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Encanto Eterno Kimberly Raye

Digitalização: Pam Revisão: Cynthia


Encanto Eterno – HFuego nº 17 – Kimberly Raye

Dillon Cash era o sujeito mais esquisito de Skull Creek, até ser atacado por um vampiro e se tornar em uma máquina de sexo. Agora, todas as mulheres da cidade querem tirar uma casquinha desse sexy caubói! Meg Sweeney não se conforma com as mudanças do seu amigo Dillon e quer saber como ele conseguiu mudar do dia para a noite! Afinal, se Dillon pode ser um pedaço de mau caminho, ela também quer descobrir a deusa que existe dentro dela. Meg só precisa de algumas lições...E Dillon jamais negou qualquer coisa para sua melhor amiga... Mas ele não desconfiava que passar uma noite com Meg em sua cama o deixaria morrendo de vontade de viver outra vez

Querida leitora,

Seja novamente bem-vinda a Skull Creek, Texas! Onde as mulheres são espertas e sensuais, e os homens são... vampiros? É isso aí, e sedutores, com S maiúsculo. É claro que Dillon Cash, o herói desse meu mais novo Fuego!, não é um vampirinho qualquer. Ele já foi o cara mais esquisito da cidade, mas está revelando seu recémdescoberto carisma vampírico. Sua missão como novo garanhão dos mortos-vivos? Se tornar o homem que dormiu com mais mulheres na história da cidade. Muito fácil, agora que qualquer mulher num raio de l00km o considera irresistível. Todas... exceto Meg Sweeney. Sua antiga colega de escola, apesar de sentir sua sensualidade sobrenatural, não quer pular em sua cama sem pensar duas vezes. Nada disso. Ela quer mesmo é descobrir o segredo de tão repentina atração sexual! Meg, antes também parte do "Esquadrão Esquisito", está mais do que pronta para se tomar mais sexy, e Dillon é o homem certo para ajudá-la. Mas isso é o que ela pensa... Espero que você goste da próxima parte dessa minha série de vampiros texanos. Você pode me visitar em www.kimberlyraye.com ou escrever para "Kimberly Kaye c/o Harlequin Books, 225 Duncan Mill Road, Don Mills, Ontario M3B 3K9, Canadá". Divirta-se! Kimberly Raye

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Encanto Eterno – HFuego nº 17 – Kimberly Raye

PUBLICADO SOB ACORDO COM HARLEQUIN ENTERPRISES. Todos os direitos reservados. Proibidos a reprodução, o armazenamento ou a transmissão, no todo ou em parte. Todos os personagens desta obra são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas é mera coincidência. Título original: DROP DEAD GORGEOUS Copyright © 2008 by Kimberly Raye Groff Originalmente publicado em 2008 por Harlequin Blaze Concepção de capa: núcleo Arte-final de capa: Isabelle Paiva Editoração Eletrônica: ABREU'S SYSTEM Tel.: (55 XX 21) 2220-3654/2524-8037 Impressão: RR DONNELLEY Tel.: (55 XX 11) 2148-3500 www.rrdonnelley.com.br Correspondência para: Caixa Postal 8516 Rio de Janeiro, RJ — 20220-971 Aos cuidados de Virgínia Rivera virginia.rivera@harlequinbooks.com.br

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Encanto Eterno – HFuego nº 17 – Kimberly Raye CAPÍTULO UM Foi O melhor sexo que fizera em meses. E a única vez. O que não seria tão ruim, a não ser pelo fato que o fugidio orgasmo tinha sido proporcionado por um vibrador fluorescente vermelho de nome Grande Espiga, não por algum caubói gostoso e musculoso de mão vagarosa e sorriso inebriante. Margaret Evelyn Sweeney, também conhecida como Meg, desligou os três botões do vibrador — vibrar, girar e ai, caramba — e guardou a Espiga no estojo, também vermelho. Respirou fundo, pôs as pernas para fora da cama e ficou de pé. Cinco minutos depois ela estava na cozinha, debruçando-se sobre um fichário cor-derosa — que era seu Manual de Prazer particular — para documentar os resultados da noite. Procurou a página 58, que incluía um breve resumo da aula da terça-feira passada, chamada "Mania de masturbação", e uma planilha como dever de casa. Anotou a data e respondeu às perguntas. Sensação intensa? Marcou um X. Gemidos espontâneos (dos bons)? Marcou outro. Choro incontrolável? Mais um X. Gritos a plenos pulmões? X. Nível total de satisfação? Olhou para a escala que ia de 1 a 10 e fez um círculo no 7 antes de passar à questão seguinte. A experiência sexual foi com um parceiro? Ela ignorou a ansiedade de escrever um grande sim. A idéia não era fortalecer seu ego frágil e não se sentir humilhada pelas outras mulheres da cidadezinha de Skull Creek, Texas. O objetivo de freqüentar aulas de sedução com uma instrutora autorizada era tãosomente investir no futuro. Infelizmente, ela tinha 30 anos e podia contar nos dedos de uma das mãos quantos envolvimentos românticos tivera a vida inteira. Na verdade, podia contar em dois dedos. Três, se incluísse seus encontros com seu amigo de infância, Dillon Cash. Quando Meg era uma moleca levada, Dillon era um tremendo nerd. De qualquer forma, nenhum dos dois era bem-sucedido com o sexo oposto — ao menos não em termos românticos —, e, então, apelaram um para o outro no primeiro ano do ensino médio, quando se deram conta que eram os únicos em toda a turma — com exceção de Connie Louise Davenport, filha do reverendo Davenport — que ainda não tinham beijado de língua. Certo, então ainda não sabiam beijar, pronto. Nenhum selinho. Nenhum beijinho mais demorado. Nada de bocas abertas nem línguas profundas. Tinham 15 anos de idade e eram totalmente verdes, de modo que pareceu boa idéia resolverem os problemas de timidez um com o outro. Várias horas, uma cópia pirata de Nove e Meia Semanas de Amor e mais de dez tentativas desajeitadas depois e não tinham conseguido muito progresso. Na verdade, a experiência toda só confirmou o que ela já sabia desde o começo: Dillon era e seria sempre apenas um bom amigo. Ela não gostava dele naquele sentido. Nada de coração batendo mais rápido. Nada de friozinho no estômago. Nada de vontade enlouquecida de arrancar a roupa e ir para a cama. Razão pela qual, apesar das tentativas de beijo, ela se sentiu inclinada a cortá-lo de suas lembranças sexuais. Assim, sobravam Oren e Walter. Já tinha a avançada idade de 18 anos ao perder a virgindade com Oren, também conhecido como Orenator. Ele era o melhor jogador do time de futebol americano Skull Creek Panthers, chegando a levar o time ao campeonato estadual no último ano do ensino médio. E ele gostava mesmo dela, o bastante para convidá-la a ser seu par no baile de formatura. Foram ao baile da escola e depois estacionaram o carro perto do rio. Dez minutos no banco de trás do Chevrolet do pai dele escutando os comentários Projeto Revisoras 4


Encanto Eterno – HFuego nº 17 – Kimberly Raye sobre a partida Cowboys X Redskins foram o suficiente para ela. Meg o envolveu com os braços, apertou o corpo dele com o próprio corpo e se ofereceu desavergonhadamente. Após alguns momentos de choque inicial e de perguntar "O que está fazendo?" com voz de desespero, ele acabou cedendo aos persistentes lábios dela. Ela havia perdido a inocência, além dos brincos de argola novos e da calcinha. Sim! Não que a experiência em si tivesse sido das melhores. Apesar de ele ter cedido, não foi quem tomou a iniciativa. Ela quem conduziu tudo, emprestando um novo sentido ao apelido que lhe deram: Meg Joãozinho. Mesmo assim, foi o princípio de tudo. Foi o início de um novo capítulo de sua vida. Uma chance de começar de novo. Esquecer completamente a moleca que fora um dia e abarcar tudo que fosse feminino. Mudar. Essa era a idéia. Meg crescera como uma cópia do pai. Ele foi pai solteiro — sua mãe, diabética, morrera de insuficiência renal pouco depois de Meg nascer — e professor de ginástica na escola local. Ao crescer, Meg se determinou a seguir os passos do pai. Observava-o, aprendia com ele, o idolatrava, até que um dia ele se foi. Ela mal havia completado 17 anos, havia terminado o penúltimo ano letivo e o verão estava no começo. Tinha voltado para casa cedo para fazer as malas (eles iam acampar para comemorar o fim das aulas) e ele ficou até mais tarde para terminar de limpar a escrivaninha. Estava com pressa de voltar para casa, não queria perder o lugar em um parque estadual que havia escolhido para acampar. Deixou de parar no sinal de um cruzamento e foi atingido por um carro. Foi o fim dele! E o fim de Meg. Da antiga Meg. Ela foi morar com os avós, e para grande surpresa deles deixou para trás a bola de futebol e as joelheiras. Jogou fora o bastão e as luvas de beisebol de que tanto gostava, a bola de futebol autografada por Troy Aik-man e a camiseta-talismã do time San Antônio Spurs de basquete. Pior ainda, deixou para trás todas as roupas de malha favoritas e a camiseta da sorte do time de futebol Dallas Cowboys. Cancelou a assinatura da revista Cosmo e aprendeu sobre o que estava na última moda. Chegou até mesmo a deixar de ajudar o avô com o trator para aprender com a avó a costurar. Em um só verão ela trocou seu amor pelos esportes por uma paixão cega por sapatos, roupas e tudo que era feminino, e começou o último ano letivo na pele de uma nova Meg. Uma mulher determinada a esquecer o passado e enterrá-lo com o pai. Quando Oren divulgou no muro do vestiário masculino a noite que passaram juntos, e com a calcinha dela como prova, Meg ficou satisfeita. Agora a população masculina de Skull Creek High finalmente não a veria apenas como concorrente durante os jogos. Ela era tão boa nos esportes que se tornou a melhor companheira de todos os atletas da escola. Eles pediam conselhos a ela sobre tudo: de como fazer gol a como fazer a tacada no golfe. Eles nunca, jamais, a convidavam para sair. Ela estava convencida que aquela noite com Oren seria suficiente para mudar sua imagem. Estava errada. Aquilo era Skull Creek. Típica cidade pequena onde as pessoas deixavam as portas destrancadas e as calçadas ficavam vazias às 18h. Crimes? Esqueça. As notícias mais excitantes eram sempre relacionadas a alguma traição conjugai ou aplicação de silicone. Havia poucos estranhos e todo mundo conhecia todo mundo. E isto significava que, uma vez Meg Joãozinho, para sempre Meg Joãozinho. Se por um lado havia mudado a pessoa que realmente era, por outro jamais poderia mudar a concepção que as pessoas tinham dela. Até porque, quando Oren escreveu tudo sobre Meg, todo o time de futebol concluiu que a história não passava de uma grande Projeto Revisoras 5


Encanto Eterno – HFuego nº 17 – Kimberly Raye piada, e a cumprimentaram tantas vezes com tapas na mão que ela estava com as palmas doloridas. Agora usava saltos altos e roupas sensuais e era dona da própria butique, chamada Só para Você, uma loja pequena e seleta localizada na rua principal, bem entre a loja de computadores de Dillon e o único spa de verdade da cidade, o Pamper Park de Pam. E as pessoas ainda a viam como a esquisitona de sempre. As mulheres raramente se sentiam ameaçadas por ela e os homens... Bem, eles na verdade a respeitavam. Apesar de Meg saber que a maioria das mulheres faria de tudo para ser valorizada por sua mente antes que por seu corpo, ela bem que adoraria, uma vez que fosse, que um homem a visse como mulher-objeto. Então mude para valer, arrume as malas e caia fora. Havia pensado nisso. Mas a idéia de abandonar os avós — apesar de eles agora morarem a uma hora de distância em uma comunidade para aposentados fora de Austin, e de ela só os encontrar poucas vezes ao mês — era ainda menos atraente que ser conhecida como Meg Joãozinho pelo resto da vida. Superou a morte do pai com a ajuda dos avós, que lhe deram amor, educaram, e ela pretendia retribuir o favor. Eles estavam ao seu lado quando ela mais precisou, e pretendia estar ao lado deles quando precisassem dela. Não poderia fazer isso estando sabe Deus onde. Ou seja, ela estava lá para ficar. Walter foi seu segundo envolvimento amoroso. E continuou sendo ao longo dos anos, durante a temporada de campeonatos de futebol e depois do Super Bowl, que marcava o começo do período de entrega da declaração do imposto de renda — ele era contador. Apesar de saber que Walter a achava atraente, ele também gostava de ficar pedindo palpites para apostar nos jogos (ele coordenava as apostas na loteria esportiva semanal no escritório). Quando ele ganhava, ficava bem feliz, e o sexo era ótimo — se ela desse a partida (Walter não era de tomar a iniciativa). Quando ele não estava fazendo dinheiro com apostas em seu esporte favorito, ficava tão chato que ao lado dele até uma fatia de queijo parecia mais animada. Ele estava atolado até o pescoço com a Receita Federal e fazia três meses que ela estava voando sozinha. O que era bom, pensou. Walter não era homem para ela, e ela acabou com aquela história de uma vez por todas depois do último Super Bowl. Não desejava um homem que só a queria de vez em quando. E, mais, não desejava um homem que não a queria o bastante para tomar a iniciativa. Estava cansada. Daí as aulas. No começo elas eram dadas pela irmã de Dillon, Cheryl Anne, que estava desesperada para sair do casulo e fazer algo louco e ousado com a própria vida. Conseguira por algumas semanas até que percebeu que fazer sexo era bem melhor do que falar sobre sexo com um bando de mulheres sem noção e loucas para apimentar seus relacionamentos. Ela deu algumas aulas para Winona, dona do único motel da cidade e casada com o namorado de muitos anos. Cheryl Anne agora vivia o sonho americano. Não que o objetivo de Meg fosse se casar. Talvez. Um dia. Se o homem certo aparecesse. Agora, contudo, ela simplesmente queria fazer sexo com um homem que quisesse realmente ir para a cama com ela, quisesse mesmo. Um homem que não conseguisse tirar as mãos dela. Um homem que a quisesse a ponto de tomar a iniciativa. Com as aulas aprenderia a aumentar seu sex-appeal a ponto de ficar irresistível. Ela esperava. Meg terminou de documentar os resultados, fechou seu Manual do Prazer e subiu as escadas para o quarto de dormir. Após pensar bem, escolheu uma jaqueta cor-de-rosa, minissaia jeans desfiada com adornos de cristal de quartzo e sandálias de salto alto que ela havia adquirido em sua última excursão de compras em Austin. O conjunto atendia a todas as suas necessidades, deixando-a feminina, sexy e super na moda, razão pela qual foi direto para seu armário. Já que ela era dona da única butique sofisticada da cidade, queria que seu guarda-roupa refletisse sua imagem de empresária. Podia ter chutado na Projeto Revisoras 6


Encanto Eterno – HFuego nº 17 – Kimberly Raye trave em sua tentativa de transformar a percepção que as pessoas tinham dela, mas profissionalmente ia fazer gol de placa. Sua loja se tornou o lugar essencial para todas as ocasiões especiais, de bailes colegiais a encontros românticos especiais. As mulheres pediam seus conselhos sobre sapatos, roupas e acessórios, e sua loja ganhara o título de "Negócio do Ano" três vezes consecutivas em um concurso da Câmara de Comércio de Skull Creek. Sua loja era notícia, Meg, não. O que significava que ainda não conseguira sequer ser mencionada na infame lista de Gatas Sensuais de Tilly Townsend. A lista era publicada a cada seis meses com as dez solteiras mais sensuais da cidade. Tilly também fazia uma lista dos Galãs Gostosões com os dez solteiros mais desejados. A lista era definitiva, em termos de popularidade, um verdadeiro "quem é quem" dos solteiros mais cobiçados da cidade. As mulheres eram inteligentes, bem-sucedidas, animadas e irresistíveis. A mais nova versão sairia exatamente em duas semanas e Meg queria desesperadamente estar nela. Meg ignorou uma suspeita de esperança e foi para o chuveiro. Passou a meia hora seguinte se arrumando no andar de cima e os últimos quinze minutos no térreo, tomando Coca Cola Diet de canudo e relendo as anotações da aula da semana anterior. Estava sentada à mesa, quase chegando à parte "Compreendendo seu vibra-dor" quando sentiu uma língua na coxa. Olhou para a cadela blue heeler preta e cinza que acabara de entrar pela portinhola para cachorro. Abanando a cauda, de língua para fora, o animal olhou para ela com olhar pedinte nos grandes olhos castanhos. — Nem pense nisso. — Balançou o dedo para ela. — Você sabe o que o veterinário disse. Açúcar não é bom para uma cadela da sua idade. Obviamente, Babe não concordava. Foi até a despensa e parou, olhando esperançosa para a porta fechada. — Você não pode comer nada doce — Meg disse à cadela, e se levantou. Passou pela despensa e pegou uma caixinha de um armário. — O doutor disse que você pode comer um biscoito de legumes. Pegou uma das guloseimas fedorentas. Babe se aproximou, cheirou e voltou para a frente da despensa. Enfiou o focinho na porta. — Não — Meg disse, mas a cadela continuava pedindo. Cinco minutos e muito choramingo depois, Meg pegou uma caixa de bolinhos dourados e deu um à ansiosa cadela. Babe estava ficando velha. Dezesseis anos, para ser exata, o que significava que não tinha mais energia para correr atrás de bolinhas ou latir para o chihuahua da senhora Calico, vizinha de porta. Ela própria desistira de correr atrás de bolas e ficar conferindo os resultados no jornal. Com exceção de quando ficava assistindo reprises de Sex and the City e comendo junkfood vez ou outra, tinha zero de prazer em sua velhice. Meg deu mais um bolinho para ela e sorriu ao vê-la abocanhá-lo e engoli-lo. A cadela chorou, pedindo um terceiro, mas Meg balançou a cabeça. — Disciplina, menina. É tudo questão de disciplina. — Enfiou a caixa de volta no armário e fechou a porta. Babe lambeu os dedos de Meg por alguns segundos antes de voltar para sua casinha de cachorro, temporariamente satisfeita. Se ao menos Meg sentisse o mesmo! Apesar do orgasmo, ainda estava inquieta. Ansiosa. Irrealizada. Pois continuava tão invisível quanto sempre fora. Era por isso que estava tendo aulas de sedução. Queria que os homens reparassem nela, sentissem desejo por ela, que a achassem irresistível. Do jeito como as mulheres agora ficavam loucas por Dillon Cash. Ela olhou para o caderno de estilo de vida na Gazeta de Skull Creek que estava aberta na mesa da cozinha e viu de relance a coluna semanal de Tilly. Uma foto de Dillon tirada Projeto Revisoras 7


Encanto Eterno – HFuego nº 17 – Kimberly Raye no Joe Bob's Bar & Grill chamou sua atenção. Estava dançando com Amélia Louise Lauder-field. A maldita Amélia Louise Lauderfield! Número 6 da lista de Gatas Sensuais. Dillon e uma autêntica Gata Sensual. Meg ainda não conseguia acreditar. Em um minuto ele estava passando as noites de sábado enfiado na loja de computadores, no outro — poucos meses depois, na verdade — ele aparecia em uma balada noturna em outra cidade. Ele se livrou dos óculos e trocou a camisa e a calça convencionais por jeans desbotado e camiseta. Mais ainda, ele trocou seu carro com cintos de segurança e air bags por uma motocicleta envenenada, sem capacete! Não foram as notícias da transformação física dele que tanto a surpreenderam, e sim a reação das pessoas — todas as mulheres na taberna Cherry Blossom ficaram se oferecendo, loucas para ter a chance de ir para casa com ele. Entretanto, disseram que ele havia chegado depois do happy hour, o que significava que a bebida estava rolando. O mais provável era que as integrantes de seu fã-clube instantâneo estivessem muito bêbadas. Para completar, o lugar ficava fora da cidade. As mulheres que ficaram malucas com seu novo visual não sabiam da reputação dele. Ao menos a conclusão a que ela chegou depois que uma de suas clientes, Cornelia Wallace, lhe contou as últimas fofocas que corriam pela cidade. As palavras da mulher ainda ecoavam em seus ouvidos. — Ele está tendo uma crise de meia-idade. Vi um especial sobre isto no Discovery Health Channel. Dizia que o prenuncio da idade leva o homem a fazer loucuras. — Não é preciso estar na meia-idade para ter crise de meia-idade? — Meg perguntou à outra. — Dillon tem apenas 30. —Talvez seja por alguma experiência de quase morte. Fizeram um especial de tevê sobre o tema semana passada. Dizia que o pessoal faz todo tipo de bizarrice depois de quase bater as botas. Ou, quem sabe, ele está a ponto de se assumir e resolveu revelar esse impulso afirmando exageradamente sua masculinidade. Vi uma história dessas na tevê a cabo no mês passado. Era sobre um sujeito que foi para a cama com mais de trinta mulheres e teve 22 filhos só para provar para si mesmo que não estava envelhecendo. Que tal? — Acho que a senhora assiste tevê demais. Talvez nem fosse Dillon na taberna. Talvez fosse apenas alguém parecido com ele. — Era ele, sim. Evangeline Dupree me contou, e ela ficou sabendo através da neta, que ouviu do namorado, que estava lá numa despedida de solteiro. Ele jura que era Dillon. Mas Meg não tinha tanta certeza. Dillon em uma taberna? Todo saidinho em meio a um bando de mulheres? Não era o Dillon que ela conhecia. Se por um lado, agora, não passavam mais muito tempo juntos — ele andava ocupado com sua loja e ela com suas freguesas, de modo que apenas almoçavam juntos de vez em quando —, mesmo assim ela o encontrava bastante para saber que ele continuava tão sem jeito com o sexo oposto quanto sempre fora na época de estudante. Até dois meses atrás. Foi quando as coisas mudaram. Foi quando ele mudou. Não que ela tivesse testemunhado pessoalmente a transformação. Não, ele a estava evitando, cancelando os almoços que marcavam, deixando de responder aos telefonemas. Ela deu um pulo à loja dele para vê-lo e colocar um ponto final nesta loucura que estava acontecendo — tinha de haver uma explicação lógica, não é mesmo? —, mas a loja estava fechada. A casa dele também. Chegou até a ligar para os pais dele, que estavam tão confusos quanto ela, e ainda mais determinados a encontrá-lo e descobrir a verdade. Praticamente acamparam no terreno da casa dele pelas últimas duas semanas, Projeto Revisoras 8


Encanto Eterno – HFuego nº 17 – Kimberly Raye tentando encurralá-lo e salvá-lo de si mesmo. Meg não estava cem por cento convencida que o símbolo sexual que andava pela cidade fosse ele mesmo, razão pela qual optou por uma abordagem radical: deixar milhares de recados em seu celular. Mas ele não deu retorno. Porque ele estava realmente ocupado com sua nova vida social? Ou porque estava fora da cidade para comparecer a outro seminário de computadores? Todo mundo tinha um sósia, em algum lugar. Era bem provável que Dillon tivesse se mudado para outra cidade e sua suposta crise de meia-idade ou saída do armário, fosse tão-somente um problema de identidade trocada. Que ele não podia desmentir, pois estava fora, aprendendo a regular placas-mãe ou a dissecar circuitos de USB ou algo do tipo. E aquela foto que ela estava vendo? Era o sósia de Dillon. Talvez. Provavelmente. Claro, seria ótimo se ele tivesse mesmo conseguido mudar tanto. Assim ele poderia lhe dar umas dicas de como se tornar irresistível e entrar na lista das Gatas Sensuais de Tilly. Mas Meg não queria alimentar esperanças. Ela sabia das dificuldades de viver em uma cidade pequena. No ano anterior, Diana Trucker foi vista comprando um teste de gravidez na farmácia local. As últimas notícias que teve, de Corny, foram que a mulher estava no quinto mês da gravidez de quíntuplos. As pessoas sabiam mesmo exagerar. Ou seja, até que ela tivesse provas concretas do recém-descoberto sex-appeal de Dillon, não acreditaria em uma palavra sequer das fofocas de Corny. Ela tinha que se preocupar com seu próprio sex-appeal — ou com a falta dele. Acabara de concluir um curso on-line chamado "Como turbinar o visual para ficar mais sexy", além de ter freqüentado várias aulas de auto-ajuda na escola local: "Vestida para ter sucesso sexual" e "Como lamber os lábios sedutoramente". Como se não bastasse, agora ela estava tendo aulas de sedução, oferecidas no saguão do Skull Creek Inn. Ao menos foi isto que ela disse a si mesma enquanto tomava banho e se vestia. Não queria se atrasar para a aula daquela noite. ELA SÓ podia estar vendo coisas. Meg estava sentada no estacionamento do motel perto do canto do edifício, olhando para o caminho de pedestres mal iluminado do primeiro piso. Ficou olhando pelo painel de seu Mustang e seu olhar se concentrou no perfil de um homem que estava de pé em frente à entrada do quarto 4. Ele estava vestindo uma calça jeans apertada, uma camiseta preta justa e botas negras de caubói. Um chapéu preto inclinado sobre a testa fazia sombra em metade do rosto. Os cabelos louro-escuros cacheados debaixo do chapéu de brim alcançavam a gola da camiseta. Ele era alto, musculoso e... Dillon. Ela piscou os olhos, mas ele não desapareceu. Nem a mulher linda colada atrás dele com os braços envolvendo sua cintura enquanto o esperava girar a chave e abrir a porta. Um segundo depois a porta estava aberta e ele se soltou da mulher apenas para deixála entrar no quarto. Ela entrou, passando a mão no volume dele antes de desaparecer lá dentro. Ele a seguiu prontamente, e Meg ficou pensando se Corny teria mesmo razão e ela acabara de testemunhar a maior transformação de todos os tempos. Aquele não podia ser Dillon Cash. Sim. Não. Droga, não. Nos minutos seguintes ela ficou tentando organizar as idéias enquanto pegava a bolsa e o Manual do Prazer, saiu do carro e foi para o saguão do hotel. Projeto Revisoras 9


Encanto Eterno – HFuego nº 17 – Kimberly Raye Não queria diminuir o passo, mas não conseguiu se impedir. Parou rapidamente em frente à porta do quarto 4, mas o único som que ela ouviu foi a batida frenética de seu próprio coração.

CAPÍTULO DOIS — VAMOS fazer isto agora mesmo! — A voz suave e ofegante foi lhe adentrando o ouvido com uma série de palavras como "Isso, assim" indo direto para seu cérebro. — Por favor. Dillon Cash ficou olhando para a mulher que entrou na sua frente no quarto do motel, os olhos cintilando em um misto de paixão e desespero. Ele mal resistia ao ímpeto de se beliscar. Aquilo não podia estar acontecendo. Aquela era Susie Wilcox, a queridinha da escola e agora a divorciada mais cobiçada de Skull Creek, de acordo com o jornal local e com Tilly Townsend, que lhe dera o título de loura mais sexy na lista das Gatas Sensuais do ano passado. Havia rumores de que Susie seria a provável vencedora da lista deste ano também. Tinha cabelos longos e sedosos. Pernas até aqui. Seios lá em cima. Sua cinturinha fina implorava pelas mãos dele e seu traseiro em forma de coração o deixava de boca seca. Ela era a estrela de seus sonhos mais molhados na época do ensino médio, e de mais uma dúzia de fantasias eróticas desde o começo da puberdade. Ela era tudo que ele sempre quis em uma mulher, e estava ali. Agora. Com ele. E estava ficando nua. Jogou longe os sapatos de salto alto, levantou a barra da blusa sem mangas e a tirou, pela cabeça. Abriu os botões da apertadíssima calça jeans, foi puxando a calça para baixo, rebolando com as longas pernas até se livrar de tudo. Seus dedos passaram então para o fecho do sutiã, e seus impressionantes seios ficaram livres. Ela parou na frente de Dillon com uma calcinha fio-dental cor de rosa que deixava sobrar pouco para a imaginação, e suas bochechas levemente coradas revelavam que ela estava tão excitada quanto possível. Ele foi tomado pela surpresa, mas se controlou e procurou se concentrar no desejo que se remexia por dentro dele. — Não consigo parar de pensar em você — ela disse. Seu olhar, intenso e fixo, cintilava de paixão. — Em nós. — Balançou a cabeça. — Não sei por quê, mas desde o primeiro momento em que eu o vi, esta noite, sabia que terminaria aqui. — Sorriu. — Parece que não consigo manter as mãos longe de você. — O sorriso desapareceu em uma expressão de desejo cru e inexplicável. — Sinto como se fosse explodir agora mesmo se não chegar perto de você. — Ela se aproximou mais, engolindo a distância entre ambos com passos determinados. — Bem perto. Talvez ela não soubesse bem por que o queria tanto assim. E Dillon não ia contar. Começou dois meses atrás, quando um forasteiro apareceu na cidade. Jake McCann acabou se revelando diferente do típico vagabundo que aparecia pela cidade. Ele era um vampiro determinado a enterrar seu passado, matar seus demônios. Literalmente. E pegaram Dillon no meio da briga. Em um minuto Dillon estava tentando proteger uma velha amiga, no outro, com um par de caninos sedentos de sangue — graças ao inimigo de Jake — cravados no pescoço. Ficou caído na calçada da praça principal da cidade com a vida por um fio quando Jake se aproximou e compartilhou de seu próprio sangue, transformando Dillon para sempre. Felizmente. Projeto Revisoras 10


Encanto Eterno – HFuego nº 17 – Kimberly Raye Claro que não era um estilo de vida dos mais práticos: nada mais de ficar relaxando na praia nem se entupindo de galeto assado. Mas ser mordido e transformado em vampiro sedento por sangue e sexo — especialmente sexo — não era nada mau. Não para um homem cujos pais eram dois compulsivos-obsessivos que se preocupavam com tudo, especialmente com a saúde e o bem-estar de seus dois filhos. Dillon e a irmã mais nova, Cheryl Anne, foram mimados e sufocados a ponto de se isolarem dos amigos. Harold e Dora Cash jamais levaram os filhos à praia — para quê, para expô-los ao risco de uma insolação? Também não lhes deixavam comer frango assado nem nada com excesso de gordura trans. Dillon crescera jogando paciência e xadrez enquanto os outros garotos iam acampar e se tornavam escoteiros. Também era grande estudioso de informática, e passava os verões lendo e fazendo cursos on-line em vez de caçar vaga-lumes e ir a piqueniques ou nadar no rio Skull Creek. Aos 31 anos, tornou-se seu próprio patrão — era dono da única loja de computadores em um raio de 80 quilômetros, onde tanto vendia computadores novos quanto consertava usados. Ele era independente, capaz de pagar as próprias contas, mas mesmo assim continuava sendo um grande nerd. Quer dizer, até dois meses atrás. "Uma vez nerd, sempre nerd. " As palavras de Susie ecoaram em sua mente. Foi o que ela lhe disse na época do ensino médio quando ele teve a petulância de convidá-la para sair. Ele estava com um corte de cabelo diferente, calça jeans na moda e uma camiseta da banda AC/DC comprada pela Internet. Chegou mesmo a investir o dinheiro que fizeram digitando jornais ingleses em um par de lentes de contato. Mas não foi suficiente. Na época o estrago já estava feito: sua reputação estava estabelecida. Seu novo visual fracassara. Pior ainda, uma de suas lentes de contato pulou e Susie a triturou com o salto ao dar meia-volta e dizer que não queria nada com ele. Aquela rejeição preparou o terreno para muitas outras. Tivera três míseras experiências sexuais na vida (sem contar as brincadeiras com sua colega Meg quando tinham seus 15 anos), e nenhuma mulher jamais voltou para ele, por um segundo que fosse. Na verdade, ele teve de se esforçar muito para convencê-las da primeira vez. Tudo isso mudou naquela noite em que foi transformado. Um lampejo amarelado penetrou pela cortina, atingindo parte do carpete a seus pés, mas pouco fez para iluminar o resto do quarto. Ele piscou, seu olhar penetrando a escuridão, registrando cada detalhe do pequeno quarto de hotel — desde as marcas apagadas na penteadeira gasta até o diminuto desenho que dava voltas na beira da cama, passando pela teia de aranha reluzente em um dos cantos. Sua visão estava tão aguçada que ele não precisava mais dos óculos fundo-de-garrafa que usava desde os 5 anos de idade. Seus cabelos louro-escuros ficaram mais grossos e brilhantes também, e seu corpo, mais musculoso e definido. A acne desaparecera por completo e sua língua não ficava mais presa quando uma mulher bonita olhava para ele. Agora ele sabia exatamente o que fazer com uma mulher. Como olhar para ela. Tocá-la. Seduzi-la. Ele agora era um vampiro que tinha tanta fome de energia sexual quanto de sangue. Na verdade, até mais. E depois de 31 anos de quase celibato Dillon Cash não tinha escrúpulos em saciar a fome que agora vivia e respirava dentro dele. Suas narinas se dilatavam e ele sentia o cheiro cálido de mulher lhe encher a cabeça. Seu corpo respondia instantaneamente. Suas mãos cocavam de vontade de tocar. Seus músculos se contraíam de ansiedade. O sangue jorrava por suas veias. E logo se manifestava sua virilidade em uma pulsação intensa, quente, pronta. Assim mesmo. Por mais que ele soubesse como o sexo podia ser ótimo, aquele encontro só o deixaria ainda mais ansioso pelo próximo. Projeto Revisoras 11


Encanto Eterno – HFuego nº 17 – Kimberly Raye Outra mulher. Outra onda de energia suculenta, doce, encharcada. Ele precisava daquilo. Regozijava com aquilo. Alimentava-se daquilo. Feliz da vida. Ao contrário do vampiro que o transformara, Dillon não estava nem um pouco ansioso para escapar da fome. Afinal, ela vinha acompanhada de muitas vantagens. Ele sabia que era inevitável sentir falta de sua condição humana. Nesse caso, ele se dedicaria com a mesma seriedade que Jake à missão de encontrar e destruir o Vampiro Ancestral e, assim, pôr fim à maldição do vampiro de uma vez por todas. Depois que quebrasse o recorde de Bobby McGuire e tirasse dele o título de quem dormiu com mais mulheres na cidade. Bobby era uma lenda em Skull Creek. Manteve seu primeiro lugar na lista de Garanhões Sedutores por 28 anos, até fazer 48 anos e sofrer o primeiro ataque cardíaco. O médico lhe impôs uma dieta estrita, sem qualquer tipo de excitação, e ele foi tirado da lista. Mas, antes disso, diziam os rumores que ele tinha conhecido biblicamente mais de trezentas mulheres, uma conta que ele registrou fazendo marcas na madeira da cabeceira da cama. Essa prova foi vendida por mais de 200 dólares no ano anterior em um leilão de caridade quando Bobby, agora um ancião, doou a casa mobiliada e se mudou para um retiro de idosos em Port Arkansas. Ao longo dos anos, alguns chamaram Bobby de maníaco sexual. Outros o chamaram de mentiroso. Alguns poucos chegavam a dizer que ele era um iludido. Mas ninguém jamais chamou Bobby de nerd. Não que Dillon se importasse com o que as pessoas pensavam. Nem tinha a menor vontade de fazer parte da notória lista. A questão não era provar algo para o pessoal de Skull Creek. A questão era provar algo para si mesmo. Depois de tantos anos de sorte zero com o sexo oposto, ele começou a pensar que talvez Susie estivesse certa em relação a ele. Ele nunca achou que fosse o caso. Sempre andou na linha, por causa dos pais. Não queria lhes causar mais sofrimento. Já causara o suficiente quando criança, quando pôs a própria vida em risco. Era seu aniversário de 7 anos e ele estava determinado a acampar perto do riacho. Seus pais disseram que não, mas ele foi assim mesmo. Estava caminhando descalço perto da água e pisou em algo pontudo. Em questão de dias, a pequena picada virou uma infecção das grandes. Uma infecção quase fatal que em menos de seis meses fez seus pais passarem de pessoas tranqüilas a enfermeiros obsessivos. Cheryl Anne era pequena demais para lembrar — tinha 4 anos na época — e jovem demais para culpá-lo pela vida reprimida que foi forçada a levar. Mas ele se lembrava de como as coisas eram antes do acidente. Seus pais adoravam se divertir naquela época; gostavam de aventuras. E Dillon? Ele era expansivo. Gostava de correr riscos e tinha gosto pela vida. Encarcerado pela culpa, reprimiu o prazer pela vida e passou a obedecer aos pais. Para os demais, parecia um garoto tímido e calado, mas no fundo ele era exatamente o contrário. Fingimento, era o que fazia. Pelo menos foi o que achou até terminar o ensino médio, sem conseguir passar das preliminares com qualquer garota. Na época, as dúvidas se instalaram em sua cabeça — a idéia de que ele talvez não estivesse fingindo. Talvez ele tivesse mesmo se transformado em um nerd de carteirinha. Até mesmo agora, que era um vampiro, havia momentos — fugazes arroubos de pensamento sempre que se encontrava em situações irreais — em que sabia, simplesmente sabia, que só podia estar sonhando c que era apenas questão de tempo para que a realidade voltasse a se intrometer, arrastando-o de volta para seu velho e chato eu. Mas ele ia mudar tudo isso e silenciar aquelas dúvidas de vez. Fantasiou um dia Projeto Revisoras 12


