Cartilha bullying e discriminação

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MAS... O QUE É BULLYING ESCOLAR? Bullying é um termo de difícil tradução para o português e ainda pouco familiarizado pela grande maioria da população. O termo tem origem inglesa e pode ser identificado como atos de violência (física ou verbal) provocados por indivíduos, seja do sexo masculino ou feminino e, configura-se por agressões repetitivas e intencionais realizadas por um ou mais alunos no âmbito escolar.

desrespeito e a falta de diálogo por partes dos pais ou responsáveis refletese no comportamento agressivo da criança ou do jovem na escola.

ALGUMAS FORMAS DO BULLYING ESCOLAR

CAUSAS DO BULLYING NA ESCOLA São múltiplas as causas do bullying escolar. De acordo com a pesquisa realizada, há influências sociais e psicológicas na formação do ser humano desde sua infância. Nas entrevistas e diálogos com professores, alunos e outros profissionais da educação, pode-se concluir que a manifestação da violência escolar é originária da falta de investimentos públicos nas mais diversas áreas que contemplem o bem-estar social. Contudo, há ênfase no ambiente familiar: o aluno que recebe uma educação pautada no autoritarismo, tende a refletir a autoridade e opressão sobre seus colegas de classe. O

Para a caracterização das diferentes formas de violência manifestas no bullying escolar, procedeu-se a observação do dia-a-dia dos alunos em sala de aula e, além disso, houve a aplicação de questionários, com objetivo de verificar os tipos de provocação, os prováveis motivos destas provocações e se as vítimas reagem a tais ações provocativas. Um total de 44 alunos, de 14 à 16 anos de idade, do 9º ano do Ensino Fundamental, responderam as perguntas referentes aos possíveis desencadeadores do bullying escolar; O quadro abaixo sintetiza o resultado dos tipos de provocações que sofrem os alunos:


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No tocante à reação dos provocados: 44 responderam ao questionário; 19 mencionaram

que

reagem

às

provocações. Entretanto, 15 alunos responderam que não reagem às tais perturbações; 10 não responderam. Apelidos - com 50% das respostas -, e

Ver gráfico abaixo:

xingamentos - com 13% - aparecem como os mais citados entre os alunos como provocações que sofrem de seus colegas de classe. Não há citações de violência

física,

embora,

segundo

observações do cotidiano da sala de aula,

foram

notadas

algumas

manifestações de agressividade por partes dos educandos.

Nosso gráfico revela, portanto, que a maioria dos alunos que recebem algum tipo de provocação tende a reagir com outro tipo de violência, desencadeando um ciclo de agressões que, se os profissionais

da

escola

não

identificarem estas manifestações a tempo, ampliarão as consequências

Abaixo, os prováveis motivos das

geradas por este triste fenômeno escolar.

provocações segundo os alunos:

Autoafirmação e diversão estão no topo das respostas dos alunos em relação às motivações daqueles que provocam

o

outro.

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responderam a esta questão;

alunos

Sendo o professor ou professora os mais próximos aos alunos nesta fase escolar, é importante ter em mente as implicações deste tipo de violência sobre o desenvolvimento das crianças e jovens. As consequências são de tipo físico e psicológico, apresentando na vítima baixa na autoestima, baixo


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rendimento escolar, insegurança, isolamento, medo constante, e dentre outras alterações, que podem funcionar também como um método para reconhecer ou diagnosticar uma vítima do bullying. Ressalta-se, ao mesmo tempo, a importância de toda a comunidade escolar saber identificar tais mudanças de comportamentos nas crianças e jovens, visto que é necessário um trabalho coletivo como meio de atenuar este problema na escola. De acordo com a pesquisa realizada e pelos resultados obtidos sob análise dos dados, identificamos dois alunos como provocados e, segundo entrevista, pudemos observar mais claramente as implicações do bullying para estes sujeitos. Abaixo, algumas frases dos entrevistados que sintetizam bem as consequências deste ato de violência na instituição escolar:

O QUE OS PROFESSORES PENSAM SOBRE O BULLYING? Nossa investigação também contou com a participação de três professores, sendo eles: um de Artes, uma de Língua Portuguesa, e outro de Educação Física.

