Revista Asmip

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utro lhar

Edição 001 • Ano 1 • No.1 • Maio de 2010.

Mulheres Espetaculares

Margarida Teixeira uma ausência que ninguém rouba de nós

Novo comandante à vista ladrões no poder Assédio Moral, o mal silencioso

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TODOS OSOS JOGOS DA COPA TODOS JOGOS DA COPA AO SEU ALCANCE, AO SEU ALCANCE, TODOS OS JOGOS DA COPA EM QUALQUER HORA, EM QUALQUER HORA, AO SEU ALCANCE, EM QUALQUER LUGAR! EM QUALQUER LUGAR! EM QUALQUER HORA, EM QUALQUER LUGAR!

CORRA CORRAE PEÇA E PEÇAO OSEU! SEU! CORRA E PEÇA O SEU!


utro lhar Expediente Diretoria da Asmip biênio 2010-2012 Presidente: Ana Nogueira Vice-presidente: Artur Marciano Diretor Administrativo: Marco Giraldes Diretor de Esportes: Márcio Lima Diretor Social: Moysés Bemerguy Diretor de Comunicação: Edmar Rodrigues Tesoureira: Shirlene Rodopoulos

Equipe de Jornalismo: Priscylla Damasceno Camila Maia

Projeto Editorial: Raphael Cardoso Tiragem: 2.000 exemplares Impressão: Supernova Gráfica

ASMIP - Associação dos Servidores do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios

SIG • Qd 01 • Lotes 555 a 575 cep:70610-410 • Brasília-DF. e-mail: contatoasmip@gmail.com Tels: (61) 3343-9383 / 3343-9384 • fax: (61) 3321-0062 www.asmip.org.br

Editorial Nem bem assumimos a Diretoria da Asmip e já começamos a conversar sobre o sonho de criar uma revista impressa que fosse uma ferramenta eficiente de comunicação com os servidores, ao mesmo tempo em que promovesse a integração entre as pessoas desse arquipélago chamado MPDFT. A revista deveria nascer, igualmente, com o propósito de mostrar a todos os servidores os pontos de vista da nova diretoria, constituindo-se num veículo para provocar, propor reflexões e, em especial, para retratar o servidor, valorizando-o e às suas particularidades, dando a conhecer um pouco do lado B de cada um de nós, com o singelo e sincero propósito de nos desencapsular, de nos retirar do anonimato frio das baias em que cumprimos as nossas obrigações cotidianas, de servir, numa analogia grosseira, como um pop up piscando na intranet e dizendo “"olha como essa pessoa é legal!" Não nos interessava fazer uma revista institucional, fria, repleta do palavrório formal do nosso cotidiano ou recheada de palavras de ordem em letras garrafais, igual a tantas outras revistas que ninguém quer ler e nem guardar. Nós pensamos grande, nós sonhamos alto – e assim quisemos construir uma revista que fosse uma revista normal, com palavras normais, com matérias normais que, a gente acredita, podem interessar cada um e, com sorte, despertar algum sentimento adormecido que precisa ser sacudido para que a gente possa conquistar todas as coisas que a gente merece ter, em nível institucional. Foi no bojo dessa missão ambiciosa que nasceu a Outro Olhar, que chega às suas mãos numa edição especial comemorativa das mulheres, uma escolha temática que nada tem de casual: a primeira edição foi concebida para homenagear a servidora Margarida Teixeira, cuja ausência a gente não cansa de sentir, e cuja importância merece ser lembrada e valorizada, pois ela é parte inseparável da História do MPDFT. Nós esperamos que você folheie, deleite-se, permitase ser tocado e modificado pelas histórias das nossa mulheres espetaculares. A elas, a nossa reverência merecida.


Índice 5

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Margarida Teixeira

Novo Comandante à vista

DALIDADE: FOTOGRAFIA

ME DA OBRA: Brincar de ser feliz

EUDÔNIMO DO AUTOR: Lela

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Concurso Cultural

Nosso MP 6 7 9 13

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Assédio Moral

Cinquentenário do MPDFT sETAPs história escrita a muitas mãos berçário no MPDFT

MUlhErEs EsPETACUlArEs 19 16 22 25 33

Atitude stella rodopoulos Por onde andarão Momento Estrela Mãe de Coração

soliDAriEDADE E CiDADANiA 48

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ladrões no Poder

A religião é o amor

oPNião 52

Pare!

Ladrões no Poder

CADErNo DE CUlTUrA Por Artur Marciano

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Caderno de cultura Carencia de mãe

CoNsiDErAÇÕEs FiNAis O ministro saiu do baile da embaixada, embarcando logo no carro. Desde duas horas estivera a sonhar com aquele momento. Ansiava estar só, só com o seu pensamento, pesando bem as palavras que proferira, relembrando as atitudes e os pasmos olhares dos circunstantes. Por isso entrara no coupé depressa, sôfrego, sem mesmo reparar se,

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Coisa de maluco


Nosso MP

Novo Comandante à vista ou a nau dos desesperados por Ana Nogueira

N

ão é preciso consultar oráculos e nem ser simpático ao esoterismo para perceber que 2010 é um ano cabalístico, em que o universo conspira para que vivenciemos tudo ao mesmo tempo agora, com fatos acontecendo em progressão geométrica em todas as esferas: é ano de copa do mundo, de eleições gerais Brasil afora, de cinquentenário do MPDFT , de projeto de revisão de salários de servidores e de eleições internas para escolha do novo Procurador-Geral de Justiça. Dentro de poucos dias, num contexto político nunca antes visto, conheceremos a lista tríplice e então teremos ao menos uma idéia sobre quem comandará este imenso barco pelos próximos dois anos. Em julho de 2006, quando Leonardo Bandarra, em sua terceira tentativa, sagrou-se Procurador-Geral de Justiça, expressiva parte dos servidores desta casa comemorou: por sua atitude amistosa aos servidores, que tratou sempre com camaradagem e sem formalidades de excelência, e por seu estilo dinâmico e agitado, que sinalizava um período de muito trabalho e intensas mudanças. Houve uma expectativa positiva de que, até mesmo por sua juventude, a gestão de Bandarra traria ao MPDFT os tão esperados ventos de modernidade. Permitindo-me uma digressão inconsequente, pois que feita sem embasamento científico, eu arriscaria dizer que o estilo jovial e camarada de Bandarra deu a muitos a esperança de que o nosso MP seria muito, mas muito mais leve e muito mais legal. Para decepção de todos e surpresa de alguns, as coisas aconteceram de modo diametralmente oposto. O clima positivo logo se dissipou e as pessoas rapidamente entenderam que tudo mudara para pior: traçávamos, em certos aspectos, um retorno à idade das trevas. Um silêncio de morte desenhava um MPDFT que ninguém jamais conhecera. Indignação, estupefação e medo – era o que se captava nas conversas miúdas aqui e ali. Nos e-mails trocados entre os grupos, era clara a angústia e grande a revolta. Mas não havia resistência. O senso comum entre os servidores indicava que não compensava fazer nada, tentar nada, era melhor ficar quieto e deixar que acabasse o mandato, eram só dois anos. Só. Passaram-se os dois anos, lentos, sofridos e silenciosos – que uma das coisas mais representativas da opressão é o silêncio denso dos oprimidos. Ao final, a expectativa de renovação foi frustrada – e vieram outros dois. Ao primeiro anúncio da recondução do procurador-geral de justiça, em 2008, uma servidora abriu um tópico no fórum da intranet para libertar o grito entalado na garganta da maioria: “"estamos de luto". Estávamos. Sem poder para mudar nada, ou acreditando não ter poder mudar nada, sem forças para exigir respeito, sem coragem para pedir clemência, fomos engolindo o luto e nos metamorfoseando para suportar mais dois anos. De servidores orgulhosos e felizes, passamos a concurseiros desesperados por uma oportunidade de ir embora do MPDFT. Os concursos de remoção se tornaram vias de saída rápida para qualquer lugar que não fosse aqui. Só dois anos. Nossos interesses nunca estiveram na pauta e muito menos foram priorizados pela administração. Mais dois anos. Nossos interesses nunca estiveram na pauta e nem foram priorizados pela administração. Nos últimos quatro anos, assumimos o papel de espectadores dos fatos, como se convencidos de que não temos, com efeito, nem o poder e nem o direito de interferir nos rumos da História do MPDFT, este MPDFT feito por nós, dia após dia, na alegria e na tristeza, este lugar erguido com nossas mãos, com o nosso labor, com amor e com verdade, para o povo desta cidade. Nós, protagonistas para a população que nos procura, fomos colocados na posição de claque contratada para fazer o que o seu mestre mandar – e temos cumprido majestosamente esta missão. Não merecemos, nessa estrutura, sequer o papel de coadjuvantes na construção de um projeto para a instituição. Fomos, e ainda estamos, a horda dos invisíveis. E chega ao fim o derradeiro mandato, em breve outro comandará esta nau. Muito se especula sobre quem será. Muito se especula como será a vida dos servidores, a depender de quem será. Eu não faço o tipo que fica pensando “"e se?", porque não gasto neurônios para elaborar coisas que não me cabe controlar - e eu não posso escolher o novo chefe do MPDFT. Por isso a pergunta que me habita, e cuja resposta me intriga, é:

Quem será você, servidor, nos próximos dois anos? Ser mulher é valorizar a verdadeira obra de arte de Deus. • Sebastiana Nunes Barbosa

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Nosso MP

Cinquentenário do MPDFT

O

dia hoje, internamente, é de festa. Sem ponto de exclamação. Uma festa anunciada aos quatro ventos que mobilizou , talvez durante meses, dezenas de pessoas que planejaram, sonharam, contornaram toda sorte de dificuldades, enfrentaram as mais sangrentas batalhas burocráticas, tudo para que a festa de hoje acontecesse conforme o sonho de seus idealizadores. A estas pessoas que trabalharam para tornar esse evento possível, primeiramente, o nosso reconhecimento: realizar qualquer coisa no MPDFT é uma tarefa hercúlea, então sejam todos laureados. O MPDFT faz 50 anos, há festa, mas os servidores estão tristes. E como lidar com essa tristeza legítima sem bancar o estraga-prazeres? Como forjar uma alegria que não existe – porque a alegria não é instantânea e volátil, mudando de lado apenas pelo anúncio de festa – e dizer: Parabéns, MPDFT? É possível dizer ‘Parabéns, MPDFT, por seus 50 anos de serviços prestados à comunidade – dizê-lo protocolarmente, porque somos educados e é incontestável que a instituição presta serviços especiais, com projetos que falam diretamente às necessidades das populações mais carentes. É possível dizer parabéns, mas não é possível fazê-lo com sentimento. Porque para haver sentimento, para haver alegria na celebração, seria preciso que cada um de nós se sentisse parte do MPDFT, que cada um de nós se sentisse um braço dessa instituição, era preciso que tivéssemos vivido os últimos mil dias, ao menos, sendo valorizados e respeitados, sendo ouvidos, sendo considerados... Mas os últimos mil dias, pelo menos, demonstram que, bem ao contrário, temos sido tratados como nada, temos sido censurados, temos sido punidos e advertidos, temos sido calados, temos sido esquecidos, temos sido preteridos, temos sido controlados como criminosos, temos assistido o MPDFT se tornar um órgão que, não obstante o seu discurso de aproximação com a comunidade, aposta nas castas e as reforça. Nunca estivemos tão miseráveis, sozinhos e isolados. Não somos parte desta casa, somos os intrusos. O MPDFT é dos membros do MPDFT. Os últimos mil dias acinzentaram nossa vida de maneira irrecuperável. Não temos vagas nos estacionamentos e somos furtados e ameaçados para ir e vir ao trabalho. Nunca há orçamento para as nossas demandas, o nosso plano de carreira não conta com a vontade de nenhum reles comandante, mas há orçamento para pagar atrasados em escala industrial aos membros do MPU no Brasil inteiro. Estamos mais pobres ao tempo em que eles estão mais ricos – e se ousamos pleitear vencimentos que esbarrem nos seus, somos rechaçados, afinal, é preciso manter bem profundo o fosso que separa as duas classes, pois de outro modo poderíamos entender que temos a mesma importância. Foi também nos últimos mil dias que se instituiu a humilhação do grifo, imposta de maneira vergonhosa aos servidores, diariamente, enquanto nenhum membro admite ser controlado. Foi nesse período que o deixamos de ter treinamentos, que vimos negados todos os nossos pedidos ao DRH – que, ironicamente, passou a se chamar Departamento de Gestão de Pessoas, uma piada de muito mau gosto. Além 6

“Hierarquia" - Poema Visual de Tchello D’Barros

disso, somos indiciados em sindicâncias que já nascem punitivas, basta um membro fazer queixa e estamos todos condenados – e para coroar o tratamento desigual, e muitas vezes desumano, o MPDFT teve o requinte de instituir a sua própria polícia. Contribuímos para o Plan Assiste com mesmo valor mensal que os membros contribuem – porque alguém definiu que o teto de contribuição era o salário dos pobres servidores. Damos a cara à comunidade, prestando atendimento de excelência, ouvindo, ajudando, trabalhando diariamente, mas somos tratados como subprodutos – até a Revista do MPDFT, mesmo quando fala de tarefas cumpridas por servidores nas promotorias, ilustra as matérias com fotos de... membros! A Comunicação Social nos brinda com artigos de membros, notícias de membros, histórias de membros – já houve uma edição da revista do MPDFT exclusiva para membros também. O cerimonial do MPDFT se recusa a divulgar missa de sétimo dia de familiares de servidores. O Banco do Brasil recebeu de bandeja um espaço nobre, para que os membros não precisassem se misturar aos demais. O MPDFT tem elevador privativo para membros, isso já diz tudo. O MPDFT é dos membros do MPDFT, esta é a realidade dolorosa. E nos últimos mil dias, pelo menos, ficou mais difícil ignorá-la. Não queremos ser estraga-prazeres, mas é estranho ser chamado para sorrir na foto de família, como se a ela pertencêssemos. Por isso, desculpe, MPDFT, mas hoje não dá para ficar feliz com o seu aniversário. Ana Nogueira Presidente

*Mensagem divulgada pela intranet em 14/5/2010

| Ser mulher é ser antes de tudo forte, embora deixando transparecer um certo tom de fragilidade... para não perder a ternura. • Rosaurani Coelho Moutinho


Nosso MP

SETAPS

Uma Equipe Multidisciplinar por Camila Maia

Acolher, prevenir e acompanhar. Essas são as três palavras de ordem dentro do Setor de Atendimento Psicossocial (SETAPS). Instituído em 2008, com o intuito de prestar auxílio, prevenir e atender casos relacionados à saúde ocupacional (designação de várias doenças que causam alterações na saúde do trabalhador, provocadas por fatores relacionados com o ambiente de trabalho), o setor começou como um núcleo dentro da Divisão de Atenção à Saúde (DIAS) e contava com uma comissão de médicos e psicólogos pertencentes a esta. Hoje o SETAPS, setor da DIAS, que por sua vez está vinculada ao Departamento de Gestão de Pessoas (DGP), adquiriu certa autonomia com seu trabalho, contando com uma equipe multidisciplinar. O primeiro contato do servidor com o SETAPS se dá por meio do acolhimento. Ele pode ser voluntário, ocorrer

a pedido da chefia, da junta médica (em caso de servidores afastados por mais de 30 dias) ou da família. Nessa etapa, que conta com o sigilo dos profissionais envolvidos, a pessoa começa a se conscientizar das dificuldades que está enfrentando. Juntamente com a equipe, o paciente busca as melhores formas de tratar aquilo que esteja lhe trazendo danos. Feito isso, a pessoa será encaminhada para profissionais da área de saúde, na maior parte das vezes, credenciados. Nesse estágio será realizado o tratamento, acompanhado pela equipe do Setor durante todo o seu processo. O acolhimento realizado pelo SETAPS é multidisciplinar. Isso quer dizer que o paciente é acompanhado em diversos aspectos e recebe o apoio de profissionais de várias áreas. Esse fator é de suma importância para a recuperação do servidor, já que na maioria dos casos,

"Ser mulher é" Ser sempre feliz, sempre apaixonada, caminhar sempre e nunca desistir. • Joziete Ferreira de Brito Dias

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Técnica e paixão: o segredo do SETAPS

(...) Até hoje não apareceu nenhum caso de acolhimento, envolvendo assédio no MPDFT, graças a Deus, mas o nosso atendimento é de toda as ordens: familiares, financeiras, laborativas, emocionais, doenças ler/dort, relotação de servidor, acompanhamento no tratamento de Psicossocial, atendimento aos pedidos da Junta Médica, dos familiares (pais, mães, irmãos,etc...) que nos procuram para ajudar em problemas de relacionamento familiar, etc... O nosso trabalho com a Equipe Multidisciplinar é feito com muita atenção, respeito, sigilo, e com muito carinho, cada um aqui no SETAPS tem paixão pelo que faz.

