenção de doenças mentais e na promoção da saúde no seu sentido mais amplo.

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GRUPO DE ATIVIDADE FÍSICA E BEM-ESTAR NA ATENÇÃO PRIMÁRIA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA DO PET-SAÚDE MENTAL EM PORTO ALEGRE Lidiane Tavares Mielczarski, Franciane Gonçalves Lima, Luciana Balestrin Redivo Drehmer.

REFERÊNCIAS 1.

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3. 4. 5.

PET-SAÚDE. Ministério da Saúde. Disponível em: http://portal. saude.gov.br/portal/saude/profissional/visualizar_texto. cfm?idtxt=35306. Chiaverini DH. Guia prático de matriciamento em saúde mental: Ministério da Saúde: Centro de Estudo e Pesquisa em Saúde Coletiva, 2011. Secretaria Municipal de Saúde. Prefeitura Municipal de Porto Alegre. Plano Municipal de Saúde 2010-2013, setembro de 2010. Ministério da Saúde. Política Nacional de Promoção da Saúde. Brasília: Ministério da saúde, 2010. Abrahão AL, Freitas CSF. Modos de cuidar em saúde pública: o trabalho grupal na rede básica de saúde. Revista de

Rev Epidemiol Control Infect. 2012;2(3):109-112

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Enfermagem UERJ. 2009;17(3):436-41. Maffacciolli R, Lopes MJM. Os grupos na atenção básica de saúde de Porto Alegre: usos e modos de intervenção terapêutica. Ciência & Saúde Coletiva. 2011;16(Supl. 1):973-982. Roeder MA. Benefícios da atividade física em pessoas com transtornos mentais. Rev Bras Ativ Fis Saúde. 1999;4(2):6276. 8. Dias VP, Silveira DT, Witt RR. Educação em saúde: o trabalho de grupos em atenção primária. Rev. APS. 2009;12(2):221-227. Silveira DP, Vieira ALS. Saúde mental e atenção básica em saúde: análise de uma experiência no nível local. Ciência e Saúde Coletiva. 2009;14(001):139-148.

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PUBLICAÇÃO OFICIAL DO NÚCLEO HOSPITALAR DE EPIDEMIOLOGIA DO HOSPITAL SANTA CRUZ

RELATO DE EXPERIÊNCIA

A importância dos grupos de gestante na atenção primária: um relato de experiência The importance of pregnancy groups in primary health care: report of an experience

Letícia Fernandez Frigo1,2*, Ruth Maurer da Silva1, Karen Mello de Mattos1,3, Franciele Manfio1, Giana Soares Boeira1 Centro Universitário Franciscano (Unifra), RS; 2Programa de Pós Graduação em Distúrbios da Comunicação Humana, Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Santa Maria, RS; 3Coordenadora do Pró-Saúde, Unifra e Tutora PET-Saúde Vigilância, Unifra/UFSM.

1

Recebido em: 14/05/2012 Aceito em: 20/08/2012 *

leticia_frigo@hotmail.com

DESCRITORES

Gestação, Saúde da Família, Grupos

KEYWORKS

Pregnant Women, Family Health, Group

No período gestacional, a mulher passa por grandes modificações nos âmbitos biológico, afetivo, emocional e sócio-cultural, é também nesta fase que se constrói o vínculo, fortalecido durante a amamentação. Em virtude das alterações hormonais, a mulher, quando está grávida, é muito mais sensível – seu humor pode variar da tristeza à alegria rapidamente – e o espírito materno leva-a a se preocupar muito mais com a sua saúde e, consequentemente, com a de seu futuro filho¹. A gravidez é uma condição que envolve muitos mitos, dúvidas, crenças e expectativas, que podem estar diretamente relacionados ao contexto familiar e social. As informações, experiências e conhecimentos transmitidos por amigas, vizinhas, mãe e marido podem influenciar tanto positiva como negativamente no ato de amamentar². A realização da assistência pré-natal é uma das práticas desenvolvidas por ambos os modelos de atenção primária. Alguns autores destacam uma relação direta entre a assistência pré-natal adequada e o nascimento do recém-nascido saudável3,4. Em outras palavras, quando os cuidados primários são oportunos e corretamente conduzidos durante a gestação, o risco de desfechos como baixo peso ao nascer e prematuridade pode ser reduzido5. Diante disso visualiza-se a constante necessidade de ações de saúde desenvolvidas por uma rede regionalizada e hierarquizada de atenção à saúde, com tecnologias adequadas a cada nível de atenção, visando ao atendimento integral da população6. O trabalho grupal deve ser utilizado como estratégia do processo educativo, pois a construção deste acontece a partir das interações entre seres humanos de forma dinâmica e reflexiva7. A técnica de trabalho com grupos promove o fortalecimento das potencialidades individuais e grupais, a valorização da saúde, a utilização dos recursos disponíveis e o exercício da cidadania8, de maneira geral os grupos são desenvolvidos com a finalidade de complementar o atendimento reRev Epidemiol Control Infect. 2012;2(3):113-114

