Revista Nosso Patrimônio - Edição Palacete Pinho

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Nosso Patrimônio

Descuido Revista Nosso Patrimônio  •  Ano 1  •  Edição 1  •  Nº 001

Os

com a memória:

rumos incertos do

Palacete Pinho A História do Palacete Intervir no Palacete Pinho: um caminho tortuoso

Quais

os possíveis futuros

para um ícone do passado?


Você sabia que Belém é uma das cidades do mundo com maior riqueza de azulejaria?

De autoria de Dora Monteiro e Silva de Alcântara, Stella Regina Soares de Brito e Thaís Alessandra Bastos Caminha Sanjad, a publicação permite uma visão de conjunto sobre a evolução da azulejaria em Belém!

Conteúdo 4   |  A História

do Palacete A trajetória de um dos símbolos de Belém

6   |  Intervir

no Patrimônio Um caminho tortuoso com o destino ainda incerto

8   | Opiniões

Quais os possíveis futuros para um ícone do passado?

10  | Curiosidade “(...) O livro Azulejaria em Belém do Pará - Inventário – Arquitetura civil e religiosa – Século XVII ao XX, publicado em comemoração aos 400 anos da fundação de Belém (PA), é a súmula do banco de dados levantado por três gerações de servidores e profissionais do patrimônio cultural (...)” - IPHAN

NAS MELHORES LIVRARIAS!

Fatos antes desconhecidos, para despertar o interesse


AS MARCAS DO TEMPO... Por Kamila Diniz Kamila Diniz, graduanda em Arquitetura e Urbanismo UFPA.

Marilia Reis, graduanda em Arquitetura e Urbanismo UFPA.

Raquel Oliveira, graduanda em Arquitetura e Urbanismo UFPA.

Preservar

para não esquecer

Cada indivíduo é parte de um todo – da sociedade e do ambiente onde vive – e constrói, com os demais, a história, legando às gerações futuras, por meio dos produtos criados e das intervenções feitas, registros capazes de propiciar a compreensão da vida humana. A destruição ou abandono dos bens herdados das gerações passadas acarreta o rompimento da corrente do conhecimento, levando-nos a repetir incessantemente experiências já ultrapassadas. A importância da preservação ganha novo foco, decorrente da necessidade de manter viva a memória. Podemos caracterizar como patrimônio arquitetônico qualquer edificação que simbolize parte da história de uma cidade. Destaca-se, então, os prédios históricos ou as construções que de alguma forma representem ou trazem em suas características pistas sobre o modo de vida ou de pensar, numa determinada época e sociedade. Preservar a memória através de prédios antigos significa propor projetos que mantenham a historicidade do patrimônio, propondo também o uso mais adequado para o bem, a fim de torná-lo mais próximo do cotidiano da população. A primeira edição da Revista “Nosso Patrimônio” tem o intuito de oferecer o seu leitor a importância de preservar a memória e a identidade coletiva da cidade de Belém, apresentando a situação polemica do Palacete Pinho, com suas várias intervenções sofridas, o abandono pela ausência de uso e rumos de um futuro ainda incerto. Os editores

Romario Brito, graduando em Arquitetura e Urbanismo UFPA.

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Trabalho avaliativo apresentado à disciplina Preservação do Patrimônio, ministrada pela professora Dra. Thaís Sanjad, na graduação em Arquitetura e Urbanismo, 7º Semestre, da Universidade Federal do Pará.