Encanto Eterno – HFuego nº 17 – Kimberly Raye quebrar o recorde de Bobby — que adolescente cheio de hormônios não fizera o mesmo? —, mas jamais teve oportunidade. Até agora. Depois de dois meses, uma fome incontrolável e um número quase impossível de mulheres, faltavam apenas duas para alcançar sua meta. Ao contemplar aquela loura alta e voluptuosa lhe veio à mente uma onda de imagens que não deixava dúvida sobre o que queria fazer com ela. Dessa vez ela não se afastou. Não poderia. Ela o desejava com um desespero que jamais sentiu por homem nenhum. Ele leu isso em seus olhos — outra aptidão dos vampiros —, além do fato de que, apesar de sua beleza e do prestígio de ser a número 1 da lista de Gatas Sensuais, era a mais solitária e infeliz dentre suas amigas. Ao contrário dos rumores, ela não deixou o segundo marido porque ele pediu falência depois de investir no negócio errado. Na verdade ele a estava traindo com uma sorridente garçonete de 21 anos e gastou as economias de ambos fazendo implante capilar, lipoaspiração e aumento de pênis. — Toque-me — ela implorou. — Por favor. E como Dillon precisava dela tanto quanto ela precisa dele, fez o que ela pediu. — ALGUÉM PODE me dizer qual é o ingrediente-chave para uma relação bem-sucedida? Meg se remexeu na cadeira, esticou o pescoço e espiou por entre as duas cabeças com cabelos armados e cheios de laquê. Seu olhar se deteve na mulher no meio do palco do pequeno saguão do Skull Creek Inn. Winona Atkins já estava na casa dos 70 anos de idade. Usava uma blusa com estamparia florida, sapatos ortopédicos brancos e um crachá em forma de pênis onde se lia: Instrutora de Sedução. Cachos louro-brancos lhe cobriam a cabeça e óculos estilo gatinho com contornos dourados pendiam da corrente em seu pescoço. A senhora arqueou uma das sobrancelhas brancas ao observar a sala repleta de alunas ávidas. — Bem, vamos lá. — Meneou a mão ossuda. — Não tenho a noite inteira. Alguém precisa criar coragem e dar um palpite. — Honestidade? — alguém disse. — Respeito mútuo? — disse outra. — Contas bancárias separadas? Winona sorriu, o rosto se quebrando em uma massa de rugas. — São boas respostas, senhoras. Muito boas. — Balançou a cabeça. — Mas lamento dizer que não chegam nem perto. Vejam... — ela pegou a chapeleira que estava no canto e pôs no centro do palco — ... todo homem, por mais honrado e correto que seja, gosta de uma pequena transgressão de vez em quando. — Transgressão? — perguntou uma mulher. — Como as de uma mulher da vida? — Exatamente. Uma mulher que sabe ser livre e não tem medo de perder as inibições. Uma mulher confiante e que não tem medo de mostrar isso. Uma mulher que sabe fazer strip-tease e tira toda a roupa e dança se enrascando no poste. — Winona pegou a chapeleira e fez uma dança tipicamente americana chamada shimmy. — Chamo esse passo de "volta no vagão", senhoras. — Deu uma volta na chapeleira de cedro, e outra. — Sei que parece complicado agora, mas depois da aula de hoje vocês serão capazes de fazer até de olhos fechados. —Apontou para uma mulher de setenta e tantos anos que enxergava com dificuldade apesar dos óculos bifocais. — Não que vocês devam fechar os olhos. Contato visual é algo poderoso entre um homem e uma mulher. As palavras de Winona fizeram Meg pensar subitamente em Dillon parado à porta do hotel, os olhos contemplando Susie Wilcox, olhos brilhantes. Sorridentes. Poderosos. Sentiu uma pontada de inveja. O que era uma reação sem sentido, pois não sentia nem um pouco — repetindo, nem um pouco — de atração por Dillon Cash. Projeto Revisoras 13


Encanto Eterno – HFuego nº 17 – Kimberly Raye Claro que, na época, ela sentiu um formigamento na barriga quando ele a tentou beijar, mas que adolescente de sangue quente, curiosa e cheia de hormônios não sentiria o mesmo após ver Mickey Rourke seduzindo Kim Basinger? Não foi por causa de Dillon. Foi o calor do momento. Felizmente a temperatura esfriou logo depois da primeira e decepcionante tentativa de beijo. Desde então, ela nunca mais sentiu atração nenhuma por ele. Nem naquela época e, com certeza, agora tampouco. Nada de ciúme. Ela estava era com inveja. Ele tinha uma mulher fogosa se jogando sobre ele, e ela queria o mesmo. Não uma mulher fogosa, veja bem, mas sim um homem fogoso. É, ela estava com inveja. Se o sujeito fosse realmente ele, claro. Afastou as dúvidas da mente e procurou prestar atenção no que acontecia lá na frente. —... vamos começar por Mary. — Winona apontou para uma mulher sentada na fila da frente. — Gostaria que você se levantasse e tentasse fazer uma demonstração da técnica de strip-tease que ensinei. Todas terão sua vez. Enquanto isso, vou conferir o dever de casa da aula passada. Páginas farfalharam enquanto todas abriam seus cadernos. — Não sei se consigo fazer isso — Mary disse ao se levantar. — Não estou acostumada a fazer isto em público. — Mas é para isto que estamos aqui, querida. — Winona pegou uma bandeja de biscoitos de uma mesa. — Eu os chamo de pedacinhos de prazer. Esses biscoitinhos vão lhe fazer tirar a roupa e perder a inibição num piscar de olhos. — Eles são feitos com aquele fumo misturado com maconha que Mildred Pierce sempre coloca na massa dos brownies? — Mary perguntou. Winona fechou a cara. — Senhoras, eu administro uma empresa de respeito. Os biscoitos são feitos com conhaque — disse Winona. — Totalmente dentro da lei. — Muito bem, então. — Mary pegou um e comeu, depois mais um, e o terceiro. Respirou fundo e olhou para a chapeleira. Enquanto isso, Winona passou a bandeja para a fila seguinte. — Billy e eu tivemos uma noite e tanto ontem — Mabel Avery disse a Winona quando ela se aproximou e lhe confiscou o diário. — Ele adorou me ver com aquele vibrador corde-rosa que comprei pela Internet. — Meu Hank também gostou de me ver — disse outra mulher, acenando com seu caderno espiral. — Mas o meu vibrador é roxo. — Meu Melvin disse que foi a realização de sua fantasia — disse outra. A medida que continuavam os comentários, Meg fingiu procurar algo e, então, levantou a mão. — Sabe da maior? Acho que esqueci o caderno no carro — disse à mulher ao seu lado. Levantou-se. — Vou buscá-lo. Cinco segundos depois estava fechando a porta do saguão e respirando aliviada. Covarde, murmurou uma voz. A cidade inteira sabe que você não está com ninguém, Mas saber era uma coisa, ouvir de sua boca era outra bem diferente. Já era ruim demais ter de usar o vibrador sozinha. Não podia assumir isso em uma sala cheia de fofoqueiras. Foi até o carro e só iria voltar para a sala quando Winona já estivesse ensinando novamente suas técnicas de strip-tease. Estava a meio caminho do carro quando algo lhe chamou atenção na porta do quarto 4. Estava bem fechada. As cortinas, fechadas. Nenhuma luz escapava por elas. Não que ela estivesse prestando atenção. Não ia olhar. Foi o que ela pensou, e foi passando. Projeto Revisoras 14


Encanto Eterno – HFuego nº 17 – Kimberly Raye Primeiro porque, além de ser falta de educação, era invasivo. Segundo, ela não se importava com o que estava acontecendo lá dentro. Fosse sexo ou briga, não era de sua conta. Ao mesmo tempo, se Dillon estivesse mesmo na cama com Susie Wilcox, isto queria dizer não só que ele havia mudado, mas que a cidade o deixara mudar. De algum jeito, ele conseguiu eliminar a impressão de uma vida inteira em questão de meses. E ela não podia deixar de imaginar como ele teria conseguido. Se ele conseguiu mesmo. A curiosidade a queimou por dentro e ela diminuiu o passo. Ia dar uma rápida espiadela e ninguém ficaria sabendo. Foi até a janela. Piscou os olhos e a meia-luz do quarto começou a se ajustar à sua visão. Uma calça jeans estava jogada no chão de madeira. Havia um sutiã pendurado em uma poltrona de couro. Debaixo da cama viu a ponta de um sapato vermelho de salto alto. As cobertas formavam um bolo ao pé da cama. Susie Wilcox, completamente nua, estava deitada de bruços, com o rosto enfiado em um travesseiro, um braço sobre a cabeça e o outro estendido pela cama vazia. Espere aí. Vazia? Ao pensar isto, ouviu a voz profunda e familiar. — Bela vista. As palavras lhe entraram pelos ouvidos e seu coração pareceu parar por um momento. A consciência lhe veio com um frio na espinha, seguida por uma onda de constrangimento. Ela estava ferrada mesmo.

CAPÍTULO TRÊS SOUBE que era Dillon antes mesmo de se virar. Foi levantando os olhos, partindo dos grandes pés descalços debaixo das barras puídas da calça jeans, passando pelas pernas envoltas pelo brim, pela cintura, pelo atraente funil de pêlos que se desfazia na barrigatanquinho, pelo peito musculoso e os grossos bíceps envoltos por tatuagens, o pescoço com cordão, o rosto familiar... Espere aí. Tatuagens? Ela prestou atenção no braço forte. Claro que o intricado desenho em tinta preta ao redor do músculo protuberante fazia o braço parecer maior e mais poderoso. Olhou então para o outro braço. A mesma coisa. — Bela vista — ele repetiu. O timbre profundo da voz atraiu toda sua atenção e fez seu estômago revirar. Suas coxas tremiam e seus mamilos estavam saltados e... amiga, por fa-vooooooor. Estamos falando de Dillon. O cara que lhe deu cupons de lavanderia de presente em seu último aniversário. A não ser por aqueles poucos e ridículos momentos de expectativa (graças a Kim e Mickey) quanto ao primeiro beijo, jamais sentira por ele nada além de amizade. Com certeza, não sentira antes aquele desejo incrível de ficar quente, suada e nua. Mas, por outro lado, jamais o vira só de calça jeans desabotoada e com aquelas tatuagens ameaçadoras e aquele sorriso tranqüilo, autoconfiante e sexy como o diabo. — É — ela resmungou, ansiosa para tirar a atenção de seu corpo subitamente trêmulo. — Ela é, hummm, bem bonitinha. — Sentiu um aperto na garganta ao dizer aquelas palavras, como se admitir aquilo a incomodasse. Como se. — Eu não estava falando da vista lá dentro. — Ele baixou os olhos da boca de Meg para os lábios, onde parou, por vários segundos. Se ela não estivesse com a cabeça no lugar, seria capaz de jurar que sentiu uma pressão no lábio inferior. Como se fosse um Projeto Revisoras 15


Encanto Eterno – HFuego nº 17 – Kimberly Raye dedo invisível traçando a fartura dos lábios, testando... Loucura. Ela lambeu os lábios, tentando desfazer a estranha sensação, e o olhar dele cruzou com o dela. — Estou falando da vista aqui fora — ele acrescentou. Algo quente e sensual tremulou nas profundezas verdes dos olhos dele, e ela sentiu sua pulsação disparar. — Deixei mais de dez mensagens para você — ela disse, louca para ignorar as súbitas borboletas que se agitavam em seu estômago. Juntou toda sua indignação e o fuzilou com os olhos. — Desaprendeu a usar o telefone ou está me evitando de propósito? O canto da boca dele se contraiu em uma leve ameaça de sorriso. — Tenho estado um pouquinho ocupado. Ela olhou para a janela. — Ocupado demais para ligar para os pais? — Encarou-o. — Estive com sua mãe ontem na loja. Ela está preocupada com você. Ele deu de ombros, flexionando os bíceps. As tatuagens nos braços pareceram aumentar de tamanho. — Não pude ligar. — Não pôde ou não quis? —As coisas agora estão diferentes para mim. Estou diferente. Duvido que eles consigam entender. Meg também duvidava. Eles ficaram apavorados quando ele pisou em um formigueiro na quinta série e fizeram o doutor Wilmer largar um campeonato de golfe só para aplicar Benadril. Meg não conseguia imaginar o que fariam se soubessem que Dillon estava freqüentando quartos de motel e, aparentemente, outros lugares, com qualquer mulher disponível da cidade. Correção: quase qualquer mulher disponível. Pois andava evitando Meg como se fosse uma praga. — O que está acontecendo com você? Nunca faltou aos nossos almoços. — Ela não queria parecer tão acusadora. E daí que ele não tinha ido ao almoço mensal na pizzaria Uncle Buck não apenas uma vez, mas duas? Ela teria trocado o tal almoço por um encontro com um cara sexy sem pensar duas vezes. — Podia ao menos ter ligado. — Eu ia ligar. —A autoconfiança sexy desapareceu por um segundo e ela sentiu um traço de arrependimento. — Não fique chateada. — Você acha que vou ficar chateada por você estar passando por alguma crise séria na vida e não ter a decência de me ligar? Você acha que eu ficaria chateada por uma coisa destas? — Então você não está chateada. — Eu estava sendo sarcástica. — Ele sorriu e ela sentiu sua indignação se desfazer. — Tudo bem, deixa para lá. O que está havendo? Ele deu de ombros novamente. — O que posso dizer? Estou finalmente saindo do casulo. — Aos 31 anos de idade? — Talvez eu seja um retardatário. Ela balançou a cabeça negativamente. — É mais do que isso. Algo aconteceu com você. — Você me pegou. —Apoiou uma das mãos na janela e se aproximou, roçando os lábios na orelha dela ao murmurar: — Não sou o Dillon de verdade. Apenas pareço com ele. O cheiro dele, tão cru e masculino, entrou por suas narinas e lhe encheu a cabeça. Por uma fração de segundo ela teve vontade de chegar mais perto, apertar os lábios naquele pescoço, lamber para sentir seu gosto e... Ela se conteve e recuou. — Imagino que você seja uma pessoa realmente excepcional e o planeta está a ponto de ser invadido por homenzinhos verdes. — Eles são roxos, mas é mais ou menos por aí. Projeto Revisoras 16


Encanto Eterno – HFuego nº 17 – Kimberly Raye — Você fala muita bobagem. — Encarou-o. — Eu estava realmente preocupada. Um brilho estranho surgiu nos olhos dele, mas logo desapareceu, transformando-se em vivido verde, que cintilava e faiscava tão forte que, quando ela deu por si, estava olhando fixo, até que voltou à razão e se concentrou nos lábios dele. Os lábios dele eram muito bonitos. Grossos, mas não demais. Do tamanho perfeito para lábios de homem. Ela sempre achou. Ao menos durante aqueles momentos em que ele lhe proporcionara alguns dos piores beijos de toda sua vida. Ele ficou tenso. — Lamento que você tenha ficado preocupada, mas sei tomar conta de mim mesmo. — O cenho subitamente franzido se transformou em um sorriso fácil. — E de quem mais vier. — As palavras continham uma insinuação, e o estômago deu um salto mortal. Dillon, ela procurou lembrar. Atração zero. Mas, se por um lado seu cérebro recebia a mensagem básica claramente, seu corpo estava em outra freqüência. Um calor subiu por sua espinha, emitindo explosões de quentura para todas as zonas erógenas de seu corpo, dos arcos dos pés à sensível pele próxima ao umbigo, das pontas eretas dos seios às dobras das orelhas. Sentiu um súbito ímpeto de se aproximar mais, de diminuir a distância entre eles e apertar seu corpo contra o dele. Então faça isso. As palavras, cruas e sensuais, invadiram sua cabeça como se o próprio Dillon estivesse murmurando aquelas palavras de estímulo bem na sua orelha. Não foi o que ele fez. Ele ficou parado a centímetros dela, a boca curvada em um sorriso pecaminoso, os olhos cintilando de desejo e com uma expressão de quem estava entendendo todos os pensamentos lascivos presentes na cabeça de Meg naquela noite. É. Claro. Estava ficando óbvio que ela havia comido demais daqueles biscoitos com licor de Winona. Não havia chance de ela tomar a iniciativa de novo com um homem. Já havia passado por aquilo. Já tinha visto aquele filme. Não mesmo. E, com certeza, não tomaria a iniciativa com Dillon, logo com ele. Ele não era seu tipo. Nunca fora. Ela gostava de homens altos, sensuais, agressivos. Certo, mas talvez ele fosse o tipo dela. A não ser pela agressividade. Não havia mãos fortes e decididas lhe tocando, nem lábios ansiosos. Não havia a incerteza que sempre transbordava daqueles olhos mais verdes que uma floresta. O medo. Em vez disso, o que havia era um olhar flamejante, cheio de uma segurança recém-descoberta que fazia loucuras com seu coração. Ele ficou ali, parado, pronto e esperando, como se estivesse na expectativa de que ela fosse dominada pelo desejo e se jogasse sobre ele. — Você fez, não fez? — ela disse quando a verdade se cristalizou. Ele arqueou uma sobrancelha loura. — Era você quem estava espiando. Diga você. Ela corou ao captar o que ele estava dando a entender. — Não estou falando de fazer sexo — ela disse com dificuldade. — Apesar de estar óbvio que você fez isso, também. Estou falando de você. Está mudado mesmo. Em questão de meses, Dillon Cash deu um jeito de mudar tudo que ela havia passado a metade da vida tentando mudar em si mesma. — Você está realmente — ela engoliu em seco — sexy. Ele sorriu. — Você fala com se fosse algo ruim. — Não mesmo. É realmente bom. Na verdade, é ótimo. — Ela balançou a cabeça. — É só que não consigo imaginar como você fez isso. Quer dizer, é claro que você está todo remodelado — olhou para a calça jeans dele —, a não ser pelas roupas, mas é mais do que isso. — Olhou nos olhos dele. — Já li todos os livros de auto-ajuda para sexo que Projeto Revisoras 17


Encanto Eterno – HFuego nº 17 – Kimberly Raye existem. Já fiz milhares de cursos. Esta é minha oitava aula com Winona desde que ela substituiu Cheryl Anne. — Ela balançou a cabeça. — E ainda estou tentando entrar na lista de Tilly. — Ela olhou pela fresta da janela para a bonitona na cama. Ele conseguira mesmo. Finalmente descobrira o segredo que ela procurava tanto: como se tornar superatraente para o sexo oposto. As mulheres olhavam para ele, provocantes. Nutriam fantasias com ele. Tiravam a roupa e iam para a cama com ele sem pensar duas vezes. O maior nerd de Skull Creek havia se transformado em um autêntico símbolo sexual. Para todas as mulheres, quer dizer, menos para Meg. Ela sabia por experiência própria que as pessoas não podiam simplesmente mudar. No fundo, não. Não de um dia para o outro. Levara anos para completar o processo. Não havia como ele conseguir aquilo em questão de meses. Não, ele ainda era o mesmo Dillon por baixo daqueles cabelos sedosos e músculos delineados. Ainda era o mesmo sujeito que vomitou ao ser rejeitado por Daria Sue Alcott no baile de formatura. Ela sabia disto, apesar de que a cada segundo ficava mais difícil se lembrar dessas coisas. Um olhar estranho veio ao rosto dele, como se ele tivesse entrado na mente dela e lido seus pensamentos. Mas, então, a expressão se desfez em um sorriso e o coração dela bateu descompassado. — Seis meses atrás você mal conseguia falar com qualquer garota — ela observou, tomada pelo desespero. — E agora está com Susie Wilcox se oferecendo para você desse jeito. — Falar é besteira — ele disse, com a voz profunda ribombando dentro dela. — Há formas bem mais interessantes de se comunicar. — E como foi que você aprendeu isso? Livros? Cursos? Terapia genética para substituir DNA de nerd por cromossomos de garanhão? — A última dedução arrancou dele um largo sorriso. — Porque, seja o que for, também quero. Ele arqueou a sobrancelha. — Quer ser bem-dotada como um cavalo? — Você sabe o que quero dizer. — Olhou bem nos olhos dele. — Quero o equivalente para mulheres. Quero saber qual é seu segredo. — Um segredo que com certeza a colocaria na próxima lista das Gatas Sensuais de Tilly. Se Meg conseguisse entrar nessa lista, sem dúvida os homens da cidade a veriam com outros olhos. Adeus, Meg Joãozinho, olá, símbolo sexual irresistível. — Você me deve essa — ela disse —, então pague. — Ele olhou para ela como quem não tivesse entendido, e então Meg disse: — Pela sua metade da pizza, mais a gorjeta. Acrescente a dor e o sofrimento por eu ler de ficar sentada lá sozinha, além de multa pelo aumento da minha cintura por causa das calorias a mais que consumi, pois não gosto de desperdício e comi ludo, de modo que você está em grande falta comigo. Ele baixou os olhos. — Sua cintura me parece ótima. Lá veio o frio no estômago de novo. Uma reação insana, pois Dillon jamais lhe fizera qualquer elogio. Nem às coxas, nem à cintura. Muito menos aos seios, que ela vinha ressaltando com sutiãs desde o último ano da escola. O Dillon de agora parecia reparar em tudo. E a fazia querer se ofertar por inteiro, sem pensar duas vezes. A segunda da noite. Ela afastou da mente a visão súbita — Dillon nu sobre ela, arfando — que lhe apareceu na cabeça e procurou se concentrar no estômago, que estava roncando. Ainda não havia comido, não era de admirar que estivesse se sentindo tão vazia. Queria comida, não queria Dillon. Engoliu em seco e recitou mentalmente o cardápio de seu restaurante favorito. — Valeu a tentativa, mas você não vai mudar de assunto. Diga — ela insistiu. — Desde quando você ficou mandona assim? Projeto Revisoras 18


Encanto Eterno – HFuego nº 17 – Kimberly Raye — Desde que existo. Sério, quero saber. — O desespero borbulhava dentro dela, somando-se à fome. — Preciso saber. Ele ficou olhando demoradamente para Meg, que sentiu que ele estava tentando lidar com um conflito interno. — Tem certeza? Quer saber mesmo? — ele perguntou, enfim. Ela foi tomada pela excitação e fez que sim com a cabeça. — Conte-me tudo. — Tenho uma idéia melhor. — Ele a encarou com um olhar sagaz. Ele segurou a vidraça da janela perto dela e chegou mais perto. A barba por fazer raspou de leve a maçã do rosto de Meg. Os lábios dele lhe roçaram a orelha. — Por que não lhe demonstrar na prática?

CAPÍTULO QUATRO QUE diabo ele estava pensando? O pensamento entrou na mente de Dillon em meio ao feroz desejo que tomou conta de seu interior, e então ele teve um choque de realidade. Aquela era Meg. Sua camarada. Sua colega. Sua amiga. Meg era a única mulher com quem ele conseguia conversar. A única mulher que se importava com o que ele tinha a dizer. Ele não podia estar pensando em encostar Meg à parede mais próxima, mergulhar em seu corpo quente, sorver sua deliciosa energia e conduzi-la ao clímax através de penetrantes idas e vindas. E não podia estar pensando em cravar os caninos em seu doce pescoço e beber de sua essência. Apesar de se alimentar de sangue e de sexo, ele jamais cedeu ao desejo de fazer as duas coisas ao mesmo tempo. Esta foi a primeira regra ensinada por Garret, seu outro mentor vampiro. Era totalmente proibido, pois forjava um laço indestrutível. Para sempre. A última coisa que Dillon queria era se ligar a uma mulher pelo resto da eternidade. Não agora que faltava um pouquinho de nada para bater o recorde de Bobby. Isto foi o que ele pensou, mas o cheiro de Meg lhe invadindo as narinas e as batidas frenéticas de seu coração ecoando em seus ouvidos faziam a eternidade não parecer mais tanto tempo assim. Seus músculos enrijeceram e suas vísceras estavam doendo, e de repente ele sentiu que tinha mais desejo por ela do que vontade de quebrar o recorde de Bobby. E ela queria uma pizza de pepperoni com bastante queijo. O pensamento lhe penetrou a mente e ele recuou. Seu olhar perfurou o dela. Claro que o que ele viu foi a imagem da pizzaria Uncle Buck, uma mesa, uma pizza enorme e Meg comendo até se fartar. Ela não o desejava. Ou ao menos não desejava desejá-lo. Ela reagia a ele. Todas as mulheres reagiam. Mas ela não ia se jogar sobre ele como todas as outras mulheres vinham fazendo pelos últimos meses — com exceção de Nikki, a dona do salão de beleza. Nikki estava totalmente apaixonada por Jake, daí sua falta de interesse não incomodar Dillon. Mas Meg... Ela era uma mulher solteira e de sangue quente. Devia estar fora de si de tanto desejo. Ou ao menos um pouquinho transtornada. Ele olhou para ela com toda atenção. Nenhum sorriso convidativo. Nenhum olhar de "Me pegue agora mesmo". Nenhum pedido ou súplica. — Por favor. Muito bem, então ela estava suplicando. Um pouquinho. Mas não do jeito que ele Projeto Revisoras 19


Encanto Eterno – HFuego nº 17 – Kimberly Raye estava acostumado desde que passara para o lado dos vampiros. Ela queria sua ajuda. Sua orientação. Seus conselhos. O que ela não queria era fazer amor com ele. Aliás, ela não queria desejar fazer amor com ele. Ele olhou bem dentro de seus olhos brilhantes e leu a verdade como se estivesse escrita em néon. Ela estava determinada a resistir à tentação, a esperar por um homem — qualquer homem — que tomasse a iniciativa no sexo. Estava ainda mais decidida a resistir a Dillon. Eles já tinham uma história juntos. Mais ainda, ela sabia na prática — recauchutagem à parte — que ele não beijava direito, e ela não estava ansiosa para experimentar de novo. Ele tentou conter o ímpeto de pressionar os lábios nos dela e provar, ali mesmo, que ela estava errada. Era o que teria feito, se não estivesse tão determinado a quebrar o recorde de Bobby. Bobby não dava em cima de mulher nenhuma. Eram elas que o procuravam, prontas e dispostas. O mesmo valia para todas as mulheres do passado recente de Dillon. Ele estava em missão, e não ia se desviar de seu objetivo agora. — Há milênios tento entrar na lista de Tilly — Meg continuou. — Se eu der uma turbinada no meu sex-appeal, será barbada. Você precisa me dar umas dicas. — E o que você vai me dar em troca? — Ele esperou ouvir uma longa lista de sugestões sedutoras, começando com "Vou fazer um strip-tease e uma dança erótica para você". — Roupas novas. Ele não entendeu. — Como é? — Você pode ter passado recentemente por uma transformação física e mental muito boa, para não falar da superação da timidez e tudo mais, mas não chegou nem perto de desenvolver senso de estilo. — Olhou para a calça jeans dele. — Qual é a marca? — Quem liga para essas coisas? — A maioria das mulheres do mundo, todos os homossexuais do planeta, sem esquecer os metros-sexuais, abençoadas sejam suas almas estilosas. — Quando olho para uma mulher, duvido que vá parar para pensar na marca da calça que ela está usando. — Ele lançou um olhar intenso e sorriu ao notar como a pulsação dela, de repente, deu um pulo até o pescoço. Mas a reação, apesar de imediata e intensa, desapareceu rapidamente, e mais uma vez ela estava fantasiando sobre a pizza. — A marca que uso é irrelevante. — Talvez. Mas se você vai fazer algo, deve fazer direito. Ou seja, se quer passar por uma transformação completa, deve começar a pensar nessas coisas. — Ela arqueou uma sobrancelha. —Ainda usa cuecas do Homem Aranha? — Parei de usar na terceira série primária. — O pai dela estava fora da cidade e ela dormiu na casa dele. Ela usou uma camiseta de número maior que o dela naquela noite, enquanto ele estava com a tal cueca e camiseta branca. Ela levou seus soldadinhos de brinquedo e uma lanterna, e ficaram no quarto dele brincando até amanhecer. Apesar de ela parecer e agir como se fosse um dos meninos naquela época, tinha cheiro bem melhor. Ele ainda se lembrava do cheiro de xampu de morango em seus cabelos. Suas narinas se inflaram. Sob o perfume e os produtos para o cabelo, sentiu um toque de odor familiar. — Brancas? — ela insistiu. — Juntas? — Nem uma coisa, nem outra. — Ele inspirou novamente e uma eletricidade lhe desceu em espiral até a virilha. — Estou sem cueca. — Ah! — Ela desviou o olhar nervosamente e ele entendeu que ela estava procurando alguma coisa em que pensar para tirar da mente as idéias que lhe estava provocando. Ela deu de ombros. — Certo, então você realmente não precisa de nenhum conselho em se tratando de roupas de baixo. Mas esta calça jeans... Projeto Revisoras 20


Encanto Eterno – HFuego nº 17 – Kimberly Raye — Balançou a cabeça e torceu o nariz. — Não há nada de errado com ela. — Você comprou na promoção do ano passado da Shop 'til-you-drop, não foi? — E daí? — Daí que você precisa de algo mais atual, sem falar na camisa. Uma roupa bacana que transmita classe e sensualidade. E, com certeza, posso cuidar disso. — Encarou-o com os olhos de um azul resplandecente e fez uma proposta: — Você me ensina os pontos principais para me tornar um símbolo sexual convincente e eu lhe ajudo a construir uma imagem que lhe faça justiça. Ele duvidava muito que ela pudesse fazer algo para melhorar seu sex-appeal mais do que o sangue de vampiro que lhe corria nas veias, mas a simples idéia de deixá-la tentar era bastante interessante. Resistir a ele durante uma discussão assim poderia ser fácil. Mas ela não conseguiria resistir se passassem mais de cinco minutos juntos. Assim que pensou nisso lhe veio à mente o que deveria fazer exatamente: seduzir Meg Sweeney até ela parar de se conter e acabar se oferecendo a ele, igualzinho às demais mulheres de Skull Creek. Ele não só quebraria o recorde de Bobby, como também acabaria com o que começava a suspeitar — que ele era tão nerd quanto pensavam as pessoas. Conquistar uma mulher determinada a não cair em tentação seria a prova máxima, sem contar que ele passara vários anos desejando voltar ao passado e refazer aquele horroroso primeiro beijo que dera nela. Sua memória deu voltas e ele viu a decepção nos olhos dela, a relutância em tentar novamente. Aquela imagem mental alimentou sua determinação e ele deu seu sorriso mais sedutor. — Estamos combinados então, meu bem? MEU BEM? desde quando Dillon Cash usava a expressão "meu bem"? Desde que se transformou em um gostosão conquistador que lhe deixa com vontade de arrancar a calcinha e se jogar sobre ele. Não que ela fosse fazer uma coisa dessas. Estava cansada de tomar a iniciativa. Queria um homem que a desejasse tanto que não conseguisse tirar as mãos dela. Um homem que arrancasse de bom grado a própria cueca para se jogar sobre ela. Agarrando-se firme à própria determinação, ela respirou fundo e se concentrou em dar um passo atrás do outro ao caminhar de volta para o saguão do motel. Dava para ela sentir o olhar dele, e então ela se deu conta: seus mamilos estavam saltados e ela começou a sentir o incômodo do sutiã roçando a cada mínimo movimento dos braços. Sua saia jeans parecia desencaixada e as pernas tremiam. Graças a Dillon e seu sex-appeal subitamente tão irresistível! Por mais tentador que fosse, não podia negar sua sorte. Ela, com certeza, descobrira a chave para o sucesso futuro. Assim quem começassem as aulas... Foi quando sua cabeça parou de trabalhar. Estava tão ansiosa para escapar daqueles pensamentos delatores que acabou se esquecendo de combinar dia e hora da primeira aula. — Que tal amanhã de manhã... — ela disse, mas as palavras morreram quando ela se virou e deparou com a calçada vazia. Besouros cintilantes colidiam ao redor da única lâmpada que iluminava o ponto onde antes estava Dillon. Ela viu a porta fechada. Não ouvira o arrastar do brim no chão quando ele deu meia-volta. Não ouviu o rangido metálico da porta se abrindo... Não ouviu a porta batendo. Nada. Em um minuto ela estava sentindo o olhar dele, depois... puf. Desapareceu. Certo. Ignorou o estranho formigamento que começou a lhe subir pelas costas. Ele não foi embora de verdade. Ele estava dentro do quarto e ela, evidentemente, tão entretida com os próprios pensamentos que não prestou atenção aos pequenos detalhes. Projeto Revisoras 21


Encanto Eterno – HFuego nº 17 – Kimberly Raye Engoliu aquela explicação, procurou rebater a idéia de que havia algo estranho e voltou para o saguão. Na manhã seguinte ia ligar para ele e combinaria um encontro. Talvez antes do almoço. Apesar de não ter roupas masculinas em sua loja, podia tirar as medidas dele e fazer compras on-line. Ele lhe diria quais livros estava lendo, lhe daria algumas dicas e eles iriam comer pizza no almoço. Graças a seus pensamentos de luxúria e sua tentativa desesperada de pensar em outra coisa, ela estava com um louco desejo de comer pizza de pepperoni até se fartar. Um desejo que a dominou pela meia hora seguinte, até terminar a aula e voltar para casa. Um desejo que a fez correr para a cozinha em busca de satisfação, ou seja,junkfood. Na máxima quantidade possível. Como já era fim de semana e ela ainda não tinha feito compras de supermercado, resolveu pegar pesado: atacou o que sobrou dos bolinhos Twinkies de Babe. Também tomou o que sobrou de uma garrafa de vinho que ganhou de uma de suas clientes no penúltimo Natal. De garrafa na mão e um prato com os bolinhos, ela subiu as escadas e tentou não pensar em Dillon, e se ele estava beijando melhor ou não. Obviamente, havia melhorado. Do contrário não teria todas as mulheres da cidade a seus pés. Quer dizer, a maioria das mulheres da cidade. Eram apenas amigos, ela pensou enquanto tirava a roupa para se enfiar na cama. Assim como vira o Dillon de verdade, ele vira a Meg de verdade. A Meg que não conseguira cancelar sua assinatura de Sports Illustrated. A Meg que de vez em quando ainda brincava com a bola de beisebol no quintal quando tinha certeza de que os vizinhos não estavam olhando. O que explicava por que ele pouco fizera além de flertar com ela naquela noite. Não que ela quisesse que ele fizesse mais. O princípio da coisa era o que importava. Obviamente que ele, como todos na cidade, não poderia simplesmente enxergar a Gata Sensual na qual Meg se transformara. Ainda não. Nem nunca, murmurou uma voz. Uma voz que ela rapidamente ignorou enquanto devorava dois dos três bolinhos e tomava um bom gole de vinho, aninhada debaixo da coberta. Se Dillon pudesse convencer uma cidade inteira que o conhecia desde criança, então ela também podia. Mais ainda, ela podia ser bastante convincente para entrar na lista de Gatas Sensuais. Tudo que ela precisava fazer era se encher de disposição, aprender tudo que pudesse com Dillon e não atacá-lo enquanto isso. Tudo bem. Meg Joãozinho fazia parte do passado. Ao menos era disto que ela queria se convencer.