(Maria de Lourdes G. Quirino da Rocha - Chefe do Setor de Atendimento Psicossocial)

uma doença nunca possui apenas um fator causador e determinante. As enfermidades também não se ocasionam somente devido a fatores biológicos. Elas podem ocorrer por causa de agentes sociais. Pensando nisso, o Setor de Atendimento Psicossocial conta com uma equipe composta por três assistentes sociais. Hoje não se pensa mais saúde somente na biologia ou na psicologia. É necessário sair do indivíduo e chegar à comunidade que o cerca, contou Adriana de Oliveira, analista de saúde e assistente social. O perfil das pessoas que procuram o SETAPS é bastante variado. A demanda pelo serviço é muito relativa e vem de várias vertentes. Com base nessa demanda, a equipe se dedica a desenvolver projetos de prevenção (vide Box). Apesar da variedade de perfis, os casos mais comuns no SETAPS são, de acordo com Eduardo Villar Potiens, da equipe de Psicologia, os relacionados à saúde mental. Em boa parte das vezes, o sofrimento mental pode ter caráter ocupacional, assim como a LER/DORT (lesão por esforço repetitivo/ distúrbios osteo-musculares relacionados ao trabalho) que também fazem parte da lista das doenças mais freqüentes entre os servidores públicos. Segundo a Dra. Paula Mendes Werneck da Rocha, Analista Pericial em Medicina do Trabalho, a maioria das doenças ocupacionais não deveriam ocorrer e acontecem por um descaso. De forma geral, as instituições devem obedecer à legislação do Ministério do Trabalho, o que não ocorre. Obedecer não por um motivo legal, mas por ser uma referência, para construir um ambiente que em última análise gerará qualidade de vida, disse. O conhecimento das atividades do setor sinaliza a importância de sua existência, não apenas para tratar saúde dos servidores, mas também para adotar medidas profiláticas que promovam qualidade de vida e, consequentemente, o bom funcionamento e eficiência do próprio MPDFT, movido pelos trabalhadores que o compõem. Com as bases assentadas sobre uma equipe multidisciplinar, o SETAPS proporciona um olhar diferenciado sobre a maneira de tratar da saúde e torna ainda mais verdadeiro o ditado tantas vezes repetido por nossos avós: é melhor prevenir do que remediar. O SETAPS, está localizado no Ed. Ibama, sala 1004, 1006 e 1008. Telefones para contato: 3315 -9701 (Tarde) • 3315-9748 (Tarde) • 3315-9629 (Tarde) • 3315-9657 (Manhã). 8

| "Ser mulher é captar a essência oculta da vida" • Audyana Maria de Carvalho Lopes

O SETAPS, atualmente, está trabalhando em dois projetos: o Despertar e o voltado para a aposentadoria. O primeiro, que já está em plena ação, visa à prevenção ao uso de álcool e outras drogas, principalmente a partir de oficinas e palestras e possui como responsável-técnico o analista de saúde da área de Psicologia Eduardo Villar Potiens. O segundo, por sua vez, ainda está em fase de desenvolvimento. Ele buscará preparar os servidores para aposentadoria, visando que estes, ao se aposentarem, vivam bem e aproveitem o tão esperado e merecido período de descanso. Segundo Maria de Lourdes, projetos semelhantes já estão em andamento em outras instituições e tem se mostrado eficazes. A aposentadoria deve ser uma coisa positiva, afirmou.


Nosso MP

hist贸ria escrita a muitas m茫os Por Priscylla Damasceno

Por Priscylla Damasceno

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O

maior patrimônio das organizações são as pessoas. Do servente ao presidente, cada um dos integrantes de uma instituição, pública ou privada, tem a mesma importância no funcionamento da grande engrenagem que faz o barco navegar. No entanto, a cultura estabeleceu, em algum momento, de algum modo, que nessa engrenagem delicada e complexa, há pessoas que são mais importantes do que outras. O Homem assimilou esse ensinamento e o senso comum, esta entidade viva que norteia os nossos atos sem que nem percebamos, carimbou a idéia como verdade. A partir daí, a vida se dividiu, sem muita crítica ou discussão, em grupos de pessoas mais ou menos relevantes – de acordo com padrões estabelecidos em algum momento, de algum modo, em algum lugar. O Homem novamente assimilou estas divisões, aceitou-as e, refém de um cotidiano cada vez mais insano, onde o tempo é o inimigo mais perigoso e onde a vaidade é a senhora dos seus atos, esqueceu de lembrar que um dia, de algum modo, em algum lugar, fomos todos

iguais. No MPDFT, o palco onde a igualdade deveria ser protagonista, as vaidades desfilam, segmentando pessoas, segregando-as em grupos e criando uma espécie de cadeia alimentar onde valores como caráter, generosidade, humildade, hombridade, altruísmo, competência, talento, solidariedade, são menos relevantes do que as palavras membro, terceirizado, requisitado, técnico, dinheiro, formação, estagiário, analista. Para navegar, o barco precisa da contribuição de todos, indiscriminadamente, mas as verdades estabelecidas em algum momento, em algum lugar, distorcem essa consciência tão essencial a uma convivência justa, onde se reconheça a importância de todos os papéis e, mais que isso, onde se respeite o Homem, primordialmente, por sua humanidade. Mas é possível mudar. É possível abrir-se, expandirse, olhar, rever, respeitar – basta querer dar um passo, o primeiro e decisivo passo que nos faz sair da inércia e caminhar. Nas histórias a seguir, nós damos a você seis razões para você começar.

Adilson

13 anos de MPDFT

Entre as pessoas que amam seu trabalho e fazem a diferença na “hora "H" está Adilson Francisco dos Santos, supervisor da segurança, que dedicou 13 de seus 48 anos ao MPDFT. Quando Adilson começou a trabalhar como vigilante no órgão, em 1998, não tinha nem a sétima série. Hoje, formado em Administração (Gestão Pública), sonha passar em um concurso público e é extremamente grato à mudança que o MPDFT trouxe para sua história: “Trabalhar aqui me ajudou a subir na vida", conta ele. Adilson tem a grande responsabilidade de proteger o patrimônio MPDFT, os bens públicos e as pessoas que lá estão. Para isso ele controla o fluxo de funcionários e também as autorizações para pessoas que entram e saem do prédio. Seu dia-a-dia é bastante movimentado, principalmente, quando há algum evento ou quando alguma autoridade vai à instituição. Ele chega às 9:30 e dá as ordens para sua equipe, que gira em torno de 100 pessoas. Sob seu comando, não apenas os seguranças do edifício sede, mas os de todas as promotorias espalhadas pelo DF. O supervisor não fica em sua mesa “nem um minuto sequer. É o tempo todo alerta, resolvendo tudo para garantir a segurança de uma das instituições mais importantes do país. "“Para estar no cargo em que estou é preciso muita responsabilidade e muito carisma porque tenho que lidar diretamente com pessoas", conta. Ele se sente parte da história da instituição e de seu crescimento, que vivencia desde que tornou-se funcionário operacional. Adilson cresceu junto com o MPDFT e se declara muito grato a todas as pessoas que o incentivaram a estudar e a crescer profissionalmente. Dentre as lembranças mais marcantes, Adilson destaca a morte da grande amiga Margarida Teixeira, em dezembro de 2008, com cuja ausência até hoje não se acostumou. “"Sinto falta até de acompanhá-la ao seu carro", conta ele.

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| Ser mulher é.., um encanto irresistível • Wania Meire Silva Rocha


Eudes e Viana 13 anos de MPDFT

Os garçons Francisco Eudes Lira Vasconcelos (Eudes), 52 anos, e José Viana Filho (Viana), 48 anos, são amigos e chegaram ao MPDFT na inauguração, em 1998. A história de como começaram a trabalhar na instituição é “bem engraçada", como diz o Viana. Eles trabalhavam como garçons em uma pizzaria, da qual era cliente o dono da empresa contratada para prestar serviços de limpeza no MPDFT, a Locacel. “Ele nos roubou da pizzaria", complementa Eudes, sorrindo. Para ele, isso foi uma das melhores coisas que já aconteceram em sua vida. Com os cabelos já grisalhos, Eudes é figura antiga e querida no 9º andar do edifício-sede, onde se concentra a administração superior: Procuradoria-Geral, Vice-Procuradoria-Geral, Corregedoria, Conselho Superior e todas as assessorias do procurador-geral. Ele nos conta que se sente realizado por ter dois filhos, uma esposa que ama muito e um emprego digno. “Não tenho vergonha de dizer que sou garçom". Eudes também relata que já viveu tudo o que tinha pra viver profissionalmente e que só deixa MPDFT para se aposentar, quando deseja realizar o sonho de voltar para o Ceará, sua terra natal, e descansar. Viana, igualmente querido dos integrantes da instituição, dividiu com Eudes, por muitos anos, o atendimento dos membros e servidores do 9º 9 andar. Há cinco meses, surgiu uma oportunidade de trabalhar na PJ de Samambaia, perto de casa, e ele aceitou. “Sinto muita falta de todos no sede, mas não aguentava mais o cansaço de todos esses anos por causa da distância", revela. Muito católico, diz que sempre pediu a Deus um emprego em que ele pudesse trabalhar de segunda à sexta-feira, para aproveitar a sua família no final de semana. Conseguiu. Dos fatos que marcaram sua vida no MPDFT, Viana destaca um momento difícil, quando a empresa deixou de pagar, durante meses, os salários dos terceirizados. Foram os integrantes do MPDFT que, espontaneamente, fizeram “vaquinhas" para ajudá-los a enfrentar as dificuldades. Sobre os planos para o futuro, Viana ainda não pensa em aposentadoria, ao contrário: seu sonho é se tornar servidor público. Ninguém duvida de que ele vai chegar lá.

ilma

13 anos de MPDFT

Ilma, encarregada da limpeza, tem o mesmo sonho de Viana: tornar-se servidora concursada. Funcionária do órgão desde a inauguração do prédio, em 98, Ilma José do Amaral, 43 anos, é peça essencial na engrenagem chamada MPDFT. Passando uma tarde acompanhando o serviço da Ilma, dá pra perceber o quanto essa mulher e todas as pessoas da limpeza são importantes para o bom andamento da instituição. Liderança está nas veias da funcionária: entrou como servente, mas criava oportunidades e demonstrava o quanto era capaz de ser chefe. E foi “por acaso, afirma ela, que foi promovida a encarregada da limpeza. A história da promoção começa uma unha do pé machucada. Como não conseguia calçar o sapato, parte obrigatória do uniforme, Ilma deixou de fazer a limpeza dos seus setores e ficou na copa do subsolo e na sala do encarregado da limpeza – na época, o Permínio. Ela fazia de tudo: lavava louça, fazia café e ficava no lugar do Permínio, quando era necessário – o que resultou no aprendizado das atribuições de um encarregado de limpeza. A unha ficou boa e ela voltou aos seus afazeres. Mas quando era necessário substituir o Permínio, Ilma sempre era lembrada. Dois anos depois, Ilma foi indicada para ocupar uma das duas vagas oferecidas pelo MPDFT num curso de aperfeiçoamento aos terceirizados. Passou-se pouco tempo até ela ser chamada para assumir o lugar de Permínio, formalmente, o que foi surpreendente porque, pelo padrão das promoções da empresa, quando um encarregado deixa o cargo, o auxiliar é promovido a encarregado e um servente tornava-se o novo auxiliar. Ilma foi exceção: de servente foi promovida diretamente à encarregada da limpeza, o que demonstra o reconhecimento da sua capacidade profissional. Hoje, responsável por mais de 100 serventes de todas as unidades do MPDFT, Ilma se sente muito bem colocada profissionalmente. Seu serviço é orientar e vistoriar os serventes. De sua profissão atual quer mudar apenas para a realização de seu sonho, o de ser uma servidora do MPDFT, trabalhando na área de gestão ambiental. Ser mulher é olhar para si mesma sem se medir pelas outras. • Maria Zilvanir Lima Costa

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Val 8 anos de MPDFT "“Chego às 7:30, faço café, encho as garrafas e levo para as salas. Depois lavo as louças." Única copeira em serviço no Edifício Ibama, Maria Valdivina Melo Cardoso, a Val, 36 anos, nos conta como é a rotina na copa com menos de 4 m m² onde desempenha as suas tarefas diárias. Nesse espaço minúsculo, ela prepara o café para servir os 3 andares e cerca de 150 servidores do MPDFT no prédio, leva água e café de manhã e à tarde, além de atender às reuniões eventuais. Há 8 anos trabalhando no MPDFT, diz que já viveu muitos momentos bons. Casada com Joaquim, Val tem 3 filhos: Wendel, Wesley e Maria Eduarda. Na gravidez desta última, Val se lembra, rindo, da história do seu primeiro chá de berço, organizado pelos servidores do 7º andar: "“Foi bem no dia em que Maria Eduarda resolveu assustar todo mundo dando alarme falso, como quem vai nascer antes da hora". Val estava com 7 meses e passou mal a caminho do trabalho, sendo levada ao Hospital Materno e Infantil de Brasília (HMIB), onde ficou internada. O divertido é que a ausência não inibiu organizadores, que arrumaram uma Val substituta (uma servidora se vestiu de grávida para representar a copeira) e fizeram a festa sem a verdadeira. O marido Joaquim foi buscar os presentes e as fraldas e até hoje todos riem da história. O segundo chá de berço foi organizado pelos servidores do 10º 10 andar, na modalidade surpresa. Inventaram que haveria uma reunião para aproximadamente 20 pessoas e pediram que ela servisse o pessoal num determinado horário. Então Val se preparou, fez o café, colocou água nos copos e foi servir a “tal reunião. Quando entrou na sala, a festa estava montada para ela com muitos comes e bebes, presentes e fraldas. Nessa comemoração, Val já estava com 9 meses de gravidez. Outra lembrança marcante se refere ao dia seu aniversário, quando os servidores do 7º 7 andar, onde fica localizada a copa, saíram nos corredores cantando parabéns, numa clara demonstração do quanto Val é querida por todo mundo. Permínio 13 anos de MPDFT Aos 53 anos, Permínio Oliveira Plácido sabe que deu o seu melhor servindo ao MPDFT, como encarregado da limpeza, durante 13 anos. A história de como chegou ao órgão, em 1995, é semelhante à de Eudes e Viana, pois foi convidado a deixar o posto de chefe dos garçons do restaurante Chorão pelo mesmo dono da Locacel, o Seu Wilson, que "“roubaria" Eudes e Viana de uma pizzaria 3 anos depois. Permínio se tornou encarregado de limpeza, chefiando uma equipe de 8 pessoas, quando a instituição ainda não tinha sede própria e ocupava o 7° e 8° andares do prédio do TJDF. Das lembranças marcantes de Permínio, destaca-se a inauguração do edifício-sede do MPDFT, no ano de 1998. A equipe de prestadores de serviços de limpeza aumentou para 43 pessoas. "“Me lembro da primeira limpeza no sede, foi pesada. Tinha muita poeira e demoramos em média um mês para terminar", conta ele. Ele explica que o prédio foi inaugurado por andares – quando finalizavase um andar, a equipe da limpeza era chamada. Permínio como encarregado, dava as ordens: "“Eu separava alguns para fazer primeiro uma limpeza 'grossa' e depois vinham outros para fazer uma limpeza mais 'detalhada'. E foi assim do 9º andar ao 3º subsolo". De tantos anos vivendo uma instituição, ficam as histórias – umas boas, outras nem tanto, exatamente como na vida de cada um de nós. A Asmip figura entre as boas lembranças de Permínio e inesquecíveis, para ele, são os torneios de futebol que a associação promovia. “"Ali todos eram iguais, jogava servente com promotor, encarregado, servidores e não existia preconceito", conta, citando especialmente uma comemoração do dia das mães, cujo jogo de abertura foi vencido pelo seu time. “"Já ganhei vários campeonatos. Eu gostava de fazer o meu time e ganhar os campeonatos", comemora. Hoje, Permínio é encarregado da limpeza no Tribunal Superior Eleitoral, 2ª região, mas seu sonho é voltar a prestar seus serviços no MPDFT. Adilson, Eudes, Viana, Ilma, Permínio, Val são apenas seis das centenas de servidores que diariamente dedicam suas horas ao MPDFT, com amor, responsabilidade, zelo e paciência, sendo muitas vezes invisíveis, apesar das tarefas essenciais que executam e apesar das roupas de trabalho que os distinguem de nós, que somos livres usar o que quisermos, para exercitar nossas vaidades e nossas vontades. Os seis são reconhecidos pela competência e são queridos por seus colegas e por todos aqueles que têm o privilégio de conhecê-los além dos uniformes e das convenções que nos separam em membros, servidores, requisitado, terceirizados. Adilson, Eudes, Viana, Ilma, Permínio, Val são seis pessoas – nelas representadas centenas de outras pessoas – que, como eu e como você, escrevem, diariamente, a história do MPDFT. 12

| Ser mulher é... ser uma Guerreira e ainda usar salto alto e batom. • Meg Gomes Martins


Nosso MP

berçário no MPDFT:

Um direito das mães e um cuidado com os bebês. Por Cinara, servidora do MPDFT, lotada no DOF e associada da ASMIP.

