el cuadernillo magico

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CUADERNILLO MAGICO

v Guia de Buenos Aires Exclusivo para Amigos de Clarisse Bressan v

[1ª Edição]



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Para Mari & Fred. r


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Ă?ndice s


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1. Introdução ..................................................... 6 2. Ih, onde é que fica? ....................................... 8 3. Por que ficar em San Telmo? ................. 12 4. Centro .......................................................... 18 5. Porto Madero ........................................ 22 6. Recoleta ...................................................... 26 7. Palermo, viejo, chico, hollywood, sensacional .............................. 32 8. La Boca ....................................................... 38 9. Boliche de Roberto .................................. 42 10. Lojinhas que fazem pessoas felizes .......... 46 11. Comer, comer, comer... .............................. 52 12. “O tango é um sentimento triste que se baila” ....................................... 58


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1. Introdução s


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uando um lugar nos toca de modo especial, o descrevemos aos amigos com certo entusiasmo, sem qualquer tabela de conversão. Um desejo oculto no discurso para que gostem “tanto quanto”, que voltem “tão logo”, que sejam cúmplices dessa empatia geográfica. Nem precisaria exagerar muito desta vez, pois convencê-los a enxergar meu destino turístico favorito com empolgação é tarefa das mais fáceis e prazerosas. Não se pode, no entanto, competir com a imaginação desenvolvida às custas de vinho tinto de Mendoza: minha Buenos Aires é mágica e o meu presente é compartilhá-la com vocês. Transcrevo aqui, sem o menor compromisso com a realidade, meu caderninho companheiro, de recuerdos de viaje. Endereços de lugares que gosto, que aos meus olhos são imperdíveis. Alguns inéditos, pessoais, outros bem lugar-comum. Mesmo estes, resolvi descrever com o jeitinho cheio de superlativos e definições parciais, que vocês bem já conhecem. Espero que gostem dos cantos compartilhados, espero que descubram muitos cantos mais. Espero que passem tardes felizes rindo da melodia dramática do tango tocado no bandoneón. r


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2. Ih, onde ĂŠ que fica? s


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primeira coisa a fazer ao chegar em Buenos Aires, depois de comer um choripan inaugural, é comprar o espetacular Guia T numa das bancas da Estação Ferrocarril de Retiro (final da linha C do metrô, estação Retiro). Um guia de ruas com versão de bolsillo a 3,00 pesos, que mostra os trajetos de todos os ônibus da cidade, além de trens e metrô. Para alguém viciado em mapas como eu é pura diversão (não posso comprar a versão mais detalhada, senão não saio de casa). Para pessoas normais é, no mínimo, muito útil. Com ele vocês vão a qualquer canto. ***

O invejável Subte tem seis linhas (de a a e, linha f em construção) e os trens são diferentes entre si. Além de pagar menos de 1,00 peso para atravessar a cidade vocês vão se deliciar com o desfile de mullets do argentino comum, um fato que melhora definitivamente nossa auto-estima. Detalhe bacana: a Estação Peru (linha a), que fica sob a Avenida Mayo (na altura do número 500), foi a primeira estação de metrô da América Latina, inaugurada em 1913, só tem cartazes de propagandas do início do século xx em suas paredes. Alguns trens são os originais, de madeira, com assentos de veludo. Chiquérrimo. ***


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Ônibus é bom pra turista porque possibilita locomoção e sight-seeing simultâneos. O colorido lembra de leve os coletivos bolivianos, mas sem as frases de efeito. Custa 0,80 pesos e circula 24 horas por dia (já andei em pé na madrugada com o ônibus lotado de gente indo pra noitada, pleno dia de semana). O único problema é que você só pode pagar em moedas, a máquina não aceita notas de modo algum, nem adianta falar com o motorista. Não joguem fora suas moedinhas de troco! ***

Taxistas, todos são simpáticos, alguns são safados, tentem pegar apenas carros de empresas de rádio-taxi, ou cooperativas conhecidas. A cidade é enorme e eles podem dar voltas e voltas impunes. Se vocês foram insuportáveis como eu, entrem logo falando em portunhol aonde querem ir e por qual trajeto (há!). Com toda a roubalheira ainda é bem mais barato que no Rio. ***

É difícil achar um ponto turístico para ir de trem. Uma pena, porque além de ser bem gostoso, a passagem custa 0,50 pesos! A freqüência é... estranha, mas da primeira vez que fui à cidade fiquei afastada do Centro e adorei passear pelos trilhos. No trajeto entre as estações de Retiro e Belgrano r você vê pela janela, do lado esquerdo, a maior mesquita muçulmana da América Latina (cap. 7). Infelizmente não há outros


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grandes motivos para ir até Belgrano (talvez vocês descubram um). ***

Aconteça o que acontecer, não deixem ninguém, mas ninguém, convencê-los de que tirar um dia para ir de trem até Tigre não é um programa de índio. Ir à “Veneza de Buenos Aires” só serve para jogar num cassino furreca que eles ostentam por lá (ganhei 14 pesos jogando 21!). Enfim, não percam seu tempo, a não ser que o tenham de sobra. Se for pra conhecer outra cidade sugiro logo Montevidéu, num lindo passeio de barco pelo Rio da Prata (Buquebus, saídas diárias do porto de Buenos Aires, pôr-do-sol incluído no preço da passagem). ***

O melhor meio de transporte na cidade é um tênis confortável. Quanto mais se anda a esmo mais coisas são descobertas, como em qualquer bom lugar. O argentino concorda e sabe dar informações de distâncias precisas na sua unidade de medidas favorita: quadras. Impressionante... “ahh, Calle Alvear? São 8,356 quadras para a direita”. r


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3. Por que ficar em San Telmo? s


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orque San Telmo é uma Santa Teresa sem ladeiras. Isto é, cansa menos. Não foi à toa que escolhi o bairro como minha casa portenha e não admito ficar noutro lugar, a não ser que seja de graça. ***

Porque em San Telmo vocês podem alugar bicicletas cor-de-abóbora lindas e passear pelas ruas quase sem carros todos os dias. ***