M

Um breve percurso pela história do Palacete Pinho

ais do que um belo prédio, ele é um registro da época mais abastada da história da nossa cidade. O Palacete Pinho está localizado na rua Dr. Assis, Cidade Velha, bairro onde possui vários outros edifícios históricos. Foi construído no auge da Belle Époque (final do século XIX, final do século XX), no período de bonança alavancado pela economia do látex na Amazônia é representado na arquitetura do casarão. O Palacete Pinho é tombado por ser considerado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) como um dos exemplares mais característicos do Ciclo da Borracha. Desde o início da sua ocupação pela família do Comendador Antônio José de Pinho, responsável por sua construção, foi palco de constantes manifestações culturais. Em meados de 1897 foi construído, seguindo o projeto de palacete residencial do Engenheiro Camilo de Amorim e pertencia ao comendador e comerciante português Antônio José de Pinho. A partir da sua inauguração, a cidade assistiu a um de seus mais belos saraus, onde desfilou a moda parisiense e londrina, importadas com exclusividade para a elite elegante de Belém. Em seus salões eram frequentes as reuniões de orquestras com artistas nacionais e estrangeiros, para promover concertos de cravo e piano. À moda da época, não faltaram também declamações de poesias, bailes e jantares suntuosos. O Palacete recebeu eventos onde suas mesas eram repletas de iguarias e bebidas do mais refinado gosto da época. Foi sede dos eventos sociais mais prestigiados pela parcela economicamente dominante da cidade de Belém. Ao contrário da maioria das casas do bairro onde está localizado - que seguiam o desenho colonial português de fachadas rentes à rua – o Palacete segue a influência de um estilo arquitetônico comum em Portugal nos séculos XVII e XVIII, raro no Brasil, além de adotar ca-

racterísticas dos palácios e vilas italianas do século XVI. O Palacete é uma construção azulejada de estilo eclético, suas escadarias são revestidas de lioz e possui uma planta-baixa inovadora em “U”. A partir de uma proposta barroca, ele também apresenta um o pátio aberto com jardins na frente, limitado por uma grade, como, nos similares portugueses. Este edifício possui três pavimentos, sendo um o mirante e um porão; a linguagem dos vãos – no primeiro pavimento, em arco pleno e no segundo, vergas retas, encimadas por frontões triangulares e curvilíneo – se harmonizam com o revestimento de azulejos e com os lambrequins da parte mais elevada do prédio (a camarinha). Segundo Jussara Derenji, arquiteta e urbanista, diretora do Museu da Universidade Federal do Pará e também autora do livro “Igrejas, Palácios e Palacetes em Belém”, “O Palacete Pinho apresenta jogo de volume como se fosse um edifício neoclássico – dois blocos a frente e um recuado que tem um volume mais alto – se assemelha com o Solar Barão do Guajará”, localizado na praça D. Pedro II. A Diretora do Museu também afirma que este edifício se encontra na indecisão de dois períodos, o final do século XIX, mas que já tende a se deslocar do terreno (influência do século XX) de forma tímida, mas altamente marcante e original para a Cidade Velha. Outro ponto de dualismos é que o Palacete foi centro de movimentação social, com salas altamente decoradas e ornamentadas e mesmo assim manteve uma capela tímida, espaço que se perdeu nas construções mais recentes da época. Até o falecimento, na década de 1930, de José Augusto de Pinho, o herdeiro do primeiro proprietário, o imóvel era mantido sob boas condições de uso, sendo ainda residência. Nos anos que sucederam, o edifício passou a sofrer vários danos devido a falta de manutenção. Esta situação se arrastou ao longo de quase todo o século XX, tendo, como, ponto de partida, a mudança

