A dama da meia noite tessa dare

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“Eu já falei para você, mais de uma vez, é apenas...” “Apenas desejo. Sim, eu sei que você me falou isso. E eu sei que você está mentindo para mim. Seus sentimentos vão muito mais além do que desejo.” “Eu não sinto nada.” Suas narinas dilataram. Ele bateu o punho no peito. “Nada. Está me entendendo?” “Eu sei que não é verd...” “Olhe. Estas letras.” Ele apontou para o M. C. gravados em seu flanco esquerdo. “Você sabe como eles fazem estas marcas?” Ela balançou negativamente a cabeça. “Eles pegam uma tábua deste tamanho.” Ele mostrou com as mãos. “Nessa tábua tem uns pregos saltados, que formam as letras. Eles encostam as pontas dos pregos na sua pele, e então dão uma pancada na tábua. Com o punho, às vezes. E às vezes com uma marreta. Kate fez uma careta. Ela deu um passo à frente, mas ele a manteve distante com a mão aberta. “E então, depois que fizeram esses buraquinhos pequenos, eles pegam pólvora preta – você conhece o bastante sobre armas para saber como essa coisa é corrosiva – e esfregam na ferida para fazer a marca.” “Deve ter sido como uma tortura.” “Eu não senti nada. Assim como não senti isto.” Ele se virou e mostrou as costas. O estômago de Kate revirou quando ela viu a trama de cicatrizes retorcidas e entrelaçadas que cobriam sua pele. “Chibatadas”, disse ele. “Uma centena de chibatadas, por minhas inúmeras transgressões. Eles abriram minha pele e meu músculo, e eu juro para você, não senti nenhum golpe. Porque eu já tinha aprendido a ficar insensível à dor, ao sofrimento, ao sentimento. A tudo.” Lágrimas se acumulavam nos cantos dos olhos dela. Kate não sabia dizer se ele estava contando mentiras deliberadamente ou se realmente estava convencido disso, mas ela detestava vê-lo falando desse jeito. Aquele homem tinha sentimentos, e sentimentos profundos. “Samuel...” “Não. Eu sei o que você está pensando. Hoje você se lembrou de um garoto que conheceu. Ele gostava de você, era gentil, e lhe fez uma boa ação. Aquele garoto não existe mais. O homem que eu sou... bem, você mesma pode ver.” Ele apontou as marcas em sua pele, uma por uma. “Ladrão. Prisioneiro. Soldado bêbado. Mau caráter em tudo. Eu morri por dentro há muito tempo. E agora não sinto nada.” Ela se aproximou dele lentamente, aos poucos, da mesma forma que faria para se aproximar de um animal selvagem encurralado que não queria afugentar. “Você sente isto?” Ela inclinou a cabeça para beijar o pescoço de Thorne. O aroma dele fez seu coração acelerar com desejo. “Katie...” “E isto?” Ela conduziu o beijo até o rosto, deixando que seus lábios se demorassem na curva dura da mandíbula. “Ou...” Ele a pegou pelos braços, empurrando-a para trás.


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