Porque em San Telmo há uma epidemia de albergues espalhados por suas ruazinhas gostosas. São mais baratos que os de Palermo, mais caros que os do Centro, porém, mais bem localizados. A comunicação eficiente entre eles nos permite saber das festinhas interalberguianas, sempre há poucas quadras dalí, sempre animadas. Muito prático para notívagos preguiçosos, excelente para o, digamos, “estreitamento de laços intercontinentais”. Procurem ficar o mais próximo possível da Pza. Dorrego, a praça mais antiga da cidade depois da chata e famosa Plaza de Mayo. ***

Porque em San Telmo vocês podem caminhar de madrugada, pela rua, pular de bar em bar e brincar que estão num Rio de Janeiro menos perigoso. As ruas ficam cheias no verão. Se quiserem esquentar jogando


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sinuca cheguem para o happy hour no pub Gibraltar (Calle Peru, entre Estados Unidos e Independência). Recomendo seguir para o Bar de los Mitos Argentinos (Humberto Primo 489) com showzinho de rock’ and’roll latino durante a semana, quartetos de jazz e bandas de blues aos fins de semana. Depois, caminhando pela mesma rua, vocês chegam à Pza. Dorrego (delimitada pelas Calles Defensa, Bethlem, A. Aieta, e Humberto Primo) onde podem matar a fome em qualquer um dos bares e restaurantes ao redor. Querem mais? Ninguém dorme. Entrem na Calle Defensa e sigam até a esquina com Calle Chile e vão encontrar mais bares de calçada. A ordem dos fatores obviamente não altera o produto. ***

Porque em San Telmo há o velho Mercado de San Telmo, de 1897 (um quarteirão entre as Calles Defensa, Carlos Calvo, Bolívar, Estados Unidos). Durante a semana vocês podem comprar queijos, legumes e verduras, bandoneóns, violinos, gramofones, partituras, bonecas de louça... ***

Porque em San Telmo, aos domingos, acontece na Plaza Dorrego, a Feira de Antiguidades de San Telmo, que é imperdível!!! Lotadas de turistas, as ruas da pracinha e adjacências viram uma


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atração divertida, onde toda sorte de quinquilharias pode ser encontrada. O clima é fantástico: artistas de rua tocando, cantando, atuando, cheiros de comidas, melodias de tangos e nós, os gringos embasbacados. É o meu segundo programa favorito: caminhar por toda a Calle Defensa, pedir um choripan para llevar no El Desnível (Defensa 855, custa 2,00 pesos, o melhor da cidade), parar pra ouvir os meninos da Orquestra Típica, entrar na Pasaje San Lorenzo, fotografar a Casa Mínima (San Lorenzo 380), olhar os camelôs, analisar as pessoas, caminhar pela Carlos Calvo, pela Bolívar, Estados Unidos, Peru, entrar na Galeria Passaje de la Defensa (Defensa com San Juan) e continuar pela Defensa até passar debaixo do viaduto, em direção ao Parque Lezama, onde foi fundada a cidade de Buenos Aires. ***

Porque em San Telmo há casas de tango tradicionais como o Bar Sur (Estados Unidos 299) e El Viejo Almacén (Av. Independência 300), lugares que talvez vocês não visitem, porque são caríssimos, mas que é bom saber que existe. Outra antiguidade é o café El Federal (em alguma esquina da Carlos Calvo, entre Piedras e Bolívar) onde podem ir sem medo de gastar muito, tomar café da manhã e comer facturas depois de um sandwich de pavita. Seu balcão antigo


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de madeira entalhada é lindo. ***

Porque San Telmo tem a melhor faculdade de cinema da Argentina, a Universidade del Cine, segundo a opinião do Zé. No verão tem mostras de vídeos à comunidade e a brasileiros metidos a moderninhos. ***

Porque em San Telmo fica o La Trastienda, uma casa de shows tipo Teatro Odisséia onde tocaram os Los Hermanos e onde tocam toda semana, por preços módicos, vários expoentes da música latino-americana contemporânea (nossa!). ***

Porque em San Telmo, a qualquer hora do dia ou da noite, vocês podem dar de cara com o Marcus. Digam um oi por mim. ***

Porque em San Telmo vocês podem comprar vinhos na Bodega Del Pintor (Humberto Primo 682). Lá, ao sinal de qualquer interesse, o dono se empolga e explica a origem da cada vinho, com o quê combina aquela uva, qual o nome da família que o produz, mas não avisa que depois da segunda garrafa nada faz a menor diferença. Valorizem, pois é raro um portenho tão simpático. Ali os vinhos caros custam mais barato que no supermercado, e os vinhos baratos, custam o


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mesmo. Na mesma rua há uma fábrica de massas caseiras, onde podemos comprar raviólis às gramas muitas, molhos pestos, e fetuttinis para cozinhar... programa completo e glutão. ***

Porque em San Telmo vocês ficam perto do grande centro, perto de metrô, de linhas de ônibus, podem ir andando até a Casa Rosada, até a Calle Florida, até Porto Madero, até qualquer lugar dependendo da disposição. ***

Porque San Telmo é bom e pronto.r


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4. Centro s


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cidade de Buenos Aires, como já devem ter percebido à esta altura, é gigante. O “centro”, na verdade, não fica no centro mesmo de coisa alguma. Fica às margens do Rio de la Plata, englobando os bairros de La Boca, San Telmo, Puerto Madero, San Nicolás e Retiro, margeados pela gigantesca Avenida 9 de Julio. ***

Um ótimo passeio durante os dias de semana é sair de San Telmo descendo muitas quadras pela Calle Bolívar ou Calle Peru. No quarteirão da Manzana de las Luces (escola onde outrora era divulgado o pensamento iluminista europeu!) é só cair na Diagonal Sur (Avenida Julio A. Roca) para encontrar a Plaza de Mayo. A praça, obrigatória, tem muitas atrações como um monumento que homenageia o movimento das madres de mayo. Ao redor, o Edifício Cabildo, a Casa Rosada, e a Catedral Metropolitana, todos com visitações e museus que explicam a história remota e recente do país. ***