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de parte dos seus herdeiros para o Rio de Janeiro, em 1943. As últimas herdeiras habitaram o local até falecerem, na década de 1970, quando o seu estado de abandono começou a se intensificar. Em 1982, a família leiloou lustres de cristal, ferragens, louças e móveis de época, entre outros objetos remanescentes no Palacete, materiais de reposição, como, azulejos e ladrilhos, e objetos decorativos, tais como jarros, tapetes e peças de bronze e de mármore. A edificação foi colocada à venda, sendo adquirida pelo grupo empresarial local, Y. Yamada, que declarou pretender usar o imóvel para sediar sua Fundação ou servir de casa de recepção, entretanto o Palacete foi transformado em depósito, abrigando também materiais que possuíam alto grau combustivo. A situação, então, só piorava: devido à total falta de manutenção do prédio, o Palacete Pinho corria um sério risco de ser demolido. A preocupação em evitar essa trágica possibilidade resultou na ação para o tombamento como patrimônio histórico nacional, realizado em 14 de agosto de 1986 pela então Secretaria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – SPHAN, atual Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN. Registrou-se em 1989 uma campanha conduzida especialmente pela Associação em Defesa de Belém, que visava à restauração do prédio. Essa mobilização sensibilizou a Procuradoria da República que, com base no Decreto-Lei Federal Nº 25, de 30 de novembro de 1937, propôs uma penalização aos então proprietários, sendo acatada pela Justiça Federal. Desta forma, eles foram condenados a recolher 5% da renda bruta mensal do seu grupo empresarial, visando a

criação de um fundo para que se conseguisse os recursos necessários para a restauração do imóvel. Esse recolhimento ocorreu até que o proprietário iniciasse as obras de consolidação da estrutura da edificação, primeira intervenção nela ocorrida, tendo em vista que ela, já naquela data se mostrava bastante comprometida pelo descaso e abandono de quase meio século. Em dezembro de 1992, a Prefeitura Municipal de Belém, resolveu desapropriar o Palacete e durante todo o ano seguinte, por ordem judicial em razão de litígio entre a Prefeitura e os antigos proprietários, o Palacete esteve fechado. E como consequência da proibição formal de entrada, progrediu a deterioração do imóvel, acarretando o desaparecimento, prováveis furtos, de vários elementos construtivos, de revestimento e de decoração que compunham o prédio, como, balaústres, azulejos entre outros. Durante esse tempo, o imóvel histórico também foi ocupado por moradores de rua. Após esse período de um ano em que o edifício ficou interditado e sujeito a vandalismos e intempéries, houve autorização judicial para entrada no prédio, sendo a FUMBEL – Fundação Cultural do Município de Belém – a responsável pelo seu projeto de restauração. Derenji – na época, diretora do Departamento de Patrimônio Histórico (DPH) – ainda ressalta que “o interesse de conservar o Palacete Pinho foi o eminente risco de destruição, outro interesse foi o valor histórico foi bastante considerado, o valor da casa em si como local de cultura e de grandes festas no período da Borracha (importância histórica) e outro foram os materiais e características arquitetônicas inovadoras usados (importância arquitetônica).”

Fonte: Diário online.

Fonte: flickr.com/macapuna

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INTERVENÇÕES NO PALACETE PINHO Por Raquel Oliveira

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Vinte e cinco anos de tombamento, quatro prospostas de intervenção e um destinho incerto.

á muitos anos, mesmo antes de seu tombamento, em 1986, pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), o Palacete Pinho já sofria com sérios problemas de manutenção pela sua falta de uso. As tentativas de ação para recuperação do bem, já haviam sido iniciadas desde quando o imóvel estava sob a tutela de um grupo empresarial de supermercados que, por sua vez, não deferiu os cuidados necessários para que o mesmo se mantivesse preservado. Desde então, o palacete enfrentou diversas situações delicadas em seus processos de intervenção, e mesmo com a promessa de um projeto de restauro que fora efetivado durante um árduo processo, o imóvel ainda assim é alvo uma discussão bastante polêmica. Após o processo de tombamento, o Palacete passou por quatro etapas de intervenção. A primeira delas consistiu na elaboração e inicio de um projeto de reforma estrutural, ainda antes do imóvel passar para as mãos do poder público. Contudo, somente em 1995 o palacete ganhou, efetivamente o seu primeiro projeto de restauro, mas que não pode ser executado pela falta de recursos financeiros. Na terceira etapa, a obra foi retomada na gestão municipal de 2002, onde o projeto passou por mudanças, sendo a maior parte da obra concluída. O imóvel teve suas obras interrompidas entre os anos de 2005 a 2011 por questões políticas, e somente no final de 2011, a última etapa do projeto foi concluído, porém sem uma destinação definida para o imóvel. Segundo Roseane Norat – arquiteta e urbanista , professora da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal do Pará e uma das arquitetas responsáveis pela segunda interven-