Em 2006, nossa colega Andreza, hoje lotada na Secretaria de Planejamento, requereu ao Procurador-Geral a implantação de um berçário no MPDFT. Mãe recente do segundo filho, ela sentia na pele as dificuldades que envolvem a amamentação e outras questões ligadas ao início da vidinha dos bebês.

A partir do sexto mês, os bebês necessitam de mais variedade na alimentação, mas a amamentação deve continuar até ao segundo ano de idade ou mais.*

Fui então escolhida para presidir uma Comissão que tinha finalidade de verificar a viabilidade de implantação de um berçário em nosso Órgão. Inicialmente, eu, que não era mãe, e por isso desconhecia o contexto mãe-bebê, era cética quanto à idéia e, no fundinho, não

concordava com ela. Achava que não combinava a presença daqueles serezinhos fofos, rechonchudos, aparentemente frágeis e muitas vezes barulhentos, dentro do ambiente administrativo do Órgão. Aos poucos, durante os trabalhos da Comissão, fui me convencendo. Aprendi, antes de viver, sobre a angústia profunda por que passam as mães na volta ao trabalho. Percebi os conflitos nesta fase de separação precoce das mães com seus pequeninos, muitas vezes com prejuízo da amamentação. Ao visitar berçários de outros órgãos públicos, vivenciei a tranqüilidade das mães que podem, na hora do lanche, ir ao berçário dar mais do que seu leite, seu carinho, seu calor e segurança aos seus filhos. Percebi que isso não tinha preço. Era imensurável.

Uma trabalhadora afastada da sua casa pode conseguir manter a amamentação da sua criança se amamentar o maior número de vezes possível nos momentos em que está com ela.*

Pra ser mulher tem que ser "Muito Macho" !!! Cecilia Shizue Fujita dos Reis

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Tomando pelo lado prático, constatamos que funcionava! Funcionava e funciona nos tribunais, em TODOS eles (TRF, TJDFT, STF, STJ, etc), funciona no TCU, funciona no Senado Federal, e mais recentemente, funciona no prédio do MPF aqui em Brasília. A instalação do berçário nesse último nos faz parar para pensar nas diferenças de benefícios entre nós servidores do MPU que fizemos um mesmo concurso... Bom, mas esse é um outro assunto. Voltando ao berçário do MPDFT, a Comissão concluiu pela viabilidade total de seu funcionamento. A implantação foi autorizada pelo ex Procurador-Geral, e também pelo atual, já que tudo ocorreu na virada de mandato. Esbarrou-se então na questão do espaço físico. O berçário deve funcionar, via de regra, em ambiente térreo. Era impossível a implantação no térreo do edifício sede. Teríamos que esperar a construção do novo prédio. Só que no térreo do novo prédio deverá ser instalado o nosso serviço médico, que hoje funciona em condições não condizentes com suas necessidades. Desânimo. Durante este tempo todo, desde 2006, foram feitas várias gestões (por mim, Andreza, Ana Cusinato e outros entusiastas) para garantir, ainda que futuramente, o espaço para o berçário. No decorrer desse tempo, engravidei e fui mãe. Pude sentir por mim mesma o que só conhecia de testemunhos. Porém, apesar do nosso entusiasmo, o cenário não era promissor. Até que no dia 23 de abril último, veio uma boa notícia: a pedido nosso, fiscais da Vigilância Sanitária no DF visitaram o pavimento semi-enterrado do Edifício-Sede, onde hoje funciona o Banco do Brasil, protocolo e outras unidades administrativas. Consideraram o espaço adequado ao funcionamento do berçário. O local é iluminado, ventilado, próximo à vegetação, tem acesso exclusivo e fácil ao exterior do prédio e é espaçoso o suficiente para abrigar os bebês, conforme as exigências da legislação (sala de estimulação, de repouso, banho, etc.). Senão é o local ideal, é hoje o possível. E é bom. Não há mais o que discutir: o Brasil é signatário de acordo internacional que protege o direito à amamentação, há legislação que prevê implantação de berçários em locais que empreguem mais de 30 mulheres, temos o “"OK" de dois Procuradores-Gerais de posicionamento ideológicos diferentes. Falta agora a vontade política. Vontade política que vai nos confirmar (ou não) se a Administração do MPDFT está preocupada não só com direitos humanos (mulheres e crianças) de suas portas para fora, ou se também se importa com mulheres que aqui trabalham e com seus filhos.

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| " Ser mulher é um presente de DEUS !!! • Maristania Barbosa Evangelista

Todas as mulheres têm o direito a um ambiente que proteja, promova e apoie a amamentação...*

Revisão da Declaração de Innocenti , acordo Internacional que o Brasil é signatário. *

Declaração de Innocenti, Código de conduta, assinada em 1º de agosto de 1990, na Itália.

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Art. 389, §2º da CLT.


Mulheres Espetaculares


Mulheres Espetaculares

At i tude! Somos vítimas, sem perceber, do senso comum. E o senso comum quase sempre nos diz que as coisas são como são e não vão mudar. Ou, se vão mudar, será porque alguém que ocupa uma posição importante na sociedade vai se incumbir disso - quanto a nós, somos “pequenos" e não temos poder. Sem que percebamos, o senso comum nos aprisiona, nos colocando como meros expectadores dos fatos, indicando que é muito complicado, e praticamente impossível, que um gesto nosso possa interferir no rumo dos acontecimentos. Os exemplos escolhidos a seguir mostram que é possível ser completamente mediano, normal e, ainda assim, mudar o mundo - a diferença está na atitude que se adota ante as pequenas inconformações de todo dia.

a!

Por Camila Maia


M

aria da Penha era só uma Maria igual a tantas outras. Biofarmacêutica e mãe de três filhas, essa mulher cearense tinha tudo para ser apenas mais um número entre as estatísticas de violência doméstica. Vítima de duas tentativas de homicídio cometidas por aquele que deveria amá-la e respeitá-la na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, até que a morte os separasse, a Maria igual se fez diferente. Depois de ver a vida quase escapar-lhe por entre os dedos do homem que puxou o gatilho e deixou-a paraplégica, Maria da Penha resolveu abandonar as estatísticas. Num ímpeto de coragem, ocorrido em algum dia do ano de 1984, da Penha iniciou a luta não só contra seu agressor, mas também contra os agressores de milhares de mulheres em todo o Brasil. Fruto da audácia de uma mulher comum, a Lei Maria da Penha está em vigor desde 22 de setembro de 2006 e agora pune os agressores das Marias, Joanas, Camilas, Priscilas, Lúcias, Carlas e tantos outros nomes e rostos deste Brasil.

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os Estados Unidos do apartheid, nos anos 50, os negros do Alabama eram obrigados a se levantar de seus lugares se um branco desejasse sentar-se. Essa era uma atitude corriqueira, considerada natural – já que a Lei existia para assegurar aos brancos o privilégio. Num ônibus na cidade de Montgomery, no dia 1º de dezembro de 1955, Rosa Parks era apenas mais uma negra do Alabama quando mudou a história americana pelo simples gesto de se recusar a ceder seu assento no ônibus para um branco que se achava no direito de ter mais direito de que ela. A desobediência da costureira de 42 anos lhe rendeu a prisão, uma multa de US$ 14 e desencadeou um boicote de 381 dias ao sistema de ônibus, organizado pelo pastor da Igreja Batista, Martin Luther King Jr, que pregava, em seus sermões, a desobediência pacífica, conclamando os negros a não utilizarem os autocarros oferecidos pelos brancos, se aquelas leis não fossem mudadas. O movimento, que durou mais de um ano, mudou completamente a história dos direitos civis dos negros americanos e influenciou gerações de negros no mundo inteiro. E tudo começou com uma atitude. Disse a própria Rosa em 1992, a respeito de seu ato: "A verdadeira razão de eu não ter cedido meu banco no ônibus foi porque senti que tinha o direito de ser tratada como qualquer outro passageiro. Aguentamos aquele tipo de tratamento por muito tempo". Rosa morreu em 2005, aos 92 anos, de causas naturais.

Você pode começar hoje "Ser mulher não é fácil não. Mas qual de nós abriria mão?" • Thais Magalhaes Fernandes

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A norte-americana Erin Brockovich também não se diferenciava da multidão. Com três filhos, dois divórcios, pouca ajuda dos ex-maridos, sem diploma universitário ou especialidade funcional, Erin aceitou o emprego de arquivista para ajudar nas despesas da casa. Nesse exato momento, sua história, até então comum, começa a se diferenciar. Certa manhã, ao arquivar uma pilha de documentos, ela nota que todas as pessoas de uma cidadezinha estão ficando doentes. Intrigada, resolve investigar o caso e descobre que o cromo utilizado na água pela Pacific Gas and Electricity, para que os canos não enferrujassem, provocava câncer. Determinada a fazer algo por aquelas pessoas que pereciam devido à falta de consciência dos donos da empresa, Brockovich passa cinco anos visitando diariamente as famílias afetadas, acompanhando os casos de envenenamento e reunindo provas para abrir uma ação judicial contra a companhia. Desestimulada por quase todos que a cercavam, a arquivista que precisava de dinheiro não desistiu até ganhar a causa e melhorar a vida de toda uma população.

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uma pequena cidade ao sul dos Estados Unidos, nos anos 70, Crystal Lee Sutton era mais uma operária da indústria têxtil, que empregava, junto com ela, a maioria dos habitantes da cidade. As condições de trabalho eram as piores possíveis e não parecia haver meio de mudar aquela realidade, mas ela não desistiu. Aliou-se a um sindicalista de Nova Iorque e lutava por melhores condições de trabalho. Sua atitude a fez sofrer ameaças e culminou com sua demissão do emprego. Mas Crystal, ao invés de recuar, dirigiu-se até sua mesa, escreveu a palavra UNIÃO num pedaço de papelão e, ao sair de trás da pesada maquinaria industrial erguendo a palavra escrita em letras garrafais, fez com que os companheiros parassem suas máquinas, fazendo o sinal de vitória e se reunindo em torno da mulher de 33 anos para apoia-la. Crystal deixou o prédio à força, levada pela polícia, e seu gesto fez História: o sindicato passou a representar os trabalhadores da fábrica e a Justiça garantiu sua reintegração ao trabalho. A história de luta dessa operária está retratada no filme Norma Rae, de 1979, que rendeu a Sally Fields o Oscar e o Globo de Ouro de 1980 como melhor atriz do ano. Crystal morreu em setembro de 2009, aos 68 anos, em decorrência de um câncer.

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or baixo dos pobres saiotes típicos das camponesas medievais, Joana D'Arc jamais seria vista como alguém com características para se destacar no que quer que fosse. Analfabeta e pobre, ela seria somente outra vassala feudal, não fosse sua coragem. Crendo ter sido alvo da inspiração divina, Joana abandonou a casa de seus pais e as tarefas domésticas aos 16 anos para juntar-se ao exército Francês e lutar por sua pátria. Trajando armadura, como qualquer guerreiro de sua época, e empunhando uma bandeira branca, Joana D'Arc comandou um grupo de 4000 homens e conseguiu a vitória sobre os invasores ao entardecer do dia 9 de maio de 1429. Episódio conhecido como a Libertação de Orléans, o êxito no combate, encabeçado por Joana, alterou o quadro da Guerra dos Cem anos e foi de extrema importância para a vitória de seu país.


Mulheres Espetaculares

“Eu sou feita na base da inspiração"

Por Camila Maia

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tella, do latim, estrela. E é justamente assim que descrevo a escritora Stella Alexandra Rodopoulos. De origem grega e nascida em Itacuruçá, Rio de Janeiro, a senhorinha de sorriso doce e fala mansa encanta ao falar de sua arte. Ela não teve uma vida diferente da vida das mulheres de sua época. De família humilde, a senhora que seduz o mundo pela palavra estudou somente até a 4ª série. Em casa, a menina Stella, que sempre gostou de escrever, ajudava a mãe com as tarefas domésticas e a compreendia perfeitamente a partir de um simples olhar. Aos 29 anos, conheceu o futuro marido, para quem disse o “"sim" em 27 de dezembro de 1959. Foi então que, como boa parte dos homens com espírito desbravador, seu esposo resolveu tentar erguer os próprios sonhos sobre a terra vermelha do cerrado. E assim, acompanhando o grego que mal falava português, a estrela de nome Stella veio tornar ainda mais belo o céu de Brasília. A cidade, muita valiosa para a autora e considerada por ela quase uma terra-natal, faz parte da vida da senhora de 79 anos desde o dia 13 de janeiro de 1960. Aqui Stella construiu sua vida e sua família junto com a cidade que surgia em meio aos troncos retorcidos. Mãe de dois homens, de duas mulheres e avó de oito netos, ela, que sempre gostou de ajudar os outros, foi apenas dona de casa durante os 30 anos de seu casamento. Não... Na verdade Stella foi bem mais que isso durante todo esse tempo, ainda que ninguém reparasse. Ela era também, e em seu íntimo já o sabia, uma escritora sensível, com muito a dizer para o mundo. O marido, pragmático, não estimulava o seu talento, por não ver nele um modo de sustento. Apesar da oposição, a candanga de coração nunca desistiu de transformar sentimentos em palavras e transcrevê-los para o papel. Muitas vezes, Stella acordava durante a madrugada e ia escrever escondida. "Tenho poema escrito até em papel higiênico", conta. O poema "Só", publicado no livro "O Sentido do Amor", ela revela, foi todo escrito dentro de seu closet. Apesar de toda paixão pela literatura, Stella Alexandra só teve seu primeiro livro de poesias publicado em 1981, sem a aprovação do marido e utilizando as próprias economias para bancar a publicação. A morte dele, em 1994, trouxe um vazio enorme para a vida da poetisa - considerada a Cora Coralina do Planalto Central - e a fez se entregar ainda mais ao amor pela escrita, como forma de driblar a solidão que a viuvez impôs. Da poesia, passou à prosa para crianças e o resultado dessa experiência se traduz em nove livros infantis publicados. Destinados às mais diversas faixas etárias, os livros para crianças são os que Stella mais gosta de escrever, 20

sempre propondo reflexões e tentando deixar mensagens que falem direto ao coração dos pequenos. "Me sinto mais feliz escrevendo para crianças que escrevendo poesia. Poema vem um aqui... um outro ali... O livro infantil a gente começa e termina". A inspiração para as histórias vem das fontes mais diversas. "Mariela", seu primeiro livro infantil, veio de um fato cotidiano. Stella estava em uma festa de casamento, muito bonita e pomposa, quando ouviu uma senhora chamar a filha: "Marieeeeeeeeeela!" De imediato o eu-lírico da escritora aflorou e ela pensou que o nome era bonito para se escrever uma história. E como o casamento estava digno dos contos de fada, completou o pensamento: "Terá que ser uma história com príncipe!" Quando pergunto sobre a inspiração para os outros livros, ela responde: "Os outros foram vindo, mas sempre tem algo da vida". A ideia de escrever para crianças também surgiu sem muita explicação. "Vendo a Vanessa, minha neta, me deu vontade. Vem tão rápido que você não entende o porquê das coisas". E é justamente esse "não entender" que a torna ainda mais mágica, mais lúdica, mais artista. Pois nesses casos, não é preciso entender, basta sentir para saber. É o dom, a inspiração que

| Ser mulher é saber escolher o que há de melhor, entre elas, ser associada da Asmip e e aproveitar as vantagens do Banco Alfa. • Suzy Mary Almeida Braga


chega e não há como fugir dela. "Eu sou feita na base da inspiração", nos diz ao revelar o segredo de sua obra. Hoje, com um livro infantil e um livro de poemas em processo de criação, Stella já não precisa esconder de ninguém que está escrevendo. Com o apoio da família e o reconhecimento da cidade que adotou como sua, a escritora já ganhou vários títulos e honrarias. Membro da Casa do Poeta, da Academia de Letras de Brasília e do Sindicato dos Escritores do Distrito Federal, Stella Alexandra Rodopoulos revela que o momento mais marcante de sua vida ocorreu em 1998, quando foi premiada, pela Académie de Lutèce, em Paris, pelo conjunto de sua obra literária para crianças. A mulher, que nunca escreveu para ganhar dinheiro, mais doa que vende os próprios livros. Em suas não raras visitas às escolas públicas da cidade, se espanta

com o interesse e as perguntas das crianças a respeito de suas obras e se lisonjeia com o reconhecimento que recebe. "É muito delicado escrever para criança. Tem que tomar muito cuidado com as palavras. É tudo feito na base do amor". Ao fim do gostoso bate-papo, pergunto se ela tem mais alguma coisa para acrescentar. Ela pensa um pouco, tenta lembrar-se de uma frase, mas desiste. Quando já estou prestes a me despedir, com o coração repleto de carinho e ternura, ela fala: "A pessoa consegue realizar muita coisa mesmo quando existem pessoas contra. Quando a gente quer, a gente vence". Tirei o caderninho da bolsa, anotei a frase e nada mais me restou a fazer que agradecê-la por aquela tarde enfeitada com o seu doce olhar. Olhar que só aqueles que já experimentaram o amor pela literatura podem ter.