Se tiverem sorte vão encontrar alguma manifestação poupular. Nunca vi povo pra protestar tanto quanto o argentino! Na época da última crise econômica a Av. Mayo era o palco dos panelazos. Eu mesma presenciei


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alguns, com repressão policial e tudo. Hoje, as coisas estão mais calmas, a avenida é sofisticada e abriga nada mais que o corre-corre das pessoas. Andando cinco quadras em direção à 9 de Julio vocês passam pela estação de subte Peru (cap. 2) e pelo Café Tortoni (Av. Mayo 825), duas atrações que não podem deixar de ser visitadas. ***

Caso prefiram, cruzem a rua e entrem na Calle Florida, a maior peatonal (rua de pedestres) do pedaço. Vão encontrar muitas casas de câmbio (nunca troquem dinheiro com os juanitos nas ruas), cajeros automáticos, e uma agência do Banco do Brasil, em uma de suas transversais. A rua é frenética durante a semana, lembra um pouco o Saara. Seu final desemboca na ótima Plaza San Martín. ***

Da praça podemos observar a Torre de los Ingleses em frente à estação de trem e terminal rodoviário do Retiro (cap. 2). Gosto de observar os guardinhas imóveis no monumento em homenagem aos mortos na guerra das Malvinas. Pode estar um calor insuportável que eles nem piscam. ***

Há, na verdade, muitas ruas para caminhar no Centro, muita informação visual, um sem número de


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praças bonitas e prédios bem conservados que te fazem sentir um quê de Europa. A Avenida Corrientes é a rua dos grandes teatros, cinemas e dos sebos baratos, passem no Centro Cultural Ricardo Rojas, da uba (Av. Corrientes 2038) para música depois das 20h, às terças-feiras. A Avenida Córdoba tem de tudo, até lojas outlets de marcas como a Nike mas não vale muito a pena, tudo muito espalhado. A Calle Arroyo é chiquérrima, cheia de antiquários, totalmente Paris. Meus lugares favoritos para comer no centro estão no capítulo 11. ***

A Avenida 9 de Julio parece ser a maior da Capital Federal. Certamente não o é em tamanho, mas em largura e suntuosidade. É bem bonito atravessá-la de carro. O Obelisco é feio como todo obelisco, fica na conjunção com as Avenidas Corrientes e Diagonal Norte. Em volta do monumento ficam cravados no chão os brazões de cada província. Olhando em direção à Avenida Córdoba vocês poderão ver o Teatro Colón (entre Calle Cerrito e Tucumán) todo lindo por fora e por dentro. Deixem de preguiça e entrem na visita guiada. Ou, melhor ainda, assistam a um espetáculo. Os preços são bem razoáveis. r


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5. Porto Madero s


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entro de qualquer guia que se preze, encontra-se a história detalhada da revitalização de Porto Madero, cada passo de seu projeto de urbanização e curiosidades, como o porquê do nome da Puente da la Mujer. Tudo isso pra tentar persuadi-los a gostar desse bairro tão sem graça. Para mim, Porto Madero é o similar portenho da Barra da Tijuca: artificial e desumanizado. Os diques são rodeados de restaurantes para turistas, lojas para turistas. Tudo necessariamente pouco autêntico, nada necessariamente ruim, como a churrascaria Siga la Vaca (endereço no cap. 11), lugar que vale a pena conhecer. ***

Do outro lado do dique fica o El Porteño Art District, um quarteirão inteiro projetado por Philippe Starck. A estrela é o Hotel Faena, mas bonito mesmo, é o parque que fica atrás do prédio, em direção ao Rio da Prata. ***

Como tudo é grandioso e vazio, recomendo conhecer o bairro de bicicleta (fica pertinho de San Telmo) e otimizar o esforço turístico. Pedalem devagar, com cuidado para não passar direto por lugares interessantes como a delicatessen/padaria A Buen Puerto, que vende doces maravilhosos (Bvd. Vera Peñaloza 430, Dique 2)


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ou pelo restaurante/boate Asia de Cuba (endereço no cap. 11) que só funciona depois das 21:00. ***

Para dar um descanso do concreto basta um pulinho na Reserva Ecológica Costañera Sur, a beira do rio (Av. Costañera Dr. T. Achaval Rodrigues, entrada próxima às costas do Hotel Faena, atravessando o parque). Lá se pode fazer caminhadas e pedaladas, piqueniques e namoricos. É uma piada pra quem vem do Brasil. Verde por verde eu prefiro o nosso. r



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6. Recoleta s


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porto moderno desloca o bairro rico do sul ao norte da cidade. Pontos antes orilleros (dos bairros baixos) e depreciáveis como Retiro e Recoleta, passam a ser ocupados por propriedades aristocráticas e palácios afrancesados. O bairro alto (San Telmo), antigo centro residencial da classe alta, fica bloqueado como quase todo o sul da cidade empobrece e envelhece de inanição.’ [Trecho da Revista Brasileira de História — Buenos Aires, cidade, política, cultura]

Se a Recoleta fosse carioca se chamaria Ipanema. Se eu fosse chique moraria lá só pra passear todos os dias entre aqueles prédios tomando um helado... só falta a praia para ser perfeito. Visitar é fácil, difícil é saber por onde começar. O bairro não é bem servido de estações de metrô e pra chegar perto tem que gastar sola de sapato. ***

Há um ônibus que sai da Av. Paseo Colon, em San Telmo, e segue pela Av. del Libertador. Saltar logo depois da Plaza Mitre e atravessar para a Av. Pte. Figueroa Alcorta é uma ótima maneira de conhecer a Flor (Plaza de las Naciones Unidas). De


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dia suas enormes pétalas de metal desabrocham, à noite se fecham. O gramado em volta pede um picnic. Ao lado da escultura móvel o grande prédio cheio de colunas dóricas é a Faculdade de Direito da uba. De cima do viaduto que cruza a avenida a vista é ótima. ***