ção no Palacete Pinho – a primeira intervenção sofrida pelo imóvel, promovida ainda pelo seu proprietário particular, foi uma reforma forçada e bastante questionável. Foram usadas malhas metálicas e aplicados materiais recentes em vários pontos da fachada, sem nenhuma avaliação técnica e detalhada do edificio. A obra foi concluída, porém ainda não satisfazendo aos orgãos de preservação do patrimônio, pela forma como foi conduzida. Somente quando o palacete foi transferido para o poder público é que o edificio pode receber, de fato, um projeto de restauro elaborado pela equipe técnica da FUMBEL (Fundaçao Cultural do Município de Belém). A partir de então, pode-se ter a dimensão dos danos no Palacete e que, segundo a diretora daquele órgão na época e atual diretora do Museu da Universidade Federal do Pará, a arquiteta e urbanista Jussara Derenji, foi o fator determinante para a elaboração de um novo projeto de intervenção. “O interesse para a conservação foi o eminente risco de destruição”, afirma ela. Derenji e Norat declaram que este projeto foi elaborado em cima da tese de mestrado da arquiteta Elizabeth Almeida. Esta arquiteta e urbanista havia desenvolvido sua pesquisa durante o Curso de Especialização em Restauração do Patrimônio Edificado, com o professor Mauro Mendonça na Bahia, e também havia já feito todo um levantamento prévio do Palacete. Derenji, então, reuniu sua equipe técnica com funcionários emprestados do IPHAN e apartir destas pesquisas elaborou-se o projeto para uma segunda intervenção, desta vez, mais comprometido. Embora este primeiro projeto de restauro para o Palacete tenha tido grande importancia,

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o mesmo não conseguiu angariar recursos para sua execução de imediato. Os recursos foram obtidos, apenas no segundo mandato da gestão do município de Belém na época. Nesse período o projeto inicial foi reformulado e por, processo licitatório, o escritório Escala Três Arquitetura tornou-se equipe a técnica responsável e a Estacom Engenharia executou a obra, acompanhada pela FUMBEL e pelo IPHAN. Assim o Palacete Pinho finalmente teve seu processo de restauro iniciado. Entre 2002 a 2004 teve praticamente 90% de sua obra conclúida. Pelo fato de o Palacete ter sido construído, em sua maior parte, pelo sistema de taipa com materiais já desgastados, este naturalmente possuía uma estrutura bastante delicada. Segundo Derenji, quando se começou a intervir internamente, com uma certa falha no sistema de contravamento da estrutura e também com a trepidação da obra, a parte central, superior veio a desabar. “Ninguem imaginou que de risco tão próximo, não se tinha noção da gravidade das fissuras que estavam ocorrendo”, disse Roseane Norat. A partir desse momento, a obra teve que ser reavaliada para apurar o que tinha acontecido e propor uma solução para uma nova leitura do edifício, já introduzindo as teorias brandianas. Porém tal processo, acabou atrasando a obra e a gestão vigente não conseguiu finalizá-la e a deixou a cargo da gestão posterior, no mandato do novo prefeito Duciomar Costa. Neste período, o palacete passou por oito anos sem uso e finalidade, o que contribuiu novamente para sua degradação.