alizado nas consultas, melhorar a aderência das gestantes aos hábitos considerados mais adequados, diminuir a ansiedade e compreender de forma mais clara os sentimentos que surgem neste período, permitem a aproximação entre profissionais e receptores do cuidado além de contribuírem para o oferecimento de assistência humanizada9,10. Frente à importância de grupos para essa população, este trabalho teve como objetivo relatar a experiência da equipe de saúde em um grupo de gestantes atendidas na rede de atenção primária de Santa Maria, RS.

RELATO O encontro do grupo de gestante é realizado nas dependências da Unidade Básica de Saúde Floriano Rocha, Região Oeste de Santa Maria e tem como objetivo criar um espaço para promoção de educação em saúde com as gestantes que antes não tinham um espaço de encontro. No local não havia atividades de educação em saúde disponíveis às gestantes. Participam do grupo os professores supervisores e estagiários das áreas de Nutrição, Fisioterapia e Psicologia, juntamente com as Agentes Comunitárias de Saúde (ACS) das microrregiões locais e as gestantes. Esses encontros acontecem uma vez por mês, onde são abordados temas sugeridos pelas áreas participantes e de interesse grupal. O tema é discutido pelos profissionais de acordo com a visão de cada área, possibilitando assim o esclarecimento das dúvidas trazidas pelas gestantes e posteriormente é realizada a entrega de materiais complementares sobre o assunto, contendo dicas e orientações para as gestantes. São propostas dinâmicas para maior integração do grupo de

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A IMPORTÂNCIA DOS GRUPOS DE GESTANTE NA ATENÇÃO PRIMÁRIA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA Letícia Fernandez Frigo, Ruth Maurer da Silva, Karen Mello de Mattos, Franciele Manfio, Giana Soares Boeira.

profissionais com as participantes, exercícios adequados para a prevenção das disfunções musculoesqueléticas nas gestantes, orientações nutricionais quanto aos desconfortos que ocorrem nesse período e sobre amamentação. O grupo caracteriza-se por ser um espaço onde se desenvolvem atitudes e comunicam-se conhecimentos, é interdisciplinar, e também se baseia na pré-experiência de cada indivíduo do grupo, constituindo-se numa estratégia para melhorar a qualidade de vida dessas pessoas, indo ao encontro com os princípios norteadores do Sistema Único de Saúde.

CONSIDERAÇÕES FINAIS Uma análise final do relato nos leva a concluir que,

para o grupo estudado, as percepções, saberes, sentimentos e experiências prévias das gestantes são fatores importantes para a promoção da saúde do binômio mãe-filho. Durante o período pré-natal é importante a orientação abordada em grupos de gestantes, com atividades em salas de espera, campanhas ou mesmo na consulta individual de cada profissional. As vivências dentro do grupo são fundamentais para o crescimento dos profissionais e informação das gestantes assistidas pelo grupo. Dessa forma, abordar as vantagens e as dificuldades que podem ocorrer durante a gestação, considerando os conhecimentos prévios e as expectativas das gestantes, os seus sentimentos, pode levá-las a se sentirem mais seguras para superar as possíveis adversidades do período gestacional e amamentação.

REFERÊNCIAS 1.

2.

3.

