Para onde ela foi gayle forman

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fritas e uma cerveja — digo finalmente. — Maravilha — Stavros diz, batendo as mãos como se eu tivesse dado a ele a cura para o câncer. — Cheeseburger Deluxe. Acompanhamento de anéis de cebola. Seu garoto é muito magrinho. Assim como você. — Você nunca vai ter filhos saudáveis se não colocar carne nesses ossos — Euphemia acrescenta. Mia apoia a cabeça nas mãos, como se estivesse literalmente tentando desaparecer em seu próprio corpo. Depois que eles partem, ela diz: — Deus, isso foi bem... desconfortável. Claro que eles não reconheceram você. — Mas sabiam quem você é. Eu não os consideraria amantes de música clássica. — Então olho para meu jeans, minha camiseta preta, meus tênis velhos. Houve um tempo em que eu também era fã de música clássica, então não tem como dizer. Mia ri. — Ah, eles não são. Euphemia me conhece de tocar no metrô. — Você tocava no metrô? A coisa ficou dura assim? — Então percebo o que acabei de dizer e quero voltar atrás. Não dá para perguntar para alguém como a Mia se a coisa ficou dura, mesmo que eu soubesse que, financeiramente, não ficou. Denny havia feito um seguro de vida complementar além daquele que tinha como professor, e isso deixou Mia bem confortável, apesar de ninguém saber sobre o segundo seguro logo de cara. Era uma das razões pelas quais, depois do acidente, um bando de músicos na cidade fez uma série de concertos beneficentes e levantou por volta de cinco mil dólares para o fundo Juilliard de Mia. A iniciativa emocionou os avós dela — e a mim também —, mas enfureceu Mia. Ela se recusou a aceitar a doação, chamando-a de dinheiro sangrento, e, quando seu avô sugeriu que aceitar a generosidade dos outros era em si um ato de generosidade que ajudaria as pessoas na comunidade a se sentir melhor, ela justificou que não era seu trabalho fazer com que as pessoas se sentissem melhores. Mia apenas sorri. — Era um prazer. E surpreendentemente lucrativo. Euphemia me viu e, quando vim aqui comer, ela se lembrou da estação Columbus Circle. Ela me contou, toda orgulhosa, que colocou um dólar inteiro no meu estojo. O telefone de Mia toca. Nós dois paramos para ouvir a pequena melodia. Beethoven toca sem parar. — Vai atender? — pergunto. Ela balança a cabeça, parecendo vagamente culpada. O toque para por um instante e logo recomeça — Você está popular esta noite. — Não tão popular, mas encrencada. Eu deveria estar nesse jantar depois do concerto. Um bando de figurões. Agentes. Patrocinadores. Estou bem certa de que é ou um professor da Juilliard, alguém do Young Concert Artists ou meu empresário ligando para me dar bronca. — Ou Ernesto? — digo no tom mais normal possível. Porque Stavros e Euphemia com


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