CAPÍTULO CINCO ELA precisava que ele a ajudasse a dar uma turbinada em seu sex-appeal. Mais ainda, ela queria que ele fizesse isso. Dillon estava sentado no pequeno escritório onde ficava a parte administrativa — ou seja, mesa, fichário e computador de última geração — da Skull Creek Motos, tentando tirar da cabeça Meg e sua proposta. A verdade ecoou em sua mente, provocando uma contração na virilha e remexendo o maldito desejo que dava voltas dentro dele. Tentou combater as sensações e se concentrar. Tinha trabalho a fazer. Estava desenvolvendo um software para uma nova linha de motocicletas a ser lançada no outono. Depois que saiu do motel passou meia hora trabalhando intensamente nos modelos que seriam o ponto de partida para cada motocicleta. No momento, Jake e Garret estavam trabalhando apenas com um esboço, desenvolvendo as motos e resolvendo os Projeto Revisoras 22


Encanto Eterno – HFuego nº 17 – Kimberly Raye problemas à medida que iam aparecendo durante a construção. O programa de computador que Dillon estava utilizando simplificaria tudo e permitiria prever qualquer problema mecânico ou estrutural antes que aparecesse. O computador processaria a informação e montaria uma moto virtual, apontando erros e "consertando-os" antes da produção real. Faltavam poucos dias para Dillon fazer os acertos finais no programa, o que significava que não estava precisando de distração no momento. Observou uma linha de código específica, mas, em vez de ver uma seqüência de números e letras, ele viu Meg, seus lábios fartos e beijáveis, seus olhos azuis cheios de determinação. Sentiu um leve tremor de excitação, seguido por uma onda de pessimismo. Ainda não conseguia compreender por que ela estava pedindo ajuda. Como sabia ler pensamentos, agora ele sabia que ela jamais pedira nada a homem nenhum. Jamais exigiu, forçou a barra ou foi grossa. Não mais. Havia abdicado de qualquer comportamento agressivo em se tratando de sexo. Queria um homem quê a desejasse. Queria se sentir desejada, sexy e confiante no sucesso de sua transformação de garota abrutalhada em mulher curvilínea. No fundo ela não tinha tanta certeza. Ele percebera a verdade em seus olhos, do jeito „ como ele via tudo mais em relação a ela — ela estava endividada até o pescoço, pagando a prestação da casa de seus sonhos, tinha uma cadela viciada em Twinkies, adorava seu trabalho, apesar de passar o dia inteiro atarefada, e tinha certeza de que iria duplicar seu rendimento com a temporada de bailes de formatura daquele ano. Bem, ele já sabia de tudo. Suas esperanças. Seus sonhos. Seus medos — o maior deles era ser considerada a eterna Meg Joãozinho, a despeito de quanto tentasse mudar as coisas. Razão pela qual ela pediu ajuda. Precisava dele. Ele, logo ele. O súbito surto de ceticismo o deixou ainda mais certo de sua decisão. Ele a ajudaria, sim, e a ensinaria seu "segredo". Não que ele fosse mergulhar suas presas em seu doce pescoço e trazê-la para o lado das trevas, até porque sua intenção de permanecer nele era nula. Jamais faria isso. Nem tinha certeza se conseguiria. Ainda estava aprendendo com Garret, e o vampiro mais velho sequer entrara em detalhes sobre o assunto. Mas, mesmo que não pudesse transformá-la, iria sim ensinar o que aprendera sobre sedução desde que fora transformado em vampiro. Um dos fatores-chave que fazia dos vampiros criaturas tão sensuais era que eles eram conectados a tudo. Eles viam as coisas mais vividamente, sentiam cheiros com mais intensidade. Escutavam os mínimos sons, seu tato era superdesenvolvido. Apesar de Meg não ter os sentidos desenvolvidos a tal ponto, ela os possuía, mesmo assim. Se aprendesse a usá-los mais, a confiar mais neles, ele não tinha dúvida que seu potencial de sedução se multiplicaria por dez. O bastante para torná-la irresistível para todos os homens da cidade. Só de pensar ele sentiu ciúme. Compreensível, é claro. Eles eram amigos. Era totalmente normal que ele fosse protetor em relação a ela. Além disso, ele se sentia bem mais excitado do que o normal exatamente por ela não se oferecer para ele como todas as outras. Ela conhecia o verdadeiro Dillon, o que a deixava ainda mais determinada a não ir para a cama com ele. O que, por sua vez, aumentava ainda mais sua determinação de dormir com ela. Graças ao livre arbítrio os seres humanos eram bem mais poderosos do que sabiam. Apesar de um vampiro realmente ser capaz de hipnotizar, essa capacidade sobrenatural não significava nada se a pessoa em questão não estivesse com vontade. Projeto Revisoras 23


Encanto Eterno – HFuego nº 17 – Kimberly Raye A maioria das mulheres queria ser tomada pela paixão. No fundo elas tinham enorme vontade de fazer um sexo selvagem e arrebatador com um estranho carismático, de modo que estavam sempre abertas e vulneráveis à sua sedução. Meg não era muito diferente das demais mulheres quanto a isso, e esse era o problema. Dillon não era um estranho, e a última coisa que ela queria era sexo selvagem com ele. Se ele pudesse seduzi-la a ponto de ela conseguir se esquecer da imagem do nerd que ele fora, saberia então que no fundo estava fingindo que era nerd o tempo todo. Que na verdade não era um fracasso com as mulheres. Seduzi-la seria a prova máxima. Ficou animado com a idéia. O cheiro do xampu de morango deu voltas em sua cabeça e ele foi tomado pelo desejo. Estava salivando, seus músculos ficaram retesados e teve de se esforçar para continuar sentado. Tinha que ir aos poucos. Uma lição por vez. Até ela alcançar um ponto sem retorno. Podia levar um dia. Uma semana. Mas no final ela acabaria se oferecendo a ele. Disso ele tinha certeza. Enquanto isso, continuaria com sua rotina. Passou mais 15 minutos trabalhando no código antes de fechar a tela de design e passar para a segunda encomenda de trabalho: cumprir sua promessa a Jake e Garret Ficou olhando através das janelas que separavam o escritório da loja. Jake McCann estava perto de uma grande mesa de metal onde estava o esqueleto do que em breve seria mais uma moto feita sob encomenda. Ao contrário da maioria das motos que andavam produzindo, esta não era feita para uma pessoa específica. Na verdade, era um modelo especial feito para publicidade da Skull Creek Motos no resto do país. Como a maioria dos homens na pequena cidade texana, Jake usava botas e chapéu de caubói, jeans, e estava sempre com seu sorriso fácil. Mas, ao contrário da maioria dos homens da cidade, Jake era legítimo. Tratava-se de um genuíno caubói que fora transformado em mil oitocentos e alguma coisa. Passara a vida como humano e boa parte da vida seguinte montando e trabalhando com cavalos para ganhar a vida. Na última década, ou coisa assim, trocou o cavalo por uma moto. Agora era um dos melhores no ramo de motos sob encomenda. E também estava profundamente apaixonado por Nikki Braxton, dona do salão de beleza mais popular da cidade. Nikki era bonita, legal, e mesmo assim era muito humana. E continuaria assim no que dependesse de Jake. Ao menos enquanto houvesse esperança de encontrar e destruir o senhor de Garret. Dillon olhou então para o outro homem de calça jeans, camiseta branca com uma caveira e ossos cruzados na frente e botas de motoqueiro. Estava no outro canto, perto de uma unidade de soldagem. Usava uma bandana vermelha, branca e azul na cabeça, chapéu de caubói desbotado, e, nos olhos, óculos de proteção. Mãos enluvadas procuravam uma longa tira de metal. Ele trabalhou a peça até transformá-la em um páralama traseiro. À parte isso, Garret não lembrava nem de longe um caubói. Quando foi transformado, em mil setecentos e tanto, era um patriota texano. Além de autêntico herói, era um dos fundadores de Skull Creek. Não que alguém na cidade soubesse sua identidade. Não, eles pensavam que Garret era apenas outro motoqueiro de casaco de couro que invadira sua pequena cidade para abrir seu negócio de motocicletas. Gostava de motocicletas velozes e mulheres mais velozes ainda, e se tornara uma espécie de modelo para Dillon. O vampiro mais velho andava lhe ensinando sobre sua nova condição de vampiro, mostrando como funcionavam as coisas e lhe passando o equivalente vampiresco dos Dez Mandamentos. Número 1? Não entrar na casa de ninguém, a não ser quando convidado. Edifícios públicos, tudo bem, do supermercado ao Salão dos Veteranos, mas em moradias só se Projeto Revisoras 24


Encanto Eterno – HFuego nº 17 – Kimberly Raye podia entrar quando solicitado. Número 2: nada de luz solar direta. Número 3: nada de objetos pontiagudos, inclusive facas, estacas e palitos de dente gigantes como aqueles que se usava no Poke Barbecue Joint. Número 4: nada de restaurantes italianos. A velha lenda segundo a qual o alho espanta os vampiros tem fundamento. Apesar de não ser capaz de matar a raça de Dillon, causava muita dor. Número 5: não comer nada sólido. Número 6: não mudar as cores dos olhos. Vampiros tendem a refletir suas emoções com os olhos, que mudam de cor freqüentemente, dependendo do seu estado de espírito. A maioria dos vampiros sabe controlar essa função. Como Dillon era jovem (como vampiro), ainda não sabia domar as emoções com a facilidade dos vampiros mais velhos, mas estava aprendendo. Número 7: não se transformar em morcego. Esse tipo de mudança tem seu preço, deixando o vampiro fraco e vulnerável. Ou seja, esse expediente deve ser evitado. Número 8: não ceder ao desejo de beber sangue e fazer sexo ao mesmo tempo. A não ser que queira se ligar a uma mulher pela eternidade. Quer dizer, sem chance. Dillon esperou tempo demais para liberar seu lado feroz. Não ia estragar tudo se amarrando a uma relação fixa. Número 9: não passar mais do que uma noite com qualquer mulher que seja. Quanto mais um vampiro fazia sexo com uma mulher, mais ela o desejava. A última coisa que um vampiro podia querer era uma atração fatal correndo atrás dele. O que levava ao número 10: ser discreto. A sobrevivência de um vampiro dependia de sua capacidade de se tornar incógnito, não se fazer notar e ser cauteloso. Por isso o chapéu de caubói que Garret usava. O vampiro agora estava morando em uma pequena cidade do Texas, daí que, como diz o ditado: "Em Roma, como os romanos." Enquanto Garret ensinava a importância de se misturar e estimulava Dillon a aceitar aquilo em que se transformara, o vampiro não parecia contente. Na verdade, parecia inquieto. Ansioso. Faminto. Mas não faminto por sexo ou sangue. Não, Garret queria o que Jake queria: ser humano. Dillon voltou sua atenção novamente para o computador e clicou no Internet Explorer. Poucos segundos depois entrou no site EncontreVampiros.com e rolou a página até o primeiro comentário publicado em sua página no dia anterior. Vampiramorosa: Olá, Skull Creek. Estou sem calcinha, e está quente demaaaaaaais. Estou aqui esperando vc, baby. Oba. Não era exatamente o que ele tinha em mente quando criou um blog poucas semanas atrás — para ver se conseguia alguma pista sobre o Vampiro Ancestral —, mas ao menos recebera algumas visitas. Não que ele realmente achasse que o pai de todos os vampiros fosse ficar no chat on-line, mas isso foi tudo em que conseguiu pensar para localizar o vampiro que transformara Garret. O mesmo vampiro que tinha a chave para que os três se tornassem humanos novamente. Destruir a fonte seria o mesmo que reverter a maldição de Garret e de todos aqueles a quem ele havia transformado, o que significava que Jake e Dillon também seriam libertados. Por mais que Dillon gostasse de ser vampiro, sabia que não podia se manter assim. Já dera preocupação demais aos pais, razão pela qual ainda não lhes contara de seu novo status de vampiro. Esperava não ter de contar. Através do blog conseguira algumas pistas Projeto Revisoras 25


Encanto Eterno – HFuego nº 17 – Kimberly Raye — nomes e lugares que iria checar agora. Com sorte, conseguiria ainda mais informações e acabaria acertando o alvo. Quando conseguisse localizar o Vampiro Ancestral, Dillon ajudaria os outros dois vampiros a destruí-lo. Então, poderia voltar a ser humano e voltar a bancar o nerd da cidade. Pensar naquilo o deixava mais ansioso ainda para quebrar o recorde de Bobby. Pois ele sabia que o momento era aquele. Sua chance de provar a verdade a si mesmo e construir bastante memórias para agüentar as longas e solitárias noites que teria pela frente na condição humana. Era agora ou nunca. Tenso, passou os dedos pelos cabelos. Sua virilha estava latejando e ele se revirou na cadeira de couro. Ele estava tenso demais. Faminto. Morrendo de fome. Você devia ter partido para o segundo tempo com a senhorita Gatinha Fogosa. Era o que ele costumava fazer. Era o que vinha fazendo desde que começou a entender no que havia se transformado, desde que aprendera o fato crucial que o sexo era a sustentação do sangue. Mais ainda porque, ao se alimentar de energia sexual, diminuía a sede de sangue. Claro que ele ainda precisaria se alimentar no sentido tradicional, mas nem de perto com a mesma freqüência. Outra razão para que ele tivesse buscado uma transa de uma noite só. Era o que tinha a intenção de fazer, mas quando voltou para o quarto do motel, depois de ouvir a proposta de Meg, não conseguiu mais tirá-la da cabeça. Apesar de ter se transformado em um vampiro supererotizado e guloso, não era infiel. Não conseguia ficar com uma mulher pensando em outra. O que queria dizer que não estava nem perto de estar satisfeito. Passou a mão novamente nos cabelos e deu um longo gole na cerveja estupidamente gelada que estava na mesa em frente. A cerveja não estava adiantando muito para aliviar o calor que o queimava por dentro. Ele se esforçou para prestar atenção na tela e ler a mensagem que estava postando. Andava tentando fazer com que alguém tivesse um lampejo de memória. VampiroSkullCreek: Tive aquele sonho de novo. Os detalhes eram tão claros que estou começando a achar que não é sonho e sim para valer. Estou me lembrando do que aconteceu comigo. A dor. A fome. A presença. Alguém mais se lembra dos detalhes? Quero me lembrar de um rosto, mas não consigo. Ainda não. É claro que não era verdade. Dillon sabia exatamente quem era o responsável pelo seu estado atual: Jake. O vampiro mais velho acabou transformando-o em vampiro em uma tentativa desesperada de lhe devolver a vida após ser inadvertidamente atacado por Garret. Era o aniversário da transformação de Garret, e ele instintivamente voltou ao lugar de sua morte para reviver os poucos momentos em que perdeu sua condição humana. Como qualquer vampiro passando pela transformação, estava fora de controle. Fora de si. Dillon entrara em seu caminho. Ele estaria seis palmos debaixo da terra agora se Jake não tivesse tomado a iniciativa de transformá-lo em vampiro antes que fosse tarde demais. Dillon jamais esqueceria aquele momento. A angústia de sentir sua vida se esvaindo, a excitação quando bebeu do sangue de Jake e sentiu uma nova vida, mais forte e mais potente que qualquer coisa que tivesse sentido antes. Da mesma forma, Jake se lembrava de seu próprio senhor, Garret. Garret era o único membro do trio de vampiros que não conseguia se lembrar. Claro que algumas imagens e impressões lhe voltaram ao longo dos duzentos anos póstransformação, mas não se lembrava com clareza de nada relacionado ao vampiro que o transformara. Em um minuto ele estava voltando para casa após brigar pela independência do Texas, Projeto Revisoras 26


Encanto Eterno – HFuego nº 17 – Kimberly Raye em outro, estava sendo atacado por um bando de bandidos mexicanos. Eles o roubaram e mataram, de acordo com os livros de história. Mas alguém, ou algo, apareceu e mudou tudo. Um dos bandidos? Talvez. Talvez não. Ele não sabia. Não houve nenhuma formalidade do tipo "oi, eu sou fulano de tal, o Vampiro Ancestral que vai transformá-lo e você vai virar vampiro em vez de virar adubo". O que aconteceu foi que em um minuto ele estava seguindo a luz para o além e, de repente, aquela luz foi obliterada por uma sombra sobre ele. Ele se lembrava da dor que invadiu seu corpo, do cheiro doce, intenso e inebriante que tomou conta de suas narinas, e de um medalhão de ouro. Dillon deu uma olhada no pequeno esboço que Garret fizera da peça. Esperava conseguir alguma informação sobre transformações recente para ver se conseguiria descobrir algum vampiro recém-transformado que se lembrasse do mesmo medalhão de ouro. Quem sabe o vampiro novato se lembrasse de mais coisas — descrição física, talvez até do nome. Foi rolando a tela e dando uma olhada nas várias postagens. Queroservamp: Pare de se preocupar com o sonho e aproveite. Eu daria tudo para um vampiro me transformar. Tentei usar presas de porcelana. Apesar de funcionarem direitinho, não é a mesma coisa que de verdade. PraSempreVamp: A dor é um estado mental. Um lugar aonde se vai. Se optar por não ir, então pode fazer o que quiser sem se preocupar. Ou então, pode tentar um Vicodin ou Xanax. Ambos funcionam comigo. AnjodasTrevas: E daí se dói? O segredo é não resistir. Aceite a sensação, regozije-se nela, cultue-a. Isto é o que você é. O que nós somos. Bradlmpalador: Tenho três pares de presas. Um dentista fantástico do Queens fez para mim, e são afiadas para diabo. Se eu conseguir algum cliente para ele, ganho desconto da próxima vez. Queroservamp, se estiver perto do Queens, quer que eu lhe apresente? Vamptástico: Estou vendendo dentes incisivos muito bons se alguém tiver interesse. Inclusive sou vendedor preferencial no eBay. Ofereço remessa grátis para encomendas de mais de um par. Também tenho excelente material pornográfico de vampiros. Vampiramorosa: Gosto de dor. Adoro levar palmadas. Talvez possamos nos encontrar e nos chicotear. O dia que você pintar por Chicago, conte comigo. Ou quem sabe eu posso ir ao Texas. Bate, caubói. Bate gostoooooooso... Ele leu o restante dos comentários — a maioria deles, com exceção do AnjodasTrevas, estava cheia de insinuações eróticas e dicas para virar vampiro — antes de postar novamente e mencionar a locação de sua transformação (e de Garret) e a época (mais de duzentos anos atrás). Ele estava desligando o computador quando Jake abriu a porta de vidro e enfiou a cabeça para dentro do escritório. — Ei, amigão, pode me ajudar um minuto? Quero encaixar o tanque no lugar e preciso de ajuda. — Claro. — Dillon seguiu Jake até a loja e o ajudou a segurar o tanque no lugar enquanto ele tirava medidas. Depois passou as horas seguintes aprendendo a arte de modelagem de tanque. O que era bom, pois ele estava desesperado para se distrair do desejo que o remoia por dentro e a insistente visão de Meg, que não lhe saía da mente: seu corpo nu debaixo dele, seus olhos acesos de paixão, o lábio inchado de tanto beijar, os seios intumescidos, os mamilos rijos e o corpo cálido e úmido! Mas, quanto mais ele passava os dedos pelo metal quente e liso, mais a visão se intensificava. Ele sentiu a pele quente dela nas mãos. Os seios quentes e enrubescidos dela contra seu peito. Droga. Ele a queria imediatamente. Não amanhã, ao se encontrarem para a primeira aula. Não dali a alguns dias, quando ele a seduzisse a ponto de ela não resistir mais à Projeto Revisoras 27


Encanto Eterno – HFuego nº 17 – Kimberly Raye atração entre eles. Agora. O desejo lhe corroeu por dentro enquanto terminava com o tanque. Tinha pouco mais do que uma hora até chegar a luz do dia. Tempo de sobra para chegar à casa de Garret. Estava morando com o vampiro mais velho em um grande rancho nas cercanias da cidade agora que sua própria casa estava fora de cogitação. Apesar de sua casa ser bem isolada, tinha janelas demais para ser confortável. Além de seus pais estarem acampados na frente da casa, determinados a fazê-lo desistir de seja lá que culto ao qual estivesse ligado. O rancho de Garret tinha uma velha adega suficientemente escura e segura para ele dormir durante o dia. O tamanho era bom e o isolamento, perfeito. Ele montou na motocicleta, despertando-a para a vida. Saiu do estacionamento com intenção de seguir para o leste, para o rancho. Só que suas mãos pareciam ter vontade própria e viraram à esquerda, para o oeste. A moto cantou os pneus na direção do centro da cidade. Ao chegar, desligou o motor que sibilava e chiava, e o barulho evanescente se misturou ao zumbido dos grilos e mais uma dezena de sons que eram levados pela fria brisa de abril. Sons que passavam despercebidos para todos, exceto Dillon. Desde que passara pela transformação, era como se alguém tivesse ligado um amplificador em seu cérebro. Ele ouvia tudo — os roncos de um casal de idosos a várias casas da dele, a voz antipática de algum garoto-propaganda da televisão de um vizinho próximo, o barulho de latas e o farfalhar de papel causado por um guaxinim na lata de lixo, o shhhhhhh contínuo de alguém urinando no banheiro. Fixou os olhos na casa rodeada por uma cerca branca e por abundantes canteiros de flores. Uma varanda cercava todo o térreo. Havia um balanço em uma das extremidades. Uma ampla sacada cercava o segundo andar, cheia de potes de plantas e móveis brancos. Era bem diferente da pequena cabana que Meg dividia com o pai antes de sua morte, mas Dillon sabia que a idéia era essa: enterrar o passado e esquecer. Aquele lugar tinha várias janelas, portas francesas e acabamento em amarelo brilhante. Era uma casa tão feminina quanto sua dona. Seu carro estava na entrada de automóveis, um Mustang conversível amarelo novinho em folha, que em nada lembrava a velha caminhonete Chevette marrom que dirigia na época do ensino médio. O carro era chamativo, sexy, excitante. Igualzinho a Meg. Ele sempre pensou isso, mesmo quando ela dirigia a caminhonete. Só que nunca teve coragem de confessar a ela, principalmente depois dos desastrosos primeiros beijos. A casa era uma das mais velhas da cidade, construída antes de 1800 e antes de existir ar condicionado e calefação central. Havia um condicionador de ar portátil perto da janela e das portas francesas do segundo andar. Ele sentiu o calor lhe correr pelo corpo enquanto emitia uma ordem silenciosa. O motor tossiu e soltou faíscas. O ronronar se transformou em um chiado perceptível. Os minutos se passaram enquanto ele esperava que Meg aparecesse à porta. Ela estava a poucos metros dele, dentro de um quarto totalmente escuro, mas ele via cada detalhe. Ela estava com uma camiseta cor-de-rosa e calcinha rendada. O suor se acumulou em suas sobrancelhas e fez brilhar sua pele enquanto ela abria a tranca. Abriu as portas e ficou ali, emoldurada pelas cortinhas atrás dela, respirando o fresco ar noturno. Respirou fundo várias vezes, e sua frustração aumentou. Ela precisava de mais alívio do que apenas a brisa fria sussurrando entre as árvores. Andava dormindo sozinha, a não ser pelo vibrador brilhante e vermelho que mantinha na gaveta da cabeceira, e estava desesperada. Precisava de um homem de verdade, e logo. Projeto Revisoras 28


Encanto Eterno – HFuego nº 17 – Kimberly Raye O pensamento foi levado pela brisa, através das árvores e cruzando a calçada. Parou enfim no cérebro de Dillon, a poucos metros dali. Observando. Esperando. Desejando. Foi tomado por um desejo que doía de modo intenso nas vísceras e se espalhava por todo o corpo, deixando-o trêmulo e abalado. E, de repente, não importava mais quem tomava a iniciativa. Ele queria tocá-la. Precisava. E era o que ia fazer. Sim. Agora.

CAPÍTULO SEIS ELA precisava jogar fora aquela janela quebrada, dar uma desfalcada na poupança e investir em um sistema de ar-condicionado central. Meg chegou a essa conclusão ao parar no umbral da porta e ter a satisfação de receber o leve vento que murmurava sobre sua pele corada. Tinha ficado dura após dar entrada na casa de seus sonhos, e em vez de substituir os aparelhos principais, tentou contornar com consertos e restaurações. Nos últimos cinco anos, desde que comprou a casa, chegou a consertar o segundo andar não apenas uma vez, mas quatro até agora. O ar-condicionado chiou e roncou. Agora são cinco vezes. Pensou que a primeira coisa que tinha a fazer na manhã seguinte era ligar para o senhor Abel, que conserta aparelhos de ar-condicionado. Poucos segundos depois, as três janelas do quarto estavam bem abertas. O ar entrou, aliviando um pouco do calor opressivo que a acordara. Mas, também, não era só o calor que não a deixava cair no sono. Ela passou boa parte da última hora se revirando na cama, tentando tirar Dillon Cash da cabeça. E daí que agora ele era sexy? E bonito? E — com exceção das roupas — tinha tudo para ser considerado o gostosão do momento? Ele ainda era apenas o Dillon. Seu amigo. Parceiro. O cara que lhe deu o pior beijo de toda sua vida. Claro, ele parecia convincente, mas ela sabia que não era bem assim. Não estava nem um pouco excitada nem alterada pela nova imagem dele. Não estava. Ignorando uma súbita onda de consciência que lhe percorreu a espinha, ela caminhou de volta para a cama. Deu uma rápida olhada na porta aberta. O luar se derramava sobre a varanda, iluminando os vasos de azáleas, a pequena mesa branca de vime e as cadeiras no mesmo tom, e ouviu o som do vento soprando. Tudo parecia como sempre, mas ela não conseguia deixar de sentir algo inexplicável e diferente. Parecia que alguém — ou algo — estava ali com ela. Por uma fração de segundo ela viu uma figura alta e musculosa parada perto da cerca, projetando uma sombra enorme ao luar. Seu coração disparou e ela não entendeu nada. Assim, do nada, a imagem desapareceu. Ignorou o súbito ribombar em seu peito, voltou para a cama, esticou o corpo sobre o lençol e fechou os olhos. Seus hormônios estavam, com certeza, agindo. Ela estava tão desesperada por companhia masculina que estava começando a imaginar coisas. Um homem na sua varanda. Antes fosse! Forçando-se a respirar fundo, ela se concentrou na oscilação da respiração em seu Projeto Revisoras 29


Encanto Eterno – HFuego nº 17 – Kimberly Raye peito. Para cima. Para baixo. Para dentro. Para fora... Logo a tensão em seu corpo desapareceu. Seus músculos relaxaram e sua mente tornou-se nebulosa. Estava quase pegando no sono quando uma súbita rajada de vento entrou pela janela, agitando as cortinas. Ela abriu os olhos e sentiu algo lhe picando a pele. Ficou arrepiada. Esticou a mão para acender o abajur e a luz afastou as sombras. Seus olhos giraram em pinguepongue, de um lado para outro, mas não havia ninguém. Apenas uma penteadeira abarrotada de cosméticos, um espelho, uma pilha de calcinhas que ela não tinha tido tempo de dobrar e um monte de catálogos novos de moda de vários distribuidores. Apagou a luz, voltou para debaixo da coberta e fechou os olhos de novo. Expulsou a imagem de Dillon que lhe veio à mente — os olhos dele, verdes e brilhantes, o sorriso matador no canto da boca — e se concentrou em rever a agenda do dia seguinte. Quando Meg conseguiu, finalmente, repassar todos os compromissos, seu coração diminuiu o ritmo e seus nervos se acalmaram. Estava bem perto de apagar completamente quando sentiu um leve puxão no lençol de algodão. Abriu um olho a tempo de ver o lençol descer pelas suas pernas e parar ao redor dos tornozelos. O vento brincava sobre os dedos dos pés. A sensação foi aumentando, passando pelas panturrilhas, pelos joelhos, pelas coxas. A borda de sua camiseta começou a subir, expondo sua calcinha cor-de-rosa sedosa, vários centímetros de pele, o umbigo, mais pele, a parte de baixo dos seios. Meg retesou as coxas. O tecido ficou agarrado aos mamilos inchados. Ela ficou sem ar, levantou o peito e seus seios roçaram no tecido. Era uma sensação desconcertante. Erótica. Proibida. Absurda! Abriu o outro olho e observou, perplexa, o tecido levantando, passando pelos mamilos, expondo os bicos inchados. A barra da camiseta dobrou como se manipulada por dedos invisíveis... Fechou os olhos e seu coração começou a bater forte. O vinho. Só pode ser o vinho. Jamais foi de beber muito, razão pela qual a garrafa durou mais de um ano. Usava mais para cozinhar e de vez em quando se permitia beber uma taça. Mas nunca logo antes de se deitar. E com bolinhos Twinkie. Estava açucarada e bêbada. Era este o problema. Não era de admirar que estivesse imaginando coisas. O lençol. A camiseta. O homem à porta... Espere aí. Piscou os olhos e viu, por uma fração de segundo, os conhecidos olhos verdes e a boca sensual, mas então a imagem saiu de foco e sumiu. Ah, claro. Porque não é real. Não existe a menor possibilidade de Dillon Cash estar parado de pé em sua varanda. Você está tendo alucinações de tanto açúcar e álcool, ponto final. Vinho, nunca mais, jurou a si mesma. Fechou bem os olhos. Um sonho. Sim, era isso. Um sonho louco e bizarro, fruto de excesso de açúcar e álcool. Um sonho louco, bizarro e semiprazeroso, ela reconheceu minutos depois, seu corpo ainda sentindo o tecido se deslocar para lá e para cá. Ela respirou fundo. Seus mamilos roçaram contra o algodão de sua camiseta e seus seios começaram a formigar. Certo, então agora tinha o que dizer da combinação de Chardonnay e bolinhos Twinkie antes de deitar. Pensando nisso, foi caindo em sono profundo, nem um pouco alarmada, até que o lençol começou a descer novamente e sua camiseta começou a subir. De novo! ELE NÃO podia tocá-la na realidade. A verdade se cristalizou quando ele parou à porta e tentou passar da soleira. Uma Projeto Revisoras 30


Encanto Eterno – HFuego nº 17 – Kimberly Raye parede invisível impediu que ele tivesse acesso àquela mulher tentadora deitada na cama. A camiseta estava debaixo do braço, seus seios atraentes estavam rubros e o lençol aos seus pés. Sua pele parecia pálida e suave contra o lençol em tom verde-pastel. Baixou os olhos em direção à calcinha simples que ela estava usando. Não havia o menor traço de pêlo saindo pelas pernas da calcinha, e ele sabia que a pele debaixo dela era tão suave e lisa quanto o resto do corpo de Meg. Ficou com água na boca, suas mãos tremeram. Dava para sentir o desejo vibrando no corpo dela. Ela o chamava, implorava para que ele continuasse, tentando-o até ele tremer com a força daquele desejo. Acorde-a, murmurou uma vez. Ela vai convidá-lo. Se ela fosse qualquer outra mulher daquela cidade. Mas não era. Ela era a única mulher que conseguia resistir a ele. Era por isso que, naquela noite, ele não ia saciar os próprios desejos Iá, isso sim, atiçar os dela. Agarrou-se a essa determinação e conteve seus impulsos. Concentrando-se na garrafa de vinho quase vazia, enviou um comando mental. A garrafa flutuou até chegar aos seios fartos. Meneando a cabeça levemente, fez a garrafa se inclinar. Um filete de vinho escorreu sobre o mamilo e ela arregalou os olhos. Com olhos confusos e em pânico, viu a garrafa e a soleira da porta onde ele estava. Seus olhares se cruzaram. Relaxe. Ele enviou o comando mental e esperou que ela estivesse exausta e semiadormecida para não resistir. Ela arregalou os olhos, seus lábios se entreabriram e por um instante ele achou que ela fosse gritar. E só um sonho. Ele enviou este pensamento e ela mordeu o lábio inferior. Os olhos dela brilhavam de desejo. Uma fantasia, ele acrescentou. Então relaxe e aproveite. Os cílios dela estremeceram e ela relaxou. Ele voltou a atenção novamente para a garrafa de vinho e deu um comando para o recipiente se inclinar outra vez. Mais um filete caiu sobre o mamilo de Meg e desceu pelo lado do seio, molhando o lençol debaixo dela. O mamilo inchou, reagindo à sensação, implorando por mais. Ela arqueou o corpo, parecendo pedir por mais, mas dessa vez ela não abriu os olhos. Porque, para ela, aquilo era apenas uma fantasia. Uma fantasia da sua cabeça, muito vivida e erótica. Ao se dar conta disso, ele ficou aliviado, mas também um pouco irritado. Por mais que gostasse de ser o astro das fantasias eróticas de Meg, queria que ela estivesse bem acordada e consciente ao se entregar a ele. Aquele pensamento o perturbou por um segundo, e então ela respirou fundo e inflou o peito. Seu mamilo estremeceu e o olhar dele focalizou uma pequena veia azulada perto da aréola. Ele sentiu um desejo doloroso e os dentes afiados contra a língua. A região genital pulsava. Do canto do olho, viu o próprio reflexo e a incandescência roxo-escura de seu olhar. Ele retesou cada músculo, lutando contra a emoção que se revirava dentro dele até seus olhos se acenderem em rico tom de verde. Fácil. Murmurou o comando mentalmente e ele se controlou firmemente. Voltou a atenção para a garrafa de vinho, que inclinou a ponto de roçar em um dos mamilos. Ela arfou. O som chamuscou o espaço entre eles dois e lhe deslizou ouvidos adentro, atiçando a parte mais viva dele. Uma onda de desejo veio pulsando do, corpo dela e de repente ele soube, além de qualquer dúvida, que ela não se deitava com homem nenhum já fazia tempo demais. Ao se conscientizar disso ele sentiu uma estranha satisfação invadi-lo, e ficou ainda mais determinado a resistir ao seu maldito desejo e satisfazer o dela. A garrafa virou mais, derramando vinho sobre a barriga dela. O líquido rosado formou uma poça no umbigo e foi descendo lentamente na direção da calcinha rendada. Projeto Revisoras 31


Encanto Eterno – HFuego nº 17 – Kimberly Raye Ela gemeu e ele foi derramando um pouquinho mais, lentamente, aqui e ali, até esvaziar completamente a garrafa, a calcinha ficar encharcada de vinho e do desejo dela. Ele arrastou o gargalo frio da garrafa na parte externa de uma perna, foi passando para dentro do joelho, da coxa, louco de ansiedade para chegar à barreira rendada entre as pernas. Esfregou a boca da garrafa para cima e para baixo contra o tecido. Ela arfou e arqueou os quadris, desejando mais. Ele sentiu seus olhos ardendo ao fazer a calcinha descer pelas pernas até sair pelos tornozelos e pelos pés e cair ao lado dela na cama. Meg abriu as pernas, oferecendo a ele uma visão completa dos lábios quentes e úmidos que ansiavam por ele. Ao primeiro toque do vidro frio em sua fenda tenra e suave, ela abriu os olhos com cílios trêmulos. Primeiro ela viu a garrafa entre suas pernas, em seguida, olhou para ele. Houve um instante de confusão e pânico, e suas emoções se transformaram em uma flama de paixão, e ela sorriu e murmurou: — Não é à toa que Babe adora bolinhos Twinkie. Ele a esfregou com a garrafa e ela fixou seu olhar flamejante e fascinado no rosto dele, e foi descendo até deparar com a prova máxima do desejo dele, que parecia prestes a explodir de dentro da calça jeans. Ele quase não agüentou de vontade de entrar para valer no quarto, abaixar o zíper, abrir bem as pernas dela e mergulhar naquele corpo molhado. Não conseguiu, e ficou olhando para ela, para dentro dela, fazendo com que ela fechasse os olhos outra vez. Finalmente, ela cedeu e deitou a cabeça no travesseiro macio, entregando-se à sensação. Ele continuou com as carícias, subindo e descendo, de um lado para outro, até uma gota cálida pingar dos lábios úmidos e escorrer pela boca da garrafa. Ela arqueou as costas e se levantou da cama. Um gemido gutural escapou dos lábios dela e uma onda de êxtase a envolveu. Observar aquilo era quase tão bom quanto saboreá-la de verdade. Sua excitação agora latejava dolorosamente, e ele sentiu que estava chegando ao seu limite. Recorreu às derradeiras reservas de autocontrole e deu uma última olhada para ela antes de se obrigar a partir. Sem fazer ruído, desceu pelo corrimão e chegou ao chão. Um leve brilho tingia o horizonte enquanto ele sentava de pernas abertas sobre a moto e dava a partida. Poucos minutos depois ele já estava a toda velocidade na estrada que levava ao rancho. Chegou ao seu destino quando os primeiros raios de sol tocavam as copas das árvores. Suas botas começaram a soltar fumaça quando ele caminhou para a casa. O calor chamuscava as solas de seus pés e emitia jorros de dor às panturrilhas. Ele se jogou para dentro de casa. Apesar de estar fora do alcance direto dos raios solares, ainda havia um pouco de luz entrando pelas janelas, sugando suas forças enquanto ele foi caminhando, trêmulo, até a adega que Garret levara um mês para dividir em duas áreas separadas por um corredor. Uma forte presença emanava lá de dentro, e Dillon viu que Garret tivera a sabedoria de ir para a cama em um horário adequado. Dillon abriu sua porta e poucos segundos depois estava tirando as botas dos pés que ardiam e se esticando na cama king size do amplo quarto, tentando acalmar seu coração acelerado. Nos dois meses desde que fora transformado, jamais havia permanecido fora até o amanhecer. Sabia que não podia. Fechou os olhos e tentou receber a escuridão absorvente, mas estava excitado demais. E não era por quase ter conseguido fritar sob o sol. Não estava sentindo cheiro de borracha queimada ou pele empolada, ele sentia o aroma inebriante de vinho doce e de mulher. Suas narinas inflaram, o aroma se intensificou e lhe veio a imagem de Meg, com seu corpo ruborizado e arfante querendo mais. Projeto Revisoras 32


Encanto Eterno – HFuego nº 17 – Kimberly Raye O recorde de Bobby não significava mais nada. AQUELA FOI a mais incrível experiência sexual de sua vida. Quer dizer, teria sido se tivesse sido real. Foi o que Meg pensou ao abrir os olhos na manhã seguinte, a camiseta ainda enrolada debaixo dos braços, a calcinha aos seus pés. A luz do sol penetrava pelas portas francesas abertas, iluminando os lençóis manchados e a garrafa de vinho vazia. Um calor lhe subiu às bochechas e ela se forçou a se levantar. Pôs a garrafa na mesinha de cabeceira, jogou a embalagem de Twinkie na lata de lixo e tentou ignorar a dor reveladora entre as pernas. Não havia do que se envergonhar. Já se masturbara dezenas de vezes antes. Mas nunca sendo observada por Dillon Cash. Um Dillon de fantasia, ela concluiu ao caminhar até o banheiro para tomar um banho frio. Apesar de seu orgasmo ter sido bem real, as circunstâncias não foram nem um pouco. Dillon não estava parado à sua porta. A garrafa de vinho não se mexeu sozinha. N-ã-o. Cabeça feita, ela passou a meia hora seguinte se preparando para ir trabalhar. Quando finalmente saiu de casa, com a xícara de café na mão, deu um jeito de reduzir seus pensamentos loucos e encarar a verdade — estava louca de desejo. Tanto que estava desenvolvendo fantasias e achando que eram reais. Jogou sua pasta no banco do acompanhante, encaixou a xícara no porta-copo do carro e virou para pegar o jornal que estava jogado no piso. Não tinha tempo a perder pensando no impossível. Tinha uma loja para gerenciar. Mandara publicar um anúncio novo hoje com cupom de promoção, e esperava de todo coração que Glenda, a dona do único jornal de Skull Creek, tivesse feito tudo direitinho. Da última vez, Meg quis publicar um cupom de 20 por cento de desconto, mas Glenda — que tinha 76 anos e péssima audição — publicou 60 por cento. Meg se viu obrigada a honrar o cupom para não entrar em atrito com as freguesas, e perdeu rios de dinheiro. Em vez de encomendar o anúncio por telefone dessa vez, ela digitou tudo e entregou pessoalmente a Glenda. Abaixou-se para pegar o jornal e viu de relance as marcas negras perto da calcada. Sua memória despertou e subitamente ela estava na cama de novo, arfando e retorcendo o corpo. Em meio ao prazer que pulsava em suas têmporas ela ouviu o rosnado de um motor, pneus cantando e... Deixou de lado aqueles pensamentos malucos, ignorou a comichão por dentro e pegou o jornal. Entrou no carro, enfiou a chave na ignição e partiu sem olhar para trás. Nem uma olhadinha sequer. Porque era totalmente impossível que Dillon Cash tivesse aparecido em sua casa na noite passada, escalado a varanda e assistido ela ter o melhor orgasmo de toda sua vida. Ao menos foi nisso que Meg quis acreditar. O problema é que não estava realmente conseguindo se convencer disso.