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Sousa M, Costa R, Ribeiro R. A influência de fatores culturais na alimentação da gestante e nutriz. Saúde & Amb Rev. 2008; 3(1): 128-129. Silva D, Lima D, Rosito D, et al. Percepções e saberes de um grupo de gestantes sobre aleitamento materno – um estudo qualitativo. RFO - Revista da Faculdade de Odontologia. UPF. 2008;13(2):7-11 Carroli G, Rooney C, Villar J. Who Programme to map the best reproductive health practices: how efetive is antenatal care in preventing maternal mortality and serious morbidity? An overview of the evidence. Pediatr Perinat Epidemiol. 2001;15(1):1-42. Kilsztajn S, Rossbach A, Carmo MSN, et al.Assistência pré-natal, baixo peso e prematuridade no Estado de São Paulo, 2000. Rev Saúde Públ. 2003;37(3):303-10. Minamisawa R, Barbosa MA, Malagoni L, et al. Fatores associados ao baixo peso ao nascer no Estado de Goiás. Rev Eletron Enferm. 2004;6(3):336-349.

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BRASIL Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Departamento de Atenção Básica. Manual para a organização da atenção básica. Brasília, DF:DAS: Coordenadoria de Desenvolvimento de Práticas de Atenção Básica, 1999. 7. Pichon-Riviére E. O Processo Grupal. 6. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000. 8. Reberte L, Hoga L. O desenvolvimento de um grupo de gestantes com a utilização da abordagem corporal. Rev Contexto Enferm. 2005;14(2):186-92. 9. Hoga L, Reberte L. Pesquisa-ação como estratégia para desenvolver grupo de gestantes: a percepção dos participantes. Rev Esc da Enferm. 2007;41(4):559-66. 10. Courtois M, Maldonado A, Zacarias E, et al. Experiencia grupal de mujeres embarazadas y en etapa posparto, y surelación com la depresión y algunos factores sociales. Rev Perinatol Reprod Hum. 2008;22(4):270-278.

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PUBLICAÇÃO OFICIAL DO NÚCLEO HOSPITALAR DE EPIDEMIOLOGIA DO HOSPITAL SANTA CRUZ

CARTA AO EDITOR

Promoção da saúde bucal: uma abordagem multidisciplinar Oral health promotion: a multidisciplinary approach

Elaine Alegre Bueno1*, Rafael Tamborena Malheiros1, Rodrigo de Souza Balk1 Fundação Universidade Federal do Pampa, Unipampa.

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Recebido em: 05/03/2012 Aceito em: 05/03/2012

DESCRITORES

elainebueno1@live.com

KEYWORKS

*

Saúde bucal, Saúde da Família, Multidisciplinaridade Oral health, Family Health, Multidisciplinarity

A boca é considerada a principal porta de entrada daquilo que comemos e bebemos, sendo também o local onde inicia o processo digestório. Desta forma, quando se pensa em saúde bucal, não se pensa apenas em ter dentes lindos e gengivas saudáveis. A função dos dentes no processo de mastigação e trituração dos alimentos é muito importante, dentes saudáveis são importantes para que seja possível falar bem e mastigar corretamente os alimentos. A escola é considerada um local adequado para a ampliação de programas de saúde por reunir crianças em faixas etárias propícias à adoção de medidas educativas e preventivas, porém, poucos programas têm trabalhado de forma multidisciplinar envolvendo a participação de crianças como agentes multiplicadores de conhecimentos em saúde¹. Neste trabalho relatamos que através da promoção da saúde conscientizamos crianças que a higiene bucal proporciona melhora na qualidade de vida física e emocional, e utilizamos estas como agentes multiplicadores. A assimilação do conhecimento e informações de manutenção da saúde bucal por parte das crianças foi feita de forma lúdica e divertida. Uma equipe de cinco acadêmicos de fisioterapia orientados por uma odontóloga, realizou encontros semanais em escolas, através de sessões entre 10 e 15 minutos onde os alunos assistiram histórias em multimídia com atividades de fixação orientando as

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crianças sobre a importância da saúde bucal, explicando a maneira de fazer uma correta higiene. Foram demonstrados cuidados diários preventivos, tais como a escovação e o uso do fio dental, evitando que problemas dentários se instalem. Devemos ter em mente que a prevenção é a maneira mais econômica, menos dolorosa e mais efetiva de se cuidar da saúde bucal, e que ao fazer prevenção, estamos evitando o tratamento de problemas que se tornariam graves ou constrangedores, podendo até mesmo, comprometer a autoestima. A saúde do indivíduo reflete o ambiente em que ele vive, as condições socioeconômicas e o nível de informação que possui, sendo assim, a educação é o caminho da prevenção e promoção da saúde, pois proporciona uma compreensão dos hábitos de higiene, estimula através da conscientização a importância do auto-cuidado, contribui para a manutenção da saúde do envolvido, é um serviço que será fator de diferenciação e destaque na vida futura deste.