Já no final desse mandato, devido a uma ação judicial, o prefeito foi finalmente obrigado a concluir o processo de restauro. A obra é finalizada, de fato, e inaugurada pelo mesmo prefeito. Porém ela ainda não tinha um projeto de uso definido. A reinauguração do edifício foi feita com uma breve exposição de azulejos. Pouco tempo após esse evento, O Palacete volta a ficar sem uso definitivo, até o final da gestão do ex-prefeito Dulciomar. O atual prefeito, assumiu seu madato em 2014 e até agora não definiu nenhum destino para o lugar. Atualmente, o diretor da FUMBEL, Jorge Pina fala que esta fundação tem uma nova proposta de intervenção, em parceria com uma nova empresa de restauro que está elaborando um relatório técnico mais atual dos danos presentes no Palacete, para em seguida dar entrada junto aos orgãos competentes e iniciar um novo processo de licitação. Ainda segundo Pina, por dificuldades financeiras da prefeitura de Belém, é bem provável que a obra fique para a próxima gestão municipal, já que não é possível conseguir recursos federais, uma vez que este já foi usado. Sendo assim é bem a prefeitura tenta buscar recursos de empresas que estejam interessadas em promover parcerias com a mesma. Durante todo seu processo de intervenção, deve-se destacar que o projeto do Palacete Pinho é de grande importância e foi evoluindo dentro das possibilidades técnicas de cada época. Ele é a representação das novas técnicas para a Região Norte, além de possuir grande importância estética, histórica e na memória coletiva da cidade. De acordo como Derenji, “tem que se considerar o Pinho como uma espécie de parâmetro de evolução das técnicas construtivas de Restauro”. Por fim, é lámentável um edifício como este, que passou por todo esse processos, esteja novamente em estado de descuido. Portanto, é imprescindível ao poder público e à sociedade, a retomada de uma discussão aberta à população acerca do destino que o palacete dever ter, para que o significado que ele possui e todo o esforço, que fora empregado nas várias tentativas de torná-lo um patrimõnio preservado, não tenham sido em vão.

PALACETE PINHO, LEGADO ABANDONADO Remanescente da Belle Époque enfrenta desgate devido à falta de uso efetivo

Por Marilia Reis

“A prefeitura deveria separar partes dos recursos para a manutenção de prédios históricos, mas os prédios históricos são colocados em segundo plano.” Jorge Pina. Atual Diretor do Departamento de Patrimônio Histórico/ FUMBEL.

O Palacete Pinho já obteve quais propostas de uso?

Antes o Palacete era de propriedade do grupo

Yamada que estava usando como depósito, havia a promessa de transformarem numa fundação com o nome do fundador do grupo, proposta bem aceita pela prefeitura. O tempo foi passando, mas o grupo manteve como depósito, com grande risco de incêndio, devido a concentração de materiais inflamáveis. Posteriormente, foi elaborado o projeto das arquitetas da FUMBEL, Roseane Norat e Filomena Longo, pelo escritório Escala Três, que visava a inclusão social, destinado ao público de crianças e adolescentes para o aprendizado da música, ideia da Guarda Municipal. Este projeto foi completamente aprovado pelo Ministério da Cultura por sua característica social, ação supervalorizada com recursos financeiros oriundos da Vale, assim, o projeto do “Solar do Sons” começa a ganhou maior extensão. Durante a gestão do prefeito Duciomar o Palacete ficou sem uso. segundo plano.” Em 2011, o Ministério Público acionou a prefeitura para que se concluísse a obra, com esta imposição a prefeitura recontratou a Estacom Engenharia para tocar a obra que se concluiu seguindo a mesma proposta de uso, mas não recebeu um destino de fato. Concluiu-se a obra apenas para se cumprir uma exigência do ministério. Hoje, o Palacete já se encontra com diversos danos, inclusive estruturais.

Qual a situação sobre a adaptação do Palacete Pinho em Museu e própria sede da FUMBEL?

O primeiro projeto tinha essa destinação, logo que apropriou o imóvel. Mas com o passar do tempo a proposta mudou para criar o “Solar dos Sons” (projeto da arquiteta Roseane Norat). A atual presidente da FUMBEL já tem outro olhar para o Palacete, e pode ser que a próxima gestão elabore uma nova proposta de uso para ele. Qual a proposta atual da FUMBEL para o Palacete?

