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Ela se levantou e mostrou as botas, que iam quase até os joelhos. “Está no melhor estilo Kalinda Sharma”, eu falei. “Ele vai fazer de tudo pra evitar o pé na bunda.” “Até parece”, ela duvidou. “Estas botas são a minha vingança. Ele só me ligou ontem à noite, ficou quase quatro dias sem fazer contato. Não é nada de mais, só que eu quero um cara que seja louco por mim. Que pensa em mim tanto quanto eu penso nele, e que fique chateado se não pudermos estar juntos.” Eu concordei com a cabeça, me lembrando de Gideon. “Vale a pena esperar pelo cara certo. Quer que eu ligue durante o almoço pra criar um pretexto pra você se mandar?” Ela sorriu. “Não precisa. Mas obrigada.” “Certo. Mas se mudar de ideia é só avisar.” Fui até a minha mesa e comecei a trabalhar imediatamente, decidida a compensar o período de ausência no dia anterior. Mark também estava a todo vapor, e desviou sua atenção do trabalho apenas uma vez, para dizer que Steven tinha um caderno abarrotado de ideias para cerimônias de casamento que vinha juntando fazia anos. “Por que isso não é exatamente uma surpresa pra mim?”, eu comentei. “Mas pra mim foi.” Mark abriu um sorriso afetuoso. “Ele guardava tudo no escritório, pra eu não ficar sabendo.” “E ele mostrou tudo pra você?” “Cada uma das páginas. Demorou horas.” “Vai ser o casamento do século”, eu provoquei. “Pois é.” Havia preocupações de sobra no mundo, mas a expressão dele era de uma alegria tamanha que eu não conseguia parar de sorrir ao seu lado. Meu pai me ligou pouco depois das onze. “Oi, querida”, ele falou, em resposta à minha saudação profissional. “Como está o seu dia?” “Ótimo.” Eu me recostei na cadeira e olhei para a foto dele em cima da mesa. “Dormiu bem?” “Muito bem. Estou precisando me esforçar pra ficar acordado.” “Por quê? Você pode voltar pra cama e ficar de preguiça.” “Liguei para avisar que não vou poder almoçar com você hoje. Vamos deixar isso para amanhã. Hoje eu quero conversar com a sua mãe.” “Ah.” Eu conhecia bem aquele tom de voz. Era o mesmo que ele usava ao prender as pessoas, a mistura perfeita de afirmação de autoridade e demonstração de desapontamento. “Olha, eu não vou me meter na conversa entre vocês. Não vou tomar partido de ninguém. Vocês são adultos e sabem muito bem se virar sozinhos. Mas sou obrigada a dizer que a mamãe queria muito contar tudo pra você.” “E deveria ter contado.” “Ela estava se sentindo sozinha no mundo”, eu continuei, batendo com os pés no carpete, “no meio de um processo de divórcio, prestando queixas contra


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