REFERÊNCIAS 1.

Vasconcelos R. et al. Escola: um espaço importante de informação em saúde bucal para a população infantil. Rev Fac Odontol. 2001;4(3):43-51.

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PUBLICAÇÃO OFICIAL DO NÚCLEO HOSPITALAR DE EPIDEMIOLOGIA DO HOSPITAL SANTA CRUZ

CARTA AO EDITOR

Úlceras crônicas e o acolhimento de paciente sob a ótica da integralidade na atenção multidisciplinar: um relato de caso Chronic ulcers and patient management from the perspective of comprehensive health care in multidisciplinary attention: a case report Elaine Alegre Bueno1*, Rodrigo de Souza Balk2, Odete Messa Torres3 Bolsista PET-MEC, Universidade Federal do Pampa, Unipampa; 2,3Docentes, Tutores e coordenadores do PET-Programa Extensão Práticas Integradas em Saúde Coletiva, Unipampa.

1

Recebido em: 02/05/2012 Aceito em: 02/08/2012

DESCRITORES

elainebueno1@live.com

KEYWORKS

*

Saúde da Família, Cuidados Domiciliares de Saúde Family Health, Domiciliary Health Care

As úlceras venosas crônicas (UVC) ou úlceras de estase venosa são causadas devido à insuficiência venosa crônica por varizes primárias, trombose profunda, alterações valvulares ou outras causas que comprometam o retorno venoso, se constituindo em um grave problema de saúde pública por alteração na qualidade de vida dos indivíduos e causando grande morbidade. As UVCs são caracterizadas por soluções de continuidade, agudas ou crônicas da superfície epidérmica, dérmica ou mucosa, que pode ser acompanhada de processo inflamatório, não ocorrendo cicatrização em um período mínimo de seis semanas, acometendo preferencialmente membros inferiores de idosos, podendo ser do tipo: venosa, arterial ou neuropática¹. Devido à alta complexidade dos fatores que envolvem as pessoas com úlceras, estas necessitam de atenção integrada, realizada por uma equipe multidisciplinar que envolva fisioterapeutas, enfermeiros, nutricionistas, farmacêuticos, psicólogos, entre outros, para uma abordagem com mais eficiência, benefício e menor custo para o paciente, para um tratamento mais eficaz². Com o objetivo de atenção integrada, foi estruturado o programa de extensão universitária “Práticas Integradas em Saúde Coletiva” (PISC) da Universidade Federal do Pampa (Unipampa) onde acadêmicos junto a bolsistas do Programa de Educação Tutorial do Ministério da Educação (PET/MEC), realizam, como parte das atividades do programa, visitas domiciliares em residências previamente selecionadas pela Unidade de Saúde da Família (USF). Essas visitas primeiramente objetivam conhecer o usuário e suas necessidades, para posteriormente ser discutido entre professores e alunos as formas de intervenção para cada caso encaminhado pela USF. O grupo PISC é composto por alunos, técnicos em assuntos educacionais e professores da UNIPAMPA pertencentes às áreas de fisioterapia, enfermagem, farmácia e educação física. Fazem Rev Epidemiol Control Infect. 2012;2(3):116-117

