Por Terras Lusófonas

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Por Terras Lusรณfonas

Klรกra Lakomรก


Ficha Técnica

Título: Por Terras Lusófonas Autora: Klára Lakomá Revisão: Maria João Soares Ano de edição: 2011 Publicação disponível em http://rato-adcc.pt


Para a Maria João que mostrou-me como os portugueses podem ser amáveis; e para o Jorge que mostrou-me uma grande parte do seu País lindíssimo.


Conteúdo Introdução e agradecimentos ............................................................................................................. 1 Eu e o mundo Lusófono....................................................................................................................... 2 Porquê o SVE? ..................................................................................................................................... 4 Porquê o Março Jovem? ..................................................................................................................... 5 Sentimentos á chegada ....................................................................................................................... 6 Já desfolharam algumas páginas e ainda não sabem o que é o Março Jovem? ...................... 7 Porque é que Março é o mês dos jovens? ..................................................................................... 10 Março Jovem para os jovens ............................................................................................................ 12 Entretanto: ........................................................................................................................................... 14 Março Jovem começa finalmente! ................................................................................................... 16 Quem está por detrás do Março Jovem?........................................................................................ 18 O SVE e os nossos projectos ........................................................................................................... 19 Um dia bonito ...................................................................................................................................... 21 Tanto aconteceu ................................................................................................................................. 24


Introdução e agradecimentos Este livrinho foi escrito como forma de projecto final para o Serviço Voluntário Europeu. Comecei a elabora-lo no meio do mês de Fevereiro e terminei-o a meio de Abril de 2011. O mesmo inclui algumas histórias divertidas e momentos agradáveis que aconteceram nesse entretanto. Ao lerem o meu livrinho vão aperceber-se que, em Portugal, realizei diversas experiências pela primeira vez na vida. A aventura de documentar por palavras, experiências por terras Lusitanas foi uma delas. O meu desejo é que estas palavras sejam o inicio de um livro de verdade, um livro, que venha a projectar um dia, o meu nome por toda a eternidade. Gostaria de deixar o meu muito obrigado às pessoas que tornaram possível este projecto: À Zuzana, a minha melhor amiga Eslovaco-Americana, uma extraordinária para viajar. A correcção do texto em Inglês foi obra sua.

companhia

À Maria João, a rapariga Portuguesa mais doce que conheci durante a minha estadia em Portugal. Foi muitíssimo paciente por corrigir todo o meu texto elaborado em Português. A estas duas amigas um “GRANDE OBRIGADO”, pois sem elas não teria sido possível completar o livrinho. Três demais agradecimentos devem-se ainda: À Zuzana, a minha irmã e a minha melhor amiga Checa. A pessoa que toma conta do meu gato enquanto exploro Portugal. Ela é a melhor irmã do mundo e uma fantástica companheira de viagem. Ao Milos, o meu namorado, que me permite a liberdade necessária para explorar o mundo, e que me irá acompanhar para casa no fim desta viagem, pois iremos terminá-la juntos. È também uma grande companhia de viagem e o melhor companheiro para a vida. À Justyna que me deu o espaço que eu precisei para desenvolver o projecto. Acho também correcto agradecer aos intervenientes, aquelas pessoas que surgem neste livro sob a forma de personagem reais. Se a sua existência não se tivesse cruzado com a minha, de forma algo significante, não teria sido possível enriquecer o livrinho com a ajuda das suas descrições. OBRIGADA. Em Miratejo, Município de Seixal, 2011

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Eu e o mundo Lusófono O meu primeiro encontro com o mundo lusófono deu-se quanto tinha ainda 18 anos. Nesse Verão vim uma semana a Portugal com a “minha família inglesa”. Durante esses dias trabalhei em troca de comida e de novas experiências... O Algarve foi o nosso destino, e, á excepção da pequena Vila onde ficamos hospedados, não explora-mos muito mais da área envolvente. Fiquei muito grata pela pequena mas boa experiência. O meu segundo encontro com o mundo lusófono e com a língua Portuguesa foi bem diferente do que algum dia imaginara. Depois de obter o bacharelato em Gestão de Turismo, durante o qual eu me havia especializado em Países de Língua Oficial Inglesa, senti que precisava de uma mudança. Apesar de adorar os estudos, e de ter conseguido o máximo enquanto estudante, ansiava por uma nova aventura. Por alguma razão havia “apostado” num mestrado em Ciências Politicas Africanas. Nunca havia visitado este Continente, apesar de o imaginar lindíssimo, e, por isso queria aprender mais sobre o mesmo e encontrar coragem para iniciar a minha aventura. Dois meses após o inicio do primeiro semestre na escola, vi no Web Site universitário um anúncio, que falava sobre a oportunidade dos estudantes obterem uma bolsa de estudos e passarem um semestre no Ghana ou em Cabo Verde. Nessa altura disse a mim mesma: “Klara, coragem, vai para o Ghana, dominas a língua Inglesa e tens todo o entusiasmo necessário para embarcar nesta aventura!“ Foi aí que uma segunda voz interna me falou: “Vai mas é para Cabo Verde, tu és apaixonada por línguas, para além do deslumbre da viagem ainda aprendes um Idioma novo. Já para não falar do horrível medo que tens de cobras. Não há cobras em Cabo Verde, enquanto no Ghana, assim que desembarques do avião, uma serpente enorme irá engolir-te de uma virada só! E, já agora, um ultimo á parte… Cabo Verde, aquelas ilhas trópicas no médio do Oceano Atlântico… Consegues sequer imaginar? Não? Então mexe esse rabo e vai explorar”. E assim, lá fui eu… Tudo aconteceu muito rápido. A experiência nem sempre foi levada a cabo da forma fácil, pois eu era a única pessoa de etnia branca na Universidade. Todas as atenções recaíram sobre mim, e, isso nem sempre foi agradável. Apaixonei-me pelo País e pelo Idioma que, para além de muitas outras características, acho extremamente Sexy.