CAPÍTULO SETE — DÁ um tempo. A voz incrédula penetrou os ouvidos de Meg. Ela levantou os olhos da tela do computador e olhou para a jovem sentada à mesinha do outro lado do almoxarifado com um jornal aberto. Terry Lynn Hargrove era a única funcionária de Meg em horário integral. Ao contrário Projeto Revisoras 33


Encanto Eterno – HFuego nº 17 – Kimberly Raye das outras três funcionárias, que trabalhavam meio expediente, ela não era local. Era nascida e criada em uma cidade próxima chamada Junction. Conheceram-se fazia quase dez anos em uma faculdade comunitária em San Antônio. Meg acabou se formando, mas Terry largou o curso para se casar com o homem de seus sonhos. O tal homem era agora seu ex-marido e astro principal de suas fantasias de vingança — ela o flagrou traindo-a. Terry agora morava em Skull Creek, trabalhava para Meg durante o dia e estudava através de vários cursos on-line à noite. Tinha longos cabelos castanhos, uma figura chamativa, dentes perfeitos e olhos castanhos tão amplos e inocentes que deixariam Bambi com inveja. Também sabia identificar uma roupa falsificada a metros de distância. Usava saia, camiseta de roqueira com strass e botas de caubói. Em Junction ela foi considerada a estudante mais bemvestida, bem como líder da torcida e rainha da escola. No ano anterior ela fora a primeira mulher de fora da cidade agraciada com uma posição na cobiçada lista de Tilly. Uma grande honra que ela comemorou correndo mais alguns quilômetros na esteira. Terry também era seriamente dedicada à própria saúde, desde que engordara nove quilos durante o casamento com o Canalha. Ao perder o homem, perdeu peso, e agora estava determinada a se manter longe de ambos. Bebeu um gole de leite de soja batido e levantou o jornal. — Você viu isto aqui? — O quê? —A foto na primeira página do caderno de estilo de vida da semana passada? — Não tive tempo. — Meg voltou sua atenção para o computador e terminou de encomendar os vestidos promocionais para as gêmeas Weatherby; modelos de tafetá cor de chiclete com strass e compridos, até o chão. — Por que está lendo o jornal da semana passada? — Para ficar a par das novelas. Fico aqui o dia inteiro e não tenho mais tempo de assistir às minhas novelas favoritas, e semana passada tive muito dever de casa. Estou vendo que Claire disse a Darius que está grávida. — E Darius é quem mesmo? — Nada menos que o cara mais gostoso da TV. Claire diz que é dele, mas ela não vale nada. Aposto que é do Julian. — Por que não grava as novelas? — Porque, para isso, eu teria de comprar um DVD player fabricado na China. Recusome a apoiar uma indústria que está envolvida até o pescoço com trabalho infantil. Terry também era humanitária, membro do PETA — grupo defensor dos direitos dos animais — e no ano anterior participara de uma caminhada pela liberdade das lagostas. — Você pode comprar um Tivo. — E contribuir para a dominação mundial pelas grandes corporações? — Dá para gravar vários programas. Ela pareceu pensar no assunto. —Eu posso escrever uma carta com críticas bem diretas ao me inscrever. Só para deixar clara minha opinião. Assim não estaria comprometendo meus princípios. — Apenas flexibilizando-os um pouquinho. — Exato. — Terry voltou a atenção para o jornal e balançou a cabeça. — Dillon Cash e Ava Laraby. Dá para acreditar nisso? Os dedos de Meg pararam no meio da digitação. Estava óbvio que ela não era a única que não havia engolido direito a transformação de Dillon. Lembrou da noite anterior e sentiu algo diferente. Você engoliu sim, irmã, e é só questão de tempo para você cair nos braços dele, como todas as mulheres da cidade. Ignorou a súbita excitação que lhe virou a cabeça e voltou ao descrédito inicial. — É bem louco, não é? — Ava Laraby tinha sido campeã de dança, era bonita, sociável, e Dillon seria capaz de vender a alma ao demônio para ganhar um sorriso que fosse dela. — Não que as pessoas não possam mudar — surpreendeu-se consigo Projeto Revisoras 34


Encanto Eterno – HFuego nº 17 – Kimberly Raye mesma ao dizer. — As pessoas podem mudar, e não devíamos criticá-las por isso. — Vou tentar, mas não é tão fácil assim. Quer dizer, Dillon e Ava. Eles não combinam. São como água e óleo. Peixe e vinho tinto. Gucci e Donna Karan. — Não diria que são tão diferentes assim. — Está brincando? — Olhou para Meg como quem diz "Acorda!" — Ela é bem diferente dele. A sensualidade dela foi decaindo desde que a conheço. Veja só essa saia. — Tomou mais um gole da soja. —Alguém precisa dizer a essa garota que não se usa mais estampa floral. E esse permanente no cabelo? Ainda existem cabeleireiros que fazem isso? — Eu sei que o salão Lindo de Morrer faz ao menos cinco permanentes por mês. — Quando Terry arqueou uma sobrancelha, Meg deu de ombros. — Nikki comentou comigo na última vez que estive lá. Ela disse que ainda é um dos cabelos mais sensuais. — É, para as coroas. — Terry balançou a cabeça. — Esses dois são completamente diferentes. — Você acha mesmo que Dillon é sensual demais para Ava? Terry a fulminou com os olhos. — E você não acha? — Jogou o jornal para ela. Meg viu a foto. Até de calça Levi's surrada e camiseta com a inscrição "Computadores também precisam de amor" Dillon era atraente. Sexy. Seus olhos brilhavam de um jeito que fazia Meg tremer. — Ele é ainda mais gostoso pessoalmente — Terry continuou. — Eu o vi no bar Jimmy Joe's semanas atrás. Achei que ia ter um treco. Mas acho que não devo lhe contar isso. Vocês são amigos, não são? — Não nos vemos tanto quanto antes, mas, sim, ainda conversamos de vez em quando. Entre outras coisas, murmurou uma vozinha. Uma voz que Meg tratou de afastar. Terry sorriu. — Quem sabe você não nos apresenta. — Já os apresentei umas dez vezes antes. — Mas Terry nunca olhou para Dillon com outros olhos. Até agora. Meg jogou o jornal de lado e a outra sorriu. — Erro meu. — Olhou para a foto de novo. — Honestamente, não me lembro de ele ser assim. Com certeza, ficou mais gostoso. Ele está fazendo aulas de sedução com você? — Ele anda pesquisando on-line. — Pesquisando como ficar gostoso? — Algo assim. — Está dando certo. Infelizmente. Meg ignorou aquele pensamento louco. O sex-appeal recém-descoberto de Dillon era uma coisa boa, mesmo testando seu autocontrole. Porque testava seu autocontrole. Se ele era capaz de fazê-la esquecer o homem que ele era inspirar uma megadose de atração pelo homem no qual ele se transformara, então poderia ensiná-la a fazer o mesmo. Começando hoje mesmo. Já havia deixado duas mensagens para ele sobre o almoço. Quando ele ligasse de volta, eles iam se encontrar, e as aulas começariam. Seu próximo encontro sexual certamente envolveria um homem que tomasse a iniciativa com ela, não o contrário. Quer dizer, se ela não esquecesse seus princípios e sucumbisse, atacando Dillon primeiro. Seus mamilos tiritaram só de pensar, e ela franziu o cenho. — Falando em trabalho — ela finalizou a encomenda pelo site e se levantou —, Elise e Projeto Revisoras 35


Encanto Eterno – HFuego nº 17 – Kimberly Raye a filha estarão chegando a qualquer momento. Como se tivesse sido combinado, a campainha tocou. Terry deu um suspiro e pôs o jornal de lado. —Alguma idéia sobre o que você quer que eu arrume no vestiário? — ela perguntou ao se levantar. — Acho que não precisamos complicar demais. Todas as amigas de Elise gostaram do primeiro Marc Jacobs que eu mostrei. — Marc Jacobs é o cara. — Terry sorriu. — Só uma louca quebra a tradição. Louca, ou simplesmente teimosa. Meg chegou a essa conclusão após meia hora infrutífera com a filha de Elise, Honey Harwell. Ela tinha o mesmo tom de louro no cabelo que a mãe e as quatro irmãs mais velhas. Mas, ao contrário das outras mulheres da família Harwell, ela não gostava de usar os cachos de acordo com a última moda. Gostava mais de enfiá-los dentro de um boné escrito "Lady Bulldogs", em homenagem a um time de beisebol feminino local. Usava macacão jeans, colete de jérsei e tênis. — Mas sua irmã usou um vestido como esse quando se formou — Elise Harwell disse à filha mais nova. Ex-miss Skull Creek, agora com quarenta e tantos anos, ela era mulher do prefeito e mãe de cinco filhas. Seus longos cabelos louros estavam, como sempre, muito bem penteados, as unhas bem-feitas e o rosto com o batom Chanel e a sombra Christian Dior mais recentes. Ela usava uma blusa de seda creme, saia no mesmo tom e sapatos de salto alto dourados, e tinha um ar determinado que dizia que não sairia de lá sem um vestido. — Você simplesmente precisa usar um desses. Esse vestido está além das palavras de tão deslumbrante. Honey olhou para o vestido que a mãe segurava e balançou a cabeça. — Não. — Mas ele é perfeito — Elise insistiu. — E amarelo. — Cor de ranúnculo, meu bem, e é o tom ideal para sua pele. Experimente só. Honey balançou a cabeça e cruzou os braços. — Não vou vestir nada com nome de flor. Nem nada que tenha flores. Nem nada que tenha babadinhos. Não quero usar babadinhos. — Mas... — Não. A mulher pareceu disposta a discutir, mas acabou cedendo. — Muito bem, nada de flores — murmurou, enfim. Olhou para Meg e suspirou, exasperada. — Nem babados. Tchauzinho, Marc. — Claro. — Meg pegou então um vestido cor-de-rosa brilhante. — Aposto que esse vai ficar excelente. A garota olhou e fez bico. — Só se eu quiser ficar parecendo um chiclete gigante. Tudo bem. — Se eu não lhe conhecesse bem — Elise forçou um sorriso, apesar da sobrancelha arqueada —, diria que tem alguém que não está nada animada para seu baile de formatura. — Eu não estou animada para ir. Não quero ir. Você é quem está me forçando. — Besteira. Todo mundo vai ao baile de formatura. Ora, todas as suas irmãs foram rainhas do baile, ou ao menos chegaram bem perto. — Não sou minhas irmãs e não vou ser rainha de coisa nenhuma. Que cafonice. — Não tem nada de cafona em ser popular, querida — Elise disse com lábios tensos, ficando cada vez mais vermelha. — Que tal algo verde para combinar com os olhos dela? Projeto Revisoras 36


Encanto Eterno – HFuego nº 17 – Kimberly Raye — perguntou a Meg. — Esqueça — disse a garota antes que Meg tivesse tempo de se virar para pegai outra peça. — Não vou fantasiada de pepino. O sorriso de Elise desapareceu. — Quem sabe vermelho? — Vou ficar parecendo um picolé de groselha. — Que tal salmão? A garota revirou os olhos. — Isso não passa de um nome afetado para laranja. Estou fora de ficar parecendo uma laranja. A mãe estava com as bochechas vermelhas. — Que tal azul-marinho? — Escuro demais — Honey respondeu. — E bronze? — Muito chamativo. — E amarelo-esverdeado? — Vou parecer a Fiona do Shrek. — E um Valium, você quer? Meg sorriu. — Lamento, mas estou sem sedativos na loja, mas tenho uma boa garrafa de vinho Chardonnay. — Graças a Deus — Elise disse, gesticulando com a mão. — Juro, essa garota ainda vai acabar me matando. — Nós não precisamos passar por nada disso — Honey lembrou à mãe. — Precisamos, sim. Você não pode perder seu baile de formatura. — Por que não? — Porque não — Elise respondeu. — É algo que só acontece uma vez na vida. Uma tradição. Nenhuma filha minha vai deixar de comparecer ao seu baile de formatura. Depois você vai se arrepender. — Não vou, não. — Vai, sim. Elise e a filha olharam para Meg ao mesmo tempo. — Diga a ela — falou Elise. — Ela vai se arrepender. — Diga a ela que não vou. — Odeio ter de dizer isso, mas você provavelmente vai se arrepender, sim. Honey deu de ombros, teimosa. — Você só está do lado dela porque quer vender um vestido. Meg abriu a boca para dizer a Honey que não queria apenas vender um vestido, que sabia por experiência própria o que era se arrepender, mas Elise a cortou. — Honey Helen Harwell, isso é muito indelicado da sua parte. Espere só eu contar ao seu pai. Será muita sorte sua se ele não lhe deixar de castigo. — Quem sabe ele não me deixa de castigo na noite do baile. — Não espere por isso. Não ache que vai escapar tão facilmente... — Vou buscar uma taça geladinha de vinho — Meg interrompeu. — Por que vocês duas não chegam a um acordo quanto à cor, estilo, etc? Quando eu voltar, vejo o que posso fazer para ficarem satisfeitas. Elise fez que sim, Honey deu de ombros e Meg resolveu ser rápida antes que a coisa ficasse feia entre mãe e filha. — Vamos começar de novo — Elise suspirou, exausta. — Qual cor você tem em mente? — Não sei. Talvez uma camuflagem. — Traga logo a garrafa — Elise disse antes de Meg sair do vestiário. — Traga logo a droga da garrafa inteira. Projeto Revisoras 37


Encanto Eterno – HFuego nº 17 – Kimberly Raye ELE ERA O cara mais atraente do supermercado. Foi o que Meg concluiu mais tarde ao olhar para aquele desconhecido alto de cabelos escuros que estava parado na seção de carnes, perto de um colossal corte de alcatra. Camisa branca com colarinho aberto emoldurando os ombros largos. Calça preta acentuando as pernas compridas, a cintura bem-feita e o bumbum durinho. Ele se debruçou para pegar um pedaço de carne sem osso. A calça justa revelou os contornos certos e Meg ficou com água na boca. A caixa de Twinkies que Meg estava segurando caiu dentro do carrinho e ela ficou de boca seca. Ela ainda devia estar sob o efeito da fantasia da noite anterior. Havia fechado a loja fazia mais de meia hora, após esperar o dia inteiro que Dillon retornasse suas ligações. Evidentemente, ele não estava muito interessado na proposta dela, por mais que dissesse o contrário. E por que estaria? Enquanto ela estava indo com os ovos, eleja estava terminando de comer a omelete. Dillon não ia compartilhar seu segredo, de modo que podia perder as esperanças de entrar na lista de Tilly. Estava de volta à estaca zero, ainda em busca daquele algo mais que faria os homens da cidade olhá-la de uma outra perspectiva. Uma perspectiva sexy. Sexualmente frustrada ou não, ela não pretendia quebrar a promessa que fizera a si mesma de não mais tomar a iniciativa. Não, se Dillon não ia ajudar, então ela estava condenada a esperar até descobrir esse algo a mais em si mesma, o que significava que tinha mais noites frustrantes pela frente, como a noite anterior. Ou seja, ela precisava de Twinkies. Muitos Twinkies.

CAPÍTULO OITO — TEM uma mulher procurando por você — Nikki, namorada de Jake, anunciou naquela noite ao abrir a porta do pequeno escritório onde Dillon estava às voltas com suas anotações no computador. Já estava lá fazia uma hora, desde o pôr-do-sol para ser mais exato, e não tinha intenção de desligar tão cedo. Ele finalmente estava ligado a alguma coisa. Mais ainda, estava suficientemente distraído da maldita fome que o perseguira o dia inteiro. Quanto mais tentava dormir, mais pensava em Meg. Estava tão inquieto quando levantou que precisava deixar o tempo passar e esfriar a cabeça antes de vê-la novamente. Ele precisava de algo mundano e maçante, por isso foi trabalhar. Mas quando ele entrou em seu blog levou um choque que o deixou com quase tanta água na boca quanto ao pensar no corpo suculento de Meg. Entre os comentários do tipo "Quero ser sua, meu bem" e "Que tal uma amizade colorida" havia quatro postagens que realmente detalhavam experiências de transformação semelhantes às de Garret — o mesmo aroma doce e o mesmo medalhão. Todas as quatro eram experiências recentes e uma delas incluía até um nome de verdade — Joe — e um lugar, Bryan Street, sul de Chicago, quase seis meses atrás. Parecia que Joe mordera um internauta chamado VampNovato em uma noitada em Chicago. Entre uma discoteca e outra, VampNovato ficou sem gasolina e resolveu bater na porta de alguém para pedir para usar o telefone, pois o celular que tinha era dos mais baratos e não estava pegando. Joe proporcionou a VampNovato muito mais do que usar o telefone. O neófito ainda estava perturbado com a súbita mudança, tentando entender o que havia acontecido e lidar com a situação. Só se lembrava de acordar a cerca de uma quadra da última discoteca na qual havia entrado. Estava ensangüentado, sozinho e não fazia a menor idéia do que havia acontecido. Mas agora sabia e estava procurando loucamente reverter a situação. Projeto Revisoras 38


Encanto Eterno – HFuego nº 17 – Kimberly Raye Dillon lhe deu uma dica básica: destrua a fonte para se libertar — e então passou as horas seguintes catando na Internet os Joes da área em que VampNovato abriu os olhos pela primeira vez como vampiro. Achou quatro. — Ela passou o dia inteiro atrás de você — Nikki persistiu, afastando Dillon de seus pensamentos e da tela do computador. Ele levantou os olhos para a atraente loura que estava à porta e deu de ombros. — O que posso dizer? Quem pode, pode. — Claro. — Ela sorriu. — Candy Morgan, aquela garçonete do Shade Tree, falou sem parar de você semana passada. Acho que ela quer bis. E Lorelie Hellan e Gina Berkowitz e Tammy Fitzpatrick também. Ele balançou a cabeça. — Por mais que eu quisesse satisfazer a todas, Garret me arrancaria a cabeça. — Por isto, e por não lembrar mais de nenhuma daquelas mulheres. Apesar de saber que foi bom estar com elas, a única mulher que permanecia em seu pensamento era Meg. Ela era seu maior desafio, afinal. De modo que fazia sentido que ela não saísse de sua mente. Se não fosse isso, então ele gostava dela. Afastou o pensamento e se concentrou em Nikki. — Quem é essa mulher? — Ninguém que eu conheça. — A expressão dela ficou mais séria. — Quando ela chegou ao salão de beleza, achei que quisesse cortar o cabelo. Com aquele cabelo cheio de pontas duplas, bem que estava precisando mesmo. Mas antes que eu conseguisse fazê-la sentar em uma cadeira, ela começou a me perguntar sobre você. Como eu o conheci, quando o vi pela última vez, que horas você abria a loja... Eu respondi que você estava de férias e a loja estava fechada, mas ela não pareceu acreditar. E eu não achei mesmo que ela ia acreditar. Mary Lou Winegarten me disse que ela também andou fazendo perguntas a Pam. Mas estou um pouco preocupada. O fato é que ela parecia ansiosa demais. — Assim que Nikki acabou de falar, Jake apareceu à porta atrás dela. — Isso me parece uma caça ao vampiro — Jake disse, envolvendo a cintura de Nikki com os braços. — Talvez. — Nikki deu uma olhada no computador. — Seja quem for, meu palpite é que ela está ligada a você através do blog. — E por que você acha isso? — Porque ela o chamou de Vampiro SkullCreek. Ela tentou corrigir o ato falho, mas outras pessoas ouviram além de mim. Esse é seu nome on-line, não é? Dillon fez que sim, a mente dando voltas para encontrar uma conexão entre uma das postagens e alguém à sua procura. Claro, havia meia dúzia de mulheres querendo encontrá-lo, mas viajar quilômetros só para ir para a cama? Por mais ultrajante que parecesse, Dillon assistiu bastante tevê em seus tempos de humano — estava sempre com o aparelho ligado enquanto fazia reparos na sua loja — para saber que havia indivíduos desesperados e dispostos a tudo para ir para a cama. — Ela veio de dia — Jake observou. — O que significa que é, com certeza, humana. Ou é uma caçadora de vampiros, ou está louca para ser transformada, ou, então, é uma tiete de outra cidade que ouviu falar de você e veio ver com os próprios olhos. Ou talvez, quem sabe, ela tivesse algo a ver com o Vampiro Ancestral. Dillon não soube direito de onde havia tirado aquela idéia, a não ser pelo fato de parecer coincidência demais que, no mesmo dia que recebeu uma pista relevante, aparecesse uma mulher desconhecida à procura dele. — Seja como for, fique de olho — Jake disse a ele, com preocupação evidente no rosto. — Garret e eu vamos dar uma checada na área para ver se colhemos alguma informação sobre ela. Enquanto isso, faça o que puder para se manter afastado e evitar confrontos. Projeto Revisoras 39


Encanto Eterno – HFuego nº 17 – Kimberly Raye — Sei me cuidar sozinho. — Eu sei disso, mas não há razão para provar. Só tome cuidado. Ele apertou Nikki em seus braços como se jamais fosse deixá-la partir. E não ia mesmo. Era louco por ela, e ela sentia o mesmo por ele, a despeito do fato de ainda ser humana. Por isso mesmo, uma voz murmurou na cabeça dele. Jake era um vampiro e, portanto, qualquer mulher, que ele quisesse seria capaz de tudo por ele. Ao mesmo tempo, havia algo no jeito de Nikki olhar para ele que transcendia a vontade de arrancar as roupas dele e fazer sexo selvagem. Ela queria a pessoa dele, o homem que ele era e o vampiro que se tornara. O pacote inteiro. Dillon sentiu uma pontada de inveja ao observar o casal indo para a oficina na qual Garret estava trabalhando em sua atual criação. Não que ele quisesse que alguém — principalmente Meg — sentisse o mesmo amor incondicional por ele. Claro que ele gostava de Meg. Mas a última coisa — a última coisa mesmo — que Dillon queria era que alguma mulher se apaixonasse por ele e vice-versa. Não estava precisando de um relacionamento agora. Tinha um recorde a quebrar, e se a súbita ansiedade pulsando em suas veias queria dizer alguma coisa, seus dias de vampiro estavam contados. Mais uma razão para dar o fora da loja. Guardou suas anotações e desligou o computador. Ficou de pé, bateu no vidro, acenou para Garret, Jake e Nikki, despedindose, e saiu. Havia prometido umas aulinhas de sexo a Meg, e estava na hora de começar a ensinar o que ela queria. QUANDO MEG estacionou o carro na frente da casa de Dillon o sol já havia se posto e a escuridão cobria tudo. Ele morava nos arredores da cidade, o vizinho mais próximo ficava pelo menos a meia quadra da estrada de cascalho. Não havia uma luz sequer acesa dentro do espaçoso casarão de um só andar. Ela ficou pensando se devia ou não sair do carro. Ele não estava em casa. Ela já sabia disso. Assim como não estava na loja de computadores. O lugar continuava escuro, com uma placa pendurada na frente onde se lia "Fechado temporariamente para reformas". Certo. E ela tinha mais de dez homens se jogando aos seus pés, se oferecendo como escravos sexuais. Ela deu uma olhada pela janela e não havia o menor sinal de reforma. Ela o procurou também no quarto 4 do motel, mas ele também já havia fechado a conta e saído. Sentiu-se aliviada. Não que se importasse caso ele estivesse de safadeza com a senhorita Gostosona outra vez. É só que ela esperava começar as aulas imediatamente. O fato de não encontrá-lo no motel indicava que ele devia estar livre. Se ela conseguisse encontrá-lo. De seu cérebro veio o comando para dar marcha à ré e procurar por aí: na taberna Big Bubba, no bar Shade Tree, no Dairy Freeze — qualquer lugar onde os membros do sexo oposto pudessem se encontrar em Skull Creek. Com certeza, ele não estava em casa sozinho. Mesmo assim. Desligou o motor e saiu do carro só para ter certeza. Quem sabe ele estivesse tirando uma soneca. Após a noite passada — correção, depois dos dois últimos meses — ele devia estar exausto. Ela se agarrou àquela esperança, ignorou a apreensão que sentiu na base da espinha e caminhou para a porta. A luz de seus faróis cortou a escuridão, afastando as sombras e lhe dando uma visão parcial da varanda que cercava a casa. Os pelinhos da nuca eriçavam de tensão a cada passo. Não conseguiu tirar da cabeça a sensação de estar sendo observada. Antes estivesse. Projeto Revisoras 40


Encanto Eterno – HFuego nº 17 – Kimberly Raye A triste verdade era que Dillon provavelmente estava com outra mulher. Naquele exato momento ele devia estar sorrindo daquele seu jeito sexy e, fosse quem fosse a mulher daquela noite, sem dúvida tirando a roupa. Enquanto isso, Meg estava lá. O chão macio afundava debaixo de seus saltos altos. A escuridão lhe provocava. Uma corda se fechou ao redor dos seus tornozelos... O pensamento a fez despertar rapidamente. Claro, ela havia pisado em uma armadilha. O laço apertou. O náilon cravou em sua carne tenra e... — Agora! A voz urgente do homem rompeu o silêncio e antes que ela pudesse respirar, que dirá gritar, perdeu o chão. Um de seus saltos ficou enfiado no chão e a tira do sapato se rompeu. O pé se soltou e ela escorregou. Em um piscar de olhos, se viu pendurada de cabeça para baixo em um enorme carvalho na frente da casa de Dillon. O sangue correu para sua cabeça e ela piscou os olhos, confusa, seu corpo se debatendo enquanto duas sombras se aproximavam. Os momentos seguintes pareceram passar em câmera lenta, as vozes pareciam irreais, apesar de familiares. — Você devia esperar por mim — disse a primeira das sombras, a voz aguda e tipicamente feminina. — Desculpe, querida. —A sombra número 2 entrou num embate com os braços de Meg, que se debatia. — Não adianta choramingar agora — disse a voz feminina. — Ponha logo as algemas nele. — Algemas? Não estou com as algemas — disse o número 2. — Eu lhe dei as algemas para esterilizar. — E eu as esterilizei e devolvi. Você não as pegou? — Essa não. —A sombra número 2 soltou Meg, deu meia-volta e saiu correndo para pegar as algemas. — Juro que este homem esqueceria até do próprio nome se não fosse eu. Meg procurou se concentrar apesar da pressão na cabeça e olhar atentamente. Viu, de cabeça para baixo, uma figura com uma malha preta de corrida. — Senhora Cash? A sombra se aproximou e um rosto conhecido apareceu. — Meg? Querida, é você? Meg ficou aliviada e o medo que a invadia se desfez. — Sim, sou eu. — Achei as algemas — disse o homem, voltando. Também estava de roupa preta, mas, ao contrário de Dora Cash, estava com uma máscara de esqui no rosto. — Trouxe a pistola de tranqüilizante também. Vamos amarrá-lo, depois algemá-lo... — Não! — disseram Meg e Dora em uníssono. — Não é Dillon, é Meg — Dora disse ao marido. — Meg? — Harold Cash levantou a máscara de esqui, tirou os óculos bifocais do bolso da calça e os colocou no nariz. — Meg Sweeney? Olá, senhor Cash. — Meg acenou com os dedos. Eu estava procurando Dillon. — Nós também — disse Dora. — Passamos as últimas semanas acampados aqui para tentar agarrá-lo ao chegar em casa. Mas ele nunca aparece. Então resolvemos mudar de tática e acampamos no quintal, assim, quem sabe, ele acha que desistimos e resolve voltar. Quer dizer, ele tem que voltar para casa um dia, concorda? — É de se esperar que sim. — Um de nós fica aqui o dia inteiro, todos os dias, a não ser quando fomos parar na emergência do hospital, e ainda não o vimos — disse Harold. — Pobre Harold, apareceu um furúnculo em sua nuca. A irmã do marido da minha tia teve um destes que se espalhou pela cabeça inteira. Causou inclusive danos cerebrais. Felizmente, o de Harold não é tão mau assim. — Foi só uma picada de mosquito — o homem disse à esposa. Projeto Revisoras 41


Encanto Eterno – HFuego nº 17 – Kimberly Raye — Nada de só. Picadas de mosquito são perigosas. Pessoas morrem disso o tempo todo. Por esse motivo eu trouxe esta rede para mosquitos, apesar de estarmos equipados com diferentes tipos de repelentes. Cautela nunca é demais. — A segunda visita à emergência foi por causa de um corte no dedo — Harold acrescentou. — Estafilococos são um caso sério — Dora disse. — E, depois, tive indigestão, por causa de uma lata de feijão picante. —As pessoas confundem infartos com indigestão o tempo todo. Além do que, eu falei que você não devia comer aquele feijão. Comida apimentada faz mal aos seus intestinos. — Com licença — Meg interrompeu. — Será que vocês podiam me tirar daqui antes que eu comece a sangrar pelos olhos? — Ora, mas é claro, minha querida. Harold, onde está sua faca? — Não estou com a faca. Você pegou a faca para abrir aquela rede contra mosquitos. — E a devolvi. — Não devolveu, não. — Com certeza que sim. — Estou começando a ver tudo embaçado — Meg cortou. Os dois saíram correndo para os fundos da casa. Poucos minutos depois, Dora Cash cortou a corda com uma grande faca de cozinha enquanto Harold segurava Meg para ela não cair no chão. Em questão de segundos a corda cedeu, não sem antes Dora quase morrer ao dar um corte no dedo. Harold ajudou Meg a ficar de pé antes de se virar para a esposa, que estava segurando o dedo cortado. — Devo chamar uma ambulância? — Não seja bobo. — Ela sorriu. — Não vou cair morta de repente. E preciso ao menos algumas horas para a maioria das infecções por bactéria se desenvolverem, o que significa que temos tempo de sobra para chegar à emergência em Junction. — Desculpe pela confusão — Dora disse a Meg quando Harold foi pegar o carro que estava estacionado longe da casa. — Não tínhamos a intenção de destruir seu sapato. — Ela apontou para o sapato de salto alto cravado no chão. — Tudo bem. — Meg soltou o sapato, olhou para a tira arrebentada e tentou disfarçar sua frustração, que nada tinha a ver com o calçado e sim com aquele homem sensual que ela não conseguia apagar de suas fantasias nem tirar da cabeça. A casa era sua última esperança, pois não tinha intenção de interromper Dillon, que certamente estava com alguma mulher. Ou seja, ela ia para casa para esvaziar uma caixa de Twinkies. Deu de ombros. — Eu não tinha mesmo nenhum plano especial para esta noite. ELA QUIS ir para casa. Chegou mesmo a estacionar o carro e abrir a porta. Então, viu as marcas perto da calçada, bateu a porta do carro e deu a partida em direção à sua butique. Passou as próximas duas horas adiantando o trabalho do dia seguinte e tentando não pensar em Dillon e no fato de que ele havia mudado de idéia quanto a ajudá-la. Porque ela não era bastante sexy. A verdade zombava dela, devorando-lhe a autoconfiança enquanto ela arrumava novamente a vitrine e depois ia abrir os pacotes com as encomendas que chegaram. Abriu a primeira caixa, tirou várias camadas de plástico bolha e desdobrou os vestidos metálicos que encomendara na última feira de moda em Austin. Não que ela se importasse. A questão não era ser bastante sexy para Dillon. A questão era ser sexy para toda a população masculina de Skull Creek. Não estava nem aí se Dillon preferia se divertir com alguma das atuais Gatas Sensuais da lista do que honrar a Projeto Revisoras 42


Encanto Eterno – HFuego nº 17 – Kimberly Raye palavra que dera à velha amiga. Procurou não ficar com pena de si mesma e tirou da caixa um vestido curto prateado. Segurou-o na frente do corpo e deu uma olhada em seu reflexo no espelho atrás da caixa registradora. Nada mal, mas por alguma razão não era tão lindo quanto ela lembrava. Poucos segundos depois, ela tirou a roupa em uma cabine próxima e vestiu o vestido. Uns ajustes aqui e ali e... pronto. Ela voltou para a frente da butique e observou seu reflexo. Agora sim. A bainha do vestido batia no meio das coxas, o tecido prateado se amoldava às pernas e à cintura. Tudo nela emanava sensualidade. E foi por esse mesmo motivo que ela encomendara o vestido. Por isso que ela encomendara cada peça daquela loja. Era tudo questão de abraçar sua feminilidade. Regozijar-se com ela. Olhou novamente para seu reflexo no espelho. Missão cumprida. Não podia estar mais feminina. Mas, mesmo assim, lá estava ela. Sozinha. — A questão não é o vestido. Ao ouvir a voz grave de Dillon, Meg virou a cabeça. Viu que ele estava do outro lado da porta de vidro. Usava calça jeans e camiseta branca. O algodão macio se ajustava bem aos seus ombros largos, com as mangas cobrindo só a ponta das tatuagens nos braços. Seus olhos verdes cintilaram com uma intensidade que gritava segure sua calcinha. Passou-lhe pela cabeça o pensamento fugaz que de forma alguma ela poderia ter ouvido sua voz tão claramente através do grosso vidro entre eles. Mas, então, ele sorriu e o coração dela disparou, e seus pensamentos desapareceram em uma onda de desejo tão intensa que a deixou de pernas bambas. Ele fez um gesto para que ela abrisse a porta. Ela lutou contra o impulso de ficar nua e passou a mão pelo corpo, se ajeitando. Respirou fundo e deu um passo à frente, depois outro. Calma. Controlada. Ainda assim, seu coração batia freneticamente e uma onda de ansiedade, seguida por luxúria, invadiu seu corpo. Ela hesitou e rezou em silêncio, pedindo uma intervenção divina. Estava sentindo que ia precisar de toda ajuda possível.

CAPÍTULO NOVE — O QUE está fazendo aqui? — Meg perguntou, abrindo a porta. — Nossa primeira aula. — Dillon olhou nos olhos dela. — Não vá me dizer que esqueceu? — Achei que você tinha esquecido. São 21h30. — Eu tive umas coisinhas para fazer antes. — Ele mostrou os sacos de compras em seus braços. — Mas estou aqui agora. — Piscou o olho. — Prontinho. Ele sentiu uma agitação no estômago. — Você é bom mesmo. — Como assim? — Você paquera direitinho. — Balançou a cabeça. — Mas não precisa fazer isso comigo. — Por favor. — Não preciso de demonstração. Só preciso que me mostre como fazer. O sorriso dele deu lugar a uma expressão mais séria. — Então vamos lá. — O que é isso tudo? — ela perguntou enquanto ele colocava os sacos perto da caixa Projeto Revisoras 43


Encanto Eterno – HFuego nº 17 – Kimberly Raye registradora. — Umas coisinhas para beliscar. — Não estou com fome. Ele sorriu e olhou para ela daquele jeito quente. — Ainda não. Ela procurou conter a onda de excitação ao vê-lo mexer nos sacos de compras. Uma lata de chantili, uma caixinha de chocolates, um pacote de seis pudins individuais, três tipos de sorvete diferentes, uma lata de refrigerante diet, uma garrafa de chá doce, suco de laranja e refresco de frutas. Ele pôs as sacolas atrás da registradora e tirou de um bolso traseiro uma bandana vermelha, branca e azul. Seu olhar encontrou o dela e seus olhos brilharam em tom de vivido azul... Ela piscou os olhos, confusa. De repente, a cor virou verde esmeralda. Será que ela estava imaginando cores? Claro que sim. Ele tem olhos verdes, não azuis. Sempre teve olhos verdes. — A aula vai começar — ele disse com sua voz profunda, eliminando qualquer especulação enquanto dava a volta por trás dela. Seus ombros largos esbarraram nas omoplatas dela como em um beijo. Ela viu de relance pelo espelho e sentiu algo diferente ao perceber como formavam um quadro provocante. Ele parecia grande, poderoso e intenso! E ela parecia tão... faminta. Ela estava trêmula de ansiedade. Afinal, esperava por aquele momento fazia muito, muito tempo. Desde a oitava série. Os braços musculosos envolveram os ombros nus de Meg, distraindo-a de seus pensamentos ridículos. Ele pôs a bandana nos olhos dela. — Quero que você se esqueça de tudo mais e se concentre no que vou pôr em sua boca. — E como isso vai me ajudar a convencer o resto da cidade que sou sexy? — Ser sexy não é questão da roupa nem dos lençóis que se usa. — Sua voz profunda e rascante a fez lembrar do sonho da noite anterior e ela sentiu as bochechas corando. — Depois disso, passaremos aos outros sentidos: tato, olfato, visão, audição. Sem ver nada, os outros sentidos dela ficaram imediatamente mais aguçados. Sentiu um formigamento na pele quando ele a tocou nos ombros com as mãos quentes para fazê-la virar de costas para a ponta do balcão retangular, levando então as mãos à parte superior das coxas. Quando ela percebeu, sentiu um princípio de pânico e, em seguida, grande excitação. A respiração ficou mais apressada. Sua pulsação disparou. — O que está fazendo? — ela perguntou quando ele a levantou. — Fazendo as coisas ficarem mais adequadas. Ela rapidamente se viu empoleirada no balcão comprido e retangular, com as compras espalhadas ao longo e atrás dela. Meg sentiu o frio dos potes de sorvete contrastando com as mãos quentes e másculas que foram descendo para a pele suave do interior das coxas. Ele a fez abrir as pernas e se posicionou entre elas. O brim da calça dele roçou na parte interna das coxas e ela teve uma onda de percepção. — Pronto. Agora temos espaço de sobra. Pode deitar se quiser. Sim, meu bem. Ela enrijeceu. Ele estava perto demais, era devastador demais e, de olhos tapados, ela sentiu uma onda de vulnerabilidade que não sentia em muito, muito tempo. De repente, ela estava de volta à escola, com o interior formigando de ansiedade pelo primeiro beijo. Um beijo que fora o pior de toda a sua vida. — É melhor que eu me sente. — Ela se virou, tentando achar uma posição confortável na qual não se tocassem. — Sabe, eu realmente não entendo por que você simplesmente Projeto Revisoras 44


Encanto Eterno – HFuego nº 17 – Kimberly Raye não me dá uma cópia da sua pesquisa na Internet — ela disse, ansiosa para manter a distância entre eles e quebrar aquela intimidade. Levou a mão à bandana. — Eu me saio bem melhor estudando do que em aulas práticas. As mãos fortes dele impediram que ela tirasse a bandana. — Essa é a questão, não é? Tirá-la da zona de conforto? Está na cara que o que você vem tentando não está funcionando. Precisamos tentar algo diferente. — Levou as mãos às laterais do corpo dela. — Pare de resistir e coopere comigo, Meg. Se não, terei de pensar que você gosta de ficar em casa todo sábado à noite. — Não fico em casa todo sábado à noite. Eu saio de vez em quando. — Engoliu em seco. — Só que não com homens sensuais. Ele deu uma risada. — Isso vai mudar a situação. Se você der uma chance. — Antes que ela pudesse responder, sentiu a pressão de algo duro contra os lábios. — Agora pare de resistir e se abra. O cheiro de chocolate encheu-lhe as narinas e seu estômago rugiu, reagindo. — O objetivo deste exercício é você imaginar o que estou lhe dando para comer. Concentre-se no sabor e na textura. — A voz dele, tão profunda e deliciosa, mexia mais com ela do que o doce. — Vá com calma e saboreie. Depois me diga o que acha. E o que você quer. A ordem ecoou em sua cabeça, como se ele tivesse murmurado as palavras dentro dela. O que ele não fez. Ela não sentiu seu hálito contra a testa, nem o roçar de seus lábios. Nada. Apenas a louca sensação de que ele tinha dado um jeito de invadir seus pensamentos. De repente, teve vontade de pular do balcão e sair correndo. Mas, então, o estômago dela roncou de novo e sua boca se abriu por conta própria. Ela afundou os dentes no doce que ele estava lhe dando e se concentrou na explosão de sabor e não na vontade que tinha de passar a língua na ponta do dedo dele e sentir seu gosto. — Vejamos... — ela disse, saboreando. O chocolate derreteu em sua boca, atiçando seus nervos com euforia. Ela mastigou e fez de tudo para ignorar aquele homem que estava tão perto dela que ela poderia tocá-lo ao menor movimento. Tentou se concentrar nos sabores específicos que lhe inundavam as papilas gustativas. Ele pousou as mãos nas coxas dela enquanto esperava, e o estômago dela se agitou quando ela engoliu. — É, hummm... — Ela lambeu os lábios e tentou sentir a diferença entre os sabores. — chocolate ao leite com um chocolate mais amargo e encorpado por dentro. Um bombom. Eu diria que é uma trufa daquela caixa de bombons. — Você está se saindo bem, afinal. Ela sorriu, mas a expressão se desfez quando ela sentiu a fria pressão de algo no canto da boca. Os dedos dele se mexeram e a coisa que ele estava segurando escorreu pelo lábio inferior, brincando e provocando, até que ela esqueceu do que estava falando e abriu a boca. Poucos segundos depois ela mordeu um pedaço suculento de fruta. — Cereja — ela disse. — Bingo! — A palavra saiu profunda e rouca. Se ela não soubesse, seria capaz de jurar ter sentido ele lhe lamber suavemente o canto da boca... O pensamento se desfez quando ela baixou a bandana que vendava seus olhos e viu que ele estava olhando para ela com o rosto a vários centímetros de distância. Ele franziu o cenho. — Algo errado? — Só pensei que... — Que você ia me beijar. Balançou a cabeça. — Nada. Só fiquei Projeto Revisoras 45