parte da estratégia do PISC desenvolver ações que visem melhorar o aspecto geral de saúde física e emocional dos pacientes acompanhados pelo programa. Durante as reuniões semanais o grupo debate como está ocorrendo a evolução dos pacientes, os alunos recebem orientações acerca das intervenções a serem prestadas, a forma de proceder em cada caso e como cada área pode ser útil nas patologias encaminhadas pela USF. A participação do PISC na comunidade é uma forma da instituição retornar para a população os recursos investidos em educação, preparar melhor os acadêmicos e esses adquirirem vivências, trabalhando de forma integrada com outros cursos de graduação, exercitando de maneira prática as técnicas e manobras obtidas em sala de aula, dessa forma, os acadêmicos vão agregando conhecimento e somando experiência em multidisciplinaridade. Fazem parte das tarefas que os participantes do PISC desenvolvem enquanto bolsistas de extensão, acompanhar usuários, elaborar material informativo, orientar quanto ao uso de medicamentos, sobre os benefícios da prática de atividade física, promover alternativas no âmbito domiciliar buscando solucionar ou amenizar os problemas e necessidades identificadas, e até mesmo, realizar em dados momentos, a escuta de suas dificuldades caso seja necessário, como forma de contribuir para o seu processo de reabilitação. Este estudo foi realizado com um paciente do sexo feminino, idosa, solteira, sem filhos, obesa, sedentária, acometida de dores articulares devido a Artrite Reumatóide (AR), apresentando duas úlceras varicosas crônicas em membro inferior direito que foi encaminhada ao programa pela USF para ser avaliada pela equipe multidisciplinar de alunos da Unipampa pertencentes ao PISC. Após a anamnese sua condição foi discutida juntamente com outros casos, durante as reuniões do programa que ocorrem uma vez

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ÚLCERAS CRÔNICAS E O ACOLHIMENTO DE PACIENTE SOB A ÓTICA DA INTEGRALIDADE NA ATENÇÃO MULTIDISCIPLINAR: UM RELATO DE CASO Elaine Alegre Bueno, Rodrigo de Souza Balk, Odete Messa Torres.

por semana na universidade. Os acadêmicos envolveram não só a usuária, mas toda a família durante o tratamento. A importância do esclarecimento aos familiares os torna mais comprometidos e preparados para atender as necessidades da paciente, uma vez que são os primeiros a serem chamados em caso de emergência. Ao longo das visitas notou-se uma atitude mais positiva e otimista da mesma em relação ao seu estado de saúde, o tempo de cuidados e a interação com a usuária teve o diferencial da escuta, favorecendo a adesão ao tratamento proposto, o que reforça a necessidade

de um olhar mais integral ao usuário. Desta forma o programa desenvolvido com a participação dos alunos na comunidade aproxima a instituição da população criando e fortalecendo vínculos. É importante para o doente, pois obtém uma atenção baseada na integralidade, da mesma maneira para o estudante em formação, é uma oportunidade de preparar-se melhor, de adquirir a vivência que contribui para ampliar seus conhecimentos científicos, manter maior contato com a realidade profissional e não apenas o conhecimento empírico da sala de aula.

REFERÊNCIAS 1.

Guimarães, DJS. Atualização no Cuidar aos Pacientes Portadores de Úlceras Venosas. Salvador, 2010. Disponível em: http://www. webartigos.com/artigos/atualizacao-no-cuidar-aos-pacientesportadores-de-ulceras-venosas/41627/.

Rev Epidemiol Control Infect. 2012;2(3):116-117

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Abbade, LPF, Lastória, S. Abordagem de pacientes com úlcera da perna de etiologia venosa. Anais brasileiros de dermatologia, São Paulo, Ann. Bras. Dermatol. 2006;81(6):509-22.

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PUBLICAÇÃO OFICIAL DO NÚCLEO HOSPITALAR DE EPIDEMIOLOGIA DO HOSPITAL SANTA CRUZ

CARTA AO EDITOR

Atuações interdisciplinares na saúde domiciliar Interdisciplinary actions in domiciliary health care

Elaine Alegre Bueno1*, Rodrigo de S. Balk2, Odete M. Torres3 Bolsista PET-MEC, Universidade Federal do Pampa, Unipampa; 2Docente de Fisioterapia da Unipampa-Tutor PET-MEC. Tutora PET-MEC e docente do curso de Enfermagem, Unipampa.

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Recebido em: 02/05/2012 Aceito em: 10/06/2012

DESCRITORES

elainebueno1@live.com

KEYWORK

*

Cuidado Domiciliar, Multidisciplinaridade Domiciliary Health Care, Multidisciplinarity