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Aquando da minha estadia em Cabo Verde tive a sorte para ir passar a Páscoa a Portugal. E… oh meu Deus! A Primavera em Portugal é simplesmente mágica. Aquele verde… (a minha cor preferida), nenhum lugar do mundo é mais verde que a Madeira, a ilha que deslumbrou os meus olhos com as paisagens mais lindas por mim, alguma vez absorvidas! Apreciei tanto a minha estadia em Portugal que decidi partilhar a experiencia ao meu namorado adorável. E depois disso, dividi um pedacinho daquele que se teria tornado o meu País preferido com minha irmã adorável. E depois de o ter mostrado a todos meus mais adoráveis, ainda não tinha o que bastasse, tinha de encontrar uma maneira de voltar! Então, aqui estou eu, pela quinta vez em Portugal! Sinto-me cada vez mais apaixonada pelo Pais! Comparo este sentimento com aquele que nutro pelo meu namorado, quando penso que o amor não tem mais por onde crescer, descubro algo novo que o torna ainda mais forte!

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Porquê o SVE? Porque decidi cooperar com o Serviço Voluntário Europeu? Eu não sei o que é que se passa comigo mas adoro fazer o voluntariado! Muito mais que ter um trabalho “apropriado”, aquele que me daria o dinheiro necessário para pagar a renda, para comprar a comida que adoro comer, as roupas lindas que gosto de vestir, para comprar as prendas que adoro dar. No entanto fazer voluntariado dá-me muito mais prazer que tudo isto junto! Sou saudável, tenho uma longa vida pela frente e pretendo vivê-la da melhor maneira possível. Apesar de não ter para vestir algumas roupas que gostaria de usar, de não ter sempre o melhor queijo e as melhores azeitonas para comer, e, com tudo isto o melhor vinho para beber (que considero ser parte integral de uma boa comida), nem nunca ter dormido num hotel de cinco estrelas, (pois a minha escolha para descansar durante as minhas viagens é uma simples tenda e tenho cá as minhas razões, pois nem sequer teria roupa apropriada para levar para um sítio desse tipo), apesar disto tudo, eu gozo muito a minha vida, gozo, é certo, de uma forma bem simples, bem mais á minha maneira, de acordo com a minha própria forma de estar na vida e com a minha personalidade. Simples!

Mais razões que me levaram a integrar o projecto: O SVE é uma oportunidade única na vida – Agarra-a! O SVE é só para jovens até aos 30 - Não lamentes quando já não tiveres idade. O SVE pode mudar a tua vida - Está sempre preparado para as mudanças. Agarrar a oportunidade pode tornar a tua vida mais excitante! Nem a todos é oferecida tal hipótese! O SVE - Quero fazer parte desta iniciativa por mais uns anos!

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Porquê o Março Jovem? Março Jovem foi-me descrito como um mês da juventude. Passa-se em Março para ser exacta. Durante todo este mês acontecem todo o tipo de eventos mais arrojados tais como concertos, eventos desportivos, teatro, cinema, desfiles de moda, enfim, demonstrações de arte de todo o tipo. Os concertos – Ok! Posso ouvir uma música. Os eventos desportivos – Maravilhoso! Adoro desporto. O teatro – Parece-me bem! Nem consigo imaginar a minha vida sem um bom teatro, onde rio da felicidade ou choro da tristeza, pois os actores são bons o suficiente para me transmitirem tais emoções. A arte – Fabuloso! Queria estudar história de arte enquanto frequentei a escola secundária! Cinema – Que bom! Trabalhava como a voluntária para “People in Need“ no projecto de História, cinema e direitos humanas, e, acredito que o cinema é um forte meio de comunicação. Desfiles de moda – “Venham eles”, porque não apreciar a beleza humana que por lá passará? – Pode ser uma fonte de inspiração. Muito mais – Está muito bem, a ver vamos o que mais vai acontecer!

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Sentimentos á chegada A Justyna, a Sónia e o Maksi foram buscar-me ao aeroporto. Quando cheguei estavam á minha espera com um cartaz A4 que dizia “Klara”. Fixe! Sempre sonhara com um encontro como este! É algo que normalmente só se vê nos filmes e que agora se tinha tornado realidade. Dei a todos dois grandes beijos portugueses como forma de dizer olá, depois tentei dizer algo á Sónia mas não consegui encontrar as palavras apropriadas! Grrr… já me esqueci de muitas expressões na minha língua tão amada! “Não te preocupes, Klara,” digo a mim própria, “vai melhorar”. Pelo menos não me esqueci de como dizer “vai melhorar”… E é algo em que ainda acredito piamente! A Justyna é uma rapariga de origem Polaca, voluntária na RATO, associação que a recebeu, há já cinco anos. Em nada me surpreende que tenha ficado por terras Lusitanas, faria o mesmo de muito bom grado. A Sónia é Cabo-verdiana (natural de cabo verde) “Dretu! Ami é dodo em Cabo Verde! – Fantástico! Sou doida por Cabo Verde!” O Maksi é Esloveno e chegou á RATO para trabalhar como o voluntário no mesmo projecto do que eu. Estamos no mesmo barco, pelo menos assim espero! Continuando então, o meu relato sobre a viagem, saímos do aeroporto, e de carro atravessamos a “ponte de São Francisco” – a ponte 25 de Abril, (outrora apelidada de Ponte Salazar, nome do Presidente da Republica na altura do antigo regime fascista Português, dando lugar ao nome actual, quando o regime caiu, no dia 25 de Abril de 1974) situada por cima do rio Tejo. Como é linda a travessia. Poucos minutos após a partida de Lisboa, chegáramos enfim ao nosso destino, Miratejo, onde eu, Maksi e dois outros voluntários iríamos coabitar durante os meses de voluntariado no lindo Pais á beira-mar plantado! Ao nosso dispor, um apartamento num décimo andar de um enorme prédio, para lá chegar dispomos de um claustrofóbico elevador. Esperam-me decididamente uns meses de exercício pela extensa escadaria. À minha chegada, já acomodados, estão dois voluntários. Um pintor grego, de seu nome (artístico) Zamie, e Yasemine, uma voluntária de origem Turca. Um Esloveno, uma Turca, um Grego e eu. Iremos coabitar durante o tempo que esta experiência durar, a ver vamos como irá correr, que surpresas o futuro nos trará!