Encanto Eterno – HFuego nº 17 – Kimberly Raye um pouco claustrofóbica. — Desde quando você sofre de claustrofobia? Desde que o cara mais sensual da cidade entrou na butique dela e a pôs sobre o balcão, ficando entre as pernas dela e levando-a a perder todo o bom senso. — Podemos continuar? — Ela vendou os olhos novamente. — Vamos, me dê outra coisa. — Abriu a boca. Vários minutos se passaram, mas então ela sentiu a borda de uma xícara com espuma. Sentiu nos lábios um refrigerante que lhe esfriou a língua. — Cereja — ela murmurou. — Isto não está no teste. — Ele riu. — É só para lavar a língua. — Não preciso beber. Estou bem. Vamos em frente. — Paciência, doçura. Temos a noite toda. A noite toda? Não vou passar mais de 15 minutos sem me mexer de jeito nenhum, que dirá a noite inteira. — Estou com fome — ela disse. — Faminta. Vamos logo. Seu coração ribombou nas orelhas quando ela se sentou, esperando por mais. Após o que pareceu uma eternidade ela finalmente sentiu a pressão do plástico em seu lábio inferior. Uma fração de segundo depois ele levou à sua boca uma colher de algo mole e doce. — Pudim de chocolate — ela murmurou, concentrando-se no súbito sabor e não na reação do homem. Sentiu a pressão firme da coxa dele na parte interna de seu joelho e seus mamilos saltaram. Ela lambeu os lábios. Outra colherada e o sabor do cheesecake gelado explodiu em sua língua. — Sorvete de cheesecake. — Mais uma colherada e seus sentidos tiniram. — Hummm... desta vez é morango. — Talvez você não precise de mim. — Ou, então, você perdeu o elemento surpresa. Eu vi você tirar as compras da sacola, lembra? — Então você sabe o que vou lhe dar depois disto? Ela fez que sim. — Já veio tudo, exceto o chantili. Então já sei o que me espera. — Ou quem sabe seja a vez de eu provar alguma coisa. Ela sentiu que ele se ajoelhava. — O que isto quer... —As palavras desapareceram, dando lugar a uma profunda inspiração quando ele tocou o interior das coxas dela com os lábios. — Hummm... — ele murmurou contra a pele exposta. — Muito doce. Ela sentiu uma súbita umidade entre as pernas. — Você não devia estar fazendo isso. — Como é? Isso era exatamente o que ele devia estar fazendo. O que ela queria que ele fizesse desde o começo: tomar a iniciativa e arrebatá-la. E estava arrebatando de fato. Ao mesmo tempo, quando ela imaginava um homem ficando caído por ela, pensava em algo um pouco mais intenso. Dillon não estava nem perto de tomá-la nos braços e beijá-la loucamente. Não no sentido tradicional. E não havia nada de selvagem e incontrolável em seus gestos. As mãos que lhe apertavam eram intencionais demais, bem como a boca que lhe roçava o corpo. Como se ele estivesse em pleno controle com um só objetivo em mente: levá-la ao limite, até ela perder, as estribeiras. Jamais. Ela tentou se convencer disso. Mas fazia tanto tempo que um homem não a tocava daquele jeito — na verdade, nunca acontecera antes —, e ela não conseguiu falar. Seus poucos encontros sexuais sempre tinham sido rápidos e diretos, e sempre era ela quem tomava a iniciativa. Era ela quem ficava de joelhos, levando algum homem ao delírio, não o contrário. Mas não desta vez. Dillon foi lambendo devagar em direção ao âmago de Meg, que borbulhou de Projeto Revisoras 46


Encanto Eterno – HFuego nº 17 – Kimberly Raye expectativa. Ela tentou lembrar a si mesma que estavam em sua butique, visíveis para qualquer pessoa que pudesse aparecer e olhar pelo vidro da vitrine. Em vez de lhe ajudar a retomar o bom senso, pensar naquilo a deixou muito mais excitada. Em vez de resistir, ela abriu as pernas mais ainda, implorando com o corpo para que ele chegasse mais perto, enquanto sua cabeça lhe dizia para tirar a venda dos olhos e dizer algo direto como "Venha, meu bem" ou coisa assim! Não faria isso. Por mais que ele a excitasse. De jeito nenhum. Agora não. Hã-hã. Apesar de não estar resistindo, também não ia mover um músculo sequer para tomar a iniciativa. Decidida, Meg cruzou os braços enquanto ele começara a passear com a língua pela cobertura de seda sobre sua fonte de umidade e calor, quando então fez o tecido entrar em sua fenda até ser emoldurado por carne em ambos os lados. Dillon lambeu, acariciando a carne sensível até ela se contorcer e mergulhar os dedos nos cabelos dele. Muito bem, então ela teve que se mexer. Mas havia uma enorme diferença entre se segurar para o passeio e pular no banco do motorista. Ao mesmo tempo, não parecia haver nada de errado em ficar um pouquinho entusiasmada. Ela não estava implorando por nada. Estava apenas encorajando. Ele puxou a beira da calcinha e ela levantou os quadris para acomodá-lo. O tecido bordado desceu pelas pernas. Ele pegou seus tornozelos e pôs os joelhos dela sobre seus ombros. As mãos grandes lhe seguraram o traseiro de modo a puxá-la para a beira do balcão. Ao sentir a primeira lambida, o ar ficou preso em seus pulmões. Dividiu-a em duas com a língua e manipulou o clitóris sensível. Um gemido brotou da garganta de Meg, despedaçando o silêncio que os cercava. Foi dominada pelo orgasmo e seu interior entrou em convulsão. Ela mal resistiu ao ímpeto de puxar seu corpo para junto do dele. Pois, por melhor que fosse a sensação, só lhe dava mais vontade de esquecer suas inibições, arrancar a roupa, fazê-lo deitar e, então, ficar por cima. E, de repente, aquilo nem lhe pareceu má idéia. Afinal, quem havia começado fora ele. DILLON BEBEU do inebriante sabor de Meg. Suas mãos massageavam o lindo bumbum, puxando-a para perto quando irrompeu o orgasmo. Não era o ato de ter sexo completo que alimentava a besta que vivia e respirava dentro dele. Era o orgasmo dela que o alimentava. Sua essência. Quando uma mulher chegava ao ápice, sua pulsação carregava uma energia mais potente e doce. E Meg Sweeney era mais doce ainda! O pensamento lhe veio quando ele encaixou os lábios mais perto de sua fenda pulsante. A essência dela o alimentou por alguns segundos. Mas, em vez de ficar satisfeito, ele ficou ainda mais faminto. Era enorme a vontade de colocá-la de volta no balcão e unir seu corpo ao dela, deixando seu lado selvagem tomar conta de tudo. Ele ficou de pé, roçando seu volume dentro da calça jeans na carne sensível de Meg, que estava com as costas apoiadas no balcão, ao puxá-la para perto, levando-a abrir bem as pernas. Barras de doces caíram pelo chão. A lata de chantili também, caiu, fazendo barulho. Ele abriu o cinto e estava quase descendo o zíper da calça quando ouviu a voz dela: — Espere. Quero ver. Ela levou as mãos à bandana que lhe vendava os olhos e a memória de Dillon deu voltas. Lembrou da excitação no rosto dela quando ele se aproximou para beijá-la pela Projeto Revisoras 47


Encanto Eterno – HFuego nº 17 – Kimberly Raye primeira vez, muito tempo atrás. Então, veio a decepção depois da ação. Ele retesou o corpo enquanto ela tirava a venda e olhou para ele com um brilho vitorioso nos olhos azuis. Seus lábios fartos se curvaram em um sorriso e de repente ele pensou duas vezes se deveria terminar o que havia sido tolo o suficiente de começar. Ele gostava de vê-la sorrir. As coisas são diferentes agora. Você está diferente. Verdade. Ele não chegaria a lugar algum a decepcionando agora, assim como decepcionara no passado. Sabia disso. Ainda assim... Ela era diferente. Ela tinha força de vontade. Bastante para resistir a ele apesar de seu carisma de vampiro. O que significava que havia a mínima possibilidade de ela achar que ele não era tão especial. O que não seria o caso se ela estivesse louca de desejo. Tanto que ela tomasse a iniciativa. Ele olhou para ela. Era uma figura convidativa com o vestido metálico embolado na cintura, as pernas bem abertas, o traseiro nu sobre o balcão de vidro, os mamilos duros com as pontas espetadas sob o tecido. A expectativa lhe tingia as belas feições enquanto ela esperava que ele baixasse a calça e mergulhasse nela. O desejo remexeu dentro dele, acabando com o ínfimo controle que ele conseguia manter. Procurou se controlar e olhou nos olhos dela. Dava para ver a vitória que pulsava nela. A expectativa. Como se ela dissesse "Venha, droga". — Acho que você está entendendo, doçura — ele disse com a voz crua, rascante e profunda. Fechou a calça, deu-lhe um beijo rápido nos lábios, deu meia-volta e foi embora. Pois não havia possibilidade de Dillon estragar esta chance de provar a si mesmo que não era mais o nerd que todos pensavam. Eleja havia esperado tempo demais e lutado contra dúvidas demais. O próximo passo seria de Meg.

CAPÍTULO DEZ ELA não conseguia mexer um músculo. Meg chegou a esta conclusão ao olhar para o teto, seu corpo ainda formigando com a sensação deliciosa dos lábios de Dillon. Pior ainda, ela não queria se mexer. Queria ficar deitada ali, lembrando da sensação das mãos dele e dos lábios dele em seu corpo. Mas voltou à realidade e tentou desfazer sua decepção por não terem tido uma verdadeira relação sexual. Ela devia estar aborrecida. Mas não estava, estava até contente. E aliviada. Apesar de estar tão excitada, ela não o puxou para si. Resistiu à tentação e fez com que ele tomasse todas as iniciativas. Inclusive o primeiro beijo. Lambeu o lábio inferior e sentiu o gosto selvagem dos lábios dele. Sentiu um jorro faminto de desejo e excitação. Ele a beijara. Um beijo que não passou de rápida pressão sobre os lábios, mas mesmo assim milhões de vezes melhor do que aquele primeiro beijo. Porque, agora, ele estava diferente. Confiante. Arrojado. Sensual. Sexy. E ela estava uma aula mais perto de seguir os passos dele. Projeto Revisoras 48


Encanto Eterno – HFuego nº 17 – Kimberly Raye Um sorriso lhe aflorou os lábios quando ela desceu do balcão, vestiu a calcinha e foi limpar a bagunça que ele havia feito. Mais de uma vez ela se pegou provando das guloseimas que ele trouxera, saboreando-as antes de guardá-las na sacola. Ao terminar, seu corpo inteiro estava pulsando e excitado. Em casa, ao se recolher, pela primeira vez na vida resolveu dormir totalmente nua. DILLON FICOU olhando para a mulher atrás do bar, notou o gingado de seus quadris ao caminhar para o refrigerador e o modo como se posicionou, oferecendo uma vista perfeita ao se abaixar para pegar uma caneca de cerveja gelada. Seus seios oscilaram enquanto ela colocava a caneca no balcão. Seus mamilos apertavam o fino algodão de sua camiseta com o logotipo "Grady Bar & Grill". Ou ela estava com muita sede de cerveja, ou de outra coisa. Bastou uma olhada nos olhos dela — e em seus pensamentos — para pôr fim à controvérsia. Libby Sue Wentmore. Vinte e poucos anos. Trabalhar de bartender era só uma forma de pagar o aluguel até ela conseguir ser bem-sucedida nas audições de American Idol e chegar ao estrelato em Hollywood. E, pelo jeito, ela estava mais do que disposta a se divertir com Dillon. — Aqui está. — Ela pôs a caneca de cerveja gelada na frente dele com o mais provocante dos sorrisos. — É bom para ajudar a esfriar a cabeça. — Obrigado. — Ele levou a caneca aos lábios. — É a primeira vez que vem aqui ao Grady? Não me lembro de tê-lo visto antes. — Primeira vez. — Dillon fez questão de pegar a loto e foi até Oyster Creek, uma cidadezinha a meia hora ao norte. Estava excitado demais para voltar à oficina. E morto de fome. Precisava de uma mulher. Alguma mulher que não lhe lembrasse Meg, nem Skull Creek, nem o importantíssimo fato de ainda não ter conseguido quebrar o recorde de Bobby. — Não sou daqui — ele disse. — Um estranho alto e bonitão. — Ela sorriu de novo. — Adoro. — A expressão dela se transformou em puro desejo. — Estou saindo daqui a 15 minutos. Posso lhe mostrar a cidade, se estiver interessado. Ele levantou a caneca fazendo menção à moça e tomou um longo gole. — Eu o encontro lá fora, então. Ele passou os dez minutos seguintes terminando a cerveja, depois jogou umas notas de dinheiro sobre o balcão e se levantou. Uma das garçonetes se aproximou. — Espere aí, amigo. Isto aqui é seu. — Ela lhe entregou outra caneca de cerveja. — Desculpe, mas não pedi outra. — Alguém pediu. — Apontou para o outro lado do bar, que estava vazio. — Estranho. Ela estava aqui segundos atrás. Bem, sei lá. — Ela deu de ombros. Ele teve a clara sensação que havia algo errado. A tensão nos músculos e no peito indicava isso. Observou os rostos que lhe cercavam e um temporal de pensamentos lhe assolou a mente. Não tinha certeza. Algo fora do comum, talvez. Ou alguém. Provavelmente, alguma tiete. Ao mesmo tempo, não podia descartar a possibilidade de ser um caçador de vampiros. Ao escrever naquele blog, estava se expondo a isso. Sentiu uma onda de ansiedade. E outra, de puro desespero- Por mais que soubesse que seria uma coisa ou outra, não conseguiu ignorar a sensação de que não era nada daquilo. Uma sensação de que quem quer — ou o que quer — que estivesse atrás dele, tinha algo a ver com o Vampiro Ancestral. — Vamos sair daqui — disse a bartender, se aproximando. — Quem sabe não pegamos uma pizza e vamos para minha casa. Estou faminta. Projeto Revisoras 49


Encanto Eterno – HFuego nº 17 – Kimberly Raye A música e o caos do local foram diminuindo, e também seus pensamentos foram sumindo. A pulsação dela ecoava nos ouvidos dele. — Você leu meus pensamentos, doçura. — ESTAVA NA hora de você aparecer. — Garret Sawyer estava sentado à mesa da cozinha, com o laptop aberto à sua frente. Parecia o típico motoqueiro com a bandana preta na cabeça, camiseta preta com o logotipo da Harley Davidson e calça jeans usada. Estava descalço, as botas a poucos metros. — Está forçando, não acha? — Olhou para o relógio. — Faltam 15 minutos para o amanhecer. — Tempo de sobra. — Dillon se jogou na cadeira em frente a Garret. — Sim, se você gosta da idéia de fritar o traseiro. — Garret voltou a prestar atenção no laptop. Apertou mais algumas teclas, fechou o aparelho e olhou nos olhos de Dillon. — Você está acabado. Garret havia terminado de se alimentar. — Obrigado pelo elogio. Houve um momento de silêncio e Garret continuou olhando para ele. — Tem se alimentado? — perguntou, enfim. — Alimentei-me esta noite. — Estou falando de sangue, não de sexo. Você é jovem. Precisa dos dois. Dillon sabia disto, razão pela qual levara a bartender em casa. Ela levantou a camiseta e mostrou os seios. — Vem, meu bem — ela disse, se aproximando. — Por que não vem você? — ele respondeu enquanto ela apertava seu corpo contra o dele. Seus olhos se encontraram e assim ela soube o que ele queria. Não conscientemente. Mas no fundo ela sabia o que ele realmente queria dela. O que ele precisava. Ela afastou os cabelos e mostrou o pescoço, oferecendo-lhe o sustento que ele procurava tão desesperadamente. A virilha dele começou a pulsar, seu estômago re-virou e... Parou. Droga! — Você tem de se alimentar. — Garret levantou-se e foi até a geladeira. Pegou de dentro um saco plástico de sangue. Jogou na mesa. — Você não pode viver só com este troço. — O "troço" era um estoque limitado de sangue que ele conseguia com uma exnamorada que trabalhava no banco de sangue local. — Isto aqui é para emergências, não pode virar hábito. -— Tirou uma cerveja da geladeira e pegou o laptop. — É melhor você se acostumar ao que você é agora. Dillon balançou a cabeça, assentindo. Não que ele tivesse problema em aceitar sua sede de sangue. Não tinha problema nenhum em mergulhar as presas em uma mulher quente e disposta. Só que não queria. Só queria se a mulher quente e disposta fosse Meg. Droga, droga! — Não se apaixone por ninguém — Garret disse. — Sei que Jake está ligado em Nikki, mas é exceção à regra. A única exceção. Para o resto de nós, a coisa não funciona assim. — A questão não é uma mulher. — E não era. Ele não estava ligado em Meg em si, mas no que ela representava. Ela era o último desafio, ponto final. — Nikki me falou da tal mulher. Dillon assentiu. — Jake acha que é uma tiete, ou, então, uma caçadora de vampiros. — Bem provável. — E qual seria a outra possibilidade? — Não vale a pena pensar — disse Garret, mas sua expressão não foi nem de longe tão convincente quanto sua voz. — Só não deixe de se alimentar. Projeto Revisoras 50


Encanto Eterno – HFuego nº 17 – Kimberly Raye — Apontou para o saco de sangue. — De qualquer forma, você precisará estar forte. — Deu as costas e caminhou para o porão. — Você está sentindo, não está? Garret parou e virou novamente. Seu corpo emanava tensão. — Sentindo o quê? — Sei lá. — Dillon deu de ombros. — É uma sensação como se algo estivesse perto. Observando. — Seus olhares se cruzaram. — Quem sabe o Vampiro Ancestral não seja tão velho quanto pensamos. Quem sabe meu blog esteja dando resultado e, em vez de localizá-lo, ele tenha nos localizado. — Seria sorte nossa. — Garret balançou a cabeça. — Eu saberia se ele estivesse aqui. Vampiros sentem outros vampiros. Você me sente, não sente? E sente o Jake? Dillon fez que sim. A presença deles era constante em sua mente. Dava para ele sentir seu poder de modo tão distinto quanto sentia o seu próprio. — É uma coisa instintiva e incisiva — Garret prosseguiu. — Nada sutil. Tenho certeza de que o que está lhe aporrinhando não representa nada. Dillon percebeu que Garret não acreditava em metade do que dizia, por mais que quisesse acreditar. — Estou instalando um sistema de segurança aqui na casa. Se ela for uma caçadora de vampiros, virá atrás de nós durante o dia, quando estamos mais vulneráveis. Não acho que ela já saiba onde moramos, senão não estaria fazendo tantas perguntas. — E se ela não for uma caçadora de vampiros? Garret piscou. — Então podemos parar de nos preocupar e começar a diversão. Falar é fácil. Dillon tomou o sangue do saco plástico, ainda preocupado. Tirou as botas e se esticou na cama, olhando fixamente para o teto. Mas não percebeu os nós da madeira. Viu Meg deitada no balcão da butique, seu corpo luxuriante, convidativo e irresistível como o diabo. Sentiu o gosto dela. Seu aroma. Ouviu-a gemer quando ele a partiu em duas com a "língua. Chegou mesmo a senti-la — seu delicioso e redondo bumbum em suas mãos, os dedos nervosos lhe acariciando os cabelos. No fundo ele sabia que não conseguiria beber de outra mulher antes de terminar o que havia começado com Meg. Até seduzi-la de modo irreversível, quebrar o recorde de Bobby e se auto-afirmar de uma vez por todas. Quanto mais cedo, melhor. — PARECE QUE alguém andou fazendo um sexo bem quente — disse Terry quando entrou pela porta da butique na manhã seguinte. Meg estava organizando vestidos para o primeiro compromisso do dia. Quando Terry sorriu para ela como quem está entendendo tudo, uma onda de calor lhe varreu dos pés às raízes dos cabelos. — Dillon e eu não chegamos a fazer amor. Ainda não. —A noite de ontem foi só business — ela prosseguiu. — Ainda estou sozinha no departamento orgasmo. — Não estou falando de você. — Terry pôs a bolsa em uma prateleira e foi até o pequeno refrigerador no canto da loja — Estou falando de mim. — Pegou um iogurte e tirou a tampa. — Hank apareceu ontem à noite. Em um minuto estávamos discutindo sobre quem ficaria com os CDs de Tim McGraw e de repente estávamos botando pra quebrar na mesa da cozinha. A mão de Meg parou a meio caminho de um vestido justo azul-escuro. — Mas você o odeia. Projeto Revisoras 51


Encanto Eterno – HFuego nº 17 – Kimberly Raye Terry deu de ombros. — Um ex é como uma porção enorme de batatas fritas. A gente sabe que faz mal, mas às vezes não dá para resistir. Mas foi só coisa de uma noite. Não vamos voltar a morar na mesma casa. De mais a mais, eu o considero um canalha. E ele ainda me considera insuportável. — Ela sorriu. — E sou mesmo. Não, tudo acabou entre nós. Foi só uma recaída. — Tomara que Hank também pense assim. Terry franziu a testa. — Ele sabe. — Suavizou a expressão. — Eu gosto deste. — Fez menção ao vestido de tafetá cor-de-rosa que Meg acabara de tirar do cabideiro. — Honey vai enlouquecer com este. — Pode apostar que vai. — Meg deixou de lado as dúvidas que tinha quanto a Hank e deixou a outra mudar de assunto. Meg não era exatamente a voz da experiência em se tratando de homens. HONEY ODIOU OS vestidos. Ou seja, duas horas depois Meg estava pronta para arrancar os cabelos e Elise já havia consumido a garrafa de Chardonnay inteira. — Precisamos arrumar algo para Elise comer — Terry disse. — Talvez seja melhor eu dar um pulo no supermercado. — E me deixar aqui com Honey? — Você manda — Terry disse a Meg. — Sim, por isso você fica e eu vou ao supermercado. — Cretina! — Divirta-se. — Meg sorriu e pegou a bolsa.—Vou pedir a Honey para dar uma olhada nas revistas novas e tentar escolher alguma coisa. Isso deverá mantê-la distraída enquanto eu estiver fora. Tente dar um pouco de café a Elise enquanto isto. Volto em 15 minutos. — Realmente não me sinto bem em oferecer uma substância que vicia, como a cafeína. — Se prefere levá-la para dormir na sua casa, fique à vontade. — Um pouquinho de café também não mata ninguém, não é? Cinco minutos depois ela estava no supermercado. Pegou três tipos de antiácidos diferentes e estava se dirigindo ao caixa quando ouviu a voz grave atrás dela. — Estou lhe devendo uma. Ao virar-se, deparou com Colt Grainger, a quem havia conhecido poucos dias antes no mesmo supermercado. Ele usava calça preta, uma camisa branca abotoada e com as mangas arregaçadas. Tinha um grande sorriso no rosto. — É mesmo? Por quê? — Lembra-se de que me deu um palpite para apostar no jogo? Então, ganhei 100 pratas. — Que bom. — Meg ignorou a decepção que sentiu, pagou a conta e pegou o troco. — Você tem olho bom para esportes. — Foi a vez dele pagar sua conta. Estava comprando barbeadores descartáveis. — Obrigada. — Ela pegou sua sacola de compras e foi saindo. — Falo sério. — Ele fez um gesto para que a atendente ficasse com o troco, pegou as compras e correu atrás dela. — Espere. — Alcançou-a quando ela estava chegando às portas automáticas. — Quero falar com você. — Sobre o time? — ela perguntou, e percebeu os olhares curiosos de várias atendentes de caixa e do senhor Wickerby, que estava pagando por um galão de leite. — Não. — Não? — Não. Quer dizer, eu ia falar sobre isso, mas hoje você está tão... — Deixou por Projeto Revisoras 52


Encanto Eterno – HFuego nº 17 – Kimberly Raye completar e olhou para ela de cima a baixo. — Você fez algo nos cabelos? Ela tocou os cachos louros, que usava soltos fazia anos. — Lavei hoje de manhã, como faço todos os dias. Ele olhou de novo. — Então alguma maquiagem diferente? — Não, estou usando brilho pink passion e blush, como sempre. — Roupa nova? — Todas são novas para você. Nós nos conhecemos há poucos dias. Ele sorriu. — Não sei dizer exatamente o que é, mas tem algo diferente da última vez que a vi. Você parece... Sei lá. Está muito bonita, é isso. Muito sexy, ela pensou. — Obrigada. — Que tal sairmos sábado à noite? Eu realmente adoraria levá-la para jantar. Quem sabe podemos dançar... — Mesmo? — Claro. Ela sentiu uma onda de felicidade. Ele estava longe de se atirar nos braços dela, mas já era um começo. Mas ela fez que não. — Na verdade, já tenho planos para sábado. — Dillon estava estruturando as aulas nos cinco sentidos. Um deles já tinha sido objeto da primeira aula, restavam quatro para ela estar pronta a testar sua recém-adquirida sensualidade. — Que tal na outra sextafeira? Ele sorriu. — Pode ser. — Ele a olhou por inteiro outra vez. — Tem certeza de que não fez nada de diferente? Ela balançou a cabeça. — Sou a mesma de sempre. Por fora, mas por dentro... Meg se lembrou da noite anterior.. — E muito bom revê-la — ele disse com os olhos brilhando, como se lesse os pensamentos dela. — Até sexta que vem — ela disse. — Com certeza. — Ele piscou. Mas era como se fosse Dillon quem estava piscando o olho para ela. NAQUELA NOITE ela se jogaria nos braços dele. Com toda certeza. Foi o que Dillon pensou ao chegar à butique uma hora após o pôr-do-sol. Nem se deu ao trabalho de parar na Skull Creek Motos. Saiu da cama, tomou um banho, passou meia hora aprendendo a lidar com o sistema de segurança de Garret e então tomou seu rumo. — Pegue sua bolsa e vamos. — Ele a puxou pela mão, dando a volta no balcão da loja. — Mas tenho umas roupas para lhe mostrar. Roupas para melhorar seu visual. — Depois. Eu quero lhe mostrar uma coisa. — Já sei o que é — ela disse quando ele pegou a venda. Ele sorriu. — Não é isto. — Ele foi para trás dela e lhe vendou os olhos. — Como posso ver alguma coisa assim? — Doçura, você pode ver tudo. Sua mente mostrará um quadro perfeito com base na informação que ela recebe de seus outros sentidos. — É o que diz o homem sem venda nos olhos. — Confie em seus instintos — ele murmurou, e a levou para um passeio de moto. De olhos vendados. Projeto Revisoras

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Encanto Eterno – HFuego nº 17 – Kimberly Raye CAPÍTULO ONZE — ESTÁ na hora de ir embora — ele disse, ao terminar mais uma aula. Deixe-o ir. Senão você vai se arrepender amanhã. — Obrigada pelas aulas — ela começou a acompanhá-lo até a porta. — E para isto que servem os amigos — ele disse, seguindo-a tão de perto que ela chegou a sentir o calor de seu corpo, a rigidez de seus músculos, seu hálito roçando os pêlos de sua nuca. Ela virou-se para ele. Seus olhares se cruzaram. A surpresa ficou evidente no rosto dele ao ver que ela levara a mão ao botão da blusa. Antes que ela pudesse respirar, tirou a blusa pela cabeça. Quando se olharam novamente, os olhos dele pareciam flamejar como um fogo verde. Ela sentiu certo nervosismo, pois, por mais que achasse tudo certo, não era. Havia algo de diferente nele. Alguma coisa que extrapolava sua aparência sexy e sua recémdescoberta autoconfiança. Algo perigoso e sombrio. Ela tirou o sutiã, que lhe caiu aos pés. Dillon hesitou. Mas não conseguia resistir ao que estava vendo. — Você é linda. — Eu quero você, Dillon — ela murmurou, finalmente liberando o desejo que lhe devastava desde que aquele sonho erótico tão real, desejo que só aumentou com instigantes aulas. E ele soube que ela estava sendo absolutamente sincera ao dizer aquilo. — Não. Sou eu quem quer você. — Ele então capturou os lábios dela com os dele. Nos minutos seguintes, ele acariciou e lambeu, e fez de tudo para levá-la à beira do orgasmo, até ela gemer e se agarrar à calça jeans que ele usava. Mas ele tinha uma missão a cumprir, de modo que lhe agarrou as mãos e puxou para trás da cabeça antes de beijá-la longamente. Quanto mais ele ousava e continuava, e se aprofundava nela, mais a queria. Em vez de ficar saciado, Dillon só estava conseguindo querê-la cada vez mais. Levantou-se para tirar as botas. Em seguida, fez o mesmo com a calça e a cueca. — Espere! — ela disse. — Precisamos de um preservativo. Ele nem pensava mais nessas coisas ultimamente. Vampiros não pegavam doença nenhuma — afinal, a mãe de todos os vírus já corria em seu sangue. Também não transmitiam nada, a não ser a condição de vampiro, mas apenas intencionalmente. Quanto a gerar bebês-vampiro, de acordo com Garret, era impossível. Mas Meg não sabia de nada disso, e Dillon não pretendia informá-la que ele não era sexy daquele jeito. Que aquilo era seu carisma de vampiro. "E daí?", perguntou uma voz na mente dele. Não importava porque ela o queria tanto. O fato era que ela o queria. Muito. Ele se concentrou nesse pensamento e pegou um preservativo que estava em sua carteira desde os tempos de colégio. MEG FICOU ouvindo o ronco do motor se afastando enquanto Dillon sumia na estrada escura. Mal resistiu ao impulso de abrir as portas francesas da varanda de casa e dar uma última olhada nele. Sou eu quem quer você. As palavras dele ficaram ecoando em sua cabeça. Mas não adiantaram muito para aplacar a frustração que crescia dentro dela. Pois tinha sido ela a ceder primeiro. E não podia admitir que sentia por Dillon algo além de amizade. Estava cansada, aborrecida e excitada, uma combinação perigosa. Claro que ela havia perdido a cabeça. Ele era quente, sexy, irresistível, por isso ela cedeu. Projeto Revisoras 54


Encanto Eterno – HFuego nº 17 – Kimberly Raye Mas, agora, chega. Nas últimas aulas fizera sexo para se abastecer pelos próximos seis meses. Precisava dormir um pouco e, então, tudo voltaria ao normal. Amanhã de manhã ela estaria de volta ao jogo. Buscando uma forma de aumentar seu sex-appeal e finalmente entrar na lista de Tilly. Sem Dillon Cash. Não podia continuar com aquelas aulas, nem que ele quisesse. E tinha sérias dúvidas se ele queria, considerando que ele não falara nada sobre um próximo encontro ao ir embora. Levantou-se e foi tomar um banho frio, procurando pensar no encontro de sábado à noite com Colt Grainger. NÃO OLHE agora. Meg disse a si mesma pela milésima vez desde que Dillon Cash entrou na taberna Roundup, onde ela estava com Colt Grainger todo derretido por ela. Aquela noite, que era para ser a mais excitante de toda sua vida — Tilly estava lá em uma mesa com o pessoal da Gazeta de Skull Creek — estava se transformando em um árduo exercício de autocontrole. Nem pense em olhar. Ela ignorou o ímpeto de virar para o bar e fixou os olhos nos olhos de Colt, agarrou firme no pescoço dele e continuou dançando e sorrindo. O problema era que não precisava olhar para Dillon para saber que ele estava à sua procura. Ela viu pelo canto do olho aquela sombra abrindo caminho pela pista de dança. Mais que ver, ela podia sentir que ele estava parando bem atrás dela. — Precisamos conversar — ele disse em seu ouvido. Ela se esforçou muito para não se virar para ele, agarrá-lo e dar vazão a tudo que vinha sentindo. Mas ela estava com Colt, e deu um sorriso como quem pede desculpas. — Estou muito ocupada — ela respondeu. Mas Dillon não era de desistir tão facilmente. — É questão de minutos. — Estou num encontro. — Estou vendo. — Ele não parecia nada satisfeito com aquilo. O que era inútil, pois ela não pretendia estragar a amizade entre eles dois. Por isso, nada mais de aulas. Nada mais de sexo. — Preciso de cinco minutos apenas. — E perder minha música favorita? — Ela deu outro sorriso de desculpas para Colt. — Escute, meu chapa — Colt se dirigiu a Dillon —, ela não quer falar com você. Dê o fora. — Meta-se com sua vida. — Isto é... — Colt começou a dizer, mas as palavras lhe fugiram. Uma luz estranha se acendeu em seus olhos, que ficaram vazios. Era como se ele estivesse fora do corpo. Suas mãos perderam a força e largaram a cintura dela. — Colt? — Ela olhou para o rosto inexpressivo do homem. — Você está bem? — Ele está bem. Vamos. — Não. — Ela estalou os dedos na frente do rosto de Colt. Nada. — Colt? — Estou falando sério, Meg. Você tem cinco segundos para vir. — Senão acontece o quê? — Senão eu vou carregá-la. Antes que ela respirasse novamente, Dillon a pegou pelo braço. — Está na hora. — Ele a pegou no colo e jogou por sobre o ombro, e num piscar de olhos ela estava de ponta-cabeça. Meg gritou, atraindo dezenas de olhares curiosos. Mas Dillon não queria nem saber. Saiu pelos fundos da taberna e a pôs de pé. Enquanto ele ajeitava o chapéu de caubói, ela esperou passar a leve tontura. Foi quando viu que os olhos verdes dele estavam brilhando no escuro com uma luz quase púrpura. Projeto Revisoras 55


Encanto Eterno – HFuego nº 17 – Kimberly Raye Ela piscou os olhos e a cor voltou ao verde de sempre. Claro que era ilusão de ótica. Estava tonta, e irritada. Com as mãos nos quadris, olhou feio para ele. — O que você pensa que está fazendo? — Você não queria um homem que tomasse a iniciativa? — Ele parecia mesmo ler seus pensamentos. — Pois foi o que fiz. Ignorando o fato de não se lembrar de ter confessado isso a ele, Meg respondeu: — Não deste j eito. — Não era? Você não queria um homem que agisse de acordo com seus sentimentos, tomasse a liderança, que estivesse tão louco de desejo que não conseguisse ficar longe de você? Bem, aqui estou. Meg borbulhou por dentro de excitação, mas em seguida sentiu uma onda de incerteza, pois Dillon Cash não podia, de jeito nenhum, estar tentando seduzi-la. Claro que ela estava muito atraente naquele vestido que escolhera a dedo em sua butique, mas ela tinha um armário cheio de roupas sensuais, e nunca fizeram a menor diferença. No fundo ela sabia que era uma fraude. A cidade inteira sabia disso, e ele não era exceção. Ela não era bastante sexy para que ele tomasse a iniciativa. Nem mesmo nos últimos dias que passaram às voltas com aquelas aulas tão provocantes! Nem na última noite, em que ele lhe tirou as roupas e se ajoelhou à sua frente. Nem agora, que eles estavam no meio de um estacionamento com o ar carregado do cheiro de batatas fritas e cerveja fedida que vinha de uma caçamba de lixo, e iluminados por uma lâmpada apenas. Era imaginação dela. Otimismo tolo. Hormônios em desespero. Ela havia tido uma prova do sexo mais fascinante e depravado de sua vida, e não conseguia deixar de ansiar por mais. Ela sabia disso. Ao mesmo tempo, não havia como negar o brilho penetrante dos olhos dele, nem o fato de ele a ter, literalmente, carregado no ombro de dentro de uma taberna lotada, na frente de Deus e de metade da cidade, ou o fato de ele estar olhando para ela agora com seus olhos brilhando de ciúme e com uma fome que eia sentia como se fosse um aperto no peito, tirando-lhe o ar dos pulmões. — O que está tentando dizer exatamente? — Isto. Então seus lábios capturaram os dela. O coração de Meg trabalhou em dobro, batendo desritmado, o som das batidas trovejando em seus ouvidos, afogando-lhe a consciência e dispersando as razões pelas quais aquilo não devia estar acontecendo. Afinal, eles eram amigos e ela podia acabar se apaixonando por Dillon, que por sua vez lhe partiria o coração, pois ele só estava, atrás de sexo. Ela acabaria magoada e sozinha. De novo. Ela passou os braços ao redor do pescoço dele, parando de pensar para apenas sentir. A parede de músculos do peito dele lhe amassava os seios. Suas coxas duras pressionavam as dela. O beijo foi quente, molhado e hipnótico, e breve demais. Ela sentiu todos os músculos do corpo dele enrijecerem. Ela abriu os olhos assim que ele separou os lábios dos dela. Foi quando Meg viu os olhos dele brilharem de um jeito diferente, pareciam em brasa, vermelhos. Ouviu um barulho vindo de perto, de um carro estacionado, um Buick. Virou os olhos a tempo de ver uma sombra se afastando às pressas do carro. Um uivo vibrou no ar e sua atenção voltou para Dillon a tempo de ver seus lábios se Projeto Revisoras 56