Do outro lado, adentrando o bairro fica o Museo Nacional de Bellas Artes (Av. del Libertador 1473). O museu fica aberto até às 19:30 e a entrada é gratuita: ótimo programa. Na mesma avenida, um pouco distante, já quase em Palermo, fica o Museo de Arte Decorativa (Av. del Libertador 1902, entrada grátis só às terças-feiras). Bom para quem curte mobiliário, viu? ***

Sábado: dia de feirinha na Plaza Torcuato de Alvear (pracinha da Recoleta). A boa é seguir em direção ao Centro Cultural da Recoleta (Calle Junín 1930), não pagar nada para entrar e ainda visitar uma exposição bacana. Geralmente no terraço rola um show ou evento cultural para animar as tardes de verão. ***

De um lado do Centro Cultural fica o BsAs Design (cap. 10). Do outro, a Iglesia Nuestra Señora del Pilar (Junín 1800), que tem arte sacra e um claustro


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aberto à visitação dos turistas mais empolgados. ***

Da última vez que caminhei pelo Cementerio de la Recoleta (Junín 1790) vi um grupo de adolescentes góticos passeando pelos túmulos. Normalmente só se vê turistas que procuram o túmulo da Eva Perón para fotografar. Parece que outras personalidades políticas e da sociedade argentina estão enterradas por lá. Pouco importa, a paz e a beleza do lugar são suficientes para justificar a visita. ***

Os restaurantes e cafés das calçadas das Calles Junín e Vicente López já foram melhores e mais baratos. Mas ainda dá para achar um ou outro recanto para um almoço frugal. Afinal, a diversão aqui é o clima. ***

Afim de fazer a digestão aproveitem para percorrer as Av. Pte Quintana, Calle Guido, Av. Callao e a mais aristocrática de todas, a Av. Alvear. Essas são as clássicas ruas da Recoleta, a cara do bairro. Não esqueçam de parar na loja de discos Notorius (Callao 966). ***

Sugiro uma saída na El Living (m.t. de Alvear 1540, próxima à Callao) que fica aberta de quinta à sábado,


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a partir de meia-noite. É noitada bolichera cheia de patricinhas e mauricinhos qua falam espanhol. Uma experiência antropológica. Se for dia de clássico não há lugar melhor que o Locos por Futbol (Vicente Lopez 2098, próximo à Junin), que aliás, só é bom mesmo em dia de jogo. Se ficarem com inveja dos mullets podem cortar o cabelo no Volumen 3 (Paraná 1.163), eu mesma ainda não tive coragem. O que não falta é lugarzinho bacana para entrar (cap. 10) e descobrir. ***

‘Com las epidemias de 1871, de cólera y fiebre amarilla, se desplazaron las familias más ricas de sus residencias del sur hacia el norte y se fue poblando el área. La consolidación definitiva es obra del intendente Torcuato de Alvear, quien trazó em 1885 la Av. Alvear, construida rápidamente com palacios suntuosos. Usando la tierra de las escavaciones del Puerto Madero, fueron rellenando el Bajo y convirtiéndolo em plazas y parque, para transformarla em la zona más elegante de la ciudad’. r



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7. Palermo, viejo, chico, hollywood, sensacional s


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izem que o nome do bairro nada tem a ver com a cidade italiana da Sicília. No século xviii o dono de toda essa terra se chamava Don Juan Dominguez Palermo. Cara de sorte. ***

Ao caminhar por suas ruas (e tem coisa noite e dia pra fazer) não dá pra lembrar num primeiro momento que estamos numa cidade argentina. Palermo tem prédios luxuosos e bem conservados, é cosmopolita, hype, poderia ser facilmente um cenário europeu. Aliás de qualquer lugar pois sua indentidade é neutra, um neutro bom. A única dica de que se trata de Buenos Aires porsupuesto é um inusitado encontro entre os dois maiores escritores do país: a Calle Jorge Luis Borges, encontra a Plaza Julio Cortázar no coração de Palermo. Não consigo mais contar quantas vezes já caminhei por ali. ***

Palermo Viejo é como apelidam a grande área entre as Avenidas Santa Fé e Córdoba. Na meiuca fica Palermo Soho, quadrado formado pelas Calles Costa Rica, Godoy Cruz, Malabia e Gorrite, que ganhou esse nome por causa dos muitos ateliês e artesãos que expoem lá seus produtos (cap. 10), a fina flor del diseño porteño. Além da Calle J. L. Borges (onde o próprio morou, no número 2135) e da Plaza Cor-


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tázar fervendo madrugada adentro, há alguns bares também ao redor da Plaza Palermo Viejo (entre as Calles Malabia e Armênia, na altura da Costa Rica). O movimento começa tarde, mesmo durante a semana. Ao longo da Calle Serrano (continuação da Borges acima da pracinha) existe um pequeno bairro inacabado chamado Pasajes de Palermo Soho (do número 1600 a 1800) que quando eu conheci estava prestes a ser ocupado por moderninhos endinheirados, não sei se o aspecto de antiguidade permanece. ***

Do outro lado da via de ferrocarril, entre as Avenidas Juan B. Justo, Santa Fé, Niceto Vega e Dorrego, fica a área de Palermo Hollywood, nome dado devido à presença de estúdios de cinema, rádio e tv naquela área, além de muitas produtoras. Essa zona tem muitíssimos restaurantes originais, tipo temáticos. Se passarem na Calle Gorriti cheguem até o número 5870 e entrem no Olsen, lá tem 60 tipos diferentes de vodka. Boa sorte. ***

Palermo Chico é a parte que fica na fronteira com a Recoleta, área compreendida entre as Avenidas del Libertador e Pte. Figueroa Alcorta, a partir da Calle Tagle. São muitas atrações como o prédio do Canal 7, ao lado da Flor da Recoleta, o único canal estatal do país.