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Já desfolharam algumas páginas e ainda não sabem o que é o Março Jovem? Não se preocupem, eu própria ainda não sei e já cá estou há três semanas! Para saber um pouco mais sobre Março Jovem, fiz uma pequena pesquisa na internet. Para ficar ainda mais esclarecida entrevistei um dos fundadores do festival, o Sr. Carlos Garcia e a Luísa Rodrigues, uma jovem muito amável que trabalha no projecto há já alguns anos. Podem saber mais sobre eles e sobre o Março Jovem na entrevista que segue: A entrevista com Carlos Garcia e Luísa Rodrigues: Eu pergunto: Em que ano começou o Março Jovem? O Carlos Garcia responde: Começou em 94. O Março Jovem está ligado aos Movimentos Associativos Juvenis que em 1993 sugiram no conselho. Está ligado também a uma tradição que as Câmaras Municipais tinham que se prendia a realizar iniciativas para a Juventude no mês de Março. Eu: E porquê no mês de Março? Carlos: Porque em Março se comemora duas datas um tanto ao quanto politicas, que são o Dia Nacional do Estudante e o Dia Internacional da Juventude. È também em Março que começa a Primavera, as pessoas curtem mais ao ar livre, logo é um mês Jovem! Porquê um mês? Porque as iniciativas que as Associações Juvenis estavam a desenvolver na altura, ou seja em 93, já não cabiam nas duas semanas tradicionais que se reservava á Juventude. A Afluência associativa foi de tal maneira que tivemos que alargar para um mês o tempo de programação, o que na altura foi um feito inédito. A magia disto, é que a Câmara organiza um programa no qual cada vez intervém menos, pois o papel associativo tem-se vindo a tornar cada vez mais forte. Estas associações, que eram na sua maioria, grupos informais, compostas por muito poucas pessoas, a avaliar pelo trabalho que desempenhavam e a quantidade de gente para a qual o faziam. A Luísa Rodrigues intervém docemente: Tem a sua mística. O Carlos Garcia concorda repetindo: Tem a sua mística... Às vezes eram compostas por grupos de duas pessoas apenas, mas que tinham um fantástico poder de mobilização! Arrastavam para o evento muita gente jovem e não só, pelas suas iniciativas, não só na área musical mas também noutras vertentes. Eu pergunto: O quê mudou no festival com o passar dos anos? Carlos: O Março Jovem foi sempre evoluindo! Com o passar do tempo, novas associações foram aparecendo e com elas novas ideias, é portanto um programa

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que tem estado em constante desenvolvimento e mutação. A Luísa aproveita para acrescentar: Seria importante referir também do Março fora D'Horas pois foi um marco no Março Jovem! Uma evolução natural que fez com que se criasse ali, naquele espaço, uma dinâmica durante um mês inteiro. O Carlos Garcia explica: A Juventude sempre lutou para ter um espaço próprio, e é então que surge o espaço dos refeitórios da Mundet, que é onde ainda hoje se realiza o Março fora D'Horas. È o espaço ideal para o feito, um espaço com uma lotação ideal para este tipo de projectos que se prendem essencialmente pela actuação de bandas que não são ainda de grandes palcos, projectos mais alternativos, de musica e exposições de arte em geral. Eu: Existe algum acontecimento divertido que seja oportuno mencionar? Carlos: A gente acaba sempre a rir! A Luísa também em tom alegre questiona: E aquela vez que a tenda caiu? Se bem que na altura não foi muito divertido, foi mais aflitivo! O Carlos Garcia responde: Pois, nós rimo-nos agora! A Luísa está a falar de um Março Jovem em que organizamos um espectáculo de "Metal" com bandas estrangeiras, dentro de uma tenda Super gigante. Nisto, vem uma tempestade e tudo o que fizemos durante o espectáculo foi segurar nas cordas da tenda para que esta não voasse. Entretanto o espectáculo terminou, os espectadores retiraram-se e fomos a correr chamar os Bombeiros. O público não se apercebeu de nada, á excepção de um espectador que rasgou o casaco numa trave que caiu. Obviamente que o reembolsamos e tudo ficou resolvido. À parte disto, o único dano, foi a tenda que acabou rasgada, mesmo com a intervenção dos bombeiros, ou seja, como a festival era de dois dias, no dia seguinte tivemos de o realizar no Pavilhão da Siderurgia Nacional. A Luísa Rodrigues aproveita para enriquecer a resposta dizendo: Acho que as boas lembranças se prendem pelo facto de passarmos muitas horas juntos. È muito tempo passado, como Carlos diz, sempre a rir! Mas faz parte! Temos obrigatoriamente que nos divertir, caso contrário seria uma "chatice" enorme passar tantas horas com as mesmas pessoas. Acho que as boas lembranças têm a ver com isso, e também com a relação que se vai construindo com as pessoas envolventes, com as bandas participantes, com os grupos, com as associações, enfim pelo menos para mim, estas são as mais marcantes lembranças. Eu faço parte do projecto do Março Jovem desde 2003, ou seja, já lá vão alguns anos, uma vez que já estamos em 2011, e realmente o convívio quer com os colegas quer com as pessoas com quem interagimos durante o evento é espectacular! Se não fosse assim iria ser um martírio para nós e o trabalho não pode de maneira nenhuma ser mau. O Carlos Garcia intercede: Nós conseguimos desenvolver com as associações mais

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do que um contacto institucional, estabelecemos relações de amizade que ainda se mantêm. Ainda hoje, membros de grupos e de associações Juvenis que já não fazem parte de nenhuma associação, aparecem ali, na Mundet, para assistirem aos espectáculos e para beberem um copo na nossa companhia. São pessoas que, actualmente estão casadas, barrigudas... Enfim, isso de facto contraria um pouco a tendência da Câmara. Politicamente até pode ser incorrecto porque, deveríamos manter apenas o contacto institucional, mais formal portanto. Mas penso que os movimentos de Março Jovem, Acção Jovem, entre outros, têm mais sucesso porque com eles se criam relações de amizade que perduram com o passar dos anos. Concluso a entrevista: Há alguma mensagem que pretendam deixar aos jovens do Município do Seixal? A Luísa Rodrigues diz entre sorrisos: A nossa mensagem é: Venham ao Março Jovem!