Neste governo, a FUMBEL tem uma proposta de transformar o Palacete Pinho em “Palacete das Artes”, que irá envolver vários seguimentos das artes, literatura, teatro, pintura, escultura...Projeto em parceria com a SEMEC (Secretária Municipal de Educação) que já está pronto. A empresa de restauração contratada já está elaborando um relatório de danos presentes, para em seguida dar entrada nos órgãos competentes e iniciar o processo de licitação. A prefeitura está com dificuldades financeiras, logo está tentando buscar recursos para continuar o processo de obra. É provável que esta obra fique para a próxima gestão da prefeitura. Não é possível recursos federais, visto que já foi conseguido, entretanto, busca-se recursos de empresas que busquem parceria com a prefeitura. “O grande problema do Palacete Pinho é que sua restauração foi realizada, mas não se deu utilidade para ele, e pelo que se sabe, ele está com problemas causados pela ausência de uso do bem”. José Augusto Potiguar, Procurador do Ministério Público Federal/PA

Foto: Octávio Cardoso

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Alguma medida já foi tomada pelo Ministério Público em relação a ausência de uso do Palacete Pinho?

Você acredita que a atribuição de um uso para o Palacete Pinho auxiliaria quais vetores da população?

“A primeira notificação a prefeitura foi apenas pela obra, visto que a após dar-se-ia um uso, mas isso não ocorreu, agora o ministério está indo averiguar a falta dessa utilidade e isso provocou a própria deterioração do bem, logo vamos tratar dos dois”.

“O Palacete Pinho como qualquer prédio restaurado não pode ser considerado isolado, e portanto, deve-se considerar o entorno, porque ele é longe das áreas mais centrais. Ele poderia ser um órgão público, porque a manutenção desse tipo de prédio é muito mais econômica, além de ser educativo. Você ter um prédio desse restaurado e funcionando é melhor do que comprar outros ou construir um novo. Um órgão público instalado ali em junção com o porto do sal (segunda entrada do pinho – estacionamento), com devido saneamento e segurança seria benéfico tanto para a sociedade paraense, como mesmo para os ribeirinhos e as pessoas que ali habitam. A solução seria inteligente por parte da prefeitura em manter e obter função para esse tipo de edificação”.

Quem pode sugerir usos para o Palacete?

“A motivação no ministério público pode ocorrer por provocação, entidades, pessoas ou pelo próprio conhecimento (mídias). O patrimônio é da sociedade, um direito difuso, pertence ao coletivo, logo todos podem elaborar uma carta ao ministério público denunciando”. Qual uso o Ministério Público prevê para o Palacete Pinho?

“Nós do ministério público não podemos dizer o que deve ser feito dentro do bem, o que fazer do bem está no limite de liberdade do proprietário, o que podemos é compelir o proprietário a dar utilidade ao bem que não se desgaste, para que a reforma não seja inútil pela deterioração natural que a não utilização possa provocar. Por outro lado, para que o bem cultural seja usufruído pela sociedade é obvio que a proprietário tem que ter bom senso para dar uma destinação que vincule ao patrimônio cultural, porque o mesmo possui características que o diferencia dos demais”. “Eu continuo sendo contrária a construção de escola de musica, coisas com transito de muita criança correndo, coisas desse tipo, porque a vibração pode causa outro desabamento”. Jussara Derenji, Arquiteta e Urbanista, ex-Diretora do Departamento de Patrimônio Histórico/ FUMBEL. Atual diretora do Museu da Universidade Federal do Pará. Autora do livro “Igrejas, palácios e palacetes de Belém” (2009).

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pressão de um determinado grupo de música e o pessoal da banda, mas do ponto de vista arquitetônico não era o que a gente gostaria. Uma escola de música soluções específicas de conforto acústico e tinha que se adequar as condições do Palacete Pinho.”

edifício como um museu, isto tudo depende da decisão político administrativa.”

Como arquiteta, qual a sua opinião em relação ao uso mais adequado para o palacete?