Praticar saúde no domicílio é tão antigo quanto viver em sociedade, além de ser uma alternativa mais humanizada com um cuidado especial em outro espaço que não seja o hospital1. Nas residências observamos doentes e cuidadores, dessa forma, a incapacidade do paciente determina seu nível de dependência por assistência e, logo, um desafio ao cuidador familiar2. A realização das atividades diárias exige esforço físico por parte de quem as realiza e quanto mais dependente é o paciente, mais desgastante é esse cuidado3, acrescentando-se a isso a pouca informação por parte dos cuidadores com relação a medicamentos e formas de promover o autocuidado. A pessoa que assiste o paciente em suas necessidades, aqui denominada de “cuidador”, pode fazer parte da família ou ser alguém contratado para a realização deste serviço4. Achados literários evidenciam que o cuidador frequentemente sofre sobrecarga física e emocional acarretando em problemas físicos, psicológicos, sociais e financeiros, o que afeta o bem-estar deste e do próprio doente5. Na maioria dos casos, a atenção para promoção, prevenção e reabilitação está focada naqueles indivíduos já acometidos por alguma doença e os cuidadores são negligenciados, contribuindo para o crescimento da procura por atendimento nos postos de saúde6. O presente trabalho consiste num relato de experiência de uma das atividades desempenhadas por acadêmicos dos cursos de fisioterapia, enfermagem, educação física e farmácia da Unipampa e bolsistas de extensão do Programa de Educação Tutorial (PET), durante visitas domiciliares realizadas em famílias da comunidade, pelo projeto de extensão com registro 52/11, intitulado: Programa de Extensão Práticas Integradas em Saúde Coletiva (PISC), durante o ano de 2010. O grupo interdisciplinar, a partir da indicação da Unidade

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de Saúde e através de visitas domiciliares busca o diálogo com a comunidade, a escuta de demandas e a resolução dos problemas, promovendo atenção à saúde, buscando a promoção da mesma. Sendo assim, os acadêmicos do programa desenvolveram de forma dialógica ações na comunidade de orientações tais como a correta postura do acamado, dieta adequada, uso consciente de medicamentos, além do incentivo a prática de exercícios físicos regulares. No desenvolver das visitas, realizadas duas vezes por semana, observou-se que parte da população de famílias assistidas pelo programa, necessita do auxílio de outra pessoa para a realização de atividades cotidianas básicas. A tarefa de cuidar de alguém se soma a outras atividades do dia-a-dia, sobrecarregando o cuidador, além do escasso acesso sobre educação em saúde e ausência do autocuidado, foi também identificado como fator de risco à saúde dos cuidadores7. Após a indicação do posto e dos problemas relatados pelos cuidadores, os acadêmicos verificam a necessidade de uma orientação a esses indivíduos e visando os benefícios do autocuidado, foi promovida a educação e saúde dessa população, através de conversas e ensinamentos de manobras que facilitem o manejo com os acamados, bem como prestando informações sobre enfermidades e medicações, contribuindo para melhorar sua qualidade de vida física e emocional, pois com as orientações que obtiveram são capazes de prevenir futuras lesões8,9. As estratégias desenvolvidas pelos acadêmicos contribuem para diminuir a demanda do posto de saúde, uma vez que a promoção e prevenção são medidas adequadas para manutenção de uma vida mais saudável e promove uma melhor qualidade de vida, favorecendo os indivíduos cuidadores, habilitando-os para prevenção de lesões e doenças10.

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ATUAÇÕES INTERDISCIPLINARES NA SAÚDE DOMICILIAR Elaine Alegre Bueno, Rodrigo de S. Balk, Odete M. Torres.

REFERÊNCIAS 1.

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Abrahão AL, Lagrange V. A Visita Domiciliar como uma Estratégia da Assistência no Domicílio. Coleção Educação Profissional e Docência em Saúde: a formação e o trabalho do agente comunitário de saúde. 2007;1(4):151-171. Bocchi SCM. Vivenciando a sobrecarga ao vir-a-ser um cuidador familiar de pessoa com acidente vascular cerebral (AVC): análise do conhecimento. Rev. Latino-Am. Enfermagem. 2004;12(1): 115-21. Perlini NMOG, Faro ACM. Cuidar de pessoa incapacitada por acidente vascular cerebral no domicílio: o fazer do cuidador familiar. Rev Esc Enferm. 2005;39(2):154-63. Brasília: Guia prático do cuidador, Série A. Normas e Manuais Técnicos. Ministério da Saúde. Sec. de Gestão do Trabalho e Atenção a Saúde. Brasília 2008. Pereira MFC. Cuidadores Informais de Doentes de Alzheimer: Sobrecarga Física, Emocional e Social e Psicopatologia. Dissertação de Mestrado Instituto de Ciências Biomédicas de Abel de Salazar da Universidade do Porto. Disponível em: http://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/7152/2/ Cuidadores%20Informais%20de%20Doentes%20de%20 Alzheimer%20Sobrecarga%20Fis.pdf.