Alguns dos exemplares da reconhecida obra de Stella.

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MUlhErEs EsPETACUlArEs

Por onde andarão Por Priscylla Damasceno

No dias de hoje, mais do que nunca vale a máxima de que as pessoas estão de passagem na vida da gente - e uma passagem às vezes rápida, em especial quando o ponto de convergência é um órgão público: aí é quase certo que a maioria está estudando para algum concurso e, cedo ou tarde, vai passar e tomar posse em outra instituição. E ainda há as aposentadorias, as remoções... quando a gente se dá conta, deixou de ter contato com pessoas queridas, muitas vezes sem nem saber por onde é que elas andarão.

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Rosilene Dourado

"“ É como diz uma máxima filosófica: não é o homem que torna uma obra grandiosa, mas a obra que torna o homem grandioso. E assim é o MPDFT, uma instituição das mais privilegiadas. Tenho gratidão e orgulho muito grande do trabalho e das pessoas com quem trabalhei lá". Com essa frase Rosilene Dourado, 46 anos, se refere ao MPDFT, órgão a que serviu durante 9 anos, e que deixou por razões médicas. Rosi foi uma mulher muito doente. A primeira doença grave aconteceu no ano 2000, quando teve um aneurisma cerebral, passando por uma cirurgia delicada no cérebro. Após o tratamento cirúrgico, iniciou-se o tratamento clínico, com base hormonal, para evitar que novos aneurismas se formassem. Os medicamentos levaram seu organismo a desenvolver células cancerígenas. Ao saber da fato, Rosi optou por não compartilhar sua dor com ninguém, nem mesmo com a sua família, preferindo enfrentar e dividir apenas a sua alegria, passando aos familiares informações mais selecionadas, como ela diz, para evitar preocupações que os fizessem entrar em pânico – se eles entrassem em pânico, ela perderia o apoio essencial para enfrentar a doença e o tratamento. Os familiares souberam do diagnóstico apenas quando ela já tinha domínio sobre o que estava acontecendo e sobre o que eles poderiam fazer para ajudá-la. “"Com a família queremos mais o colo, queremos mais proteção e apoio. Então, se eles estivessem preocupados, como eles poderiam me ajudar e me dar todo esse apoio que eu precisava?", explica Rosi sobre sua escolha. Tudo que ela queria era protegê-los do sentimento de angústia

que eles enfrentariam se acreditassem que ela poderia morrer – porque ela mesma tinha medo de que isso acontecesse. O marido, companheiro de luta, enfrentou com ela os momentos mais difíceis, momentos, segundo ela descreve, de descer ao fundo do poço. O câncer que Rosi teve foi benigno, mas ela adverte: “"Qualquer doença, até mesmo um resfriado não é benigno", brincou, afirmando que era uma opinião pessoal, e lembrou que, mesmo sendo um processo benigno, há consequências seríssimas para a saúde, e não apenas nos aspectos psicológicos. “"Mudou minha pele, meu metabolismo, meu cabelo, minha digestão, tudo desencadeado pelo tratamento, pela medicação, até mesmo a própria cirurgia, tudo foi completamente invasivo" disse ela. A parte mais difícil de enfrentar foi voltar a trabalhar depois de passar por todo o doloroso processo. O ambiente não parecia o mesmo, a relação com as pessoas não era a mesma, o que tornou a adaptação complicada, dificultando o processo de recuperação. A solução encontrada foi pedir remoção para a PRDF, deixando, por recomendações médicas, o MPDFT que tanto amava. Não obstante esse histórico difícil, Rosi é alto astral, positiva, aberta. Para pessoas que estão com câncer ou qualquer outra doença, ela dá a dica: “"Num momento como esse é muito importante procurar um apoio de amor da família e de todos que são importantes para você. Tenha firmeza espiritual, isso foi indispensável para mim. E mais, não se entregue à dor e à doença, porque esses sentimentos são a própria inação." Ser mulher é transformar o ambiente onde trabalha. • Leila Duarte Lima

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Algumas pessoas acreditam que homens e mulheres já nascem com Edioni da Costa Lima um destino traçado. Outras acreditam que somos nós quem traçamos nosso caminho. Edioni da Costa Lima está no segundo grupo: aos 32 anos, é juíza substituta do Distrito Federal e sabe exatamente como é que foi que chegou até aqui. O primeiro passo foi o ingresso na carreira de técnico administrativo do MPDFT em 1998, aos 20 anos. Era a primeira experiência profissional da menina do Rio Grande do Norte que aos 6 anos veio morar em Brasília. Durante o exercício como técnica, que durou 9 anos, Edioni, trabalhou em diversos lugares: DOF, sua 1ª lotação, DLP/DRH, Procuradoria de Justiça, experiência que, segundo ela mesma afirma, foi essencial para que se tornasse o que é hoje, pessoal e profissionalmente, pois aprendeu muito e fez amizades verdadeiras. Foi também durante este período que Edi, como é chamada pelos colegas, iniciou e concluiu os estudos de Direito. A rotina era pesada, em especial quando começou a estagiar numa Procuradoria de Justiça, o que a levava a passar o dia todo no MPDFT, das 8h às 19h, e sair direto para a faculdade. Todo o sacrifício, ela sabia, eram passos necessários para a conquista dos sonhos que acalentava. Já formada, prestou concurso para o cargo de analista e, em 2007, foi nomeada analista administrativa no mesmo MPDFT. Foram necessários 2 anos e 3 meses, mais alguns sacrifícios e muita determinação para realizar seu sonho profissional: ser juíza de Direito. Incentivo, orientação e elogios vinham de toda parte, ajudando-a a ter forças para enfrentar os desafios. “As minhas chefias no MPDFT me marcaram muito, pois sempre me incentivaram a crescer, sempre acreditaram no meu potencial profissional", conta ela. Dos 12 anos de trabalho de Edi, dez foram dedicados ao MPDFT. Hoje, ela se considera uma mulher realizada e diz que muito dessa realização se deve às pessoas que estiveram em sua vida quando trabalhava na instituição. Nomeada juíza, profissão que afirma ser extremamente gratificante, apesar da responsabilidade, Edi é casada há 7 anos com Rogério, que há um ano e meio é servidor do MPDFT, cedido para o CNMP. Para coroar a trajetória de realizações, há 3 meses deu à luz Thaíssa, a primeira filha do casal. “Tenho o emprego dos meus sonhos, tenho um casamento maravilhoso, mas de todas as minhas experiências, a de ser mãe é a mais plena", comemora. Edioni é juíza substituta e exerce suas atribuições em diversos Juízos. Em geral fica lotada em varas do Plano Piloto, atuando, principalmente, nas varas cíveis, criminais, fazenda pública e júri. "Quando eu titularizar numa vara no TJ, eu pretendo agir com os meus servidores da mesma forma que as chefias do MPDFT agiram comigo, sempre com incentivo, respeito e confiança", afirma ela. Os amigos do MP não têm a menor dúvida de que isso acontecerá. Porque quando se trata de Edioni, todos sabem que o que quer que ela se proponha a fazer, em pouco tempo, ela fará.

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| Ser mulher é se desdobrar em mil em apenas uma vida. • Ana Maria Campos de Oliveira


Mulheres Espetaculares

Ser mulher é ter o privilégio de ter sido a mais bela criação divina. • Heliane Grasiele de Brito Vitorino

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| Ser mulher Ê ser tudo em todas as horas sem perder a sensibilidade, a delicadeza e a fragilidade. • Andreza Soares Moreira Bandeira


Ser mulher é ter a sensibilidade de enxergar no mundo o que precisa ser modificado, e ter a capacidade de torná-lo melhor. • Tânia de Oliveira Morais

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Mulheres Espetaculares

Mulheres Espetaculares Margarida Teixeira

uma ausência que ninguém rouba de nós

Ausência Por muito tempo achei que a ausência é falta. E lastimava, ignorante, a falta. Hoje não a lastimo. Não há falta na ausência. A ausência é um estar em mim. E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços, que rio e danço e invento exclamações alegres, porque a ausência assimilada, ninguém a rouba mais de mim. Carlos Drummond de Andrade


Valeu, Margô! Por Ana Nogueira

A primeira coisa que se notava em Margarida Teixeira era a elegância. Dos pés à cabeça, ela era impecável: roupas, sapatos, jóias, cabelos, maquiagem, perfume. À elegância, somava-se a personalidade forte, do tipo que emana poder e impõe respeito pela simples presença. Você podia nunca ter visto Margarida, mas quando a visse, saberia que ali estava alguém acostumado a comandar. A natural liderança somou-se à competência muitas vezes reconhecida em mais de 50 anos de serviço público: foram muitas promoções, elogios, homenagens – todas merecidas e nenhuma grandiosa o bastante para traduzir o que a sua força de trabalho representava e muito menos o que sua presença significava para o MPDFT. Margarida transitava por todas as esferas, fosse como a profissional em que todos confiavam, fosse como a amiga a quem todos queriam ter por perto, nas horas boas, nas horas ruins, nas grandes ocasiões e também nas quartas-feiras mais comuns, numa pausa para o café. E se o assunto era festa, Margô era a primeira a ser chamada para organizar. Não havia evento festivo no MP onde não houvesse o dedo de Margarida – coordenando, opinando, imaginando, realizando, conduzindo – de uma forma que apenas Margarida sabia fazer. Falar dessa natureza festeira remete a outra característica marcante de Margarida: sua gargalhada inconfundível, que fazia a gente rir sem nem saber direito porquê. Elegante, poderosa, firme, séria – tudo isso era Margarida, mas a alegria também a definia – e muito! Nos meus contatos com ela, nas comissões em que trabalhamos juntas, nos corredores, nos conselhos que ela me dava quando me tornei chefe do cerimonial do MPDFT, na força que me davam os elogios que ela fazia ao meu trabalho (elogio de gente exigente tem peso 8, no mínimo), o sorriso e a alegria eram a marca mais importante. Lembro dela passando pela minha sala, a caminho da sua, e parando para comentar qualquer coisinha, eu elogiando os seus cabelos, ela me dizendo que tinha acabado de cortar com algum profissional renomado, e arrematava: “"Ana, com a gente mesma a gente não deve economizar. Não tem o que pague um bom corte de cabelo". Eu posso vê-la, ao lembrar essa conversa, e sentir o rastro do perfume francês que ela deixava ao passar. Inevitável sentir uma saudade doída do tempo em que encontrá-la pelos corredores, ou vê-la, sempre ocupada, em sua mesa cheia de processos e flores, era algo corriqueiro e normal. E ao dizer essa frase, surge outra característica marcante de Margô: ela estava sempre cercada de arranjos florais que vez por outra me emprestava, para eu fazer bonito nas solenidades. Falar de Margarida é emoção inescapável para quem conviveu com ela, recebendo o seu carinho ou mesmo as suas broncas de mãe, especialmente porque ninguém ficava imune à sua influência: o convívio com ela era transformador, como demonstra o depoimento de Solange Rezende: "Falar sobre a Margarida é um mistério, é um fascínio, é uma mistura de sentimentos e gostos, pois existiam várias Margaridas em uma só.

"Ser mulher é plenitude na divindade e força nas adversidades" • Roberta Rodrigues Correia Pimentel

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A Margarida Chefe - Rigorosa, exigente, disciplinada e disciplinadora, uma Margarida exemplar em seu

mister, delegassem o que fosse e ela realizava, pedia, mandava, exigia, com ela aprendi a amar o MPDFT, pois isto ela tinha, amor pelo trabalho, pelas pessoas. Mas começamos nossa amizade com uma grande briga. Eu cheguei ao MP em setembro de 1990 e fui trabalhar na secretaria do 8º andar onde a Drª Margarida era a Chefe mor. Começei carregando os processos para os cartórios que ficavam nos andares abaixo, no prédio do TJ. Logo em outubro, apenas um mês depois da minha chegada, descobri que estava grávida e não quis mais carregar os tais processos, ao que ela me disse: “"Minha filha, gravidez não é doença e, portanto, você não é melhor do que ninguém e vai carregar, sim." Fiquei com ódio daquela mulher autoritária e pensei que ela certamente não era mãe... (Engano meu). Foi minha primeira lição: todos somos iguais neste mundo de desigualdades. Pouco tempo depois ela mesma me arrumou outra tarefa, menos pesada para uma gravidez tumultuada.

A Margarida Festeira - No final da década de 80 e na década de 90, falar em festa no MP era o mesmo que chamar a Margarida para fazê-las, afinal já veio com nome de flor, que lembra enfeite, que lembra festa, que lembra alegria, que lembra ânimo – ela era assim, animada, conhecia TUUUUUDO DE FESTA, Sabia onde vendia tudo, o preço de tudo, conhecia todas as melhores lojas, das melhores coisas, era fantástico, fazer festa com ela, e foi assim que aprendi minha segunda lição: a festa pode ser simples, ter pouca gente, mas tem que ter glamour, comida e bebida de boa qualidade, o ambiente tem que ser agradável e a festa precisa ser inesquecível. A Margarida Amiga - Nos momentos difíceis conhecem-se os verdadeiros amigos. Passei por momentos terríveis em minha vida pessoal e ela, sem titubear, apoiou-me, incentivou-me, chorou comigo, em momento algum duvidou de mim, confiou cegamente nas minhas palavras e comoveu-se com a minha situação. Isto bastou para concretizar nossa amizade e revelar de vez que aquela Margarida, muitas vezes sisuda, era uma verdadeira flor que compreendia cada detalhe dos seres que a cercavam. Terceira lição: as aparências enganam, às vezes não valorizamos preciosidades que estão à nossa volta. A Margarida guerreira - Presenciei momento dolorosos na vida dela, saúde frágil, doença do es-

poso, vida financeira com ondas, mas ela nunca descia do salto, estava sempre maquiada, perfumada, andar esguio, voz firme, olhar imponente, o que me ensinou a quarta lição: aconteça o que acontecer, as pessoas não merecem te ver em frangalhos. Ainda que você esteja assim, olhe para o alto, até porque é de lá que vem o nosso socorro, bem presente na hora da tribulação.

A Chefe, Festeira, Amiga, guerreira - que saudades da Margarida! Ainda tenho vários mimos com que ela me presenteou, sempre coisas finas, chiques, acho que nem tão cedo poderei ter coisinhas assim outra vez...

Momentos marcantes: escolha de presentes para os terceirizados nas festas natalinas. Ela escolhia o que tinha de melhor e mais caro, afinal era natal e eles poderiam provar, experimentar e ter um pouco de coisas até então, inacessíveis." A mulher classuda, imponente, cuja aura de poder intimidava os desavisados, era também extremamente generosa e dedicada aos amigos e aos menos afortunados. Quem se dispôs a ultrapassar a fronteira da aparência, pode conhecer as muitas outras faces de Margarida, todas revelando um ser humano digno de aplauso, uma mulher cujo exemplo inspirou tantas pessoas, cuja generosidade e cuja amizade tocaram indelevelmente o coração daqueles que tiveram o privilégio de desfrutar do seu convívio, como demonstram os depoimentos apresentados nesta homenagem, ou como relatou Adilson, o chefe da segurança, que tinha o costume de bater um papo diário com ela, enquan30

| "Ser mulher é doar-se completamente". • Livia Mello de Freitas Costa


to a acompanhava até o seu carro, ao final do expediente. Sua vivacidade era contagiante. Seu zelo com o próximo, sua preocupação com os servidores, o carinho com que conduzia os preparativos das confraternizações natalinas... Com Margarida à frente as comissões, as festas de Natal eram especiais – da decoração à escolha do buffet, dos pedidos de patrocínio e de brindes para sorteios à escolha cuidadosa dos artigos das cestas de Natal dos terceirizados, Margô cuidava de cada detalhe. Ela amava o Natal. E, ironicamente, Margarida saiu de cena no Natal de 2008, como se não quisesse muito alarde, como se soubesse que a época, já iniciado o recesso de final de ano, dificultava a mobilização de todos os seus amigos e admiradores, como se, em sendo obrigada a partir, quisesse fazê-lo elegantemente, silenciosa, sem causar transtorno. Tão emblemática era a sua presença no Ministério Público que o servidor Artur Marciano, pouco depois de sua morte, sugeriu na intranet que se nomeasse uma das sedes do MPDFT com o nome de Margarida. Não foi levado a sério, à época, por isso retomamos, por meio deste artigo, a campanha para que essa merecida homenagem lhe seja feita o quanto antes. Porque Margô representava, e ainda representa, a essência desta instituição, à qual dedicou os seus melhores anos com competência, zelo, comprometimento com a confiança que sempre lhe foi depositada e, especialmente, com aquela dose de paixão que caracteriza todos aqueles que fazem diferença neste mundo, o mesmo mundo que, sem ela, fica mais triste e muito, muito menos elegante.