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Porque é que Março é o mês dos jovens? Coloquei esta questão a alguns locais e tudo o que obtive foram informações básicas, tais como: “Porque temos o dia do estudante e o dia da juventude em Março...” Como não fiquei esclarecida o suficiente, a internet pôs-me a par do que eu vou partilhar aqui convosco: O dia do estudante em Portugal Para compreender melhor o porquê do dia do estudante em Portugal se celebrar no dia 24 de Março, temos que parar e olhar um pouco para trás, a resposta está na riquíssima história de Portugal. Por um lado os portugueses, são de certa forma, um povo orgulhoso pelo facto de serem a primeira nação na História a conquistar colónias modernas (1415 – Ceuta em África) e por serem a última que concedeu a sua liberdade (1999 – Macau em China). Por outro lado, muitos jovens partiram de Portugal e ocuparam, por vezes em condições míseras, os países colonizados pelo seu País. Muitos deles, inclusive, foram mortos durante a “última guerra colonial” que teve lugar entre os anos de 1960 e 1973 (mais ou menos). Para contar a história correctamente há que acrescentar, que não foram só os colonizadores a sofrer, os nativos viveram nessa altura, tempos ainda mais duros que os seus “superiores”. Foi então que surgiu uma voz inteligente, que encontrou algo bem mais útil que os jovens Portugueses pudessem fazer, em vez de combaterem e perderem, em muitos casos as suas vidas. Foi então que no dia 25 de Novembro de 1961 que a manifestação dos estudantes contra da guerra colonial aconteceu. Infelizmente a única resposta que obtiveram do governo fascista foi a do aprisionamento dos estudantes intervenientes. Como resposta estudantil, meses depois do trágico sucedido, (porque na altura do regime fascista em Portugal, qualquer iniciativa tinha que ser muito bem estruturada, para evitar represálias de maior), deu-se o primeiro Encontro de Associações de Estudantes, em Coimbra – a cidade onde está situada uma das mais antigas e famosas universidades da Europa. Nesta reunião foi decidido que o dia 24 de Março seria um dia marcado pela luta dos Estudantes, sob a forma de manifesto contra a guerra. Nessa data, também os estudantes de Lisboa se concentraram dentro da cantina da Cidade Universitária, como forma do protesto contra a repressão e exigindo a libertação dos estudantes presos. Novamente, o governo movimentou uma ordem de prisão para todos os envolvidos. Posto isto, declara-se luto académico e greve nas aulas.

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Foi uma época muito triste para todo o povo Português que vivia reprimido mas, num manhã de Abril, tudo mudara para sempre! No dia 25 de Abril, Portugal acorda com a sua Revolução. A revolução dos Cravos! E com ela o regime fascista cai levando consigo a horrível Guerra Colonial. O povo Português e as suas Colónias voltam a respirar liberdade. O País recebe de braços abertos os filhos da Nação que viviam nos Países colonizados e as colónias obtêm finalmente a sua independência. Nessa data o Povo saiu á rua e fez-se justiça! Em 1987 a Assembleia da República Portuguesa fixa o Dia 24 de Março como o Dia do Estudante.

Dia da Juventude em Março O significado deste dia é muito semelhante ao do Dia do Estudante. Teve origem em 1947, para ser mais precisa, quando os jovens de Portugal se uniram para lutar pela Paz, pela democracia e para acabar com o fascismo que ocorreu em Portugal durante o Estado Novo. Como forma de agradecimento a estas duas marcantes datas, os portugueses decidiram fazer do mês de Março o mês do Jovem. Da mesma maneira que os jovens se uniram para lutarem pela Paz, Solidariedade e Cooperação entre as pessoas e fazer do Mundo um melhor lugar para se viver, também se juntam, actualmente para gozar o mês dos festivais, dos carnavais, das festas, da felicidade e a diversão em geral. O mundo torna-se um sítio bem mais bonito, quando as pessoas se juntam em prol de algo bom!

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Março Jovem para os jovens È certo que entrevistei um dos fundadores do Março Jovem, o Sr. Carlos Garcia e a Luísa Rodrigues que me deram amavelmente diversas informações, contadas na 1ª pessoa, já que eles são de certa forma, (pelo menos para mim) a cara do Março Jovem, mas sabem o que me falta? A opinião dos jovens a respeito. O que será que eles pensam do evento? O que acham eles das actividades que se praticam durante todo o mês? Para ficar mais a par dos seus pontos de vista, decidi fazer um questionário que distribui na escola secundária em Corroios (Município de Seixal). Aqui vão algumas das suas opiniões:

Gostas do Março Jovem? A maioria dos estudantes respondeu: – Não conheço. Outros disseram: -Sim, achei interessante, gostei das bandas que lá foram. -Sim, é fixe. -Sim, tem várias actividades relacionadas com música.

Qual é ou foi o teu evento favorito no Março Jovem? Os estudantes que conhecem o Março Jovem responderam: - Música, os concertos… Gostarias de participar no Março Jovem mas por qualquer motivo não é possível para ti? - Não tenho tempo porque tenho de estudar para a escola. - Não é possível pela falta de transportes públicos. -Já participei. - Não, por simples falta de informação a respeito do evento. Que tipo de música gostas de ouvir? As respostas mais comuns foram: - Heavy metal; rock; reggae; techno; hip-hop; rap; um pouco de tudo; blues, clássica; …

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Que tipo de desporto gostas de fazer? A maioria respondeu: – Futebol. O que pensas sobre o Concurso Inter Escolas de Intérpretes Musicais “CANTA”!? -Não sei o que é. -E uma forma de descobrir novos talentos. -Acho uma actividade brutal, é uma hipótese de os intervenientes mostrarem os seu talento. Existe alguma actividade que gostasses de adicionar ao Março Jovem? Se sim, qual? -Mais desportos. Sabes porque é que Março é o mês da juventude? À excepção de um, todos responderam: – NÃO. Apenas um respondeu: – Porque é Primavera.