“Eu acho inacreditável que uma cidade com quatro séculos de memória, com um edifício daquela espacialidade e localização esteja desocupado, não consigo compreender isso. A prefeitura tem muitos prédios que são alugados e outros tantos que funcionam em condições precárias. Então, eu acho que o Palacete Pinho deve ser visto com prioridade, não podendo ficar mais quatro anos esperando uma decisão. Ele sempre tem um momento de abandono, ele se encontra em estado vulnerável para saques e roubos, isso ocorre pela ausência de um projeto de restauração e a falta do estabelecimento de uma dinâmica de uso.

“Eu acredito que o primeiro projeto de sede da FUMBEL funcionaria bem, porque era um projeto institucional, mas ele mantinha usos que eram passíveis, onde o pavimento térreo seria a concentrado a parte mais institucional. Hoje, o palacete não suportaria toda a sede da FUMBEL mas um departamento caberia muito bem e ao mesmo tempo, poderia receber outras atividades que a própria FUMBEL tem de acesso ao público. Quando se tem uma dinâmica de ocupação permanente facilita a manutenção do

Qual a importância do Palacete Pinho pra a cidade de Belém? Quais as medidas você acredita que devem ser tomadas?

Qual uso você indicaria para o Palacete Pinho?

“O pinho deveria ser uma repartição pública. Sou contrária a qualquer movimentação de grande incidência de público, como sons agudos esse tipo de coisa que pudesse vir a ocasionar algum problema. Eu sugeri ao atual prefeito que ele fizesse um Museu Do Azulejo junto a uma repartição pública enxuta (algum departamento da FUMBEL) para oferecer manutenção do museu, que apresenta comportamento dinâmico, mas não foi aceito”. “Eu acho inacreditável que uma cidade com quatro séculos de memória, com um edifício daquela espacialidade e localização esteja desocupado, não consigo compreender isso” Roseane Norat, Arquiteta e Urbanista, professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFPA e ex-integrante do escritório Escala Três Arquitetos Associados.

Por que o projeto “Solar dos Sons” para o Palacete Pinho, é considerado polêmico?

“O “Solar do Sons” (escola de música) é polêmico porque foi uma decisão muito política devido a

Fonte: pportalparamazonia.blogspot.com.br/ palacete-pinho

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VOCÊ SABIA?... Por Roma Brito

Entre réplicas e originais

É

de conhecimento geral a importância material, artítisca e histórica do Palacete Pinho para Belém. Além de sua forma, sua distribuição volumétrica, elementos contrutivos, detalhes arquitetônicos e de ornamentação, de imediato saltam aos olhos, de quem contempla a sua fachada, os magnificos azulejos com os quais a edificação é revestida. Utilizar azulejos como revestimento é mais uma característica de como as heranças da história se manifestam na capital paraense. Após processos de intervenções, em 2004 a fachada do Palacete teve finalmente seus azulejos restaurados. Para que esta fachada fosse recuperada, foram feitas enomendas em Olinda (PE) das peças cerâmicas que pudessem substituir as faltantes, de origem alemã. A origem desses azulejos foi descoberto após uma leitura mais técnica e completa da edificação. Então, tomando como referência as concepções do teórico do Restauro Césare Brandi (1906-1988), buscou-se intensificar a unidade potencial do Palacete através da recuperação desse aspecto estético do bem. Segundo a professora da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal do Pará, Roseane Norat este recurso utilizado não se caracteriza como sendo um “falso-histórico” (ou estetico), na medida em que se restabelecer a leitura e a recomposição da obra, mesmo que utilizando peças similares. No entanto, deve-se dizer que a diferenciação do revestimento similar é propositalmente destacado, para distinguir a época de cada elemento aplicado. O diretor do Departamento de Patrimônio Histórico de Belém, afirma que “os azulejos originais (provenientes da Alemanha) possuem revelo e os que foram encomendados são planos, isto é uma forma de destinguir o elemento de valor histórico e contemporâneo, para não causar falso-historico.” De fato, as paredes que foram danificadas e, consequentemente, tiveram seus azulejos comprometidos foram trabalhadas com réplicas, as quais já estavam sendo usadas. “Existiam poucos azulejos a maioria dos azulejos são originais”, também ressalta Norat.