Depoimento de Márcia rocha lobo Margarida... Como colocar em palavras a essência de um amor tão completo? Amor de mãe que acolhe, acalanta, guia e protege, cujo encontro, para além dos laços da consanguinidade, deu-se pela permissão do Altíssimo na sua perfeita capacidade de traçar nossos destinos. Daquele que até mesmo no momento difícil da separação, cala o próprio sofrimento, exortando ao desapego e à autoconfiança, porque sabe que os filhos são como as flechas descritas pelo poeta que tanto admirava. Amor de amiga, fiel, presente, sincera, com quem é possível compartilhar vitórias, fracassos, perdas, lágrimas ou apenas a simplicidade dos acontecimentos cotidianos ... os sorrisos, gargalhadas mesmo! Que faz os seus próprios familiares e amigos conspirarem a seu favor. Daquele cuja afinidade é imediata e tamanha que basta um olhar para a compreensão do que se passa. Amor de mestre que orienta, disciplina, elogia, repreende. Ensina tudo o que sabe e confia na capacidade de apreensão da tutelada, fazendo ela mesma sentir que pode. Que faz a todos, principalmente os superiores hierárquicos, passarem a enxergá-la com os seus próprios olhos, vendo mais as qualidades que os defeitos. A você, Margarida, devo a mãe, profissional e a pessoa um pouco melhor – assim espero – que sou hoje. As lágrimas, de uma saudade, resignada, que ainda insistem em rolar enquanto traço essas linhas, expressam a mais profunda gratidão do coração desta filha, amiga e eterna aprendiz; a Deus por haver permitido esse reencontro de almas, e a você pela presença iluminada que fez toda a diferença em minha vida e em tantas outras.

Márcia Rocha Lôbo

Aqueles que passam por nós não vão sós não nos deixam sós deixam um pouco de si levam um pouco de nós Antoine de Saint-Exupéry

"Ser Mulher é saber a dor e a delícia de ser o que é." • Jaqueline Farias Ferreira Caetano

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Mulheres Espetaculares

A Conquista da Maternidade O desejo da maternidade custou a chegar... Já passava dos 30 anos, quando me tocou de forma intensa. Não sabia, porém, que enfrentaria um grande desafio pela frente para realizar o sonho de ser mãe: éramos um casal com baixa fertilidade e poucas chances de uma gravidez natural. Enfrentei da mais simples às mais sofisticadas técnicas reprodutivas em clínicas especializadas. Foram três anos seguidos de muita frustração e dor, devido ao insucesso das tentativas. Foi um período de verdadeiras provações, onde conversava muito com Deus, buscando conforto e a renovação da minha fé. O apoio familiar me erguia a cada caída. Quando pensei em desistir, por não mais suportar tamanho desgaste emocional, chegaram dois anjos lindos, meus gêmeos Rodrigo e Guilherme, um moreno e um loiro, meus grandes e verdadeiros amores, frutos da fecundação in vitro (bebês de proveta). Minha gravidez foi um sonho... Me senti forte e poderosa, numa paz incrível; os enjôos foram suprimidos por um grande encantamento, pelos toques maravilhosos que senti em meu ventre, pela alegria de imaginar seus rostinhos. Por Rodrigo e Guilherme, começaria tudo de novo...tudo valeu a pena. Tenho certeza que o amor de mãe se assemelha ao amor de Deus... Depoimento de Adriana de Sousa Gomes, da Promotoria de Justiça de São Sebastião.

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Mulheres Espetaculares

Mãe de Coração

Por Camila Maia

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E

le havia sido escolhido para ela. Foi isso que a brasiliense nascida em 18 de fevereiro de 1970 sentiu assim que viu Paulo pela primeira vez. Seu sentimento, contudo, não vinha só de seu coração. Ele era parte do processo. Processo de conhecimento, de carinho, de vida nova, de adoção. Rosa Cristina, a filha mais velha de seu João e dona Raimunda, sempre quis ser mãe. Ainda jovem pensava em casar-se cedo e ter vários filhos. Seu propósito era adotar uma criança a cada filho biológico nascido, mas diferente quis o destino. Os anos foram passando, Rosa não se casou, o tempo do relógio biológico se esvaiu. Mas a mulher com nome de flor não desistiu do desejo de menina.

"Eu sempre tive muita vontade de adotar. Como na minha família tem vários casos, eu sempre tive no meu coração o desejo de ser mãe adotiva, mesmo que tivesse me casado e tido filhos biológicos." Aos 35 anos, Rosa percebeu que havia chegado o momento. Precisava ser mãe naquele instante. Resolveu, ainda que solteira, adotar uma criança. No ano de 2006, ela foi à sua primeira reunião na Vara da Infância e se inscreveu para dar atenção e afeto àqueles que, por algum infortúnio, foram privados de um lar de verdade. Teve início, então, uma longa e burocrática espera. Uma gestação imprevisível e que, ela sabia, duraria muito mais de nove meses. "Foi uma gestação interessante, que durou dois anos. No início, eu queria que chegasse logo a minha vez na fila de adoção, vivia impaciente e ansiosa. Não pensava em outra coisa (...) Mas... não aconteceu quando eu estava nessa ansiedade toda." Em 6 de agosto de 2008, às 17 horas, 39 minutos e 45 segundos, as contrações do parto começaram a aparecer. A técnica-administrativa do Setor de Apoio da Prodecon estava em sua sala quando o celular tocou. Era Alice, psicóloga da Vara da Infância e Juventude, e que assim como na história, permitiu que o fantástico se realizasse para Rosa. A mulher com nome de personagem de conto de fadas perguntou se ela continuava 34

interessada em adotar. Esta, sem pensar duas vezes, respondeu que sim e ouviu aquilo que tanto queria: havia uma criança esperando-a. Rosa ainda não sabia quem era, nem como era. Ao entrar para a fila de adoção, em setembro de 2006, ela preencheu uma ficha com as características do filho que não seria seu "filho da barriga", mas seria incontestavelmente seu "filho do coração". A mulher que nunca se preocupou com as vaidades do mundo feminino, optou por um homenzinho. Era mais fácil de vestir, sem a preocupação de colocar enfeites ou lacinhos. Mas o motivo não foi apenas esse. Ao entrar para a fila de adoção, a maior parte das pessoas está à procura de meninas, brancas e recém-nascidas e ela queria fazer diferente. Ansiava por seu filho, que poderia ter até dois anos e ser de qualquer cor. "“Considero que todas as pessoas deveriam ser disponíveis a acolher uma criança abandonada e proporcionar-lhe o bem mais precioso que existe: uma família que ama, acolhe, educa e transmite os valores verdadeiros." O primeiro contato com o rostinho da criança que se encaixava perfeitamente nos desejos de Rosa ocor-

| "Ser Mulher é ter Respeito, é ser Carinho, é ter Compaixão; é ser Sorriso, é ter Ombro Amigo, é ser e ter muito Coração." • Rosiclay Gomes Sobrinho


reu no dia 8 de agosto de 2008. Na data, além da conversa entre a futura mamãe e a psicóloga sobre a história de Paulo, Rosa Cristina Aragão viu a foto do menino que mesmo sem saber já era dela. Como a brasiliense ainda matinha sua vontade firme, foi conhecê-lo pessoalmente no fim da manhã de uma quarta-feira no oitavo mês do ano. A visita deveria acontecer incógnita. Rosa teria que disfarçar. Parecer que estava apenas conhecendo o ambiente. Sem nenhum objetivo específico. A precaução, que aos olhos de uns pode parecer desumana, serve para não criar frustrações nas crianças no caso de uma possível desistência do adotante.

“Fui conhecer o Paulo e a sintonia foi imediata. Ele gostou de mim de cara." Quando o viu de perto pela primeira vez, Paulo estava num carrinho, ao lado de outras três crianças entre um e dois anos, esperando a hora do almoço. Apesar das restrições, foi possível pegá-lo no colo, beijá-lo, abraçá-lo e, até mesmo, dar comidinha na boca. Quando foi para o colo da mãe social, o bebê de um ano e quatro meses não tirava os olhos de Rosa. Ali, ele já havia descoberto que um seria para o outro. Na saída do abrigo não era nem preciso perguntar se Rosa se mantinha firme em sua decisão. O brilho em seus olhos era a resposta mais clara que alguém poderia esperar. O estágio de convivência se iniciou. E como foi duro esse período! Como doía vê-lo apenas na hora marcada e ter que deixá-lo chorando. E doeu ainda mais no dia em que Rosa foi buscá-lo no abrigo e seu coração se tornou frangalhos ao vê-lo extremamente fraco e abatido. A saúde do menino que se separou da mãe biológica ainda na maternidade, bem como das outras crianças que viviam no abrigo, era frágil e todos possuíam uma gripe que nunca passava. Rosa desejava levá-lo para casa. Desejava levar ao medico. Desejava cuidá-lo. Mas não podia. Sem a documentação de Paulo, apesar de todo o afeto mútuo, os dois eram apenas estranhos aos olhos da lei. "No período de agosto a dezembro, deu-se o Estágio de Convivência , que é o período em que eu visitava diariamente o Paulo no abrigo onde ele vivia, pra ele se acostumar comigo e, mais adiante, passei a trazê-lo para passar o dia ou o fim de semana em casa. Durante essa etapa, meus pais, irmã e sobrinhos e outros familiares puderam conhecer o Paulo e se apaixonar por ele." No dia 13 de outubro, ao colocar os pés no local onde costumeiramente ia visitar sua cria, Rosa recebeu a notícia de que Paulo estava hospitalizado. Ao chegar ao HMIB, ela viu a cena que lhe cortou o coração. Seu bebê estava com máscara de oxigênio e monitor cardíaco na ala dos pacientes graves. Ela pensou que perderia o filho antes mesmo dele se tornar seu de fato e de direito. Após uma semana internado, com a presença diária de Rosa, Paulo recebeu alta e o fim de semana que sucedeu a internação foi o primeiro que aproveitaram integralmente juntos. Toda a demora para levar Paulo para a sua casa de uma vez por todas incomodava Rosa. Hoje, ela percebe o quanto esse processo de transição foi importante para as mudanças que ocorreriam na vida de ambos. Também sabe que foi uma espécie de teste para saber se ela

"Ser mulher é gerar múltiplas formas de vida: dentro e fora de si". • Solange Oliveira de Moraes

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estava realmente disposta e preparada para encarar as responsabilidades e dificuldades que ser mãe acarreta. Mas a doçura do amor maternal era onipotente. "Tenho a firme convicção de que a maternidade é o traço mais importante que Deus imprimiu no ser da mulher." O mês de novembro escorreu calmo como uma brisa no fim de tarde. Rosa aguardava ansiosamente o dia que levaria Paulo para casa de uma vez. A contagem regressiva, sempre compartilhada aos pés do ouvido do menino, ocorreu durante toda a semana que antecedeu a ida de Paulo para o seu novo lar. Mas no grande dia, ele hesitou. O garoto que ainda não tinha dois anos parecia viver um dilema interno: queria ir com a mãe, mas sofria ao pensar em abandonar as mães sociais e as outras crianças do orfanato, que até então haviam sido sua família. Ao chegar ao carro, Paulo chorou um choro tão sofrido que Rosa nada mais pode fazer além de chorar com ele. "(...) Perguntei como era aquilo e ela explicou e arrematou: me pediram pra dar uma atenção especial ao Paulo porque ele é muito triste (ou alguma palavra parecida, que me escapa da memória agora). Esse episódio foi logo esquecido (...). Com o tempo, o Paulo passou a sorrir, depois a rir e depois a gargalhar. Eu sempre dizia (e ainda digo), que a risada do Paulo é o som mais maravilhoso que existe. Sempre fui apaixonada por ela." A guarda saiu no dia 19 de dezembro de 2008, mas, ainda hoje, a mãe do Paulo espera o processo que lhe dará o direito definitivo de chamá-lo de filho. Enquanto aguarda concretização legal da adoção, Rosa sofre com o medo de a família biológica querê-lo de volta. Apesar disso, ela não esconde a gratidão pela mulher que permitiu que o Paulo nascesse para que fosse seu. "Apesar de ainda faltar a certidão de nascimento no meu nome, me sinto e sou mãe do Paulo desde o primeiro momento, desde o telefonema da psicóloga naquela tarde, me comunicando que o momento do ‘parto’ chegara." Agora, após cerca de um 1 ano e 5 meses de convivência diária, Rosa, que manifesta o desejo de adotar pelo menos mais uma criança, não esconde de Paulo o fato dele não ter sido gerado em seu ventre. E no fim de tudo, esse pequeno detalhe é irrelevante. O que importa de fato é o contínuo processo de amor entre ambos e a prova de que, mesmo sem um sangue igual correndo nas veias, um sempre viveu no coração do outro.

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| Ser mulher é ser a protagonista do universo espetacular que é a vida. • Maria Zilma Silva Nascimento


EsPECiAl DiA DAs MAEs

resultado do Concurso Cultural Dia das Mães Asmip Apresentamos os trabalhos vencedores do Concurso Cultural Dia das Mães Asmip, cuja premiação aconteceu na casa de festas Zupa lupa no dia 19 de maio. Para conferir as fotos do evento da premiação acesse: www.asmip.org.br/concurso

Modalidade redação MODALIDADE: REDAÇÃO

MODALIDADE: REDAÇÃO

CATEGORIA: até 9 anos

CATEGORIA: até 9 anos

NOME DA OBRA: Minha mãe é a melhor

Categoria até 9 anos

NOME DA OBRA: A minha mãe é a melhor

PSEUDÔNIMO DO AUTOR: Hannah Montana

PSEUDÔNIMO DO AUTOR: Bia

1º Lugar: Letícia Camargos Valeriano

2º Lugar: Beatriz Soares Bandeira

MODALIDADE: REDAÇÃO

MODALIDADE: REDAÇÃO

CATEGORIA: 10 a 12 anos

CATEGORIA: 10 a 12 anos

MODALIDADE: REDAÇÃO

NOME DA OBRA: Minha mãe é nota 10.000

NOME DA OBRA: “A Minha Mãe é a Melhor”

CATEGORIA: 10 a 12 anos

Categoria 10 a 12 anos

PSEUDÔNIMO DO AUTOR: Carolxinha

PSEUDÔNIMO DO AUTOR: JP

NOME DA OBRA: Minha mãe é a melhor PSEUDÔNIMO DO AUTOR: Nayra Gurgel

1º Lugar: Ana Carolina Segundo Soares

2º Lugar: João Paulo Souza Flores

3º Lugar: Nayra Gurgel Nunes Silva Mulher é: tudo de bom! • Juliane Pinto Nájar Fernandez

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Modalidade Poesia Categoria 6 a 11 anos MODALIDADE: POESIA

MODALIDADE: POESIA CATEGORIA: 6 a 11 anos

CATEGORIA: 10 anos NOME DA OBRA: Mães, mães, mães

NOME DA OBRA: Mãe é Tudo

PSEUDÔNIMO DO AUTOR: GAROTO

PSEUDÔNIMO DO AUTOR: Amandinha

MODALIDADE: POESIA

1º Lugar: Filipe Rocha Maia

2º Lugar: Amanda Galeno Dornelas

CATEGORIA: 6 – 11 anos

MODALIDADE: POESIA

NOME DA OBRA: Minha mãe

CATEGORIA: 6 - 11 anos

PSEUDÔNIMO DO AUTOR: Hannah Montana

NOME DA OBRA: Acróstico Mãe PSEUDÔNIMO DO AUTOR: Gaby

3º Lugar: Letícia Camargo Valerianos

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Mençao Honrosa: Ana Gabriella Segundo Soares

| "Ser Mulher é ter Respeito, é ser Carinho, é ter Compaixão; é ser Sorriso, é ter Ombro Amigo, é ser e ter muito Coração." • Rosiclay Gomes Sobrinho