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Entretanto: Domingo, 6 de Março Começámos trabalhar. O trabalho aqui é diferente e mais divertido do que os comuns “9 às 5 dos escritórios”. Por exemplo numa das actividades, chamada “24 horas de pintar” começámos trabalhar às 21 horas e acabámos às 2 horas de manhã. No evento, eu tirei as fotos e o Maksi filmou. Tivemos ainda a oportunidade de pintar. Vivi o evento com alguma nostalgia, enquanto pensava no meu enorme desejo de estudar história da arte e ter o meu próprio ateliê. Mas decidi deixar a pintura para os mais talentosos. Tentamos arrumar e limpar o nosso apartamento, que já parecia mais sujo do que a caravana da Escócia onde fiquei no Verão 2001. Sorri enquanto me lembrava com carinho dos meus amigos com quem vivi nessa altura divertidíssima da vida – o Donald, o Charles e o Olin (proporcionaram-me melhor Verão de sempre!). Dividimos então as tarefas desta forma: o Zamie limpou a cozinha; eu aspirarei e limpei o chão de toda a casa; o Maksi poliu-o; e a Yasemine limpou a casa de banho á sua maneira e depois foi para o seu quarto. Finalizadas as tarefas, só a casa de banho ficou um desastre. Desde o dia que chegamos, que perde água e todas as manhãs, temos á nossa espera, ao acordar uma pequena “piscina” mesmo á porta do nosso quarto. Felizmente eu tenho o hábito de usar chinelos quando me levanto. Há um problema na canalização e a água da retrete não escoa como deveria. Para ganhar a coragem necessária para usar a casa de banho, bebemos uns jarros de sangria! Mas, depois de tudo isto, ocorreu-nos algo bem melhor… – Experimentar as casas de banho Lisboetas! E lá fomos nós. Tivemos sorte, pois apanha-mos logo o barco no qual atravessamos o rio Tejo com destino a Lisboa. Fazer esta viagem de 15 minutos á noite com vista para Lisboa e para a Ponte 25 de Abril é uma experiencia romântica, contudo creio que seria ainda mais romântica, se partilhasse esse momento com outra pessoa, mas, foi com o Zamie e o Maksi. Enfim, tenho de admitir que são uns rapazes fixes! A noite no Bairro Alto foi muito divertida. Terminamo-la no bar da Jamaica onde dançámos como doidos (ou pelo menos acho que isto foi que fizemos), francamente não me lembro muito bem. A hora desconhecida chega-mos ao Cais do Sodré onde pretendíamos apanhar o último barco para o seixal que partia 2h e 30m da manhã de Lisboa, mas já não chegamos a tempo! Nada mais nos restou senão esperar pelo primeiro da manhã.

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Resguardamo-nos então em frente às portas da estação e experienciamos por algumas horas o dia-a-dia dos sem abrigo. De manhã cedo o barco chegou! Atravessámos finalmente o rio Tejo de volta ao Seixal, apanhamos um autocarro e às 7 horas da manhã estávamos de volta a casa. Fomos dormir um pouco. Às 10h30 nenhum de nós apareceu para a aula de português, mas pelo menos conseguimos acordar por breves instantes para atender um telefonema da Justyna, que estava um pouco furiosa pela falta colectiva. Posto isto, cada de nós arranjou uma desculpa diferente para justificar a falha. O Maksi disse que trabalhou noite dentro e que por isso se tinha deixado dormir; o Zamie disse a verdade, visto que ele ainda estava um pouco bêbado; eu disse que ficámos em casa á espera do canalizador que iria lá a casa reparar o problema da casa de banho. Já a Yasemine fez melhor, não atendeu o telemóvel. Pelo menos a parte do banheiro disfuncional era verdade e o canalizador, felizmente apareceu nessa manhã, mas o reparo só durou dois dias e voltou a encher… Certa manhã o Zamie ligou o seu Mac Book e teve a ideia de nos tirar fotos. Ficamos então com alguns registos do entusiasmo dos voluntários. Participei com a Justyna e o Bertil numa conferência sobre o voluntariado em Setúbal. Visto 2011 ser o ano do voluntariado, muita gente importante esteve a discursar. Sentei-me na primeira fila. A Justyna e o Bertil também deram o seu testemunho e eu tirei-lhes algumas fotos. Uma das actividades que mais faço por cá é correr. Acho que o clima português é perfeito para correr. Adoro correr e aproveito todas as ocasiões livres para o fazer. Às vezes sozinha, mas na maioria das vezes vou acompanhada do meu novo amigo, Bertil. - Ele é da Guiné-Bissau (outro país de Língua Portuguesa que tenho o sonho de conhecer). È muito amável. Fala português comigo e eu adoro, pois a língua oficial do programa SVE é inglês. Quando não compreendo o que ele diz peço para repetir, tal e qual como uma criança que pergunta mil vezes “Porquê isto?”, “Porquê aquilo?”. Provavelmente ele também não compreende tudo o que eu lhe digo no meu mau português. Apesar de, muitas vezes não nos compreendermos na íntegra, adoro estar com o Bertil. Todos os dias aprendo com ele, e ele comigo. Trocamos vocabulário, ele ajuda-me com a língua Portuguesa e eu ajudo-o com a língua inglesa. È engraçado e extremamente útil!