Encanto Eterno – HFuego nº 17 – Kimberly Raye abrirem. Suas presas cintilaram quando ele se contorceu... Não! O choque caiu sobre ela como um raio, e ela fechou os olhos. O ar lhe escapou dos pulmões e todos os músculos de seu corpo congelaram. Espere aí, espere aí. Ou ela tinha bebido demais ou não bebera o suficiente, pois não era possível que ela tivesse visto o que acabara de ver... que ele era um... Não! Negou com todas as forças o que vira, e em seguida sentiu uma onda de pânico ao abrir os olhos e deparar com Dillon, de presas ainda expostas, os olhos brilhando. Ele deu um passo para o Buick e desmaiou. Ela viu então o pequeno dardo cravado entre as omoplatas de Dillon. O medo que sentiu sobrepujou a ansiedade e a incredulidade, forçando-a a agir. Pois, vampiro ou não, Dillon Cash ainda era seu amigo. E acabara de levar um tiro. MEG CHAMOU Jake McCann em vez dos paramédicos. Apesar de querer acreditar que sua mente estava lhe pregando peças, no fundo ela sabia ter visto algo real até demais. Alguma coisa havia acontecido a Dillon dois meses atrás. Algo que ia muito além de algumas pesquisas na Internet sobre sex-appeal. Ele havia mudado de verdade. Fisicamente. Mentalmente. Emocional-mente. Um vampiro. Por mais que ela quisesse descartar essa possibilidade insana, não conseguia. Porque esta era a resposta para a grande questão: como Dillon Cash passara de nerd a deus praticamente da noite para o dia. Ele deu as costas a Meg, afastou-se da família e passou a andar com outro grupo de amigos, os donos da única loja de motos sob encomenda da cidade. Jake McCann e Garret Sawyer se mudaram para Skull Creek na época em que Dillon se transformara. Aqueles homens não eram amigos de um amigo, nem primos de um primo ou coisa assim. Eles simplesmente apareceram um dia, alugaram e reformaram o posto de gasolina, e assim nasceu a Skull Creek Motos. E nunca se misturaram com o povo da cidade. Nada de piqueniques no parque, nem almoços ocasionais no restaurante. De dia estavam sempre recolhidos e, de noite, botavam pra quebrar. E se Meg tinha alguma dúvida sobre Jake McCann ter algo a ver com a transformação de Dillon, ela desapareceu quando ele chegou em tempo recorde, pegou Dillon como se ele não pesasse nada, pôs no banco de trás de um carro preto, fez um gesto para que Meg entrasse com ele e seguiu na direção oposta ao hospital mais próximo. Ela tirou os olhos do homem cuja cabeça ela embalava em seu colo e procurou os olhos de Jake pelo espelho retrovisor. — Você também é vampiro, não é? Ele não respondeu. Nem precisava. Por uma fração de segundo ela caiu em si e mal conseguiu acreditar no que havia acabado de dizer. Um vampiro autêntico, do tipo Bella Lugosi, príncipe das sombras, Anne Rice, bebedor de sangue. Dezenas de imagens lhe passaram pela cabeça. Dillon aparecendo depois do pôr-dosol. Dillon na sua varanda. Dillon mexendo com ela por dentro mais do que qualquer homem antes. E tudo isso porque ele era mais que um homem. — Sei que é duro de acreditar — Jake falou como se estivesse lendo seus pensamentos. — Não posso ler seus pensamentos se você não quiser que eu leia — acrescentou, e Meg entendeu. — É como fechar a cortina de uma janela. Nikki faz isso o Projeto Revisoras 57


Encanto Eterno – HFuego nº 17 – Kimberly Raye tempo todo. Pois Nikki sabia da verdade. E aceitava. — No começo, ela não aceitou. Não queria acreditar, assim como você não quer. Ao mesmo tempo, ela não podia negar a verdade que estava debaixo do nariz. — Talvez eu esteja sofrendo de alucinação. Baixou os olhos para o homem deitado no banco ao lado dela e levou a mão a um dos bíceps tatuados. — Nós somos suscetíveis à luz solar e ao alho, estaca no coração, aquela história de sempre. Não podemos comer nada, mas podemos beber o quanto quisermos. Apesar de que não recomendo, pois somos muito sensíveis. Sentimos tudo com mais intensidade e profundidade que a maioria, o que nos torna fracos para bebida alcoólica. Temos reflexo como qualquer pessoa. Nós... — Dá para você parar? — ela disse sem pensar, sentindo a mente sobrecarregada com tudo aquilo. Estava ficando com dor de cabeça. Era demais para ela. — Por favor. Aquilo não estava acontecendo. E ela não estava vendo os olhos vermelhos e as presas de Dillon em seus braços. Nada daquilo era real. Pronto. Era só um pesadelo surgido de muito estresse e excesso de Twinkies. Logo ela ia abrir os olhos, com o sol brilhando, e Dillon acordaria, sorrindo. — Não se preocupe — a voz de Jake apagou os pensamentos angustiados de Meg, e ela levantou os olhos outra vez. — Ele não está morto. Ao contrário do que acredita muita gente, vampiros são seres vivos que respiram como os humanos. Nós somos humanos. Ou fomos, um dia. Dillon está vivo como qualquer pessoa. Mais ainda, agora graças ao sangue que corre em suas veias. Meu sangue. — Pelo retrovisor ela viu que os olhos dele brilharam de um jeito que desmentia outro mito, segundo o qual vampiros seriam criaturas frias e implacáveis. — Não tive escolha. Se eu não o transformasse, ele teria morrido, e eu não podia deixar que ele morresse. Ele ajudou Nikki. Ele a salvou. Eu tinha que devolver o favor. — O que aconteceu exatamente? — ela perguntou, por mais louco que parecesse tudo aquilo. — Eu... Não é meu papel lhe contar. — Ele voltou a prestar atenção na estrada. O resto da história era Dillon quem tinha de contar. — BEBA. A voz familiar adentrou a cabeça de Dillon e levantou as camadas de escuridão que lhe cobriam. Ele abriu os olhos com esforço. A luz doía nos olhos. A cabeça doía, e a vontade que teve foi de apagar novamente. Ficar em paz. — Não vá desmaiar agora, amigão. Dillon sentiu a cabeça sendo levantada e um copo em seus lábios. As primeiras gotas de sangue tocaram sua língua e suas vísceras se reviraram. Então, a fome tomou as rédeas da situação e ele começou a beber avidamente. — Calma, amigão. Vai ficar enjoado se beber rápido demais. — Mais — Dillon grunhiu ao terminar de beber. Com a cabeça de volta ao travesseiro, ele esperou Garret encher o copo mais uma vez. Fechou os olhos e se regozijou com a energia que pulsava em seu estômago e se espalhava pelos membros e nervos. E, então, começou a lembrar de tudo. De Meg olhando para ele como se estivesse pintado de verde. Ou como se tivesse presas de vampiro na boca. Droga! Projeto Revisoras 58


Encanto Eterno – HFuego nº 17 – Kimberly Raye Sentiu o pânico brotando por dentro. Precisava falar com ela. Já. — Calma. Faz poucas horas que aconteceu. Você ainda não está bom. — O que houve? Levei um tiro, não foi? Garret fez que sim. — Mas não de bala de revólver, e sim de tranqüilizante. Do tipo que usam em animais. Está começando a passar, mas você ficou totalmente sedado e precisa descansar mais. Dormir mais. Beber mais sangue. — Quem deu o tiro? — Dillon perguntou, sentindo um aperto na garganta. — Sei lá. Você não viu ninguém? Não sentiu ninguém? — Eu... — Ele havia sentido alguém, sim. De repente ele teve necessidade de se mexer. Levantou-se com dificuldade e o movimento provocou uma pontada de dor na altura da omoplata. Garret não disse nada. Simplesmente ficou olhando para Dillon, como quem entende o tormento em seu interior. — Você não tem se alimentado direito — Garret disse, enfim. — Está fraco. Por isso conseguiram derrubá-lo. Sorte sua não terem lhe matado. — E por que não mataram? — Isto eu também ainda não entendi. — Será um caçador de vampiros? — Possivelmente. — Garret deu de ombros.—Mas, se for, por que não lhe enfiaram uma estaca quando tiveram oportunidade? Por causa de Meg. Era o que ele queria acreditar. Mas Dillon conhecia caçadores o suficiente para saber que não era bem assim. Para eles, os vampiros eram inimigos, e não havia problema em matar alguns inocentes por uma causa maior. A presença de Meg não os teria detido. — É o Vampiro Ancestral — Dillon disse. — Ele sabe que estamos atrás dele e está tentando nos pegar primeiro. — Então voltamos à mesma pergunta: por que ele não o destruiu quando teve oportunidade? — Talvez seja um aviso. — Por que ele não cortaria sua cabeça para acabar logo com isso? — Porque... — A mente de Dillon deu voltas. — Talvez ele goste de jogar. — Dillon, você precisa descansar. Não está em condições de enfrentar ninguém, muito menos o Vampiro Ancestral. — Quero ir à loja. — Andou para Garret. — Estou bem. — Não está bem, não. Está com fome, e se vai sair, é melhor arrumar uma garota para morder o pescoço. Foi quando ouviram uma voz de mulher. — Então é aqui que você anda se escondendo nos últimos meses — disse Meg. E ao ouvir aquela voz Dillon subitamente percebeu que não havia volta. Não era mais possível esconder os fatos de Meg. Assim como percebeu que não podia mais esconder de si mesmo que era ela quem ele queria. Às favas com o recorde de Bobby. Às favas com o bom senso. Ele queria que a ligação entre eles fosse eterna. E tinha meios para conseguir aquilo. Dillon respirou fundo e se preparou para uma longa conversa. Ele e Meg tinham uma longa noite pela frente.

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Encanto Eterno – HFuego nº 17 – Kimberly Raye CAPÍTULO DOZE AQUELE não era o pior dia de sua vida, mas chegava perto. Meg foi chegando a essa conclusão à medida que as horas iam passando e as coisas pareciam piorar cada vez mais. Não bastasse ter de encarar e acreditar no fato de Dillon Cash ter se transformado realmente em um vampiro, tinha de lidar com as agruras profissionais de uma dona de butique. Primeiro descobriu que a nova costureira que contratara tinha fugido para Las Vegas, levando o vestido de aniversário de 25 anos que Chantal Mortimer deixara três dias atrás para refazer a bainha. E naquela manhã lá estava a costureira na seção de anúncios de casamentos da Gazeta de Skull Creek usando o tal vestido, e com um anel de noivado do tamanho de um pequeno país do Terceiro Mundo. Chantal ficou furiosa — e com inveja, pois seu anel era um pouco menor do que o da outra — e exigiu seu dinheiro de volta. Meg devolveu prontamente, mas teve de escutar uma hora de impropérios da cliente, que ainda ganhou um almoço por conta da butique. Então chegou Margie Westbury. Margie havia rasgado o vestido que usaria naquela mesma noite no banquete do Clube Elks e agora precisava de outro, o que não seria problema caso Margie não vestisse roupas tamanho extragrande, feitas por encomenda. Tammy Greenburg queria um modelo exclusivo que vira na CMT, e não conseguia entender porque Meg não tinha no estoque (bem, quando se diz que a peça é exclusiva, deve haver uma razão). Sue Carrigan engordara nove quilos e não cabia mais no vestido de casamento que iria usar dentro de uma semana. E Honey Harwell vetou todos os dez modelos que Meg arrumou do dia para a noite para a prova de roupas de sábado à tarde. Então, o ex de Terry apareceu. Não uma só vez, mas cinco. E para piorar a situação, Meg não conseguia parar de pensar em Dillon. As imagens ficavam indo e voltando em sua mente. Memórias. De quando eles eram crianças e ele a ensinou a jogar xadrez e a ligar o computador. Do último Natal, quando ele deu uma coleira nova para Babe. Daquela noite no motel, quando ela o viu de perto pela primeira vez desde a transformação. Foi a primeira dose que ela experimentou da mais pura luxúria, e desde então seu desejo só aumentava. Acrescente-se ao forte sentimento uma amizade maravilhosa e não era de admirar que ele mexesse tanto com ela e a atraísse tanto. Além disto, estavam realmente ligados depois que ele bebeu de seu sangue. Ela podia senti-lo, sentir seu cheiro, sua presença. As sensações cresciam depois que o sol se punha e a escuridão caía sobre a cidade. Ela sabia o momento que ele abria os olhos. Sentia as batidas de seu coração, sua pulsação e a força que vivia e respirava dentro dele. Sentia até mesmo sua determinação. Dillon Cash estava vindo atrás dela. Ela sentiu uma onda de excitação e seu pulso disparou. Ele era o primeiro homem a realmente tirá-la do sério. Sua fantasia se tornara realidade. Não era o homem em si que fazia seu coração bater mais rapidamente. Não, era o que ele representava. Foi isso que Meg finalmente concluiu ao cair da noite. Lutou contra o nervosismo que começava a brotar e foi pegar no cabideiro qualquer roupa mais ou menos do tamanho de Honey. A garota ainda estava lá, plantada em uma cadeira no vestiário principal, com seu iPod berrando nos ouvidos enquanto esperava Meg voltar com mais sugestões. Meg acrescentou um vestido largo carmesim aos braços já carregados e então se virou para outro cabideiro. Suas coxas roçaram uma na outra de um jeito sensual e ela foi tomada por um desejo intenso e penetrante. Suas pernas tremeram e lhe faltou o ar, e sentiu um pavor profundo. Pois quanto mais excitada ela estava, mais difícil era resistir a ele. Projeto Revisoras 60


Encanto Eterno – HFuego nº 17 – Kimberly Raye E ela tinha intenção de resistir. Não queria perdê-lo como amigo. E era isso que ia acontecer. Envolvimentos amorosos eram fugazes. Ela já sabia disso por experiência própria. Se saciasse a louca luxúria que a queimava por dentro, teria um prazer temporário. Poderia até durar algum tempo. Mas, no final, Dillon procuraria outra mulher, ou, então, acabaria mergulhando de novo em seu velho eu e perderia o interesse que agora sentia por ela. De um jeito ou de outro, o fogo se apagaria, e com ele morreria também a amizade. Ela não ia deixar que isso acontecesse. Não mesmo! Razão pela qual, quando ele aparecesse, e se aparecesse, ela ia simplesmente esclarecer tudo e dizer a verdade: por mais que tivesse gostado muito de ir para a cama com ele, não tinha nenhum sentimento romântico por ele, de modo que era melhor parar de fingir e voltar à condição de amigos. Sentiu uma pontada na pele ao pegar o último vestido e voltar para o vestiário. Ele estava vindo, sim. Ótimo. Quanto antes esclarecesse tudo, mais cedo salvaria a amizade deles. Isto se ela não estivesse com a preocupante sensação de que já era tarde demais. HOJE ERA a noite. Dillon saiu do chuveiro e pegou uma toalha. Resolveu abrir o coração para ela. Meg ia escutar, abrir os braços para ele e tudo ficaria bem. Ou não. Ignorando a dúvida, vestiu a roupa e pegou as chaves. Era início da noite e Garret ainda permanecia em seu apartamento. Provavelmente, se preparando para sair e se alimentar. Seu estômago roncou ao passar pela geladeira — e pelo sangue. Mas, por enquanto, já tomara o suficiente na noite anterior. Estava forte, seus sentidos, aguçados. Não, o que ele queria não tinha nada a ver com o calor carmesim que corria pelas veias dela. Ele queria mais dessa vez. Queria tudo. Passou os dez minutos seguintes acessando os códigos de segurança. Meg não teve que passar pelo mesmo processo naquela manhã porque o alarme estava com um cronômetro que não soava antes das 9h. Do contrário, ela teria disparado um barulho dos infernos ao sair correndo depois daquela longa noite de conversa e sexo delirante. Mais de sexo do que conversa, e tão delirante que Dillon perdeu a cabeça e realmente fez o que era preciso para conectar os dois para sempre. Ela ainda estava correndo, mas não por muito tempo. Dillon ia dar um jeito de fazer Meg colocar a cabeça no lugar. Eles tinham chance de dar certo. Jake e Nikki eram prova disso. Mas Nikki ama Jake. Meg amava Dillon, também. Sabia que amava. Sentia isso. Só que ela era teimosa demais para admitir. Mas agora não era hora de teimosia. Afinal, o que estava em jogo era o resto de suas vidas. Cinqüenta e tantos anos se seus instintos estavam corretos e se o Vampiro Ancestral estivesse mesmo por perto. Caso contrário, seria para sempre. Ele só sabia que, fosse o tempo que fosse, queria ficar ao lado de Meg Sweeney. A começar de agora. Montou na motocicleta e deu a partida. Mas, primeiro, tinha que resolver uma coisa. — ABAIXE A lata de spray, mãe — Dillon disse meia hora depois, em frente ao jardim de Projeto Revisoras 61


Encanto Eterno – HFuego nº 17 – Kimberly Raye sua casa, ao sentir a mulher que vinha por trás dele. Em um piscar de olhos, ele se virou e a encarou. Ela estava usando uma roupa preta de corpo inteiro, tinha uma expressão determinada no rosto e trazia na mão a maior lata de spray de gás pimenta que ele já vira. Então, ele viu a segunda figura. Seu pai fedia a spray de gás pimenta também. Ele também estava com uma roupa preta de corpo inteiro, e de máscara. Os óculos bifocais de lentes grossas sobre o nariz cobriam a máscara preta colada ao rosto. Mas o pai não era a ameaça agora. Não, da mãe vinham grandes ondas de tensão. Ela estava preocupada e com medo, e não ia recuar até conseguir colocar Dillon no cabresto. — E para seu próprio bem, meu querido — disse a senhora, dando um passo à frente. — Fizeram lavagem cerebral em você e depende de nós reverter o processo. — Juro que não sofri nenhuma lavagem cerebral. — Claro que você não acha que sofreu lavagem cerebral. Ninguém que passa por isso acha que sofreu. É o que deixa mais óbvio que você está enfeitiçado. Quem fez isso? A seita do reverendo Moon? Algum grupo satanista? Eu não devia ter lhe protegido tanto! — A voz soou angustiada. — Mas eu estava tentando fazer o melhor para você. Estava mesmo. — Eu sei. — A voz dele era tranqüila e calma, um contraste direto com o nervosismo que sentia. Sentia-se como se fosse criança de novo, mostrando para a mãe o corte infectado e decepcionando-a. — A senhora não fez nada de errado. A senhora me educou bem. — Eu errei. Não uma vez só, errei duas vezes. Mas não vou errar mais. — Deu outro passo determinado para a frente. — Vou cumprir meu dever agora. Vou salvar meu bebê. — Mais um passo e ela levou o dedo ao spray. — Solte... o... spray. — Ele olhou bem dentro dos olhos dela e repetiu. Não queria forçar demais. Queria que ela tivesse consciência daquilo. Ao mesmo tempo, se não fizesse nada, a mãe acabaria imobilizando-o. Ela ficou boquiaberta e de mão mole. Deixou cair a lata de spray. Ao virar para o pai, viu que ele estava perplexo com o estado catatônico da mãe. — Solte a pistola de choque — Dillon disse ao pai, que já tinha posto a arma de volta no bolso. — Faz anos que tento fazer sua mãe calar a boca assim. — O pai tirou a máscara que estava usando e olhou para o filho. — Como fez isso? — Quer saber mesmo? — Está brincando? — O pai sorriu com genuíno interesse no rosto. A tensão dentro de Dillon amainou. Quem sabe contar a verdade para eles não fosse tão ruim quanto ele pensava? Levou meia hora sentado na varanda de casa para explicar ao pai o que havia acontecido, e enquanto isso a mãe ficou sentada em uma pequena espreguiçadeira com um olhar passivo no rosto. Fora o espanto inicial, o pai não ficou muito chocado. Pareceu até um pouco aliviado. A mãe, apesar de não conseguir se mexer, estava ouvindo tudo. Dillon fez questão de se certificar que ela prestava atenção. Ela olhou para ele, soltou um gemido e desmaiou. Não era bem o "Eu amo você de qualquer jeito, filho" que ele espera ouvir, mas ao menos ela não teve um ataque cardíaco. — Dê um pouco de tempo a ela — o pai disse, dando-lhe um tapinha no ombro e se levantando. — E o senhor? Tudo bem para o senhor? — Não sei. — Deu de ombros. — É difícil de acreditar. Por outro lado, sua mãe está acampada aqui faz três semanas, então não sei mais o que é impossível. Só quero que você fique bem. Projeto Revisoras 62


Encanto Eterno – HFuego nº 17 – Kimberly Raye — Eu estou. — Ótimo, porque estava com medo de ter que lhe imobilizar com a pistola de choque. Ainda não aprendi a mexer com esse troço sem me enrolar. Dillon ajudou o pai a levar a mãe para dentro do carro. Iam fazer mais uma visita à emergência do hospital para fazê-la retomar a consciência. Ficou pensando se ela daria com a língua nos dentes e contaria para alguém o que havia acabado de ouvir. Mas era um risco que ele tinha de correr. Estava cansado de andar sempre na linha e ficar se preocupando "com as conseqüências. Chega de sentir medo! Não, ele ia encarar seus medos e agir de acordo com seus sentimentos pela primeira vez na vida. Só esperava que Meg estivesse disposta a fazer o mesmo. Procurou afastar da mente as incertezas, montou na motocicleta e foi para a cidade. MEG IGNOROU O ímpeto de enforcar Honey Harwell. A jovem polarizava as atenções no vestiário. Eram quase 19h e Elise ainda tinha que voltar. A não ser por Terry e Hank, que estavam discutindo outra vez na rua de trás, Meg e Honey estavam totalmente sozinhas. Ou seja, ninguém ia escutar se Meg resolvesse se tornar agressiva. Ou se resolvesse lavar a boca da garota com sabão. Resistiu à idéia tentadora e lançou mão de toda a sua paciência. — Vamos tentar outra vez. Esta cor e este corte são perfeitos. — É horrível. Mais que horrível, é pavoroso. Por que a pessoa não tinha uma barra de sabão à mão quando mais precisava? Meg respirou fundo e tentou outra abordagem. — Não é tão pavoroso quanto os outros, certo? Quer dizer, os outros fediam de tão feios. — Ela fez a garota lembrar do que tinha dito. Honey pareceu pensar. — Odeio isso. Quero ir para casa. — Então experimente o vestido outra vez, pois acho que é a única maneira de você sair daqui. Sua mãe disse para você escolher algo até ela voltar, senão ela ia confiscar seu iPod. — Golpe baixo — Honey disse, e pegou o vestido. Amém. Meg puxou a cortina do vestiário e ficou pensando se devia ou não ligar para a polícia ou para a emergência. — ... acabou, estou lhe dizendo. — A voz de Terry veio da porta entreaberta onde ela estava com Hank, outra vez. — Você não pode simplesmente me deixar em paz? — Mas eu amo você, meu bem. Você é meu mundo. Nenhuma daquelas mulheres significa nada para mim. — Não quero saber desse assunto. Isso é passado. Estou em outra. E você também deveria estar em outra. — Mas você não pode fazer amor com um homem e depois lhe dar as costas... Meg passou pelo telefone e pegou uma pequena lata de gás pimenta que guardava debaixo da registradora. Prometera a Terry que a deixaria lidar com Hank do seu jeito. Enquanto ele mantivesse a voz em tom civilizado e não partisse para a agressão, Meg estava disposta a manter a promessa. Mas, ao primeiro sinal de problema, ia borrifar gás pimenta no rosto dele. Ela estava quase voltando ao vestiário para ver como Honey estava quando ouviu o barulho de uma motocicleta. Virou-se a tempo de ver Dillon estacionar em frente à sua butique. Seu coração disparou quando soou a campainha. Ele estava de calça jeans e camiseta preta. Seu rosto tinha uma expressão Projeto Revisoras 63


Encanto Eterno – HFuego nº 17 – Kimberly Raye determinada. Seus olhos verdes profundos chamuscavam de emoção e... Não! Ela entrou em pânico e abriu a boca antes que ele pudesse dizer qualquer coisa. — Não diga nada! — Não dizer o quê? — Ele arqueou a sobrancelha loura e deu um passo na direção dela. Ela recuou. — Não diga o que você veio dizer. — Contei para os meus pais. — Você vai estragar tudo — ela disse antes de registrar as palavras que ele havia acabado de dizer. — Como é que é? — Contei tudo a eles, e eles aceitaram. — Deu de ombros. — Ao menos meu pai aceitou. Minha mãe ainda não deu seu veredicto. E ontem eu percebi uma coisa: por mais ousado que eu tenha ficado, ainda estava com um pouco de medo. — Seus olhos se acenderam com um brilho de consciência. — Como você. Antes que ela pudesse piscar, que dirá abrir a boca e dizer as palavras negativas que lhe vieram aos lábios, ele estava bem à sua frente. Suas mãos grandes e fortes lhe envolviam o rosto. — Não tenha medo. Ele a tocou com tamanha suavidade e com tanta ternura que ela sentiu um nó na garganta. — Não tenho medo de você — ela finalmente conseguiu dizer, num sussurro. — Não. Você está com medo é de você mesma. Ele viu os pensamentos frenéticos que passaram pela cabeça de Meg. A ansiedade. A negação. O medo. Ela lutou contra aquelas idéias e recuou, afastando-se daquelas mãos cálidas e daquele olhar investigativo. — Não estou, não. — Está, sim. — Ele não pareceu nada feliz de tirar as mãos do rosto dela. — Você tem medo de se soltar, de se apaixonar, de amar. Porque, se você não se expuser, não corre o risco de se magoar. Não se pode perder o que não se tem. Por isso você tem medo de amar. Ela sentiu um nó na garganta e lágrimas brotaram no fundo dos olhos. Ela piscou e falou com dificuldade. Aquilo era loucura. Ele era louco. — Eu amo um monte de coisas. Amo minha cadela. Meus avós. — Você os amava antes de seu pai morrer. Mas, desde então, você não se permite ficar mais próxima de ninguém, não de verdade. Por isso tanto tentou mudar nesses últimos anos. Você quer esquecer a mulher que era, quer enterrar o passado. — Eu não era uma mulher naquela época. Era uma moleca. — Era mulher, sim. Cem por cento mulher. Mas antes você estava à vontade consigo mesma, e agora não está. Porque aquele seu jeito de antes lhe lembra o pai, a perda, a dor. — Ele se aproximou dela novamente, tocando seus ombros, levando as mãos ao pescoço, acarinhando as bochechas. — Você tem que se soltar, meu bem. Não pode ficar se escondendo. Relaxe. Ela queria. Queria passar os braços ao redor do pescoço dele e ceder à torrente de emoções que ameaçava cegá-la. — Você é louco. Você não quer encarar o fato de que eu não tenho sentimentos por você e está inventando tudo isso para agradar seu ego ferido. — Se isso é verdade, então olhe nos meus olhos e diga que não sente nada por mim. — As mãos dele lhe emolduravam o rosto, ancorando-a e forçando-a a encará-lo. E a encarar a si mesma. — Diga que você não me ama do jeito que eu amo você. — Eu... — Ela lutou contra a ansiedade que explodia em seu coração e tentou com todas as forças resistir ao ímpeto de virar o rosto e beijar a palma da mão dele e se Projeto Revisoras 64


Encanto Eterno – HFuego nº 17 – Kimberly Raye entregar àquele homem. E depois terminar arrasada, destruída, magoada. — Eu não amo você! — ela disse, forçando as palavras a sair. E, então, fez o que devia ter feito em vez de lhe convidar para ir ao motel. Deu as costas para Dillon Cash e se afastou. DILLON MAL resistiu ao ímpeto de jogá-la sobre o ombro, levá-la de volta para casa e amá-la até que ela parasse de rejeitá-lo e aceitasse, finalmente, a verdade. Não iria forçá-la, pois era o que ela queria: uma desculpa conveniente para minimizar o que sentia, como se fosse apenas luxúria. Mas era mais, apesar de Meg se recusar a admitir. Ele a observou se afastar e se forçou a dar meia-volta. Subiu na motocicleta. Estava para dar a partida e sumir de lá quando ouviu as vozes alteradas vindas dos fundos. — ... não pode fazer isso comigo. De novo, não. — Vamos, Hank. Acalme-se. — É você quem tem que se acalmar, droga. Não pode brincar assim com as emoções de um homem. Não foi tanto o que o homem disse que desviou a atenção de Dillon de suas malditas emoções e o fez correr para os fundos do edifício. Foi o tom ameaçador da voz. Poucos passos depois, Dillon estava nos fundos da butique. Seus olhos perscrutaram a escuridão em tempo de ver o homem atacando a assistente de Meg. Em um piscar de olhos, Dillon chegou até eles. Pegou uma das mãos do homem antes que ele alcançasse o pescoço da mulher. — Mas que diabo... — Deixe-a em paz — Dillon interrompeu. — Cai fora — grunhiu o homem, tentando soltar a mão do aperto firme de Dillon. — Isto não é da sua conta. Isto é entre minha mulher e mim. Dillon arqueou uma sobrancelha para Terry Hargove. Seus olhos estavam acesos de medo e ela negou com a cabeça. — Ela não é sua mulher — Dillon disse ao homem, apertando o suficiente para se fazer entender. Ossos estalaram e o homem gemeu. — É? — Nã-não — o homem disse quando finalmente conseguiu. — Ótimo. Agora caia fora daqui. E não volte. — Mais um apertão e ele soltou o homem. O agressor foi embora e Dillon se virou para a mulher, que estava apavorada. — Você não viu nada, certo? — Primeiro ela pareceu assustada, mas depois seu corpo deu sinais de relaxar. — Volte lá para dentro e esqueça o que aconteceu. E o esqueça também. Ela fez que sim com a cabeça e Dillon pensou em recrutar Terry para sua causa. Bastavam algumas palavras persuasivas e ele conseguiria facilmente convencê-la a tentar convencer Meg de que ele era a melhor coisa do mundo. O problema é que ele queria que Meg chegasse a essa conclusão por si mesma. Queria que ela o quisesse por livre e espontânea vontade. Então, conteve o desespero e observou Terry entrar pela porta dos fundos. E se forçou a ir embora. Estava tão sem esperança que mal escutou os passos vindos por trás. Ele se virou, pronto para enfrentar a ameaça. Mas era tarde demais. Mal conseguiu ver as duas sombras antes de sentir a picada no pescoço. Foi tomado por uma dor aguda. Seus músculos se retesaram. O chão pareceu sacudir. E, então, tudo ficou escuro.

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Encanto Eterno – HFuego nº 17 – Kimberly Raye CAPÍTULO TREZE ELA estava com medo. Quinze minutos depois, no vestiário, Meg finalmente admitiu a verdade para si mesma ao tentar convencer Honey Harwell a experimentar o novo vestido, já que, a exemplo dos anteriores, o oitavo também não era de seu agrado. Viu o olhar melancólico no rosto da garota, percebeu um desejo oculto, e entendeu que Honey não estava recusando tudo que Meg mostrava por não gostar de nada. Não, ela estava rejeitando aquele vestido especificamente por gostar demais dele. Adorava. Assim como Meg estava rejeitando Dillon. Fugindo dele. Escondendo-se. Porque não queria correr o risco de se apaixonar e terminar desiludida e sozinha. A verdade se cristalizou quando Honey passou os dedos por uma fileira de botões, demorando-se um pouco demais antes de fazer cara feia. É, Dillon estava certo. Meg ainda era a mesma pessoa no fundo, ainda nutria a mesma dor, ainda tinha medo. Ainda estava sozinha. E Dillon ainda estava lá. Abraçando-a. Ajudando-a. Amando-a. Sempre estivera. E apesar de ela não fazer idéia do como seria o amanhã — sua salvação ou a eternidade na condição de vampira —, de repente não importava mais. A única coisa que importava era dizer a ele que o amava hoje ainda. Agora mesmo. — É seu — Meg disse a Honey, pondo de lado um punhado de vestidos. — Como é? — Eu sei que você gosta deste vestido. Você sabe que gosta. Então, por que não admite e acaba com esse sofrimento para nós duas? Honey fez uma bola de chiclete. — Você é maluca. — E você está negando por defesa. Não há nada de errado em usar coisas bonitas. Assim como não há nada de errado em usar suéteres e camisetas de caubói. — Quando o desdém de Honey se transformou em perplexidade, Meg continuou: — Pare de ter tanto medo de si mesma. — Não estou com medo de nada. — Está, sim. Encare isso para poder superar. — Você não sabe de droga nenhuma! — Sei mais do que você imagina. — Sua mágoa interna remexeu, mas Meg não a reprimiu. Pelo contrário, deixou que ela aflorasse. Seus olhos queimaram e as lágrimas que antes ameaçaram descer agora rolaram rosto abaixo. Honey ficou tensa. —Nossa, dona, não precisa ficar tão emotiva. Não... não tive intenção de lhe magoar. Meg olhou nos olhos da garota. — Você quer mesmo perder seu primeiro e único baile de formatura? — Talvez — Honey finalmente disse após pensar longamente. —Não sei. — Quer dizer que tem um lado seu que quer ir. — Enxugou as lágrimas. — Então pegue o vestido e vá. Fica de presente. Uma luz cintilou rapidamente em seus olhos, mas se apagou frente à fria determinação da garota. — Para ficar igual a minhas irmãs? Já é difícil demais conseguir fazer minha mãe me notar sem me misturar à multidão. — Então é isso, Honey Harwell? Projeto Revisoras 66


Encanto Eterno – HFuego nº 17 – Kimberly Raye A voz familiar encheu o lugar e Meg se virou e viu Elise. — Você está agindo como uma mula para chamar minha atenção? — De jeito nenhum. — Honey devolveu o vestido a Meg. — A última coisa que preciso na vida é da senhora me cercando. Era a última coisa da qual ela precisava na vida, mas era o que mais queria. Meg sabia disso, e, felizmente, Elise também. A mulher pegou o vestido e jogou para a filha. — Vista. — Já sei que vou odiar. — Então vamos experimentar todos até você encontrar um que não odeie. E vamos continuar tentando mesmo que tenhamos que voltar aqui todos os dias até o baile. — Sorriu para a filha. — Ou isso, ou você fica com este vestido e podemos sair para jantar. — Sem Katy nem Ellen, nem Marjorie, nem Sue? — Só nós. A menina ficou animada e pegou o oitavo vestido. — Fico com este aqui. E com os sapatos dourados e os brincos que vi na vitrine. E aquele colar perto da entrada. Um problema estava resolvido. Faltava o outro. Meg prometera a Elise que tudo seria empacotado e entregue no dia seguinte, então deu boa-noite às duas. Estava quase trancando a porta quando viu que a motocicleta permanecia estacionada em frente à loja. A esperança brotou, mas morreu rapidamente quando ela saiu. Subiu-lhe um medo pela espinha e ela ouviu o ruído de um motor. Virou para a esquerda a tempo de ver um carro saindo do estacionamento na frente da loja. Um Buick pegou a rua principal e foi para o norte, afastando-se dela. Ela foi tomada por uma estranha sensação de déjà vu e sua mente retrocedeu ao estacionamento da taberna Roundup. Notou a conhecida pintura azul e as janelas escuras. Sentiu um formigamento nos pés e nas mãos e soube que algo desesperadamente errado estava acontecendo. Soube antes mesmo de ouvir a voz desesperada de Dillon. Traga ajuda. Mas não dava tempo. Apesar da pouca velocidade do carro, ele já estava perto da fronteira entre Skull Creek e Junction. Quando ele pegasse a rodovia, enfiaria o pé no acelerador e Deus sabe onde estaria até ela conseguir contatar Jake e Garret Apesar de não ter dúvidas de onde encontrá-los, talvez não conseguissem chegar antes de... Só de pensar ela sentiu uma onda de medo. O tempo estava lhe mordendo os calcanhares, paralisando-a por um breve momento. O pior dia de sua vida. Não desta vez. Não se ela pudesse fazer alguma coisa. — Ligue para Nikki Braxton — Meg disse a Terry quando entrou correndo para pegar as chaves. —Para quê? — Diga que Dillon está em apuros e que está indo para a rodovia interestadual. — Dillon? Dillon Cash? Mas ele estava aqui agora mesmo. — Você o viu? — Vi. — Ela pareceu pensar e mudou de idéia. — Acho que não. Aonde você vai? — Ajudar Dillon — Meg disse, já saindo pela porta. Estou indo. Ela emitiu o pensamento, entrou no carro e seguiu em perseguição do Buick. A voz DE Meg lhe sussurrou à mente, acordando-o da escuridão que o mantinha imóvel. O carro deu um solavanco e ele foi sacudido de sua letargia, voltando à realidade do Projeto Revisoras 67


Encanto Eterno – HFuego nº 17 – Kimberly Raye assento de vinil abaixo dele, da fita isolante com a qual lhe amarraram pulsos e tornozelos e das vozes que vinham do banco da frente. — Não pode dirigir mais rápido? — perguntou uma voz feminina. — Quer que me parem? A última coisa que precisamos é que a polícia nos pare com um corpo no banco de trás. — Um vampiro — a outra voz corrigiu. — Há uma enorme diferença. Você mesmo viu na noite passada. — É, mas ainda não estou cem por cento convencido, e só vou ficar quando estiver com uma das presas dele na minha mão. Até então, estarei considerando isto aqui um seqüestro comum. E qualquer seqüestrador que honre sua função sabe que não pode correr com alguém amarrado no banco de trás. — Então não corra. Mas pode ao menos ir um pouco mais rápido? A droga do dardo vai perder o efeito antes de chegarmos ao motel se continuarmos nessa velocidade. Mas já estava passando o efeito, graças à noite anterior, ao doce sangue de Meg, e à voz que murmurava em sua cabeça. Agüente firme, ela cantarolava. Apenas... agüente firme... Pronto. Estou vendo vocês. Ele entrou em pânico. A última coisa que queria era que Meg o encontrasse ainda amarrado e sem defesa. Ela iria direto para o banco de trás para salvá-lo, expondo-se ao que estivesse no banco da frente. Ele lutou contra a letargia e se esforçou para mexer as mãos. Flexionou e apertou os dedos. A fita se rasgou como se fosse papel higiênico. — Espero que você esteja certa — o homem murmurou. — Se só conseguirmos uns 200 dólares depois deste trabalho todo, vou ficar aborrecido. — Cale a boca. Aquele sanduíche com a imagem de Jesus foi vendido por 800 mil dólares no eBay. Você acha que uma autêntica presa de vampiro vai sair por menos de 10 mil? — Se for real. — Já é real. Você viu naquela à noite na taberna. Eu não lhe disse? — a mulher murmurou. — Eu disse antes mesmo de chegarmos lá. O cara é vampiro mesmo. Eu soube assim que vi aquele blog. As coisas que ele mencionou.... Ora, não se inventam coisas daquele tipo. As palavras fizeram sentido e ele entendeu. Dillon soube então que não tinha atraído a atenção de caçadores de vampiro, nem do Vampiro Ancestral. Quer dizer, ainda não. Não, ele acabou atraindo um casal de malucos que queria vender suas presas no eBay. Por mais ridículo que fosse, não podia negar a dor no pescoço onde eles tinham dado um tiro de tranqüilizante para deixá-lo inconsciente, levá-lo a um motel, amarrá-lo à cama e extrair suas presas para vender no eBay. De jeito nenhum. Convocou a cooperação de seus músculos e levantou-se um pouquinho para dar uma olhada por sobre o banco. Viu a pistola de tranqüilizante, junto a uma arma e alicates gigantescos. Eram malucos e perigosos. — Putz — o motorista murmurou e desviou. Dillon bateu contra o banco e foi tomado por uma onda de dor. Lutou contra o calor que lhe agulhava e se concentrou nas vozes. — O que houve? —A mulher perguntou. — Tem um carro nos seguindo. Ela olhou nervosamente por sobre o ombro. — Tudo bem, mas não nos jogue numa vala por causa disso. Fique calmo. Pare o carro. — Mas estão nos seguindo. Projeto Revisoras 68


Encanto Eterno – HFuego nº 17 – Kimberly Raye — E precisamos resolver isso. Agora pare o carro. O carro começou a diminuir a marcha e Dillon conseguiu se concentrar outra vez. Logo estavam fora da estrada. Meg parou atrás deles, atrapalhando-se ao volante. Ouviu-se o clique metálico quando a mulher carregou a arma e puxou o gatilho. — Dillon! — Meg gritou, desesperada, ao mesmo tempo que Dillon levantou do banco e arrancou a arma da mão da mulher. — Que diabo... — A pergunta se desfez em um barulho forte quando a arma explodiu. O vidro da frente foi despedaçado. O homem e a mulher olharam para ele e gritaram. Saíram do carro correndo, passaram por Meg e foram na direção das árvores. Dillon pensou em ir atrás deles, mas então viu o ronco distante de motocicletas e soube que a cavalaria estava a caminho. Jake e Garret iam encontrar os malucos rapidamente e dissuadi-los de tentar algo do tipo uma outra vez. No momento, Dillon tinha coisas mais importantes para resolver. — Você está bem? — Meg perguntou quando ele se levantou do banco de trás e olhou para ela. Ela tocou seu rosto com as mãos para se certificar antes mesmo que ele pudesse responder. Ele segurou a mão de Meg e levou-a ao coração. — Depende de quem pergunta. — Ela olhou para ele sem entender e ele acrescentou: — Se é minha amiga, estou bem. Se for minha namorada... — A voz sumiu enquanto ele lhe observava o rosto, procurando a verdade, torcendo do fundo do coração para que ela não o bloqueasse dessa vez. Ele precisava saber. Como se sentisse o desespero dele, ela o encarou com olhos brilhantes, cintilando de um amor tão penetrante que o golpeou como um soco no estômago. No fundo de seu coração ele sabia. — Você tinha razão — ela disse. — Eu estava com medo. Ainda estou, mas me proponho a encarar esse medo se for para ficar com você. — Engoliu em seco. — Eu amo você, Dillon. Sempre amei. — Mesmo quando eu não sabia beijar? — Mesmo naquela época. Eu só não sabia que o amava. Você precisa acreditar em mim como eu acredito em você. Ele lhe acariciou o rosto. — Acredito. Eu amo você. — Mesmo quando eu não sabia beijar direito? Ele hesitou e ela lhe socou de brincadeira. Ele a tomou nos braços. — Mesmo assim. Sei que o futuro parece incerto, mas tudo vai dar certo. — Nós vamos dar um jeito — ela disse, olhando nos olhos dele. Ele concordou. Fosse como marido e mulher envelhecendo juntos, fosse passando a eternidade lado a |lado. De um jeito ou de outro, estariam juntos. Agora. ' Sempre. — É então? Você é minha amiga ou minha namorada? — Ambas — ela murmurou, e o beijou.