MODALIDADE: POESIA

MODALIDADE: POESIA

CATEGORIA: 12 a 15 anos

CATEGORIA: 10 a 12 anos

NOME DA OBRA: Mãe

NOME DA OBRA: Lembranças Categoria 12-15 anos

PSEUDÔNIMO DO AUTOR: Flor do campo

PSEUDÔNIMO DO AUTOR: Carolxinha

2º Lugar: Juliana Santos Santana

1º Lugar: Ana Carolina Segundo Soares

Modalidade Desenho Categoria até 6 anos MODALIDADE: DESENHO CATEGORIA: 6 anos NOME DA OBRA: minha mãe é assim MODALIDADE: DESENHO

MODALIDADE: DESENHO

CATEGORIA: até 6 anos

CATEGORIA: até 6 anos

NOME DA OBRA: Os amores da mamãe

NOME DA OBRA: Passeio no jardim

PSEUDÔNIMO DO AUTOR: Dodora

PSEUDÔNIMO DO AUTOR: Vitinho MODALIDADE: DESENHO CATEGORIA: até 6 anos NOME DA OBRA: Fazendo ginástica com minha mãe

PSEUDÔNIMO DO AUTOR: Bia

1º Lugar: Isadora Marques Drummond

PSEUDÔNIMO DO AUTOR: Nana

2º Lugar: Beatriz Soares Bandeira

3º Lugar: Vitor Alexandre G. Nassar

Menção Honrosa: Mariana Teles Câmara

Ser mulher é reunir em uma única pessoa a grandiosidade da vida. • Kelly Gonçalves De Sousa Nassar

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Categoria 7 a 9 anos

MODALIDADE: DESENHO CATEGORIA: 7 a 9 anos MODALIDADE: DESENHO

NOME DA OBRA: A melhor mãe do mundo

CATEGORIA: 7 – 9 anos

PSEUDÔNIMO DO AUTOR: BI

NOME DA OBRA: Super Mãe PSEUDÔNIMO DO AUTOR: TIM

MODALIDADE: DESENHO

1º Lugar: Maurício Marques Drummond CATEGORIA: 7 a 9 anos MODALIDADE: DESENHO

NOME DA OBRA: Minha mãe é assim! PSEUDÔNIMO DO AUTOR: O caçulinha

3º Lugar: Diego Bruno Santana

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CATEGORIA: 7 a 9 anos 2º Lugar: Gabriel Teles Câmara

2º Lugar: Maria Eduarda Arcoverde

NOME DA OBRA: A minha mãe é assim PSEUDÔNIMO DO AUTOR: Gui

Menção Honrosa: Maria Clara Arcoverde

Menção Honrosa: Igor Matheus Nassar

| Mulher é um ser tão complexo que vai além do que sonha a nossa vã filosofia. • Kelly Gonçalves De Sousa Nassar


Categoria 10 a 12 anos MODALIDADE: DESENHO MODALIDADE: DESENHO

CATEGORIA: 10 a 12 anos

MODALIDADE: DESENHO

CATEGORIA: 10 a 12 anos

NOME DA OBRA: Tal mãe, tal filha

CATEGORIA: 10 a 12 anos

MODALIDADE: DESENHO CATEGORIA: 10 a 12 anos

NOME DA OBRA: Mãe – simplesmente linda

NOME DA OBRA: Minha Mãe é Ninja

NOME DA OBRA: Minha mãe é linda

PSEUDÔNIMO DO AUTOR: Carolxinha MODALIDADE:

PSEUDÔNIMO DO AUTOR: Guiga

PSEUDÔNIMO DO AUTOR: Garoto

PSEUDÔNIMO DO AUTOR: Nayra Gurgel DESENHO CATEGORIA: 10 a 12 anos NOME DA OBRA: Tal mãe, tal filha PSEUDÔNIMO DO AUTOR: Nayra Gurgel

1º Lugar: Ana Carolina Segundo Soares

2º Lugar: Nayra Gurgel Nunes Silva

3º Lugar: Guilherme Oliveira

3º Lugar: Filipe Rocha Maia

Premio Especial Mangá: MODALIDADE: DESENHO CATEGORIA: 10 a 12 anos NOME DA OBRA: Coração de Mãe PSEUDÔNIMO DO AUTOR: Isa

MODALIDADE: DESENHO CATEGORIA: 10 a 12 anos NOME DA OBRA: Mamãe Mangá PSEUDÔNIMO DO AUTOR: Lucas Gabriel

Melhor Mangá: Isadora de Rodrigues Lupiano

Mençao Honrosa: Lucas Gabriel Moreira Brito

Ser mulher é ser guerreira incansável. • Ana Paula Mathias Conforte

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MODALIDADE: DESENHO

Categoria 13 a 18 anos

CATEGORIA: 13 a 18 anos NOME DA OBRA: A minha mãe é … assim! PSEUDÔNIMO DO AUTOR: Bruno Gurgel

MODALIDADE: FOTOGRAFIA NOME DA OBRA: Brincar de ser feliz PSEUDÔNIMO DO AUTOR: Lela

1º Lugar: Bruno Alexandre Gurgel Nunes Silva

Fotografia

Título: Brincar de ser feliz • Autor: Maurício Faria Drummond 42

| "Ser mulher é gerar, cuidar, proteger, ensinar e, principalmente, amar." • Simone das Dores Silva


ArTigo

AssĂŠdio Moral o mal silencioso Por Camila Maia

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2 de Maio contra o assédio Foi aprovado o Projeto de Lei nº 4.326/2004, de iniciativa da ex-deputada Maria José da Conceição Maninha (PSOL) que institui o 2 de maio como o Dia Nacional de Luta contra o Assédio Moral. A data, a ser celebrada anual e nacionalmente, busca encorajar órgãos da administração pública a voltarem suas atividades, ou ao menos parte delas, ao combate e publicização das ações contra o assédio. Apesar disso, poucos sabem da existência da data que deveria auxiliar o combate ao mal silencioso.

Outras leis... No Brasil já existem várias leis em âmbitos municipal e estadual dipondo sobre o assunto. Entre elas estão: Lei contra assédio moral de Iracemápolis SP (24 de abril de 2000). Primeira lei brasileira que protege o cidadão contra assédio moral. Lei contra assédio moral de Brasília - DF (19 de abril de 2002). Lei contra assédio moral do Estado do Rio de Janeiro ( 23 de agosto de 2002). Lei contra assédio moral do Estado de São Paulo (9 de fevereiro de 2006).

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O

trabalho é uma necessidade natural e eterna da raça humana, sem a qual o homem não pode existir. Ao contrário dos animais irracionais, que se adaptam passivamente ao meio ambiente, o homem atua de forma ativa sobre ele para obter os bens materiais necessários para sua existência e é justamente aí que surge a necessidade de trabalhar. Com o desenvolvimento da humanidade e conseqüente modernização dos modos de produção, o trabalho passou a vincular-se à capacidade técnica. Esta, por sua vez, gerou a relação de subordinação entre empregadores (detentores dos recursos materiais e técnicos) e empregados (fornecedores da mão-de-obra). Quando nasce a relação de subordinação no mundo do trabalho, que no latim vulgar é tripaliare e significa torturar, surge também o assédio. Segundo o dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, a palavra "assédio" significa "insistência impertinente, perseguição, sugestão ou pretensão constantes em relação a alguém". Assim, concretizando os significados dos termos citados e possuindo um caráter inerente às relações de subordinação no ambiente de trabalho, surge o assédio moral.

Fato antigo, assunto novo Apesar de ser quase tão antigo quanto o próprio ato de trabalhar, o assédio moral representa um campo de estudo novo e que só ganhou mais notoriedade há cerca de 15 anos. Em 1998, a psiquiatra, psicanalista e psicoterapeuta familiar Marie France Hirigoyen, com formação em "victimologia" nos Estados Unidos e na França, lançou o livro Le Harcèlement moral: la violence perverse au quotidien, que abriu um espaço para um grande debate sobre o assunto, seja no mundo familiar, seja no mundo do trabalho. No Brasil, uma das principais obras a respeito do assunto é de autoria da Médica do Trabalho, professora e pesquisadora Margarida Barreto. Segundo ela, o assédio moral caracteriza-se pela "exposição dos trabalhadores e trabalhadoras a situações humilhantes e constrangedoras, repetitivas e prolongadas durante a jornada de trabalho e no exercício de suas funções, sendo mais comuns em relações hierárquicas autoritárias e assimétricas, em que predominam condutas negativas, relações desumanas e aéticas de longa duração, de um ou mais chefes dirigida a um ou mais subordinado(s), desestabilizando a relação da vítima com o ambiente de trabalho e

a organização, forçando-o a desistir do emprego". Tema da sua dissertação de Mestrado em Psicologia Social, defendida em 22 de maio de 2000, sob o título "Uma jornada de humilhações", o trabalho de Margarida foi fruto de uma pesquisa junto a 2072 trabalhadores de 97 empresas dos setores químico, farmacêutico, de plásticos e similares, de portes variados dentro da região de São Paulo. O conceito proposto pela médica é de grande importância para os estudos na área e, especialmente, para acabar com o senso comum em relação ao assunto, já que muitas pessoas pensam que uma desavença corriqueira com o chefe ou com um colega de trabalho já pode caracterizar o assédio moral. Esse senso comum é perigoso e pode levar à banalização de uma situação que, na realidade, é extremamente grave. Um ato isolado de humilhação, aqui entendido como um sentimento de ser ofendido, menosprezado, rebaixado, inferiorizado, ultrajado pelo outro, não caracteriza o assédio moral. Para que a situação de assédio ocorra de fato é necessário: repetição sistemática, intencionalidade (forçar o outro a abrir mão do emprego), direcionalidade (uma pessoa do grupo é escolhida como bode expiatório), temporalidade (durante a jornada, por dias e meses) e degradação deliberada das condições de trabalho. "O assédio moral poderá se converter no principal problema do mundo globalizado, caracterizado como o "mal estar na globalização", podendo desencadear ondas de depressão, angústia e outros danos psíquicos em expressivos segmentos de trabalhadores." Estudo realizado pela Organização nternacional do Trabalho (OIT) e pela Organização Mundial da Saúde (OMS)

O assédio moral, apesar de não ser definido exatamente como uma questão de saúde, pode afetá-la diretamente. Segundo o Médico do Trabalho Mauro Moura, os sintomas mais comuns nos casos de assédio moral são os problemas clínicos relacionados ao stress. "O funcionário começa a dormir mal, a ter tremores, palpitações, pressão alta, problemas de pele, aumenta ou diminui de peso abruptamente. Uma pessoa que não tem diabetes pode desenvolver a doença, e quem possui pode descompensar o sintoma. Em alguns casos, distúrbios hormonais também são verificados. Nas mulheres, alterações na menstruação. Nos homens, impotência. Depois,


O assédio no serviço público "Não existe um local onde não exista assédio moral. Ele ocorre em empresas privadas, empresas públicas, organizações não-governamentais, instituições filantrópicas, sindicatos, igrejas e em todo lugar onde há trabalhadores. O assédio nas empresas públicas está muito ligado às políticas de ascensão funcional e ao modelo de gestão. De certa forma, o que venho observando é que o processo nas empresas públicas tende a ser mais perverso e penoso do que nas empresas privadas, pois a pessoa suporta o assédio sempre com a esperança de que, quando mudar o comando, as coisas mudem. Por outro lado, como a pessoa não pode ser mandada embora, ela, muita vezes, é colocada à disposição e começa a rodar por vários setores, sempre carregando um estigma que, freqüentemente, faz com que ela volte a ser assediada. Já vimos casos de assédio em empresa pública com duração de oito anos, enquanto na empresa privada o máximo foi de um ano e meio."

Resposta da especialista Margarida Barreto à pergunta "Como é a questão do assédio moral nas empresas públicas?", do entrevistador da Fio Cruz Notícias, em entrevista concedida no mês de julho de 2007.

começa a ser afetada a parte psicológica. A primeira reação é achar que o assediador tem razão [...]. A auto-estima da pessoa começa a entrar em declínio - e não raras vezes o sujeito pensa no suicídio como única maneira de se salvar".

Enquanto isso no Congresso... Levando-se em conta a gravidade do problema e buscando maneiras de coibir tais atitudes estão sendo criadas formas legais para, ao menos, minimizar a grave situação. Apesar da dificuldade de penalização, devido ao fator subjetivo que envolve esse tipo de conduta, vários países já têm uma legislação específica para criminalizar o assédio moral no trabalho. É o caso da Alemanha, da Itália, da França, da Austrália, dos Estados Unidos e da Suíça. No Brasil, além de contrariar a legislação trabalhista, a assédio moral também vai de encontro com a nossa Lei Máxima: a Constituição Federal. Em seu art. 5º, inciso X, o texto afirma que "todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza". Ao contrariar essa premissa, o assédio moral vai contra o direito não só do trabalhador, mas fere também os de cada um enquanto cidadão. Levando em conta tal fato, há diversas propostas em tramitação no Congresso que visam coibir a prática do assédio moral. Entre eles se destaca o Projeto de Lei de Reforma do Código Penal Brasileiro. O PL 4.742/2001, proposto por Marcos de Jesus (PL-PE), visa introduzir o artigo 164-A ao Código, tipificando o assédio moral com a seguinte redação: "Art. 146-A. Depreciar, de qualquer forma e reiteradamente a imagem ou o desempenho de servidor público ou empregado, em razão de subordinação hierárquica funcional ou laboral, sem justa causa, ou tratá-lo com rigor excessivo, colocando em risco ou afetando sua saúde física ou psíquica. Pena - detenção de um a dois anos." Outro PL de relevância é o 4.591/2001, proposto pela deputada Rita Camata (PSDB-ES). Ele propõe modificar a Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990, proibindo a prática do assédio moral no âmbito do serviço público federal e cominando pena que vai de advertência a demissão, esta em caso de reincidência. A idéia de Camata ganha mais relevância devido ao fato do assédio moral ganhar contornos ainda mais graves dentro do serviço público, já que nesses casos a estabilidade dos servidores pode permitir que a situação de assédio se delongue por vários anos.

Dê a devida importância O assédio moral nas organizações, geralmente, nasce de forma insignificante e propaga-se pelo fato de as pessoas envolvidas não quererem formalizar a denúncia e encararem-na de maneira superficial, deixando passar as insinuações. Em seguida, os ataques multiplicam-se, e a vítima é regularmente acuada, colocada em estado de inferioridade, submetida a manobras hostis e degradantes por longo período. Essas agressões provocam uma queda de auto-estima e cada vez mais a pessoa sente-se humilhada, usada e suja. Na maior parte das vezes, a vítima não possui nenhuma fraqueza ou patologia psíquica, sendo estas desencadeadas pela situação de humilhação. "O assédio moral é uma forma de violência psicológica. O que a difere é que ela não deixa traços visíveis no indivíduo. Mas, com certeza, é uma violência que destrói, e muitas vezes muito mais que a violência física. Os efeitos psicológicos são devastadores para a pessoa que vive o assédio moral." Ângelo Soares, pesquisador e professor da Universidade do Quebec em Montreal (Canadá)

O assédio moral pode tanto se dar de maneira explícita, quanto de forma velada. No primeiro caso, o assédio ocorre por meio da humilhação pública, com a utilização de ofensas e críticas à produtividade do trabalhador. Já no segundo caso, mais difícil de ser percebido, o assédio é produzido de maneira sutil. Nessa situação é muito comum usar-se a tática da quarentena, do freezer, ou da morte simbólica por meio de fatos simples, como a pessoa não ter mais uma mesa ou cadeira para sentar-se, reforçando a sua inutilidade para desestabilizá-lo. Apesar de muitas vezes envolver o chefe e o subordinado, ou seja, a vítima e o agressor, a interação geradora do assédio não é dicotômica. Ela envolve uma rede de relações sociais que, pelos mais diversos motivos, podem gerar comportamentos perversos. Dessa forma, o assédio moral pode ser encarado como algo que nasce como uma patologia dos grupos sociais e que, ao ser direcionado a um integrante desse contexto social, o afeta enquanto indivíduo, especialmente no que tange à saúde psíquica. Assim, antes de encarar e tratar o assédio moral como uma situação que afeta um ser, é preciso encará-lo como uma patologia de toda a sociedade. 45