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Portal para Familiares e Cuidadores de Doentes de Alzheimer. Disponível em: http://cuidadores-alzheimer.web.ua.pt/index. html. Acessado em: 12 de março de 2012. 7. Silva CA, Mattila DM, Bertho EAA. Uma análise sobre a importância da prevenção das deficiências focando particularmente a prevenção primária. Trabalho de Conclusão de Curso Faculdade de Agudos. Agudos-SP, 2007. 8. Rezende VL, Derchain SFM, Botega NJ, et al. Depressão e ansiedade nos cuidadores de mulheres em fase terminal de câncer de mama e ginecológico. Rev Bras Ginecol Obstet. 2005; 27(12):737-43. 9. Brasil: Ministério da Saúde. Secretaria Nacional de Ações Básicas de Saúde. Divisão Nacional de Educação em Saúde. 2004. Disponível em: < http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/ guia_pratico_cuidador.pdf>. Acessado em 16 de março de 2012. 10. Oliveira E, Andrade IM, Ribeiro RS. Educação em saúde: uma estratégia da enfermagem para mudanças de comportamento. Conceitos e reflexões. Trabalho de Conclusão de Curso de Especialização. Universidade Católica de Goiás. Especialização em Saúde Pública. Goiânia, 2009; 33(4 Supl. 4).

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PUBLICAÇÃO OFICIAL DO NÚCLEO HOSPITALAR DE EPIDEMIOLOGIA DO HOSPITAL SANTA CRUZ

CARTA AO EDITOR

Papel da atenção básica no controle da tuberculose The role of primary care in tuberculosis control

Gisela Unis* Hospital Sanatório Partenon, Porto Alegre, Rio Grande do Sul

Recebido em: 22/05/2012 Aceito em: 28/05/2012

DESCRITORES

guatapi@gmail.com

KEYWORKS

*

Tuberculose, Atenção Básica, Saúde da Família Tuberculosis, Primary Care, Family Health

A tuberculose (TB) é uma doença infecciosa, contagiosa, que afeta 14 milhões de pessoas em todo o mundo. É uma doença associada à pobreza, afetando, principalmente, adultos jovens em seus anos produtivos. Segundo a OMS, o número de pessoas com TB está em redução, desde 2005. A incidência global estimada foi de 128 casos/100 mil habitantes em 2010 depois de alcançar um pico de 141 casos/100 mil em 2002. Entre os 22 países que possuem as maiores prevalências de tuberculose, o Brasil e a China apresentam um declínio sustentado dos casos nos últimos 20 anos¹. Dados do Ministério da Saúde (MS) do Brasil revelam que, pela primeira vez, os casos de tuberculose foram inferiores a 70 mil. O número de casos registrados no último ano reduziu 3,5%: foram 71.790 em 2010 contra 69.245 em 2011. Na última década, o Brasil registrou queda de 15,9% na taxa de incidência da tuberculose. Em 2011, foram registrados 36 casos/100 mil habitantes, contra 42,8 casos/100 mil habitantes em 2001. Com relação aos óbitos, a redução foi ainda maior: a taxa de mortalidade caiu 23,4% em uma década. O País registrou 3,1 óbitos/100 mil habitantes em 2001, passando para 2,4/100 mil habitantes em 20102. Várias medidas foram realizadas, mundialmente e regionalmente, para diminuir a prevalência, incidência e mortalidade. Estratégias para detecção e tratamento precoce de fatores associados ao insucesso do tratamento como co-infecção HIV, alcoolismo, abuso de drogas e condições sociais estão sendo priorizadas para minimizar o aumento do número de casos e a resistência aos fármacos3-5. O MS alterou as Diretrizes para tratamento da tuberculose no final de 2009. No RS, esta modificação de esquema terapêutico foi implementada no final de 2010 com o acréscimo de uma quarta droga: o Esquema Básico (EB) com duração de 6 meses e a introdução do esquema padronizado de multirresistência com 5 drogas com um tempo mínimo de tratamento de 18 meses6. Outra medida Rev Epidemiol Control Infect. 2012;2(3):120-121

