hip_hop

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nos”, o poder de comunicação dessas rádios é ainda maior. Antes do lançamento do CD Sobrevivendo no inferno, em 1997, grande parte da mídia oficial ainda não tinha se dado conta da dimensão do hip hop, principalmente do rap, na periferia das grandes cidades. Foi pega de surpresa pelo fenômeno Racionais. A distância entre a mídia e os rappers, entretanto, não é resultado de uma atitude unilateral. Por vários anos, muitos veículos de comunicação discriminaram o hip hop por associá-lo à violência. Mesmo depois da metade dos anos 90, quando a imprensa passou a destacar a atuação de rappers como “sociólogos da periferia”, muitos hip hoppers preferiram continuar à margem da mídia por considerá-la aliada do sistema que eles tanto combatem. É o caso dos Racionais MC’s, que continuam a evitar a mídia e a buscar seus próprios caminhos. Mano Brown alimenta uma velha aversão à imprensa. Nas raras entrevistas concedidas, martela um discurso engessado. Em nenhum momento o líder dos Racionais MC’s dá abertura para ser questionado. E também é notícia por não querer dar entrevistas. Apesar de não divulgar, Mano Brown mantém um espaço para que os jovens do Capão Redondo, na zona sul da capital paulista, pratiquem os quatro elementos do hip hop e desenvolvam outras atividades de lazer, como jogar futebol. “Eu não preciso ficar falando para ninguém as coisas que faço para o povo do bairro onde moro. Os Racionais fazem muita coisa sim e não queremos ficar divulgando. O que precisa é fazer, não é falar. Os Racionais não são como um grupo de pagode que ganha muito dinheiro. Mas fazemos tudo o que podemos fazer. Só não vou ficar provando nada para ninguém porque não preciso”, diz Mano Brown. Mas essa não é a postura de todos. O veterano Nelson Triunfo, por exemplo, participou de diversos programas de televisão e fez a abertura da novela Partido alto, transmitida pela Rede Globo

“Microfone

aberto à população/ programação ativa e variada/ tem

audiência certa na quebrada.” (“Revolução no ar”, grupo Kamykazy)

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A voz da favela


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