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Março Jovem começa finalmente! Este ano o Março Jovem inclui a música, o teatro, o cinema, o desporto (com danças incluídas), jogos para as crianças, workshop da escrita criativa, e exposições. A primeira actividade que apareceu no programa de Março Jovem este ano foi o “24 horas a pintar”, que já mencionei num dos capítulos prévios, mas deixem-me escrever um pouco mais sobre o mesmo. O “24 horas de pintar” foi criado especialmente para os jovens que se pretendem expressar através da pintura, mesmo que não se tenha talento, a única coisa que é necessária é a coragem para pintar. O evento deu-se no CAMAJ (Centro de Apoio ao Movimento Associativo Juvenil). Funciona da seguinte forma: o jovem aparece, requisita a sua tela, as tintas e os pincéis. O resto fica ao critério da habilidade e da criatividade de cada um dos artistas. No fim de 24 horas a pintar todas as telas são transferidas para a Mundet, no Seixal onde se situa o “Espaço Fora D´Horas”. Todas são exibidas numas das maiores salas dos refeitórios da Mundet (uma enorme e lindíssima fábrica de cortiça, já encerrada há muitos anos). Mesmo que as telas não tenham a qualidade de um quadro de Picasso, os jovens podem ver o seu trabalho exposto durante todo o mês de Março numa galeria lindíssima. Fixe não é? Um dia após o “24 horas a pintar” se dar, tive o meu primeiro contacto com a música no Março Jovem. Não assisti ao inicio do espectáculo porque estava no CAMAJ e só cheguei a tempo da segunda parte do concerto, mas gostei imenso do pouco que vi e ouvi, foi muito bom. O grupo em questão chamava-se DVA!. A banda era composta por dois guitarristas acompanhados de diversas animações que ajudaram a dar vida ao espectáculo. Depois da pintura e da música, tiveram lugar o cinema e o desporto! Não participei no “24 horas de terror” pois o evento consiste na projecção de filmes de terror durante 24 horas, e este não é, decididamente o meu género de eleição. O desporto deu lugar a um evento chamado “Surf on Crocodile”, que foi basicamente um workshop de surf no oceano. Queria tanto ter participado! Infelizmente nesse dia estava um frio horrível, e estar na praia a tiritar de frio não é para mim! No dia seguinte foi dia de viagem. Fui com o Jorge e com Maksi para o Norte do País! A viagem foi tão perfeita que nem me lamento por não ter ido ver os rapazes giros enrolados nas ondas do Atlântico. Qualquer das formas “dei uma espreitadela” pela internet quando voltamos. Um dia estava recostada (bem quentinha) em frente ao computador, quando ouvi a voz lindíssima de uma rapariga, e, nesse momento ocorreu-me, "pois é eu queria ver isto!". Nesse dia, às cinco e meia da tarde iria dar-se um concerto de uma banda composta por dois guitarristas e uma vocalista, mesmo ali, na oficina do Miratejo,

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onde eu trabalho. Nesse momento abandonei por completo o que estava a fazer e fui curtir um bocadinho. Adorei o concerto. Durante a minha estadia em Portugal, já fiz algumas coisas pela primeira vez na vida. Por exemplo, a minha primeira noite de Reggae. Sim, eu sei que é difícil de acreditar que aos 26 anos nunca tenha assistido a nenhum! Mas é verdade. Venho de um País que não é muito multicultural. Ainda hoje, quando um negro passa na rua todos param para olhar. O mesmo aconteceu comigo durante a minha estadia em Cabo Verde pois era praticamente a única branca a passear pelas ruas. Penso que quem mais se evidencia no Estilo Reggae são os negros. O município do Seixal, onde estou a morar actualmente, durante estes dois meses de voluntariado, é muito multicultural e eu adoro isso! Sei que há muita gente que não gosta da ideia do multiculturalismo e a mistura das nações. Eu acho extremamente saudável e enriquecedor. Na troca de cultura aprendemos imenso uns com os outros, e eu penso que para se conhecer uma cultura, á seria, há que se entranhar na mesma, dando e recebendo constantemente. È um enriquecimento mútuo. Mas voltando à Noite Reggae... Na sexta-feira, 11 de Março o espaço principal – Março Fora D´Horas – finalmente abrira as suas portas para nós. Bem-vindos ao mês do divertimento. Às 23 horas o espaço encheu-se de jovens. A banda de Reggae era conhecida e chamava-se Kussondulola, os músicos da mesma são originários de Angola. Tal como já tinha admitido anteriormente, o meu conhecimento sobre reggae é muito pobre. Por isso não serei a melhor pessoa para julgar a qualidade do concerto, mas a reacção que a banda provocou no público e em mim própria foi muito positiva. O Reggae é muito descontraído e eu pretendo assistir a mais concertos do género. No sábado a seguir, dia 12 de Março, mais boa música esperava por mim, no Espaço Fora D`Horas, desta vez por de trás das escolhas Nuno Calado com a "Noite da Antena 3". Os concertos não param. Não só os concertos, mas todos os demais eventos, como o “Seixal on Skate”, “Danças na Estação”, workshop da escrita criativa, noite do teatro e muito mais. Não vou ter oportunidade de escrever sobre todos eles. Qualquer das formas seria bem melhor que viessem assistir pessoalmente e aproveitar ao máximo a experiencia.

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Quem está por detrás do Março Jovem? Eu ligo o Março Jovem a três pessoas da Câmara do Seixal: O Sr. Carlos, a Luísa e o Pedro. Por esse motivo gostaria de falar um pouco sobre elas. Já sabem quem é o Sr. Carlos. Entrevistei-o a respeito do Março Jovem a propósito do meu livrinho. Ele é um homem muito simpático e de muito bom gosto para a música e para a moda. Quando o vejo imagino com alguma facilidade como ele seria quando tinha 20 anos. Tenho para mim que todas as moças da altura em que ele era mais jovem eram doidas por ele. Ainda hoje ele é muito bem-parecido! Creio que quando for velhinho vai usar um típico chapéu português (vulgarmente apelidado de boina) como usam a maioria dos velhinhos Portugueses. Irá sentar-se ao sol a beber a bica dele á conversa com os seus amigos. Ele irá ser a verdadeira imagem Portuguesa, a mais pura que qualquer turista pode ter. Pessoas como ele são a verdadeira razão pela qual eu estou aqui e pela qual, presumo, que muitas mais virão. A Luísa é a portuguesa mais amável que conheço, e tal como o Sr. Carlos tem muito bom gosto para moda. Já a mencionei anteriormente pois fez parte da entrevista que partilhei convosco sobre o Março Jovem. Está sempre com um ar maravilhoso. Ela é da região do País onde fica situada uma aldeia chamada Monsanto. Esta aldeia tem uma particularidade, recebeu um estranhíssimo premio em 1938 – o de ser “a aldeia mais portuguesa de Portugal”. A Luísa adora teatro, cinema, e literatura (é fã incondicional do poeta português – Fernando Pessoa). De uma forma geral ela é uma pessoa muito culta e é sempre um prazer falar com ela. Também dá aulas de animação na Universidade e gosta imenso. Emprestou-me dois livros de poesia. Muito obrigada Luísa, vou ler certamente todos estes lindos poemas escritos na tua gira língua. O Pedro é um homem no lugar certo. Ele adora o que faz. Pelo menos assim parece. Apesar de, aparentemente não trabalhar no duro, a avaliar que tem sempre um ar muito descontraído, ele trabalha, e sabemos isso porque o resultado final do seu trabalho, é óptimo. Ele preparou sozinho, todos os refeitórios da Mundet para receber o Março Fora D'Horas (onde os concertos e as exposições acontecem). Quando o vemos está sempre a rir e a passar uma impressão que tudo corre bem, mas na verdade corre bem porque ele está por perto. Como podem ver, todas as pessoas por aqui são muito amáveis e fixes. É um prazer estar com elas por perto enquanto vivo o que os acontecimentos me reservam.