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Encanto Eterno – HFuego nº 17 – Kimberly Raye EPÍLOGO GARRET Sawyer encurralou o casal no acostamento da rodovia deserta. Eles estavam catatônicos, com as roupas rasgadas por causa da tentativa de fuga, tinham terra no rosto e folhas nos cabelos. Mas ali estavam, e assim Garret e seus companheiros estavam a salvo. Por enquanto. Os dois estavam em liberdade condicional. A ficha policial do homem era maior do que a lista de presentes do Papai Noel. A mulher vinha entrando e saindo da cadeia desde os 12 anos. Nenhum dos dois cometera nada pior do que pequenas contravenções, a não ser por uma acusação de agressão quando a mulher brigou com uma vizinha e lhe deu um tiro com uma pistola de tinta. Eram bandidos medíocres que achavam que iam conseguir uma boa grana vendendo presas de vampiro pela Internet. Não deixava de ser engraçado. Garret teve de se segurar para não bater com as cabeças dos dois para ver se entrava algum juízo nelas. Mas ele não era de perder a cabeça. Preferia algo mais eficaz. — Voltem para o carro — ele disse pausadamente, olhando bem dentro dos olhos do homem. — Voltem para o lugar de onde vieram e nos esqueçam. Vocês não estiveram aqui. Nós não estivemos aqui. E, pelo amor de Deus, façam algo que preste na vida. — Quando Jake arqueou a sobrancelha olhando para ele, Garret deu de ombros. — Por todas as besteiras nas quais esses dois se envolveram ao longo dos anos, percebo que estão em grande dívida com a sociedade. Ele se voltou para a mulher e repetiu o carão. Fez um gesto com a mão e os dois correram para o carro avariado, deram a partida e o Buick foi embora. — Está tarde — ele murmurou ao observar os faróis desaparecendo na escuridão. — É melhor voltarmos para a cidade. — Meg estava ajudando Dillon, ainda fraco por causa do tranqüilizante, e Nikki e Jake caminharam de mãos dadas até a moto turbinada estacionada ao lado da Harley Davidson clássica de Garret. Uma sensação de isolamento se abateu sobre ele com toda força. Não era a primeira vez em mais de duzentos anos como vampiro que sentia aquilo. Sempre se sentindo excluído, nunca se encaixando em nada. Nunca lhe incomodara tal sensação. Até agora. Você cheirou fumaça demais, companheiro. Voltou-se para a Harley Davidson que passara o mês inteiro restaurando. Os contornos da moto cintilavam em néon azul na escuridão, o guidão cromado contrastava com a vivida cor. Havia uma caveira preta e prata adornando o tanque de gasolina. Era original e estava servindo de inspiração para um trabalho que tinha de entregar em dois dias para um banqueiro de Austin, do contrário perderia a bonificação que lhe fora prometida. E Garret não gostava de perder. Levava seu trabalho a sério. Mais ainda, gostava de seu trabalho. Ajudava a passar o tempo, e isto por si só já era um presente dos deuses para um homem de 180 anos de idade. Situação temporária, procurou lembrar-se. Apesar de Dillon não ter conseguido atrair o Vampiro Ancestral daquela vez, alguma coisa acabaria conseguindo com seu blog. Um pouco de trabalho de andarilho de Jake e Garret para seguir seus passos e poderiam então resolver tudo de uma vez. Era simples questão de tempo. A esperança se acendeu dentro dele, um sentimento que foi rapidamente afastado quando ele pegou no guidão e deu partida na moto. Sentiu um murmúrio de consciência lhe descendo a espinha. Retesou os músculos e apertou o guidão com força. Seus nervos entraram em estado de alerta. Garret sabia que, Projeto Revisoras 70


Encanto Eterno – HFuego nº 17 – Kimberly Raye se por um lado Dillon sentira seus agressores e não outro bebedor de sangue, com certeza havia um quarto vampiro em Skull Creek. Mas não era o Vampiro Ancestral. Saber disto deveria ter aliviado a súbita disparada de seu coração e o medo que lhe embolava o estômago. Mas só piorou. Porque o que havia por perto era muito mais perigoso que um monstro de séculos com sede de destruição. Sua virilha pulsou e suas narinas inflaram. A verdade bateu com tudo. Ela. A primeira mulher que ele amou. A única. — Quanto tempo, Garret — disse a voz suave e familiar. Mas não estava muito vivida aquela voz. Porque Viviana Darland não lhe roubou apenas o coração naquela época. Ela roubou sua alma, também. E sua presença em Skull Creek só podia significar uma coisa. Problemas à vista. Problemas dos grandes.

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Encanto Eterno – HFuego nº 17 – Kimberly Raye

ENLAÇADOS PELO DESEJO Isabel Sharpe

Tradução: Johann Heyss

CAPÍTULO UM PAREDES. Ele as odiava. Era o mesmo que estar na cadeia. Sean Cooper pegou seu laptop e foi até a decrépita varanda da velha casa, reparando na grama alta e na paisagem montanhosa da fazenda no Arizona de seu amigo Greg. Dois meses da temporada de rodeios jogados no lixo — juntamente com suas chances de estar nas Finais Nacionais — ao cair de um touro maldito que algum demente batizou de Dias Melhores Virão. Agora Sean estava lá, sentado que nem uma velha inválida com o joelho estourado e um ombro deslocado. Em outras épocas ele teria ficado lá mesmo, remendado que nem os outros caubóis, deixando a dor alimentar sua performance. Mas desta vez Sean resolveu dar ouvidos ao médico. Mais até, chegou a lhe passar pela cabeça a idéia maluca de desistir dos rodeios, voltar para a Virgínia e abrir sua escola de rodeio para crianças. Talvez por já ter seus 26 anos e não ser mais nenhum novato. Talvez por já ter visto muitos caubóis mais velhos terminarem aleijados e com dor crônica. Talvez por já ter visto um amigo morrer ao cavalgar machucado e deparar com o inesperado. Não era à toa que chamavam o rodeio de circuito suicida. Mas no momento a ameaça para Sean não eram os ferimentos, era o maldito tédio. Nuvens escuras de chuva se aproximavam. O vento que anunciava a tempestade soprava sobre a grama aparada. Sean resmungou e abriu o computador sobre o colo, cada vez mais ansioso apesar de se esforçar para manter a calma. Ela não devia estar on-line agora, no fim da tarde. Fosse ela quem fosse, de uma coisa ele sabia: com certeza, na última semana, ela tornara sua vida mais interessante. Tudo que ele sabia era seu nome virtual, RodeioFan24; que ela adorava rodeio e, em apenas dois minutos, conseguia transformar qualquer homem em garanhão. Pena que ela não morava perto; se ela fosse tão excitante pessoalmente quanto parecia ser no computador, ele ia querer algo mais que ficar só na conversa. Abriu seu programa de e-mail e digitou o endereço dela em uma nova mensagem. SC: Oi. Tá aí? Ele tinha uma imagem dela na mente. Cabelos louros batendo na cintura, pernas, braços e curvas que se encaixavam perfeitamente às mãos dele, um sorriso de iluminar arenas e desbloquear qualquer inibição. A mulher ideal. Pura diversão, sexo, bons sentimentos, sem restrições, sem nada que o distraísse do que interessava. O aviso sonoro do e-mail avisou que tinha uma nova mensagem. RodeioFan24: Tô aqui. Vamos para o MSN? Ele já estava ficando excitado. SC: Vamos. Ele ligou o MSN, esperou o nome dela aparecer, digitou sua mensagem e apertou "enviar" para falar com ela em tempo real na Internet. Projeto Revisoras 72


Encanto Eterno – HFuego nº 17 – Kimberly Raye SC: E aí, como vai? RodeioFan24: Ótima, como sempre. Ele deu risada. SC: Dormiu bem? RodeioFan24: Vc não estava comigo. SC: Não que eu saiba. RodeioFan24: Se estivesse comigo, saberia. Sim, dormi bem. Ele riu novamente, adorando aquela mente arguta que ela tinha. SC: E então... está a fim de que hoje? RodeioFan24: Tô excitada. Por causa de vc. Sempre. E vc? Diga do que vc gostaria na nossa primeira vez. Ele se ajeitou na cadeira. Deus, aquela mulher era insaciável. SC: Nada de palavras. Nem papo furado. Nem encontros em lugares públicos. Só eu entrando no seu quarto. Vc com uma roupa bem pequena e sensual. RodeioFan24: Hummm. SC: Roupa que eu ia tirar o mais rápido possível, porque eu sei como vc é linda. RodeioFan24: Linda, como? SC: Alta, l,77m,ou78. RodeioFan24: Muito bem. l,78m. SC: Tem seios pequenos e perfeitos, cintura fina, pernas compridas. Vc malha e tá em boa forma. RodeioFan24: Tudo certo, a não ser os seios, que são perfeitos, mas médios. SC: OK, ajustando a fantasia. Cabelo comprido, batendo na cintura. RodeioFan24: Meio das costas. SC: Loura. RodeioFan24: Cabelos louro-escuros. SC: Vc parece perfeita. O que está usando agora? RodeioFan24: Corpete preto com babados, meia-liga, sapatos pretos de salto alto... SC: Isso aí. Funciona bem. RodeioFan24: ... unhas e lábios vermelho intenso. Cuidado, sou muito perversa. Sean sorriu. A dor e claustrofobia desapareciam quando ele estava na Internet conversando com sua mulher de fantasia. É claro que ela podia ser um gay gordo e feio, mas ele não achava que fosse o caso. Instinto, talvez. O mesmo que lhe fazia diferenciar o que um cavalo ou boi ia fazer em fração de segundos. É ela sabia seduzir muito bem. Ele foi fisgado no primeiro e-mail. Ele recebia muitas mensagens de fãs, mas esta o intrigou. Começou a alimentar a conversa com ela, algo que nunca teve tempo de fazer quando estava bem, e as coisas esquentaram rapidamente. Mais que isto, ela lhe parecia alguém que valia a pena conhecer. Nada disso. Ela não lhe contaria nada sobre si mesma. SC: Quando vai me dar seu endereço? RodeioFan24: Quando vc menos esperar, caubói. — Ô de casa. Sean deu um pulo ao ouvir a voz de Greg, sentindo-se como um garoto flagrado com a Playboy nas mãos. SC: Tenho que ir. Hoje à noite? RodeioFan24: Vc sabe. Ele sorriu e desligou o software, sentindo a mesma frustração que sentia toda vez que desligava a conexão entre eles. Claro que ele precisava ter sua vida de volta. Entretanto... por alguma estranha razão, apesar de sua inquietude, a fome de voltar às arenas não era tão forte quanto antes. Talvez por ele saber que sua chance de chegar às Finais Nacionais pelo sétimo ano consecutivo tenha caído por terra junto com ele. Projeto Revisoras 73


Encanto Eterno – HFuego nº 17 – Kimberly Raye — Carta para você. Greg apareceu na varanda, alto e esguio, aposentado aos 32 anos do esporte que ambos amavam para comprar esta fazenda. Jogou uma carta grossa sobre o laptop fechado de Sean. Sean pegou. Datilografada. Sem remetente. Engraçado. Só a mãe dele sabia que ele estava na casa de Greg. Ele abriu e leu. Leu de novo. Dobrou e pôs de novo no envelope. Que diabo era aquilo? Uma imagem de RodeioFan24 surgiu em sua mente. Ela estava "a fim", sensual, de espartilho preto, deitada na cama dele, com as pernas abertas... e ele não podia fazer droga nenhuma. Droga, maldição, inferno. Se aquela carta fosse verdadeira, sua mãe estava com problemas. Problemas financeiros. Sean se dera muito bem no circuito de rodeios, mas o que ele tinha não dava nem para começar a ajudá-la a pagar os impostos devidos pela fazenda da família na Virgínia. Se aquela carta fosse autêntica. Deixou o laptop de lado, entrou e ligou para casa. Sua mãe atendeu. Conversaram sobre sua saúde, sobre a fazenda, a vida, e foi quando ele teve certeza. Percebeu o medo e a animação forçada em seu tom de voz e os ocasionais monossílabos, em vez do típico fluxo melódico de palavras. Era típico dela agüentar tudo sozinha, como quando seu pai morreu e ela não quis privar os filhos de nada. Nem se opôs quando Sean quis entrar no esporte mais perigoso do mundo, esporte esse que fazia todas as aventuras ao ar livre de seu pai parecendo aula de tricô. Sean devia muito a ela. Por tudo que ela passou por ele e seus irmãos. Ela sabia que qualquer um deles podia ajudá-la. Mas não disse, e nem diria, nenhuma palavra. Quem mandou aquela carta contava que Sean fizesse a coisa certa. Ele desligou o telefone e foi mancando até a varanda, o coração apertado de preocupação e frustração. Talvez ele tivesse o dinheiro. De sobra. Dinheiro que seu pai lhe deixou em testamento, mas com uma condição. Condição essa que Sean tinha certeza de que jamais cumpriria. Nenhum problema financeiro que ele tivesse poderia ser tão sério assim. Ele era capaz de largar os rodeios para vender sanduíches, mas não podia amarrar sua alma de caubói. Mas para salvar a mãe e a fazenda da família... — Más notícias? — Greg se encostou ao canto da varanda, percebendo que havia problemas, mas tentando não mostrar preocupação. — Nem lhe conto. — O que houve? Sean riu amargamente. — Parece que vou ter que me casar.

CAPÍTULO DOIS SEAN Cooper descansou o ombro machucado sobre um travesseiro na cama do quarto de hóspedes do amigo Greg. Tudo bem. Estava na hora de fazer outra análise da situação, apesar de já ter pensado tanto no assunto que sua cabeça doía. Enquanto seu ombro não sarasse, não haveria chance de voltar aos rodeios nos quais fez carreira, a não ser que quisesse correr o risco de ferimentos mais sérios. Mas mesmo assim não conseguiria fazer dinheiro suficiente para tirar a mãe da enrascada financeira em que se metera. Pensou, repensou e concluiu que a única maneira de conseguir aquele dinheiro seria Projeto Revisoras 74


Encanto Eterno – HFuego nº 17 – Kimberly Raye cumprindo os termos da herança. Casando-se. Seu estômago revirou e ele esfregou a testa com as mãos. Pela janela aberta entrou uma brisa fria, devido à tempestade que caíra pouco antes. E dentro dele uma tempestade se formava. Sean Cooper, casado? Preferia ser laçado e arrastado na arena a se casar. Já vira o que o casamento podia fazer com um caubói. Ele deixa de se concentrar na arena por causa das responsabilidades com esposa e filhos, fica literalmente "amarrado". E que tipo de vida ele teria para oferecer à esposa? Passava quase cinqüenta semanas por ano na estrada; sequer tinha casa própria. Nunca sabia se voltaria vivo ou inteiro da arena. É claro que, com o dinheiro, ele poderia instalá-la em uma ótima casa e esquecê-la. Devia ter gente por aí que gostava deste tipo de vida. Diabos, se as mulheres andavam dispostas até a se casar com estranhos na TV em reality shows, ele não podia ser tão mau assim. Só que, apesar de ele não ser nada romântico, casar assim parecia decadente demais. Preferia mil vezes ter uma mulher boa e doce de quem sua mãe gostasse a se casar com uma pistoleira. Uma mulher da qual pudesse se orgulhar de trazer para a família. Uma mulher que pudesse estar ao seu lado quando ele largasse o circuito de rodeios para abrir uma escola de rodeio para crianças. Só tinha um problema. Ele não conhecia nenhuma mulher doce. A maioria das mulheres de sua vida queria o mesmo que ele: bons e breves momentos. E as mais grudentas descobriam rapidamente que não havia grude capaz de prender Sean Cooper. Ele gostava de mulheres fortes, petulantes, desinibidas; mulheres como RodeioFan24, com quem andava tendo uma das relações mais quentes de sua vida... on-line. Ela não tinha absolutamente nada de doce nem de pura. Perto dela, uma atriz pornô pareceria apresentadora de programa infantil. Como... Uma visão subitamente dominou seus pensamentos. Conhecera uma mulher na escola. Qual era mesmo o nome dela? Alyssa... Alyssa não-sei-de-quê. Marks! Alyssa Marks. Ela quase brilhava de tão angelical que era. A mãe dele trabalhava com ela em algum tipo de comitê social da escola e a adorava, razão pela qual ficava lhe empurrando o filho. — Por que você não sai com moças boas como Alyssa? Por serem boas, esta era a resposta que ele jamais ousaria lhe dar. Mas houve aquela noite na festa de formatura. A brisa era limpa e pura. Ele já havia tomado umas e outras e ela o convidou para dançar. Ele lembrava de como se sentiu surpreendentemente bem com ela em seus braços, de como ela encostava o corpo ao dele, como quem quer mais do que só dançar — apesar de ele não imaginar uma garota como ela agindo assim. Ele não sabia como foram acabar no banco de trás do carro dele — bem, na verdade sabia muito bem, pois ele quis levá-la para lá. Ela era desajeitada, ávida, surpreendentemente doce... e em determinado momento Sean sentiu que ela estava tremendo, e percebeu que ela não era o tipo de mulher que ele procurava. A memória trouxe de volta a mesma ternura que ele sentiu na ocasião ao abraçá-la, tentando acalmá-la para que parasse de tremer. — Você não me quer — ele disse. — Eu não sou o tipo de cara para você. — Foi a única vez que ele recusou uma mulher. Sean abriu a maleta do laptop. Combinara de encontrar RodeioFan24 on-line em duas horas e mal podia esperar para ver o que ela faria para excitá-lo esta noite. Mas ainda tinha tempo para, antes disto, procurar Alyssa Marks e ver se ela era solteira, se ela ainda era a mesma menina doce de antes. Era um bom começo em sua busca por uma esposa. — O que ainda está fazendo aqui? Projeto Revisoras

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Encanto Eterno – HFuego nº 17 – Kimberly Raye Alyssa Marks quase pulou da escrivaninha e sorriu para sua colega de análise financeira, Josie Shert. Alyssa andava sonhando acordada demais ultimamente. Tinha que parar com isto. Tinha 26 anos de idade e já deveria ser capaz de usar melhor seu tempo. — Estou terminando umas coisinhas. Josie cruzou os braços sobre o peito chamativo e franziu a testa. — Você não vai sair com a turma? — Ah, acho que não... — Meu bem, quando você vai relaxar e fazer algum homem feliz? Você não vai conhecer ninguém ficando trancada aqui dentro. — Ah, esta é minha maneira favorita de passar o tempo. —Alyssa revirou os olhos. — Ficar sentada de frente para um cara que não pára de falar de si mesmo e nem repara que estou por perto. — Nossa. — Josie riu. — Isso é verdade. Bem, estou indo, não trabalhe demais nem fique até tarde. — Pode deixar. Alyssa ficou sorrindo até não ver mais Josie, então tombou sobre a escrivaninha. Ah, pelo amor da santa. Ela não podia ficar para sempre se escondendo detrás daquela capa de inimiga dos homens. Ela era a idiota mais romântica e sonhadora do mundo. O problema era que nenhum homem chegava perto de sua fantasia O aviso sonoro do e-mail a interrompeu. Olhou para caixa de e-mails e levou a mão à boca. Sean Cooper? Não era possível. "Como ele me encontrou?", pensou. Abriu o e-mail com mãos trêmulas. Oi, Alyssa. Aqui é Sean Cooper, não sei se você se lembra de mim. Faz tempo que não a vejo, mas talvez não por muito tempo. Estarei em Las Vegas semana que vem. Pensei se você não gostaria de me encontrar. A verdade é que de vez em quando penso em você, mas tenho andado ocupado demais para escrever. E também não sou homem de palavras. Mas não consigo deixar de imaginar se você ainda é a mesma garota doce e maravilhosa de sempre. Gostaria de saber se estará livre e se pode me encontrar. Sean. Alyssa tirou a mão da boca e ficou de queixo caído. Sean Cooper. Escrevendo para ela. Querendo vê-la. Semana que vem. Ela vinha sonhando acordada com ele pelos últimos oito anos. O que agora parecia patético. Ela e Sean não tiveram nada nem na época da escola, quando ela estava na Virgínia por causa do pai escritor que na época fazia uma pesquisa sobre a vida nas fazendas no século XIX. Como sempre, Alyssa era nova na escola, e bateu os olhos em Sean logo no primeiro dia. Alto, seguro, olhos verdíssimos e cabelos pretos, Sean tinha movimentos masculinos, ao contrário da maioria dos desajeitados da turma. Algo clicou no coração de Alyssa e ela, que era o tipo de garota para quem ele não olharia duas vezes, resolveu aos 18 anos que estava na hora de perder a virgindade, e com ele. Então na noite de formatura, já no desespero, pediu a Sean para dançar com ela na festa, e ele aceitou. Dançaram músicas agitadas e, na hora das músicas lentas, quando ele a segurou com firmeza, ela encostou seu corpo ao dele, passando o braço ao redor daqueles ombros fortes. Ainda se lembrava do jeito com que ele ficou recuando, olhando para ela intrigado, como se nunca a tivesse visto antes e não conseguisse acreditar que ela era real. Então ele sugeriu dar uma caminhada que terminou em seu carro, bem como ela esperava, e a sensação daquelas mãos e boca lhe despertou um desejo tempestuoso e inesperado, e ela se deu conta que, se ele a possuísse, ela não perderia só a virgindade, mas o coração também. Mas, como ela não ia ficar na cidade mesmo, não se importou. Projeto Revisoras 76


Encanto Eterno – HFuego nº 17 – Kimberly Raye Só que ele não a possuiu. Para seu horror, ele parou. Murmurou qualquer coisa sobre não ser homem para ela. É, ela entendeu o que ele quis dizer. O "senhor-pega-todas" não quis nada com uma virgem idiota quando havia tantas mulheres experientes dando sopa naquela noite, bêbadas e fáceis. Contudo, ficaram abraçados por um tempo e conversaram numa boa e até riram. Depois ele a levou para casa e a beijou novamente de um jeito que fez seu humilhado coração recuperar um pouco de seu orgulho, além de transformá-la em sua eterna escrava de amor, mesmo depois de quatro anos saindo com Rick. Homem nenhum jamais mexeu com ela como Sean Cooper. Ela releu a mensagem. Não consigo deixar de imaginar se você ainda é a mesma garota doce e maravilhosa. Era isto que ele achava dela? Doce? Maravilhosa? Será que esperava que ela ainda fosse assim? Afastou a cadeira do computador, cruzou os braços sobre a jaqueta azul-marinho e olhou para o e-mail a uma distância segura. Ficou pensando o que Sean Cooper faria se descobrisse que a doce e maravilhosa Alyssa Marks era a própria RodeioFan24.

CAPÍTULO TRÊS ALYSSA Marks bem que tentou não correr para o computador depois do jantar. Não agüentava de ansiedade de ver se tinha mensagem nova de Sean Cooper. Talvez devesse tomar ou chá ou olhar as notícias no jornal. Duas semanas atrás ela visitou o website dele e se encheu de coragem para lhe escreveu um e-mail anônimo assinando RodeioFan24. Ficou chocada de ver que ele respondeu quase imediatamente, e depois escreveu outra mensagem. E outra. Ela respondeu a todas, resguardada pelo anonimato que lhe permitia ser a mulher paqueradora, confiante e sexualmente decidida que ela apenas sonhava ser. Foi divertido à beca no começo. Até que todos os sentimentos que ela conseguira esconder anos atrás começaram a aflorar novamente. Patético. Uma mulher adulta e independente que não conseguia esquecer sua primeira paixonite juvenil. Depois de achar que já havia esperado o bastante, correu para o computador. O e-mail que ela recebeu de Sean no escritório naquela tarde endereçado a Alyssa Marks, em vez de RodeioFan24, deixou-a chocada. Sean estava vindo para Las Vegas! E queria ver Alyssa. Bem, era ela e não era. Ela abriu seu e-mail "oficial" e sentiu a respiração parar. Sean já havia respondido ao email que ela mandara do escritório poucas horas antes. Ele estava vindo em três dias. Lembrou-se da última vez na TV com seu rosto pétreo, chapéu quase cobrindo os olhos, montando touro bravo. Depois que terminava, Sean levantava o chapéu para a platéia com os olhos verdes brilhando, maxilar com barba nascendo, uma verdadeira fantasia sensual em carne e osso. Ela teve vontade de cavalgá-lo ali mesmo na arena. Mas por muito mais que oito segundos, sob o aplauso da platéia. Abriu o e-mail de RodeioFan24 e, ai meu Deus, outro e-mail dele. SC: Vamos para o MSN. Ansiosa, ela conectou o MSN e virou a cadeira na direção da alcova em seu quarto onde ela deixava à mostra os espartilhos e camisolas antigas que colecionava. Sean sempre queria saber o que ela estava usando e ela adorava dar todos os detalhes. Hoje ela estaria usando a camisola de renda branca que ela havia adornado com botões de rosa. Para lhe dar um gostinho de doce malícia. Detrás dela, o aviso sonoro indicou a chegada de uma mensagem instantânea e ela virou para a tela do computador. Projeto Revisoras 77


Encanto Eterno – HFuego nº 17 – Kimberly Raye SC: Como vai? Alyssa aproximou a cadeira e levou as mãos avidamente ao teclado. RodeioFan24: Melhor agora que vc está aqui, caubói. SC: O que está usando? Alyssa riu. 186 RodeioFan24: Espartilho branco de renda com botões de rosa. Preciso de um homem que me deflore. SC: Taí uma coisa que nunca fiz, apesar de já ter tido chance. Os olhos de Alyssa se abriram mais. Foi ela quem lhe deu esta chance, na formatura da escola, e foi rejeitada. RodeioFan24: Achava que vc já tivesse feito de tudo. Vc a rejeitou? SC: Bem... ela merecia homem melhor que eu. Alyssa mordeu o lábio. Era esta mesmo a razão? Ela queria tanto acreditar que sim. RodeioFan24: Quer dizer que existe algo melhor do que vc? Estou perdendo meu tempo aqui? SC: LOL. Não. Sou o melhor. Por que não me diz onde mora? Alyssa olhou para cima. Ah, esta seria uma boa idéia, já que semana que vem ele estaria na cidade. RodeioFan24: Porque sou muito implicante. SC: <irritado> Tudo bem. Mas um dia destes vou pegá-la de jeito. RodeioFan24: Um dia destes vou querer que vc me pegue de jeito. SC: Haha! Ao menos me diga seu nome. RodeioFan24: Não. SC: Então me conte uma fantasia, RodeioFan. Alyssa respirou fundo. Esta era a parte que ela mais gostava dos papos com ele. Quando ela, Alyssa Marks, laçava Sean Cooper. RodeioFan24: Vc tá se arrumando para um rodeio em seu trailer, dentro da sua rotina. Sua cabeça só pensa no que vc tem de fazer. 187 SC: E minha outra cabeça? RodeioFan24: LOL! Não interrompa. SC: Desculpe. RodeioFan24: Vc escuta a porta abrindo, mas tá tão concentrado que não registra direito. De repente, minhas mãos vêm por trás de vc e param direto no seu zíper. Vc fica chocado, vira e me vê, e vc sabe de cara quem eu sou, apesar de me ver pela primeira vez. Eu tô com um espartilho vermelho que deixa meus seios empinados e mal cobre os mamilos. Vc balança a cabeça, não, agora não, mas eu chego e... Alyssa tirou as mãos do teclado. Beijo você, ela quis escrever. Sentir sua boca apaixonada na minha. Mas ele não estava pensando em beijos. Os homens gostavam da coisa bruta, imediata, sexual. SC: E o quê, RF24? RodeioFan24: Eu me ajoelho em frente a vc. Ponho "ele" pra fora. Vc já tá todo animado. SC: Tá brincando. RodeioFan24: Vc tá? SC: Até parece. RodeioFan24: Hummm. Eu te levo à loucura com minha boca. Vc tem um rodeio em seguida, não pode se distrair, mas não consegue me fazer parar. SC: Ahhh... Já tô digitando com uma só mão. Um sorriso travesso se formou nos lábios de Alyssa. Ela o imaginou na cama, laptop ao lado, pernas fortes e compridas esticadas, calça aberta, ah, sim, a mão ocupada em se Projeto Revisoras 78


Encanto Eterno – HFuego nº 17 – Kimberly Raye aliviar... SC: Não vá embora agora, RF24. RodeioFan24: Fiquei imaginando o que vc tá fazendo com a outra mão. SC: Vc é muito gostosa. Tô chegando à loucura aqui e seria tão melhor se vc estivesse comigo. Diz onde vc mora. RodeioFan24: Não. SC: Por que não? Você é homem? É casada? Deformada? Doente? RodeioFan24: Não, não, e não. Então eu levanto e abro as pernas, e levanto uma delas bem devagar; minha calcinha preta tem um buraco bem onde vc imagina. Eu tô molhada e aberta e vc não consegue se segurar, apesar de saber que isto pode atrapalhar seu desempenho no rodeio. Mas me cavalgar vai ser melhor. SC: Meu Deus, sim. Diz onde vc mora! RodeioFan24: Vc me agarra, me levanta e me joga de novo na mesa para mergulhar em mim o mais rápido possível. Eu te envolvo com as pernas e te cavalgo. Tô molhada, sou apertada e vc mal consegue agüentar. SC: Ahhh, tem razão. Tô quase lá. RodeioFan24: Alguém começa a bater na porta. Vc já era pra ter saído; eles tão chamando, mas vc não consegue parar, tá quase chegando lá. Vc dá um grito mandando esperar, e vai mais forte, freneticamente, quente, tenso, com os músculos inchados. Eu jogo a cabeça pra trás, tô quase lá, de boca aberta, olhos fechados e vc fica maluco só de ver.... SC: Ahhhhhhhh... já tô maluco aqui, querida... Alyssa o imaginou procurando um lenço de papel, se recompondo, fechando a calça jeans. O desejo por ele ficou tão intenso que ela mal podia agüentar. Ela o veria semana que vem, sim. Mas como Alyssa. A doce Alyssa que se vestia como uma freira e que todo mundo esperava que fosse gentil e esforçada. Ela queria ser RodeioFan24 para Sean. Pessoalmente. SC: Voltei. Alyssa olhou para a tela, mãos paralisadas sobre as teclas. O que tinha na cabeça? Não podia fazer isto. A não ser que... SC: Você ainda tá aí? Vc é incrível. Quero que vc sinta o mesmo que senti agora. RodeioFan24: Desculpe. Tenho de sair. SC: Droga. Tudo bem. Tchau. Ela respirou fundo. Agora ou nunca. RodeioFan24: Ah, aliás... SC: Sim? Ela respirou fundo outra vez, cedeu ao inevitável tremor e digitou. RodeioFan24: Eu moro em Las Vegas, caubói.

CAPÍTULO QUATRO — QUER dizer que você vai almoçar hoje com alguém. — Josie Shert, analista financeira, estava no escritório da colega Alyssa Marks, perplexa com o que ouvira. Alyssa olhava em todas as direções, o coração batendo como um tambor. Ah, o que ela não faria por um almoço com Sean Cooper. — É só um amigo de escola. — Ah. — Josie franziu a testa e pôs as mãos na cintura. — Não diga. Algum nerd que sentava na primeira fileira. Só de pensar no corpo alto, confiante e musculoso de Sean deixou Alyssa com expressão suave e sonhadora no rosto, e ela se esforçou para disfarçar. — Hummm... não exatamente. Projeto Revisoras 79


Encanto Eterno – HFuego nº 17 – Kimberly Raye — Não? — Josie olhou para ela, curiosa. — Então por que essa cara? Alyssa virou e se ocupou com uns papéis na escrivaninha. — Porque... — Olá. — Uma voz profunda, mais profunda do que ela lembrava, veio da soleira da porta. Ela e Josie viraram. — Onde posso encontrar Alyssa Marks? Alyssa não soube quem ficou mais surpresa. Provavelmente Josie, pois ao menos Alyssa estava preparada para o que vira. Mais ou menos preparada. A emoção de ver Sean Cooper na TV montando um touro bravo nem se comparava com a emoção de ver Sean Cooper em carne e osso. Seus olhos se encontraram, e ela baixou a cabeça. Olhos verdes, masculinos, apertados e firmes; não havia nada de bonitinho nem de feminino em Sean. Até sua postura e seu jeito de parar se encostando ao umbral da porta indicavam alguém que dominava o espaço em que se encontrava e não deixava ninguém se aproximar sem ser convidado. Ela queria ser convidada. E como queria. — É com ele... que você vai almoçar? — Josie sussurrou. — Ahã. — Alyssa tentou parecer o mais tranqüila possível e foi até Sean sem tropeçar, estendendo a mão cordialmente. — Oi, Sean. Que bom revê-lo. Ele se afastou preguiçosamente do umbral e apertou a mão dela, olhando em seus olhos como se achasse graça da formalidade. — É bom revê-la também, Alyssa. — Ele a puxou mais para perto pela mão, suavemente, delicadamente, mas com uma força que tornava impossível resistir. Não que ela quisesse resistir. Seus lábios lhe tocaram o rosto ao mesmo tempo que a lateral do corpo de Alyssa entrou em contato direto com o peito dele, e ela não teve a menor vontade de interromper aquele contato, não nesta encarnação. — Como tem passado? — A voz grave bem perto de sua orelha a deixou arrepiada, e a pele em seu pescoço parecia implorar para ser tocada. — Se você estiver tão bem quanto parece, com certeza é das pessoas mais felizes que conheço. Ela soltou uma risada alta demais. — Estou bem. Realmente... Bem. Ah, ela estava enrascada. Os sentimentos dela não haviam mudado nada em oito anos. Ela ainda era tão louca por ele quanto nos tempos de escola. Só que ela não era mais nenhuma virgem aterrorizada no banco de trás do carro. Agora ela tinha um segredo do qual ele sequer desconfiava. Ela, Alyssa Marks, a Doce Alyssa, era RodeioFan24, a mulher com quem nas últimas três semanas Sean vinha mantendo uma relação anônima e erótica pela Internet. A mulher que ele pretendia encontrar à noite para consumar o que faziam on-line. — Está com fome? "Só se for fome de você, caubói", pensou. As falas de RodeioFan24 pipocaram automaticamente em sua cabeça. O que ele faria se ela dissesse mesmo isto? — Sim, estou morrendo de fome. Tem um lugar aqui perto que serve ótima comida mexicana. — Minha favorita. — Minha também. — Ela sorriu como uma adolescente apaixonada. Ela o acompanhou pelos corredores cinzentos e impessoais da Darwin, Bruckner and Bach Investments, desceram de elevador e saíram sob o sol ofuscante de Nevada que aquecia o South Las Vegas Boulevard. As mulheres do edifício lançavam olhares descaradamente provocantes. Alyssa viraria motivo de fofocas intermináveis. Mas nem as fofocas mais loucas chegariam perto do que ela, ou melhor, RodeioFan24, tinha em mente para Sean naquela noite. Ela o levou ao Maria's Hot Tamales, que ficava bem perto da empresa, e escolheram Projeto Revisoras 80


Encanto Eterno – HFuego nº 17 – Kimberly Raye uma mesa que acabara de vagar perto da janela. — Então... — ele olhou fixamente para ela, sorrindo — conte o que anda fazendo. "Seduzindo você pela Internet e com planos de fazer tudo na prática esta noite", foi o seu pensamento instantâneo. — Depois que terminamos o segundo grau eu fui para Smith e depois vim para Vegas, onde moro faz quatro anos. Meu pai finalmente sossegou aqui depois que eu me formei. Trabalho como analista na DB&B, e é isso. Ele sorriu. — Quais são seus hobbies? "Coleciono e restauro peças íntimas antigas", estava com o pensamento afiado. — Gosto de bordar. Ele deu um largo sorriso. — Mora sozinha? "Esta noite, não", retrucou sem abrir a boca. — Moro. Exceto quando vivia com meu pai. Ele balançou a cabeça, aprovando. — Algum vício? "Só em fazer sexo com você", estava ficando difícil se concentrar. — Não que eu me lembre. — Está namorando alguém, Alyssa? "Sim, na minha mente namoro você, caubói", pensou em um segundo. — Ah, não. — Ela balançou a cabeça e corou. — Não no momento. E você? — Tenho comido, dormido e respirado rodeio desde os 5 anos de idade, quando montei meu primeiro bezerro. Não tenho tido tempo para mais nada. — Vícios? — Sou temperamental. Mas só bebo uma cerveja de vez em quando. Não uso drogas e não fumo. — Mulheres? Ele limpou a garganta e se ajeitou na cadeira. — De vez em quando elas me encontram. Ela deu risada, apreciando o jeito que ele olhou para ela, com seus olhos intensos e um sorrisinho lhe sondando os lábios. Como quem está gostando de estar com ela. — Tenho acompanhado sua carreira. — É mesmo? — Ele deu um sorriso luminoso, parecendo realmente satisfeito, apesar de ela não imaginar por quê. Bem, ela imaginava, mas era um sonho tão distante que não podia ser realizado. — Ah, sim. Você é muito talentoso. — "Aposto que na cama, também", pensou. Naquele momento o demônio entrou em seu corpo e ela se debruçou levemente, fazendo um olhar inocente. — Você deve ter pernas fortes para se equilibrar num animal furioso daqueles. — Hummm. É. Acho que sim. A garçonete veio anotar os pedidos e Alyssa sorriu para ela. — Eu gostaria de um burrito de galinha, por favor. Bem picante. Ela sorriu documente para Sean. Ah, aquilo era muito divertido. — Quando vai voltar aos rodeios? Ele franziu o cenho. — Não sei. O sorriso de Alyssa se desfez rapidamente. Havia algo muito errado, e ela sentiu uma vontade instintiva de ajudá-lo. Sem pensar, pôs a mão sobre a dele na mesa. — Está tão machucado assim? Ele baixou os olhos e acomodou a mão dela à dele. — Não sei bem. Eu... Nunca contei isto a ninguém. "Será que ele confiaria em mim? Ah, Deus, tomara que sim. Seria um presente", pediu. Ele levantou os olhos e a súbita vulnerabilidade naquele rosto de homem durão quase Projeto Revisoras 81


Encanto Eterno – HFuego nº 17 – Kimberly Raye a levou às lágrimas. — Acho que perdi a vontade, Alyssa. Não consigo me animar. Da última vez que me machuquei, me senti como animal enjaulado. Desta vez... estou pensando em novas possibilidades, como talvez abrir uma escola de rodeio na Virgínia. Minha vida agora... Bem, você não vai querer ouvir estas coisas. — Quero, sim. Ela falou com toda sinceridade, apesar de seu cérebro gritar perigo no máximo volume. Ela podia acabar se acostumando àquilo. Sexo era uma coisa, ela não tinha dúvida de que conseguiria levar este caubói para sua cama como RodeioFan24. Mas aquela tocante intimidade — ahhh, ela desejava aquilo ainda mais. Queria se apaixonar por Sean Cooper. E queria que Sean Cooper se apaixonasse por ela. Mas como se tratava de um sonho impossível, belo e ridículo, ela se contentou em usar o corpo ao máximo e dar a ele tudo que tinha a oferecer.