Artigo

Ladrões no Poder Por Artur Marciano

O ministro saiu do baile da embaixada, embarcando logo no carro. Desde duas horas estivera a sonhar com aquele momento. Ansiava estar só, só com o seu pensamento, pesando bem as palavras que proferira, relembrando as atitudes e os pasmos olhares dos circunstantes. Por isso entrara no coupé depressa, sôfrego, sem mesmo reparar se, de fato, era o seu. Vinha cegamente, tangido por sentimentos complexos: orgulho, força, valor, vaidade. Todo ele era um poço de certeza. Estava certo do seu valor intrínseco; estava certo das suas qualidades extraordinárias e excepcionais. A respeitosa atitude de todos e a deferência universal que o cercava eram nada mais, nada menos que o sinal da convicção geral de ser ele o resumo do país, a encarnação dos seus anseios. Nele viviam os doridos queixumes dos humildes e os espetaculosos desejos dos ricos. As obscuras determinações das coisas, acertadamente, haviam-no erguido até ali, e mais alto levá-lo-iam, visto que só ele, ele só e unicamente, seria capaz de fazer o país chegar aos destinos que os antecedentes dele impunham... E ele sorriu, quando essa frase lhe passou pelos olhos, totalmente escrita em caracteres de imprensa, em um livro ou em um jornal qualquer. Lembrou-se do seu discurso de ainda agora: “Na vida das sociedades, como na dos indivíduos"... Que maravilha! Tinha algo de filosófico, de transcendente. E o sucesso daquele trecho? Recordou-se dele por inteiro: “Aristóteles, Bacon, Descartes, Spinosa e Spencer, como Sólon, Justiniano, Portalis e Ihering, todos os filósofos, todos os juristas afirmam que as leis devem se basear nos costumes"... Lima Barreto - Os Bruzundangas

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“Como os maiores ladrões são os que têm por oficio livrar-nos de outros ladrões". (A arte de furtar - Anônimo do século XVIII) "“Ladrões no poder!" A pichação encontrada em um tapume de alguma obra da cidade, cercada de suspeitas de superfaturamento, é o lema da República. Aliás, é a lama da República. Doutores, senhores de gravata, distintas damas de sociedade, ninfetas sedutoras lambuzados pelo erário desviado de seu destino. Faltam remédios nas farmácias públicas, crianças não têm merenda escolar, jovens entregues à criminalidade, à prostituição, morrem idosos nos corredores sujos e nas filas dos hospitais. “Isso é uma vergonha!", declara o jornalista com ares de austeridade moral que, às gargalhadas, declara a inferioridade profissional dos trabalhadores de limpeza urbana. Bandidos nas instituições do Estado, crápulas nas direções de empresas privadas, canalhas propagando falsidades e preconceitos em rede nacional de rádio ou televisão, uma orgia de maucaratismo digna dos contos do Marquês de Sade. Aqueles que negam direitos aos trabalhadores são os mesmo que, com uma canetada, derramam dinheiro público para construir tesouros privados, castelos, coleções de automóveis de luxo, mansões high tech, bacanais na Amazônia, obras de arte, viagens aos recantos deslumbrantes do planeta, delícias exóticas da gastronomia. A hipocrisia do sr. ministro não é sua prerrogativa: grassa por um certa horda de homens públicos. "“ O direito de poucos não pode ser superior ao direito de muitos", a conveniência dessas palavras não cabe aos privilégios outorgados à camarilha secular que trocou os títulos de nobreza pelos altos postos estatais. Assim vão os carros de luxo (pagos com dinheiro dos ‘muitos’), eventos oficiais (pagos com dinheiro dos ‘muitos’), viagens (pagas com dinheiro dos ‘muitos’), férias de 60 dias com direito à venda (inalcançáveis para os ‘muitos’), jetons, 14º salários, auxílios moradia e parcelas autônomas de equivalência (insustentáveis para os ‘muitos’), lucros, dividendos e rendimentos inalcançáveis para os ‘muitos’ que lutam por um aumento de salário mínimo que os ‘poucos’ decidem se será de 7,7% ou 6,14%, o que para muitos continuará a ser o pouco que ainda lhes resta.

Greve no Judiciário pode prejudicar processo eleitoral, diz presidente do TSE Agência Brasil Publicação: 12/05/2010 15:45

O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Ricardo Lewandoski, disse nesta quarta-feira (12) que as reivindicações dos servidores do Judiciário são justas, mas que o TSE não permitirá que uma possível greve prejudique o andamento do processo eleitoral. O servidores querem a aprovação do projeto de lei que dispõe sobre a revisão do plano de carreira do Judiciário e ameaçam paralisar as atividades nos próximos dias. “Estamos de acordo com a reivindicação, mas a greve é totalmente inoportuna porque pode atrapalhar as eleições. Iremos tomar todas as providências, inclusive judiciais, para garantir que as eleições aconteçam normalmente", afirmou o presidente do TSE, após reunião com o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, e com o advogado-geral da União, Luís Inácio Adams. Segundo o ministro do Planejamento, não há possibilidade de atender as reivindicações dos servidores do Judiciário porque não há previsão orçamentária. “Existe um pensamento dos sindicatos, de que como é fim de governo e também ano eleitoral, podem fazer pressão por melhores salários. Estamos abertos para negociar, contudo não temos condição de reajuste", disse o ministro. De acordo com o advogado-geral da União, a greve no Judiciário e, principalmente, entre os servidores do TSE, no momento, é o pior instrumento para reivindicar reajustes, porque o governo já apontou que não terá condições de cumprir. “A AGU continuará agindo com firmeza para garantir a permanência do serviço básico de todo o Judiciário. Entendemos que uma paralisação prejudica o país “, explicou o advogado, que ressaltou ainda que “o direito de poucos não pode ser superior ao direito de muitos". O ministro do planejamento apontou também que o julgamento da legalidade da paralisação dos analistas e dos técnicos do meio ambiente, no Superior Tribunal de Justiça (STJ), na tarde de hoje (12), será fundamental para dar limites às greves que vem despontando desde o início de 2010. Publicado no Correio Braziliense

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Ser mulher é ser livre para não se adequar a rótulos e padrões. • Glauce Lopes da Nobrega 47


solidariedade e Cidadania

A religião é o amor Por Priscylla Damasceno

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e que matéria são feitos aqueles que praticam a solidariedade de forma sistemática e contínua? No que diferem da maioria de nós, que mesmo preocupados com as questões sociais e tocados pelo infortúnio daqueles que não têm supridas as mais básicas das necessidades, ainda assim não nos mobilizamos para nos doar? Há os que associem a prática da solidariedade e da cidadania à prática da fé, atrelada, não raro, a uma religião. E quando o assunto é religião, acaba-se inserido em polêmicas quase sempre inúteis ou depara-se com fatos recentes como o do famoso jogador de futebol que recusou-se a entrar numa instituição, onde prometera visitar um grupo de crianças doentes, ao ser informado que era uma instituição espírita. O motivo alegado: ele era evangélico. Alheios às polêmicas, os voluntários seguem se doando para proporcionar alívio aos menos afortunados. Quando se dispõem a praticar o bem, quando emprestam seu tempo e seus sentimentos para minimizar o sofrimento do próximo, não estão sendo católicos ou evangélicos ou espíritas ou judeus ou muçulmanos: a religião comum a todos é o amor. Duas histórias de dedicação, contadas por duas servidoras, demonstram que tornar-se voluntário, de forma sistemática e comprometida, é uma decisão que modifica não apenas aqueles que recebem os frutos das ações realizadas, mas que transforma indelevelmente os que se propõem a exercício amoroso da solidariedade. 48

Lara "“Mário Quintana dizia que a democracia é oportunizar a todos o mesmo ponto de partida. Quanto ao ponto de chegada, depende de cada um", cita a analista Lara Maria Albuquerque Silva, 38 anos, quando fala da importância do trabalho voluntário em sua vida pessoal. Conta que nasceu em uma família abastada, mas compreendeu que nem todos tiveram a mesma sorte. “"Não acredito que o Estado consiga atender a todas as demandas sociais. Esse é um problema da sociedade como um todo. Todos deveriam se prontificar mais para ajudar pessoas necessitadas". Ela revela que se sente útil na vida de pessoas que precisam de ajuda. Lara é servidora do MPDFT desde 1997, atualmente lotada na Divisão de Engenharia de Manutenção do DAE. Casada com Rodrigo Aliotti, também servidor, é mãe de Larissa, 4 anos. Sua dedicação às obras sociais já conta mais de 20 anos. Em sua opinião, quem faz trabalho voluntário deve ter a consciência de que este deve ser tão ou mais levado a sério do que o trabalho remunerado. "“É necessário profissionalismo e responsabilidade, porque afinal de contas foi a pessoa que escolheu estar ali", afirma. O trabalho social levado a sério impõe rotinas. As manhãs de domingo de Lara, por exemplo, são dedicadas à campanha de Fraternidade Auta de Sousa, do Gremio Espírita Atualpa Barbosa de Lima, localizado na 610 Sul, que trabalha arrecadando vestuário,

| Ser mulher é tornar o ambiente mais leve. • Fabiane Elisa Augusta Correa Gurgel


brinquedos, material escolar e material de cozinha para as pessoas carentes. No Grêmio, os voluntários são divididos em dois grupos – os que arrecadam e os que entregam. Lara trabalha nesse último, entregando alguns artigos arrecadados e levando alívio a cerca de 30 pessoas todo domingo, em geral moradores de rua, a partir das 8 horas da manhã e até mais ou menos 1 hora da tarde. A equipe organiza o atendimento a partir da distribuição de senhas. Mulher é atendida por mulher e homem é atendido por homem. “"Mostramos as opções e cada um escolhe o que quer, até mesmo as crianças", Lara fala, empolgada. Já os sábados ela passa trabalhando em outro projeto, o Grupo de Sopa, Assistência e Estudo O Consolador, que funciona na Vila Denocs, próximo ao depósito Rezende, em Sobradinho. O grupo é formado por 15 voluntários e atende crianças carentes, sem estrutura familiar – e oriundas de todas as religiões. A máxima do Grupo é dar dignidade à criança e eles se dedicam a acolher, a levar conceitos de ética, cidadania, hábitos de higiene. Atualmente são atendidas 150 crianças e há fila de espera. As crianças são orientadas a comparecer sempre limpas e vestindo a camiseta do grupo, que elas ganham ao tornarem-se integrantes do projeto social. É a primeira lição que recebem: pobreza não precisa significar desleixo. Ao chegarem, todas as crianças comem uma fruta, pois muitas não conseguiriam nem ficar em pé sem isso, por falta de alimentação. Depois são divididas em subgrupos por idade mental para conversar sobre Deus, trabalho, dignidade, estudo e muitos outros assuntos. “Isso porque a criança subnutrida pode ter dez anos, mas precisa estar em uma classe de 6, de 5. Além disso muitos não são alfabetizados, conta Lara. Ás vezes são ministradas palestras ou é exibido algum filme. Em seguida, é servida a sopa com pão. Quando as condições financeiras permitem, é também servida uma sobremesa. Ao final da tarde, todos se reúnem para comentar os trabalhos realizados, ler redações, fazer apresentações e mostrar cartazes. É feita a oração de encerramento e cada criança recebe uma sacola com verduras, frutas e legumes. O trabalho de Lara nesse grupo é arrecadar tudo o que é necessário para as crianças, como material escolar, livros e dinheiro para as festas. Mensalmente os voluntários preparam um festinha para celebrar os aniversariantes do mês. “"Cada aniversariante ganha uma caixa de bombom e pra eles isso é a melhor

coisa do mundo", lembra ela. A voluntária também é responsável pelo site do projeto. “"Estamos com um projeto de incentivo à leitura esse ano. Fizemos uma biblioteca, mesmo sem estrutura física. Conseguimos doações de livros infantis, em torno de 120, e os organizamos em caixas. Emprestamos para as crianças e está sendo um sucesso", conta Lara. Os servidores do MPDFT sempre ajudam Lara com dinheiro ou com doações. O Grupo não tem ajuda do governo, sobrevive de doações. "O trabalho voluntário é uma maneira de você devolver um pouco do que você recebeu de bom para a sociedade", diz Lara. Ela afirma ainda, que é necessário contribuir com a sociedade, já que nem todos podem estar na mesma posição que ela.

“Em resposta a uma ética da exclusão, estamos todos desafiados a praticar uma ética da solidariedade". Betinho

Thatiane Thatiane de Morais Rosa, 25 anos, técnica administrativa em exercício desde 2008, sempre quis se engajar em algum trabalho voluntário. Começou fazendo campanhas de arrecadação de cobertores, sempre nos meses de junho e julho, mas não era exatamente isso o que ela buscava – ou não era apenas isso. O que ela buscava acabou vindo pelas mãos do amigo Vilmar, que também estava procurando algo além. Insatisfeito, um dia disse aos amigos que "“era possível fazer mais". Essa frase foi o ponto de partida para a criação, em 2008, da ASFA - Associação São Francisco de Assis, que é formada por cerca de 20 pessoas, de todas as faixas etárias, entre sócios efetivos e sócios contribuintes. Com objetivos bem definidos – praticar a caridade cristã, por meio da oração e da ação; amenizar o sofrimento, restituir a dignidade humana e promover o resgate da cidadania dos seus assistidos – as ações da ASFA possuem um diferencial importante: ao invés de assistir indiscriminadamente grupos maiores, de maneira mais paliativa, os voluntários selecionam famílias carentes e buscam desenvolver com elas ações para reestruturar a vida

Ser mulher é como andar na montanha russa: os aclives e declives são inevitáveis, mas a garantia de chegar realizada ao final é certa! • Simone Kappel de Queiroz

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social, profissional e familiar. A primeira família atendida pela associação foi a de Eleuza, solteira, 30 anos e 6 filhos, que sustentava catando lixo de madrugada, no lixão da Estrutural. O grupo conseguiu para Eleuza um emprego de recepcionista, com benefícios. As crianças menores, por ação do grupo, foram colocadas em creches – as maiores já estudavam. Compraram alimentos, roupas e uma casa própria para a família – mas Eleuza ficou apenas 8 meses no emprego e resolveu voltar ao lixão, alegando que era ruim ter horário para cumprir, por causa dos filhos pequenos. Mesmo assim a família é acompanhada até hoje e houve progressos visíveis na vida das crianças: elas foram ensinadas a tomar banho todos os dias, a lavar as mãos e os alimentos antes de comer – e a associação continua comprando alimentos e roupas. Além disso, investe na filha mais velha de Eleuza, Ana Paula, 14 anos, que está recebendo aulas particulares com vistas à sua aprovação no concurso dos Correios, Menor Aprendiz. A ASFA é formada por psicólogos, médicos, funcionários públicos e funciona em local fixo, na cidade Estrutural, em frente ao lixão. O lugar foi cedido pelos Vicentinos, mas eles já sabem que serão retirados de lá, em virtude das obras que a cidade estrutural está

recebendo. Cerca de 10 famílias são ajudadas hoje, cada qual a uma maneira: de ajuda financeira até simples visitas para conversar. Cada família recebe 2 visitas por mês, feitas aos domingos – Thatiane é responsável por fazer a visita na casa de Eleuza. Às segundas-feiras o grupo se reúne para conversar sobre as visitas e em seguida faz-se a contribuição financeira, de qualquer valor, daqueles que puderem e desejarem ajudar. O dinheiro é usado com as famílias, a partir de decisão tomada pelo grupo, e em datas comemorativas como aniversariantes, Natal, Dia das Crianças. Em sua experiência na ASFA, Thatiane já fez de tudo e seu maior aprendizado foi compreender que a maioria das pessoas precisa apenas de uma visita para conversar sobre a vida, para se sentir ouvida, para se sentir importante. As famílias atendidas pela associação são no geral desestruturadas, com pais e mães alcoólatras e drogados, os filhos sem ter em quem se espelhar. "“O nosso objetivo é dar amor, e afeto para essas pessoas", afirma a servidora. Ela, que começou a fazer trabalho voluntário apenas comprando cobertores para moradores de rua, agora se sente responsável pela sociedade e afirma que vê progresso no trabalho que faz com as pessoas. “"É importante investir especialmente nas crianças", ela diz.

Seja um Colaborador Grupo de Sopa http://grupodesopa.org larasilva@yahoo.com ou afonsojs@globo.com Galpão do DNOCS • Área Especial nº 9 • loja nº 7 Sobradinho • DF São bem-vindas doações de praticamente tudo: roupas e calçados novos ou usados; jornais velhos, revistas e papel para reciclagem; livros, CDs e DVDs usados em bom estado; alimentos e bebidas não perecíveis; material escolar. Ou você pode apadrinhar uma criança, doando uma caixa de bombom que será dada a ela na festinha de aniversário que o grupo promove mensalmente.

ASFA www.associacaofranciscodeassis.org amigos-da-asfa@googlegroups.com ou asfa@asfa.org.br

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| Ser mulher é saber escolher o que há de melhor. • Suzy Mary Almeida Braga


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PARE!