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O SVE e os nossos projectos Enquanto estamos por cá, vamos trabalhando nos nossos projectos. Ao princípio pensei que iríamos trabalhar todos juntos num filme sobre o Março Jovem. Entretanto os rapazes decidiram fazer um filme sobre eles próprios. Eu e a Yasemine tivemos que repensar no que iríamos fazer em conjunto, mas optamos por fazer um trabalho individual, (esta ideia, ao principio fez-me andar um pouco perdida e até frustrada, mas agora até faz mais sentido). Somos quatros pessoas muito diferentes, e como tal agimos e pensamos, naturalmente de forma muito distinta. Na verdade, eu sou a individualista lá de casa. É mais fácil para mim fazer as coisas como eu desejo sem ter que estar a contar com outros pareceres… O SVE por si mesmo já é cheio de consensos. Posso dar-vos um exemplo bem básico. Costumo levantar-me cedo. Todos os meus companheiros lá de casa raramente acordam antes do meio-dia, a menos que seja estritamente necessário… Usualmente, eles “começam o dia” depois do almoço, quando já me sinto pronta para uma sesta. Eu prefiro percorrer um km a pé para ir para casa do que desperdiçar meia hora na paragem á espera do autocarro. Eles não se importam de esperar, nem que seja uma hora só para não terem que andar. Para trabalhar em conjunto com eles, teria de respeitar o tempo que eles levam a fazer o que quer que seja, e, para tal, teria de ter muita paciência. Este é um grande desafio para o meu carácter. Por todas estas e demais razões, acho positivos, que trabalhemos individualmente. Fica aqui uma apresentação breve de como somos e do que gostamos de fazer: O Zamie – gosta de fazer filmes do tipo stop motion usando a fotografia. Este vai ser inclusive o tema seu projecto final. Também adora graffiti. Pelo que vi do seu trabalho, até agora, tenho que admitir que é muito bom! Ele é um grego incrivelmente divertido e passa a vida a confundir o "from" e o “for" – quando fala inglês. Na verdade, actualmente já não se engana tanto, pois utiliza o “from” para tudo… Tem um óptimo sentido de humor e faz-me rir bastante. O Maksi – sabe muito sobre música e ele próprio troca clarinete e saxofone. Deixou ambos na Eslovénia e veio acompanhado de uma flauta para Portugal. No seu projecto final irá ser em parceria com o Zamie. O que ele exactamente irá fazer, não sei ao certo. Na maior parte das vezes tenho o “feeling” que é o Zamie que trabalha e que dá todas as ideias para realizar o projecto, enquanto o Maksi se limita a observar. No entanto esta é também uma forma de aprender. A Yasemine – é uma Turca muito talentosa e de ideias brilhantes. Acho que o projecto final dela irá ser algo memorável! Ela está também a fazer um filme do tipo

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stop motion, sozinha. Tudo o que ela precisa é de um marcador preto, um vermelho, uma tábua branca, uma máquina fotográfica e um computador. È muito corajosa e boa no que faz. E eu – sou mais de escrever. Por esse motivo, decidi que o ideal para o meu projecto final seria um livrinho, pois esta escolha permite-me expressar as minhas viagens por palavras enquanto exploro todos os cantos e recantos escondidos neste País inacreditavelmente lindo.

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Um dia bonito Tenho dias que não tenho muito que fazer. Quando a noite cai sinto-me de mau humor, detestando-me por não ter aproveitado o dia. Que desperdício penso! Em compensação adoro os dias cheios, dão-me tanto prazer! Quando a noite chega sinto-me feliz e ambiciono que o dia não termine. Às vezes escrevo sobre os dias felizes que passo, para que a memoria permaneça presente e fresca, cheia de pormenores deliciosos que vou descrevendo. Ontem tive um dia muito feliz, um dos tais dias bonitos. Decidi escrever sobre os meus momentos memoráveis. Estou a escrevê-los no pretérito perfeito para deixar o dia vivo na minha memória. Isto é: O meu despertador acorda-me às 7 horas de manhã. Desligo-o e levanto-me 30 minutos mais tarde. Não visto as minhas leggings nem a minha preferida t-shirt azul, que habitualmente uso para a minha corrida matinal. Em vez disso, visto a minha camisola sem mangas com a imagem da ponte e os calções para evitar um pouco a transpiração. A previsão meteorológica aponta para os 23 Graus. Precisamente um minuto antes das nove horas da manhã, recebo uma chamada do Bertil. Ele está precisamente a sair de sua casa para me vir buscar. Trocamos os beijos á maneira portuguesa e caminhamos juntos para a estação do metro. Como nosso destino, a Ponte 25 de Abril, aquela que eu chamo a Ponte de São Francisco, pois são iguais. Junto à mesma há já muita gente vestindo camisolas amarelas iguais com um propósito comum, o de participar na 21ª meia maratona internacional de Lisboa. Este é o único dia do ano que é permitido atravessar a ponte a pé. È decididamente uma experiência a não perder. A zona da Ponte estava completamente cheia. Não é de admirar. Sendo mais explícita, estavam por lá cerca de 35 000 pessoas, inscritas na meia maratona, 35 000 pessoas, inscritas para a mini maratona (7.2 km) e ainda todas aquelas pessoas que apareceram só para atravessar a ponte a pé e aproveitar dessa forma o único dia do ano em que o podem fazer. Súbita e bruscamente as palmas começaram. Olho para o meu relógio favorito, aquele que, me foi oferecido pela minha amorosa avó. Este marca 10h30m em ponto. Dá-se então o inicio de um dos maiores eventos desportivos. A multidão começa a mover-se lentamente. Após os primeiros 200 metros, aproximadamente, encontramos uma passagem entre aquele mar de gente. Conseguimos finalmente mudar o nosso ritmo de movimento para algo mais parecido com corrida. Quando a ponte chegou ao fim já nos era possível correr. Ao 7º quilómetro diz o Bertil: “Só mais duas vezes esta distância.” Eu olho para ele, para confirmar que era isso que