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Quando os “céus” vêm abaixo

U

m dos principais fantasmas que assombram a trajetória do Palacete Pinho foi a possiblidade do seu desaparecimento. Apesar de essa infeliz possibilidade há muito ter sido afastada – graças ao processo de tombamento do edifício – um grande susto assolou os técnicos participavam do processo de recuperação desse bem: o desabamento de parte de sua estrutura. Tudo começou a partir da idéia – concebida no mandato do então prefeito Edimilson Rodrigues – de se transformar o edifício numa instituição cultural destinada a música, que seria chamada de Solar dos Sons. No decorrer da obra de realização do projeto, são constatadas fissuras em partes estrutuais da edificação, às quais seriam destinadas soluções para que não trouxessem nenhum tipo de prejuíso para o local. No entanto, ninguém suspeitava que este risco era tão iminente, não se tinha noção da gravidade dos danos que aquelas fissuras causaram do prédio. Então, no dia 13 de maio de 2004, o telhado do miolo central do Palacete vem abaixo. Isto ocorre durante um período turbulento, no final do mandato daquela gestão municipal e da obra. Cristóvão Duarte, o presidente do IPHAN (instituto blablabla) na época, tomou as rédeas do problema; ele reuniu a sua equipe técnica com a do projeto para tentar entender quais os fatores que levaram ao trágico incidente, juntamente com Silvia Potione Nagib Charone, engenheiros estrutural do IPHAN. Uma conjunção de motivos que levaram a esse desmoronamento foram constatados, sendo que o principal dele é a condição de extremo desgaste da estrutura da edificação – alvenaria em tijolo. Deste modo, na época desta obra, foi proposto e aplicado um reforço estrutural que previa transversinas metalicas. Foi necessário também retirar um outro elemento estrutual a priori secundário, mas que, posteriormente, revelou-se importante no contraventamento: os barrotes do edifício – as transversinas originais – foram mantidas, porém, estas apresentavam concatenações de travamento com algumas peças de madeira intercaladas, que juntas forma-

Foto: Octávio Cardoso

O patrimônio que inspira o design

A

arte, a arquitetura e a história, de um modo geral, sempre foram grandes fontes de referência e insparação para as novas formas de criação; sendo assim, este fato tabém não poderia ter sido alheio ao Palacete Pinho. No 4º Festival do Chocolate e Cacau da Amazônia e Flor Pará 2016, haverá a apresentação da coleção “Joias da Belém 400 Anos: Cultura, História e Natureza” que marcará a participação do programa Pólo Joalheiro do Pará no evento. Com 39 peças no total – realizadas por 28 designers, ourives, lapidários e demais empreendedores criativos – a coleção busca transparecer a memória e história de Belém, sua cultura e natureza, através da sua arquitetura emblemática, pela floresta e outros aspectos da cidade e seu patrimônio. Entre as jóias de destaque que estarão exposta, uma pode ser conferida em especial – trata-se do maxicolar Emoções Amazônicas, em prata com lápis lázuli e porcelana antiga, criado pela designer Celeste Heitmann, com ourivesaria de Joelson. A jóia foi concebida e inspirada pela azulejaria e traços ornamentais presentes no Palacete Pinho, bem como toda a sua herança cultural trazida do período da Belle Époque.

Foto: João Ramid AIB

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Velho Palacete Pinho, Tu vens de um tempo vetusto, Feito de pedra e carinho, Te ergues assim tรฃo augusto!

- Alfredo Garcia-Braganรงa

Universidade Federal do Parรก

Instituto de Tecnologia da UFPA

Faculdade de Arquitetura e Urbanismo - UFPA


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