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O prédio foi construído em 78 pela ditadura militar, logo antes da Copa da Argentina. Há muitos prédios bonitos, embaixadas e praças. Na Av. del Libertador número 2373 fica o Museo de Motivos Argentinos José Hernandéz, de arte popular. Mas meu favorito, de longe, é o Museo de Arte Latinoamericana de Buenos Aires. O Malba, para os íntimos, é onde fica o Abaporu, da Tarsila do Amaral, dentre outras obras da coleção do Eduardo Constantini. É imperdível. Prefiram as quartas porque neste dia a entrada é gratuita e o museu fica aberto até às 21:30 (Av. Figueroa Alcorta 3415). ***

Tempos atrás era onde ficava um canavial, hoje é Las Cañitas, outra parte de Palermo dedicada à boemia. A mais animada é a Calle Baez e seus arredores, com um estilo um pouco diferente de Palermo Soho, mais frenético. Há um lugarzinho entre as Calles Migueletes e Maure, que os portenhos chamam de La Imprenta. Não sei o porquê, só sei que tem uma galeria chamada de La Cuadra (Calle Jorge Newberry 1651) com um café bem charmoso, dentro de um jardim urbano. ***

Se não bastasse toda sua modernice, todos os bares e restaurantes, o bairro de Palermo ainda tem uma


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extensa área verde. É toda a parte que fica abaixo da Plaza Itália (Av. Santa Fé na altura do número 4000), da Recoleta ao Hipódromo. Preparados para caminhar? ***

Saltem do metrô e sigam para o Jardín Botánico (Av. Santa Fé 3951) e depois, logo ao lado, visitem o Zoológico de Buenos Aires (Av. Las Heras esquina com Sarmiento). Desçam pela Av. Sarmiento e entrem na Av. Adolfo Berro: na esquina com a Casares fica o Jardín Japonés. Excelente para uma tarde zen, alimentando as carpas psicopatas do laguinho. Por favor confiram. ***

Do outro lado da Av. Sarmiento (mapa na mão, mapa na mão!) é a entrada do Parque Tres de Febrero, o melhor lugar da cidade para lagartear ao sol. O parque é uma delícia, tem bicicleta, aula de tango pros velhinhos aos domingos e barraquinha de gaseosas. No meio há um grande lago artificial rodeado de bosques, os Bosques de Palermo. Qualquer casal de namorados decente deve alugar um pedalinho para um romântico beijinho embaixo da Puente Blanca. Nos bosques um passeio de mãos dadas pelo Rosedal e pelo Pátio Andaluz é a grande pedida. Adoro essa parte de Buenos Aires!


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Na esquina da Av. Sarmiento e Pte. Figueroa Alcorta ficava uma das milongas mais importantes da história do tango. Chamava-se lo de Hansen e entre 1895 e 1920 foi o programa noturno mais popular de Buenos Aires. Hoje, ali perto do Planetário Galileu Galilei (Av. Belisario Roldán esquina com Sarmiento) noitada boa só depois da uma da manhã, hora que abre a The Roxy, situada num lugar conhecido como los arcos. ***

A maior mesquita da América Latina também fica em Palermo, no Centro Cultural Islâmico Rey Fahid (Av. Bullrich 55). A visita guiada para mulheres, numa mesquita menor separada, deve ser menos bacana que para os homens, que entram na principal. O prédio é lindo, enorme e tem o símbolo da lua crescente no alto de cada cúpula. Por ironia pura, fica ao lado do maior supermercado que eu já vi em toda a minha vida, o Jumbo. ***

Esse bairro tão encantador é um dos grandes responsáveis pela constante vontade que tenho de voltar a Buenos Aires. Tudo o que descrevi acima, ainda me deixa a sensação de muitos cantos, muitas novidades e curiosidades a serem exploradas. r


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8. La Boca s


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bairro mais colorido do mundo deveria ter a alma portenha expelida por cada chaminé. No entanto, ao saltar do coletivo 25 vindo de San Telmo, e caminhar lentamente pela Avenida D. Pedro de Mendoza, nada enxergo além de turistas e vendedores desesperados. ***

Se fecho os olhos porém posso enxergar as calçadas altas, de metro e meio quase, que protegiam os cortiços das inundações da antiga zona portuária. É por isso que a torcida do Boca Juniors é chamada de los bosteros pela rival do River Plate, os gallinas. Ainda seguindo no transe, imagino os navios chegando e atravessando a Puente Transbordador cheios de imigrantes italianos e de muitas outras nacionalidades. E seus filhos, que inventaram o lunfardo, dialeto dos bacanas do subúrbio, cheio de palavras engraçadinhas, algumas com inversão de sílabas. Até hoje encontramos palavras em lunfardo nas letras de tangos antigos e mesmo no uso diário como pibe e gotan. ***

Não fiquem muito tempo de olhos fechados porque podem ser assaltados. Continuem até o Caminito, vejam as casinhas pintadas com sobras de tintas dos navios (daí a mistura de cores). Sigam pela Calle E. del Valle Iberlucea até a esquina com a Calle Bran-


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dsen, onde fica o sensacional La Bonbonera (visitas guiadas todos os dias de 10:00 às 18:00). Na saída vale almoçar no El Obrero (Calle Cafarena 64, eu acho), o único restaurante autêntico e frequentado por gente do bairro, além de turistas exóticos como o Bono Vox. Eu nunca o encontrei por lá. ***

Todo mundo conta que o apelido do estádio do Boca é devido ao seu formato semelhante ao de uma caixa de doces. Ouvi de um senhor uma vez a história ao contrário. Na semana de sua inauguração, uma famosa confeitaria do bairro aprontou, em edição luxuosa e limitada, caixas de bombom comemorativas, confeccionadas de propósito no formato do estádio. Como fora sucesso de vendas passaram a chamar, por causa da caixa que já existia, o estádio de La Bonbonera. Assim contou-lhe o pai de seu pai, imigrante e morador de La Boca. Assim conto eu agora a vocês. r



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9. Boliche de Roberto s


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riginariamente conocido como Casaquinta, funcionó como almacén y despacho de bebidas, en la esquina de Cangallo (hoy Perón) y Bulnes. En 1930, cambió su nombre por el de 12 de Octubre, feche en que se inauguró la vecina Plaza Almagro. Com el correr de los años, el almacén cerró, quedando solo el café, que comenzaba a ser llamado también el bar de Roberto, en óbvia alusión a Roberto Pérez, su proprietário. El techo del local es de bovedilla; la barra, antes de estaño, es de madera; una estantería por detrás, está cargada de botellas, cuyas etiquetas amarronadas hablan de su edad, y el piso com mosaicos calcáreos, com su dibujo gastado, dan una idea del ambiente. El bar de Roberto ofrece los miércoles, jueves e viernes por la noche unas concurridas y animadas penas. Desde la vereda, la imagen de la Plaza Almagro, com música de calesita de fondo, nos recuerda que era el sitio preferido de don Osvaldo Pugliese’.