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ele realmente estava a querer dizer. Ao 8º quilómetro ele sente que precisa de abrandar. Começamos a andar. Diz-me para continuar correr. A princípio não queria. Acho que uma vez decidimos ir para esta meia maratona juntos, treinamos juntos então deveríamos, também, acabar juntos a corrida. È então que ele insiste que eu continue a correr. Na verdade, ainda não sinto necessidade de descansar. Foi então que dissemos adeus e eu recomeço a correr. A corrida é fixe. Ao longo da rua há gente que nos oferece água e bebidas energéticas para refrescar. Nesse momento ocorre-me uma imagem do que acontece no meu País quando as corridas profissionais se dão. As pessoas juntamse em bares, de cerveja em punho comentando a corrida e opinando sobre a prestação dos corredores, como se eles próprios fossem alguma vez capazes de estar no lugar deles e fazer “melhor figura”. Ao 16º quilómetro posso avistar a recta final enquanto atravesso Belém, onde a corrida chega ao fim. É ainda assim, um pouco frustrante pois ainda me faltam 5 quilómetros para terminar! O tempo torna-se mais quente por volta do meio-dia. As cascas das laranjas e das bananas pelo chão prometem-me um futuro próximo bem doce! E é sim, que ao 18º quilómetro posso saborear o meu merecido pedaço da laranja. Chegara ao fim da meia maratona, e duas horas e quinze minutos após ter começado a correr recebo as minhas palmas e saboreio, desta forma, o fim da corrida. Para trás deixei 21. 0975 km. Retiro do meu telemóvel o cartão português e substituo-o pelo Checo, para mandar uma SMS á minha mana. Finalmente ela pode dar aos meus pais a noticia, que cuidadosamente mantive em segredo todo este tempo. A minha meia maratona havia-se realizado. Entretanto, recebo uma SMS do Bertil. Também ele acabara a corrida. Encontramo-nos na ponte em cima da estação e abraçamo-nos, a nossa primeira maratona era agora uma realidade. Feito! Voltamos então para casa, tomo o meu banho, como uma porção gigante de esparguete e convido os meus companheiros de casa para ir até à praia. O Zamie só torce a sua cabeça, como quem diz “Não, nem pensar!”. O Maksi desculpa-se dizendo que tem que trabalhar (de olhos fechados “bem recostado” no sofá, não tenho muita certeza se chegará a sair dali tão depressa) A Yasemine que está nessa altura deitada na sua cama, adora a ideia. Dez minutos mais tarde, pomo-nos a caminho até á praia. Andamos de pé descalço enquanto o sol nos aquece. Quando nos sentimos cansadas, sentamo-nos na areia e maravilhamo-nos com a vista sobre o calmo rio com Lisboa inteira á nossa disposição. Ficaríamos paradas naquele momento por toda a eternidade, caso não fossem os mosquitos a expulsarem-nos ferozmente dali. Na volta a casa, paramos numa lojinha e compramos uma sangria para acabar o dia em grande.

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Por volta das 21h30 recebemos um convite de um amigo da Yasemine para ir a um clube africano e aprender-mos umas danças africanas. O único problema é que o bar só abre as portas às 1h30 de manhã e o meu dia activo está finalmente a dar sinais, o cansaço já se torna, nessa altura, evidente. Combino com a Yasemine que iria dormir um pouco e peço-lhe que me acorde por volta da meia-noite e meia. Pus também, só para reforçar o despertador para meia-noite e vinte, para poder ir acordando aos poucos. Assim que o despertador começa a tocar sinto alguém ao pé de mim, é a Yasemine, também ela deitada na sua cama, que fica sensivelmente a um metro da minha. Não estava ali para me acordar, seguramente. Fixo-a por um pouco, a sua respiração está calma, e a sua expressão descansada feliz no seu mundo de sonhos. Sem pensar duas vezes, sigo-lhe o exemplo. Foi um dia fenomenal, apesar de não o ter-mos terminado a dançar!

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Tanto aconteceu Já tive oportunidade de partilhar a minha paixão pelo mundo lusófono no primeiro capítulo. Este foi escrito há já algumas semanas. Felizmente posso confirmar que continuo a encontrar pequenas coisas que adoro por aqui, fazendo-me sentir cada vez mais apaixonada pelo País. Teria tanto para acrescentar que o primeiro capítulo, nunca mais teria fim. Amei a viagem com o Jorge e com o Maksi. O Jorge provou ser o melhor guia para mostrar o seu País Natal. Agradeço o seu conhecimento geográfico, o seu bom gosto e a sua boa companhia. Mostrou-nos tudo o que havia de maravilhoso para mostrar na região que visitamos. “Obrigada, Jorge! A viagem irá ficar na minha memória para sempre.” A minha irmã está quase a chegar e juntas, ire-mos explorar toda a região do Alentejo. Também o meu namorado virá ter comigo, daqui a algumas semanas, para passar umas férias na esplêndida ilha da Madeira, iremos apreciar juntos a sua inexplicável beleza. Irei voltar para a República Checa com a barriga cheia de momentos maravilhosos. Assim que lá chegar não vou perder tempo e vou engendrar uma forma de voltar até aos meus amados Países Lusófonos. Ainda não tenho que chegue dos Países Lusófonos, ainda não absorvi o suficiente da sua beleza e da sua cultura. Ainda não parti e já tenciono voltar, estou a sofrer de saudades por antecedência… Esta é a razão que me faz ter tanta certeza que esta, não é, a última vez que escrevo sobre o meu País favorito. Espero ansiosamente que a minha 6ª volta se dê! IRÁ CONTINUAR…

Na República Checa, o meu país, temos um provérbio que diz “no tempo melhor, é melhor acabar.” Por isso, aqui termino o meu testemunho, quer dizer, o primeiro de muitos que ambiciono dar!

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Este documento não expressa as opiniões da Comissão Europeia, do Programa Juventude em Acção ou das organizações e pessoas que cooperaram na sua elaboração sobre os diferentes temas abordados.


UMA AVENTURA LUSÓFONA IRÁ CONTINUAR...

No âmbito do projecto “EVS 4 Youth March”, financiado pelo Programa Juventude em Acção


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