O intento era caracterizar o bullying sobre a ótica destes profissionais, somando-se as causas e o que é necessário fazer para impedi-lo. Segundo as opiniões dos professores as causas da violência escolar podem estar relacionadas ao contexto em que o aluno está inserido e a carência de investimentos governamentais na área de educação, esporte e lazer. Além disso, dão ênfase na origem familiar do educando, relatando que existem alunos que os pais não acompanham na escola, não impõem limites ou regras de convivência ou, ainda, estão ocupados, geralmente trabalhando. Os professores, no entanto, caracterizam os provocadores como sendo um reflexo da família ausente na participação na vida deste, ou empregam o autoritarismo como forma de educação, o que pode acarretar na imposição do comportamento do aluno sobre o outro e o não respeito à opinião e pensamento alheio. Nesse sentido, verificam que os que agridem são os que aparentam ser mais “fortes”, mais “viris”, “alto” ou, também, aquele que possui boa capacidade comunicativa, que, infelizmente, usam para oprimir e ofender o colega de classe. Contudo, como já descrito no quadro anterior, alguns revidam à agressão. De acordo com experiências em sala de aula e os relatos destes educadores, é necessário que os pais participem mais da vida de seus filhos, dialoguem com estes e tenham momentos juntos de lazer, para que possam conversar sobre seus medos, alegrias e sentimentos diversos e, com isso, possam estabelecer o grau de amizade e


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respeito, importante para a boa convivência. Todavia, retratam que o bairro onde está localizada esta escola, existem poucas políticas públicas que almejem o desenvolvimento pleno dos jovens, visto que, segundo os professores, nesta área não há projetos de esporte e cidadania, tampouco biblioteca, teatro ou cinema, para que possam usufruir da cultura historicamente produzida, o que os influenciam a cair no mundo do crime, das drogas e da violência.

O BULLYING É UM CASO DE JUSTIÇA? Diante dos acontecimentos corriqueiros no interior da instituição escolar, a violência entre os alunos pode tomar um grau ainda maior. Em alguns casos são levados à Justiça por parte de pais que acreditam em negligência da escola no acompanhamento e proteção de seus educandos. Em casos mais graves, os responsáveis pedem medidas socioeducativas ao agressor e/ou indenização diante da não observação de tais fatos, que, muitas vezes, chegam a desestruturar o aparato emocional, psicológico e social dos filhos, interrompendo também o processo de aprendizagem dos mesmos.

Inicia-se o processo de prevenção primeiramente reconhecendo que isto é um problema que agride os Direitos Humanos e, desse modo, os princípios que garantem a paz entre as pessoas e sociedades no mundo. A família, escola e o governo devem unir esforços para a criação de caminhos e discussões deste fato nas escolas. Programas governamentais, projetos educativos e o diálogo periódico são elementos que podem enfrentar os casos de violência, tanto na sociedade quanto na instituição escolar.

Nesse contexto, quais as medidas preventivas que devem fazer parte do cotidiano escolar para enfrentar o bullying entre alunos? O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), a Constituição Federal e a Declaração dos Direitos da Criança são meios legais para a proteção e


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concretização dos direitos da criança e do jovem, sendo a família, a sociedade e o Estado responsáveis pela sua realização.

CONSIDERAÇÕES FINAIS Como fruto de uma pesquisa em curso intitulada Violência Escolar e Direitos Humanos, buscamos socializar, através deste texto-auxílio (ou cartilha), os resultados de nossas investigações sobre o tema Bullying, a situação da violência escolar e o que é preciso fazer para enfrentar este problema socioescolar. Contamos com a importante participação de diversos sujeitos que contribuíram significativamente para esta produção, dentre eles, principalmente alunos, professores e outros profissionais da escola pesquisada, traçando diálogos para obtenção de informações, aplicação de vários tipos de questionários para medir aproximadamente o grau de autoritarismo de cada aluno, as características de um possível agressor ou agredido, a situação familiar e socioeconômica também como forma de levantamento de dados imprescindíveis para nossas análises. Conclui-se que o bullying é resultante de complexos processos psicossociais, sendo por isso, afetado em todas as instituições onde há agrupamento humano (inclusive nas escolas). Todavia, acentua-se o problema quando há falta de investimentos na área de educação e medidas de conscientização sobre direitos e deveres das pessoas em diversos setores sociais. A família também é determinante na origem ou

desenvolvimento da agressividade do filho. Pais que não dialogam, não acompanham seus filhos na escola ou na vida, ou empregam o autoritarismo (ou a falta de limites) como forma de educação, os educandos, portanto, tendem a reproduzir este modelo de formação no espaço escolar. A união de esforços, contudo, é essencial na propagação da cultura para a paz. Nossas escolas devem se preparar para combater esta problemática, pois ela é uma das responsáveis por transmitir o conhecimento e o respeito ao ser humano, importantes para a formação e o bom convívio em grupo. Deve, concomitantemente, valorizar e desenvolver caminhos para rodas de conversas com pais e responsáveis sobre o desempenho do aluno, e principalmente, com os próprios alunos, dando-lhes oportunidades de expressar suas opiniões e angustias resultando em um efetivo envolvimento de todos contra o bullying.


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