Conheci o Boliche de Roberto há quatro anos e pouco, na minha primeira viagem à cidade. Fora recomendação imperativa dum amigo-de-amigos, portenho


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boêmio a quem nunca agradeci. Entrei sem esforço na atmosfera esfumaçada e escura, conheci as garrafas cheias de poeira, me deixei levar pela melodia sentimental, que o público acompanha bradando com braços para cima, como torcedores de futebol. Saí de lá a primeira vez às nove da manhã, abraçada com o velho cantor, fã do Wando. Saí de lá irremediavelmente apaixonada pela Argentina. Paixão esta que já dura tempo. Ao voltar, em 2006, ouvi que Roberto morrera fazia dois meses. Roberto era tímido, não falava, ficava a noite inteira bebendo Kronenbier e ouvindo Don Oswaldo, o cantante das quintas que ficou meu amigo. Na Calle Bulnes 331, no bairro pobre de Almagro o bar continua um pé sujo de primeira. Continuam em pé as paredes descascadas, velhos músicos com ternos elegantes, muito cigarro, o tango raiz e a tradição portenha. Atrás do bar a distribuição de bebidas agora fica por conta do Manuel, quase sósia do Marcelo Camelo e especialista em nos fazer sentir em casa. Realmente, estamos em casa. Se pudesse, voava pra lá todas às quartas, quintas e sextas. Imperdível. r



10. Lojinhas que fazem pessoas felizes s


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aminhar por certos endereços da cidade é um teste de resistência ao consumista desenfreado que existe dentro de nós. Dia bom pra bater perna é sábado à tarde em Palermo Viejo, ou na Recoleta, e durante a semana na Florida e centro da cidade. Encontramos, por exemplo, muitas lojinhas de roupas mudernas, objetos de casa, móveis assinados, acessórios. Parece que designer também é a profissão da moda nos pampas. ***

Vamos lá, dia de sol, vocês estão numa cidade sem praia, então peguem a linha D do metrô até a estação Plaza Itália (cap. 7), saltem na Calle Santa Fé e atravessem pro lado contrário à praça. Entrem na Gurruchaga, ou na Thames, subindo em direção ao miolo de Palermo Viejo. Estas, e suas paralelas Armênia, Uriarte e Malabia estão lotadas de lojas bacanérrimas, gente bonita, preços razoáveis. Vão subindo e entrando nas transversais El Salvador, Honduras, Costa Rica e Nicarágua. Por ali é tudo muito vanguarda. Na Piazzoleta Cortázar aos sábados e domingos rola, durante todo o dia, uma feirinha de artesãos e diseñadores saltimbancos com muita coisa imperdível. Ai meu bolso! ***

Peçam nas lojas um guiazinho de distribuição gra-


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tuita chamado Don-Deir que dá dicas de eventos e restaurantes. Vão precisar de muitos dias pra conhecer tudo, mas não deixem de dar uma passadinha nas seguintes: v Papelaria Palermo, Calle Honduras 4943 v Calma Chicha, Honduras 4925 (ótima) v Casa Oma, Honduras 5140 v Spoon, Honduras 4876 (estava em obras no último setembro) v Office Manifesto, Calle Humboldt 2160 (ótima) v Okko, Honduras, não sei o número, mas fica perto das outras v La Martina (vintage), Costa Rica 4677 v Oda, Costa Rica 4670 v Velas de la Ballena, Soler 4802 v Feria Urbana, Jorge Luís Borges 1640, das 13:30 às 19:45 ***

Em San Telmo há 260 antiquários, alguns importantes, com peças de arte suntuosas expostas nas vitrines. Um achado é a lojinha de caligrafia do senhor Ariel Kullock (diseñador y especialista en elementos de escritura), Calle Defensa 1177. Só abre aos domingos ou a pedidos pessoais. Lembra alguém?


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Ao lado do Centro Cultural da Recoleta (cap. 6) fica o BsAs Design Shopping (Av. Pueyrredón 2501), já viram, né? A melhor loja é a Tienda Puro Diseño, no terraço. Do lado de fora, em frente ao Centro Cultural, uma feirinha hippie bomba aos sábados durante o dia inteiro. É um festival de duentesde-durepox! E por falar em gente buena onda dêem uma olhada na Galeria Bond Street (Santa Fé 1670, próximo à Rodriguez Peña, lugar de adolescentes) e na Tramando (Rodriguez Peña com Posadas) para ver que argentino também é criativo. ***

Se vocês estiverem afim, sei lá porque motivo, de um shopping (espero que não mas...) o Abasto é o maior de todos (Av. Corrientes 3247), mas o mais bonito é o Galerias Pacífico (Calle Florida, três quadras e meia da Pza. San Martin) com afrescos pintados no teto e exposições retirantes (da última vez Frida Kahlo e Diego Rivera). ***

As lojas de rua da Calle Florida são bem cafonas, aquelas coisas de couro sabem? Um horror! Mas vocês encontram nesta, e no trecho peatonal da La Valle, muitas lojinhas baratinhas de Cds e livros. No Centro, a Av. Santa Fé também tem loja de tudo, mas a


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melhor de todas é a livraria El Ateneo (Sante Fé, entre Cerrito e Uriburu), um antigo teatro transformado em livraria, com café e espaço pra ler os livros com calma. ***