foi a expansão do tratamento diretamente observado (TDO) que, atualmente, 71,5% das unidades de saúde o oferecem, bem como o aumento na cobertura das Equipes de Saúde da Família (ESF). Em 2011, foram notificados no Brasil, 56,3% dos casos de tuberculose na Atenção Básica (AB), sendo que em 2001 eram 25,2%2. O Estado do RS está atrasado em relação ao restante do país na implementação desta modalidade de tratamento, sendo uma das regiões com o menor percentual de TDO (até 2008 era menos de 20%)7. É considerado TDO a supervisão direta da tomada da medicação, por um profissional da saúde, 3 vezes na semana nos primeiros 2 meses de tratamento e 2 vezes por semana nos 4 meses subsequentes. As modificações nas diretrizes do MS impõem uma reestruturação na rede de assistência ambulatorial nos municípios. Todas as equipes de ESF realizarão avaliação de sintomáticos respiratórios (possíveis portadores de TB), baciloscopia de escarro para diagnóstico da doença e tratamento com EB para pacientes com BAAR positivo. Além disso, deverão realizar avaliação dos contatos dos doentes identificados, no novo formato preconizado pelo MS. A complexidade da situação da tuberculose expõe a necessidade de uma abordagem compartilhada por diversos profissionais de saúde e da descentralização do atendimento com fortalecimento do envolvimento da atenção básica. A AB deve dispor de profissionais generalistas capacitados para todas essas particularidades. Suas competências são indicar e prescrever o EB, acompanhando os casos sob TDO, baciloscopias mensais de controle até o final do tratamento, identificar precocemente a ocorrência de efeitos adversos, receber os casos contrarreferenciados e encaminhar à unidade de referência os casos nas seguintes situações: casos com forte suspeita clínica, radiológica, com baciloscopias negativas, casos de difícil diagnóstico, casos de efeitos adversos que determinem a suspensão do tratamento, falência; qualquer tipo de resistência

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PAPEL DA ATENÇÃO BÁSICA NO CONTROLE DA TUBERCULOSE Gisela Unis

e casos com evolução clínica desfavorável. A referência secundária é responsável por dar suporte à AB com profissionais especialistas ou generalistas com experiência em TB enquanto a referência terciária é formada por equipe multidisciplinar formada por especialistas, capacitada para o manejo da TB resistente e sua complexidade. A meta brasileira até 2015 é reduzir a prevalência e as mortes

por TB em 50% comparados com o ano de 1990, conforme objetivo de desenvolvimento do milênio, estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde8. É necessário implantar plenamente as medidas estabelecidas para melhorar os indicadores de cura, interrompendo a cadeia de transmissão. Espera-se que o fortalecimento do sistema básico de saúde contribua para mudar o panorama da TB no país.

REFERÊNCIAS 1. 2.

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WHO. Tuberculosis Global Facts. 2011/2012. Disponível em: http://www.who.int/tb/publications/2011/factsheet_tb_2011.pdf Informe ENSP. Tuberculose: Brasil reduz número de casos em 3,54% no último ano. Disponível em: http://www.ensp.fiocruz. br/portalensp/informe/site/materia/detalhe/29860 Campani S, Moreira JS, Tietbohl CN. Fatores preditores para o abandono do tratamento da tuberculose pulmonar preconizado pelo Ministério da Saúde do Brasil na cidade de Porto Alegre (RS). J Bras Pneumol. 2011;37(6):776-782. Brasil PEAA, Braga JU. Metanálise de fatores relacionados aos serviços de saúde que predizem o abandono de tratamento por pacientes com tuberculose. Cad. Saúde Pública. 2008;24

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(Sup 4):S485-S502. Silveira SC, Passos PT, Soder TCH, et al. Perfil epidemiológico dos pacientes que abandonaram o tratamento para tuberculose em um município prioritário do Rio Grande do Sul. Rev Epidemiol Control Infect. 2012; 2(2): 46-50. Ministério da Saúde (Brasil). Manual de recomendações para o controle da tuberculose no Brasil. 284p. 2011. CEVS. Centro Estadual de Vigilância em Saúde.Dados não publicados. WHO. Global Tuberculosis Control. 2011. [acesso em 2012 Jun 11]. Disponível em: http://www.who.int/tb/publications/ global_report/2011/gtbr11_full.pdf.

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