Opinião

Por Artur Marciano

T

rânsito intenso, acidentes, gastos públicos e gastos particulares que desestruturam o orçamento mensal. Características do quotidiano de moradores do Distrito Federal, diante do inchaço de automóveis nas vias internas de Brasília e naquelas que dão acesso à cidade. Áreas verdes são cada vez mais substituídas por asfalto, para comportar — em movimento ou estacionados, com segurança e com conforto para os condutores — os veículos adquiridos a longas e módicas prestações. Está certa a argumentação que coloca o motorista e proprietário como um consumidor e com direito a ter atendidas suas demandas — tendo em vista que pagam impostos etc. —, mas é preciso considerar outras maneiras de se tratar esse assunto. Na própria questão do ‘motorista-consumidor’ enxerga-se um sistema que se mantem pela espoliação financeira do proprietário de automóveis, mediante os gastos agregados ao bem: manutenção, impostos e a depreciação de valor. O proprietário, desse ponto de vista, não é tido (ou não apenas é tido) como um cidadão que adquiriu, por livre e espontânea vontade, determinado bem para seu conforto. Ao contrário, ele é um serviçal do sistema que efetiva a ideia do automóvel como um fetiche coletivo, conectado a dutos de escoamento de seu dinheiro. Romper com esse papel é tarefa complicada e cansativa. Talvez, seja menos trabalhoso resistir a certas rotinas, implementando-se, tão-somente, mudança de hábitos e reorganização do seu tempo. O carro, por exemplo, pode ser uma alternativa de transporte usada com menor frequência, preferencialmente, em longos deslocamentos ou em uma espécie de itinerário: em 52

| "Ser Mulher é dar sentido à existência Humana" • Marli de Sousa Rego

uma mesma saída, deixa-se uns na escola, outro no mercado e segue para o trabalho. O bem será menos depreciado e, certamente, os gastos com manutenção vão ser reduzidos. As curtas distâncias e deslocamentos individuais requerem o transporte público ou o táxi — sem deixar de anotar que caminhadas e pedaladas têm custo muito baixo e ajudam a manter uma boa forma física e mental. Contudo, o transporte público do Distrito Federal serve muito mal a sua população. Os defeitos sabe-se de cor: frota velha, veículos desconfortáveis, tarifas altas, demora, lotação e limitação dos itinerários. Essa situação empurra a sociedade brasiliense para aquele sistema de retirada de dinheiro dos proprietários de veículos e, por outro lado, pressiona o poder público a atender demandas desses cidadãos por mais espaço nas vias e nos estacionamentos. Boa parte das grandes obras — realizadas recentemente, em andamento ou em planejamento — no Distrito Federal giram em torno do fator ‘automóvel’. Isso quer dizer que grandes quantias de dinheiro público são movimentadas para esse fim e sabe-se que parte delas vai parar em bolsas, em meias, em paletós e em cuecas privadas. Assim, podemos chegar à triste conclusão de que determinados setores do poder público incentivam a aquisição de automóveis, com a intenção de captar dinheiro para fins escusos. Diante do espelho, o cidadão brasiliense, condutor e proprietário de um automóvel, pode reconhecer-se como aquele que alimenta uma complexa rede de ações que desembocam em supostos esquemas de corrupção e na degradação acelerada da qualidade de vida da população do Distrito Federal.


CADErNo DE CUlTUrA

Caderno de Cultura Porque a vida não foi feita para fazer banco de horas Por Michelli Lorenzi

E existe cultura em brasília?

Uma visão apaixonada de uma desterrada na capital federal.

A

ntes morar no cenário do Jornal Nacional que nas cenas da novela de Manoel Carlos. Essa era a ideia ao despachar toda uma vida dentro de malas no aeroporto, assunto um tanto delicado quando você está tentando não pagar excesso de bagagem pela sua vida. Se a arte imita a vida e a vida mal cabe em uma mala, que dirá a arte caber em um quadrado planejado no meio do cerrado. Assim, de malas, vidas e projetos despachados cresce Brasílila. Se a arte serve para nos fazer transcender ao mundo onírico, o que esperar de uma cidade que nasceu já de um sonho? O brasiliense tem pressa e é exigente. Assim como Amanda não entende porque, aos cinco anos, não pode ter os mesmos direitos do seu tio adolescente de sair sozinho sem hora para voltar, Brasília, aos cinquenta anos, se inquieta pela falta do doce balanço à caminho do mar, do carnaval que sobe a ladeira ou daquela alguma coisa que acontece no coração quando cruza a Ipiranga com a Avenida São João. É porque quando chegamos por aqui, nada entedemos da poesia monumental de Niemeyer, da sua falta de esquinas, da vida que pulsa oculta em suas superquadras e de algumas centenas de anos que nos separam das outras capitais. Mas se é justamente essa angústia e revolta típica da idade que fará Amanda desbravar todo o mundo à sua frente carregando sonhos ousados, Brasília cresce com essa mesma inquietação incessantemente. Assim, muito em breve, lembraremos com saudades a época em que as quadras eram tranquilas e ainda era possível aproveitar tudo o que a cidade nos oferece, sem a loucura e poluição das cidades que nunca dormem. Enquanto isso, aproveitemos o finalzinho do verão para desfilar pernas e braços de fora enquanto ainda podemos desfrutar um chopp gelado sentados numa obra de arte, patrimônio cultural da humanidade, sob o céu que se escancara acima de nós. Porque quando o frio chegar, só um vinho para aquecer essa alma inquieta dos brasilienses, tão cheia de projetos mirabolantes e ideias surreais. Afinal, o que esperar de um povo que se acostumou a viver num sonho impensável que se tornou realidade?

Agenda cultural Festa junina Festa do seu João 2010 com Bruno e Marrone. Data: Dia 02 de Junho, Quarta-feira • Hora: 21h Local: ASBAC - Setor de Clubes Sul

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Teatro Grupos de Portugal, Itália, França e Espanha estarão na Mostra Internacional de Teatro, no Centro Cultural Banco do Brasil, à partir de 4 de junho. A Festa Junina do Clube Nipo, setor de clubes sul - trecho 1, será no dia 12 de junho. Comidas típicas de são joão combinadas com os sabores culinários do Japão. O clube nipo fica à beira do lago, num espaço simples, acolhedor e familiar. É bom chegar cedo. Entrada franca.

show com luan santana no anel externo do Estádio Mané garrincha. Um Meteoro vai cair em Brasília. Data: Dia 12 de Junho, Sábado • Hora: 22h Local: Mané Garrincha - Anel Externo

Charlie brown Jr. Charlie Brown Jr. com álbum com novo álbum “Camisa 10 (joga bola até na chuva). Local: Ginásio Nilson Nelson • Data: 26/06 Realização: Dreams Produções e Eventos Classificação indicativa: 18 anos

Copa do mundo! será que o griFo libera? A Rede Globo vai transmitir alguns dos jogos da Copa do Mundo em salas de cinema 3D. A previsão é que sejam exibidos todas as partidas da seleção brasileira - incluindo a final e a disputa de terceiro e quarto lugar. No total, serão oito jogos exibidos em 25 salas de cinema Cinemark que suportam o novo recurso de imagem, localizados nos maiores centros urbanos do país: Rio de Janeiro (RJ), São Paulo (SP), Curitiba (PR), Brasília (DF), Belo Horizonte (MG), Salvador (BA) e Porto Alegre (RS). "Assistir à Seleção Brasileira em 3D será uma experiência única. O telespectador terá a sensação de estar dentro do estádio", explica Fernando Bittencourt, diretor da Central Globo de Engenharia, em comunicado oficial. Possíveis preços dos ingressos e os Shopping Center que exibirão os jogos ainda não foram anunciados. Os 12 bares e restaurantes do Grupo Jorge Ferreira se preparam para atrair os brasilienses nos dias de jogos da Copa. “A maioria das casas já tem aparelhos e pacotes de televisão a cabo, mas as que não têm vão ganhar. Vai ter bolão em toda partida e estamos equacionando promoções, do tipo peça um chope e ganhe dois ou uma rodada grátis nos gols do Brasil", conta Mauro Calichmann, gerente da rede integrada por estabelecimentos que já transmitem jogos tradicionalmente, como o Bar Brahma, na 201 Sul, e o Armazém do Ferreira, na 202 Norte, e outros que o farão pela primeira vez em 2010, como a pizzaria Gordeixo’s, na 306 Norte, e a Trattoria Peluso, em Águas Claras. Conhecido por ter se especializado em transmissões de jogos, o bar Sociedade Futebolística, na 303 Sul, já possui cinco televisões de plasma de 42 polegadas e dois telões. Para a Copa do Mundo, vai investir em estratégias para garantir mais clientes. “A gente está montando pacotes com bebida liberada. Em dias de jogo perto da hora do almoço, vai ter feijoada", diz Marcelo Braconi, um dos proprietários.(MB)

shows brasília indoor 2010 Shows com Ivete Sangalo e Asa de Águia, dia 10 e 11 de julho. Em breve mais informações. Data: 10 e 11 de Julho

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O Festival de inverno de brasília deste ano será nos dias 2, 3 e 4 de julho no estacionamento externo do Ginásio Nilson e Nelson. Já estão confirmados Jorge Ben Jor, Marcelo Camelo, Capital Inicial e Pato Fu. Há a proposta de uma grande banda POP norte-americano para este ano.

Enquanto isso, em algum canto desse quadrado... Está rolando aquele samba nervoso de todo sábado, um banquinho e violão cantando MPB nas quartas, o forró descompromissado das noite de sexta, o sertanejo sem hora para acabar, a exposição de arte abstrata e pós moderna em algum centro cultural, o ensaio de maracatu e a dose dupla até 23 horas no balcão ou varanda. E faltou tempo para falar ainda do último álbum do Móveis Colonais de Acaju, da programação de filmes alternativos do Academia de Tênis ou dos raros e clássicos do cinema brasileiro no CCBB, das peças de teatro de todo final de semana espalhadas pelos palcos da cidade, das opções de bibliotecas para estudar durante o final de semana, do fato de que com o inverno está chegando os melhores dias para curtir o pôr-do-sol na Ermida Dom Bosco (porque nos dias de frio o céu escurece em tons e subtons de vermelho), da melhor sinuca da cidade (com a opção do Karaokê e quando eu soltar a minha voz, por favor entenda, que palavra por palavra eis aqui uma pessoa se entregando e que no peito dos desafinados também bate um coração), das melhores noites para dançar porque como disse a personagem de Glória Pires em A Partilha (2001) "Esse é um conselho de mãe para filha: você tem que dançar dancing days, sabe? Dance bem, dance mal, dance sem parar", das dicas dos horários e parques para o brasiliense que ADORA uma maratona, dos melhores shoppings e exposições para a criançada e de todo o turismo gastronômico da cidade com opções de comidas típicas de todos os lugares possíveis (porque nem só de pequi vive o homem). Entre os vértices deste quadrado, há mais coisas acontecendo do que consegue apreender estas poucas páginas escritas nas horas vagas de quem ainda é iniciante na arte de explorar Brasília. Mas, acima de tudo, o espírito do ser humano é livre por essência. Não é de guias, cadernos de cultura, divirta-se, flyer e código de ética do servidor que se faz uma vida digna de uma biografia com mais de trezentas páginas. No cotidiano, na resignação, no roteiro-pronto, ficamos no trajeto casa-grifo-trabalho-grifo-casa, vivendo o trabalho-estudo-trabalho, esquecendo aquela ousadia e energia de um tempo em que ainda acreditavamos que podíamos mudar o mundo. Afrouxe a rotina e as desculpas-de-sempre da falta de tempo e saia disposto a se deixar levar leve pelas ruas. A vida é muito curta para ser pequena e é preciso se permitir ser surpreendido. Eu vou ficar nesta cidade, não vou voltar pro sertão, pois vejo vir no vento o cheiro de nova estação. E você?

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Carência de Mãe Por Roberto Klotz

Eu estava em uma roda de amigos quando o tema da comida dos naturalistas e vegetarianos surgiu. Houve um ataque violento desferido contra as carnes vermelhas. Elevam a pressão arterial, aumentam a taxa de ácido úrico e engrandecem a taxa de colesterol, além de representar o sacrifício de milhares de animais indefesos. A defesa dos carnistas foi imediata e veemente, afinal, as milhares de plantinhas indefesas também não escapam do sacrifício. Sem a carne não estaríamos reunidos aqui em torno da churrasqueira e não estaríamos discutindo o futuro da humanidade. No começo da noite cheguei em casa, solitário, e ainda com aquela conversa da comida saudável martelando na cabeça. Vinho é bom para o coração. Chá de boldo e de carqueja aliviam os trabalhos do fígado. Chá de erva-doce é digestivo e evita gases. Berinjela combate o colesterol. Amendoim com casca é afrodisíaco. Alho afasta a gripe e vampiros. Chá de folha de nabo é indicado para aliviar as hemorroidas enquanto o nabo inteiro as prejudica. Acredito que a aguardente é fantástica para arrumar emprego. É muito comum o alcoólatra chegar em casa dizendo que estava procurando emprego. A lista é enorme. Não estou pensando em nada que resolva problemas como espinhela caída ou unha encravada. Meu problema é carência. Não é o que você está pensando! Tenho namorada e namoramos ontem à noite, depois do cinema. Refirome à carência de mãe. Do afeto maternal. Aquela coisa

de colo, de cafuné na cabeça e palavras ditas bem baixinho. Qual será a comida que combate ausência de mãe? Minha mãe está muito distante, um telefonema é muito pouco. E não enche barriga nem coração. Pizza, miojo e lasanha resolvem problemas imediatos de falta de cozinheira. Nossa Senhora dos Solitários Abandonados, além de não ser erva medicinal, não tem o calor da nossa mãe. Preciso descobrir urgente qual é a comida terapêutica para carência maternal. Não é só menino que sente falta do aconchego da mãe. Na cozinha, abro armários e potes. Olho caixas e pacotes. Procuro aqui. Procuro acolá. Açúcar? Humm. Isso lembra infância. Doces da mamãe, geleias e bolos. Na geladeira vejo alface e lembro dela dizer que “tem de comer, é bom para os intestinos". A respeito do café, minha mãe sempre dizia que eu não deveria tomar à noite, senão eu não dormiria. Volto para o armário e continuo procurando. Chocolate em pó, salsichas, sardinhas, sabão em pó, aspargos. Sabão em pó? O que esta caixa está fazendo aqui? Sopa de ervilhas, macarrão, goiabada, pipoca de micro-ondas, arroz, maisena, outro pacote de macarrão, batata palha, leite condensado, creme de leite. Volta lá! Achei! É isso, maisena. Mingau de maisena! Mingau de maisena é mãe servida em prato de sopa!

Roberto Klotz é um engenheiro que saltou do topo do prédio recém-construído e estilhaçou-se em parágrafos. Nasceu no século passado. Bem-humorado, crítico, vacinado, analfabeto, irônico, paulistanamente candango. Suas histórias muitas vezes têm finais surpreendentes. Enquanto aprendia a cozinhar, escreveu Pepino e farofa, um livro de aventuras culinárias, engordou de tantas pizzas encomendadas. Para perder peso, o médico recomendou que caminhasse. Durante as caminhadas encontrou elefante, lâmpada mágica, cão bravo, pegadas de onça, muito cocô e 45 motivos para exercitar o bom humor em Quase pisei! Roberto Klotz é Conselheiro da Secretaria de Cultura do DF. Site: http://robertoklotz.blogspot.com

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CoNsiDErAÇÕEs FiNAis

Coisa de maluco

ou mi banco de horas querido Por Ana Nogueira

Para mandar pendurar uma reles horinha no seu fantástico mega power plus Banco de Horas, aquele que o MPDFT defende que é super mega power plus vantajoso para o servidor, você precisa trabalhar 41 horas na semana. Já pensou nisso? A matemática do banco de horas no MP é assim:

1=6 (oi? é promoção?)

Eu fico me perguntando: será que o pessoal que gosta desse tal grifo e que fica vendendo esse peixinho passado como peixe bom já parou para fazer essa continha básica? Ou eles são mesmo cruéis a ponto de sugerir que você, servidor desavisado, pague horas devidas ao MP com o seu precioso banco de horas? Quanta maldade, minha gente! Pois trate de ficar esperto, colega! Se alguém que você nunca viu antes de repente lhe oferecer banco de horas para pagar horas que você está devendo, isto não é Impulse, isto é a maior furada! Fuja o mais rápido que conseguir. Não acredita? Faça as contas! Vamos repetir, agora em slow motion, para você acompanhar: cada hora no banco de horas equivale a seis horas trabalhadas por você. Usar banco de horas para pagar, por exemplo, 3 horas devidas num mês é trocar 3 por 18 - 18 horas suadas, minha gente! Tem cabimento, isso? É ou não é coisa de maluco?

Ser Mulher é saber transformar as limitações em força para superar os obstáculos. • Elvira Regina Baptista de Carli

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