Fazer compras em Buenos Aires ainda é uma satisfação devido ao câmbio favorável e à qualidade dos produtos. Daqui há alguns anos voltem e mudem o bateperna para a Calle Alvear (cap. 6), uma rua linda com cara de Paris, casarões, e lojas e famosas. r



11. Comer, Comer, comer... s


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uardem grande parte, a maior parte do orçamento da viagem, para esta atividade puramente hedonista. Pequem com gosto porque Buenos Aires é o paraíso da gula. Tudo é gostoso, tudo é mais barato que no Rio, tudo é bonitinho e dá vontade de provar. Qualquer guia que comprarem vai listar um monte de restaurantes, e acho que devemos tentar ir a todos. Eu tenho os meus favoritos e vou contar a vocês. ***

Entrem em qualquer café de rua com cara de Europa e peçam as facturas, umas massas folhadas doces que são típicas em toda Argentina, comam o churros com dulce de leche, se entupam de alfajores da Havana (por toda a cidade), do já citadíssimo choripan, do asado, das cervejas locais Isenbeck, Schneider, Quilmes, de empanadas, de tudo! ***

Bem, a parrilla argentina é um mundo à parte pois nem todos os cortes do boi têm correspondentes em português. A maneira de fazê-la também difere da brasileira, considerada por eles errada, é claro. Vocês vão ficar “presos no cardápio” decidindo entre bife de chorizo (a carne mais gostosa), chorizo (lingüiça), lomo (uma espécie de filé mignon), asado de tira (costela de boi cortada diferente), colita de cuadril, chinchuli-


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nes (tripas recheadas com patê), riñones (rins, uma delícia), morcilla (lingüiça de sangue), tudo muito

light. ***

‘Cada uno de los pasos para realizar un buen asado es una ceremonia casi reglamentada. Primero se enciende el fuego con carbón vegetal o leña... dicen los que saben que el fuego está listo cuando podemos sostener la mano unos centímetros arriba de la parrilla por el lapso de aproximadamente 10 ó 12 segundos (8 para apurar un poco el asado), mientras se bebe un buen “tinto” o, si el calor está muy violento, una cerveza “sudada”. Luego se calienta la parrilla y se limpia, por lo general, con un papel de diario. A continuación, la carne y achuras ya saladas se “acuestan” en la parrilla bien caliente hasta escuchar el chisporroteo de las grasas cocinándose (hay quienes prefieren salar la carne al darla la vuelta); es preferible, a las carnes gordas, ponerlas con la grasa hacia abajo; así también conviene a las que tienen hueso, con éste hacia el fuego. No olvide dar vuelta la carne cuando ha “sangrado”, es decir que por la parte superior comienza a salir el “jugo” ’.


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Pra comer churrasco sigam até o El Desnivel (endereço no cap. 3), que lembra o Plebeu, é super barato, e os garçons são simpáticos. Não se assustem com as filas de domingo, elas andam muito rápido. É o meu favorito. Outro muito recomendado é o Siga la Vaca (Av. Alicia Moreau de Justo 1714, Porto Madero) onde até quatro da tarde vocês pagam um preço fixo e comem quanto quiserem, com direito à sobremesa, água mineral ilimitada, uma garrafa de vinho ou um litro de cerveja por pessoa!. É restaurante pra atrair turista, mas vale a pena para aqueles não raros dias que se quer comer até morrer. ***

Outra categoria de restaurantes é a dos restaurantes bonitinhos, cada ano mais caros, porém mais baratos que similares cariocas. Existe um restaurante obrigatório para casais, o Te Mataré Ramirez (Calle Paraguay 4062, Palermo). Imaginem um lugar decorado com motivos eróticos, comida afrodisíaca, ambiente sensual, lindos serviçais, tudo com muito bom gosto, naturalmente. A comida ainda por cima é ótima e durante a semana há uma apresentação de títeres... imperdoável não ir. O El Último Beso (Calle Nicarágua 4880) também é super romântico, o Divina Patagônia (Honduras 5710) é excelente para comer


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um bom cordeiro, assim como um restaurante pequenino com cozinha de autor, que fica em baixo do viaduto da Calle Defensa (não lembro do nome). Se puderem não deixem de ir ao Sucre (Calle Sucre 676), mas não chorem com os preços, a comida é divina. ***

Para comprar coisinhas gostosas o Club Del Vino (Cabrera 4737, Palermo), La Casa del Queso (Av. Corrientes 3587), e as milhares de delis estão providencialmente espalhados pela cidade. Nas mercearias e lojinhas de conveniência vocês encontram o clássico sandwich de miga, a coisa mais sem graça do universo. ***

Se quiserem ambientes temáticos temos o Ásia de Cuba (Pierina Dealessi 750, Porto Madero) que é bem mauricinho mas gostoso, o Café Tortoni (endereço no cap. 4) onde a pedida é café com churros. O Tiempo de Gitanos (Calle El Salvador 5575, Palermo) é animadíssimo e tem show de tablao flamenco, beirando o cafona. O Narguilé (Calle Baez 317, Palermo) é um lugar que certamente vai divertir vocês. Se quiserem os italianos procurem, meu favorito, o Broccolino (Esmeralda 776, Retiro) que é um dos poucos restaurantes da cidade que fecha para a siesta, cheguem antes das três da tarde. Lá é bom, bonito e barato. Para


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pizzas deliciosas sigam até o Filo (San Martin 975, Retiro) e comam uma gigante por mim. ***

Provei empanadas em todas as partes, algumas de bares recomendados, clássicos (El Sanjuanino, Calle Posadas 1515, Recoleta), mas não achei nenhuma melhor que as da cadeia de fast-empanadas Solo Empanadas, custa 8,00 pesos a meia docena. São um sonho.Tem lojinha da Solo em San Telmo, na Bolívar 1111. ***

Sorvete é coisa muito séria em Buenos Aires. Na verdade, em qualquer birosca da Argentina se come um helado cremoso e de qualidade. Não é minha comida favorita mas eu poderia ajoelhar diante das lojas da Freddo, espalhadas pela cidade, e agradecer a Deus pela existência do sabor Dulce de Leche Tentación. Vocês têm obrigação moral de provar. Dizem que outras sorveterias melhores apareceram nos últimos anos, que tal vocês descobrirem isso pra mim? ***