CAPÍTULO CINCO SEAN Cooper passou pela casa em Las Vegas onde RodeioFan24 marcou encontro com ele à noite, dobrou a esquina no fim do quarteirão e estacionou. Queria parar um instante, pôr a cabeça no lugar, se é que era possível. Desde o primeiro papo on-line que estava louco para conhecê-la. Insistiu para saber o nome dela e a cidade em que morava. Mas o almoço de hoje com Alyssa Marks lhe embaralhou a cabeça assim ele, que estava louco para ter um encontro sexual dos mais quentes, acabou se sentindo desconfortável. RodeioFan24 não sugerira um encontro em território neutro. Ela o queria do jeito que conversaram on-line, a partir do minuto que ele entrasse pela porta, sem dizer nenhuma palavra. Alyssa falou; ele ouviu. Ele se sentiu seguro de lhe contar coisas que jamais contara a alguém. Durante as três horas do almoço ele se deu conta que estava totalmente à vontade, coisa que raramente acontecia. Mas... Alyssa era tão inocente. Tão pura. Sim, por isto pensou nela para o casamento que tinha de fazer para herdar o dinheiro necessário para a fazenda quase falida da família na Virgínia. Talvez ele fosse muito antiquado, mas ela era a garota que ele teria o orgulho de apresentar à mãe. Uma garota que pedia um burrito de galinha superpicante sem transparecer o mínimo duplo sentido. O tipo de mulher perfeita para casar. Ele sentia atração por ela, sem dúvida. Mas por quanto tempo agüentaria aquela pureza e inocência na cama? Será que ele não teria sempre vontade de sair com mulheres como RodeioFan24? Visualizou o rosto cansado da mãe, lembrou da falsa animação de sua voz da última vez que ligou para ela. Então que fosse assim. Aceitava seu destino; pediria Alyssa em casamento antes de voltar ao Arizona para terminar sua convalescença na fazenda de Greg. No meio tempo, desfrutaria de uma louca noite com RodeioFan24, e este seria o seu adeus às mulheres livres e desinibidas. Tocou a campainha, ávido para ver pela primeira vez a mulher que tiraria Alyssa de sua mente, ao menos por mais uma noite, antes de ouvir "até que a morte os separe". A porta se abriu lentamente para revelar... ninguém. Os lábios de Sean se abriram em um sorriso. Flechas de papel preto e vermelho decoravam o chão, apontando para os fundos da casa. Uma canção de Faith Hill — "Wild One" — soava de algum ponto lá nos fundos. O sorriso dele seu abriu ainda mais. Ele fechou a porta, torcendo para que RodeioFan24 fosse realmente a loura lasciva que ele imaginava e não uma serial killer lhe apontando uma arma. Mas seu instinto dizia que a visita valeria a pena. Seguiu as setas até um umbral com um aviso pendurado O paraíso é lá em cima, Projeto Revisoras 82


Encanto Eterno – HFuego nº 17 – Kimberly Raye Caubói. Deu risada e abriu a porta. Putz... Duas velas bojudas iluminavam fracamente com tons de vermelho o pequeno quarto. A cama cheia de travesseiros ficava perto da parede com suas sombras dançantes. E entre os travesseiros... sua fantasia realizada. Pernas infinitas; grossos cabelos louros que batiam abaixo dos ombros. E os trajes mais sensuais que ele jamais vira em uma mulher. O espartilho preto com laços, babados e detalhes em vermelho lhe empinava tanto os seios que eles pareciam a ponto de saltar para fora. Mais embaixo, uma calcinha preta ínfima que ele suspeitava que fosse fio-dental. Luvas rendadas negras até o cotovelo lhe cobriam parte dos braços fortes e esguios, e nos pés perfeitos, sandálias pretas de salto alto. Em seu rosto havia uma sexy máscara de mulher-gato que lhe escondia os olhos e boa parte do rosto, mas expunha o nariz delicado e os lábios belos, fartos. — Entre, caubói. Ela falou baixinho, com voz arfante e melódica. Ele sentiu que começava a ficar excitado, apesar de, estranhamente, ter-lhe vindo à mente o figurino comportado de Alyssa, que deixava tudo por conta da imaginação. Mas esta mulher... esta mulher ele estaria disposto a ter em sua cama todas as noites pelo resto da vida. — Oi. — Ele se aproximou, pôs as mãos nos pés dela e começou a acariciar, subindo devagar. — Você não está com roupas demais? Ele concordou e tirou a camisa pela cabeça sem se dar ao trabalho de desabotoar; tirou as botas e meias, abriu a calça jeans e livrou-se delas também, não sem antes tirar um preservativo do bolso. Finalmente, sua cueca se juntou à pilha de roupas no chão. — Ahh, está ótimo assim, caubói. Agora venha. Ele se ajoelhou aos pés da cama e foi galgando com beijos as longas pernas. Ao chegar à pele macia da parte interna das coxas, a intensa excitação era mútua. Ele pulou a parte onde mais queria beijá-la e deitou-se ao lado dela, sorrindo para o que conseguia ver de seus olhos. Por um estranho e desorientador segundo ele pensou conhecê-la, mas ela arqueou o corpo sobre ele e a sensação passou. — Vamos ter de tirar isto aqui. — Ele fez um gesto indicando a pouca roupa que ela usava. Depois de tirar o espartilho, ele deparou com uma calcinha fio-dental preta mergulhada em um traseiro tão perfeito que ele teve vontade de chorar. — Você é linda. Ele lhe beijou e acariciou o traseiro, seguindo a trilha do fio-dental. Ela gemeu e levantou a perna, girando o corpo para que ele tivesse acesso ao resto de si. Passando a língua debaixo da renda, ele puxou o tecido de lado com o dedo, bebeu dela, sugou-a, sondou-a, levantando e abaixando a cabeça para acomodar seus lábios, mais entretido em lhe dar prazer do que jamais se sentira com qualquer outra. — Quero que meu primeiro orgasmo seja com você dentro de mim, caubói. Faltaram-lhe palavras, e ele concordou com a cabeça e continuou subindo, beijandolhe o ventre, descobrindo bem devagar os seios, que já estavam inchados antes mesmo de serem desnudados. Ela estava no paraíso... ele parou com a boca sobre sua pele. Novamente, algo lhe pareceu familiar. Será que ela estava usando o mesmo perfume de alguma mulher com quem já saíra? O que importava? Ela estava lá agora, e assim que terminasse ele ia querer saber nome, idade e etc. Seus músculos se retesaram. Não, ele tinha de pensar em Alyssa. RodeioFan24 era caso de uma noite só. Quando acabasse, ele sairia tão discretamente quanto entrara e Projeto Revisoras 83


Encanto Eterno – HFuego nº 17 – Kimberly Raye nunca mais... Seus pensamentos foram arrancados da cabeça pelos braços fortes dela, lhe puxando pelas costas, e sua boca, que se dirigia ao meio das pernas dele. Seus lábios o tocaram levemente, provocantes, e ela ficou brincando com a língua, lambendo e sugando de um jeito que quase fez Sean sair de si. Ele fechou os olhos, tentou clarear a mente para que o orgasmo não viesse agora... e mais uma vez lhe veio o rosto de Alyssa. O que havia de errado com ele? Procurou se concentrar nas pernas de RodeioFan se encaixando pelas laterais de seu corpo, provocando e brincando com sua excitação. Ele abriu os olhos para ela, que estava sentada sobre sua pélvis, ousada, confiante, pronta para deslizar sobre ele. Sean procurou o preservativo, colocou em tempo recorde e lhe agarrou os quadris com uma avidez que não sentia desde... nem lembrava desde quando. Ela foi para cima dele, pronta para a primeira investida; então ele lhe adentrou o corpo, e algo mudou. Talvez fosse a expressão séria dela, ou o jeito que ela parou de mexer o corpo. Ou talvez ele tivesse ficado imóvel de expectativa por aquela união de corpos. Fosse o que fosse, aquele momento ganhou um significado que ele não esperava, despertando emoções que lhe causaram um nó na garganta. Por que estava sentindo tanta ternura em meio a um encontro sexual com uma mulher que mal conhecia? Ele a penetrou e a sensação só se intensificou. Ele encarou o brilho azul-escuro de seus olhos sob a máscara e quis arrancá-la, remover a última barreira. Ela o cavalgou com impulsos longos e lentos, encaixava-se a ele tão bem que a fricção foi mais que suficiente, apesar do maldito preservativo. Seus lindos seios balançavam a cada investida; ela levantou os braços sobre a cabeça, os longos cabelos jogados para trás, entregue ao momento. Então ele levou a mão ao ponto exato de seu prazer, massageando delicadamente em movimentos circulares, e ela retesou o corpo, abriu a boca para soltar um gemido mudo e chegou ao orgasmo — e ele sentiu seu coração inflar em resposta. Ela era simplesmente perfeita. — Você me enlouquece, RodeioFan. — Eu sei. — Aquela resposta petulante era exatamente o que ele esperava. O que ele não esperava era aquele sussurro trêmulo, nem aquela expressão emocionada no rosto e na voz. — Que foi? Ela balançou a cabeça. — É que é tão bom. Ele a envolveu com os braços, a trouxe para cima de si e rolou de modo a ficar sobre ela com os braços debaixo de seu corpo. Eles foram mexendo os corpos em um doce ritmo, bem diferente da luxúria frenética com a qual ele esperava chegar ao clímax. Pior ainda, ele percebeu que estava precisando mais daquilo do que do próprio orgasmo. Abaixou a cabeça para beijá-la e a quentura em seu coração foi quase insuportável, e novamente a mesma sensação, ainda mais forte, de conhecer aquela mulher. — Qual seu nome? — ele murmurou. — Diga seu nome. Ela levantou a cabeça, beijou-o, e ele viu que os olhos dela estavam úmidos e brilhantes debaixo do disfarce. Ela levou a mão à máscara, hesitou, e levantou. — Meu nome é Alyssa — ela murmurou. — Alyssa Marks.

CAPÍTULO SEIS ALYSSA ainda segurava com a mão direita a máscara. Agora Sean sabia que ela era a doce e virginal Alyssa. A mesma analista financeira com que almoçara naquela mesma tarde em sua visita a Las Vegas. Seus corpos ainda estavam unidos e ele ficou um longo tempo imóvel. Projeto Revisoras 84


Encanto Eterno – HFuego nº 17 – Kimberly Raye — Alyssa. Já era um progresso. Ele mexeu a boca para falar seu nome. E só. O que ele estava pensando? Estaria horrorizado? Deliciado? Sairia correndo e gritando? — Alyssa. Ah, meu Deus, ela não sabia se ria ou chorava. — Está com raiva? — Raiva? Raiva de descobrir que a mulher com quem tive o prazer de almoçar hoje também é uma tigresa na cama? Não, acho que raiva não seria o termo. Já era uma esperança. — Então qual seria a palavra? Ele se afastou dela cuidadosamente e passou os dedos nos cabelos. — Perplexo. Estou perplexo. — Ele passou o dedo no lábio inferior de Alyssa. — Por que fez isto? — Isto o quê? Ele deu risada e balançou a cabeça. — Por que não começa me dizendo por que só agora resolveu tirar a máscara? Ela se sentou, sentindo vontade de se aninhar junto a ele em busca de conforto, mas o que fez foi abraçar-se. Como explicaria que a emoção de senti-lo dentro de si foi tão forte que ela pensou que ia chorar? Como dizer que ela acabou se apaixonando por aquele homem que fez amor com ela daquele jeito tão terno e doce em vez de selvagem e carnal? E que aquele jogo de enganação, antes tão excitante, de repente não bastava mais, e que ela queria que ele visse quem ela era realmente, qualquer que fosse o resultado? — Eu queria que você soubesse. Senti... que seria melhor. Como você pareceu gostar... do que fizemos, achei que você gostou... de mim. E... Lágrimas ameaçaram brotar. Ela não podia ser mais patética. Estava perdendo a linha. RodeioFan24 encarava qualquer coisa. Mas Alyssa era um fracasso. — Alyssa. — Tudo que ele fez foi dizer novamente seu nome, mas desta vez ele se virou e a envolveu com os braços, aninhando-a junto a si. — Sempre gostei de você. Por isto estou aqui. — Você veio a Vegas para me ver? Por quê? — Porque... — Ele fez um gesto vago com a mão esquerda. Algo levemente anormal em seu olho quase a deixou nervosa. — Você estava em minha cabeça o tempo todo. Queria ver se você ainda era a mesma. Se eu ainda sentia o mesmo por você. Ah, meu Deus. — O mesmo? — Naquela noite, na formatura... — Ele franziu a testa e balançou a cabeça. Alyssa tentou não ser impaciente. O que ele sentia por ela? E por que o clima parecia totalmente improvável e errado se seu sonho estava se realizando? — Por que você não fez amor comigo na noite de formatura? Ele lhe segurou o queixo com a mão forte e quente e olhou nos seus olhos. — Não era o que você queria. — Era, sim. Eu estava... — Não era certo. Sua primeira vez dentro um carro, e ainda mais com um cara como eu. Você estava apavorada. Tremia toda. Era verdade. Ela estava trêmula. E apavorada. E louca por aquele homem. Mas agora ela não estava mais tremendo. — Se eu quisesse, você teria feito amor comigo depois do almoço hoje à tarde? — Está brincando? Se você me aparecesse assim? Sem pensar duas vezes. — É mesmo? — Claro que sim. Se você queria, por que não me seduziu? Ela mordeu o lábio. — Porque eu queria que você me visse assim. Que não soubesse que eu era Alyssa. Projeto Revisoras 85


Encanto Eterno – HFuego nº 17 – Kimberly Raye Queria provar a mim mesma que poderia ser sexy para você. — Você é sexy para mim como Alyssa, também. Eu quis você hoje, na hora do almoço. — Quis? — Sim, senhora. E eu estava pensando em você esta noite, mesmo achando que estava com outra mulher. Até achei que havia qualquer coisa de familiar com RodeioFan24. — Fala sério! — Ela arregalou os olhos. O clima estranho desapareceu. Desta vez ela estava acreditando em tudo o que ele dizia. E estava adorando. — Você é incrível, Alyssa. Meus Deus, você é... — Ele parou e olhou para ela. — Você é perfeita para mim. — Como é? — Eu disse que você é perfeita para mim, Alyssa. — Em que sentido? — Seu reconfortado coração começou a gelar e a acelerar outra vez. Tinha algo errado ali. Ele estava dizendo tudo o que ela sonhava que ele disse, e mesmo assim... — Você e eu. Juntos. — Desta vez ele falou lentamente, mas seus olhos iam de um lado para outro, como se ele estivesse fazendo cálculos de cabeça. — Alyssa... Você consideraria a hipótese de voltar para a Virgínia? Alyssa arregalou os olhos. — Voltar... para... Virgínia? — Eu sei que é muito repentino. — Ele saiu da cama e começou a andar para lá e para cá, mancando levemente, e seu corpo grande pareceu forte, musculoso e muito masculino, uma figura destoando de seu quarto florido. — Mas tenho de agir rápido. — Sei. — Ela não fazia a menor idéia do que ele estava dizendo, mas estava ficando cada vez mais alarmada. Será que a queda do touro havia afetado a cabeça dele, também? Seria alguma insanidade sexual incubada? — Quer dizer, preciso... acabar logo com isso. Ele disse "isso" como quem diz... "isso". — Acabar com isso o quê? Ele parou perto da cama, em frente a ela, a fez levantar e a abraçou protetoramente. Uma sensação deliciosa que aumentou quando ele a beijou. — Desculpe, Alyssa, você deve estar me achando maluco. — Ahã. — Ela não se importava que suas idéias estivessem confusas, contanto que ele a continuasse beijando. É foi o que ele fez. Beijos doces e lentos, beijos que foram esquentando, e ele a fez deitar de novo na cama, pegou outro preservativo do bolso da calça e colocou, já excitado. Desta vez ele foi bem devagar, aumentando lentamente o prazer dela, beijando-a na boca, no pescoço, no rosto. Então levantou um pouquinho, virou para o lado, manteve o ritmo e procurou com o dedo seu ponto mais secreto. Como antes, ela reagiu imediatamente, arfando; a química especial que tinha com Sean Cooper a levou ao clímax e ela se rendeu àquela onda de desejo que a tomou por inteiro. Ele gemeu e investiu mais forte, buscando seu próprio prazer e prolongando o dela. Ela viu o rosto dele se transformando, e ele abriu os profundos olhos verdes, olhou bem dentro dos dela, murmurou seu nome, e ela o sentiu chegando ao clímax dentro de si. Ela descobriu que o amava e estava disposta a topar qualquer coisa para ficar ao lado dele. — Alyssa. — Hummm? — Quero lhe pedir uma coisa. — Pode pedir. Sean apertou os lábios e os olhos. Que diabo ele... — Estava pensando. — Beijou-a, beijou-a novamente, então apoiou a cabeça na curva do ombro dela, para que ela não visse seu rosto. — Quer... casar comigo? Projeto Revisoras 86


Encanto Eterno – HFuego nº 17 – Kimberly Raye

CAPÍTULO SETE — CASAR? — Alyssa não podia estar ouvindo direito. Não era possível que o homem que ela adorava desde os tempos de colégio e que não via há oito anos, sem contar as vezes que ela o vira na TV, tivesse aparecido do nada em Las Vegas para almoçar, fazer amor com ela e lhe pedir em casamento, tudo em um só dia. Simplesmente não estava acontecendo. — Sim. — A voz de Sean saiu abafada, pois sua cabeça ainda estava mergulhada no ombro dela. Aliás, a cabeça não era a única parte do corpo dele que ainda estava dentro dela. — Sabe, Sean, esta é a primeira vez que recebo uma proposta de casamento, seria legal ver seu rosto. — Ah. Claro. Desculpe. — Ele levantou a cabeça e ela perdeu o fôlego. Ele estava lhe oferecendo a chance de acordar todos os dias ao seu lado... Menos quando ele estivesse nos rodeios. Tudo bem, oferecendo-lhe a chance de acordar de vez em quando ao seu lado pelo resto de sua vida. E não era este seu maior sonho? — Sean, isto é meio... surpreendente. — Eu sei, meu bem. — Ele a beijou e seu corpo derreteu, pela situação em si e pela ternura na voz dele. — Mas faz sentido. Depois do almoço de hoje, eu já sabia que queria você. Minha única preocupação era como nos sairíamos... juntos. E acho que esta noite nós resolvemos esta preocupação. Eu sei que posso fazê-la feliz, Alyssa. Ela sorriu para ele, não podia evitar. — Sean, posso lhe fazer uma pergunta pessoal? — Claro, querida, o que você quiser. — Quantos relacionamentos longos você já teve? — Relacionamentos longos? — Em termos de meses. — Não tive muitos. — Nenhum? Ele limpou a garganta. — Não. Mas nunca estive com ninguém como você, Alyssa. Hoje, durante o almoço, me senti à vontade para falar sobre qualquer coisa com você. Até falei de minhas inseguranças. Você acha que eu tocaria no assunto com outra mulher? — Quem sabe com sua mãe? Ele sorriu. — Jamais diria isto à minha mãe. Ela iria me arrumar um emprego fixo em nossa fazenda num piscar de olhos. Que é para onde devo acabar voltando mesmo, mas quero que isto aconteça por decisão minha. E agora sua, também. — Ele fechou o sorriso, se afastou dela, deitou ao seu lado, a trouxe para perto e começou a lhe fazer cafuné, e Alyssa se sentiu querida e feliz. — Eu sei que é muito repentino. Mas estas coisas acontecem. Meu irmão Joe deu de cara com a esposa, Sandra, e foi o bastante para ele ter certeza de que ela era perfeita para ele. Até ela ficar doente eles eram só felicidade. Talvez este talento esteja no sangue. — Ah. — Em sua voz havia enorme perplexidade, como se ela tivesse sido atingida pela realidade do que ele havia dito. Ele se apaixonara por ela à primeira vista. Pela segunda vista, se contasse com os tempos de escola. O coração de Alyssa começou a bater mais forte, mas não de medo e sim devido a uma felicidade quase delirante. Contos de fada podiam virar realidade. Depois de passar a vida inteira acreditando no amor verdadeiro e ver tantas amigas fracassarem no casamento, ela já estava começando a se sentir uma bobalhona que nutria esperanças demais. Durante todo o tempo em que saiu com Rick, sentia que algo estava faltando. Mesmo assim, quando rompeu com ele, ainda ficou em dúvida se estava sendo idiota de esperar Projeto Revisoras 87


Encanto Eterno – HFuego nº 17 – Kimberly Raye muito mais de uma relação. E agora o homem de seus sonhos a pedia em casamento. Ela pretendia jogar a precaução pelos ares e dizer sim. Porque nunca quis nada nem ninguém como queria Sean Cooper. — Ficaria orgulhosa de ser sua esposa, Sean. — Lágrimas brotaram em seus olhos ao perceber a felicidade e o alívio no rosto dele. — Maravilhoso. Fabuloso. — Ele sorriu e a beijou com força. — Melhor de tudo, estamos em Vegas, o lugar perfeito para casar. Ele deu uma olhada no relógio perto da cabeceira dela. — De quanto tempo você precisa para se arrumar? Ela não entendeu direito. Ele estava brincando, claro. — Você quer se casar agora? Ele parou de recolher as roupas e olhou para ela, atônito. — Bem, sim. Quer dizer, por que esperar? Ela não soube responder. Só conseguiu ficar olhando para ele com cara de boba. Para seu profundo alívio, ele jogou as roupas no chão e voltou para o lado dela na cama. — Desculpe. Fiquei maluco. É claro que casar agora seria ridículo. — Graças a Deus. — Podemos esperar até amanhã de manhã. Alyssa quase deu um pulo. — Amanhã? — Não? — ele franziu a testa de um jeito engraçado. — Bem, quando você quer se casar? Ela olhou para os lados, confusa. — Não sei. Precisamos fazer a lista de convidados, arrumar um lugar, talvez... setembro? — Setembro. — Seu rosto ficou paralisado e ele engoliu em seco. — Não posso esperar tanto assim. Uma sensação muito estranha invadiu o estado de glória que sentia após terem feito amor e após ter recebido a proposta de casamento. — Por que não? — Hummm. Há certas... circunstâncias que... tornam necessário, bem, casar... agora. — Você está grávido? Ele caiu na risada e Alyssa também, mas ela sentiu que ambos estavam rindo mais de nervosismo do que por achar graça da situação. — Alyssa. — Ele parou de sorrir e ela sentiu o medo crescer. — Eu me sentiria mal se não fosse honesto com você. Tudo o que disse até agora é verdade. Mas a razão pela qual preciso me casar logo... Bem, minha mãe está com problemas financeiros. Graves. Podemos perder a fazenda na Virgínia se eu não tomar uma determinada providência. Alyssa sentiu-se cair no fundo de um poço. — Ou seja, se casar. — O testamento de meu pai estipula que só vou receber a herança depois que me casar. Com este dinheiro eu resolvo os problemas. Alyssa ficou deitada ao lado dele, sentindo-se distante e despedaçada de dor. Ela devia ter desconfiado que aquilo não podia ser real. Ele só queria se casar com ela para receber o dinheiro. Era típico dela não perceber que ele nem disse aquelas três palavrinhas tão importantes para pensar em casamento. E ele não estava mentindo. Ele a considerou perfeita para a função — fogosa e disponível. Que homem resistiria à combinação? E ela, estúpida, aceitou tudo o que ele disse e tirou as conclusões que desejava. — Alyssa — ele disse baixinho, observando o que devia ser um turbilhão de conflitos em seu rosto. — Eu fui sincero quando disse que quero fazê-la feliz e que jamais senti isto com mulher nenhuma antes. — Você me ama? Ele fechou a cara e baixou os olhos. Ela não precisava de mais resposta nenhuma. Projeto Revisoras 88


Encanto Eterno – HFuego nº 17 – Kimberly Raye Alyssa levantou da cama, olhou para ele, nua e firme, com uma das mãos na cintura e a outra apontando para a porta. — Vá embora. — Alyssa, vamos conversar... — A conversa acabou. Encontre outra mulher para ganhar seu dinheiro. Tenho certeza de que há várias candidatas. — Ela pegou as roupas dele do chão e as atirou nele com toda raiva que sentia. — Amei você por toda minha vida, mas agora não me casaria com você nem que fosse o último homem do mundo.

CAPÍTULO OITO PAREDES. Ele as odiava. Era o mesmo que estar na cadeia. Especialmente paredes de hotel barato. Sean fechou o laptop, cansado de olhar para caixa de e-mails vazia. Três dias se passaram desde sua desastrosa proposta de casamento a Alyssa, mas ele não conseguia partir de Las Vegas. Como pôde ser tão estúpido de pensar que ela gostaria de ser pedida em casamento naquelas circunstâncias? Ele estava tão deslumbrado com sua beleza e com aquela perfeita combinação de doce e virtuosa em público com desinibida e fogosa entre quatro paredes que nem imaginou que poderia estar sendo ofensivo. É, seu caubói arrogante. Ela tinha sonhos de casamento; não era obrigada a se adequar à sua necessidade de ter uma esposa. Agora que o estrago estava feito, ele entendia porque ela o expulsara. Nem sabia direito porque ainda estava na cidade, já que ela se recusava a atender seus telefonemas e e-mails. Ele chegou a aparecer em seu escritório e ela chamou os seguranças. Mas quanto mais ela resistia, mais determinado ele ficava. Ele sempre foi teimoso, mas até ele mesmo estava surpreso com a determinação com que estava encarando aquela rejeição. Mas ele não tinha tempo, precisava do dinheiro imediatamente. Seu celular tocou; ao pegá-lo da mesa de cabeceira, percebeu que o ombro estava bem melhor. Em breve poderia voltar às arenas — ou então desistir do esporte e abrir a escola de rodeio de seus sonhos. Ele conferiu o número. Código de área 773. Não era Alyssa, era seu irmão ligando de Chicago. Sean fingiu animação. — Oi, Ryan, há quanto tempo. O que conta? — Casei. — O quê? O irmão deu risada. — É uma longa história. Começou como um plano para salvar a fazenda para mamãe e terminou se transformando na melhor coisa que já me aconteceu. — Salvar... a fazenda? — Sean mal conseguiu articular as palavras. Ryan já estava casado. A fazenda ficaria com a família. Ele estava livre. Alyssa se arrastou para casa depois do trabalho, tomou uma chuveirada e se forçou a engolir um sanduíche de frango sem graça. Sean não ligara para ela à tarde. Nem uma vez. Não aparecera, não enviara e-mail, nem flores, chocolate ou champanhe. Devia ter desistido e ela finalmente estava livre dele e de sua falsa proposta de casamento. Finalmente. E como ela se sentia em relação a isto? Uma palavra resumia tudo: devastada. Legal, senhorita Hipócrita. Ela estava se sentindo mais divida do que quando alternava Projeto Revisoras 89


Encanto Eterno – HFuego nº 17 – Kimberly Raye a doce Alyssa com a ousada RodeioFan24. Uma parte dela queria que ele a esquecesse para que ela pudesse reconstruir seu machucado coração e seguir com a vida. A outra queria que ele continuasse tentando. A campainha tocou e o sanduíche de frango quase pulou de suas mãos. Tentou caminhar dignamente até a porta, mas foi correndo. Ah, sim. Era Sean. Sem flores, nem champanhe. Seu belo rosto se abriu em um sorriso de desculpas ao vê-la. Seu alívio ao ver que ele ainda estava em Vegas competia com sua indignação por ele não ter levado a sério o passa-fora. Por que a vida era tão complicada? — Só vim lhe dizer que não preciso mais me casar para salvar a fazenda. — Ele sorriu. — Um de meus irmãos já se casou. Que tal? Seu coração gelou. — Obrigada por me dizer. — O prazer é meu. — Ele deu um sorriso radiante, luminoso. Ela teve vontade de socá-lo. Ele veio à sua porta só para zombar dela. — Bem, parabéns — ela disse com voz gelada. — Então você vai embora de Vegas. — Ah, não imediatamente. — Não? — Não. — Bem, o que você vai fazer aqui? Ele deu um sorriso indolente e agiu tão rápido que, quando ela entendeu o que estava acontecendo, ele já estava lhe segurando os pulsos contra a parede, com a boca a milímetros da dela. — Vou passar cada segundo que puder ao seu lado. — Mas... Você não precisa mais de mim. — Pelo contrário, Alyssa — ele murmurou. — Preciso de você mais que nunca. — Você... — Aquilo era demais para sua cabeça. — Seu irmão vai conseguir o dinheiro. A fazenda de sua mãe será salva... — Correto. — Então... — Ela engoliu em seco. — Você precisa de mim para quê? — Para mim — ele disse com a voz grave e rouca. Inclinou-se e beijou-a como se os últimos três dias sem ela tivessem sido três anos. — Preciso de você para mim, Alyssa. Podemos casar em setembro se você quiser. — Ainda quer se casar comigo? Por quê? — Porque sim, Alyssa. Eu amo você. Suas palavras flutuaram no ar quente de Nevada e então, lentamente, começaram a fazer sentido. Ela riu, quase sem fôlego, suspirou e o abraçou. — Agora você me convenceu, caubói.

EPÍLOGO ERA quase um clichê, mas o dia estava perfeito para um casamento. O sol brilhava na fria tarde de outubro, aquecendo as montanhas, a fazenda da família de Sean e os convidados instalados ao ar livre em meio ao cenário da fazenda. Parado no altar, Sean respirou fundo o doce ar da Virgínia, sentindo-se nervoso como um menino. Será que a noiva apareceria? Estava se sentindo preso dentro daquele temo. Como as pessoas agüentavam usar aquilo todos os dias? — Fique firme. Não há por que ficar nervoso — disse Ryan, o irmão mais velho, ao seu lado. Max, segundo mais velho dentre os Cooper, olhou ironicamente para ambos. Ele era o único dos três à vontade dentro de um terno. Projeto Revisoras 90


Encanto Eterno – HFuego nº 17 – Kimberly Raye — Quietos. Lá vem a noiva. Os três irmãos pararam de discutir por causa dos ternos para assistir ao desfile. Primeiro veio Theresa, noiva de Joe, pequena e bela com seu vestido amarelo que realçava seus cabelos escuros e pele morena. Ela e Joe pretendiam se casar no Natal, também na fazenda. Depois veio a esposa de Ryan, Nadya, trajando um vestido azul que ajudava a destacar seus cabelos louros e combinava com seus olhos. A terceira foi Kate, esposa de Max, voluptuosa em seu vestido verde, os cabelos escuros presos ao alto e com alguns cachos estrategicamente soltos lhe emoldurando o lindo rosto. Depois de Kate... O coração de Sean disparou... veio Alyssa, com seus cabelos louroescuros decorados com pequenas floras rosadas, seu corpo estonteante em um vestido de seda cor-de-rosa que combinava com sua face rosada. Sim, ela vinha radiante, como se esperava de uma noiva. Nem mesmo um caubói supostamente durão como Sean poderia negar o nó que se formou em sua garganta. E apostava que não era o único a se emocionar. Depois da cerimônia, quando o pastor disse que Sean podia beijar a noiva — como se ele precisasse de estímulo —, no momento que os lábios de Sean e Alyssa se tocaram ouviu-se uma fugaz trovoada vindo das montanhas. Uma só, sem chuva, nem nuvens negras. Para Sean, era seu pai abençoando o casamento.

COQUETEL DE DESEJO Kathleen 0'Reilly — Está tarde — ele disse. Precisava ficar sozinho. Precisava que ela saísse de seu campo de visão. Precisava recuperar a imagem que antes tinha de Tessa. Quem sabe ela ainda existisse, entranhada em alguma parte no fundo de seu cérebro... — Não sou criança — ela respondeu, afastando o cabelo do rosto, e, que Deus o ajudasse, a falta de jeito se tornou exotismo. — Então pare de agir como se fosse uma — ele rebateu, sem a deixar sozinha como havia planejado. — Você não é meu pai — ela disse num arroubo, com as mãos na cintura. Aquela cintura torneada que ele ainda podia sentir deslizando sobre seu peito. — Sou seu amigo, seu chefe e, no momento, dividimos um apartamento — respondeu, principalmente para lembrá-la daqueles fatos essenciais. Ela caminhou em direção à mesa de jantar, para longe da sensata segurança de seu quarto. O olhar dele estava cravado em sua cintura, seguindo o rebolado com intenções letais. Em sua estupidez, ele foi atrás dela. — E que amigo, Gabe. Aposto que você não faria isto se Cain estivesse dando em cima de alguma mulher. — Não, Cain é uns 25kg mais pesado que eu. — Humor: outra forma excelente de diluir a tensão de certas situações. Dava para ele sentir o suor na testa, a pulsação veloz de suas veias. Ele ficou parado. Precisava que ela risse, ou que lhe batesse no braço. Mas o silêncio no recinto era incômodo, e ele aguardou, observando seus seios subindo e descendo. Apenas aguardou, sem se mexer. Enfim ela se moveu, respirando fundo, e se aproximou dele e pôs o dedo em seu tórax, algo completamente contra-indicado. Completamente. Ela não devia tocá-lo. Não naquele momento. — Sabe o que me incomoda? Não faço sexo há quatro anos. Hoje eu queria sexo. Quatro anos? O coração dele, já aflito, quase parou totalmente por alguns segundos. Ele não devia se animar com aquela informação, mas seu membro se animou. Era excitante demais... Projeto Revisoras 91


Encanto Eterno – HFuego nº 17 – Kimberly Raye — Você quer fazer sexo? Ótimo. Eu também quero sexo. Vamos fazer sexo. Juntos. — Não foi exatamente o momento mais nobre de sua vida, mas as palavras haviam saído e ele não se arrependeu delas. Ele queria Tessa, queria tocá-la, prová-la, mergulhar profundamente nela. E a senhorita Danadinha, que estava dando em cima de todos os homens do prédio, olhou bem nos olhos dele e disse: — Não. A palavra foi cuidadosamente pronunciada, com clareza, sem espaço para qualquer mal-entendido, mas Gabe a ignorou. Aproximou-se dela, pele contra pele. Sentiu o perfume misturado ao desejo, e o aroma ardeu dentro de si. — Qual é o problema, Tessa? Não sou bom o bastante? Ela pôs a mão em seu peito para afastá-lo, mas o toque era suave... e tão tentador... — Não faça isso. — Fazer o quê? — Não banque o idiota comigo agora, Gabe. Ele apertou mais seu corpo contra o dela, que correspondeu. — Não se aproxime mais — ela avisou. Ele não ouviu. Encurralou-a completamente contra a mesa. Sempre há um momento no pôquer quando o blefe se torna necessário, quando a lógica racional foge do cérebro e só resta o jogo em si mesmo. Os lábios dela estavam a poucos centímetros. Sedutores... Aguardando... — Se você me beijar, eu vou gritar — ela murmurou. E ele a beijou com um desejo que jamais sentira antes...

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