Para uma noite de tapas e picadas recomendo qualquer lugar da cidade, infestada de bares e cafés. Os pubs estão na moda. Enfim, comer é uma atividade muito importante em Buenos Aires e tenho certeza que vocês se sairão muitíssimo bem. r


12. “O tango é um sentimento triste que se baila” s


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tango nasceu na década de 1880: o primeiro tango assinado (El Entrerriano) data de 1896. As características do tango como música de prostíbulos (significativamente chamados de quilombos em Buenos Aires, onde, na primeira metade do século XIX, o termo tinha o mesmo significado que o brasileiro) são evidentes. Mas o tango, sentimento triste que se baila (Armando Discépolo, autor de Cambalache), é sobretudo tristeza, tristeza urbana da perspectiva perdida no meio da opulenta Buenos Aires criada pelo porto, o mesmo porto em torno do qual florescia a miséria. O tango, é claro, emancipou-se dessas origens até atingir a condição de grande arte, ou de arte universal, com Carlos Gardel, Aníbal Troilo, Francisco Canaro, Augustin Magaldi, Azucena Maizani e outros’. [Trecho da Revista Brasileira de História — Buenos Aires, cidade, política, cultura]

Em 1921 nasceu Piazzolla, e adicionou ao tangoraiz elementos de jazz e música erudita. Ficou tudo muito diferente e bom. É impressionante que os argentinos inicialmente o tenham renegado. Até hoje, alguns têm implicância, principalmente os mais velhos, já que


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o consideram um perversor da música tradicional. Sei lá porque... malditos puristas! Se vocês repararem bem apenas nos shows para turistas eles tocam Piazzolla, nas rodinhas locais passa batido. A Argentina é uma nação canceriana, nascida a 9 de julho, talvez isso explique o drama, o saudosismo, a exaltação ao tradicional. ***

Existem três maneiras de curtir tango em Buenos Aires: a Milonga, os Shows e as rodas alternativas, ou Peñas. Há alguns anos houve na cidade um movimento de revitalização do tango, semelhante ao que aconteceu com samba e chorinho no Rio. Os jovens portenhos passaram então a escutar, a estudar e valorizar a música típica de sua cidade e não é incomum encontrar alguém com piercing e óculos escuros, cheio de style, tocando bandoneón magistralmente, como se fosse um vovô do século passado. ***

As Milongas são uma espécie de gafieira de tango onde pessoas que fazem aula, ou querem aprender a dançar, vão passar a noite praticando. Na verdade esse nome significa um tango tocado mais agitadinho, porém virou sinônimo do tipo de lugar. Quem já foi na Estudantina sabe do que estou falando: o clima é esse, um ginásio, ou clube, salão cheio, cerveja a noite toda. Se uma dama quiser recusar o convite de determinado


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cavalheiro, tudo bem, desde que não o olhe em seus olhos ou do contrário tem que dançar. Existem milongas de velhinhos, milongas de jovens, milongas de solteironas... para todos os gostos, todos os dias. Lá descobrimos que o portenho sai durante a semana e nem quer saber se vai trabalhar na manhã seguinte. Vale muito a pena conferir a milonga La Viruta Tango (Calle Armênia 1366, Palermo Viejo), todos os dias da semana à partir de oito da noite, ou a milonga, se não me engano, às quartas-feiras do CAFF (Club Atlético Fernadez Fierro, Calle Sanchéz de Bustamante 764, Almagro). ***

Os shows de tango são feitos para turistas, mesmo aqueles que dizem que não são para turistas. Geralmente tem um casal cafona dançando (mal) e uma orquestra razoável. Há exceções, até porque eu nunca fui nos mais aristocráticos. Pura avareza, acho que deve ser muito bom. Os mais tradicionais são o Bar Sur, El Viejo Almacén (ver endereço no cap. 3), o Catedral às terças e sextas (Calle Sarmiento 4005, timbre 5, Centro), Esquina Homero Manzi (esquina de San Juan e Boedo, próximo à estação de metrô Boedo, linha E). Dentre todos eles, o mais barato, porém fraquinho, é o do Café Tortoni (endereço no cap. 4), custa apenas 30,00 pesos por una cabeza (trocadilho infame, sorry). Não vale muito. Meu conselho é: ou não vão a nenhum, ou


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gastem logo seus 200 pesos sem reclamar e sintam o que sentem os casais de velhos europeus que visitam a Argentina de Gardel. Depois me contem detalhes. ***

As rodas de tango... onde encontramos jovens tocando madrugada adentro, junto com a velha guarda, sensacional. É pra quem gosta de música. As Peñas são definitivamente o melhor programa de Buenos Aires, meu favorito pelo menos. A melhor noitada da cidade, acontece no Boliche do Roberto, um lugar tão bom que mereceu um capítulo inteiro. Em lugares assim nos sentimos na Lapa, no quintal da Tia Ciata, ou qualquer outra comparação que exprime o genuíno: “um programa tipicamente portenho” diria nossa amiga Helena. Podem chegar, a qualquer hora da noite, quarta, quinta, ou sexta-feira, no Centro Cultural Humahuaca (Calle Humahuaca 3508, em Almagro), lugar que parece o grêmio da faculdade. A Peña Los Cardones (esquina da Jorge Luís Borges e Paraguay, Palermo Viejo), foi dica do barman do “Boliche”. Procurem assistir ao show da Orquestra Típica Fernadez Fierro (www.fernadezfierro.com) no CAFF, ou qualquer outro show por lá. Nesses lugares, se alguém descobre que vocês são brasileiros, vão querer falar do Lula, vão querer cantar música brasileira, vão querer te levar pra esticar... dá pra ficar pra mais de mês nesse


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bas-fonds portenho sem sentir saudades de casa. r


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Colof達o Esta obra foi composta em hoefler text e ziggurat, e impressa na primavera de 2006.




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